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CURSO DE DIREITO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Rio de Janeiro
1
Julho / 2016
FACULDADE DE DIREITO
NÚCLEO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Banca Examinadora:
__________________________________
Maíra Villela Almeida
__________________________________
Professor(a) Convidado(a)
__________________________________
Ana Claudia Parga
Apresentação em ...............................................
Nota obtida .........................................................
Rio de Janeiro
2
Julho / 2016
AGRADECIMENTOS
Albert Einstein
RESUMO
Palavras Chave:
Precedentes, Direito Processual Constitucional do Brasil, Decisões Judiciais
5
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................13
1 - INTRODUÇÃO
1
É da natureza humana, pois, tentar agrupar-se com os demais. Aristóteles já trazia essa ideia em A
Política, afirmando que o homem é um ser político por natureza, "assim, mesmo que não tivéssemos
necessidade uns dos outros, não deixaríamos de viver juntos. Na verdade, o interesse comum
também nos une, pois cada um aí encontra meios de viver melhor. Eis, portanto, o nosso fim principal,
comum a todos e a cada um em particular. Reunimo-nos, mesmo que for só para pôr a vida em
segurança. A própria vida é uma espécie de dever para aqueles a quem a natureza a deu e, quando
não é excessivamente cumulada de misérias, é um motivo suficiente para permanecer em sociedade.
Ela preserva ainda os encantos e a doçura neste estado de sofrimento, e quantos males não
suportamos para prolongá-la!" (ARISTÓTELES. A política. Traduzido por Roberto Leal Ferreira. São
Paulo: Martins Fontes, 2002. P. 53.)
7
2
O art. 2 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão consagrava a segurança jurídica
"como um direito natural e imprescritível". Quanto ao preâmbulo da Constituição Francesa de 1793,
dispôs-se o seguinte: "A segurança jurídica consiste na proteção conferida pela sociedade a cada um
de seus membros para conservação de sua pessoa, de seus direitos e de suas propriedades"
(BARROSO, Luís Roberto. Temas de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Renovar: 2001. P. 50).
3
Ainda, é possível afirmar que a regra do precedente só foi imposta na Inglaterra na segunda metade
do século XIX, após sofrer a influência da doutrina legalista francesa que se implantou nesse período,
fundando, destarte a obrigatoriedade de os juízes ingleses recorrerem às regras estabelecidas por
seus antecessores, especialmente pela preocupação com a certeza e segurança jurídicas. (QUEIROZ
BARBOZA EM, Precedentes Judiciais e Segurança Jurídica – Fundamentos e Possibilidades para a
Jurisdição Constitucional Brasileira, 2014, p. 197)
8
influências construiu-se um sistema todo escrito, conhecido como civil law, como o
dos países herdeiros da família romano-germânica.
O presente trabalho busca então colaborar no estudo dos limites da
aproximação do civil law com o common law, por meio da expansão das cláusulas
gerais processuais, que atribuem maior poder ao juiz, na objetivação do controle
difuso de constitucionalidade e do recurso extraordinário, por exemplo na adoção
das súmulas vinculantes.
Todos esses institutos reconhecem uma tendência a uniformização das
decisões judiciais e valorização dos precedentes. Algumas premissas do estudo do
precedente como fonte do direito, a sua eficácia, a sua análise diante dos princípios
constitucionais e, principalmente, as técnicas de confronto e superação dos
precedentes foram investigadas, de igual modo, não poderia deixar de abordar como
o tema pretende ser tratado no Novo Código de Processo Civil.
9
5
4 SILVA, Ovídio A. Baptista da. Processo e Ideologia: o paradigma racionalista. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2006. p.35.
10
6
BLACKSTONE, William. Commentaries on the law of England (fac-símile da 1a. edição, de 1765).
Chicago: The University of Chicago Press, 1979, v. 1, p. 69.
7
WESLEY-SMITH, Peter. Theories of adjudication and the status of stare decisis, in Precedent in Law.
Oxford: Clarendon Press, 1987, p. 73 e ss.
8
De acordo com os adeptos da teoria declaratória, os precedentes devem ser seguidos, exceto
quando são ‘flatly absurd or injust’. Neste caso, os juízes futuros não elaboram um direito novo. No
dizer de Blackstone, quando a sentença anterior é manifestamente absurda ou injusta, o juiz não
declara que ai existe “bad law”, mas sim que a sentença “was not law”, isto é, “that it is not the
established custom of the realm, as has been erroneously determined” (BLACKSTONE, William.
Commentaries on the law of England (fac-símile da 1.ª edição, de 1765), cit., v. 1, p. 70).
9
“The common law, said the positivists, existed (if ii existed at all) because it was laid down by judges
who possessed law-making authority. Law was the product of judicial will. It was not discovered but
created” WESLEYSMITH,Peter. Theories of adjudication and the status of stare decisis, in Precedent
in Law, cit., p. 74).
11
10
TUCCI, José Rogério Cruz e. Precedente judicial como fonte do direito. São Paulo, SP: Revista dos
Tribunais, 2004, p. 68-69.
11
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
p.53.
12
13
ZANETI JÚNIOR, Hermes. A Constitucionalização do Processo. [S.l.: s.n.], 2014. ISBN 978-85-224-
8567-3
14
Se o Direito não está mais adstrito à lei, mas na Constituição, a jurisdição não
mais se dedica a declarar a vontade da lei; tem a finalidade de conformar esta aos
direitos contidos na Constituição, dessa forma o juiz, na falta de norma preexistente
concretiza a atividade criativa.
Todo esse raciocínio significa que não se pensa mais no Direito como simples
letra da lei, conforme no tempo da Revolução Francesa. A produção de normas irá
atuar como um resultado de debates entre grupos sociais. Esse é o motivo pelo qual
a lei precisa ser compreendida, levando-se em consideração os princípios inseridos
na Constituição.
No ordenamento brasileiro e em países que utilizam um sistema misto de
constitucionalidade é notória essa tendência que estabelece eficácia erga omnes e
efeito vinculante as decisões proferidas em controle concentrado e, aos poucos
confere esses efeitos as decisões em sede de controle difuso. No Brasil existe
tendência à objetivação do controle difuso como se percebe na edição de súmulas
vinculantes e na repercussão geral.14
14
Operamos, sem maiores percalços, com institutos de origens diversas (o primeiro, common law , o
segundo, civil law). O pensamento jurídico brasileiro começa, inclusive, a ganhar autonomia,
desvinculando-se de sua ascendência, como demonstra a concepção brasileira sobre o devido
processo legal substancial (examinada no capítulo sobre o devido processo legal, mais à frente), bem
diferente da visão original estadunidense. A própria vinculação entre a boa-fé processual e o devido
processo legal (também examinada no capítulo sobre o devido processo legal) é uma construção
teórica brasileira, original e muito profícua. (DIDIER JR., Fredie - Curso de Direito Processual Civil I-
2015 volume 1 Editora: JusPodivm ; Bahia, P.60)
16
15
Frederick Schauer desenvolveu a teoria do positivismo presuntivo, que considera o direito como um
sistema de regras positivas que devem ser aplicadas por sua origem jurídica, ainda que o julgador se
depare com um resultado errado ou subótimo, respeitando sua prioridade local de incidência no caso,
aplicando-se, entretanto, de forma excepcional, outros parâmetros normativos (moral, economia,
política etc.), apenas por razões muito fortes: por conta de uma força argumentativa excepcional ou,
por exemplo, em função de grandes injustiças (daí o aspecto presuntivo do modelo de regras)
(MAGALHÃES BB, ALVES DA SILVA AS, O Grau de vinculação dos precedentes à luz do STF – O
efeito vinculante é absoluto?.. Brasília a.49 n. 195 jul./set. 2012 P. 80)
17
Regras Instrutorias são aquelas que nos orientam como executar uma tarefa
com êxito, como por exemplo “Verificar a temperatura antes de colocar a panela no
forno”. Marinoni, analisando o texto de Schauer, menciona que as instruções
funcionam como Regras de Experiência (rules of thumb). Nomeia assim essas
regras que fornecem orientações úteis mas deixam de impor pressão normativa (não
detem um caráter punitivo).
Entretanto, o autor foca sua pesquisa nas Regras Mandatórias que exercem
pressão normativa e tem caráter obrigatório, tendo uma forca vinculativa de
cumprimento maior. Consolidando de forma maior as definições de Regras
Prescritivas Instrutorias (instructions), segunda espécie Regras Prescritivas
Mandatórias (mandatory rules) é possível fazer a analise de Regras como
Generalizações Enraizadas.
Utilizando essas definições Schauer observou que as regras operam por meio
de generalizações.16 Lidando com tipos e não com casos particulares.
Para Schauer, os precedentes constituem a maneira pela qual as regras se
tornam enraizadas no common law. Quando a forca de uma conclusão atual se
baseia integralmente em argumentos a favor ou contra ela, Schauer considera que
não há recurso ao precedente, embora a mesma conclusão possa ser obtida no
passado. Para que o precedente seja relevante, é necessário que a decisão anterior
continue influenciado a decisão atual, mesmo que ela seja julgada incorreta, o que
significa que o argumento do precedente funciona, essencialmente, como argumento
da regra.
Da mesma maneira que o argumento da regra confere um peso independente
ao resultado por ela indicado, o argumento do precedente confere um peso
independente ao resultado que se assemelha aquele obtido no passado, razão pela
qual ele é considerado vinculante e não apenas persuasivo.
Ao apresentar os argumentos em defesa de um modelo de decisão baseado
em regras, Schauer (1991, p. 135-166), reconhece que o quadro desenhado em sua
16
É com base no modelo de regras que o autor desenvolve o pensamento acerca da normatividade e
vinculação dos precedentes judiciais, de tal sorte que os precedentes, em breve síntese, são
considerados como generalizações entrincheiradas, que desconsideram as experiências
recalcitrantes. A diferença está em que os precedentes são generalizações posteriores formuladas.
por outra autoridade, mas, da mesma forma que as regras legislativas, tais generalizações
independem das justificativas que deram origem ao precedente. (MAGALHÃES, Breno Bahia. O Grau
de vinculação dos precedentes à luz do STF – O efeito vinculante é absoluto?.. Brasília a.49 n. 195
jul./set. 2012 P. 83)
18
obra não é muito atrativo. O autor demonstra que aceitar o modelo de precedentes
como um padrão de regras requer tolerância, com um certo número de resultados
errados.17
os quais muitas vezes, são decisivos para avaliar a correção das teorias. Além disso,
qualquer teoria geral pode ser considerada sectária por aqueles que defendem
outras teorias, ou considerem que deve-se dar maior peso aos julgamentos de casos
particulares ou ainda que acreditem que a moralidade não está baseado em um
único valor, mas sim em uma variedade de valores irremediavelmente
independentes.
Sunstein reconhece que muitos casos podem ser resolvidos com base em
regras, tais como aquelas que impõem um limite máximo de velocidade, proíbem a
entrada de cachorros em restaurantes ou fumar em aviões. Nessas situações, uma
avaliação dos fatos, combina com o entendimento corrente das palavras - e com
entendimentos mais substantivos sobre os quais não há divergência -, é satisfatório
para tomar a decisão, mesmo que possa haver casos difíceis sob as mesmas
regras.
O raciocínio analógico defendido por Sunstein tem como tarefa central decidir
quais são as diferenças e semelhanças relevantes nos casos concretos, o que torna
necessário trabalhar com argumentos de cunho substantivo. Para o autor, o bom
desenrolar das analogias no direito deve observar quatro aspectos distintos: (1) os
julgamentos sobre casos específicos devem ser coerentes uns com os outros,
baseando-se em princípios que harmonizem os diferentes resultados; (2) o foco do
raciocínio analógico devem ser as particularidades, o que significa que seus
princípios são desenvolvidos a partir de casos concretos e fazem constante
referência a eles; (3) o raciocínio analógico não requer uma teoria de larga escala
para justificar seus resultar seus resultados; e (4) os princípios produzidos pelo
raciocínio analógico operam em um nível intermediário ou inferior de abstração.
Segundo o autor, esse tipo de analogia constitui, ao lado da interpretação das
regras, o raciocínio mais utilizado pelos juristas.
Estabelecido esses parâmetros, Sunstein pode aprofundar de que maneira o
raciocínio analógico lida com os precedentes. Em primeiro lugar, o autor distingue
três espécies de julgamentos (1) os precedentes vinculantes, que não podem ser
revogados (overruled) pelos juízes, tais como as decisões da Suprema Corte norte-
americana em relação aos tribunais inferiores; (2) os precedentes não vinculantes,
que podem ser revogados em circunstâncias excepcionais, posição adotada pela
Suprema Corte em relação aos próprios precedentes; e (3) os julgamentos
hipotéticos que, embora não constituam precedentes, são tão óbvios que assumem
20
o mesmo status, por exemplo, a ideia de que o Estado não pode prender os cristãos
em razão de sua fé.
Apesar de suas diferenças, em todas essas situações é necessário identificar
o holding do caso, isto é, a fundamentação mínima da decisão que deverá ser
aplicada aos casos posteriores.
Para Sunstein, essa fundamentação pode ser considerada muito ampla ou
muito restrita à medida que novos casos vão surgindo, o que demonstra que não
pode antecipar completamente o conjunto de situações que o holding abrange.
Portanto, a identificação da holding não se tem base na descoberta de algo que já
se encontra no precedente, mas sim em uma construção feita pelos tribunais que
eles se vinculam.
Essa construção pode fazer com que o precedente funcione tanto como uma
regra, quanto uma analogia. Na primeira hipótese, o precedente se aplica aos casos
idênticos a ele, isto é, a situações obviamente similares que não possuem diferenças
relevantes.
Já como analogia o precedente se aplica a casos em que, embora haja
diferenças, seu princípio é relevante para solucioná-los. Sunstein reconhece que não
é fácil distinguir quando um precedente atua como regra e quando ele atua como
analogia, pois essa conclusão só pode ser obtida mediante a análise do caso
posterior e depende de que certos entendimentos sejam compartilhados pela
sociedade.
Quando se diz que o previdente é uma regra, isto significa que ele é tão
semelhante ao caso em questão que ninguém colocará em dúvida sua aplicação.
Alternativamente, quando o precedente é concebido como analogia, isso
implica o reconhecimento de que há diferenças relevantes entre os casos e a
aplicação do precedente requer alguma justificação.
Como os casos nunca são completamente idênticos, é o tribunal posterior que
decidirá quais são as diferenças e semelhanças relevantes, de acordo com a
importância que for atribuída às suas várias características.
Para Sunstein, o tratamento dos precedentes como analogias é uma
alternativa superior tanto às regras quanto às teorias gerais. Em primeiro lugar, o
raciocínio analógico exige um compromisso com a consciência e com o direito a
igual tratamento: a parte do caso A não pode ser tratada de modo distinto da parte
do caso B, a menos que haja uma diferença relevante entre elas. Em segundo lugar,
21
as analogias podem ser uma fonte de princípios e de políticas, desde que os juízes
saibam encontrá-los nos precedentes. Em terceiro lugar, o respeito aos precedentes
como analogias ajuda a evitar que os juízes utilizem teorias duvidosas ou sectárias.
Em quarto lugar, o raciocínio analógico baseado em precedentes promove os
valores da previsibilidade e da proteção de expectativas. EM quinto lugar o
raciocínio analógico poupa uma grande quantidade de tempo, pois a observância
dos precedentes desobriga os juízes de reciclarem a cada momento os fundamentos
do direito. Por último, procedentes e analogias facilitam o surgimento de acordos
entre juízes, que embora divirjam sobre variados assuntos, reconhecem como
válidas certas decisões anteriores, o que torna possível o estabelecimento de um
dialogo entre os magistrados.
Dworkin propôs uma distinção entre princípios, que são aplicados de acordo
com seu peso, e regras, que são aplicadas de maneira “tudo ou nada” (aplicação
completa ou não aplicação). Sua teoria tem raízes na “fenomenologia da jurisdição”
tentando compreender o direito como uma pratica social argumentativa
fundamentada em princípios de moralidade política.
Dworkin defende que as proposições jurídicas, isto é, o conjunto de
afirmações sobre o que o direito proíbe ou permite, somente são verdadeiras se
estiverem de acordo com os princípios de justiça, equidade e devido processo legal,
que oferecem a melhor interpretação da pratica jurídica da comunidade política.
Ao contrario das teorias dualistas, que compreendem os princípios como um
tipo de norma e distinguem o momento de aplicação das regras e o momento da
aplicação dos princípios, que se reserva aos casos difíceis, o autor afirma que a
correção de qualquer decisão judicial depende da correta interpretação dos
princípios pertinentes ao caso.
O autor refuta que sua ideia seja aplicável apenas aos casos difíceis, o que
dispensaria o juiz de levar em conta questões de moralidade para decidir. Por
exemplo, se uma pessoa pode dirigir legalmente acima do limite de velocidade ou se
deve pagar sua conta de telefone.
O autor mostra de que modo a integridade opera no campo da jurisdição,
Dworkin utiliza uma metáfora nomeada de Romance em Cadeia. Segundo essa ideia
22
Não há dúvida de que o Novo CPC acolheu tal modo de operar com
precedentes. De fato, o novo código considera não fundamentada a sentença que
invoque precedente ou enunciado de súmula “sem identificar seus fundamentos
determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos”.
Esta exigência deixa claro que o que vincula as demais instâncias são os
fundamentos determinantes do precedente, portanto, sua ratio decidendi. Deixa
claro, ainda, que tal vinculação só ocorre se a discussão posta pela demanda em
exame “se ajusta aos fundamentos” do julgado anterior. Isso porque, se a nova ação
apresenta diversidade fática que requer decisão de questão de direito distinta, o
precedente anterior não vincula a decisão da última ação.
O Código de Processo Civil de 2015 prevê o cabimento de ação rescisória
contra decisão com base em súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos
repetitivos que não considerem “a existência de distinção entre a questão discutida
no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento”; bem como a
possibilidade de prosseguimento na tramitação de determinado caso, quando se
constatar que este possui especialidades que impõem a sua distinção dos demais
recursos repetitivos sobrestados.
A ampla adoção de precedentes vinculantes pelo Novo Código de Processo
Civil é um desafio e uma oportunidade. Um desafio porque impõe à comunidade
jurídica que se familiarize e busque argumentar com noções muito pouco utilizadas
até este momento, tais como ratio decidendi (holding), obiter dictum (considerações
marginais) e distinção entre casos (distinguish). Uma oportunidade porque essas
noções possibilitam o aprimoramento da prática brasileira não apenas com
precedentes vinculantes, mas igualmente com a jurisprudência de modo geral. Esse
aprimoramento é fundamental para racionalizar o trabalho de tribunais tão
sobrecarregados, para assegurar maior previsibilidade jurídica, para promover o
tratamento isonômico entre iguais.
Por outro lado, é importante reforçar que o poder de produzir precedentes
vinculantes não é um poder sem limites. O alcance do teor vinculante de um
precedente é limitado pelos fatos do caso que o gerou e pela questão jurídica
apreciada como uma premissa necessária a alcançar o dispositivo do acórdão. Para
além desse limite, os juízes são livres para decidir.
27
21 21
Imagine-se que determinado caso debata se a ação da Fazenda Pública para obter indenização
é prescritível, e que a discussão seja pertinente a prejuízos decorrentes de uma colisão entre o
veículo de um particular e um automóvel do poder público. O tribunal não poderia produzir, a partir de
uma multiplicidade de casos sobre colisão entre veículos, uma súmula que versasse sobre a
prescritibilidade (ou não) da ação para ressarcimento de prejuízos gerados por ato de improbidade
administrativa. O fato “prejuízo decorrente de colisão entre veículos” não é semelhante ao fato
“prejuízo decorrente de ato de improbidade administrativa”. A prescritibilidade da pretensão da
Fazenda Pública, em cada um desses casos, envolve a discussão de normas e de valores distintos.
Se o fato e as normas envolvidas são diversos, a questão jurídica que o tribunal precisa decidir
também o é. Trata-se, assim, de casos distintos. O precedente que governa a solução de cada qual
não se presta a decidir adequadamente o outro. (MELLO, Patrícia Perrone Campos. 22 de Março,
2016 . Como se opera com precedentes segundo o Novo CPC?)
31
22
A segurança jurídica, postulada na tradição do civil law pela estrita aplicação da lei, está a exigir o
sistema de precedentes, há muito estabelecido para assegurar a segurança jurídica no ambiente do
common law, em que a possibilidade de decisões diferentes para casos iguais nunca foi
desconsiderada e, exatamente por isto, fez surgir o princípio, inspirador do stare decisis, de que os
casos similares devem ser tratados do mesmo modo (treat like cases alike). (MARINONI, Luiz
Guilherme. Aproximação Crítica Entre As Jurisdições De Civil Law E De Common Law E A
Necessidade De Respeito Aos Precedentes No Brasil. Revista da Faculdade de Direito - UFPR,
Curitiba, n.47, 2008, P. 56)
33
Verifica-se assim que a Tutela de Evidência poderá ser concedida com base
fundamentada nos precedentes nos incisos. Há de se ressaltar o que diz o inciso II
que menciona teses firmadas pelos tribunais que devem ser observadas em
julgamento de casos repetitivos ou súmulas vinculantes.
A análise do Novo CPC permite observar uma nova organização que o código
pretende implementar a justiça. O regramento busca conferir uma maior
uniformização dos tribunais objetivando resguardar a segurança jurídica.
Em relação a essa uniformização tem-se ainda como exemplo o Art. 332 -
CPC/15 que permite o julgamento liminar de improcedência do pedido antes mesmo
de citar o réu nas hipóteses do artigo, que se referem a instrumentos que fixam as
súmulas, acórdãos dos tribunais e incidentes de demandar repetitivas como
instrumentos de fixação e observância de precedentes. Assim temos a redação do
artigo:
Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o
juiz, independentemente da citação do réu, julgará
liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou
do Superior Tribunal de Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou
pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de
recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de
demandas repetitivas ou de assunção de competência;
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre
direito local.
O novo Código de Processo Civil (CPC), em vigor desde o último dia 18, criou
o “Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas”. Trata-se de uma técnica que
estabelece uma espécie de uniformização na apreciação dos processos que versam
sobre o assunto, estabelecendo as bases para o julgamento das questões comuns
em demandas repetitivas para os juízes de primeiro e segundo graus, originando
uma espécie de "procedimento-modelo". O IRDR vai uniformizar entendimentos e
possibilitar a agilidade no julgamento dos processos, uma vez estabelecido o
“processo-modelo” pelo segundo grau.
O juízo de primeiro grau, depois de instalado e julgado o incidente, deverá
aplicar o padrão decisório estabelecido, mas com competência e legitimidade para
atender as peculiaridades de cada caso concreto.
Segundo o desembargador Luiz Felipe Francisco, o IRDR gera maior
segurança jurídica.
“É uma uniformização do entendimento para o julgamento da matéria,
garantindo o princípio da isonomia”, destacou.
Apontando o outro instituto criado pelo Novo CPC para a formação de
precedentes, tem-se o Instituto de Assunção de Competência. Tal instituto tem
incidência em causas que ainda não há repetição, diferentemente do IRDR.
O Instituto de Assunção de Competência tem natureza antecipatória do
direito, lidando com causas que detêm aparente importância e que podem ensejar
demandas parecidas no futuro, já podendo se antecipar as futuras lides e
problemas. O tribunal ou corte competente em questão para dirimir o conflito irá
praticar a assunção de competência.
Há frisar assim o conteúdo do Art. 947 do Novo CPC-15 que destaca a
importância a relevante questão de direito e a grande repercussão social:
37
7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
7. REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. A política. Traduzido por Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins
Fontes, 2002.
41