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Influíra no espírito de Plácido de Castro o fato de haver a Bolívia arren- No processo demarcatório foi constatado, no ponto inicial da linha divi-
dado o território do Acre a um sindicato estrangeiro (chartered company), sória entre os dois países (nascente do Javari) que a Bolívia ficaria com
semelhante aos que operavam na Ásia e na África. O Bolivian Syndicate, uma região rica em látex, na época ocupada por brasileiros. Reconhecida
constituído por capitais ingleses e americanos, iria empossar-se na admi- legalmente a fronteira Brasil-Bolívia, em 12 de setembro de 1898 a Bolívia
nistração do Acre, dispondo de forças policiais e frota armada. Represen- quis tomar posse da região então ocupada por seringueiros brasileiros, na
tantes dessa companhia chegaram à vila de Antimari (rio Acre), abaixo de vila de Xapuri. Os brasileiros não aceitaram e obrigaram os bolivianos a se
Puerto Alonso, mas desistiram da missão porque os revolucionários domi- retirar da região.
navam todo o rio, faltando pouco para o fim da resistência boliviana. No início de 1899 desembarcou em Puerto Alonso o ministro boliviano,
Aclamado governador do Estado Independente do Acre, Plácido de Dom José Paravicini, com apoio do governo brasileiro, impôs decretos,
Castro organizou um governo em Puerto Alonso. Daí por diante a questão inclusive o de abertura dos rios amazônicos ao comércio internacional,
passou à esfera diplomática. O barão do Rio Branco assumira o Ministério cobrou altos impostos sobre a borracha, demarcou seringais e oprimiu os
do Exterior e seu primeiro ato foi afastar o Bolivian Syndicate. Os banquei- nativos da região. O período dessa atuação ficou na história como os "Cem
ros responsáveis pelo negócio aceitaram em Nova York a proposta do dias de Paravicini".
Brasil: dez mil libras esterlinas como preço da desistência do contrato A insurreição Acreana ganha seu primeiro ensaio em 1º de maio de
(fevereiro de 1903). Subseqüentemente, Rio Branco ajustou com a Bolívia 1899, quando seringalistas se reúnem no seringal Bom Destino, de Joa-
um modus vivendi que previa a ocupação militar do território, até o paralelo quim Vitor, liderados pelo jornalista José Carvalho e decidem lutar contra o
de 10o20', por destacamentos do exército brasileiro, na zona que se desig- domínio boliviano, O momento coincidia com a viagem de Paravivini para
nou como Acre Setentrional. Do paralelo 10o20, para o sul -- o Acre Meridi- Belém. O Delegado que o substituía, Moisés Santivanez foi expulso. Come-
onal -- subsistiu a governança de Plácido de Castro, sediada em Xapuri. çava a Revolução Acreana. Sem armas ou tiros, os revolucionários brasilei-
A 17 de novembro de 1903, Rio Branco e o plenipotenciário Assis Bra- ros restabeleceram o domínio e criaram a Junta Central Revolucionária.
sil assinaram com os representantes da Bolívia o tratado de Petrópolis, pelo Joaquim Galvez e o Estado Independente do Acre
qual o Brasil adquiriu o Acre por compra (dois milhões de libras esterlinas,
ou 36.268 contos e 870 mil-réis em moeda e câmbio da época), e por troca Em 03 de junho de 1899 entra no cenário da Revolução do Acre o jor-
de territórios (pequenas áreas no Amazonas e no Mato Grosso). Em con- nalista espanhol Luis Galvez, que denuncia nos jornais paraenses uma
seqüência, dissolveu-se o Estado Independente, passando o Acre Meridio- aliança entre Bolívia e Estados Unidos. Os EUA apoiariam militarmente os
nal e o Acre Setentrional a constituírem o Território Brasileiro do Acre, bolivianos em caso de guerra contra o Brasil.
organizado, segundo os termos da lei no 1.181, de 25 de fevereiro de 1904,
Enquanto o governo brasileiro continuava reconhecendo os direitos da
e do decreto 5.188, de 7 de abril de 1904, em três departamentos adminis-
Bolívia sobre a região, revolucionários decidem pela fundação do Estado
trativos: o do Alto Acre, o do Alto Purus e o do Alto Juruá, chefiados por
Independente do Acre.
prefeitos da livre escolha e nomeação do presidente da república.
Os revolucionários, em 14 de julho de 1899 - escolhida por ser a data
Solucionada a parte da Bolívia, um outro caso tinha de ser resolvido
de aniversário da Queda da Bastilha durante a Revolução Francesa -
com o Peru. O governo de Lima, alegando validez de títulos coloniais,
concretizam a criação do Estado Independente do Acre, com capital na
reivindicava todo o território do Acre e mais uma extensa área do estado do
Cidade do Acre, antes chamado Puerto Alonso. Luis Galvez, não poderia
Amazonas. Delegações administrativas e militares desse país tentaram
ser diferente, foi aclamado presidente do novo país.
estabelecer-se no Alto Purus (1900, 1901 e 1903) e no Alto Juruá (1898 e
1902). Os brasileiros, com seus próprios recursos, forçaram os peruanos a Galvez buscou o reconhecimento internacional, elaborou legislação,
abandonar o Alto Purus (setembro de 1903). mas também desagradou seringalistas, aviadores e exportadores e acabou
sendo deposto em 28 de dezembro de 1899 pelo seringalista Antônio de
Rio Branco, para evitar novos conflitos, sugeriu um modus vivendi para
Souza Braga, que não se garantiu no comando e devolveu o posto a Gal-
a neutralização de áreas no Alto Purus e no Alto Juruá e o estabelecimento
vez, em 30 de janeiro de 1900. Em 15 de março de 1900 o governo federal
de uma administração conjunta (julho de 1904). Isso não impediu um confli-
enviou força da marinha brasileira para o Acre. Galvez foi destituído e o
to armado entre peruanos e um destacamento do exército brasileiro em
Acre voltou ao domínio Boliviano.
serviço no recém-criado departamento do Alto Juruá. A luta findou com a
retirada das forças peruanas.
No principio dos anos sessenta os seringais acreanos ainda estavam Acelerou-se a migração para as cidades. Mas a maior parte da popula-
em plena atividade apesar dos preços mais baixos da borracha no mercado ção migrante não tinha outra profissão além de colher os produtos da
externo. Anos de tutela federal haviam produzido uma forte dependência do floresta. A maioria sequer sabia ler e escrever, tamanho era o abandono
Acre em relação aos repasses orçamentários da União. Portanto, a criação oficial em que tinham vivido até então. Expulsas da terra, muitas vezes por
do Estado do Acre e a possibilidade da primeira experiência democrática da jagunços armados que ateavam fogo em seus barracos, milhares de famí-
sociedade acreana anunciavam grandes mudanças e o início de um novo lias encostaram-se na periferia urbana, formando assim os primeiros bairros
tempo para a região.
Se olharmos a história acreana desde seus primórdios e procurarmos Em relação à configuração espacial de Rio Branco, durante todo este
as linhas de permanência e de mudança do povo que fez das florestas do período a área urbana da cidade se restringiu a uma estreita faixa de terras
ocidente amazônico seu lugar no planeta, perceberemos que existe uma na margem direita do rio Acre, que correspondia a uma parte da área
continuidade histórica, social, política e cultural. O acreano é um povo que pertencente a Neutel Maia. Inicialmente foi a Casa Nemaia e Cia., situada
luta. Nas suas lutas, afirma sua vontade de escolher livremente seu cami- diante da enorme gameleira que assinalava o porto da Volta da Empreza,
nho. Recusa modelos impostos de fora pra dentro, de cima pra baixo. que serviu como referencia para a construção de uma série de outros
Busca um modelo de desenvolvimento verdadeiramente justo e sustentável. prédios seguindo o traçado da margem do rio. Formou-se assim um primei-
E vai criando, em seu caminho de lutas, uma profusão de símbolos e para- ro arruamento onde se estabeleceram hotéis, restaurantes, casas comerci-
digmas. ais e residenciais construídos com a madeira que era abundante nos arre-
dores desta primeira rua do povoado (atualmente chamada de Rua Eduar-
As criações mais recentes desse povo, como o Governo da Floresta e do Assmar).
a florestania, já se tornam referências para outras regiões do Brasil e até
para outros países. Mas isso está apenas começando a acontecer, é mis- Com a extensão e adensamento desta primeira rua organizaram-se
são para os historiadores que virão. três áreas distintas que se constituíram como os primeiros bairros do povo-
ado. Uma pequena área residencial de trabalhadores que ocupava as terras
Rio Branco, não é uma cidade qualquer. Além de ser o mais antigo nú- da volta do rio Acre, acima da Gameleira, e que era denominada Canudos.
cleo urbano de todo o Acre, logo se constituiu como a maior e mais impor- O centro do povoado da Volta da Empreza propriamente dito que era
tante cidade acreana sendo por isso escolhida como a capital do antigo constituído pela rua ao longo da margem do rio no trecho entre a Gameleira
Território Federal e do Estado do Acre. Mas Rio Branco ainda aguarda a e o local onde hoje está a cabeceira da Ponte Metálica. E, finalmente,
elaboração de pesquisas e a organização de sua história com a abrangên- formou-se outro pequeno bairro de trabalhadores que recebeu o sintomáti-
cia e importância que de fato possui para a configuração da sociedade co nome de rua África por abrigar os negros habitantes da cidade. Este
acreana. ultimo bairro era a extensão da única rua da cidade na direção do igarapé
da judia e era formado quase que exclusivamente por precárias casas de
Devido ao caráter ordenador do espaço urbano e da dinâmica social do palha.
Plano Diretor, é imprescindível ao menos pensarmos a cidade de Rio
Branco em relação a sua história territorial, ao seu processo de ocupação Ainda surgiria um quarto “bairro” (para empregar um termo de época)
do espaço e configuração de uma malha urbana diferenciada do meio no povoado da Volta da Empreza – Villa Rio Branco. Isto se deu durante a
florestal circundante. ocupação militar de 1903, quando diante da necessidade de aquartelar
tropas na área, o comandante Gen. Olimpio da Silveira decidiu faze-lo
1º Período – 1882 / 1908 – de seringal a cidade distante do centro do povoado escolhendo para tanto uma área periférica,
rio acima, e ali acampou o 15º Batalhão de Infantaria do Exército. A pre-
Este primeiro período da história urbana de Rio Branco é marcado por sença de tropas atraiu pequenos comerciantes que constituíram um novo
três características centrais. A primeira diz respeito à transformação do arruamento, também ao longo da margem do rio, para atender as necessi-
Desde então foi sendo estabelecida lentamente uma infra-estrutura ofi- No antigo bairro Quinze a já falida Usina de Castanha se tornou aloja-
cial em Penápolis que logo passaria a ser denominado 1º Distrito, em mento dos soldados da borracha em transito para os seringais, na rua 17
contraposição ao lado velho da cidade que passou a ser conhecido como 2º de novembro (ou Bairro Beirute) muitos comerciantes sírio-libaneses havi-
Distrito. Ou, como já se escreveu, uma cidade dividida entre o lado oficial e am enriquecido e se tornado seringalistas e no Palácio Rio Branco os
o lado comercial. planos governamentais voltaram a ser grandiosos.
Nem o acirramento dos movimentos autonomistas, nem a crise da bor- E foi sob esse novo panorama que o Governador Oscar Passos efeti-
racha instalada a partir de 1913, foram suficientes para alterar significati- vou em 1942 a compra das terras remanescentes do antigo Seringal Em-
vamente o papel econômico e político de Rio Branco no contexto acreano. preza para a implantação de novas colônias agrícolas no entorno da cida-
Pelo contrário, nesta época se consolidou o predomínio desta cidade frente de. Entretanto, até 1945 todos os desejos estavam firmemente direcionados
às outras cidades acreanas que, com a exceção de Xapuri, eram bem mais para os seringais e pouca atenção e recursos sobravam paras cidades
novas. Tanto assim que na reforma administrativa de 1920, que extinguiu acreanas. Por isso, o novo plano de colonização organizado pelo Engenhei-
os departamentos, coube a Rio Branco a primazia de se tornar a capital de ro Pimentel Gomes teve que esperar um momento mais propicio para sua
todo o Território Federal do Acre centralizado. Com isso, Rio Branco garan- efetiva implementação, ficando restrito a apenas duas colônias instaladas
tiu maiores investimentos oficiais em relação aos outros povoados, cidades em 1943: São Francisco e Apolônio Sales, sendo que a segunda esteve por
ou municípios acreanos, o que a levaria, entre outras coisas, até a atual alguns anos abandonada.
condição na qual concentra metade de toda a população do Estado do
Acre. Só com o fim da Batalha da Borracha e o principio do Governo Guio-
mard Santos em 1946 teve início a implantação das diversas colônias
Tendo em vista que nosso principal interesse nesse texto é tentar com- agrícolas em terras do antigo Seringal Empreza, num processo que se
preender a dinâmica da formação urbana, podemos vislumbrar duas fases estendeu durante toda a década de 50. Mas não só. Nesse mesmo período
para este período da história de Rio Branco, a saber: 1ª Fase – 1909 / 1930 uma parte das terras do Seringal Empreza ao norte da atual avenida Ceará
–consolidação de Penápolis pela ocupação da malha urbana planejada
Cabe ressaltar que com isso o governo do Território Federal do Acre Ao atingir o Acre essa frente de expansão causou uma verdadeira im-
tentava estancar a partida de trabalhadores com o fim da Batalha da Borra- plosão da estrutura social acreana na área florestal. O desmatamento
cha e o retorno à crise do extrativismo. Para tanto em diversas colônias promovido pelas madeireiras e a transformação dos seringais em fazendas
agrícolas foi instalada uma infra-estrutura mínima para dar suporte aos levaram ao êxodo milhares de famílias que há décadas habitavam a flores-
colonos e suas famílias, tais como escolas, núcleos mecanizados para ta, dela dependendo para obter o seu sustento. Esse novo fluxo migratório
beneficiamento da produção e postos de saúde. campo-cidade promoveu uma verdadeira explosão das cidades acreanas,
em especial de Rio Branco que por sua condição de capital atraia a maioria
Guiomard Santos foi responsável também por um grande programa de dos seringueiros, castanheiros e ribeirinhos expulsos de suas colocações
obras publicas que alterou mais uma vez a paisagem de Rio Branco, bem em todo o estado do Acre.
como de outras cidades acreanas. O Aeroporto Salgado Filho (Aeroporto
Velho), a Maternidade Bárbara Heliodora, o colégio Eurico Dutra, foram
algumas das novas construções de Guiomard Santos, além da conclusão
das obras do Palácio Rio Branco e da reforma do prédio da antiga peniten- Teve início então a pratica das “invasões”, nome regional usado para
ciaria que foi transformado no Hotel Chuí. designar terrenos públicos ou privados que eram invadidos por trabalhado-
res para construção de moradias, dando origem a novos bairros populares
A isso tudo se somava ainda a implantação de infra-estrutura voltada sem nenhuma infra-estrutura básica. Mesmo as tentativas oficiais de rever-
para a produção, como a Cerâmica oficial que produzia telhas, tijolos e ter a política de atração dos investidores “paulistas” para o Acre se revela-
pisos para a construção civil, a Estação Experimental que produzia mudas ram insuficientes para deter o processo de migração do campo e o incha-
e repassava técnicas de cultivo, o Aviário que produzia e distribuía aves, mento das cidades. Mesmo as políticas de habitação popular implementa-
suínos e até abelhas para os colonos. das nos anos 70 a 90 parecem não ter resultado em benefícios concretos
para os segmentos sociais que não possuíam profissão definida e nem
Com isso, o governo Guiomard Santos transformou Rio Branco muito renda assegurada, mas atenderam sobretudo as camadas médias da
mais profundamente do que Gabino Besouro e Hugo Carneiro haviam população.
conseguido anteriormente. Dois outros elementos, aparentemente menores
e secundários são simbólicos para esta abordagem da história da cidade e É necessário, entretanto, chamar atenção para o fato de que tanto o
provam essa afirmação. Foi na gestão de Guiomard Santos que foram fenômeno das “invasões”, quanto as conseqüências das políticas publicas
erigidas a Fonte Luminosa e o Ipase, o primeiro conjunto residencial da de habitação implementadas neste período precisam ser melhor estudadas
cidade. Estes dois elementos passaram a ser marcantes para a história de para esclarecer esses processos e sua importância na formação da cidade.
Rio Branco por diferentes motivos. O primeiro porque desde então povoou
a mente e os corações de todos os riobranquenses cujas infâncias, moci- Por outro lado duas características desse período, no que se refere a
dades e velhices estão repletos do encanto proporcionado por suas águas formação urbana da cidade, parecem bastante claras. A primeira é que
coloridas. Enquanto que o segundo parece ter dado origem a um modelo de apesar da “invasão” se constituir como um novo mecanismo espontâneo e
intervenção urbana pelo poder público através da construção de conjuntos desordenado de abertura de bairros, ele deve ter se orientado em linhas
residenciais que parece ter sido muito importante daí por diante. gerais pela localização das colônias agrícolas e dos bairros que já estavam
em formação na época em que ocorreram. Ou seja, os bairros oriundos de
Foi nesse período, portanto, que Rio Branco alcançou algumas das colônias agrícolas ou equipamentos urbanos que surgiram no período
principais características que viria a desenvolver em décadas posteriores. anterior continuaram atuando como focos de atração e fixação dos morado-
Os equipamentos instalados pelo governo territorial e as colônias agrícolas res da cidade.
serviram como novos pontos de atração e fixação urbana. A Cerâmica, o
Aviário, a Estação Experimental, o Aeroporto Velho, a colônia São Francis- A segunda característica diz respeito ao fato de que muitos dos fenô-
co, a Fazenda Sobral, a colônia Apolônio Sales, entre outros, deram origem menos sociais que estavam ocorrendo na área florestal do estado passa-
a alguns dos atuais bairros da cidade, revelando boa parte dos fluxos e ram a acontecer também em Rio Branco. É o caso, por exemplo, dos
processos sociais a que a cidade esteve submetida desde então. Ao mes- confrontos entre lideranças populares e grileiros de terras como os que
mo tempo em que deixam claros os motivos que levaram o 2º distrito da levaram ao assassinato de João Eduardo em 1981, como já tinham levado
cidade a neste período finalmente ser superado em importância pelo 1º a morte de Wilson Pinheiro em 1980 e ainda iria levar ao atentado a Chico
distrito em relação à vida orgânica da cidade. Mendes em 1988, deixando claro que o nível de tensão social tanto nas
florestas quanto nas cidades acreanas era extremamente alto então.
Devemos aguardar a realização de novos estudos, porém, para poder
definir fases que organizem melhor esse terceiro período do urbanismo de Diante desse contexto não é de estranhar que o quadro geral das cida-
Rio Branco e sejam capazes de ajudar na compreensão dos elementos des acreanas e de Rio Branco em especial tenha sido de degradação das
constituintes deste processo. condições de vida em todos os setores. Neste período Rio Branco não
cresceu, explodiu. Se ao longo de 90 anos de sua história as dinâmicas
4º Período – 1970 / 1998 – Invasões/bairros uma cidade em explosão geradas na cidade tinham dado origem a pouco mais de uma dezena de
bairros, entre 1970 e 1999 esse número iria passar de 150 bairros.
No principio dos anos 70 a conjugação da infinita crise do extrativismo
da borracha e dos anos de chumbo da Ditadura Militar teve efeito devasta- Novos bairros originados de invasões desordenadas sem a mínima in-
dor sobre o Acre suas cidades. O governo Vanderlei Dantas decidido a fra-estrutura de água, saneamento, luz, acesso, além de por vezes estar
modificar o eixo de desenvolvimento econômico regional estimulou a vinda situados em locais alagáveis ou impróprios, como nas novas áreas ocupa-
de grandes empresas, fazendeiros e especuladores de terras para o Acre, das no 2º Distrito (Cidade Nova, Taquari, Santa Terezinha/bostal, etc), ou
em sintonia com a nova política proposta pelo regime militar. Os seringalis- mesmo a partir de loteamentos clandestinos e conjuntos residenciais mal
tas falidos e sem crédito não tiveram como resistir e acabaram vendendo projetados e/ou implantados. Uma realidade, enfim, que estabeleceu enor-
enormes seringais por preços muito baixos. Em poucos anos um terço de mes desafios a serem enfrentados para a recuperação da qualidade de vida
todas as terras acreanas mudaram de mãos. dos cidadãos de Rio Branco.
Os novos donos da terra, conhecidos regionalmente como “paulistas”, 5º Período – 1999 / 2005 – O principio do reordenamento urbano
faziam parte da frente de expansão da fronteira agrícola que atingiu os
estados do centro-oeste antes de atingir Rondônia e Acre através do pro- Desde 1999 estão sendo realizadas diversas intervenções na malha
grama Polonoroeste e que previa, entre outras coisas, a abertura da Br- urbana de Rio Branco, especialmente nas vias estruturantes, que estão
364. Esta frente foi composta não só por fazendeiros e grandes empresas, modificando e melhorando os fluxos internos da cidade, bem como o aces-
so aos bairros mais distantes do centro. Além disso, obras de revitalização
Não se deve imaginar que esse processo se deu sem conflitos. Pelo Aliás, a família, ao lado da religião, é o pilar da identidade de sírios e li-
contrário, os patrões que se achavam com direitos sobre as terras e gentes baneses. Muitos imigrantes mandavam buscar esposas, ou voltavam às
não estavam dispostos a abrir mão de nada disso. Para complicar ainda suas aldeias no Oriente para se casar e em seguida retornar para os locais
mais a situação, o processo de venda dos seringais acreanos para os onde tinham seus negócios. Some-se a isto ainda que a decisão pela
“paulistas”, que havia sido iniciado no governo Dantas, trouxe para a região migração era tomada em família, sendo geralmente orientada por seu
grandes empresas com interesses e projetos agropecuários que provoca- chefe, bem de acordo com o espirito patriarcal tão marcante no Oriente.
ram a expulsão dos seringueiros de suas terras. Isso resultou em muitas
emboscadas, histórias de pistoleiros e jagunços, mortes anunciadas ou “Vendo gente, se não estiver pelado, é freguês”
não. Mas foi graças ao acirramento dos graves conflitos sociais que se
“O imigrante ao chegar, pobre, era tratado por Turco. Ao se tornar re- Na antiguidade o atual Líbano correspondia à Fenícia, uma das mais
gatão era Sírio e ao enriquecer como dono de comércio era Libanês.” florescentes e importantes civilizações que a história da humanidade já
conheceu. Em razão da situação geográfica das terras libanesas, composta
De uma forma geral os regatões eram mal vistos pela elite da socieda- por uma estreita faixa de terra apertada entre o mar e as montanhas, os
de extrativista e sofriam com a marginalização e os preconceitos a que fenícios se viram obrigados a desenvolver o comércio em lugar da agricultu-
estavam sujeitos. ra. Tornaram-se assim, exímios navegadores do Mediterrâneo e estabele-
ceram diversas feitorias, através das quais chegaram a dominar boa parte
Isso se dava porque os regatões eram atravessadores aos quais os se- da costa da África e da Europa Mediterrânea. Começava assim uma mile-
ringueiros recorriam para comercializar sua produção, seja para conseguir nar tradição comercial que certamente foi uma das referências mais impor-
melhor preço do que o oferecido pelos patrões, seja para escapar do endi- tantes para o desenvolvimento de um novo modo de vida na Amazônia,
vidamento crescente com o barracão, seja por conta da revolta contra os onde os regatões se assemelhavam à fenícios modernos navegando e
maus tatos infligidos por seringalistas violentos. Por isso a ordem nos comercializando pelo amplo rio-mar e seus afluentes.
seringais acreanos era de não deixar encostar regatões.
Além disso, no Oriente próximo, durante a antiguidade, desenvolveram-
Porém, os regatões não tinham como seu objetivo central, ameaçar a se diversas outras civilizações que maravilhavam o mundo através de suas
autoridade dos seringalistas. Pelo contrário, eles queriam a ascensão social realizações arquitetônicas, conquistas militares, inovações técnicas, tradi-
proporcionada pelo enriquecimento. O regatão passava um período regate- ções religiosas e organizações sociais. Mesopotâmia, Babilônia, Assíria,
ando pelas beiradas de rios, apenas o suficiente para acumular capital. Israel, Pérsia - entre outros povos guerreiros, agricultores ou pastores - que
Logo os “turcos” estavam abrindo uma porta de comercio em qualquer dos sucessivamente dominaram os vastos desertos da península arábica e os
núcleos urbanos acreanos em formação. Começava ai sua batalha para vales férteis do Tigre e do Eufrates.
tornar-se aceito na comunidade e ser visto, não mais como marginal, mas
como parte integrante do sistema. Séculos depois foi a vez do Ocidente levar novas formas de organiza-
ção e dominação, através da grande expansão do Império Romano, até a
Península Arábica. No século V da nossa era a consolidação do Império
Com o tempo e a prosperidade proporcionada pelo comércio do “ouro Romano do Oriente provocou a cristianização de diversas comunidades
negro” (como era tratada a borracha no início do século) os árabes do Acre daquela região. Foi a graças a presença da famosa Civilização Bizantina,
começaram a participar da maçonaria, dos clubes políticos, da fundação de que boa parte da população do Líbano atual e parte da Síria passaram a
clubes esportivos e diversas outras atividades que lhes rendiam dividendos professar doutrinas cristãs, algumas ortodoxas. Essa característica facilitou
sociais. bastante a adaptação no Brasil daqueles que possuíam orientação cristã e
saíram do Oriente para fazer a América contemporaneamente.
Quando a Segunda Guerra Mundial teve início e deu origem, em 1942,
ao novo ciclo de crescimento econômico, conhecido como a “Batalha da Ao mesmo tempo outro movimento religioso desenvolvia-se na Arábia,
Borracha”, os imigrantes sírio-libaneses já estabelecidos puderam se bene- entre os séculos VI e XV. Foi a religião fundada pelo profeta Maomé que, a
ficiar ao máximo.Com capital e proprietária de grande quantidade de em- partir de uma série de revelações divinas, escreveu um livro sagrado cha-
preendimentos a colônia árabe assumiu a condição de integrante da elite mado Corão ou Alcorão.
dirigente da sociedade acreana.
Os termos “islâmico”, “muçulmano” ou “maometano” têm o mesmo sig-
Foi o período em que a participação política dos árabes e seus des- nificado, isto é, “pessoa que está sujeita aos desígnios de Deus ou Alá”,
cendentes aumentou consideravelmente. Logo alguns dos representantes revelando todo o fundamentalismo inerente a essa corrente religiosa. Ao se
da colônia alcançavam posições políticas destacadas. Entre os diversos expandir, o islamismo foi se dividindo em várias seitas. A principal separa-
Já no século XI chegou à região outra corrente humana. O Império Seu nome: Wilson Pinheiro. Um homem alto, determinado, de fala
Turco Otomano conquistou o domínio político do Oriente Médio até o início mansa e rara, mas de olhar poderoso.
do séc. XX. O grande chefe Otoman, daí o nome Otomano, deu início ao
processo expansionista que resultou na formação de um grande império Por um mês procuramos, em vão, sinais de sua voz. Nada.
com orientação muçulmana. Foi durante esse período que a Síria e a
Palestina, sob dominação Turca, sofreram uma forte opressão do governo Nenhum papel de pão manuscrito, nenhum documento do Sindicato,
muçulmano sobre uma população de maioria cristã. E foi justamente a nenhuma entrevista nos jornais, nenhuma frase solta e memorizada pela
perseguição religiosa um dos principais motivos que levaram muitas famí- multidão que instintivamente seguia os passos daquele homem de uma
lias cristãs libanesas e sírias a abandonar o Oriente e migrar para outras coragem evidente.
regiões.
Foi pelas vozes alheias que começamos a conhecer a história do Wil-
A decadência do poderoso Império Turco Otomano chegou ao seu pon- son. Sobram relatos do dia 21 de julho de 1980, quando três balas desferi-
to máximo durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Aliado da das pelas costas puseram fim a sua vida. O primeiro dos líderes da floresta
Alemanha que foi derrotada na guerra, o Império Otomano foi reduzido a morrer sem razão, por uma causa. Mas não o ultimo a pagar com sua
territorialmente a atual Turquia somente. As demais áreas do oriente foram vida para que outros pudessem continuar vivendo de acordo com suas
partilhadas entre as vencedoras da guerra. Enquanto a Grã-Bretanha ficou tradições ancestrais. Foram esses relatos da morte, da comoção popular,
com uma grande área da Palestina - atuais Israel, Jordânia e Iraque – a do enterro, da indignação, da dor e das juras de vingança, publicadas nos
França ficou com o domínio da região que atualmente forma o Líbano e a jornais acreanos e repetidas nas entrevistas feitas com as pessoas que
Síria. participaram dessa história, que nos fizeram começar a ouvir o som da voz
daquele homem calado.
Apesar dessa nova situação a imigração foi mantida por conta da crise
econômica que continuava forte na região. Além do que, o sucesso dos Não pudemos evitar um calafrio na espinha ao conhecer a história do
primeiros imigrantes que conseguiram constituir fortunas nas Américas homem enterrado de bruços pela multidão, com uma moeda na boca para
continuou atraindo os familiares daqueles afortunados e outros indivíduos evitar a fuga de seus assassinos. Os signos populares são poderosos. A
sem grandes perspectivas em seu país de origem. O regime de protetorado sina de um homem pode ser sintetizada em um único gesto.
francês na Síria e no Líbano perdurou até o início da Segunda Grande
Guerra (1945) quando estes países alcançaram sua independência política. Não pudemos, tão pouco, evitar um enjôo desagradável ao ler matérias
do jornal oficial que diziam que a culpa da malfadada “Tensão social” vivida
O certo é que uma boa parte dessa rica cultura milenar foi transportada pela população acreana naqueles anos terríveis era dos agitadores, dos
na bagagem dos que abandonaram os desertos orientais feitos de ventos e subversivos, dos comunistas que só queriam conflagrar a multidão para
areias para se internar nos desertos verdes de águas e sombras da Ama- destruir a ordem vigente.
zônia Ocidental.
Se bem entendemos essa história, era o povo que estava tentando
Box manter a ordem das coisas de um Acre invadido por pessoas inescrupulo-
sas, que pouco sabiam da gente que vivia do que a floresta tinha pra ofere-
Os motivos da partida cer, que só se interessavam por tirar o máximo possível no menor tempo
possível. Quem subvertera a ordem natural das coisas havia sido o então
A maioria dos sírio-libaneses que chegaram à América, vieram em ra- chamado “Capitalismo Selvagem”, o Governo Militar, o Governo Biônico
zão da precária situação econômica e da inferioridade sócio religiosa a que Estadual; para os quais só contavam índices econômicos favoráveis e um
estavam sujeitos em seus países de origem. Outras razões de ordem povo manso que obedecesse prontamente o que lhe era determinado. Era
econômica-demográfica somados a fatores de natureza política motivaram preciso progredir, alcançar e desenvolver as fronteiras de um país subde-
e consolidaram esse fenômeno. senvolvido (outra palavra da moda na época). Afinal de contas “Esse é um
país que vai pra frente”. “Brasil, o país do futuro”. E o que é o progresso ?
A migração foi a única saída encontrada por muitos para escapar aos Estradas asfaltadas, bois no pasto, horizontes sem homens monotonamen-
conflitos étnicos e religiosos iniciados no período da dominação turca e te preenchidos por soja para exportação. Não importa o preço a ser pago.
acirrados durante o regime de protetorado francês, após a I Guerra Mundi- No máximo, uma ou duas gerações de brasileiros cerceados, sem liberdade
al. É preciso compreender que no Oriente Médio a religião é um elemento de ir e vir, falar, pensar, plantar, sonhar, buscar a felicidade, enfim. Milhões
fundamental da identidade social. Entre esses povos a religião assume o de brasileiros entre 30 e 40, anos que sabem bem o preço que foi pago por
papel que na sociedade ocidental é exercido pelo Estado. Portanto, está tamanha estupidez oficial encastelada nas estruturas de poder desse país.
presente nos mais variados aspectos sociais, políticos ou individuais,
ultrapassando sua natureza espiritual. Massacres de cristãos, como o de Naquela época eram eles que falavam, o Wilson calava, mas agia. U-
1861 no Líbano, marcaram uma época quando estes não podiam sequer sava sua enorme força vital para conduzir o povo em uma marcha pacífica
caminhar nas calçadas sem correr risco de vida. pelo “empate” do progresso. Todos sabiam que não se podia vence-los.
Eles possuíam a polícia, as forças armadas, o capital, a justiça, tudo de seu
Outros fatores também concorreram para acelerar o processo de mi- lado. E o povo o que tinha ? Somente sua determinação e coragem frente à
gração. A expansão da rede de transportes que uniu áreas mais distantes, força bruta. Mas, se não se podia vencer os opressores podia-se pelo
trouxe diversos bens manufaturados para as aldeias do interior, desarticu- menos “empatar” com eles. E lá iam eles, mulheres e crianças à frente,
lou o caráter familiar da produção de artesãos e camponeses e os levou a impedir mais uma derrubada. Centenas de Wilsons, anônimos, calados,
uma produção voltada para a simples subsistência. Somando, ainda, o fato transformando suas ações em uma voz que gritava.
de que o crescimento populacional nas aldeias havia chegado ao seu limite
máximo, com uma grande escassez de terras aráveis com água suficiente Da culminância da dor, a vingança. Morte trocada. Para um Wilson
para o plantio, tornava a situação da maioria da população bastante precá- morto, uma outra morte, um Nilão, culpado ou não, um deles. Era o mínimo
ria. que podiam fazer se quisessem sobreviver. Aceitar de braços cruzados a
morte de Wilson significaria a derrota e a condenação à morte de muitos
Com a ocorrência da Primeira Guerra Mundial, a situação piorou ainda outros homens de um povo submetido ao terror instituído. Existe razão
mais. As populações das regiões montanhosas do Líbano passaram por um possível na guerra ?
momento de intensa penúria e fome. A produção de alimentos era insufici-
ente para aplacar a fome do povo e ainda assim era confiscada pelo Go- As versões estão lá, para todos verem. Quem perder algum tempo len-
verno Turco que arrecadava provisões para o exército em guerra. Além de do as matérias publicadas no “Varadouro”, no “Nós Irmãos”, na “Gazeta do
Acre”, no “O Rio Branco” e no “O Jornal” vão poder constatar pessoalmente
Anos se passaram desde então. A luta continuou e as manchetes dos A entrada do Japão no conflito, a partir do ataque de Pearl Harbour,
jornais seguiram estampando notícias de crimes de encomenda, de confli- impôs o bloqueio definitivo dos produtores de borracha. Já no principio de
tos eminentes, de empates vitoriosos e de ações públicas insuficientes. 1942 o Japão controlava mais de 97% das regiões produtoras asiáticas,
Outros homens tombaram antes que a floresta acreana e o modo de se tornando critica a disponibilidade da borracha para a indústria bélica dos
viver com ela pudessem ser salvos. Poucos culpados foram presos por aliados.
seus crimes. Mas o povo venceu. No que era possível, mas venceu. Reser-
vas extrativistas foram demarcadas, o povo da floresta fez uma aliança que Por estranho que possa parecer foi essa seqüência de acontecimentos,
mostrou a todos a existência de um povo que só queria tranquilidade e ocorridos em sua maioria no hemisfério norte ou do outro lado do Oceano
justiça pra tocar sua vida. A voz de Wilson e de seu povo foi forte o suficien- Pacífico, que deu origem no Brasil à quase desconhecida Batalha da Borra-
te para se fazer ouvir. cha. Uma história de imensos sacrifícios para milhares de brasileiros man-
dados para os seringais amazônicos em nome da grande guerra que con-
O Acre nunca mais seria o mesmo então. Os governantes até continua- flagrava o mundo civilizado. Um capítulo obscuro e sem glórias de nossa
riam os mesmos, nas mesmas famílias que à décadas. Mas havia algo história que só permanece vivo na memória e no abandono dos últimos
novo na paz que aos poucos voltava às cidades acreanas. O povo das soldados da borracha.
cidades também havia assistido à chegada de milhares de famílias expul-
sas de suas casas, presenciado a miséria que explodia em suas invasões Os Acordos de Washington
periféricas e ouvido as vozes que se levantaram de dentro da floresta. Os
educados filhos da cidade, viram que tudo o que acontecera em Xapuri, Quando a extensão da guerra ao Pacífico e ao Indico, interrompeu o
Brasiléia, Boca do Acre, Quinari, Tarauacá, era questão de resistência de fornecimento da borracha asiática as autoridades norte-americanas entra-
um povo. Era preciso reconhecer que nada daquilo havia sido coisa de ram em pânico. O Presidente Roosevelt nomeou uma comissão para estu-
comunista, de subversivo, de políticos cassados, de ambientalistas pós- dar a situação dos estoques de matérias-primas essenciais para a guerra. E
modernos, de ativistas burgueses, de intelectuais urbanos. os resultados obtidos por essa comissão foram alarmantes: “De todos os
materiais críticos e estratégicos, a borracha é aquele que apresenta a maior
Mais uma vez a voz que vinha do interior foi expressa por veículos es- ameaça à segurança de nossa nação e ao êxito da causa aliada (...) Consi-
tranhos ao povo que falava. Foi a vez das monografias acadêmicas, das deramos a situação presente tão perigosa que, se não se tomarem medidas
dissertações de mestrado, das teses de doutorado. O que era coragem e corretivas imediatas, este país entrará em colapso civil e militar. A crueza
sabedoria popular foi logo promovido à ciência, multiplicando os títulos, as dos fatos é advertência que não pode ser ignorada” (Comissão Baruch).
abordagens, os recortes epistemológicos, as linhas teórico-metodológicas
de pesquisa, economia, história, sociologia, antropologia, expressões e As atenções do governo americano se voltaram então para a Amazô-
palavras estranhas ao povo que de sujeito se tornou objeto (de pesquisa). nia, grande reservatório natural de borracha, com cerca de 300.000.000 de
seringueiras prontas para a produção de 800.000 toneladas de borracha
Diferente daquelas manchetes de jornais que não deveriam ter sido es- anuais, mais que o dobro das necessidades americanas. Entretanto, nessa
critas, alguns dos novos títulos revelaram o aprendizado de uma sociedade época, só havia na região cerca de 35.000 seringueiros em atividade com
civilizada com o que havia de mais antigo e inovador em sí mesma, a voz uma produção de 16.000-17.000 toneladas na safra de 1940-41. Seriam
do povo. “Ocupação recente das terras do Acre (Transferencia de capitais e necessários, pelo menos, mais 100.000 trabalhadores para reativar a
disputa pela terra)” (1982); O sertanejo, o Brabo e o Posseiro (Os cem anos produção amazônica e eleva-la ao nível de 70.000 toneladas anuais no
de andanças da população acreana)” (1985); “Conflitos pela terra no Acre” menor espaço de tempo possível.
(1987); “Os ‘Imperadores do Acre’ – uma análise da recente expansão
capitalista na Amazônia” (1988); “Modernização da agricultura – pecuariza- Para alcançar esse objetivo ocorreram intensas negociações entre au-
ção e mudanças – o caso do Alto Purus” (1991); “Seringueiros e Sindicato: toridades brasileiras e norte-americanas que culminaram com a assinatura
Um povo da floresta em busca de liberdade” (1991); “Capital e trabalho na dos Acordos de Washinton. Ficou acertado então que o governo americano
Amazônia Ocidental” (1992); entre tantos outros publicados nos corredores passaria a investir fortemente no financiamento da produção de borracha
das UNBs, UFACs, UFMGs, PUCs. amazônica, enquanto ao governo brasileiro caberia o encaminhamento de
milhares de trabalhadores para os seringais, no que passou a ser tratado
Isso sem falar nas prateleiras das livrarias dos shopping-centers reple- como um heróico esforço de guerra. Tudo ótimo enquanto as coisas esta-
tos de livros sobre a devastação da Amazônia, sobre a vida e a morte de vam no papel, mas muito complicadas quando chegou a hora de pô-las em
Chico Mendes, sobre ecologia, etc. Será possível que essa sociedade de prática.
consumo rápido e desenfreado tenha realmente ouvido aquela voz que
silenciou na boca de um Wilson Pioneiro ? Talvez nunca saibamos ao certo. A Batalha da Borracha
O que parece certo é que o Acre continua no seu caminho, Tentando Para o governo brasileiro era juntar a fome com a vontade de comer, li-
construir um destino próprio. Não importa se diferente das receitas caseiras teralmente. Somente em Fortaleza cerca de 30.000 flagelados da seca de
ou internacionais. Aqui existe uma voz que nunca foi escrita, da qual não se 41-42 estavam disponíveis para serem enviados imediatamente para os
registrou o timbre, da qual não restou nenhuma frase, mas que não deixa seringais. Mesmo que de forma pouco organizada o DNI (Departamento
de ser repetida e ouvida por seringais e cidades dessa Amazônia Ocidental. Nacional de Imigração) ainda conseguiu enviar para a Amazônia, durante o
Uma certa voz, de um certo homem alto e determinado, de fala mansa e ano de 1942, quase 15.000 pessoas, sendo a metade de homens aptos ao
rara, dono de um olhar e um silêncio poderosos. trabalho.
PS: Este deveria ser um artigo de história, na mais pura acepção Eram os primeiros soldados da borracha. Simples retirantes que se
pragmática da ciência. Porém, como não sentir e escrever com o coração amontoavam com suas famílias por todo o nordeste fugindo de uma seca
sobre uma tal história de dor e vida ? que teimava em não se acabar. O que era, evidentemente, muito pouco
diante das pretensões norte-americanas.
Os insuspeitos perigos da guerra
Esses novos órgãos, em muitos casos, se sobrepunham a outros já e- A partir do Maranhão não havia um fluxo organizado de encaminha-
xistentes como o DNI e não precisamos de muito esforço para imaginar o mento de trabalhadores para os seringais. Freqüentemente era preciso
tamanho da confusão oficial que se tornou essa tal Batalha da Borracha. esperar muito antes que as turmas tivessem oportunidade para seguir
viagem. A maioria dos alojamentos que recebiam os imigrantes em transito
A ilusão do paraíso eram verdadeiros campos de concentração onde as péssimas condições de
alimentação e higiene acabavam com a saúde dos trabalhadores antes
Em todas as regiões do Brasil aliciadores tratavam de convencer traba- mesmo que fizessem o primeiro corte nas seringueiras.
lhadores a se alistar como soldados da borracha para auxiliar na vitória
aliada. Alistamento, recrutamento, voluntários, soldados, esforço de guerra, Não que não houvesse comida. Havia, e muita. Mas era tão ruim, tão
se tornaram termos comuns no cotidiano popular. A mobilização de traba- mal feita, que era comum ver as lixeiras dos alojamentos cheias enquanto
lhadores para a Amazônia realizada pelo Estado Novo foi revestida por toda as pessoas adoeciam com fome. Muitos alojamentos foram construídos em
a força simbólica e coercitiva que os tempos de guerra possibilitavam. lugares infestados pela malária, febre amarela e icterícia. Surtos epidêmi-
cos matavam dezenas de soldados da borracha e seus familiares nos
No nordeste, de onde deveria sair o maior numero de soldados, o pousos de Belém, Manaus e outros portos amazônicos. O atendimento
SEMTA convocou padres, médicos e professores para o recrutamento de médico inexistia longe das propagandas oficiais e os conflitos se espalha-
todos os homens aptos ao esforço de guerra que tinha que ser empreendi- vam entre os soldados já quase derrotados.
do nas florestas amazônicas. O artista suíço Chabloz foi contratado para
produzir material de divulgação acerca da “realidade” que os esperava. Nos A desordem era tanta que muitos abandonaram os alojamentos e pas-
cartazes coloridos os seringueiros apareciam recolhendo baldes de látex saram a perambular pelas ruas de Manaus e outras cidades buscando um
que escorria como água de grossas seringueiras. Todo o caminho que modo de retornar a sua terra de origem, ou de pelo menos sobreviver.
levava do sertão nordestino, seco e amarelo, ao paraíso verde e úmido da Outras tantas revoltas paralisaram os gaiolas em meio de viagem diante
Amazônia estava retratado naqueles cartazes repletos de palavras fortes e das alarmantes notícias sobre a vida nos seringais. Pequenos motins
otimistas. O bordão “Borracha para a Vitória” tornou-se o emblema da rapidamente abafados pelos funcionários da SNAPP ou da SAVA. Esse
mobilização realizada por todo o nordeste. parecia ser então um caminho sem volta.
Histórias de enriquecimento fácil circulavam de boca em boca. “Na
Amazônia se junta dinheiro com rodo”. Os velhos mitos do Eldorado ama- Soldados da floresta
zônico voltavam a ganhar força no imaginário popular. O paraíso perdido, a
terra da fartura e da promissão, onde a floresta era sempre verde e a seca Os que conseguiam efetivamente chegar aos seringais depois de três
desconhecida. Os cartazes mostravam caminhões carregando toneladas de ou mais meses de viagem já sabiam que suas dificuldades estavam apenas
borracha colhidas com fartura pelos trabalhadores. Imagens coletadas por começando. Os recém chegados eram tratados como “brabos”. Aqueles
Chabloz nas plantações da Firestone na Malásia, sem nenhuma conexão que ainda não sabem cortar seringa e cuja produção no primeiro ano é
com a realidade que esperava os trabalhadores nos seringais amazônicos. sempre muito pequena. Só a partir do segundo ano de trabalho o seringuei-
Mas, perder o que? Afinal de contas - espalhadas pelas esquinas, nas ro era considerado “manso”. Mesmo assim, desde o momento em que era
paredes das casas e nos bares - a colorida propaganda oficial garantia que escolhido e embarcado para o seringal, o brabo já começava a acumular
todos os trabalhadores teriam passagem grátis e seriam protegidos pelo uma divida com o patrão.
SEMTA.
Uma divida que crescia rapidamente porque tudo que recebia era co-
Quando nem todas as promessas e quimeras funcionavam, sempre brado. Mantimentos, ferramentas, tigelas, roupas, armas, munição, remé-
restava o bom e velho recrutamento forçado de jovens. A muitas famílias do dios, tudo enfim era anotado na sua conta corrente. Só no fim da safra a
sertão nordestino foram dadas somente duas opções: ou seus filhos parti- produção da borracha de cada seringueiro era abatida do valor de sua
am para os seringais como soldados da borracha ou então deveriam seguir dívida. Mas o valor de sua produção era, quase sempre, inferior a quantia
para o front lutar contra os italianos e alemães. Muitos preferiram a Amazô- devida ao patrão. E não adiantava argumentar que o valor cobrado pelas
nia. mercadorias no barracão do seringalista era cinco ou mais vezes maior do
que aquele praticado nas cidades, os seringueiros eram proibidos de ven-
Os caminhos da guerra der ou comprar de outro lugar. Cedo os soldados da borracha descobriam
que no seringal a palavra do patrão era a lei e a lógica daquela guerra.
Ao chegar aos alojamentos organizados pelo SEMTA o trabalhador re-
cebia um chapéu, um par de alparcatas, uma blusa de morim branco, uma Os financiadores americanos insistiam que não se deveriam repetir os
calça de mescla azul, uma caneca, um talher, um prato, uma rede, cigarros, abusos do sistema de aviamento que caracterizaram o primeiro ciclo da
A pecuária começou a ser desenvolvida só a partir da década de 1970. Em 2005, havia no estado 337 estabelecimentos hospitalares, sendo
O solo utilizado nos plantios desgasta-se pelas derrubadas e queimadas e 282 públicos e 55 particulares, com um total de 1.561 leitos. Dos 337 hospi-
passa a construir área de magra pastagem. Não há campos naturais e os tais, 227 eram de finalidade geral e 221 eram especializados. Dos
que são abertos na mata, se ainda não esgotados pela lavoura, são facil- 7 municípios existentes em 1970, apenas Rio Branco possuía abastecimen-
mente invadidos pela capoeira. Em 2008, contava o Acre com to de água encanada, embora não possuía serviço de esgoto, o que impede
155.861suínos, 2.425.687 bovinos, 77.623 ovinos, o controle de disenteria amebiana endêmica. Em 2005, o estado possuía
7.201 muares, 60.668 eqüinos e 15.433 caprinos. 48% de acesso à água 44,3% de acesso à rede de esgoto. Em 2006,
a mortalidade infantil era de 20,7 por 1.000 nascidos vivos, sendo
A pesca é praticada em pequena escala, sendo na maioria dos casos a malária a principal causa de morte. Povoações distantes entre si por dia
de subsistência. Em 2005, foram produzidas 3.510 t de pescado, a antepe- de caminhada na floresta, e que por vezes, no período das chuvas, ficam
núltima produçãodo país. A mineração é escassa e caracterizada pe- completamente isoladas, dificultam a irradiação da saúde pública.
la garimpagem mais primitiva — feita através de bateias —, sendo desco-
nhecidos dados estatísticos de sua produção. Segurança pública
A quase totalidade do comércio do estado é feita por via fluvial e em A mais importante instituição penitenciária é a Colônia Penal e Agrícola
pequena escala por via aérea. O Acre exporta quase tudo o que produz e Evaristo de Morais, em Rio Branco.
importa praticamente tudo que consome. A pauta de exportação resume-se
na madeira compensada e perfilada (49%) madeira serrada ou em folha
(27%), frutas (21%) e outros (3%), convergindo na totalidade para os esta-
dos do Amazonas e Pará, de preferência para Belém, origem também da
maioria de suas compras. O comércio com o limita-se a compra
de gado em pé e gêneros alimentícios da Bolívia, frequentemente de cará-
Os principais jornais do estado são: O Estado, A Gazeta, O Rio Bran- Cruzeiro do Sul é a segunda maior cidade acreana e um porto do rio
co e A Tribuna. As principais estações e emissoras de televisão do estado Juruá, sendo também a mais desenvolvida da mesorregião que recebe o
são: TV Aldeia, TV Acre, TV 5, TV Rio Branco, TV Gazeta Rio Branco, TV mesmo nome.
União Rio Branco, TV 40, TV C, TV Cruzeiro do Sul, TV Ituxi e TV Integra- Outros municípios mais populosos são (IBGE 2009): Sena Madureira,
ção. As principais estações de rádio do estado são: Rádio Aldeia FM, Rádio com 37 993 habitantes; Tarauacá, com 35 526 habitantes; Feijó com 32 311
Gazeta FM, Rádio União FM, Rádio Educativa FM, Rádio Acre FM e Rádio habitantes e Brasileia, com 21 438 habitantes.
Boas Novas FM, Rádio Progresso AM, Rádio Líder AM, Rádio Universitária
FM e Rádio Aldeia FM, Juruá FM, Verdes Florestas, Integração FM, sendo Desenvolvimento Humano
que as três ultimas estão localizadas em Cruzeiro do Sul e as demais em O IDH do Acre é de 0.751, posicionando-se na décima sétima posição
Rio Branco. no ranking brasileiro, sendo que 16 estados estão em situação melhor, e 9
Cultura estados estão em situação pior ou igual: As cidades com melhor desempe-
nho são: Rio Branco, Senador Guiomard, Epitaciolândia, Plácido de Cas-
A cultura do Acre é muito parecida com a dos outros Estados da região tro e Acrelândia.
Norte. A comida típica utiliza o pato e o pirarucu, que herdou dos índios, e o
bobó de camarão, vatapá e carne de sol com macaxeira, trazido do Nordes- Etnias
te brasileiro logo quando iniciou a extração do látex, já que muitos nordesti- Existem no Acre, 34 terras indígenas ocupadas por mais de 12.000 ín-
nos migraram para o Acre tentando uma melhor qualidade de vida. dios, que representam 2% da população total do Estado. Esse contingente
No artesanato os artigos confeccionados com materiais extraídos da populacional pertence a 14 diferentes etnias, de línguas Pano, Aruak e
floresta amazônica. Do seringal surgiu a figura do seringueiro, que colabo- Arawá: (Yamina-
rou em momentos importantes da história brasileira para o desenvolvimento wa, Manchineri, Kaxinawá, Ashaninka, Shanenawa, Katukina, Arara,Nukini,
do país, trabalhando duro na extração do látex na floresta amazônica. Da Poyanawa, Nawa,Jaminawa-Arara e Isolados). As etnias isoladas, sem
floresta também surgiu Chico Mendes, que hoje é considerado referência contato com a sociedade, têm o seu território tradicional ao longo da frontei-
internacional na luta em defesa da Amazônia; Chico Mendes foi assassina- ra internacional Brasil-Peru.
do em 22 de dezembro de 1988 e ganhou um prêmio único da ONU, o Etnias
Prêmio Global 500 Anos, por defender e proteger a floresta amazônica.
Em Rio Branco encontra-se uma comunidade religiosa chamada Alto Cor/Raça (IBGE 2006)[79] Porcentagem
Santo (Centro de Iluminação Cristã Universal) que pratica o Ritual do Santo Pardos 57,5%
Daime, típico do Acre, de origem indígena, que usa o Daime, um chá natu-
ral feito com folhas ecipó, usado pelos índios como forma de aproximação a Brancos 33,0%
INTERAÇÃO URBANO-RURAL Rio Branco - Acre Ao término do nosso milênio, na Amazônia brasileira, o extrativismo é
algo totalmente diferente de tal padronização. É um conjunto de atividades
As mudanças na sociedade têm levado a uma variedade de interpretações econômicas de grupos sociais que não exclui a incorporação de tecnologias
em relação ao espaço rural. As percepções relacionadas ao conceito do nem a transformação e agregação de valor aos produtos; pelo contrário,
rural e da ruralidade são muito diferenciadas. abrange atividades agro-pastoris, extrativas e silviculturais, atingindo não só
os processos produtivos mas também os transformativos e os de comercia-
Enquanto a economia se globaliza, surgem novas iniciativas que viabilizam lização.
processos diferenciados de desenvolvimento no espaço. Nesse novo
cenário, é importante buscar ampliar o papel da ruralidade e suas relações. Não existe, portanto, o extrativismo de coleta de um único produto. O
que existe são em torno de 200.000 famílias que na Região praticam o
Cidade e campo vêm sendo percebidos como polaridades. E nessa relação neoextrativismo de múltiplas atividades. Os ataques ao extrativismo "este-
o urbano tem se mantido como dominante, enquanto que o rural, vem reotípado" por manuais de antropologia ou economia, classificando-o como
sendo percebido como mercadoria, capaz de gerar outras mercadorias. etapa "superada" pela humanidade, tem toda validade, porém, quando
dirigidas contra o neoextrativismo, tais ataques são tão inócuos quanto os
O Rural Contemporâneo de Dom Quixote contra os moinhos de vento.
A Geografia utiliza os seguintes conceitos: O que interessa é a realidade, isto é, a existência de um milhão de
* Espaço urbano – cidades, aglomerações com alta densidade populacional pessoas que praticam o neoextrativismo, habitando na floresta tropical
e técnica. úmida.
* Espaço rural – áreas não urbanizadas e ocupadas, com pequena densi-
dade populacional. Embora os extrativistas em geral sempre tenham combinado sua ativi-
dade com a caça, pesca e plantio de culturas alimentares, a crise na co-
O Espaço Rural corresponde a um meio específico, de características mais mercialização da castanha e especialmente da borracha, nos últimos 10
naturais do que o urbano, e é produzido a partir de uma multiplicidade de anos os obrigou a aumentar suas atividades agropecuárias. Esta procura
usos, onde o fator primordial é a terra ou o “espaço natural”. de novas alternativas econômicas é a característica principal do neoextrati-
vismo, sendo que entre elas tem merecido especial atenção a agregação
Atributos definidores do rural: de valor aos produtos extrativistas, mediante o beneficiamento primário nos
* Baixa densidade populacional; lugares de produção.
* Predomínio de paisagens com vegetação, e de atividades agro-silvo-
pastoris; O neoextrativismo tem suas raízes em fatores econômicos relaciona-
* Forte identidade territorial coletiva, que busca afirmar o rural como espaço dos ao imperativo de sobrevivência dos extratores; na medida em que não
distinto do urbano. há mercado para certos produtos ou os preços não são compensadores, as
famílias buscam novas alternativas econômicas. Estas, até o momento tem
Atributos do espaço urbano: surgido mais no setor agropecuário daí a propriedade de classificar os
* Densificação populacional no espaço; neoextrativistas como agroextrativistas.
* A paisagem/espaço se sobrepõe ao rural ou ao “natural”; O agroextrativismo é fortemente favorecido pelos movimentos sociais,
* Todo urbano já foi rural, mas nem todo rural será urbano. na medida em que a desestruturação do sistema tradicional extrativista
permite a aquisição de autonomia das unidades produtoras em relação a
Relação Cidade/Campo patrões e proprietários que aos poucos desaparecem de cena, dando lugar
Correntes interpretativas sobre essa relação: a Associações, Sindicatos, Organização Regional e Nacional dos Seringuei-
* Oposição entre rural e urbano – campo reflete o atraso, enquanto a cida- ros que passam a apoiar e incentivar a diversificação de atividades econô-
de mostra o progresso. micas. A contribuição dos movimentos sociais foi mais forte ainda quando
* Continuum rural-urbano – a urbanização é responsável por mudanças na se tratou de defender a floresta contra a derrubada promovida pelos fazen-
sociedade e por aproximar o rural do urbano. deiros. Através dos "Empates" foi conquistada a consciência do "coletivo" e
os seringueiros começaram a solicitar, através dos Sindicatos e do Conse-
Rururbano lho Nacional dos Seringueiros, a criação de reservas extrativistas.
No Brasil, destaca-se o conceito de rurbano ou rururbano como referência à
urbanização do rural, em função da inclusão de novas atividades econômi- Pesquisas realizadas pela FUNTAC em 1990, em reservas extrativistas
cas, especialmente as não agrícolas. Essas atividades conduzem ao “novo do Acre, revelam que o extrativismo contribui apenas com 30% na compo-
rural”. sição da renda familiar dos seringueiros. Estes dados são confirmados
pelas pesquisas encomendadas pelo CNPT à ECOTEC em 1993.
Composição da Renda Familiar Seringais do ACRE
Caça - 358.00
TOTAL 2.114,00
Chico Mendes Alto Juruá Rio Ouro Preto Rio Cajari Média
EXTRATIVISMO
Região Amazônica
1. População Extrativista
N° % N° %
OBS: Cálculo da população que depende do coco babaçu no Maranhão, Tocantins e Piauí: 1.000.000 de pessoas
Historicamente, a economia acriana baseia-se no extrativismo vegetal, sobretudo na exploração da borracha, que foi responsável pelo povoamento da re-
gião. Atualmente, a madeira é o principal produto de exportação do estado, que também é grande produtor de castanha-do-pará, fruto do açaí e óleo da copa-
íba.
9 O comércio, o transporte e as comunicações no Estado do Acre. Municípios e populações do Acre: população e localização. Nova configu-
ração do mapa. Microrregiões. Atuais Municípios.
Comércio
A quase totalidade do comércio do estado é feita por via fluvial e em pequena escala por via aérea. O Acre exporta quase tudo o que produz e importa
praticamente tudo que consome. A pauta de exportação resume-se na madeira compensada e perfilada (49%) madeira serrada ou em folha
(27%), frutas (21%) e outros (3%), convergindo na totalidade para os estados do Amazonas e Pará, de preferência para Belém, origem também da maioria de
suas compras. O comércio com o limita-se a compra de gado em pé e gêneros alimentícios da Bolívia, frequentemente de caráter ilegal. Em março de 2010 o
valor da exportação por cabotagem foi de US$ 15.727.499 e a importação de US$ 15.059.156.
Infraestrutura
O ensino fundamental contava em 2008 com 1.593 escolas, com o corpo docente de 7.476 professores e 164.043 alunos matriculados. Contava o ensino
médio com 111 escolas, 1.594 professores e 33.113 matrículas. O ensino infantil calculava 275pré-escolas, 1.052 professores e 22.104 alunos. O ensino
superior era ministrado em 2007, em 9 estabelecimentos, com 17.840 alunos matriculados.
Em 2008, a taxa de analfabetismo no estado é de 13%, uma das mais equilibradas do Brasil. Da população, 36,2% dos acreanos são analfabetos funcio-
nais.
As principais universidades do Acre são: Instituto Federal do Acre, Universidade Federal do Acre (públicas), União Educacional do Norte e Instituição de
Ensino Superior do Acre (particulares).
Transportes
As principais rodovias do Acre são:
BR-364 - Juntamente com a BR-317 é a principal rodovia do Acre. A leste liga Rio Branco ao estado de Rondônia e ao restante do país. A oeste corta to-
do o estado, ligando a capital do estado a Cruzeiro do Sul, segunda principal cidade do estado, passando pelos municípios de Bujari, Sena Madurei-
ra, Manoel Urbano, Feijó, Tarauacá e Rodrigues Alves.
BR-317 - Tem extensão de 330 km, liga a capital ao sul do estado, passando pelos municípios de Senador Guiomard,Capixaba, Brasileia na fronteira
com a República da Bolívia, a partir de Brasileia a estrada continua por mais 110 km até chegar na cidade de Assis Brasil, já na fronteira com o Peru. A
rodovia tornar-se-á um importante eixo de exportação do Brasil, pois quando a estrada no lado peruano estiver concluída (estima-se que em 2011), o Brasil
estará totalmente ligado a Cuzco e aos dois principais portos do país vizinho.
AC-040 - Possui extensão de 100 km, liga Rio Branco até a cidade de Plácido de Castro também fazendo fronteira com a Bolívia.
AC-401 - Também chamada de estrada do agricultor, com extensão de 50 km, liga a cidade de Plácido de Castro à cidade de Acrelândia, já próxima da
BR-364.
AC-010 - Tem extensão de 55 km, Ligando Rio Branco até a cidade história de Porto Acre, já na divisa com o Amazonas.
Comunicações
Os principais jornais do estado são: O Estado, A Gazeta, O Rio Branco e A Tribuna. As principais estações e emissoras de televisão do estado são: TV
Aldeia, TV Acre, TV 5, TV Rio Branco, TV Gazeta Rio Branco, TV União Rio Branco, TV 40, TV C, TV Cruzeiro do Sul, TV Ituxi e TV Integração. As principais
estações de rádio do estado são: Rádio Aldeia FM, Rádio Gazeta FM, Rádio União FM, Rádio Educativa FM, Rádio Acre FM e Rádio Boas Novas FM, Rádio
Progresso AM, Rádio Líder AM, Rádio Universitária FM e Rádio Aldeia FM, Juruá FM, Verdes Florestas, Integração FM, sendo que as três ultimas estão
localizadas em Cruzeiro do Sul e as demais em Rio Branco.
Municípios
PROVA SIMULADA
Questão 1
O mapa abaixo está destacando uma unidade federativa do Brasil.
Questão 2
Analise as afirmativas sobre a população e a economia do Acre e marque (V) para as verdadeiras e (F) para as falsas.
a) Com cerca de 733,5 mil habitantes, o Acre é o estado menos populoso do Brasil.
Questão 3
Analise as alternativas sobre os aspectos físicos do Acre e marque a alternativa correta.
a) O estado do Acre é “cortado” pela Linha do Equador, fazendo com que uma parte do território pertença ao Hemisfério Setentrional e a outra parte ao He-
misfério Meridional.
b) Com extensão territorial de aproximadamente 164,1 mil quilômetros quadrados, o estado do Acre é o menor da Região Norte.
c) O Acre limita-se com a Bolívia e o Peru. No Brasil, possui fronteira com apenas um estado, o Amazonas.
d) O clima predominante no Acre é o equatorial amazônico, com umidade relativa do ar e temperaturas bastante elevadas.
e) A principal cobertura vegetal do Acre é a Mata de Araucárias, cuja árvore símbolo é o pinheiro-do-paraná.
Questão 4
O Acre é um estado brasileiro que está localizado em qual Região do país?
a) Sul
b) Nordeste
c) Centro-Oeste
d) Norte
e) Sudeste
Respostas
Resposta Questão 1
Alternativa correta: letra “A”.
a) Verdadeiro: O mapa em questão está destacando o estado do Acre, cuja capital é a cidade de Rio Branco.
b) Falso: O mapa não está destacando o estado do Amapá.
c) Falso: Rio Branco é a capital e o Acre é o estado.
d) Falso: Rondônia não é o estado destacado no mapa analisado.
e) Falso: O estado destacado no mapa é o Acre; no entanto, sua capital não é a cidade de Porto Velho, e sim a cidade de Rio Branco.
Resposta Questão 2
a) Falso: Roraima, com 450,4 mil habitantes e o Amapá, com 669,5 mil habitantes, são os estados do Norte que possuem contingente populacional inferior ao
do Acre. Portanto, o Acre é o terceiro estado menos populoso do Norte.
b) Verdadeiro: O extrativismo vegetal é uma atividade de fundamental importância para a economia do Acre, com destaque para a extração do látex.
c) Verdadeiro: A atividade agrícola está crescendo no Acre, em especial a produção de milho, arroz, mandioca, cana-de-açúcar, frutas, entre outros.
d) Verdadeiro: Com mais de 335 mil habitantes, Rio Branco é a cidade mais populosa do Acre, abrigando quase metade da população estadual.
Resposta Questão 3
Alternativa correta: letra “D”.
a) Falso: O território do Acre não é “cortado” pela linha do Equador. O estado está totalmente localizado ao sul da Linha do Equador, pertencendo, portanto,
ao Hemisfério Meridional.
b) Falso: O Acre possui extensão territorial de 164.122,280 quilômetros quadrados, sendo o segundo menor estado da Região Norte, pois o Amapá, que é o
menor, ocupa uma área de aproximadamente 142,8 mil quilômetros quadrados.
c) Falso: Além de Bolívia, Peru e Amazonas, o estado do Acre também possui fronteira com o estado brasileiro de Rondônia.
d) Verdadeiro: O Acre tem como clima predominante o equatorial amazônico, com umidade relativa que pode atingir 90% e temperaturas elevadas, com
média que varia entre 25 °C e 32 °C.
e) Falso: A principal cobertura vegetal do Acre é a floresta Amazônica. A Mata de Araucárias é um bioma encontrado na porção sul de São Paulo e nos
estados da Região Sul do Brasil.
Resposta Questão 4
Alternativa correta: letra “D”.
a) Falso: A Região Sul do Brasil é formada pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
b) Falso: O Nordeste brasileiro é formado pelos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão.
c) Falso: O Centro-Oeste é formado por Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, além do Distrito Federal.
d) Verdadeiro: O Acre está localizado na porção oeste da Região Norte. Os outros estados que compõem essa Região são: Amazonas, Amapá, Pará, Tocan-
tins, Roraima e Rondônia.
e) Falso: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais são os estados da Região Sudeste.
http://exercicios.brasilescola.com/geografia-do-brasil/exercicios-sobre-acre.htm#resposta-198
2) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) O Acre, incorporado ao Brasil pelo Tratado de Petrópolis (1913), tornou-se:
A) estado em 1962.
B) município do estado do Amazonas em 1930.
C) estado associado em 1945.
D) território federal em 1983.
A) de ato do Bolivian Syndicate, que desejava a autonomia do território para melhor explorá-lo.
B) de movimento popular, composto basicamente por trabalhadores brasileiros e bolivianos dos seringais, que pleiteava a independência do território tanto em
relação à Bolívia quanto ao Brasil.
C) da expedição militar peruana, comandada por José Paravicini, que objetivava desmembrar o território da Bolívia e anexá-lo ao Peru.
D) da expedição comandada pelo espanhol Luis Gálvez Rodríguez de Arias e apoiada pelo governo do Amazonas.
Ao assumir o governo do Acre, Wanderley Dantas, afinado com as diretrizes de modernização do governo federal, e adepto da política do Brasil grande
potência, trazia para o estado um projeto de transformação da economia que não passava pelo extrativismo. Por iniciativa do governador Dantas, desfechou-
se ampla campanha de divulgação do estado no sul do país, junto a empresários.
Pedro Vicente Costa Sobrinho. Capital e trabalho na Amazônia Ocidental: contribuição à história social e das lutas sindicais no Acre. São Paulo: Cortez; Rio
Branco: Universidade Federal do Acre, 1992, p. 144 (com adaptações).
4) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) O projeto de transformação econômica a que se refere o texto caracterizou-se por
5) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) As conseqüências do projeto de transformação econômica referido no texto incluem:
6) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) As unidades diversas geomorfológicas do estado do Acre incluem diversas depressões, fragmentos
da planície amazônica e a superfície tabular de Cruzeiro do Sul. Do ponto de vista geomorfológico, esta última constitui um(a):
A) horst.
B) graben.
C) chapada.
D) cuesta.
7) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) O processo de formação econômica do Acre ocorreu no contexto da expansão da frente pioneira
extrativista cuja base era
A) a cassiterita.
B) o pau-brasil para indústria madeireira.
C) o látex para a produção de borracha.
D) a mineração de ouro.
8) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) As microrregiões geográficas do Acre, divididas pelo IBGE, apresentam cinco regiões: Brasiléia, Sena
Madureira, Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Tarauacá. Com relação à disposição geográfica dessas microrregiões e tendo como ponto de referência o centro
geográfico do estado, é correto afirmar que a microrregião de:
9) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) O processo de anexação do Acre ao Brasil passou por um conflito de fronteira entre a Bolívia e o
Brasil, interrompido por vários anos, atingindo o clímax, na região do Acre, onde Plácido de Castro, um gaúcho de 28 anos de idade, liderou outro levante
armado, em meados de 1902, contra os representantes do governo de La Paz. Esse conflito configurou-se mais grave, não porque a Argentina parecesse
respaldar a Bolívia a disputar com o Brasil a hegemonia da região, mas por envolver fortes interesses de outro país. País este que aportou uma canhoneira
em Belém em missão aparente de amizade e partiu rumo a Tabatinga e Iquitos, furtivamente, com os faróis de navegação apagados durante a noite, sem
esperar licença especial do governo brasileiro, levando a bordo o cônsul daquele outro país. Ato este considerado de desrespeito à soberania nacional. L. A.
M. Bandeira. O barão de Rothscild e a questão do Acre. In: Rev. Bras. Polít. Int., vol. 43, n.º 2, Brasília, 2000 (com adaptações).
10) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) Atualmente, o estado do Acre possui 22 municípios devido à criação, em 1992, de:
A) 8 municípios.
B) 9 municípios.
C) 10 municípios.
D) 11 municípios.
http://barbosadejesu.wordpress.com/2009/08/26/questoes-de-historia-e-geografia-do-acresefaz2009/
RESPOSTAS
01. C
02. A
03. D
04. C
05. C
06. C
07. C
08. D
09. A
10. C
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