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Q
uando nos perguntamos o teles, Descartes, um cientista francês
que há entre a Terra e a Lua, do século XVII, desenvolveu uma Maurício Pietrocola
Faculdade de Educação
ou entre os demais planetas, explicação física para o movimento
Universidade de São Paulo
a resposta vem com facilidade: o “vá- dos astros baseado na existência de ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
cuo”. Nossa concepção de universo turbilhões de matéria na região inter-
nos leva a imaginar uma porção de estelar. Para ele, o espaço era preen-
matéria bem localizada nas estrelas, chido por uma espécie de fluido,
nos planetas e demais astros, cercada (também chamado éter), no qual o Sol,
de vazio por todos os lados. Bem, isto a Terra, os demais planetas e estrelas
parece certo hoje. Mas será que em encontravam-se imersos. Ao rotacio-
nosso mundo sempre houve lugar nar, um astro colocava o fluido em
para o vazio? movimento, que por sua vez acabava
Se nos afastarmos do nosso sé- por influenciar os demais astros. O
culo, vamos encontrar diversos perío- Sol, ao girar sobre si mesmo, acaba-
dos onde as pessoas em geral, e os va por produzir um redemoinho que
cientistas em par- colocava a Terra e
ticular, tiveram a Para justificar a existência demais planetas do
convicção de que o do éter, Descartes sistema em movi-
Universo era pleno desenvolveu uma explicação mento de translação
e que o vazio era al- física para o movimento dos em torno de si. A
go impensável, pa- astros baseado na existência translação da Lua,
ra não dizer absur- de turbilhões de matéria na por sua vez, seria re-
do. Na Grécia anti- região inter-estelar sultado de um rede-
ga isto aparece de moinho cujo centro
forma muito clara na concepção de se encontrava na Terra. O éter era fun-
universo de Aristóteles (século IV an- damental na física cartesiana, pois
tes de Cristo). Para ele, o universo era sem ele não existiriam turbilhões e
composto por cinco elementos bási- uma estrela como o Sol não poderia
cos, quatro presentes na Terra e suas fazer os planetas girar ao seu redor.
imediações (terra, água, ar e fogo) e Para Descartes, o éter era também
um quinto extremamente sutil, no- responsável pela transmissão da luz
meado éter, que preencheria todo o res- e calor proveniente das estrelas. Luz
to, indo da órbita da Lua até as porções nada mais era que uma espécie de
mais distantes do céu. É conferida a pressão resultante também do movi-
Aristóteles, a autoria de uma frase que mento produzido pelo Sol e transmi-
se tornaria famosa na Idade Média: tida pelo éter. Descartes não foi o único
“A natureza tem horror ao vácuo”. a pensar no éter como um meio res-
Nela aparece claramente a convicção ponsável pela propagação da luz atra-
dos antigos de que o vazio não poderia vés do espaço. Huygens, Euler, Young
Este artigo mostra como o conceito de éter en-
existir. e Fresnel, dentre outros, depois dele trou e saiu do pensamento científico até sua
Muitos séculos depois de Aristó- também pensaram dessa forma. completa explicação.

Física na Escola, v. 3, n. 2, 2002 O Espaço e o Éter 7


O sucesso da teoria newtoniana no os defensores do éter garantiam que ele diversas outras, sendo que a de
início do século XVIII fez com que o era uma substância muito fluida, pra- Michelson e Morley, realizada em
espaço passasse a ser pensado como ticamente não oferecendo resistência à 1881-1816, foi a que se tornou mais
algo vazio. Diferentemente de Descar- passagem dos astros. Embora difícil de famosa. As experiências indicavam que
tes, Newton não baseava a explicação aceitar, um éter su- não havia efeito ge-
do movimento dos corpos em turbi- per-fluido permitiria Diferentemente de rado pelo movimen-
lhões; o éter veio a tornar-se então des- entender por que sua Descartes, Newton não to da Terra em rela-
necessário. Para ele, o movimento presença não per- baseava a explicação do ção ao éter inter-
constante dos planetas, entre outros turbava o movi- movimento dos corpos em espacial, causando
argumentos, faria supor um espaço mento dos astros. turbilhões; para ele, o enormes dificul-
sem nada que pudesse gerar atrito. Na Porém, a este proble- movimento constante dos dades para os físicos
concepção newtoniana, a luz consti- ma associaram-se planetas, entre outros teóricos da época.
tuía-se num feixe de partículas muito outros. Para poder argumentos, faria supor um Em 1905, Einstein
pequenas que poderiam muito bem ser explicar os fenôme- espaço sem nada que resolveu tais pro-
emitidas pelo Sol, atravessar o espaço nos de polarização, pudesse gerar atrito blemas envolvendo
vazio e chegar à Terra. observados na época a óptica/eletrodinâ-
Fresnel, outro cientista francês, por Malus (1772-1812), Fresnel mica dos corpos em movimento, pro-
participou ativamente da reabilitação introduziu a hipótese de que as ondas pondo que o nosso espaço é vazio,
do éter como meio inter-espacial luminosas seriam transversais e não embora capaz de transmitir ondas de
propagador da luz. No início do século longitudinais como o som. Mas já se natureza eletromagnética, como a luz.
XIX, ele conseguiu demonstrar que boa sabia na época que apenas corpos Dê uma só tacada, ele eliminou diversos
parte dos fenômenos ópticos poderiam rígidos eram capazes de transmitir tais problemas associados ao éter, mas
ser melhor entendidos concebendo a luz ondas e que em geram tais corpos eram também a principal base teórica da
como onda. Na época, uma onda, a viscosos e não fluidos. Instala-se, então, Física da época. Seria como jogar fora
exemplo do som, só poderia se propa- uma contradição na concepção do éter: “o bebê junto com a água suja do ba-
gar num meio material e Fresnel voltou ele deveria ser muito fluido para não nho”. O espaço pleno do século XIX
a propor que o universo não poderia atrapalhar o movimento dos astros, voltou a ser vazio como na época áurea
ser vazio, mas deveria ser preenchido mas também muito do newtonianismo.
Newton pensava também
por um fluido capaz de transmitir a rígido para trans- Foi necessário
que seria difícil imaginar a
luz. Principalmente em função do mitir ondas trans- tempo para que as
regularidade nos períodos
sucesso da teoria ondulatória da luz de versais em altíssima pessoas se acostu-
orbitais dos corpos celestes
Fresnel, o espaço voltou a ser preen- velocidade. Além de massem com a idéia
resistindo a um movimento
chido pelo éter. não ser conhecida de um espaço vazio.
“atrapalhado” por um fluído
Ao longo de todo século XIX, in- substância que pre- Depois da publi-
tensificaram-se as teorias que procu- enchesse esses requisitos, essas duas cação de Einstein, durante algumas dé-
raram explicar os fenômenos físicos propriedades pareciam se excluir! cadas, algumas experiências ainda
como manifestações do éter. O calor, a Os problemas na concepção do éter tentaram, sem sucesso, detectar o ven-
eletricidade, o magnetismo e outros fe- continuaram a aparecer ao longo do to de éter passando próximo à su-
nômenos físicos passaram a ser inter- século XIX, embora os cientistas em perfície terrestre.
pretados a partir do éter. Sua impor- geral acreditassem que as soluções fos- Para nós que nascemos numa con-
tância foi tão grande neste período que sem possíveis de serem encontradas. cepção de espaço vazio, isto nos parece
alguns anos depois J.J. Thomson se O último capítulo desta história natural. Porém até quando o espaço
manifestaria da seguinte forma sobre teve origem em um problema aparen- continuará a ser sinônimo de vácuo?!
o éter: temente simples. Em 1810, Arago,
“O éter não é uma criação fantás- também francês, pretendeu, sem su- Referências Bibliográficas
tica de uma filosofia especulativa; ele é cesso, detectar a influência do movi-
Conceptions of Ether: studies in the his-
essencial para nós, como o ar que res- mento terrestre na refração da luz tory of ether theories, edited by Cantor, G.N.
piramos.”1 emitida pelas estrelas. Como o índice and Hodge, M.J.S. Cambridge Unversity
Porém nem só de sucesso viveu a de refração do meio depende da velo- Press, Cambridge, 1981.
física do éter. Muitas dificuldades se cidade da luz, ele acreditava que me- Pietrocola, Maurício. Fresnel e o arrasta-
mento parcial do éter: A influência do
seguiram ao preenchimento do espaço diria um desvio diferente produzido por movimento da Terra sobre a propagação da
por uma substância material. Como um prisma se movimentando com a luz. Caderno Catarinense de Ensino de Física,
Newton já havia indicado, seria difícil Terra pelo espaço. Logo em seguida, em v. 10, n. 2, p. 157-172, 1993.
imaginar que a regularidade nos pe- 1818, Fresnel propõe uma explicação
Nota
ríodos orbitais de planetas, cometas e para o resultado negativo da experiên-
1
satélites pudesse resistir a um movi- cia, propondo a hipótese do arrasta- Thomson, J.J. Presidential adress to the
british Association at Winnipeg, The Elec-
mento constantemente “atrapalhado” mento parcial do éter pela matéria. À trician, 63, p. 778, 1909.
por um fluído. Para evitar esta crítica, experiência de Arago seguiram-se

8 O Espaço e o Éter Física na Escola, v. 3, n. 2, 2002

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