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Desafios para a

publicação de pesquisas
sobre quadrinhos no
Brasil 1
Prof. Dr. Henrique
Magalhães
Universidade Federal da
Paraíba (UFPb)

Resumo: A História em Quadrinhos no Brasil alcançou um nível de respeitabilidade


inimaginável há poucas décadas, quando ainda eram estigmatizadas como
perniciosas à juventude e consideradas uma sub-literatura. Atualmente faz parte
de bibliotecas e participam como recurso didático em vários níveis de ensino. Na
Graduação e na Pós-Graduação, muitos são as pesquisas desenvolvidas em
universidades de todo o país, investigando sua linguagem, narrativa e interseções
com diversos domínios do conhecimento. Contudo, há ainda a falta de uma política
editorial em nível institucional e mercadológico que responda ao interesse de
professores, estudantes e outros interessados nessa expressão artística. Tendo
por base uma pesquisa exploratória e sobre as obras sobre o tema editados no
Brasil desde a década de 1960 e partindo de elementos empíricos coletados na
experiência da editora Marca de Fantasia, o artigo aponta as perspectivas para a
edição de obras sobre História em Quadrinhos com base na produção independente
e na utilização das tecnologias da informática e da informação.

Palavras-chave: Histórias em quadrinhos; pesquisa científica; publicações


acadêmicas.

Abstract: Comics in Brazil reached a level of respectability unimaginable a few


decades ago, when they were stigmatized as harmful to youth and considered a
sub-literature. Currently they are in libraries and are used as a teaching resource
in various levels of education. Many researches made in graduate and postgraduate
courses are developed at universities across the country, investigating its language,
narrative and intersections with various fields of knowledge. However, there is still
a lack of editorial policy in institutional and mercadological levels that responds to
the interests of teachers, students and others interested in this artistic expression.
Based on an exploratory research about the works on the subject published in
Brazil since 1960 and building on empirical evidence collected in the experience
of publishing Marca de Fantasia, the article points out the prospects for the
publication of works on Comics based on independent production and use of
1Conferência apresentada nas 2as
computer technology and information. Jornadas Internacionais de Histórias em
Quadrinhos, Universidade de São
Key words: Comics; scientific research; academic publications. Paulo, 22 de agosto de 2013.

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Introdução vigor apaixonado que engendra
boa parte dessas produções. Por
Fenômeno não apenas outro lado, minha presença nesse
comercial, mas midiático e fonte espaço simbólico da USP, num
para inúmeras pesquisas evento de tão larga envergadura,
acadêmicas sobre sua linguagem, me traz ao mesmo tempo a
a História em Quadrinhos é responsabilidade que me foi
considerada por muitos como a atribuída e o prazer da volta à
Nona Arte, ganhando, nas últimas casa, que tanto contribuiu para
décadas prestígio e reconheci- minha formação acadêmica.
mento. Um dos fóruns de maior O primeiro contato que tive
destaque em nível nacional, com com professores da USP foi em
amplitude internacional, a 1984, com o professor Antonio
promover a pesquisa sobre os Luiz Cagnin, da Escola de Comu-
quadrinhos é realizado na nicação e Artes. O professor
Universidade de São Paulo com o Cagnin tinha realizado o Mestrado
título de Jornadas Internacionais em Letras na USP e acabava de
de Histórias em Quadrinhos, que voltar da França, onde foi dar
em 2013 chega à segunda edição. prosseguimento a seus estudos
Muito já se discutiu nesses sobre História em Quadrinhos.
dias das Jornadas, demonstrando Cordial, simpático e extremamen-
o grau de seriedade com que se te acessível, o professor Cagnin
vem desenvolvendo a pesquisa me acolheu como recém-gradua-
sobre os quadrinhos em do em Jornalismo com o desafio
Universidades de todo o país. Eu de orientar um projeto de Mestrado
poderia ter desenvolvido também cujo tema inédito e até então
um artigo para apresentar neste “marginal” propunha um estudo
evento, baseado nas metodologias exploratório sobre os fanzines no
científicas que se apoiam em Brasil, com foco nas produções
referências bibliográficas, estatísti- sobre História em Quadrinhos.
cas, depoimentos e outras formas Meu Mestrado iniciou-se
de construção de conhecimento. em 1985, mas logo foi preciso
Contudo, apresento uma visão partilhar o tempo da Pós-
pessoal, apoiada em elementos Graduação com outras atividades
empíricos e na razão sensível da acadêmicas de ensino, pesquisa
vivência como produtor e e extensão, pois em 1986 deu-se
consumidor do mercado editorial minha entrada como professor no
dirigido aos estudos sobre História Curso de Comunicação Social da
em Quadrinhos. Universidade Federal da Paraíba.
Não poderia me negar a O Mestrado teve, então, que ser
deixar fluir nesta comunicação um prolongado até 1990, entre idas e
bom grau de emotividade, de outro vindas entre São Paulo e a
modo estaria fadado a apresentar Paraíba, além de alguns
um pensamento limitado ao trancamentos de períodos para
formalismo burocrático acadêmi- cumprir as atividades na UFPB.
co, repleto de estatísticas que Um dos pontos de
dariam um quadro talvez preciso destaque na banca de defesa do
do estado em que se encontra a Mestrado, formada por
edição setorial, mas destituído do autoridades no nível de Álvaro de

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Moya e Waldomiro Vergueiro, foi
a excentricidade do tema
escolhido para a pesquisa. Além
da informalidade da banca, que se
colocou com rigor, mas que
transluzia um bom papo entre
amigos, a dissertação sobre os
fanzines – objeto ainda indefinido
e praticamente desconhecido –
era a surpresa que abria as portas
da academia para esse tipo de
produção alternativa.
A falta de registro sobre
esse gênero editorial bem como
sua definição foram alguns dos
desafios a serem vencidos pela
pesquisa. Teve-se que recorrer às
próprias publicações, que têm na
efemeridade e na dispersão
algumas de suas características
mais marcantes. O senso de
oportunidade e o fato de estar no
centro da maior produção de
fanzines do país foram fundamen-
tais para o estabelecimento dos
contatos para a realização do
trabalho, que contou com a exígua
bibliografia sobre imprensa
alternativa, mas com a boa
vontade de parte considerável de
editores de fanzines.
Dessa pesquisa resultou a Dessas tantas edições, Capa do livro sobre Fanzines, publicado
pela editora Marca de FantasiaCapa do
dissertação Os fanzines de histó- houve o texto integral da livro sobre Fanzines, publicado pela
rias em quadrinhos: o espaço críti- dissertação, que saiu como edição editora Marca de Fantasia

co dos quadrinhos brasileiros, que do autor; para a Brasiliense foi


gerou uma série de publicações: feito um resumo, para ajustar-se
Os fanzines de Histórias em à coleção; as outras edições são
Quadrinhos, edição do autor, 1991; revisões, ampliações, comple-
O que é fanzine, coleção Primeiros mentos, estendendo a pesquisa
Passos, da editora Brasiliense, sobre fanzines pelas décadas
São Paulo, 1993; O rebuliço posteriores ao Mestrado e
apaixonante dos fanzines, co- analisando o impacto das novas
edição Marca de Fantasia/Editora tecnologias da informática e da
Universitária UFPB, João Pessoa, informação sobre esse tipo de
2003; e as demais pela Marca de publicação. Sem dúvida, uma
Fantasia: 2 a edição, 2011; 3 a aventura acadêmica que rendeu
edição, 2013; A nova onda dos uma carreira: os fanzines passa-
fanzines, 2004; A mutação radical ram a fazer parte do conteúdo de
dos fanzines, 2005. minhas aulas de Editoração e me

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levaram ao Doutorado em Na introdução dessa obra
Sociologia na Université Paris 7, fundamental, o professor Cagnin
em 1993. (1975, p.17) propõe uma “análise
do sistema narrativo quadrinizado,
Quadrinhos como sujeito
baseada nos estudos do sistema
Desde cedo o texto de signos linguísticos, com o
acadêmico esteve presente na objetivo de delimitar os elementos
trajetória de minha formação. constitutivos da linguagem
Antes mesmo de chegar à imagética, de determinar sua
Universidade, a curiosidade e o função quando assumida pelo
desejo de conhecimento da sistema narrativo”. Vejam a
linguagem dos quadrinhos enrascada em que me meti ao
levaram-me à leitura da obra procurar decifrar a complexidade
seminal Os Quadrinhos, de do texto, mas de forma alguma a
Antonio Luiz Cagnin, lançada em falta de embasamento me
1975 na série Ensaios da Editora desestimulou a leitura. Cagnin foi
Ática, de São Paulo. O livro, a pedra basilar de minha formação
complexo para um adolescente de acadêmica e o guia que me levou
17 anos, que se aventurou nos à Pós-Graduação.
Um dos estudos labirintos textuais do mestre, Se hoje ainda nos
pioneiros sobre a resultou de sua dissertação de ressentimos da falta de obras que
linguagemdos
Mestrado em Letras na analisem a História em Quadri-
quadrinhos feitos no
Brasil. Universidade de São Paulo. nhos como domínio artístico e
expressão midiática, na década de
1970 esse tipo de publicação era
algo raro, sendo os quadrinhos
vistos como uma subliteratura,
uma expressão vulgar da Indústria
Cultural, para a qual se dirigia um
preconceito acadêmico generali-
zado e a desconfiança dos meios
intelectuais. O livro de Cagnin,
portanto, foi um farol que formatou
a linguagem dos quadrinhos em
seu sistema de signos e seu
processo narrativo.
Apesar de o Brasil ter sido
pioneiro nos estudos dos quadri-
nhos, como realça Cagnin (1975,
p.15), com o advento da Primeira
Exposição Internacional de
Histórias em Quadrinhos em 18 de
junho de 1951, proclamada por
Álvaro de Moya em seu livro
Shazam!, poucos se lhes dedica-
ram atenção, como o fez o
jornalista Sergio Augusto, que
desde 1967 publicou uma coluna
semanal sobre o tema no Jornal

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do Brasil. Da escassa bibliografia
na época sobre os quadrinhos,
citemos os autores que se
propuseram a estudá-los, a
exemplo de Moya, com o citado
Shazam!, em 1970, pela editora
Perspectiva, de São Paulo e
Moacy Cirne, com A explosão
criativa dos quadrinhos, em 1970,
pela editora Vozes, de Petrópolis,
Rio de Janeiro. Moya e Cirne
dedicariam sua carreira a compor
uma vasta obra de estudos sobre
os quadrinhos, que chegaria aos
dias atuais.
Moacy Cirne foi o editor da
celebrada Revista de Cultura
Vozes, no início da década de
1970, em que introduziu
frequentemente artigos sobre os
quadrinhos, chegando a lhes
dedicar edições temáticas. Em
1971 saiu pela Vozes, de sua
autoria, A linguagem dos
quadrinhos; em 1982, pela
Achiamé, Rio de Janeiro, lançou
Uma introdução política aos
quadrinhos; em 1990 lançou pela
Europa/Funarte, Rio de Janeiro,
História e crítica dos quadrinhos
brasileiros; em 2000, pela Vozes,
saiu Quadrinhos, sedução e
paixão; em 2005, pelo Sebo
Vermelho, de Natal, publicou A
escrita dos quadrinhos.
A obra de Moya desfruta
também de grande projeção. Ariel Dorfman e do belga Armand Capa do livro de Moacy Cirne lançado
em 1970.
Sendo um dos organizadores da Mattelart, Paz e Terra, 1971.
Primeira Exposição Internacional A professora Sonia Luyten
de Histórias em Quadrinhos, é também daria grande contribuição
também um dos pesquisadores aos estudos da área com o
fundamentais na área, tendo lançamento dos livros O que é
lançado algumas obras referen- História em Quadrinhos, pela
ciais. Além do clássico Shazam!, editora Brasiliense, em ( ); e
publicou, entre outros, História da História em Quadrinhos: leitura
História em Quadrinhos, em 1986, crítica, pelas Edições Paulinas,
pela L&PM de Porto Alegre, além em ( )
de ter traduzido a polêmica obra Em 2006 o jornalista
Para ler o Pato Donald, do chileno Gonçalo Junior quebra um lugar-

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publicou sobre quadrinhos no país,
não se restringindo à produção
livresca, mas a qualquer mídia que
tratasse o tema com relevância.
Nessa garimpagem encontramos
as primeiras publicações
analíticas, uma contra, outra a
favor, lançadas em 1965: o
opúsculo História em quadrinhos
e seus malefícios, da Tipografia
Minerva, de Fortaleza, e o fanzine
Ficção, de Edson Rontani, lançado
em Piracicaba, São Paulo. Esse
dado demonstra a importância que
tiveram os fanzines para a
formação de um público conscien-
cioso e seletivo para os quadri-
nhos, que por intermédio deles
viriam adquirir, em nível internacio-
nal, o status de arte.
Com uma obra consolida-
da desde a década de 1970,
Moacy Cirne e Álvaro de Moya se
tornaram as grandes referências
dos estudos dos quadrinhos no
Edição da Revista de comum que se perpetuava entre país, sendo autores incontornáveis
Cultura Vozes, de
os pesquisadores. Pela Opera à maioria das pesquisas sobre a
1973, dedicada aos
quadrinhos. Graphica publica um substancioso arte. Por um bom tempo seguiram
volume de 352 páginas quase que isoladamente o rumo do
comprovando que o país tem, sim, estudo sobre os quadrinhos,
uma boa referência bibliográfica quando estes ainda eram mal vis-
sobre quadrinhos. Com o título tos pela sociedade e menospreza-
Biblioteca dos Quadrinhos, dos pela academia. Isso muda-ria
Gonçalo faz um inventário de substancialmente na década de
praticamente tudo o que se 1980, de certo modo impulsionado
publicou a respeito dessa arte e pela explosão da produção de
afins, dividindo seu trabalho em fanzines e pela mudança gradual do
nove capítulos, a exemplo de conceito atribuído aos quadrinhos.
“Livros sobre quadrinhos”, “Livros O denso trabalho apresen-
que falam sobre quadrinhos”, tado por Gonçalo tem o mérito de
“Livros sobre cartuns, caricaturas registrar em detalhes o mais
e animação”, “Catálogos de preciso que possível os dados
exposições sobre quadrinhos”, objetivos de cada obra, como
“Álbuns com ensaios sobre autoria, editora, ano, número de
quadrinhos” e até revistas páginas, local de publicação, além
especializadas, fanzines e sites na de trazer resenha sobre as
internet sobre quadrinhos. publicações. Não é pouco e
O trabalho de Gonçalo traz poucos se arriscariam a um
um demonstrativo do quanto já se empreendimento de porte tão

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grandioso. Pequenas lacunas desempenhou um papel
certamente existem, visto que al- importan-te para seu estudo
gumas obras de caráter regional acadêmico. Em 1970 o
não lhe permitiram o acesso, mas professor Francisco Araújo deu
esse detalhe não tira o valor dessa início à disciplina Introdução às
obra única e imprescindível para a Histórias em Quadrinhos, no
pesquisa sobre quadrinhos no país. Departamento de Comunicação
Algo que chama atenção no da Universida-de de Brasília. A
livro de Gonçalo é a efemeridade da disciplina foi ministrada até
maioria das obras, que se encon- 1977 e inspirou outros professo-
tram datadas e, por isso esgotadas res. Na Escola de Comunicação
e fora de catálogo. Só uma pequena e Artes da USP desenvolveu-se
parte das principais obras de algu- as primei-ras pesquisas sobre
mas décadas atrás está disponível quadri-nhos, dirigidas pelo
e pode ser utilizada como referência professor José Marques de Melo.
direta, sobretudo aquelas de caráter Em 1977, sob o coman-
temporal, como os fanzines e os ca- do da professora Sonia Luyten,
tálogos de exposições. Contudo, surge a revista Quadreca,
percebe-se que o maior volume de dedicada à pesquisa e divulga-
títulos veio à luz da década de 1990 ção dos quadrinhos. Mais re-
aos dias atuais, o que indica uma centemente, grupos de pesqui-
virada na importância atribuída aos sa são formados na Pós-
quadrinhos. Graduação, a exemplo do
Não há dúvida que o Observatório de Quadrinhos,
impacto dos fanzines e a dissemi- comandado por Waldomiro
nação do conceito de graphic Vergueiro, na ECA/USP, que
novel aos quadrinhos contribuíram lança a revista Nona Arte, e o
para isso. Um público adulto e críti- Grupo de Pesquisa em Humor,
co passou a ver os quadrinhos Quadrinhos e Games, GP-HQG,
como uma leitura equiparada à do Mestrado em Comunicação
literatura em nível de contribuição da UFPB, que edita a revista
para a reflexão sobre o cotidiano Imaginário!.
e para as criações ficcionais bem Tomando um exemplo
mais elaboradas. Houve sensível pessoal, em 1983 desenvolvi
amadurecimento nas artes gráfi- uma pesquisa de conclusão de
cas, no desenvolvimento dos rotei- Curso de Comunicação Social
ros, no trato com a linguagem nar- na Universidade Federal da
rativa dos quadrinhos desde a Paraíba sobre a História em
década de 1980, acompanhados Quadrinhos no estado. Embala-
pelo aprimoramento editorial das da pela produção de revistas
publicações. Esse movimento alternativas de quadrinhos a
valorativo não restaria desperce- partir da revista Balão, lançada
bido à academia, que passou a lhe por estudantes/cartunistas da
dedicar um olhar mais atento. U S P, na Paraíba ta m b é m
florescia uma forte produção de
Quadrinhos na academia revistas autorais desde meados
dos anos 1970, com as revistas
Apesar do preconceito Maria, de minha autoria e W elta,
dirigido aos quadrinhos, o Brasil de Emir Ribeiro.

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objetivo da pesquisa, que afinal
transformou-se em livro em 1983,
A incrível história dos quadrinhos.
Este é justamente o ponto que nos
interessa nesse ensaio, não só o
ineditismo dos quadrinhos como
objeto de pesquisa acadêmica,
mas seu processo de edição. Em-
bora a UFPB e o governo do esta-
do tivessem apoiado a produção
de algumas edições tanto da
revista Maria quanto de W elta, não
havia – e ainda não há – uma
política editorial voltada ao tema.
Para a publicação desse
primeiro título sobre quadrinhos
paraibanos foi preciso reunir os
recursos do autor e mais dois
entusiastas, o colega de curso e
quadrinista Marcos Nicolau e o
professor de Jornalismo Alarico
Correia Neto, cada qual com uma
editora fictícia, as edições Acácia,
a Sancho Pança e a Marca de
Fantasia, do autor. Sim, a Marca
de Fantasia já era um protótipo da
editora que se formaria em 1995.
Esse amadorismo, pleno
de empreendedorismo, pode ser
Livro que trata Esse estado tem uma his- um diagnóstico da produção
dos quadrinhos
paraibanos.
tória curiosa com relação aos qua- bibliográfica nacional. Não há
drinhos, tendo como pedra funda- perspectivas mercadológicas fora
mental o lançamento da revista As do eixo cultural do Sudeste, com
aventuras do Flama, em 1963, por raras exceções. Para estados
Deodato Borges. A revista do periféricos, resta o apoio eventual
Flama foi criada para presentear de algum órgão público ou o
os ouvintes do programa radiofôni- empenho do próprio autor.Talvez
co homônimo, também dirigido por não se tenha ainda hoje
Deodato. Impressa em clichê, um instituições públicas, como as
processo extremamente dispen- Universidades Federais e
dioso e defasado já para a Estaduais, com uma política
imprensa da época, a obra de editorial clara, que prestigie e
Deodato marcou toda uma dissemine a riqueza da pesquisa
geração de quadrinistas que que realiza.
surgiria nas décadas seguintes no Nas Universidades, as
estado, sendo até hoje cultuado. dificuldades para a publicação são
O levantamento historio- de ordem econômica, mas
gráfico dos 20 anos de produção também estrutural. O gigantismo
dos quadrinhos da Paraíba foi o de fomento do conhecimento em

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que essas instituições se Ministério da Educação promove
transformaram certamente não a distribuição de álbuns e livros de
conseguiria fazer circular toda a quadrinhos para o fomento à
sua produção, que por outro lado leitura e recurso pedagógico. Para
deveria ter formas de se tornar ensinar os professores a lidar com
pública. Os entraves burocráticos essa ferramenta, as editoras
e a falta de recursos, além da falta procuram lançar alguns títulos que
de visão dos administradores auxiliem a sua implementação,
impedem que ao menos o mínimo aproveitando a demanda garantida
do que se produz ganhe a forma pelo governo.
impressa, com alguma inserção À parte esse direciona-
no mercado. mento do mercado, a maioria dos
A pesquisa sobre História livros teóricos é lançada no rastro
em Quadrinhos, embora já tenha do sucesso de alguns títulos
um bom lastro nos cursos de internacionais ou por pequenas
Comunicação Social, e incidência editoras, ligadas ou não às
nas Artes Visuais, Literatura, Universidades. Sem dúvida, esses
História, Biblioteconomia, Educa- lançamentos são importantes para
ção e Sociologia, esbarra nessa a constituição básica dos estudos
estrutura institucional. Por outro sobre quadrinhos no país. Nomes
lado, ainda resta um filtro a valorar como Will Eisner e Scott McCloud
as pesquisas tecnológicas em são muito bem vindos, pela
detrimento dos estudos em incontestável contribuição que
Ciências Sociais. deram à dita Arte Sequencial, mas
A objetividade econômica estamos muito distantes de ver
do mercado leva-o a estar mais editado todo o potencial das
voltado ao retorno seguro pesquisas desenvolvidas na
proporcionado pelos bestsellers academia, que é um legítimo
internacionais que ao fomento da celeiro da reflexão e da produção
cultura nacional. Malgrado o de conhecimento.
interesse cada vez maior do meio
Dever de casa
acadêmico aos estudos sobre
diversos aspectos da História em O espírito irrequieto e
Quadrinhos, tanto em nível de autônomo do fanzineiro fez escola
Graduação quanto de Pós- na geração de 1980, que
Graduação, não há pelas editoras amadureceu e lançou-se em
comerciais uma resposta projetos mais estruturados. A
satisfatória a essa produção, que experiência adquirida com a
lhe dê visibilidade por intermédio edição de fanzines possibilitou a
de lançamentos sistemáticos, que idealização de alguns projetos
estimulem novas investigações. editoriais que procuram ocupar o
Há lançamentos esporádi- espaço negligenciado pelo
cos, principalmente voltados à mercado. A editora Nona Arte,
Educação. A leitura dos quadri- comandada por André Diniz no Rio
nhos é hoje estimulada em sala de de Janeiro, por alguns anos, no
aula, o que representa uma início da década de 2000, foi
extraordinária evolução. No promotora de uma boa leva de
âmbito do Programa Nacional publicações em forma de revistas
Biblioteca Escolar – PNBE – o e álbuns.

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Na Paraíba, em 1995, Graduação em Comunicação da
surge sob meu comando a editora UFPB; Paulo Ramos, do Departa-
Marca de Fantasia. Desde sua mento de Letras da UNIFESP; e
fundação a Marca de Fantasia Roberto Elísio dos Santos, do
constituiu-se como uma atividade Programa de Mestrado em
do Grupo Artesanal – entidade Comunicação da Universidade
sem fins lucrativos sediada em São Caetano do Sul, São Paulo.
João Pessoa –, e como projeto de Esse conselho demonstra o caráter
extensão do Departamento de acadêmico da editora, que preza
Comunicação da UFPB. Em 2008 pela pesquisa e inovação artística.
a editora migrou para o NAMID - O projeto editorial da
Núcleo de Artes Midiáticas - do Marca de Fantasia visa prestigiar
Programa de Pós-Graduação em os novos autores brasileiros,
Comunicação dessa Universida- favorecendo os trabalhos experi-
de, onde vem contribuindo com mentais, críticos e reflexivos, além
sua experiência editorial. de estabelecer o intercâmbio com
A Marca de Fantasia é a produção independente de outros
dedicada à História em países. Seu processo de produção
Quadrinhos, Artes, Comunicação, é artesanal, com pequenas tiragens
Linguística e Cultura Pop (expres- progressivas, mas com atenção à
sões da Indústria Cultural, como boa qualidade gráfica.
as séries televisivas, a ficção cien- Desde sua criação, a
tífica, o rádio, a música popular Marca de Fantasia busca
etc.). A editora resultou da expe- contemplar a edição de álbuns,
riência com a edição de fanzines livros e revistas, num trabalho
e a fundamentação de alguns es- conjunto com autores e leitores,
tudos acadêmicos. Faz parte des- que participam de forma
se histórico a publicação entre as entusiasta de seu projeto editorial.
décadas de 1970 e 1990 de vários Por sua vez, esses três eixos de
números da revista em quadrinhos atuação dividem-se em várias
Maria, dos fanzines Marca de séries, que abrangem uma vasta
Fantasia e Nhô-Quim, e a realiza- gama temática e cultural.
ção de Mestrado e Doutorado Os álbuns se caracterizam
sobre o universo dos fanzines. pelas obras densas, geralmente
A editora conta com um com lombada quadrada e capa
conselho editorial formado por cartonada, diferenciando-se do
professores e pesquisadores de fascículo ou da revista. Apesenta m
renome nacional na área, como histórias longas ou mesmo
Edgar Silveira Franco, do coletânea de histórias curtas ou
Programa de Pós-Graduação em tiras; pode trazer HQ de vários
Cultura Visual da Faculdade de gêneros: ficção científica,
Artes Visuais da Universidade poéticos, humorísticos e aventu-
Federal de Goiás; Edgard ras. Além dos títulos avulsos já
Guimarães, do Instituto Tecnoló- lançados (os Fora de série), foi
gico de Aeronáutica, de São Paulo; criada a série Biografix, coorde-
Elydio dos Santos Neto, do nada conjuntamente com o quadri-
Departamento de Práticas nista Wellington Srbek, para
Pedagógicas, da UFPB; Marcos abrigar o resgate do trabalho dos
Nicolau, do Programa de Pós- mestres dos quadrinhos brasilei-
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ros. A série Repertório, criada em contempla não só as pesquisas
2009, apresenta trabalhos de desenvolvidas por Elydio, mas
autores contemporâneos. fomenta a reflexão de outros
Uma categoria particular pesquisadores de quadrinhos.
de álbuns é a série Das tiras Em 2009 a editora passou
coração,editada em parceria com a publicar versões eletrônicas de
Edgard Guimarães, onde cada seus livros – os chamados ebooks
livro reúne um conjunto de tiras –, disponibilizando-os em seu sítio
autorais. Nos jornais locais de na internet gratuitamente ou com
várias cidades circulam tiras de preços simbólicos. O objetivo é a
autores praticamente desconheci- experimentação de novas lingua-
dos no resto do país. Muitas dessas gens editoriais, bem como a difu-
tiras não circulam nem nos fanzines, são irrestrita de suas obras. Gra-
ficando restritas ao seu local de cria- dualmente os ebooks pretendem
ção. Esta série visa dar visibilidade substituir as edições impressas,
ao trabalho desses artistas e fazer oferecendo novas possibilidades
o registro dessa produção. de acesso e leitura, além da
O projeto também contem- exploração de outros campos de
pla a edição de livros com ensaios estudo em seu projeto editorial.
voltados à Cultura Pop e à História Na categoria “revista”,
em Quadrinhos. Além dos títulos lançou-se Tyli-Tyli, depois
avulsos (Fora de série),esta linha chamada Mandala, que marcou a Capa da revista
editorial viria se consolidar com a cena das publicações independen- Mandala.

série de livros de bolso Quiosque,


alcançando grande interesse do
público acadêmico.
Além da série Quiosque,
temos a série Veredas, de ensaios
com enfoque em Comunicação,
Artes e Linguística. Esta série, em
particular, atende à demanda dos
estudos acadêmicos e promove o
lançamento de trabalhos feitos em
nível de Graduação e Pós-Gradua-
ção. Em 2011 foi lançada a série
Periscópio,voltada exclusivamen-
te à publicação de trabalhos
produzidos no Mestrado em
Comunicação e no Departamento
de Mídias Digitais, ambos da
UFPB.
Em 2012 nova série é
lançada, numa proposição de
Elydio dos Santos Neto. A série
Quadrinhos poético-filosóficos traz
estudos sobre esse gênero de
quadrinhos, que tem se notabiliza-
do pela experimentação gráfica e
liberdade conceitual. A série

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tes como a única revista voltada órgão oficial da entidade, além de
para os quadrinhos de conteúdo Conexões Midiáticas, revista
poético-filosófico. Com base na eletrônica dirigida pelos
produção de Flávio Calazans, mestrandos. Em outubro de 2011
Edgar Franco e Gazy Andraus, o passou a editar a revista
impacto da publicação gerou Imaginário!, produzida pelo Grupo
estudos acadêmicos e fomentou o de Pesquisa em Humor,
surgimento de outros autores. Quadrinhos e Games, do Núcleo
Com o desenvolvimento de Artes Midiáticas do Programa
do projeto da editora, outras de Pós-Graduação em Comunica-
revistas foram criadas, como a ção da UFPB. A revista está
Maria Magazine, voltado aos voltada para a difusão das
quadrinhos humorísticos, em pesquisas desenvolvidas pelo
particular as tiras; a revista grupo, mas aberta a colaborações
Quiosque, trazendo um olhar de qualquer pesquisador da área.
crítico sobre as mídias; e a série Em 2011 a Marca de
Corisco, de revistas com histórias Fantasia estabeleceu uma
em quadrinhos curtas ligadas a um parceria com o Labedisco -
tema ou autor.A partir de 2009 a Laboratório de Estudos do
editora incorporou o título Artlectos Discurso e do Corpo -, da
e Pós-Humanos, de Edgar Franco, Universidade Estadual do
outrora publicado pela SM Editora, Sudoeste da Bahia, com quem
de José Salles. A revista deixa lançou a revista eletrônica O
campo livre para as experimen- Corpo é Discurso. A revista é
tações do universo particular da produzida pelo coordenador do
obra de Edgar. Labedisco em Vitória da
Em “revista” incluímos o Conquista, BA, professor Nílton
fanzine Top! Top!, que presta Milanez, e tem versão online
homenagem a Henfil ao utilizar disponível no site da editora, além
como título a célebre onomatopeia das edições em arquivo pdf.
popularizada pela personagem Há ainda a rubrica
Fradim. De caráter jornalístico, o Camaradas, que segue um hábito
fanzine apresenta resenhas, textos antigo dos editores de fanzines: a
analíticos, cartas dos leitores e troca de publicações. Esta prática
entrevistas, além de quadrinhos de foi retomada pela Marca de
novos autores e o resgate do Fantasia com o propósito de
trabalho dos veteranos; o estimular a difusão e venda da
intercâmbio com produtores e produção dos editores indepen-
publicações de outros países dentes. As publicações de outros
possibilita o conhecimento de autores são trocadas pelo corres-
novas expressões dos quadrinhos, pondente em exemplares ou em
a exemplo da obra de artistas valor dos títulos da Marca de
portugueses, cubanos e Fantasia, sendo disponibilizadas
argentinos, já publicados no para venda no sítio da editora. Isto
fanzine. transforma a Marca de Fantasia
Com o Mestrado em numa livraria virtual, concentrando
Comunicação da UFPB, a editora parte das obras dos editores
produz a revista acadêmica independentes num único sítio,
eletrônica Culturas Midiáticas, facilitando seu acesso aos leitores.
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A proposta da editora De fato, não é que não
Marca de Fantasia contempla, existam editoras locais e, quiçá,
portanto, as vertentes mais regionais, as universitárias são
importantes dos quadrinhos uma demonstração disso, contudo
independentes no Brasil, que vêm seu modo de operação não visa o
sendo menosprezadas pelas mercado formal, já que não têm
editoras comerciais: fanzine – ou como objetivo primordial o lucro.
revista de conteúdo jornalístico –, Essas editoras não têm seu capital
revista de quadrinhos poéticos, oriundo das vendas, mas das
tiras, álbuns de quadrinhos e verbas públicas, que de certo
ensaios sobre quadrinhos, cultura modo as descomprometem de
pop, Comunicação, Linguística e seguir o rigor operacional do
Artes. A preocupação conceitual mercado para sobreviver às
está na base do projeto editorial próprias custas.
da Marca de Fantasia, que Esse poderia ser o diferen-
desenvolve um trabalho sem cial e uma das vantagens de estar
interesses comerciais, mas com o fora do mercado, a liberdade
objetivo de divulgar e estimular a editorial, o descompromisso com
produção cultural no país. o lucro, mantendo apenas o
retorno mínimo que garantisse
Alguns caminhos para a edição
certa autonomia institucional. Nem
Essa via, digamos alterna- todo trabalho acadêmico é, em
tiva, talvez suscite algumas inda- potencial, um produto mercadoló-
gações. Fora da estrutura do mer- gico, malgrado sua importância
cado, qual a viabilidade e alcance como produção científica. Para
de outros métodos de produção, esses trabalhos, as editoras
a exemplo dos praticados pelas universitárias podem ser a única
editoras independentes? Como fa- possibilidade de veiculação, se
zer essa produção circular e che- houver uma política editorial que
gar ao público a que se destina? os prestigie.
O primeiro ponto a se con- A História em Quadrinhos
siderar é que, fora do eixo cultural talvez se enquadre nesse
do Sudeste, toda publicação pode parâmetro, se considerarmos o
ser considerada alternativa, ao interesse setorial de sua
menos no que toca seu modo de abordagem. É certo que os
produção e veiculação. Dificilmen- quadrinhos adquirem cada vez
te uma edição de outra região do mais influência em vários domínios
país terá difusão e repercussão acadêmicos, particularmente em
como as publicações do mercado, se tratando de Educação. Mas seu
mesmo as produzidas pelas universo cognitivo está bem mais
editoras universitárias, que conta m ligado à Comunicação Social, ao
com uma rede própria de distribui- Jornalismo e às Artes Visuais,
ção. As publicações dos estados embora tenha interface com
periféricos tomam o caráter de História, Letras, Biblioteconomia e
publicações caseiras, com baixas Publicidade.
tiragens, visto que não almejam Se esse campo de
alcançar um grande público, interesse aparenta-se restritivo, há
limitadas pela disposição do autor que se considerar o público
em fazer circular sua obra. acadêmico – professores e
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estudantes universitários – ligado local de circulação do livro, sendo
a esses cursos, em nível nacional, que mesmo as editoras já estão a
pouco considerado pelas editoras criar suas próprias livrarias
comerciais, mas com densidade virtuais. A Amazon é o exemplo
suficiente para uma forte produção máximo dessa nova estratégia de
editorial que alimente com comerciali-zação de livros e outros
fundamentos novas pesquisas. produtos culturais. Sem necessitar
Outro elemento a destacar de espaço físico, disponibiliza à
é o modelo de produção e venda o maior acervo do mundo em
veiculação do livro como produto livros impres-sos e virtuais,
cultural, que vem sofrendo atingindo um público inimaginável
transformação radical com os para qualquer editora ou rede de
recursos da informática. Com a livrarias tradicionais.
disseminação do computador e Além das vantagens desse
dos leitores digitais – tablets, processo de produção e
notebooks, smartphones – o livro veiculação, conta-se também com
já prescinde do suporte impresso, o custo irrisório para a edição do
muitos sendo produzidos livro digital, que elimina várias
diretamente para o suporte digital. etapas para concretizar-se e
Outros, lançados originalmente chegar ao leitor. O orçamento, que
como impresso se transformam antes era um impedimento
facilmente em arquivo digital, concreto para a edição de livros
produzido pela própria editora ou por instituições públicas, como as
pelos leitores, de forma não Universidades, com o processo
autorizada. digital é possível tornar pública
Sem dúvida, esse dado toda sua produção.
muda muita coisa no processo É isso o que vem realizan-
editorial. Do mesmo modo como do o Programa de Pós-Graduação
ocorreu com a música, que passou em Comunicação por intermédio
do suporte físico para o digital e do projeto “Para ler o digital”, coor-
gerou compartilhamentos incontro- denado pelo professor Marcos
láveis, com o livro pode se dar o Nicolau com a participação dos
mesmo processo, visto que a co- alunos do Curso de Comunicação
municação e troca de informações em Mídias Digitais. O projeto está
são próprias do meio digital. Talvez associado à editora Marca de
a falta de controle seja o motivo Fantasia,também do Mestrado em
para certo conservadorismo do Comunicação, que criou a série
mercado com relação ao livro Periscópio especialmente voltada à
digital, embora algumas editoras produção acadêmica do Programa.
já disponham de um bom acervo Pela série já foram lançados 29
deles disponível em seu catálogo. títulos em dois anos, que cum-pre o
A informática trouxe papel de difusão e democratização
autonomia ao autor, que não do conhecimento. Como resposta
precisa mais de uma editora para ao financiamento público das pes-
lançar seu livro. Com a internet é quisas, os livros são veiculados gra-
possível difundir sua produção e tuitamente, com incentivo ao seu
chegar ao leitor desejado, sem compartilhamento.
limites territoriais ou econômicos. A série Periscópio conta
A livraria física não é mais o único com alguns títulos dirigidos à

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História em Quadrinhos, mas o nicho editorial que favorece o
forte da produção sobre o tema desenvolvimento da História em
encontra-se na série Quiosque, Quadrinhos.
que já dispõe de 28 títulos. A série As grandes editoras
Quiosque vem se consolidando continuarão investindo em sua
pela oferta de uma gama de proposta comercial, que pelo
temáticas ligadas aos quadrinhos, imediatismo do lucro certo não se
que vão de estudos sobre a interessam por pequenas tiragens
própria linguagem da arte, a sua para públicos dirigidos. Antes que
inserção na arquitetura, no sirva de desestímulo aos novos
jornalismo, na ficção científica, no autores e à produção acadêmica,
cinema, no fanzine e demais essa condição deve ser vista como
edições independentes. São um desafio à criação de inúmeras
textos quase sempre oriundos da pequenas editoras artesanais, à
academia em forma de ensaios, proliferação de incontáveis
monografias, capítulos de disser- editoras virtuais. Certamente este
tações e teses, quando não obras será o caminho para a
completas, possibilitadas pelas democratização da comunicação,
facilidades da produção digital. que já se apoderou dos blogs e
Se a Marca de Fantasia redes sociais.
vem se tornando o celeiro da mais
atual produção artística e Referências

acadêmica é porque há um CAGNIN. Antonio Luiz. O s


intenso processo colaborativo, Quadrinhos. Série Ensaios, 10.
imprescindível ao seu projeto São Paulo: Ática, 1975.
editorial. A editora não visa o lucro,
pratica preço de custo para as CIRNE. Moacy. A explosão
edições impressas e preço criativa dos quadrinhos.
simbólico para as digitais, tem Petrópolis, RJ: Vozes, 1971.
como método produtivo as CIRNE, Moacy.A linguagem dos
pequenas tiragens e confecção quadrinhos. Petrópolis, RJ:
artesanal. Atende ao público Vozes, 1971.
interessado em criações artísticas
CIRNE. Moacy. Uma introdução
que não são contempladas pelo
política aos quadrinhos. Rio de
mercado, bem como ao
Janeiro: Achiamé, 1982.
acadêmico, que busca em seu
catálogo a fonte para suas CIRNE. Moacy.História e crítica
investigações. dos quadrinhos brasileiros. Rio
É certo que a Marca de de Janeiro: Europa/Funarte, 1990.
Fantasia não garante meio de vida CIRNE. Moacy. Quadrinhos,
aos autores que publica, mas de sedução e paixão. Petrópolis, RJ:
forma tácita, acordada entre editor Vozes, 2000.
e autores, não é esse mesmo o
objetivo. A editora serve como CIRNE. Moacy. A escrita dos
banco de ensaio de novas quadrinhos. Natal: Sebo
propostas artísticas e resistência Vermelho, 2005.
aos condicionamentos do DORFMAN, Ariel; MATTELART,
mercado. Gradualmente foi se Armand. Para ler o Pato Donald.
firmando e mesmo criando um São Paulo: Paz e Terra, 1971.

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GONÇALO JÚNIOR. Biblioteca M O YA, Álvaro de. Shazam! 3ª
dos Quadrinhos. São Paulo: edição. Coleção Debates, 26.
Opera Graphica, 2006. São Paulo: Editora Perspectiva,
1977.
HISTÓRIA EM QUADRINHOS E
SEUS MALEFÍCIOS. Fortaleza: M O YA, Álvaro de. História da
Tipografia Minerva, 1965. História em Quadrinhos. Porto
Alegre: L&PM, 1986.
MAGALHÃES, Henrique. A incrível
história dos quadrinhos. João R O N TANI, Edson. Ficção.
Pessoa: Sancho Pança, 1983. Piracicaba, SP: 1965.

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