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varreu os Estados Unidos no início dos anos 1990 não foi nenhuma
~ novidade. Ele teve pelo menos dois importantes pr~cedentes históricos
l no século XX: um durante a Era Progressiva, quando os "pervertidos"
sexuais eram primeiro identificados e em seguida encarriinhados para
intervenção eugênica, e o outro no período 1936-1957, quando se acre-
ditava que hordas de "psicopatas sexuais" perambulavam pelo país em
busca de ví~as inocentes, prontos para atacar a qualquer momento 1•
' .. 356
são, e dC? ali comparecerem, anualmente, nos cinco dias seguintes
ao seu aniversário. A partir de 1995, todo delinqtiente sexual resi-
dente no' Golden
' State que não cumprir com essa obrigação é
passível ,d ~ 16 a 36 meses de prisão (e de reclusão perpétua auto-
mática, ç'aso se trate de sua terceira condenação penal, por conta
da sever~ ;lei estadual do Three Strikes and You 're Out). Entre
as muita§;. outras restrições que os atingem, também lhes é proibi-
do exerderiqualquer profissão ou fazer parte de organizações que
os coloq:fem em contato com menores de idade. Contudo, a exem-
plo de o~· ros ex-detentos, eles podiam, até recentemente, se apro-
veitar ddfànonimato para r~ fazer suas vidas, uma vez cumprida a
pena. E~se• não é mais o c~so desde que o Congresso votou, em
1996, ~ rk~i de egan", gue permite às autoridades co ocru: s
"s ~ ,. " 'ndex_ gá-los à inquisição eonanente
·~ . I
à xe É ç- ber:.t do p ' · Além disso, mais de dez estados
adotarani,lé'statutos que permitem o "confmamento civil" de certas
categori.~~~,)de
,. criminosos sexuais após terem cumprido integral-
mente s.t;Jas sentenças, colocando-os, na prática, em confmamento
indefmiáo·: por conta de crimes que eles poderiam vir a cometer.
jf)
AI'l ·e~ de passarmos ao exame dos objetivos, do funciona-
mento Jl<fb significado dessas inovações penais, devemos obser-
var que. es ta última onda de pânico em relação aos criminosos
sexuais ~~presenta um certo número de surpreendentes semelhan-
ças co~~eus predecessores. Primeiramente, como·no passado, ela
se centli.6'u em atos altamente infreqtientes e particularmente atro-
zes, enq:~uanto as formas rotineiras de assédio sexual, particular-
mente dquelas cometidas no interior das famílias e que perfazem o
grosso da~ infrações, foram meticulosamente negligenciadas.
Em segundo lugar, a atual febre de preocupação do público
e de legislação com criminalidade sexual está completamente
disconee ada da evolução estatística das infrações: como antes,
os clamÓres quanto a uma "epidemia" explodem justamente quan- ·1
do a incidência das violações recua. Assim, o número de estupros !
ocorri dÓs no país e registrados pela National Crime Victimization
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;!
'
Sun,ey revela uma estagnação em tomo de 2,5 vítimas por 1. 000
pessoas com 12 anos ou mais, de 1973 até 1988, seguida por um
continuado declínio até 1995 (salvo para um momentâneo incre-
mento em 1991), quando chegou acerca de 1%, exatamente quando
o furor em relação a crimes com inspiração sexual atingia seu
pico. A tendência no volume de infrações sexuais reportado à
polícia atesta uma queda similar, de 9% entre 1991 e 1995,
correspondendo a uma redução de 12% em termos de taxa per
capita. Isso se reflete no declínio constante no número de deten-
ções por crimes sexuais após 1990. Por volta de 1995, quando
leis tipo Megan se tinham espalhado por todo o país como um
incêndio, a taxa de detenção para infrações sexuais além do estu-
pro forçado era 30% inferior à registrada em 1983. Ao mesmo
tempo, a participação de assassinatos com motivação sexual no
conjunto dos hqmicídios despencou de 1,5% em 1976 para 0,7%
em 19943 • Muito embora esses dados devam ser interpretados
com cautela, devid.o à existência de um grande número de casos
que não são reportados e a outras questões de definição e técni-
cas, eles não deixam de refutar, de forma consistente, a noção de
que o país experimentou uma retomada de ataques sexuais ao
longo das duas últimas décadas.
Em terceiro lugar, a crença pública de que os delinquentes
sexuais são tratados de forma condescendente pelos tribunais é
igualmente contraditado por dados judiciais que mostram que,
embora a incidência de infrações sexuais tenha caído, o número
de prisioneiros sentenciados por sevícias sexuais, não incluindo
o estupro, .cresceu numa média de 15% ao ano entre 1980 e 1995,
o dobro da taxa de crescimento da população prisional em seu
conjunto; e a duração das sentenças aumentou para todas as cate-
gorias de condenados por crimes sexuaís4 •
Em quarto lugar, do mesmo modo que a obsessão com o
"psicopata sexual" da década de 1940, a campanha do "predador
sexual" dos anos 1990 é em grande parte resultado do ativismo
da núdia e dos políticos. Coberturas sçnsacionalistas por jamais,
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para deter uma doença, um tormento, ~ue eu acredito que é a
de-fi-ni-ção do mal e que já foi longe demais. As crianças
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desta nação, os Estados Unidos da América, estão sendo [ela
fala lentamente, sublinhando cada II palavra] roubadas,
esupradas, torturadas e mortas por predadores sexuais, que
estão rondando as suas casas. Quantas ~ezes
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mais isso terá de
acontecer? Quantas crianças terão de ~er sacrificadas? Que
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preço nós, enquanto sociedade, estamos dispostos a continuar
pagando antes de nos erguem1os e tomarmos as ruas para bra-
dar [sua voz é firme e solene] bas-ta! Basta! Basta!
Para ajudar a colocar um ponto final n~ "vergonha da Améri-
1ca" , ou .
seJa, na tolA ' penal que permite
eranc1a I . que um número
estimado de 100 mil delinqüentes sexuais estejam em liberda- .
de, "a Lista de Predadores de CrianÇas da Oprah" oferece
'instruções sobre como ''Proteger Seus Filhos", "Perfis dos
Acusados" e retratos dos ''Fugitivos Capturados". A página
da web anuncia alegremente: ''Nós colocamos seus retratos e
pessoas como você podem denunciá-los. O aviso à polícia, a
localização, a captura ... Damos todos os detalhes! Como você
pode conseguir os próximos US$100 mil de recompensa!
Molestadores de crianças, nós estamos atrás de vocês!" E
teclando "Buscando Delinqüentes Sexuais na Sua Comuni-
dade" o visitante virtual será conduzido através de uma bus-
ca na Internet, com as orientações passo-a-passo de como
"fazer sua pesquisa online" para caçar e esmagar o que é
· apresentado como um novo verme moral.
Será que tudo isso significa que a mais recente histeria não
passa de' uma repetição familiar de ciclos de alarme público e
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de~onização ~os delinqüentes sexuais, como o historiador Philip
Jçnkins ~ugere qy~ndo;escreve que "o pânicp atual em relação aos
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1
crimes sexuai~ é' tão violento quanto o do final dos anos 1940, e
atribuiu ao predador um papel na demonologia nacional tão proe-
minente quando o do seu predecessor psicopata"T Neste capítulo,
eu ar~rriento no sentido contrário, de que a atual onda de execração
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, .. ....
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O objetivo deste capítulo não é oferecer urna explicação aca-
bada da ascensão e do papel das políticas vingativas contra os de-
linqi.lentes sexuais implementadas nos Estados Unidos, nos anos
1990, em sua inteira complexidade, suas complexidades legais (que
são tremendas) e suas bases psicosexuais (que são rnultifacetadas).
Ao contrário, ele foca sua atenção em aspectos específicos deste
setor em mudança da ação do Estado a que obedece e que, portan-
to, ajuda a elucidar a penalização corno um recurso generalizado
para administrar populações problemáticas e fronteiras simbólicas
sensíveis. É por isso, do mesmo modo que foi feito com a análise do
. teor punitivo da "reforma do welfare" de 1996, esboçada na pri-
meira parte deste livro, que limitamos nosso foco aos anos da incu-
bação fmal e da implementação inicial da lei de Megan corno um
momento de cristalização discursiva e de revelação prática da lógi-
ca profunda desta inovação no controle penal.
Supervisionar e estigmatizar
Com o ressurgimento do moralismo no campo da política e a
extrema projeção dos crimes sexuais na mídia durante a década
·j
passada, correlacionados ao aumento continuado da cobertura
jomalística conferida à violência criminal, a opinião pública vol-
tou-se, coino nunca antes, para os atentados sexuais contra cri-
anças9. Como resultado, obteve-se não somente um consenso so-
lidificado em favor de conferir a essas violações da lei a mais
severa resposta penal possível. Urna dezena de estados
implementaram os estatutos two strikes que automaticamente
enviam os delinqüentes sexuais violentos reincidentes para a pri-
são perpétua, ao passo que meia dúzia deles permitem ou reque-
rem que esses infratores sejam submetidos à "castração quími-
ca" por meio de injeções regulares de Depro-Provera, urna droga
que inibe o impulso sexual' 0 • O monitoramento punitivo dessa ca-
tegoria de condenados -e, por efeito de propagação da rotulação
inclusiva de quase todos os ex-prisioneiros "mandados para trás
das grades" por acusação sexual, não importando a gravidade -
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-~
intensificou-se e estreitou-se a tal ponto que eles não são mais
considerados corno pessoas com distúrbios, merecedoras de ação
terapêutica, mas sim corno desviantes incuráveis, que represen-
tam urna ameaça criminosa intolerável ad atemitum, não levan-·
do em consideração seu status judicial, seus antecedentes soci-
ais, sua trajetória no caminho da reabilitação e seu comportamen-
to pós-penal.
A causa disso tudo são as leis de Megan, assim batizadas
depois que Megan Kanka, uma menina de Nova Jérsei violentada
e assassinada por um pedófilo em liberdade condicional, que vivia
em frente casa de seus pais sem que eles o soubessem, e cuja
morte em 1994 desencadeou urna febre irresistível de legislação
em todo o país, que obriga a polícia das cidades e dos condados
dos 50 estados da federação não apenas a "registrar" (ex-)delin-
qüentes sexuais, corno também a " notificar publicamente" a sua
presença e suas (más) ações 11 •
A extensão e os recursos destas Leis variam de urna jurisdição e
de urna cidade para outraii. Em alguns estados, a notificação é "passi-
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Texas em.1 9,97 (em complemento à lei federal), exige que todos os I
nossos ciq. daos têm um acesso mais fácil do que nunca à informa-
ção que p <v e dar-lhes uina indicação da segurança relativa de um
bairro em~ ~rmos de crimes sexuais potenciais. Isso também.pode
ajudar os ç[iipregadores, as escolas e as associações voltadas para
a juventudé a identificar os predadores sexuais", explica o coronel
Duddley Wh~mas, diretor do Departamento de Segurança Pública,
que se felifita por ter colocado à disposição "um novo in~trumen~o
de alta tecnologia que ajuda a fazer do Texas um lugar amda mais
seguro para se viver". Os indivíduos ou organismos que o deseja-
rem pod comprar esta base de dados em CD-Rom pela módica
quantia d~ U$35: "Nós queremos que os criminosos sexuais no
Texas saibam que nós sabemos quem eles são. E agora, mais do
que nunca, ,1
nós sabemos ond e voces " estao- "15 .
IJ•
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II Na Califómia, a polícia municipal toma públicos os dados pes-
soais (nome, fotografia, altura, peso, sinais particulares), o prontuá-
rio judicial e a localização de 64.600 condenados por delito sexual
considerado "sérios" ou "de alto risco" (num total de 82.600), por
meio de folhetos e pequenos cartazes, de conferências de impren-
sa, de reuniões de bairro e na prefeitura, e por campanhas porta-a-
porta nas suas vizinhanças. Já o registro completo dos sex offenders
podia ser consultado em 1999 por meio de uma linha direta e de
CD-Roms disponíveis nas delegacias centrais, bibliotecas munici-
pais e por ocasião das feiras anuais dos condados.
Durante o ano que seguiu à sua entrada em vigor, 213 "CDs
da Lei de Megan" foram distribuídos na Califómia por intermédio
de 145 delegacias policiais. Nas ruas, foram distribuídos 6.500
panfletos reve\ando os perfis de delinqüentes sexuais "de alto ris-
·co" (isto é, aqueles que cometeram pelo menos dois atentados,
dos quais um com violência) e notificando as escolas sobre a
presença de 134 deles em suas proximidades imediatas. Em três
meses , mais de 24.000 pessoas haviam consultado o citado CO-
Ram, com urna taxa de 12% de respostas positivas, enquanto o
número da "Linha de Identificação de Delinqüentes Sexuais" havia
recebido 7.845 chamadas (mediante o pagamento de um direito
de acesso de US$1 O por consulta, automaticamente faturado pela
companhia telefônica), dos quais 421 tiveram como resultado a
identificação de um ex -condenado por delito sexual. Anualmente,
o estado da Califórnia acrescenta 3.000 novos dossiês a esse
banco de dados informatizado que, desde 1998, incluía um em
150 adultos califomianos do sexo masculino.
Em San Diego, logo após a aprovação da lei, o chefe de polí-
cia reuniu a imprensa para revelar a identidade de sete (ex-)delin-
qüentes sexuais "de alto risco". Para eles, o anonimato não era
mais uma opção: a lista dos sete foi divulgada nos telejornais da
noite e seus nomes reproduzidos pelos jamais da cidade, muito
embora o San Diego Tribune tenha preferido, pudicamente, não
reproduzir suas fotos pelo fato de "elas serem datadas e, em al-
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guns casos, de má qualidade". Em Los Angeles, a polícia alertou
os moradores das proximidades das escolas, patrulhando casa
por casa; em Santa Rosa, advertiu também as empresas e os
clientes dos centros comerciais. Na parte leste da baía de San
Francisco, as cidades de Fremont e Hayward distribuíram às fa-
mílias com filhos em idade escolar cartazes assinalando a locali-
zação dos "sex offenders" classificados como "sérios" e "de
alto risco" que viviam num raio de dois quilômetros em tomo de
um estabelecimento de ensino. Um triângulo indica as ruas en-
volvidas (mas não o endereço exato), de tal modo que os pais
preocupados podem recomendar aos filhos que as evitem em seu
caminho para a escola. Em outubro de 1998, no condado rural de
Calaveras, o jornal local, o Ledger-Dispatch, foi o primeiro jor-
nal da Califórnia a publicar a lista completa dos condenados por
atentados ao pudor da região, a pretexto de eles 1representarem
"um risco para toda a comunidade" 16 .
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dão que esr,erava em longas filas a hora de se sentar numa cadei-
ra e fazer ·., consulta. Ele explicou: "A maioria das pessoas não
sabe que es ta informação está disponível e algumas hesitam em
entrar num~ delegacia de polícia. Então tive essa idéia: que lugar
é mais ac~~h'edor do que a feira do condado? 19 ". Lundgren era
encorajad~'}p,elo fato de que em menos de uma semana 4.000
pessoas teph!lm consultado os arquivos de Megan entre duas
11
vo 1tas de carrosse
( I e "desentocaram" 300 (ex) "sex offenders".
"O .secr~t ári ?~~f ~pressou a I~ gar um.press rele~se louvando os
~~ . d' 1
c I dada os respettadores da lei , que assim descobnram e denunci-
aram 16 ex ~~~pnqüentes sexuais cujos empregos os colocavam em
contato com menores. Um deles era vendedor em uma loja de
ca lçad os paJjal-i'ç:nanças, outro era trema dor de bA'
eise bo1e um tercei-
0 0
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pelo escritório do secretário de Justiça. Este site exibe o "Mapa
de Localização dos Delinqüentes Sexuais da Califórnia", que per-
mite aos navegadores procurar o registro pelo nome, endereço,
cidade, código postal ou pela localização de escolas e parques
(isso quando o caprichoso instrumento de busca coopera). O mapa
de localização é precedido por urna página inteira de avisos que
parecem querer desacreditar a sua utilidade, incluindo advertên-
cias de que o objetivo do si te é "apenas informar", que "o Depar-
tamento de Justiça da Califórnia não pode garantir, de forma ex-
plícita ou implícita, que as informações neste site sejam comple-
tas ou corretas", e que "não pode ser considerado ou avaliado o
risco específico que qualquer condenado por crime sexual exibi-
do neste web site venha a cometer uma outra infração"20 .
A incessante insistência da mídia em torno dos crimes sexuais
mantém uma ansiedade febril no país, de tal modo que os governos
estaduais que demoraram em divulgar os registros dos delinqüen-
tes sexuais foram ultrapassados pelos condados e pelas cidades que
publicaram suas próprias listagens. Em Michigan, o senador esta-
dual David J aye- que se gaba de ser o primeiro político a ter mon-
tado seu próprio "site de pervertidos" -arroga-se ao direito de di-
vulgar, ele mesmo, o mapa dos delinqüentes sexuais do seu distrito
na Internet, a fim de pressionar a administração da justiça estadual
a acelerar a difusão eletrônica da lista de Megan e "colocar na canga
estes predadores que são iguais a cães raivosos"21 •
No Alasca, no início de 1998, um particular abriu um site na lntemet
- www.sexoffender.corn -, que prometia acesso direto a 500.000 fotos
de condenados por atentados sexuaiS nos 50 estados da federação, e
também no México, mediante o pagamento de uma modesta taxa de
US$5 por consulta Em Nova Iorque, em abril de·2000, LauraAhearn,
uma assistente social de Stony Brook, fundou a associação Parents for
s
Megan Law, destinada a exibir mais rapidamente na rede o registro
dos "sex offenders" do estado de Nova Iorque (voluntários passaram
um ano copiando a mão nomes de subdiretórios judiciais para uma lista
·j principal) e a operar urna linha telefônica só para este serviço.
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Essa organização não-lucrativa, cuja missão declarada é "pro-
mover tolerância zero para com as sevícias sexuais cometidas con-
tra crianças", t'o go recebeu financiamento do condado de SuffoJk e
expandiu suas ações, organizando workshops, reuniões comunitá-
rias e seu próprio web site (ParentsforMeganslaw.com). Por meio
delas, a PFML promove a "aproximação da comunidade na gestão
da lei de Megan", que requer esforços sistemáticos por parte do
eleitorado para disseminar as informações liberadas pelas autori-
dades, de modo a pennear todos os escaninhos da sociedade local.
Eleita pelo Senado do Estado de Nova Iorque "Mulher de
Destaque" por seu ativismo, Mrs. Ahearn escreve editoriais opi-
nativos, aparece regularmente na mídia eletrônica e publica um
relatório no qual dá notas aos diferentes estados em relação a
como eles estão colocado em prática a lei de Megan. Ela também
vende seu livro (que foi mostrado na Fox, no John Walsh Show,
no Peter Jennings, no CSPAN, no ESPN e mais), Megan's Law
Nationwide and the Apple of My Eye Childhood Sexual Abuse
Prevention Program. O livro propõe "pôr abaixo mitos comumente
divulgados sobre a Lei de Megan e ensinar a pais e responsáveis
. como evitar que as crianças sofram abusbs sexuais", graças a uma
lista de "27 truques que os predadores usam para ter acesso às
crianças, indicações de como detectar um predador em seu meio,
dez regras de segurança para seus filhos e muito mais". O web
site da organização transmite essa severa advertência: "Os pre-
dadores sexuais são espertos, extremamente astutos e muitas
vezes são os pilares da comunidade; quem nós menos esperaría-
mos que molestassem nossos filhos . Eles farão qualquer coisa
para ter acesso às crianças."
Assim, por volta do fmal da década, a caça aos ex-delinqtien-
tes sexuais tinha-se tomando uma verdadeira indústria doméstica,
misturando vítimas, advogados, políticos, a mídia, os auto-procla-
mados especialistas engajados em um novo e lucrativo setor da
livre iniciativa simbólica, alimentando a experiência pessoal, o medo
ou a fantasia da violência sexual. Os brutais assassinos de Megan
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Kanka e Jacob Wetterling atingiram tamanho status icônico na núdia
que seus pais foram capazes de fundar organizações de caridade
dedicadas a promover campanhas em prol da segurança infantil em
escala nacional (e a garantir emprego para a vida toda para a farní-
lia)22. Eles foram logo acompanhados pela Polly Klaas Foundation
e pela KlaasKids Foundation, entidades rivais criadas pelos dois
lados da família de Polly Klaas, uma adolesc~nte de Petaluma, pe-
quena cidade localizada num rico condado ao norte de San Fran-
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,.·: .
' í ..~·
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Diretor-adjunto do Intelligence Bureau,
Polícia do Estado de Illinois 23
373
lado , e, do outro, os ex-condenados sexuais que escapam da vigi-
lância oficial ou passam à clandestinidade, para escapar à
execração pública. Sem falar nos danos causados às pessoas
acusadas injustamente de atos infames em razão dos equívocos
que se multiplicam nos registros de Megan, ou da difusão maldo-
sa de panfletos truncados ou mentirosos. Só em 1999, centenas e
centenas de queixas foram encaminhadas contra as administra-
·j
ções judiciárias estaduais por conta dis.so.
De urna costa à outra dos Estados Unidos, os incidentes se
multiplicam desde o início da aplicação das leis de Megan. Em
junho de 1997, os moradores do bairro de El Caminito Sur, em
Monterrey, promoveram uma grande manifestação pública dian-
te do apartamento de um ex-condenado por estupro e tentativa de
estupro (cometidos em 1980 e 1983). Eles apresentaram uma
lista com centenas de assinaturas, que exigia sua expulsão imedi-
ata, depois que seu passado foi tomado público pela polícia. Um
mês depois, um "sex offender" , que trabalhava como caminho-
neiro em Santa Rosa, foi agredido verbalmente por seus vizinhos,
que, por meio de uma petição, exigiam seu banimento da cidade.
Em decorrênc_ia disso, ele foi prontamente dispensado pelo seu
patrão e depois preso pela polícia sob suspeita de ter infringido as
condições que lhe permitiram ser posto em liberdade condicional,
pois dirigira a palavra a um jovem morador das vizinhanças·· ii.
~- 374
I
Em julho de 1998, o cadáver de Michael Allan Patton, de 42
anos, foi encontrado pendurado numa árvore perto da auto-estra-
da 101, na saída de Santa Rosa . Ele se suicidou seis dias depois
de a polícia ter ido de porta em porta em seu bairro, distribuindo
panfletos que revelavam o seu passado judiciário. Um vizinho
declarou: -"Não sei por que seria um problema distribuir estes
panfletos e eu não sei também por que seria um problema este
tipo ter morrido. Eu vi o "rap sheet" dele" 24 . No verão anterior,
um jornalista do Paradise Post, em Butte, Montana, foi despedi-
do depois que o jornal descobriu que ele figurava na lista dos ex-
delinqüentes sexuais do estado. No Oregon, um condenado por
delito contra os costumes deixou precipitadamente sua cidade
depois que uma cruz em chamas foi plantada uma noite no seu
jardim. O carro de um "sex offender'' explodiu por ocasião de um
atentado a bomba em Covina, subúrbio de Los Angeles; um outro
foi dilapidado em Massachusetts. No Texas, a casa de um conde-
nado pelo estupro de uma criança foi destruída num incêndio cri-
minoso, na véspera de sua libertação.
Uma pesquisa realizada em 1996, em 30 dos 39 condados do
estado de Washington, nos quais era aplicada uma variante da
"lei de Megan" (que estava em vigor nessa jurisdição desde 1990),
uma das mais preocupadas com a educação pública, revelou 33
casos de "maus tratos" contra ex-delinqüentes sexuais que se se-
guiram a 942 notificações públicas, das quais 327 diziam respei-
to a condenados de "terceira categoria" (considerados perigosos
em virtude do seu comportamento passado de "predador" ou de
problemas psicológicos). Entre os incidentes oficialmente relata-
dos, encontravam-se uma casa queimada, um "piquete d~ greve"
diante de um apartamento, a agressão de um menqr, manifesta-
ções nas proximidades da casa de um "sex offJnder", durante
as quais foram proferidas ameaças pessoais, e a colagem ilegal
de cartazes no bairro de um ex-condenado 25 . Esses fatos repre-
sentam apenas a parte emersa do iceberg das reações contra os
"sex o.ffenders", cujas dimensões reais ninguém conhece, uma
375
I I
I
vez que eles não se sentem nada à vontade de se queixarem às
autoridades, uma vez que isso os expõe a~ risco de ter a sua
condição·de liberdade condicional revogada.!I
No ~erao de 1998, mas dessa vez nai Costa Leste, cinco
tiros de revólver foram desferidos, em plena noite, através das
janelas do apartamento de um ex-condenado por crime sexual
em Nov~ Jérsei. O atentado foi cometido pbr um dos seus vizi-
nhos, qule confessou, em seguida, ter "se :destravado" depois
que ficob sabendo que suas jovens irmãs v~viam ao lado de um
(ex-)estuprador. Frank P., 56 anos, fora cm;tdenado por atenta-
dos sexuais contra duas adolescentes em 1~76 e, depois de ter
~ passado 16 anós na penitenciária, vivia recluso na casa dos pais,
! para onde fora após ter deixado a prisão. Depois que a polícia
I distribuiu pa,nfletos com a sua foto, seu en~ereço e um resumo
I · do seu prontuiírio judiciário, as crianças do bairro passaram a
insultá-lo ("estuprador de crianças!"), as pessoas do bairro se
esquivavam dele, os professores da escola vizinha que ele fre-
qUentava passaram a evitá-lo. Ele se refugiou no porão da casa
de sua mãe. "Eu .não posso me mudar, sirlto-me como se esti-
vesse numa jaula. Não posso trabalhar porque não consigo em-
prego. Não tenho dinheiro nem renda. Não posso viver. Talvez
eu devesse voltar para a prisão .26 "
O ponteiro, que por muito tempo osdilou encre o "modelo
.i médico" e o '\modelo reativo" como resposta aos atentados sexu-
ais, acabou escolhendo o segundo durante a última década27 • A
"tensão entre a ~egurança da comunidad~ e as liberdades civis
dos delinqüentes sexuais" foi claramente resolvida pela abroga-
i ção, de fato, dessas liberdades28 • A lógica do panoptismo puni-
11· .•1 tivo e do encarceramento segregativo que informa a gestão das
li; Ili btegorias d~s~~d'adas, desviantes e perigbsas nos Estados Uni-
, I . dos, desde a denúncia do contrato social:keynesiano, aplica-se
1
hoje em dia aos delinqtientes sexuais com mais vigor, quanto mais
infamante for a falta por eles cometida e quanto mais diretamente
ela afetar os fundamentos da ordem familiar, exatamente no mo- ·
I
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376
mento em que a farru1ia deve tomar para si a compensação das
carências; cada vez maiores das proteções oferecidas pelo Esta-
do dianre,' dos riscos da vida assalariada 29 •
•F.'~ I
Isf:~~ deixa claro que as leis de Megan e as medidas a elas
relaciok ' as marcam uma ruptura nas peregrinações cíclicas
·~ ~
do Est~~o penal nessa frente. Enquanto as ondas anteriores de
medo da" criminalidade sexual afirmaram o modelo médico e
apoiar~~io compromiss~ com a filosofia da reabilitação, a últi-
ma erodiú, se não os enterrou-, e isso com a plena concordân-
cia dos I i ibunais, como v:eremos em breve. A nova política para
com os~~~linqtientes sex~ais descarta abertamente a prioridade
na "coiã~ião" de condutas e na reforma de indivíduos, predo-
minant t:Mesde os anos 1920 até a década de 1970. Ao contrá-
rio, elaj~rioriza a reação,, a incapacitação e a supervisão rigoro-
sa de d th orias inteiras: de condenados, definidas estatistica-
mente ; P,artir' de probabilidades agregadas de comportamento
desvia-9-tÇ. Nesse aspecto, as leis de Megan e as medidas a elas
associátlas fundem o instrumentalismo da "nova penologia" da
gerênct·~~estocástica e neutralização seletiva, com a ferocidade
emoci<Sn~lmente dirigida do populismo punitivo30 . Elas descar-
tam d~j,:orma decisiva a filosofia terapêutica e faz do delinqüen-
lr.:•w.
te sexu'á:k uma analogia aos dejetos do mercado do gueto deca-
dente ~a~, frente civil, uma espécie de lixo moral a ·ser jogado
fora o .\ .i ncinerado na fornalha da punição estatal, alimentada
com a . ·d stilidade ardente do eleitorado. Assim, a difusão de um
idiom(Ji' a~versivo de repulsa, poluição e medo de contágio no dis- r.
1
377
matéria•·:::. Enquanto o pânico em relação ao "psicopata sexual"
afirmava e expandia as prerrogativas dos psquiatras, as formas
de controle social estimuladas pela febre das leis de Megan que
tomou conta do país, e que determinava a notificação públi~a.da
localização dos condenados por crimes sexiais e sua indefuuda
detenção no terreno da "anormalidade mental", eral_ll contraditadas
pelas organizações oficiais de médicos e profissionais da área da
saúde mental. Assim o relatório de 1996 da equipe da Associação
Psiquiátrica estadunidense responsável pelos predadores sexual-
mente violentos acusou veementemente essas leis de "darem um -~:'
mau uso às instalações e aos recursos psiquiatras e de constituírem
um abuso da psiquiatria"32 • Mas a colaboração de especialistas l
médicos não é mais necessária, uma vez que todas as considera-
ções etiológicas e terapêuticas virtualmente desapareceram do de-
t
bate público spbre delinqüência sexual. Não se trata mais de reabi-
litar cerca de 150.000 pessoas estranhas, que, anualmente, come-
tem atentados aos costumes, mas sim somente de "contê-los", a
fim de "reforçar a segurança do público e a proteção,das vítimas"i•.
E, assim como no caso dos refugos do merca~o - os doentes
mentais, os toxicômanos, os sem-teto e os prisioneiros em liberda-
de condicionaP 3 -, o governo penal da pobreza - da miséria
l
sexual, neste caso - tende a agravar o fenômeno que ele deve-
ria combater, tanto do lado daqueles que cometel_ll as infrações
r
l
r.
viiiE revelador que a equipe governamental que recomendou a aprovação
da primeira lei abrangente de confinamento civil de delinqüentes sexu-
I
ais no terreno da "anormalidade mental", no estado de Washington, em
I 990, desqualificou os psiquiatras e conferiu prioridade às vítimas dos
'l
'
crimes (Roxanne Lieb, Vernon Quinsey e Lucy Berliner. "Sexual
Predators and Social Policy". Crime andJustice 23 (1998), pp. 64-65.
;, Em 1997, cerca de 234 mil "sex offenders" estavam sob a custódia da
Justiça; desse total, perto de dois terços encontravam-se em regime de
liberdade vigiada e sob a autoridade das agências de condicional. No
entanto, não existe praticamente nenhum estudo que avalie os (raros)
programas de tratamento aos quais eles têm acesso.
378
I
quanto do da população, que os teme e os rejei~a. 'p~~ começar, do
ponto de vista do público, a generalização dos d1spos1UVOS e progra-
mas de registro e de pessoas que notificam a presença
1
dos c~nde
nados por atentados aos costumes, longe de tra nquilizar, auça o
medo irracional das agressões sexuai~, _corno se \pode ~epree~der
das manifestações abertas de hostlhdade das qua1s os sex
offenders" têm sido alvo, de um lado, e da corrid~ pânica e~~~
ção aos registros de Megan, do outro. O site do estado da Vrrgm1a
na IJHemet, por exemplo, recebeu, em cinco meses, 830.000 visi-
tantes, que efetuaram perto de cinco milhões de consultas, embora
o estado conte apenas com 4.600 delinqüentes sexuais registrados.
Depois que entrou em funcionamento, há dois anos, o site da
Secretaria de Justiça de Michigan recebeu, em média perto, de 5.000
visitas diárias; o que equivale ao número total de dqssiês de condena-
dos a cada quatro dias. Por ocasião das feiras dos condados na Califórnia,
milhares de famílias que não têm nenhuma razão em particular para se , I
preocupar em saber se seus vizinhos já foram condenados por atenta- 1
379
I
estarem repletos de erros (a administração judiciária de Michigan
reconheceu, perante os tribunais, que de 20 a 40% dos nomes e
endereços que figuram em seu banco de dados eram I
incorretos),
a grande maioria dos delinqüentes sexuais não ~ nem detida nem
condenada pelas autoridades. De acordo com ~ National Crime
Victimization Survey, nos anos 1990 menos de um em três ata-
ques sexuais no país são reportados com vista~ à punição legal,
resultando daí que os 265.000 condenados por crimes sexuais
representavam 10% de todos aqueles que desrespeitam as leis nesse
I ' 35 I
campo no pa1s .
Além do mais, um grande número daquel~s que constituem
a pequena minoria detida, julgada e condenada insiste em não se
fazer registrar, depois da saída da prisão. Na Califórnia, por exem-
plo, a taxa "de .e vasão" do "CO de Megan" vaqa de 35% a 70%,
dependendo do ano da infração, a despeito das pesadas sanções
previstas em lei. Sem contar que nada impede um (ex-) delin-
qüente sexual, devidamente registrado e corretamente localizado,
vir a cometer um delito fora do seu bairro de ~oradia . Saber que
um "sex offender" mora na esquina desta ou daquela rua não
reduz a probabilidade de um atentado mais do que saber que o
.fato de os motoristas bêbados que dirigem à noite serem mais
numerosos não diminui a chance de ocorrer um acidente de trân-
sito à tarde. Em tudo e por tudo, a "falsa sensação de segurança"
. - estimulada pela lei de Megan via seu foco exclusivo em estra-
nhos vagamente definidos e mal circunscritos- "pode, na verda-
de, aumentar o risco para as crianças no sentido de que reduz a
vigilância parental na monitoração dos contatos do filho com
amigos, parentes e outras pessoas de confiança" 36 .
'I
380
. I
......
Em segundo lugar, do ponto de vista dos condenados pelos
atentado; àos costumes, as leis de Megan representam a instaura-
ção, por yia parlamentar, de uma segunda pena de infâmia, cuja
duração excede em uma década ou mais a duração da pena de pri-
são infligida pelos tribunais- nos estados que lideram a corrida ao
hiper-encar~eramento,
.• f
ela se estende até mesmo à perpetuidadex;
-e anula,.fna prática, seu direito à intimidade da vida privada. Essa
"marcaçã§~ se aplica, ainda por cima, de forma retroativa, uma
vez que, deixada ao arbítrio do legislador local, a data de condena-
ção a p ;: ,1da qual os delinqüentes sexuais são submetidos à obri-
gação do · ~gistro e da notificação pública remonta a anos e mesmo
I
a décadas'_àJjtes da votação das leis de Megan (federal ou estadual).
Ela data &ed 992 na Luisiânia, de 1990 na Virgínia, de 1985 em
Wyoming ~~~e 1970 no Texas, de 1956 em Nevada e de 1947 na
Califómia. A despeito disso, em fevereiro de 1998, a Corte Supre-
ma dos EStados Unidos recusou-se a examinar a constitucionalidade
desta lei,r jv alisando a opinião de diversas jurisdições inferiores,
segundo ;.k qual esta não contraria os direitos fundamentais, visto
que, "nãd obstante a intenção subjetiva do legislador", seu objetivo
não é "piliiir", mas somente "regulamentar", com a fmalidade de
asseguraE ~ !a proteção do público"'".
381
Ainda há mais, porém. Ao fazer pesar permanentemente
sobre os condenados por atentado aos costumes, aí compreendi-
dos aqueles se corrigiram e se instalaram numa nova vida, a ame-
aça de serem "desalojados" e atados ao pelourinho simbólico di-
ante de sua fann1ia, seus amigos, colegas e vizinhos, essas medi-
das encorajam os ex-delinqüentes sexuais a se refugiarem na clan-
destinidade e, portanto, na ilegalidade. Em casos de abuso sexual
no interior da fann1ia, saber que a identidade e as ações do infra-
tor serão tornadas públicas certamente convencerá algumas víti-
mas a não darem queixa às autoridades, permitindo assim que
alguns delinqüentes não sejam registrados.
Um-estudo detalhado de 30 condenados por crimes sexuais
de alta periculosidade realizado em Wisconsin não apenas cons-
tatou que, em todos os casos, a notificação à comunidade "afetou,
-de forma adversa, a transição da prisão para o mundo exterior",
com a perda de emprego, a exclusão de residência, o isolamento
social e angústia ajudando a criar obstáculos. Foi t:;tmbém revela-
do que a ruptura de laços sociais essenciais à sua (re)integração
na estrutura social local estende-se às pessoas próximas que os
cercam: "Um entrevistado referiu-se ao sofrimento da sua mãe,
à angústia e à depressão que ela sentiu depois que a notificação
j foi publicada no jornal. Um outro depqente referiu-se à decisão
do seu filho de deixar o time de futebol estadunidense da escola
para não se expor ao ridículo perante seus companheiros, en-
quanto um terceiro relatou como sua irmã estava sendo evitada
pelos amigos. Um outro entrevistado afirmou que a mulher tinha
ameaçado se suicidar porque não podia mais lidar com o estresse
decorrente da constante exposição à mídia". Um ex-condenado
383
doxalmente, ampliar o risco e aumentar as' chances de os con-
denados por atentados contra os costumes cometerem novos de-
litos , uma vez que os condena a uma espécie.de exílio social sem
retomo, e os sujeita a uma pressão incessante e a uma vigilância
inflexível40 •
I
( 384
i~:.
condicio;1,I
; l42 . Os detentos libertados com as taxas mais elevadas
de volta' à prisão - todas as novas infrações consideradas em
~.
385
J
em três anos de liberdade, enquanto os 26.900 ex-ladrões pratica-
ram, 322 estupros, os 88.516 envolvidos com drogas, 265, e os 17.700
condenados por agressão, 177. Assim, do ponto de vista da preven-
ção do estupro, o foco exclusivo nos delinqüentes sexuais parece
altamente equivocado.
O paradoxal aqui é que, de todos os tipos de delinqüentes, os
condenados que sofrem de problemas parafílicos (i.e., distúrbios
do desejo) são aqueles que, quando corretamente diagnosticados
e recebem os cuidados necessários, apresentam a taxa de reci-
diva mais baixa. Menos de 10% no caso de exibicionistas,
pedófilos e autores de agressões sexuais contra mulheres, e ape-
nas 3%no caso dos pedófilos que seguem na íntegra o programa
implementado pela Clínica de Distúrbios Sexuais da Escola de
Medicina da Johns Hopkins University" 3 • Apesar disso, eles con-
tinuam sendo considerados depravados incorrigíveis e, de todo
jeito, o encarceramento não tem mais por objetivo "reabilitar"
quem quer que seja nos Estados Unidos 44 • O resultado é que
apenas 10% dos condenados por violência sexual recebem
tratamento durante sua detenção, e uma proporção ainda menor
é objeto de qualquer tipo de prática terapêutica após sua saídax;;;_
Um pioneiro nessa matéria, o estado de Washington aplica
desde 1990 um dos raros programas de notificação da presença
de delinqüentes sexuais preocupados em educar o público ares-
peito dessa categoria de infrações. No quadro de suas campa-
\.. 386
nhas de informação, os polciais têm a seu encargo a distribuição
de uma série de notas informativas explicando o funcionamento
do Community Protection Act de 1990 e advertindo contra cer-
tas idéias preconcebidas a respeito dos "sex offenders". Por
exemplo: "Não é possível identificar um delinqüente sexual por
sua aparência física, sua raça, seu sexo, sua profissão e sua reli-
gião. Qualquer pessoa pode vir a ser responsabilizada por um
atentado sexual, de sorte que é preciso estar sempre atento para
isso". Sua finalidade é, muito prosaicamente, relembrar que "91%
dos condenados por atentados contra os costumes que se en-
contram atrás das grades [neste estado] não recebem qualquer
tratamento adequado" . O relatório de avaliação do programa de
notificação destaca a este respeito: "A maioria das pessoas acredi-
ta que, quando os condenados por atentados aos costumes são pre-
sos, eles recebem automaticamente um tratamento. As pessoas
ficam surpresas ao descobrir que a maioria dos delinqüentes sexu-
ais não recebe tratamento algum. O custo suplementar ajuda as
pessoas a compreenderem porque esse tratamento não é oferecido
a todos os delinqüentes sexuais que estão nas prisões""45 ·
Todavia, não ocorre aos responsáveis pelo programa de no-
tificação dos "sex offenders" de Washington educar a população
sobre o custo deste programa, mencionando, p9r exemplo, que
ele é um grande consumidor de um pessoal já sobrecarregado de
1
trabalho, uma vez que essa lei "estipula novas obrigações sem
fornecer os meios orçamentários correspondentes. Ela desperdi-
ça recursos e 'gasta um tempo enorme. As jurisdições· não contam
com o pessoal necessário. É ridículo designar 930 condenados por
agente"46. Seus próprios estudos revelam que o programa de no-
tificação não tem, rigorosamente, nenhum impacto sobre a taxa de
recidiva dos delinqüentes colocados sob sua supervisão.
Assim, os contraventores sexuais dos Estadod Unidos não des-
frutam, a não ser excepcionalmente, de acompanhamento médico e
social, mas são antes objeto de um controle policial e penal atento, que
garante que um número cada vez maior deles sej~, não curados de
387
suas aflições, mas prontamente "neturalizados" pela via do aprisiona-
mento em caso de recidiva ou do não preenchimento escmpuloso das
obrigações de registro que reavivam, periodicamente, o estigma e o
ostracismo que pesam sobre esta categmia de condenados.
389
que até então modularam e mesmo ·timitaram a aplicação de san-
ções penais a essa população problemática.
Em terceiro lugar, a nova onda de leis sobre os delinqüentes
sexuais canalizam e ampliam a corrente difusa de animosidade para
com os desviantes e os delinqüentes, ao fornecer um ponto de fixa-
ção e um modo de expressão legítimos, e mesmo oficialmente enco-
rajados. Ao fazer isso, elas desviam a atenção do público das causas
para os sintomas da violência sexual e mascaram o fato de que tais
dispositivos de marcação e de esquadrinhamento pós-penitenciários
não têm, no melhor dos casos, efeito algum sobre a incidência do
crime e que podem levar mesmo ao seu agravamento49 •
Como muitas outras medidas de forte teor simbólico, adotadas
por ocasião dos pânicos midiático-políticos que caracterizam a
irresistível asce_nsão da gestão penal da insegurança social (tais como
-as sentenças de perpetuidade automática por dupla recidiva, au-
mento das penas dos delinqüentes juvenis e as penas mínimas obri-
gatórias de reclusão por simples posse de entorperc!!ntes), as "leis
de Megan" foram votadas de afogadilbo, num clima passional, con-
trariando todo o bo~ senso penológico5°- a lei de Nova Jérsei foi
votada antes de o preso em liberdade condicional acusado do estu-
pro e da morte de Megan Kanka ter sido condenado. Pois, no mo-
mento em que os estados-membros da União rivalizavam para ver
quem votava mais rapidamente as medidas voltadas para a elabo-
ração de um índexjudiciário dos ex-"sex offenders", e pressiona-
vam, em uníssono, o governo federal a fazer o mesmo, já se dispu-
nha de um estudo estatístico aprofundado referente a cinco anos
de experimentação no estado de Washington, que concluía que a
notificação pública não exerce, a rigor, nenhum efeito sobre a taxa
de recidiva dos condenados por crimes sexuais51 •
Esse ~studo compara a trajetória judiciária de 125 delinqüen-
tes sexuais "de alto risco" submetidos à notificação pública de con-
denados, reunidos numa amostragem, que permaneceram anôni-
mos no período 1990 a 1995. Além da ausência de diferença esta-
tisticamente significativa na taxa de recidiva, observa-se que os
~-. 390
delinqüentes sexuais colocados sob registro-notificação cometem,
em média, um novo atentado contra os costumes dois anos após
su~ libertação, contra cinco anos para seus homólogos do grupo de
controle, sem que seja possível afirmar se a maior "precocidade na
recidiva" dos primeiros tem a v~r com o fato de que eles violam a
lei mais depressa (em razão, sobretudo, do isolamento social mais
intenso, resultante da publicidade dada à sua condição), ou com o
fato de que eles são mais suscetíveis de serem detectados e deti-
dos pelas autoridades em caso de nova infração. A plausibilidade
da primeira hipótese é reforçada pelo fato de que os recidivistas
são, em geral, menos bem integrados socialmente do que os não-
reci4ivistaS. Eles são menos freqüentemente casados do que os
outros, mais freqüentemente narco-dependentes e os que cometem
atentado sexual contra um(a) desconhecido(a) são mais numerosos
do que aqueles que o fazem contra um parente ou alguém próximo.
A focalização do debate público na figura solitária do pedófilo
que sai da prisão tem a imensa vantagem de reforçar a idéia
difundida de que a ameaça criminal que pesa sobre as crianças
proviria, essencialmente, de indivíduos não apenas desprovidos
. de moralidade, mas também de qualquer vínculo social. Assim, a
violência sexual seria magicamente expulsa para fora da
famílicr 2 , mesmo que todos os estudos concordem com o fato de
que a grande maioria dos atentados contra crianças (perto de
80% dos que são registrados) é cometida por um parente ou al-
guém conhecido da vítima, e que esses atentados estão estreita-
mente correlacionados a violências contra as mulheres. Entre 1991
e 1996, apenas 14% de todos os atentados sexuais foram cometi-
dos por estranhos, sendo que 27% dos casos envolviam membros
da farru1ia e 60%, pessoas conhecidas. Para crianças com menos
de 6 anos, o percentual de estranhos cai para 3% e a participação
de parentes chega a quase a metade 53 • ·
391
!Sões mais fortes, provocadas pelas mudanças em curso nas relações
entre os gêneros e entre as gerações, por um lado, e pela erosão da
esfera doméstica causada pelo assalariamento desregulado, do outro
(particulannente nos lares em que os dois pais trabalham, por esco-
lha pessoal ou por necessidade matelial). O contínuo aumento no
número de horas trabalhadas pelos estadunidenses, a dispersão da
' jornada de trabalho na semana e no ano (40% dos assalariados
estadunidenses trabalham hoje em dia em horários "não-tradicionais",
a cada vez maior competitividade no ambiente de trabalho e a inse-
gurança do emprego combinaram-se com a diversificação das for-
mas domésticas para colocar uma pressão adicional' na fmru1ia como
54
depositátio social . Os conflitos crescentes entre as forças do mer-
cado em ascensão e a forma estabelecida de família foram desloca-
' dos para o campo político com a canonização:da categoria civil da
"família trabalhadora" (que hoje substitui a figura do cidadão durante
o período eleitoral) e, no domínio penal, com a demonização do "pre-
1 dador sexual". A execração hiperbólica do pedófilo estranho na cena
.11
tes 'sexuais um comparecimento diário, em lugar fixo) .
Em junho de 1997, em uma apertada decisão (cinco votos con-
tra quatro), a Suprema C01te dos Estados Unitlos legalizou, com a
'
I
392 I
I
r.
sentença ~.Kansas vs Hendricks, a prisão- por tempo indefinido, em
hospitais ·psiquiátricos- dos delinqüentes sexuais considerados peri-
gosos tríri razão "de anonnalidade mental", depois que eles tivessem
cumprido
/.
integralmente sua pena de reclusão, mesmo sem terem
recebido nenhum cuidado psiquiátrico na prisão (como foi o caso de
Leroy .Fléndricks). Em janeiro de 1999, a Suprema Corte da Califómia
avaliso~ uma das disposições da "Lei sobre os predadores sexuais
violentÓ
t.
s" de 1996, autorizando o encarceramento, por tempo inde-
frnido,dos condenados por atentados aos costumes em final de pena
nos asil6s
V' ~' ('
do estado - os quais se haviam livrado de seus doentes,
envim1d~~os para o sistema carcerário desde a década de 1960- com
base na )tpples presunção de periculosidade, até que umjuizdecida
que ele não apresentam mais risco de recaída.
, . I
393
mente, revoga a oposição tradicional entre o médico e o peniten-
ciário a fim de subordinar o social à resposta penal quando se
trata das classes populares e das categorias (étnicas ou jurídicas)
estigmatizadas. Strossen não está enganada quando vê nesse sis-
tema "uma variante dos gulags soviéticos: utilizar os hospitais
psiquiátricos como locais de depósito para as pessoas que são
consideradas indesejáveis ou perigosas por diversas razões" 57 , já
que se trata, justamente, de um encarceramento por segregação.
O jurista Adam Falk também tem razão quando argumenta
que um confinamento dessa natureza é "uma técnica de controle
j
social fundamentalmente incompatível com o nosso sistema de li-
berdad.e ordenada garantida pela Constituição"5s, na medida em
que aqueles que sofreram condenação penal- como os beneficiários
de auxílios sociais, e, de um modo mais geral, os trabalhadores
.precários e os. pobres- não são mais, sob o regime nascente do
"liberal-paternalismo" estadunidense, cidadãos como os outros. Fica
evidente que a possibilidade de esses dispositivos de vigilância e
' confinamento "preventivos" serem estendidos a outras categorias
de condenados não permanecerá por muito tempo inexplorada' v.
Em fevereiro de 1999, a Assembléia da Virgínia examinou um tex-
to de Lei que visava permitir o livre acesso na Internet à lista com-
pleta de todos os condenados elo sistema penal, adultos e menores,
nela incluídos aqueles que cometeram infrações simples, como o
desrespeito ao Código de Trânsito e as faltas concernentes à regu-
lamentação sobre as carteiras e as licenças. Nos Estados Unidos, o
panoptismo punitivo tem um futuro brilhante pela frente.
\. 394
NOTAS
1
Estelle B. Friedman. '"Uncontrolled Desires': The Response to the Sexu-
al Psychopath, 1920-1960", Journal ofAmerican History74, n11 1 (janeiro
1987), pp. 83-106, e Philip Jenkins. MoralPanic: Changing Concepts of
the Child Molester in Modem Ame rica. New Haven: Yale University
Press, 1998. Para situar esses episódios de pânico dentro da evolução
social mais ampla das sexualidades no país, ver John D'Emilio e Estelle
B. Freedman. Intimate MaJters: A History ofSexuality in America. Chi-
cago: University o f Chicago Press, 1998, 2" ed.
0 ste processo é dissecado no clássico artigo de Edwin H. Sulherland
"The Diffusion of Sexual Psychopath Laws" , American Journal of
Sociology 56, n. 2 (setembro 1950), pp. 142-148. Um balanço com-
pacto do destino dessas leis encontra-se em Roxanne Lieb, Vernon
Quinsey e Lucy Berliner. "Sexual Predators and Social Policy", Cri-
me and Justice 23 (1998), pp. 55-65.
3
Ver, respectivamente, Michael R. Rand, James P. Lynch e David Can-
tor. Criminal Victimization, 1973-1995. Washington, DC: Bureau of
Justice Statistics, 1997, p. 3; Federal Bureau oflnvestigation. Uniform
Crime Reports: Crime in the United States, 1995 (Washington, dispo-
nível on tine em hnp://www.fbi.gov/ucr/95cius.htm, p. 21); e Lieb et
al, "Sexual Predators and Social Policy'', pp. 51-53.
4
Lawrence A. Greenfeld. Sex Offenses and Offenders: An Analysis of
Data on Rape and Sexual Assault . Washington, DC: Bureau of Justice
Statistics, 1997.
5
Jeremy H. Lipschultz e Michael L. Hilt. Crime and Local Television
News: Dramatic, Breaking, and Live From the Scene. Washington,
DC: LEA Books, 2001; William J. Chambliss. Power, Politics, and
Crime. Boulder, CO: Westview Press, 2000, capítulos 1 e 2.
6
Para situar Oprah Winfrey e seu programa de televisão baseado na
retórica do sofrimento e da auto-ajuda no panorama 1moral da cultura
comercial e (a) política estadunidense, ver Eva lllouz. Oprah Winfrey
and the Glamour of Mise1y: An Essay on Popular Culture. Nova Iorque:
Columbia Uni'versity Press, 2003. "Oprah 's Child Pre~ator Watch List"
I
pode ser encontrada em: http://www.oprah.com/presents/2005/predator/
predator_main.jhunl. j
395
7
Jenkins, Moral Panic, p. 312.
3
Frank J. Weed. Certainty of Justice: Reform in the Crime Victim
I
12
Para dois exemplos que ilustram o funcionamentp desses dois dipos de
mecanismos nos casos da Flórida e de Michigan, ver, respectivamente,
Donna M. Uzzell. "The Florida Sex Offender Registration and
Noti.fication System". In : Jan M. Chaiken (org.).' National Conference
on Sex O.ffender Registries. Washington: Bureau of Justice Statistics,
. 1998, pp. 68-71; e Mike Welter. ' 'Development of ~e Illinois Sex Offender
Registration and Conununity Notification Program", ibid., pp. 72-77 .
I
13
Kenneth Stow. Alienated Minority: The Jews of Medieval Latin
Europe. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1992.
· /~ 14
Scott A. Cooper. ~·community Notification and Verification Praclices
I in Three States". In: National Conference 011 s Jx 0./fender Registries,
pp. 103-106. I
t.l Departamento de Segurança Pública do Texas, press release, 13 de
janeiro de 1999, disponível no website da administração de prisões do
(.
396
I •
24
.'
RegistrieJ\>,. 72 .
" Death of Sex Offendcr Is Tied to Megan's Law", New YorkTimes, 9 r
de jullio d~ 1998; "Last Days o f a Sex Offender: Santa Rosa Neighbors
Said He Looked Depressed", Sa11 Francisco Clzronicle, 8 de julho de
1998.
25
Scott Matson e Roxanne Lieb. Community Notification in Waslzing-
• '
ton State. q996 Survey of Law Enforcement. Seattle: Washington State
26
.
Institute for Public Policy, 1996, pp. 8 e 15 .
"Neighbor Admit'> Firing Gu'n into Home ofParoled Rapist" e "Paroled
Rapist Says He's the Yictim Now : Target of Gunman Contends
397
'Megan's Law' has Stolen his Freedom", New York Times, 10 e 14 de
novembro de 1998.
21
M.E. Wolfgang. 'The Medicai Model Versus the Just Deserts Model",
Bulletin of lhe American Academy of Psychiat1y and the Law 16 (1988),
pp. 111-21; Dayle Karyn Jones. "The Media and Megan's Law: Is
Community Notification theAnswer?", Joumal ofHumwtistic Counseling,
Education aJUi Developmeitl38, rPI2 (dezembro 1999), pp. 80-88.
28
Vernon. L. Quinsey "Treatment of Sex Offenders" in Michael Tonry
(org.), Handbook of Crime and Punishment. Nova Iorque: Oxford
University Press, 1998, pp. 403-428; Anne-Marie McAlinden. "Sex-
Offender Registration: Some Observations ou 'Megan's Law' and the
Sex Offenders Act 1997", Crime Prevention and Community Safety:
An Intemational Joumal 1, n.11. 1 (1999), pp. 41-53 . O papa do
"comunitarianismo", Amitai Etzioni, vê no "tardio desenvolvimento"
da chamada lei de Megan o sintoma do peso excessivo conferido até
recentemente ao direito à privacidade (dos ex-delinqüentes sexuais),
em detrimento do "bem comum" (da "comunidade") . Amitai Etzioni.
The Limits of Privacy. Nova Iorque: Basic Books, 1~99 .
29 Frances Fox Piven. "Welfare and Work", Social Justice 25, rPI1 (1998),
pp. 67-81 , e Robert Castel. "The Roads to Disaffiliation: Insecure Work
and Vulnerable Relationships", lnternational Joumal of Urban wtd
Regional Research 24, nu 3 (setembro 2000), pp. 519-535 .
30 Jonathan Simon. "Managing the Monstruous: Sex Offenders and the
New Penology", Psychology, Public Policy, and Law 4, nu 1 (janeiro
1998), pp. 452-467.
31
Mona Lynch. "Pedophiles and Cyber-Predators as Contaminating
Forces: The Language of Disgust, Pollution, and Boundary Invasion
in Federal Debates on Sex Offender Legislation", Law and Social
lnquiry 27, 3 (2002), pp. 529-567.
32
Citado em RobertA. Prentky, Eric S. Janus e Michael C. Seta (org.) .
Sexually Coercive Behavior: Understanding and Managemenl . Nova
Iorque: Annals of the Nova Iorque Academy of Sciences, 2003, p. 26.
Ver também Robert M. Wettstein. "A Psychiatrist's Perspective on
Washington 's Sexually Violent Predators Statute", Unive rsity of Puget
Sound Law Review 15 (1992), pp. 597-634, e a discussão em Lieb et
al., "Sexual Predators and Social Policy", pp. 68-69.
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37
Richard G Zevitz e Mary Ann Farkas. "Sex Offender Community
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Vengeance?", Behavioral Sciences & the Law 18, nos. 2-3 Uunho
2000), pp. 375-391, citação pp. 383-384.
38
Este argumento é adaptado do conceito de Comfort de "prisonização
secundária", cf. Megan L. Cornfort. "In the Tube at San Quentin: The
'Secondary Prisonizaüon' of Women Visiüng Inrnates", Journal of
Contemporary Ethnography 32, 1 Uaneiro 2003), pp. 77-107.
~ 9 Zevitz e Farkas, "Sex Offender Community Notification", p. 388. A per-
cepção de que a notificação é desagradável e abusiva pode ter também
efeitos anti-terapêuticos, de acordo com B.J. Winick. "Sex Offender Law
in the 1990s: A Therapeutic JurisprudenceAnalysis", Psychology, Public
Polícy, and Law 4, nlll (janeiro 1998), pp. 505-570.
I '
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Lyn Hinds e Kathleen Daly. "The War on Sex Offenders: Community
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Rajeev Go\Yda. "Integrating Politics with the Social Amplification o f
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399
os dados fornecidos nessa seção são retirados das tabelas constantes
desse relatório.
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American Criminal Law Review 35, nn2 (inve~no 1998), pp. 279-332.
Este crescente domínio da pesquisa biomédica e psiquiátrica é marca-
'I
do por questões de propriedade técnica, comP,lexidades de medida e
padrões de rigor metodológico, quando na verdade ele se beneficiaria
mais de uma infusão de pensamento sociológico, permitindo-lhe situar
os infratores em seu meio e recolocar suas descobertas em seu contex-
to político e cultural mais amplo. Entre os prin~ipais esmdos que con-
sideram eferivos os programas baseados na prisão encontram-se o de
C.G. H ali. "Sexual Offender Recidivism Revisited: A Meta-analysis o f
Recent 'Treatment Studies", Journal of Consulting and Clinicai
Psychology 63, nll. 5 (outubro 1995), pp. 802-809; DanielleM. Polizzi,
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