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APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos

atestam a grande riqueza e importância de nossa pré-história para a com-


HISTÓRIA DO ACRE: preensão da trajetória de nossos povos indígenas.
1 O processo de ocupação das terras acreanas: a ocupação indíge- Tempo das malocas
na, a imigração nordestina e a produção da borracha, a insurreição
acreana e anexação do Acre ao Brasil. É o tempo da vida dos indígenas antes do contato com o cariú (homem
2 A chegada dos "paulistas" nas terras acreanas a partir dos anos branco), portanto, o tempo das malocas é o mais antigo para os índios do
70: êxodo rural, conflitos pela terra e invasões do espaço urbano. Acre e do sudoeste do Amazonas.
3 A evolução política do Acre: Território a Estado. “É um tempo muito longe, que vem desde o começo do mundo. Tempo
4 Acre: desafio para um futuro sustentável. do nascimento dos povos indígenas; tempo das histórias de antigamente,
5 Orientação, localização e representação do espaço; o Acre no dos mitos; da cultura tradicional.” (Norberto Sales Tene Kaxinawá).
espaço mundial e fusos horários. Os primeiros rios acreanos a serem colonizados foram o Purus e o Ju-
6 Características socioeconômicas dos municípios do Acre. ruá, exatamente a região de ocupação de dois grandes grupos lingüísticos
7 As características gerais do estado do Acre: recursos naturais e Pano e Aruak.
meio ambiente, relevo e aproveitamento do solo, vegetação, hidro-
No Purus havia predomínio, mas não exclusivo, das línguas Aruan e
grafia, clima, apropriação do espaço e problemas ambientais.
Aruak. Grupos pouco aguerridos eram comumente submetidos por outros
8 A produção socioeconômica do espaço acreano: população (di- grupos mais fortes ou se refugiavam na terra firme, espalhando-se por
nâmica populacional, migração), populações rurais e tendências de diversos afluentes de ambas as margens do Purus.
uso dos recursos naturais (colonos, extrativistas, ribeirinhos e pecu-
aristas), espaço urbano e espaço rural na atualidade e atividade Já no médio e alto curso do rio Juruá, bem como na maior parte de
seus afluentes, havia predomínio de diversos e numerosos grupos da
extrativista, industrial e agrícola.
língua Pano. Com seu caráter guerreiro, os Pano conquistaram seu territó-
9 O comércio, o transporte e as comunicações no Estado do Acre. rio através da guerra contra tribos de outras línguas, mas também contra
Municípios e populações do Acre: população e localização. Nova grupos do mesmo tronco. Isso explica, em parte, a fragmentação que
configuração do mapa. Microrregiões. Atuais Municípios. muitas tribos Pano apresentavam quando finalmente os brancos começa-
ram a chegar à região.
Durante os milhares de anos em que as aldeias foram compostas por
1 O processo de ocupação das terras acreanas: a ocupação indí- grandes malocas coletivas, o povo vivia do que lhes dava a floresta, estabe-
gena, a imigração nordestina e a produção da borracha, a insurrei- lecendo um sutil equilíbrio ecológico e social na região.
ção acreana e anexação do Acre ao Brasil.
Tempo das correrias
Com a implantação dos seringais, os índios tiveram suas terras invadi-
Diferentes povos nativos já habitavam as terras acreanas, antes mes- das e seu povo perseguido para ser aprisionado, expulso ou exterminado.
mo da chegada dos europeus ao Brasil. No século XIX existia no Acre Os primeiros exploradores começaram a chegar à região acreana a partir
cerca de 50 grupos indígenas. Esses povos tinham a sua própria história, de 1860. Milhares de homens, vindos de toda parte do Brasil e do mundo,
seus modos de vida, sua cultura e tradições, sua religião e sua sabedoria. passaram a subir os rios estabelecendo imensos seringais em suas mar-
Muitos destes povos desapareceram, subjugados pela violência e doenças gens. Nessa época, teve início a verdadeira corrida pelo ouro negro, a
desconhecidas trazidas pelo branco. Graças à sua força e a coragem, borracha extraída da seringa e depois defumada.
alguns desses povos sobreviveram e até hoje lutam pela sua sobrevivência
social e cultural. Em poucos anos, os povos nativos da região se viram cercados, sem
ter para onde fugir e como resistir à enorme pressão que vinha do capita-
Para melhor compreender toda trajetória da história indígena no Acre, lismo internacional, cada vez mais ávido por esse produto.
sob a ótica deles mesmos, os painéis irão levar o visitante a voltar ao tempo
da antiguidade, das malocas, das correrias, do cativeiro e dos direitos. Vistos como obstáculos da exploração, os povos indígenas começaram
a ser dizimados através das chamadas correrias, expedições armadas
É nesse percurso temporal que iremos conhecer mais sobre a história feitas com o objetivo de matar as lideranças das aldeias, aprisionar homens
de um povo que se fez da rica floresta amazônica e que não desistiu de e obter mulheres para serem vendidas para seringueiros.
lutar pelo direito de viver e de cultivar suas raízes.
Entre 1880 e 1910, o ritmo da exploração da região só aumentou, le-
Os painéis abordam os diferentes tempos vividos pelos povos indíge- vando ao extermínio inúmeros grupos indígenas, que por vezes eram
nas do Acre divididos em: exterminados por colaborarem com os brancos, se submetendo ao risco de
Tempo da antiguidade doenças a qual não tinham imunidade, por outras resistindo à invasão de
seus territórios, o que também só aumentava a perseguição. Essa terrível
A longa história do povoamento humano da América e do Acre começa realidade pendurou por pelo menos trinta anos.
entre 20.000 e 12.000 anos atrás, por grupos humanos provenientes da
Ásia. Segundo alguns pesquisadores, nessa época a Amazônia era uma -o0o-
ampla extensão de savanas, com apenas algumas manchas de floresta ao As secas nordestinas e o apelo econômico da borracha -- produto que
longo dos rios. no fim do século XIX começava sua trajetória de preços altos nos mercados
Com o passar do tempo, a partir de 10.000 anos AP (antes do presen- internacionais -- inscrevem-se entre as causas predominantes na movimen-
te), o clima do planeta começou a esquentar. Isso ocasionou um aumento tação de massas humanas em busca do Eldorado acriano. As penetrações
da umidade e expansão dos sistemas florestais, favorecendo assim a portuguesas do período colonial já haviam atingido seus pontos máximos
proliferação de uma forma terrestre e aquática de pequeno porte. no Brasil durante o século XVIII. Conseqüência inevitável foi a dilatação do
horizonte geográfico na direção oeste, atingindo terras de posse espanhola,
Foi nesse tempo de profundas mudanças climáticas que novas formas fato que se tornou matéria dos tratados de Madri (1750) e de Santo Ildefon-
de organização humanas surgiram, pois os povos pré-históricos passaram so (1777). Ambos os tratados, partindo das explorações feitas por Manuel
a contar com recursos alimentares mais diversificados, além de começar a Félix de Leme nas bacias do Guaporé e do Madeira, estabeleceram como
praticar o plantio de raízes (principalmente mandioca), fabricar cerâmica e a linha divisória das possessões respectivas, na área em questão, os leitos
ocupar os lugares por um tempo mais prolongado. do Mamoré e do Guaporé até seu limite máximo ocidental, na margem
São vestígios dessa época que constituem os sítios arqueológicos exis- esquerda do Javari.
tentes no Estado. Sítios de povos ceramistas em sua maioria, que incluem
os sítios com grandes formas geométricas de terra, que variam entre 350 a
150 metros de diâmetro, construídos principalmente em ares de terra firme.
Mas não só, por todos os vales acreanos centenas de sítios arqueológicos
História do Acre 1 A Opção Certa Para a Sua Realização
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sando centenas de cearenses, que rumaram para os seringais em busca de
trabalho.
O avanço da migração cearense processou-se até as margens do Ju-
ruá e acelerou a ocupação das terras que mais tarde a Bolívia reclamaria.
Os grandes leitos fluviais e a rede de seus tributários eram então intensa-
mente trafegados por flotilhas de embarcações do mais variado porte,
transportando colonos, mercadorias e material de abastecimento para os
núcleos mais afastados. Os governos do Amazonas e do Pará logo instituí-
ram as chamadas "casas aviadoras", que financiavam vários tipos de
operações, garantiam créditos e promoviam o incentivo comercial nos
seringais.
Planta nativa, a seringueira escondia-se no emaranhado de outras ár-
vores, igualmente nativas, obrigando o homem que saía no encalço da
borracha a construir um verdadeiro labirinto, com trilhas em ziguezague na
selva. Do seringal surgiu a figura humana do seringueiro, associado à
planta para explorá-la. Seringueiro-patrão, beneficiário do crédito da casa
aviadora, e seringueiro-extrator, aviado, por sua vez, do patrão. Um moran-
do no barracão, sempre localizado à beira do rio, com aparências de domí-
nio patriarcal, outro, na barraca, de construção tosca, no meio da selva. (De
1920 em diante usa-se o neologismo seringalista para designar o patrão.)
Completara-se, assim, antes de findar o século XIX, a ocupação brasi-
leira do espaço geográfico do Acre, onde mais de cinqüenta mil pessoas
formavam, no recesso da mata dos três vales hidrográficos, uma sociedade
original, cujo objetivo único era produzir borracha. Todo esse labor, porém,
O povoamento da zona, estimulado pela criação da nova capitania real
se operava no solo da Bolívia, país que, por fatalidade da geografia, não
de Mato Grosso (1751), deu-se na direção da fronteira, surgindo alguns
pudera completar a integração social e econômica, e mesmo política e
centros importantes: Vila Bela (1752), às margens do Guaporé, Vila Maria
geográfica, dos extensos vales do Acre, do alto Purus e do alto Juruá na
(1778), no rio Paraguai, e Casalvasco (1783). Até meados do século XIX
comunidade nacional.
não se pensou em povoamento sistemático da área. Nessa época, o gran-
de manancial virgem de borracha que aí se encontra atraíra o interesse Com efeito, o artigo 1º do Tratado de Ayacucho, concluído pelo Brasil e
mundial, provocando sua colonização de modo inteiramente espontâneo. pela Bolívia em 1867, mandara que a linha de fronteira fosse uma paralela
tirada da foz do rio Beni com o Mamoré (10o20'), até encontrar a nascente
A política econômica do império, orientada para a atividade agrário-
do Javari. Com um adendo: se o Javari tivesse as nascentes ao norte
exportadora com base no café, não comportava o aproveitamento e a
dessa linha leste-oeste, a fronteira correria, desde a mesma latitude, por
incorporação dos territórios do extremo ocidental. Desse descaso resultou
uma reta a buscar a origem principal do Javari.
que no Atlas do Império do Brasil (1868), de Cândido Mendes de Almeida,
modelar em seu tempo, não figurassem o rio Acre e seus principais tributá- No ano de 1877, no entanto, época dos primeiros estabelecimentos de
rios, completamente desconhecidos dos geógrafos. brasileiros no Acre, ninguém sabia por onde passava o limite previsto
naquele tratado. Ignorava-se, por outra parte, a exata latitude da nascente
Apesar de tal política, alguns sertanistas brasileiros exploravam aquela
do Javari. Eram problemas técnico-geográficos difíceis de solver com
região agreste e despovoada, desconhecendo se pertenciam ao Brasil, ao
presteza, devido à falta de recursos materiais. A direção dos rios da borra-
Peru ou à Bolívia. Assim, ainda em meados do século XIX, no impulso que
cha foi a trilha natural da conquista nordestina (sobretudo do cearense), da
a procura da borracha ocasionou, solicitada que era no mercado internacio-
qual também participaram grupos de paraenses e amazonenses.
nal, várias expedições esquadrinharam a área, buscando facilitar a instala-
ção dos colonos. Nessa época, João Rodrigues Cametá iniciou a conquista A questão acriana. Em 1890, um oficial boliviano, Juan Manuel Pando,
do rio Purus; Manuel Urbano da Encarnação, índio mura grande conhece- alertou seu governo para o fato de que na bacia do Juruá havia mais de
dor da região, atingiu o rio Acre, subindo-o até as proximidades do Xapuri; e 300 seringais, com a ocupação dos brasileiros implantando-se cada vez
João da Cunha Correia alcançou a bacia do alto Tarauacá. Todo esse mais rapidamente em solo da Bolívia. A penetração brasileira avançara em
desbravamento se deu, na maior parte, em terras bolivianas. profundidade para oeste do meridiano de 64o até além do de 72o, numa
extensão de mais de mil quilômetros, muito embora já estivessem fixadas
As atividades exploradoras, a importância industrial das reservas de
as fronteiras acima da confluência do Beni-Mamoré, segundo o tratado de
borracha e a penetração de colonos brasileiros na região suscitaram o
1867.
interesse da Bolívia, que solicitou melhor fixação de limites. Após várias
negociações fracassadas, em 1867 assinou-se o Tratado de Ayacucho, que Nomeou-se, em 1895, nova comissão para o ajuste da divisória. O re-
reconhecia o uti possidetis colonial. A divisória foi estabelecida pelo parale- presentante brasileiro, Taumaturgo de Azevedo, demitiu-se após verificar
lo da confluência dos rios Beni-Mamoré, em direção ao leste, até a nascen- que a ratificação do tratado de 1867 iria prejudicar os seringueiros ali esta-
te do Javari, embora ainda não fossem conhecidas as cabeceiras desse rio. belecidos. Em 1899, os bolivianos estabeleceram um posto administrativo
em Puerto Alonso, cobrando impostos e lançando taxas aduaneiras sobre
Ocupação cearense. À proporção que subia no mercado o preço da
as atividades dos brasileiros. No ano seguinte, o Brasil aceitou a soberania
borracha, crescia a demanda e aumentava a corrida para a Amazônia. Os
da Bolívia na zona, quando reconheceu oficialmente os antigos limites na
seringais multiplicavam-se, assim, pelos vales do Acre, do Purus e, mais a
confluência Beni-Mamoré.
oeste, do Tarauacá: em um ano (1873-1874), na bacia do Purus, a popula-
ção subiu de cerca de mil para quatro mil habitantes. Por outro lado, o Os seringueiros, alheios às tramitações diplomáticas, julgaram lesados
governo imperial, já sensível às ofertas decorrentes da procura da borra- seus interesses e iniciaram movimentos de rebeldia. No mesmo ano em
cha, considerou brasileiro todo o vale do Purus. que a Bolívia implantou administração em Puerto Alonso (1899), registra-
ram-se duas sérias contestações.
Também na segunda metade do século XIX registraram-se perturba-
ções no equilíbrio demográfico e geo-econômico do império, com o surto Em abril, um advogado cearense, José Carvalho, liderou uma ação ar-
cafeeiro no Sul canalizando os recursos financeiros e de mão-de-obra, em mada, que culminou na expulsão das autoridades bolivianas. Logo depois a
detrimento do Nordeste. O empobrecimento crescente dessa região impul- Bolívia iniciou negociações com um truste anglo-americano, o Bolivian
sionou ondas migratórias em direção ao Rio de Janeiro, Minas Gerais e Syndicate, a fim de promover, com poderes excepcionais (cobranças de
São Paulo. O movimento de populações tornou-se particularmente ativo impostos, força armada), a incorporação política e econômica do Acre a seu
durante a seca prolongada no interior nordestino, de 1877 a 1880, expul- território. O governador do Amazonas, José Cardoso Ramalho Júnior,
informado do ajuste por um funcionário do consulado boliviano em Belém, o

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espanhol Luis Gálvez de Arias, enviou-o à frente de contingentes militares À luz dos títulos brasileiros e dos estudos das comissões mistas que
para ocupar Puerto Alonso. pesquisaram as zonas do Alto Purus e do Alto Juruá, Rio Branco propôs ao
governo do Peru o acerto de limites firmado a 8 de setembro de 1909. Com
Gálvez proclamou ali a República do Acre, tornando-se seu presidente esse ato completou-se a integração político-jurídica do território na comuni-
com o apoio dos seringalistas. O novo estado tinha o objetivo de afastar o dade brasileira.
domínio boliviano para depois pedir anexação ao Brasil, a exemplo do que
fizera o Texas, na América do Norte. Ante os protestos da Bolívia, o presi- De território a estado. A organização administrativa do Acre, decretada
dente Campos Sales extinguiu a efêmera república (março de 1900, oito em 1904, alterou-se em 1912, com a criação de mais um departamento: o
meses após sua criação). Luis Gálvez teve que capitular e retirou-se para a do Alto Tarauacá, desmembrado do departamento do Alto Juruá. De 1920
Europa. até 1962, a administração do território do Acre era unificada, exercida por
um governador, de livre escolha e nomeação do presidente da república. A
Reinstalaram-se, então, os bolivianos na região, onde sofreram, a se- constituição de 1934 concedeu ao território o direito de ter dois represen-
guir, ataque de uma outra expedição que se constituíra em Manaus, com a tantes na Câmara dos Deputados, critério mantido pela constituição de
ajuda do novo governador Silvério Néri, que também se opunha, nos basti- 1946. Em 1957, o deputado federal José Guiomard dos Santos apresentou
dores, ao domínio da Bolívia sobre o Acre, de onde provinham, em forma projeto que elevava o território a estado; daí resultou a lei nº 4.069, de 12
de impostos, grandes quantias para o tesouro estadual. Composta de de junho de 1962. Dois anos depois, o governador José Augusto de Araújo
moços intelectuais, da boêmia de Manaus, a "Expedição dos Poetas" teve suspensos seus direitos políticos. Em 1988, o assassinato do ecologis-
desbaratou-se após rápido combate em frente a Puerto Alonso (dezembro ta Chico Mendes abalou o país, e em 1992 foi morto em São Paulo o pró-
de 1900). prio governador do estado, Edmundo Pinto. ©Encyclopaedia Britannica do
Ação de Plácido de Castro e intervenção diplomática. Por fim, comerci- Brasil Publicações Ltda.
antes e proprietários no rio Acre resolveram entregar a chefia de nova
insurreição a um ex-aluno da Escola Militar de Porto Alegre, José Plácido
-o0o-
de Castro, gaúcho de São Gabriel, que, à frente de um corpo improvisado Brasil X Bolívia pelos seringais
de seringueiros, iniciou operações na vila de Xapuri, no alto Acre, e aí
prendeu as autoridades bolivianas (agosto de 1902). Depois de combates A história do Acre começa a se definir em 1895 quando uma comissão
esparsos e bem-sucedidos, Plácido de Castro assediou Puerto Alonso, demarcatória foi encarregada de definir limites entre Brasil e Bolívia, com
logrando a capitulação final das forças bolivianas (fevereiro de 1903). base no Tratado de Ayacucho, de 1867.

Influíra no espírito de Plácido de Castro o fato de haver a Bolívia arren- No processo demarcatório foi constatado, no ponto inicial da linha divi-
dado o território do Acre a um sindicato estrangeiro (chartered company), sória entre os dois países (nascente do Javari) que a Bolívia ficaria com
semelhante aos que operavam na Ásia e na África. O Bolivian Syndicate, uma região rica em látex, na época ocupada por brasileiros. Reconhecida
constituído por capitais ingleses e americanos, iria empossar-se na admi- legalmente a fronteira Brasil-Bolívia, em 12 de setembro de 1898 a Bolívia
nistração do Acre, dispondo de forças policiais e frota armada. Represen- quis tomar posse da região então ocupada por seringueiros brasileiros, na
tantes dessa companhia chegaram à vila de Antimari (rio Acre), abaixo de vila de Xapuri. Os brasileiros não aceitaram e obrigaram os bolivianos a se
Puerto Alonso, mas desistiram da missão porque os revolucionários domi- retirar da região.
navam todo o rio, faltando pouco para o fim da resistência boliviana. No início de 1899 desembarcou em Puerto Alonso o ministro boliviano,
Aclamado governador do Estado Independente do Acre, Plácido de Dom José Paravicini, com apoio do governo brasileiro, impôs decretos,
Castro organizou um governo em Puerto Alonso. Daí por diante a questão inclusive o de abertura dos rios amazônicos ao comércio internacional,
passou à esfera diplomática. O barão do Rio Branco assumira o Ministério cobrou altos impostos sobre a borracha, demarcou seringais e oprimiu os
do Exterior e seu primeiro ato foi afastar o Bolivian Syndicate. Os banquei- nativos da região. O período dessa atuação ficou na história como os "Cem
ros responsáveis pelo negócio aceitaram em Nova York a proposta do dias de Paravicini".
Brasil: dez mil libras esterlinas como preço da desistência do contrato A insurreição Acreana ganha seu primeiro ensaio em 1º de maio de
(fevereiro de 1903). Subseqüentemente, Rio Branco ajustou com a Bolívia 1899, quando seringalistas se reúnem no seringal Bom Destino, de Joa-
um modus vivendi que previa a ocupação militar do território, até o paralelo quim Vitor, liderados pelo jornalista José Carvalho e decidem lutar contra o
de 10o20', por destacamentos do exército brasileiro, na zona que se desig- domínio boliviano, O momento coincidia com a viagem de Paravivini para
nou como Acre Setentrional. Do paralelo 10o20, para o sul -- o Acre Meridi- Belém. O Delegado que o substituía, Moisés Santivanez foi expulso. Come-
onal -- subsistiu a governança de Plácido de Castro, sediada em Xapuri. çava a Revolução Acreana. Sem armas ou tiros, os revolucionários brasilei-
A 17 de novembro de 1903, Rio Branco e o plenipotenciário Assis Bra- ros restabeleceram o domínio e criaram a Junta Central Revolucionária.
sil assinaram com os representantes da Bolívia o tratado de Petrópolis, pelo Joaquim Galvez e o Estado Independente do Acre
qual o Brasil adquiriu o Acre por compra (dois milhões de libras esterlinas,
ou 36.268 contos e 870 mil-réis em moeda e câmbio da época), e por troca Em 03 de junho de 1899 entra no cenário da Revolução do Acre o jor-
de territórios (pequenas áreas no Amazonas e no Mato Grosso). Em con- nalista espanhol Luis Galvez, que denuncia nos jornais paraenses uma
seqüência, dissolveu-se o Estado Independente, passando o Acre Meridio- aliança entre Bolívia e Estados Unidos. Os EUA apoiariam militarmente os
nal e o Acre Setentrional a constituírem o Território Brasileiro do Acre, bolivianos em caso de guerra contra o Brasil.
organizado, segundo os termos da lei no 1.181, de 25 de fevereiro de 1904,
Enquanto o governo brasileiro continuava reconhecendo os direitos da
e do decreto 5.188, de 7 de abril de 1904, em três departamentos adminis-
Bolívia sobre a região, revolucionários decidem pela fundação do Estado
trativos: o do Alto Acre, o do Alto Purus e o do Alto Juruá, chefiados por
Independente do Acre.
prefeitos da livre escolha e nomeação do presidente da república.
Os revolucionários, em 14 de julho de 1899 - escolhida por ser a data
Solucionada a parte da Bolívia, um outro caso tinha de ser resolvido
de aniversário da Queda da Bastilha durante a Revolução Francesa -
com o Peru. O governo de Lima, alegando validez de títulos coloniais,
concretizam a criação do Estado Independente do Acre, com capital na
reivindicava todo o território do Acre e mais uma extensa área do estado do
Cidade do Acre, antes chamado Puerto Alonso. Luis Galvez, não poderia
Amazonas. Delegações administrativas e militares desse país tentaram
ser diferente, foi aclamado presidente do novo país.
estabelecer-se no Alto Purus (1900, 1901 e 1903) e no Alto Juruá (1898 e
1902). Os brasileiros, com seus próprios recursos, forçaram os peruanos a Galvez buscou o reconhecimento internacional, elaborou legislação,
abandonar o Alto Purus (setembro de 1903). mas também desagradou seringalistas, aviadores e exportadores e acabou
sendo deposto em 28 de dezembro de 1899 pelo seringalista Antônio de
Rio Branco, para evitar novos conflitos, sugeriu um modus vivendi para
Souza Braga, que não se garantiu no comando e devolveu o posto a Gal-
a neutralização de áreas no Alto Purus e no Alto Juruá e o estabelecimento
vez, em 30 de janeiro de 1900. Em 15 de março de 1900 o governo federal
de uma administração conjunta (julho de 1904). Isso não impediu um confli-
enviou força da marinha brasileira para o Acre. Galvez foi destituído e o
to armado entre peruanos e um destacamento do exército brasileiro em
Acre voltou ao domínio Boliviano.
serviço no recém-criado departamento do Alto Juruá. A luta findou com a
retirada das forças peruanas.

História do Acre 3 A Opção Certa Para a Sua Realização


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O governo do Amazonas também tinha pretensões de anexar o Acre Influíra no espírito de Plácido de Castro o fato de haver
ao estado e decidiu financiar a expedição Floriano Peixoto ou Expedição a Bolívia arrendado o território do Acre a um sindicato estrangeiro (charte-
dos Poetas, que levou para a área boêmios e profissionais liberais de red company), semelhante aos que operavam na Ásia e na África.
Manaus. Em 29 de dezembro de 1900, em Puerto Alonso, os poetas foram O Bolivian Syndicate, constituído por capitais ingleses e americanos, iria
derrotados. empossar-se na administração do Acre, dispondo de forças policiais e frota
armada. Representantes dessa companhia chegaram à vila de Antimari (rio
Em 11 de julho de 1901 a Bolívia assina contrato de arrendamento do Acre), abaixo de Puerto Alonso, mas desistiram da missão porque os
Acre com capitalistas norte-americanos e ingleses, que chegaram para revolucionários dominavam todo o rio, faltando pouco para o fim da resis-
instalar o Bolivian Syndicate, para a opinião pública uma ameaça à sobera- tência boliviana.
nia nacional. O governo federal finalmente percebe os riscos e possíveis
perdas e interfere, salvando a Amazônia do domínio imperialista. Aclamado governador do Estado Independente do Acre, Plácido de
Castro organizou um governo em Puerto Alonso. Daí por diante a questão
http://www.topgyn.com.br/conso32/conso32a26.php passou à esfera diplomática. O barão do Rio Branco assumira o Ministério
do Exterior e seu primeiro ato foi afastar o Bolivian Syndicate. Os banquei-
Revolução Acreana ros responsáveis pelo negócio aceitaram em Nova York a proposta
do Brasil: dez mil libras esterlinas como preço da desistência do contrato
Em 1890, um oficial boliviano, José Manuel Pando, alertou seu governo (fevereiro de 1903).
para o fato de que na bacia hidrográfica do Juruáhavia mais de
300 seringais, com a ocupação dos brasileiros implantando-se cada vez Subseqüentemente, Rio Branco ajustou com a Bolívia um modus vi-
mais rapidamente em solo da Bolívia. A penetração brasileira avançara em vendi que previa a ocupação militar do território, até o paralelo de 10º20',
profundidade para oeste do meridiano de 64º até além do de 72º, numa por destacamentos do Exército Brasileiro, na zona que se designou como
extensão de mais de mil quilômetros, muito embora já estivessem fixadas Acre Setentrional. Do paralelo 10º20, para o sul — o Acre Meridional —
as fronteiras acima da confluência do Beni-Mamoré, segundo o tratado de subsistiu a governança de Plácido de Castro, sediada em Xapuri.
1867. A 17 de novembro de 1903, Rio Branco e o plenipotenciário Assis Bra-
Nomeou-se, em 1895, nova comissão para o ajuste da divisória. O re- sil assinaram com os representantes da Bolívia o tratado de Petrópolis, pelo
presentante brasileiro, Gregório Taumaturgo de Azevedo, demitiu-se após qual o Brasil adquiriu o Acre por compra (dois milhões de libras esterlinas,
verificar que a ratificação do tratado de 1867 iria prejudicar os seringueiros ou 36.268 contos e 870 mil-réis em moeda e câmbio da época), e por troca
ali estabelecidos. Em 1899, os bolivianos estabeleceram um posto adminis- de territórios (pequenas áreas no Amazonas e no Mato Grosso).
trativo em Puerto Alonso, cobrando impostos e lançando taxas aduaneiras Em conseqüência, dissolveu-se o Estado Independente, passando o
sobre as atividades dos brasileiros. No ano seguinte, o Brasil aceitou a Acre Meridional e o Acre Setentrional a constituírem o Território Brasilei-
soberania da Bolívia na zona, quando reconheceu oficialmente os antigos ro do Acre, organizado, segundo os termos da lei n° 1.181, de 25 de feve-
limites na confluência Beni-Mamoré. reiro de 1904, e do decreto 5.188, de 7 de abril de 1904, em três departa-
Os seringueiros, alheios às tramitações diplomáticas, julgaram lesados mentos administrativos: o do Alto Acre, o do Alto Purus e o do Alto Juruá,
seus interesses e iniciaram movimentos de rebeldia. No mesmo ano em chefiados por prefeitos da livre escolha e nomeação do presidente da
que a Bolívia implantou administração em Puerto Alonso (1899), registra- república.
ram-se duas sérias contestações. Solucionada a parte da Bolívia, um outro caso tinha de ser resolvido
Em abril, um advogado cearense, José Carvalho, liderou uma ação ar- com o Peru. O governo de Lima, alegando validez de títulos coloniais,
mada, que culminou na expulsão das autoridades bolivianas. Logo depois a reivindicava todo o território do Acre e mais uma extensa área do estado
Bolívia iniciou negociações com um truste anglo-americano, o Bolivian do Amazonas. Delegações administrativas e militares desse país tentaram
Syndicate, a fim de promover, com poderes excepcionais (cobranças de estabelecer-se no Alto Purus (1900,1901 e 1903) e no Alto Juruá (1898
impostos, força armada), a incorporação política e econômica do Acre a seu e 1902). Os brasileiros, com seus próprios recursos, forçaram os peruanos
território. O governador do Amazonas, José Cardoso Ramalho Júnior, a abandonar o Alto Purus (setembro de 1903).
informado do ajuste por um funcionário do consulado boliviano em Belém, o Rio Branco, para evitar novos conflitos, sugeriu um modus vivendi para
espanhol Luis Gálvez Rodríguez de Arias, enviou-o à frente de contingentes a neutralização de áreas no Alto Purus e no Alto Juruá e o estabelecimento
militares para ocupar Puerto Alonso. de uma administração conjunta (julho de 1904). Isso não impediu um confli-
Gálvez proclamou ali a República do Acre, tornando-se seu presidente to armado entre peruanos e um destacamento do exército brasileiro em
com o apoio dos seringalistas. O novo estado tinha o objetivo de afastar o serviço no recém-criado departamento do Alto Juruá. A luta findou com a
domínio boliviano para depois pedir anexação ao Brasil, a exemplo do que retirada das forças peruanas.
fizera o Texas, na América do Norte. Ante os protestos da Bolívia, o presi- À luz dos títulos brasileiros e dos estudos das comissões mistas que
dente Campos Sales extinguiu a efêmera república (março de 1900, oito pesquisaram as zonas do Alto Purus e do Alto Juruá, Rio Branco propôs ao
meses após sua criação). Luis Gálvez teve que capitular e retirou-se para governo do Peru o acerto de limites firmado a 8 de setembro de Com esse
a Europa. ato completou-se a integração político-jurídica do território na comunidade
Reinstalaram-se, então, os bolivianos na região, onde sofreram, a se- brasileira.
guir, ataque de uma outra expedição que se constituíra em Manaus, com a
ajuda do novo governador Silvério Néri, que também se opunha, nos basti-
dores, ao domínio da Bolívia sobre o Acre, de onde provinham, em forma
-o0o-
de impostos, grandes quantias para o tesouro estadual. Composta de A região que corresponde ao atual estado brasileiro do Acre era uma
moços intelectuais, da boêmia de Manaus, a "Expedição dos Poetas" possessão da América espanhola, de acordo com o Tratados Hispano-
desbaratou-se após rápido combate em frente a Puerto Alonso (dezembro Portugueses de 1750(Tratado de Madrid), 1777 (Santo-Ildefonso)
de 1900). e 1801 (Badajoz). Havia naquela região uma busca intensa por látex, que
fez gerar conflitos fronteiriços. Os seringueirosdo Brasil subiram os rios
Ação de Plácido de Castro e intervenção diplomática
Purus e Acre e ocuparam os seus afluentes, estimulando assim o povoa-
Por fim, comerciantes e proprietários no rio Acre resolveram entregar a mento da região.
chefia de nova insurreição a um ex-aluno da Escola Militar de Porto Ale-
Com a Comissão Demarcadora de Limites, ocorrida em 1898, e após
gre, José Plácido de Castro, gaúcho de São Gabriel, que, à frente de um
as independências da América Latina, o Brasil reconheceu aquela zona
corpo improvisado de seringueiros, iniciou operações na vila de Xapuri, no
como boliviana, através do tratado de limites. No entanto, a região é de
alto Acre, e aí prendeu as autoridades bolivianas (agosto de 1902). Depois
difícil acesso, e não houve efetiva ocupação boliviana.
de combates esparsos e bem-sucedidos, Plácido de Castro assedi-
ou Puerto Alonso, logrando a capitulação final das forças bolivianas (feve- O tratado determinava que a fronteira entre Brasil e Bolívia seria defini-
reiro de 1903). da por uma linha reta entre a foz do rio Abunã no rio Madeira e a nascente

História do Acre 4 A Opção Certa Para a Sua Realização


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do rio Javari, ainda desconhecida. Portanto, a fronteira estava determinada, brados pelas histórias de fome, do impaludismo (hoje mais conhecido como
mas não era definitiva. Algumas missões encarregadas de determinar a malária), do beri-beri e das feridas brabas que nunca saravam.
nascente do Javari não tiveram sucesso, enquanto a ocupação daquela
parte do território boliviano por seringueiros brasileiros (em sua maiori- A terra do ouro negro, das terras inesgotáveis e inexploradas, das árvo-
a, nordestinos fugindo da seca) era um fato.Era um fato também o jeito que res fartas em um leite que valia como ouro e da fortuna rápida, logo se
eles trabalham, era incrivelmente brusco. transformava diante dos olhos incrédulos dos imigrantes nordestinos,
gaúchos, cariocas, espanhóis, italianos e sírio-libaneses em terrível “inferno
Pontos mais importantes verde”, devorador de almas.
O tratado estabeleceu definitivamente as fronteiras entre Brasil e Bolí-
via, compensando a anexação do Acre por meio da cessão de pequenos Porém, para boa parte desses homens não havia retorno possível. Pa-
territórios próximos à foz do rio Abunã (numa região próxima ao Acre) e na ra os fugitivos da Guerra de Canudos, para os rebelados dos pampas
bacia do rio Paraguai, do pagamento da quantia de 2 milhões de libras gaúchos, para os tangidos pela seca, para os repudiados de toda sorte, não
esterlinas, o correspondente a, atualmente, 630 milhões de reais. havia outro caminho possível senão a floresta que a todos acolhia e escon-
dia. A única opção era mesmo encarar a solidão das colocações de serin-
Como a Bolívia perdeu, após guerra com o Chile, sua saída para o ga, dias e dias internados mata adentro, ou a falta de leis e de condições
mar, dois artigos do Tratado de Petrópolis obrigaram o Brasil e a Bolívia a para o seu cumprimento nos raros povoados espalhados ao longo dos rios.
estabelecerem um Tratado de Comércio e Navegação que permitisse à
Bolívia usar os rios brasileiros para alcançar o oceano Atlântico. Além Seria necessário que uma figura de renome nacional como Euclides da
disso, a Bolívia poderia estabelecer alfândegas Cunha, viesse ao Acre (em 1905) para desmentir os mitos sobre o clima e o
em Belém, Manaus, Corumbá e outros pontos da fronteira entre os dois meio amazônico. Através de artigos como “Um clima caluniado” e “Rios em
países, assim como o Brasil poderia estabelecer aduanas na fronteira com abandono” - depois reunidos no livro “À margem da história” - Euclides
a Bolívia. deixou claro que a raiz dos males que afligiam a população espalhada ao
O Brasil assumiu também a obrigação de construir uma ferrovia "desde longo dos rios acreanos não era o meio ambiente, mas as condições de
o porto de Santo Antônio, no rio Madeira, até Guajará-Mirim, no Mamoré", transporte e de trabalho que matavam anualmente milhares de homens. Os
com um ramal que atingisse o território boliviano. Era a Estrada de Ferro vapores circulavam levando e trazendo gentes, mercadorias, animais e
Madeira-Mamoré.Por fim, o Brasil se obrigava a demarcar a nova fronteira produtos do extrativismo florestal em total promiscuidade, sem a menor
com o Peru. A licitação para a ferrovia foi realizada em 1905; as obras preocupação com a higiene e a saúde dos passageiros. A alimentação,
foram iniciadas em 1907 e concluídas em 1912. tanto nessas embarcações como nos próprios seringais, era a pior possível.
E o trabalho imposto aos seringueiros nos primeiros tempos era sobre-
Além da questão territorial, havia um componente econômico em dispu- humano.
ta: a fonte de uma das matérias-primas mais valorizadas no mercado
internacional, o látex, responsável pelos milhões de dólares movimentados Apesar de tantos obstáculos, reais ou imaginários, há pouco mais de
pela indústria mundial da borracha. um século o povoamento do Acre se realizou e conseguiu fixar uma socie-
dade que vivia da e na floresta, longe dos mitos da insalubridade, desco-
brindo modos e estratégias para desfrutar de uma vida saudável em plena
2 A chegada dos "paulistas" nas terras acreanas a partir dos anos Amazônia. Isso aconteceu há apenas cento e vinte anos.
70: êxodo rural, conflitos pela terra e invasões do espaço urbano.
A luta com os outros
Uma breve história da luta acreana
O Acre é hoje um estado multiétnico. Sua população é constituída por “Terras incontestavelmente bolivianas”. Assim se expressavam as au-
descendentes de todas as raças que historicamente formaram a sociedade toridades brasileiras sobre as terras ao sul da linha oblíqua imaginária que,
brasileira. Ainda possui 14 etnias indígenas reconhecidas e organizadas, desde o Tratado de Ayacucho (1867), marcava a fronteira entre o Brasil e a
além de grupos de índios isolados dentro da floresta vivendo como há cinco Bolívia. Enquanto não houve ocupação efetiva da terra estava tudo bem,
mil anos. Esta sociedade multifacetada apresenta, entretanto, uma intensa mas tão logo o mercado internacional demandou maior produção de borra-
identificação sócio-cultural. O sentimento de ser acreano é muito mais cha e a região foi povoada, a questão das fronteiras se tornou um grave
amplo que as fronteiras desse pequeno estado situado no extremo ociden- conflito entre nacionalidades.
tal da Amazônia brasileira.
A partir de 1880 grandes levas de imigrantes nordestinos penetraram
Esta característica, facilmente percebida por qualquer pessoa que co- livremente naqueles territórios sem dono e sem lei. Os rios Purus e Juruá,
nheça o Acre, é ainda mais surpreendente ao pensarmos que esta identi- como afluentes do rio Amazonas, davam acesso direto aos vapores prove-
dade histórica e cultural do povo acreano tem apenas 100 anos de reco- nientes de Belém e Manaus, trazendo milhares de brasileiros e levando
nhecimento. Um século apenas, breve, mas intenso o suficiente para forjar toneladas de borracha. Já os bolivianos possuíam contra eles a direção de
um povo consciente e orgulhoso de suas raízes. Alguma coisa deve haver seus rios mais explorados que levavam para o rio Madeira e não para as
de especial nesse lugar que criou as condições para que tivéssemos ho- terras acreanas, caminhos que passavam por grupos indígenas Pano muito
mens como Wilson Pinheiro e Chico Mendes. E a compreensão do que se aguerridos na defesa de seu território e uma sociedade andina que apre-
passou no Acre nos anos 70 e 80 culminando com o assassinato de Chico sentava grandes dificuldades de povoamento na planície amazônica.
Mendes não pode ser completa sem consciência da gênese desse povo e
de sua trajetória histórica. Ao surgirem as primeiras proclamações bolivianas de posse do Acre,
em 1895, os brasileiros já estavam ali situados há pelo menos 15 anos.
A luta com o meio Com grandes e produtivos seringais que comerciavam sua borracha com as
casas aviadoras de Manaus e Belém e através destas, com os centros
O povoamento do Acre, como de boa parte da Amazônia, foi feito sob o consumidores na Inglaterra, França, Alemanha, Holanda e Estados Unidos.
signo da malignidade do meio ambiente. Os exploradores europeus, já O povoamento brasileiro dos altos rios Purus e Juruá era já um fato consu-
escolados por muitos séculos de expedições por todas as partes do plane- mado.
ta, eram os primeiros a anunciar o caráter maléfico da umidade, da imensa
quantidade de insetos, da insalubridade geral das florestas tropicais. Princi- Ainda assim, mal se iniciava o ano de 1899, quando o governo da Bolí-
palmente a maior de todas, a Amazônia. No ambiente amazônico tudo é via tentou uma cartada decisiva: ocupar militarmente o rio Acre enquanto
grande e farto; porque haveria de ser diferente com relação as suas febres negociava um contrato de arrendamento com capitalistas europeus e norte-
e endemias? americanos interessados na exploração da borracha da região. Entretanto,
a ocupação do Acre não seria tão fácil.
Por isso, quando os primeiros nordestinos começaram a afluir para a
Amazônia - e especialmente para o Acre - as notícias eram aterradoras. Os Logo, alguns brasileiros revoltados contra as duras medidas alfandegá-
retirantes que fugiam da secas do sertão iam pelo caminho sendo assom- rias dos bolivianos decidiram contestar a administração estrangeira daquele

História do Acre 5 A Opção Certa Para a Sua Realização


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território povoado por brasileiros. Assim, sem nenhum aviso, já em maio de Finalmente, depois de quatro anos de resistência armada, o Acre pas-
1899, ocorria a Primeira Insurreição Acreana, quando os bolivianos foram sou a fazer parte do Brasil e os brasileiros do Acre conquistaram o direito
pela primeira vez expulsos de Puerto Alonso, o povoado que eles mesmos de se autodenominar acreanos. Isso aconteceu há apenas um século.
haviam fundado nas margens do rio Acre.
A luta com os mesmos
Enquanto isso tudo se dava, Luiz Galvez - espanhol de nascimento,
mas cidadão do mundo por vocação - partia de Manaus para o Acre. Gal- O governo do Amazonas esperava que as ricas terras acreanas lhe
vez levava o apoio velado do governo amazonense já que o governo brasi- fossem concedidas depois de anexadas ao Brasil. Afinal de contas o Ama-
leiro exigia o fim dos conflitos no Acre e a devolução do território aos bolivi- zonas havia investido grandes somas na Revolução Acreana em suas
anos. E foi durante o encontro dos seringalistas do Acre com Galvez que diferentes etapas. Mas os acreanos haviam arriscado não só terras e
surgiu uma solução para o impasse em que estavam metidos os revoltosos. fortunas, como suas próprias vidas nas trincheiras e varadouros da guerra
contra os bolivianos. Era justo então esperar que o Acre se tornasse o mais
Com a palavra de ordem: “Já que nossa pátria não nos quer, criamos novo estado da federação brasileira e seus cidadãos pudessem usufruir os
outra” Galvez e os brasileiros da região proclamaram criado o “Estado mesmos direitos políticos básicos de qualquer brasileiro.
Independente do Acre”. Uma republica da borracha fundada no dia 14 de
julho de 1899, de forma a reverenciar a Revolução Francesa que 110 anos Contra todas as expectativas, o governo federal decidiu não atender a
antes havia estabelecido os princípios da liberdade, igualdade e fraternida- ninguém, senão a seus próprios interesses. No principio de 1904, o Acre se
de fundamentais para a formação da cidadania burguesa contemporânea. tornou o primeiro Território Federal da história brasileira. Exemplo de um
novo sistema político-administrativo, não previsto na Constituição, que
Foram oito meses de governo do Presidente Galvez. Meses nos quais estabelecia que o Acre seria administrado diretamente pela Presidência da
se tentou organizar escolas, estabelecer normas de saúde e instituir uma Republica, a quem caberia nomear seus governantes e arrecadar impostos.
legislação de exploração racional da borracha adaptada às condições
ambientais locais. Oito meses de ordem em uma região que nunca havia Para justificar sua atitude o governo federal alegou que precisaria re-
conhecido a mínima organização política ou administrativa. Um Estado cuperar o capital utilizado para afastar o Bolivian Syndicate das negocia-
Independente cujo maior objetivo era se libertar do domínio boliviano para ções de limites. Também precisava cumprir as clausulas previstas no
ser anexado ao Brasil. Tratado de Petrópolis: indenização de dois milhões de libras esterlinas e a
construção da ferrovia Madeira-Mamoré. Por isso, toda a estupenda arre-
Entretanto, o presidente Campos Sales estava mais preocupado com o cadação de impostos sobre a borracha acreana teria que ser canalizada
funding loan, com a política dos governadores e com o apoio da oligarquia para os cofres da União.
cafeeira do que com a sorte dos brasileiros da longínqua Amazônia ociden-
tal. Assim, já em março de 1900, chegavam ao Acre três navios da marinha O resultado imediato da surpreendente medida do governo brasileiro foi
brasileira para prender Galvez e devolver aquelas terras à Bolívia. Ainda que a sociedade acreana passou a uma condição de tutela e dependência
que os jornais das principais cidades brasileiras não se cansassem de do poder executivo federal sem precedentes na história brasileira.
denunciar o inteiro absurdo da situação.
Como Território, o Acre não teria direito a uma Constituição própria
Mas, mesmo com o apoio do governo brasileiro, as autoridades bolivia- como os outros estados federados; não poderia arrecadar seus impostos,
nas não conseguiram pacificar a região. Os “revolucionários” brasileiros se dependendo dos repasses orçamentários do governo federal – que eram
mantiveram mobilizados e em constante atitude de confronto. O Governo sempre infinitamente inferiores às necessidades de uma região onde tudo
do Amazonas, mesmo contra a vontade federal, continuava apoiando a luta estava por fazer – e sua população não poderia votar para as funções
acreana e chegou a financiar a famosa “Expedição dos Poetas”, poderosa executivas ou legislativas (que sequer existiam) na região.
em ideais e frágil em combate, cujo maior resultado foi ter mantido viva a
luta contra a dominação boliviana. Portanto, os acreanos que haviam conquistado pelas armas o direito de
serem brasileiros, ao alcançar a vitória foram condenados a serem cida-
Até que, nos primeiros meses de 1902, a notícia da constituição do Bo- dãos de segunda categoria em seu próprio país. Enquanto isso o Presiden-
livian Syndicate desabou sobre a opinião pública nacional. Essa companhia te da Republica - de seu gabinete no Rio de Janeiro a mais de quatro mil
comercial de capital anglo-americano estava arrendando o Acre pelo prazo quilômetros de distancia dos problemas acreanos - nomeava sucessiva-
de vinte anos com amplos poderes territoriais, militares e alfandegários. mente militares, magistrados ou políticos derrotados para governar o Terri-
Seu contrato com a Bolívia implicava também na livre navegação interna- tório Federal do Acre.
cional dos rios amazônicos e feria frontalmente a soberania brasileira sobre
a Amazônia. Começava assim uma nova etapa de lutas da sociedade acreana. Ago-
ra não mais contra os estrangeiros, mas contra o governo de seu próprio
Enquanto o governo federal era sacudido de sua letargia pelo clamor país. Pois logo se perceberia que das fabulosas somas arrecadadas sobre
nacional, os brasileiros do Acre mantinham a resistência armada contra os a exportação de borracha e sobre a importação de mercadorias para abas-
bolivianos. A notícia do Bolivian Syndicate precipitou os acontecimentos tecer os seringais, o governo federal mandava apenas uma pequena parte
que se configuraram como uma verdadeira guerra. para a administração do Território, onde não havia escolas, hospitais ou
quaisquer outras estruturas públicas. Além disso, os governantes nomea-
De um lado o exército regular da Bolívia entrincheirado em alguns pon- dos para o Acre não possuíam o menor compromisso com aquela socieda-
tos estratégicos do rio Acre. De outro um exército de seringalistas e serin- de, aproveitando as verbas públicas em proveito próprio e afastando os
gueiros organizados pelo ex-militar Plácido de Castro. Uma guerra que foi acreanos do exercício de cargos políticos ou administrativos. A situação era
conflagrada no Xapuri, em agosto de 1902, e só foi concluída seis meses agravada ainda pela distancia e isolamento das cidades acreanas e pela
depois em Puerto Alonso com um saldo de quinhentos mortos em uma ineficiência do poder judiciário.
população de dez mil indivíduos.
A autonomia política do Acre tornava-se então a nova e necessária
Os brasileiros do Acre mais uma vez haviam expulsado os bolivianos e bandeira de luta do povo acreano. Na verdade, era uma aspiração muito
proclamado o Estado Independente do Acre como forma de obrigar o simples: a transformação imediata do Território Federal do Acre em Estado
governo federal a considerar a região como litigiosa. E tamanha foi a pres- autônomo da federação brasileira. E para lutar por essa causa começaram
são nacional que Rodrigues Alves, recém instalado no cargo de presidente, a ser fundados clubes políticos e organizações de proprietários e/ou de
teve que reverter a posição oficial brasileira estabelecendo negociações trabalhadores em diversas cidades como Xapuri, Rio Branco e Cruzeiro do
que culminaram com a assinatura do Tratado de Petrópolis e anexaram o Sul.
Acre ao Brasil em novembro de 1903.
Em poucos anos a situação social acreana se agravaria muito. Não
bastasse a concorrência da borracha que começava a ser produzida no
sudeste asiático, a partir de sementes amazônicas contrabandeadas pelos

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ingleses, os desmandos cometidos pelos governantes nomeados para o
Acre obrigaram a sociedade a reagir. Nas eleições realizadas ainda em 1962 confrontaram-se os dois gran-
des e hegemônicos partidos da época. Pelo PSD a candidatura ao governo
A radicalização dos conflitos logo produziria novas cicatrizes no tecido do estado coube a sua maior liderança: Guiomard Santos, mineiro de
social acreano. Plácido de Castro, um dos líderes da oposição ao governo nascimento, militar que havia sido governador do Território no fim da déca-
federal, foi assassinado (ainda em 1908) numa emboscada que todos da de 40, dominou a cena política acreana por mais de vinte anos e se
sabiam de antemão que iria ocorrer. Em Cruzeiro do Sul, em 1910, a pri- elegeu por três vezes consecutivas para o cargo de Deputado Federal.
meira revolta autonomista depôs o Prefeito Departamental do Alto Juruá, Como se não bastasse, foi o autor da lei 4.070 que transformou o Acre em
proclamando a criação do Estado do Acre. Cem dias depois, tropas federais Estado. O PTB, a princípio dividido, acabou escolhendo a surpreendente
atacaram os revoltosos e restabeleceram a “ordem” e a tutela. Sena Madu- candidatura de um jovem acreano de Cruzeiro do Sul: o professor José
reira em 1912 e Rio Branco em 1918 também conheceram revoltas auto- Augusto de Araújo de apenas 32 anos.
nomistas que foram igualmente sufocadas à força pelo governo brasileiro.
O que parecia uma barbada política, a vitória fácil de Guiomard Santos,
A sociedade acreana viveu então um dos períodos mais difíceis da sua tornou-se uma enorme surpresa. José Augusto foi eleito o primeiro gover-
história. Os anos 20 foram marcados pela completa decadência econômica nador constitucional da história do Acre. Ou seja, já na primeira oportunida-
provocada pela queda dos preços internacionais da borracha graças à de em que os acreanos puderam decidir seus rumos políticos, deixaram
produção infinitamente mais barata dos seringais de cultivo asiáticos. Os claro seus anseios e escolheram um acreano nato para governar o então
seringais acreanos entraram em falência, uma boa parte dos seringueiros mais novo estado da federação brasileira.
começou a voltar para suas regiões de origem e a desesperança geral
transformou o Acre num “igapó de almas” segundo a descrição de Océlio Entretanto, o peso da história se revelou mais uma vez opressivo para
de Medeiros no livro “A Represa”. Toda a imensa riqueza acumulada duran- a sociedade acreana. Menos de dois anos depois da eleição de José Au-
te os anos áureos da borracha amazônica havia sido drenada para os gusto, o Brasil sofreu um golpe militar que mudaria também, e bruscamen-
cofres federais relegando o Acre ao completo abandono oficial. te, os rumos da história do Acre. Diante de um governo com problemas
políticos internos, apesar de seu caráter popular, o capitão do exército
Era tempo de se buscar novas formas de organização social e de en- Edgar Cerqueira cercou o Palácio Rio Branco e exigiu a renuncia de José
contrar novos produtos que pudessem substituir a borracha no comércio Augusto. Acabava, ainda em 1964, com pouco mais de um ano de duração,
internacional. Os seringais se transformaram em unidades produtivas mais o primeiro governo constitucional e democrático do Estado do Acre.
complexas. Teve início a pratica de uma agricultura de subsistência que
diminuía a dependência de produtos importados, uma intensificação da Mais uma vez a sociedade acreana seria obrigada a conviver com go-
colheita e exportação da castanha e o crescimento do comércio de “peles vernantes indicados pelo poder federal, condição que perduraria até 1982,
de fantasia”, como era chamado então o couro de animais silvestres da quando a “abertura lenta, gradual e segura” voltaria a permitir novas mani-
fauna amazônica. Começavam assim, impulsionadas pela necessidade, as festações democráticas, não só no Acre, como no resto do país.
primeiras experiências de manejo dos recursos florestais acreanos.
Entretanto, as conseqüências da Ditadura Militar para o Acre, como pa-
Além disso, a escassez da mão de obra nordestina levou ao emprego ra boa parte da Amazônia brasileira, foram muito mais profundas e doloro-
crescente das comunidades indígenas remanescentes nos seringais e os sas do que aquelas relativas ao exercício dos direitos políticos. O início da
comerciantes sírio-libaneses substituíram as casas aviadoras de Belém e década de 70 foi marcado por uma nova diretriz governamental para o
Manaus na função de abastecer os barracões e manter ativos os seringais “progresso econômico” da região. Sob o discurso de “integrar para não
acreanos. Entretanto, a situação de tutela política sobre a sociedade acrea- entregar” foi estimulada uma nova ocupação da Amazônia, com grandes
na se mantinha inalterada. projetos mineradores, madeireiros e agropecuários recebendo financiamen-
to internacional e incentivos fiscais em nome de uma pretensa defesa da
Nem mesmo o novo período de prosperidade da borracha, provocado soberania brasileira.
pela Segunda Guerra Mundial, foi capaz de modificar esse quadro. Durante
três anos (1942-1945) a “Batalha da Borracha” trouxe milhares de famílias No Acre o resultado mais evidente dessa política desenvolvimentista foi
nordestinas para o Acre, repovoando e enriquecendo novamente os serin- a “invasão dos paulistas”, como eram chamados genericamente os novos
gais. imigrantes que vinham do sul do país atrás de terras fartas e baratas.
Assim, o Acre ajudava a aliviar os conflitos rurais da região Sul e ganhava
Essa melhoria do contexto econômico fez com que os anseios autono- uma nova política econômica que, segundo seus apologistas, seria capaz
mistas ganhassem nova força. Mas os acreanos teriam que esperar ainda de substituir com vantagens o já combalido extrativismo da borracha.
quase vinte anos para ver sua antiga aspiração de autonomia política ser
realizada. Só em 1962, os acreanos conseguiram através de uma longa Com a transformação do Banco da Borracha em Banco da Amazônia e
batalha legislativa transformar o Território em Estado. o corte de outras fontes de financiamento, muitos seringais faliram e foram
vendidos por preço muito baixo. Em suas terras instalou-se a agropecuária.
O Acre, que havia sido o primeiro Território Federal de nossa história, No Rio de Janeiro e em São Paulo, a propaganda oficial anunciava o Acre:
foi também o primeiro a ser “elevado” à categoria de estado, já que o go- “um sul sem geadas, um nordeste sem seca” e, mais tarde, “o filé mignon
verno brasileiro havia estendido o sistema territorial a outras regiões (talvez da Amazônia”. E foram muitos os empresários que acreditaram no novo
não por coincidência sempre na Amazônia: Rondônia, Amapá, Roraima). eldorado amazônico trazendo para cá todo seu capital. Mas junto com
esses vinham também um sem-número de grileiros e especuladores.
Foram 58 anos de resistência, entre 1904 e 1962, até que o movimento
autonomista finalmente conquistasse para os acreanos os mesmos direitos O resultado de todo esse processo de mudança do eixo econômico da
básicos e essenciais de qualquer cidadão brasileiro. Pela primeira vez na Amazônia brasileira acabou arrebentando sobre o lado mais fraco: as
história os acreanos poderiam exercer plenamente sua cidadania. Isso populações tradicionais da floresta. Repentinamente, índios, seringueiros,
aconteceu há apenas quarenta anos. ribeirinhos e colonos viram suas terras sendo invadidas e devastadas em
nome de um novo tipo de progresso que transformava a floresta em terra
A luta com os novos arrasada.

No principio dos anos sessenta os seringais acreanos ainda estavam Acelerou-se a migração para as cidades. Mas a maior parte da popula-
em plena atividade apesar dos preços mais baixos da borracha no mercado ção migrante não tinha outra profissão além de colher os produtos da
externo. Anos de tutela federal haviam produzido uma forte dependência do floresta. A maioria sequer sabia ler e escrever, tamanho era o abandono
Acre em relação aos repasses orçamentários da União. Portanto, a criação oficial em que tinham vivido até então. Expulsas da terra, muitas vezes por
do Estado do Acre e a possibilidade da primeira experiência democrática da jagunços armados que ateavam fogo em seus barracos, milhares de famí-
sociedade acreana anunciavam grandes mudanças e o início de um novo lias encostaram-se na periferia urbana, formando assim os primeiros bairros
tempo para a região.

História do Acre 7 A Opção Certa Para a Sua Realização


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populares em terrenos insalubres onde a miséria e a doença tinham campo seringal Volta da Empreza no povoado denominado Villa Rio Branco. A
fértil para se espalhar. segunda característica é que foi exatamente nesta época que Rio Branco
alcançou a condição de liderança política e econômica do Acre que lhe
Nos anos 70, a sociedade acreana vivia novamente um momento de valeria posteriormente a condição de capital. Finalmente, a terceira caracte-
grande tensão social. Nem mesmo as tentativas do Governo Geraldo rística fundamental da cidade nascente foi que neste período o povoado da
Mesquita de reverter as políticas implementadas por seu antecessor Van- Volta da Empreza – Villa Rio Branco esteve restrito a uma estreita faixa de
derlei Dantas, foram suficientes para deter o avanço do novo modelo eco- terras na margem direita do rio Acre (atual 2º Distrito).
nômico proposto pelo governo federal para a região.
O Seringal Volta da Empreza foi fundado na margem direita do rio A-
A partir de 1975 as populações tradicionais da floresta começaram a se cre, em 28 de dezembro1882, pelo cearense Neutel Maia. Mas logo se
organizar e a desenvolver diferentes estratégias de resistência. Foram diferenciou dos outros seringais da região ao se tornar um porto muito
fundados os primeiros sindicatos de trabalhadores rurais em Brasiléia, freqüentado pelos vapores que transitavam pelo rio durante a época das
Xapuri, Rio Branco e Sena Madureira. A implantação da primeira Ajudância cheias. Neutel Maia criou então, já em 1884, uma casa comercial denomi-
da Funai no estado possibilitou que se iniciasse o processo de demarcação nada Nemaia e Cia. para atender aos vapores, pequenos seringais e reali-
e regularização das terras indígenas acreanas. A igreja católica do vale do zar a intermediação de gado boliviano para o abastecimento da região.
Acre, de perfil progressista, reforçou a luta popular com as Comunidades Espontaneamente, portanto, a Volta da Empreza deixou de ser um seringal
Eclesiais de Base. Intelectuais, artistas, estudantes e trabalhadores em como todos os outros do Acre para se tornar um povoado, o que equivale
geral criaram organizações civis e um intenso movimento social em Rio dizer que muito cedo a Volta da Empreza deixou de ser um espaço privado
Branco. Jornalistas e militantes da oposição criaram o jornal “O Varadouro” (de domínio exclusivo do seringalista) para se tornar um espaço publico
para noticiar os graves problemas sociais, especialmente os conflitos pela onde outros comerciantes ou indivíduos podiam atuar ou se fixar.
posse da terra.
Por isso, além de se tornar a principal referencia comercial do médio rio
Não foi uma luta fácil e muito menos rápida. Os conflitos foram se tor- Acre, o povoado da Volta da Empreza foi palco preferencial de diversos
nando cada vez mais explosivos e perigosos. Em 1980, Wilson Pinheiro, movimentos da guerra entre acreanos e bolivianos que abalou a região no
presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasiléia, foi assassi- final do século XIX e principio do XX. Tornou-se assim a sede do Acre
nado. Muitas outras mortes ocorreriam, culminando com a de Chico Men- Setentrional durante a ocupação militar de 1903 e, logo após a anexação
des, em 1988. das terras acreanas através do Tratado de Petrópolis, foi alçada a condição
de sede do Departamento do Alto Acre no regime territorial recém implan-
A partir desse assassinato as coisas começaram a mudar de verdade. tado. Passou então a ter o nome de Villa Rio Branco, em homenagem ao
O Movimento Ambientalista havia tornado Chico Mendes uma figura pública articulador dos Tratados de limites que tornaram o Acre parte do Brasil.
conhecida e reconhecida em todo o mundo por sua luta em defesa da
floresta e de seus povos. Sua morte criou uma enorme pressão sobre os Temos, portanto, neste período de 1882 a 1908 pelo menos três fases
organismos financeiros internacionais, que foram obrigados a rever critérios distintas na história da cidade, a saber: 1ª Fase - 1882 / 1898 – durante a
de investimento na Amazônia. Mais uma vez os acreanos haviam sido qual o seringal se torna um povoado e se consolida comercialmente na
obrigados a lutar até a morte para defender sua integridade, seus modos de região; 2ª Fase – 1899 / 1903 – na qual os diversos acontecimentos da
vida tradicionais, seu direito à cidadania e à autodeterminação. Isso acon- Revolução Acreana levam a Volta da Empreza a se tornar o centro do
teceu há apenas quinze anos. poder político no vale do rio Acre; 3ª Fase 1904 / 1908 – quando a agora
denominada Villa Rio Branco consolida sua liderança política e econômica
Novas lutas tornando-se a sede do Departamento do Alto Acre.

Se olharmos a história acreana desde seus primórdios e procurarmos Em relação à configuração espacial de Rio Branco, durante todo este
as linhas de permanência e de mudança do povo que fez das florestas do período a área urbana da cidade se restringiu a uma estreita faixa de terras
ocidente amazônico seu lugar no planeta, perceberemos que existe uma na margem direita do rio Acre, que correspondia a uma parte da área
continuidade histórica, social, política e cultural. O acreano é um povo que pertencente a Neutel Maia. Inicialmente foi a Casa Nemaia e Cia., situada
luta. Nas suas lutas, afirma sua vontade de escolher livremente seu cami- diante da enorme gameleira que assinalava o porto da Volta da Empreza,
nho. Recusa modelos impostos de fora pra dentro, de cima pra baixo. que serviu como referencia para a construção de uma série de outros
Busca um modelo de desenvolvimento verdadeiramente justo e sustentável. prédios seguindo o traçado da margem do rio. Formou-se assim um primei-
E vai criando, em seu caminho de lutas, uma profusão de símbolos e para- ro arruamento onde se estabeleceram hotéis, restaurantes, casas comerci-
digmas. ais e residenciais construídos com a madeira que era abundante nos arre-
dores desta primeira rua do povoado (atualmente chamada de Rua Eduar-
As criações mais recentes desse povo, como o Governo da Floresta e do Assmar).
a florestania, já se tornam referências para outras regiões do Brasil e até
para outros países. Mas isso está apenas começando a acontecer, é mis- Com a extensão e adensamento desta primeira rua organizaram-se
são para os historiadores que virão. três áreas distintas que se constituíram como os primeiros bairros do povo-
ado. Uma pequena área residencial de trabalhadores que ocupava as terras
Rio Branco, não é uma cidade qualquer. Além de ser o mais antigo nú- da volta do rio Acre, acima da Gameleira, e que era denominada Canudos.
cleo urbano de todo o Acre, logo se constituiu como a maior e mais impor- O centro do povoado da Volta da Empreza propriamente dito que era
tante cidade acreana sendo por isso escolhida como a capital do antigo constituído pela rua ao longo da margem do rio no trecho entre a Gameleira
Território Federal e do Estado do Acre. Mas Rio Branco ainda aguarda a e o local onde hoje está a cabeceira da Ponte Metálica. E, finalmente,
elaboração de pesquisas e a organização de sua história com a abrangên- formou-se outro pequeno bairro de trabalhadores que recebeu o sintomáti-
cia e importância que de fato possui para a configuração da sociedade co nome de rua África por abrigar os negros habitantes da cidade. Este
acreana. ultimo bairro era a extensão da única rua da cidade na direção do igarapé
da judia e era formado quase que exclusivamente por precárias casas de
Devido ao caráter ordenador do espaço urbano e da dinâmica social do palha.
Plano Diretor, é imprescindível ao menos pensarmos a cidade de Rio
Branco em relação a sua história territorial, ao seu processo de ocupação Ainda surgiria um quarto “bairro” (para empregar um termo de época)
do espaço e configuração de uma malha urbana diferenciada do meio no povoado da Volta da Empreza – Villa Rio Branco. Isto se deu durante a
florestal circundante. ocupação militar de 1903, quando diante da necessidade de aquartelar
tropas na área, o comandante Gen. Olimpio da Silveira decidiu faze-lo
1º Período – 1882 / 1908 – de seringal a cidade distante do centro do povoado escolhendo para tanto uma área periférica,
rio acima, e ali acampou o 15º Batalhão de Infantaria do Exército. A pre-
Este primeiro período da história urbana de Rio Branco é marcado por sença de tropas atraiu pequenos comerciantes que constituíram um novo
três características centrais. A primeira diz respeito à transformação do arruamento, também ao longo da margem do rio, para atender as necessi-

História do Acre 8 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
dades dos soldados dando origem ao bairro Quinze, cuja denominação entre o rio Acre e a avenida Ceará; 2ª Fase – 1931 / 1940 – estagnação da
permanece até hoje. expansão urbana tanto no 1º Distrito (ex-Penápolis), quanto no 2º distrito da
cidade.
Ou seja, ao longo deste primeiro período de formação da área urbana
de Rio Branco, podemos identificar não só sua consolidação um espaço Ou seja, a partir de 1909, com a abertura de quatro ruas (Epaminondas
diferenciado em relação aos seringais da região como também a configura- Jácome, Benjamin Constant, Marechal Deodoro e a atual Getulio Vargas)
ção de um primeiro ordenamento espacial que refletia a organização da começou um longo e lento processo de ocupação de lotes urbanos na
própria sociedade com bairros diferenciados para os trabalhadores ou para margem esquerda do rio Acre até o limite da atual avenida Ceará. Somada
os “negros” da cidade. a essa estreita faixa urbana, entre 1909 e 1913 foram abertas três colônias
agrícolas na região atualmente conhecida como baixada da Sobral.
2º Período – 1909 / 1940 – Uma cidade dividida
Por outro lado, a área urbana da margem direita do rio Acre (2º distrito)
Este período da história da cidade possui alguns marcos fundamentais não tinha como se expandir espacialmente pela presença de muitos terre-
de diferentes naturezas. Seja no que diz respeito aos seus aspectos eco- nos baixos e alagadiços e de áreas particulares ocupadas por pastos. Ao
nômicos devido ao fim do ciclo da borracha a partir de 1913, seja em rela- mesmo tempo em que desfrutava de grande prosperidade econômica
ção ao seu papel político já que Rio Branco se tornou a capital de todo o devido à pujança da economia da borracha e a vitalidade do comercio
território a partir de 1920, seja no que se refere a ampliação de sua malha dominado por portugueses, espanhóis e sírio-libaneses. Pelo menos até
urbana pela incorporação de uma grande área de terras da margem es- que a grave crise da borracha lançasse Rio Branco e o Acre num difícil
querda já a partir de 1909. Portanto, a definição de fases que unifiquem as período de estagnação econômica e social.
diversas características deste período é mais difícil que em relação ao
período anterior. Só no final da 1ª Fase deste período, entre 1927 e 1930, a cidade de
Rio Branco conheceria uma época de grandes mudanças urbanas com o
Como já vimos, até 1908, a Villa Rio Branco, sede do Departamento do Governo Hugo Carneiro. Esse paraense implementou um programa de
Alto Acre, estava totalmente localizada na margem direita do rio Acre. Uma construção de grandes prédios de alvenaria que mudou a paisagem da
área plana e favorável à abertura das primeiras ruas, entretanto, muito cidade. Sob o signo da modernização foram erguidos o Mercado Municipal
baixa e alagável na época das cheias do rio Acre. Além disso, por trás do na beira do rio, o Palácio Rio Branco, o Quartel da Polícia, a Penitenciária
alinhamento de casas do povoado a floresta foi gradativamente sendo (atual prefeitura municipal) e o Stadium do Rio Branco no limite da cidade
substituída por uma área de pasto para abrigar o comércio de gado que, que acabava na atual avenida Ceará.
como já vimos, foi muito importante para Rio Branco. Essas características
topográficas somadas a questões políticas relacionadas à luta autonomista A partir de 1930, a organização espacial de Rio Branco permaneceria
que vinha sendo travada no Território Federal levaram ao questionamento basicamente a mesma por toda a década se restringindo a um relativo
da condição de capital do Departamento desfrutada por Rio Branco e deu adensamento da área urbana já ocupada. Apesar de ser possível registrar
origem a diversas tentativas de mudança da sede departamental. um lento crescimento da área de influencia da cidade sobre as terras do
antigo Seringal Empreza que não haviam sido desapropriadas em 1909 e
Em 1909, em meio a um conturbado contexto político, o Prefeito Depar- que limitavam a expansão da cidade para além da atual avenida Ceará. Um
tamental do Alto Acre Cel. Gabino Besouro decidiu tomar uma parte das crescimento que se dava sob a forma de arrendamento dessas terras para
terras do Seringal Empreza situado na margem esquerda do rio Acre de- ex-seringueiros desencantados com a crise e que queriam tentar a sorte
fronte à Villa Rio Branco. E nestas terras definiu um novo arruamento que como agricultores.
começando na margem do rio seguia até o limite da atual avenida Ceará.
Nestas terras altas da margem esquerda Gabino Besouro quis fundar uma 3º Período – 1941 / 1970 – Colônias/bairros uma cidade em expansão
nova cidade chamada Penápolis, em homenagem ao presidente Afonso
Pena, e que passaria a se constituir na nova sede da Prefeitura Departa- A Segunda Guerra Mundial trouxe não só novas esperanças para a de-
mental do Alto Acre. cadente economia extrativista como um novo alento para a sociedade
acreana através dos milhares de imigrantes nordestinos que voltaram a vir
Entretanto não havia como ignorar a Villa Rio Branco, do outro lado do para o Acre. Especialmente a partir de 1942 com o início da Batalha da
rio, com toda sua pujança comercial e social, e pouco tempo depois os dois Borracha os seringais voltaram a produzir, o comércio voltou a prosperar e
lados da cidade eram unificados e Penápolis passava a se constituir ape- as cidades acreanas ficaram muito mais agitadas.
nas como mais um novo bairro da agora “cidade” de Rio Branco situada em
ambas as margens do rio Acre.

Desde então foi sendo estabelecida lentamente uma infra-estrutura ofi- No antigo bairro Quinze a já falida Usina de Castanha se tornou aloja-
cial em Penápolis que logo passaria a ser denominado 1º Distrito, em mento dos soldados da borracha em transito para os seringais, na rua 17
contraposição ao lado velho da cidade que passou a ser conhecido como 2º de novembro (ou Bairro Beirute) muitos comerciantes sírio-libaneses havi-
Distrito. Ou, como já se escreveu, uma cidade dividida entre o lado oficial e am enriquecido e se tornado seringalistas e no Palácio Rio Branco os
o lado comercial. planos governamentais voltaram a ser grandiosos.

Nem o acirramento dos movimentos autonomistas, nem a crise da bor- E foi sob esse novo panorama que o Governador Oscar Passos efeti-
racha instalada a partir de 1913, foram suficientes para alterar significati- vou em 1942 a compra das terras remanescentes do antigo Seringal Em-
vamente o papel econômico e político de Rio Branco no contexto acreano. preza para a implantação de novas colônias agrícolas no entorno da cida-
Pelo contrário, nesta época se consolidou o predomínio desta cidade frente de. Entretanto, até 1945 todos os desejos estavam firmemente direcionados
às outras cidades acreanas que, com a exceção de Xapuri, eram bem mais para os seringais e pouca atenção e recursos sobravam paras cidades
novas. Tanto assim que na reforma administrativa de 1920, que extinguiu acreanas. Por isso, o novo plano de colonização organizado pelo Engenhei-
os departamentos, coube a Rio Branco a primazia de se tornar a capital de ro Pimentel Gomes teve que esperar um momento mais propicio para sua
todo o Território Federal do Acre centralizado. Com isso, Rio Branco garan- efetiva implementação, ficando restrito a apenas duas colônias instaladas
tiu maiores investimentos oficiais em relação aos outros povoados, cidades em 1943: São Francisco e Apolônio Sales, sendo que a segunda esteve por
ou municípios acreanos, o que a levaria, entre outras coisas, até a atual alguns anos abandonada.
condição na qual concentra metade de toda a população do Estado do
Acre. Só com o fim da Batalha da Borracha e o principio do Governo Guio-
mard Santos em 1946 teve início a implantação das diversas colônias
Tendo em vista que nosso principal interesse nesse texto é tentar com- agrícolas em terras do antigo Seringal Empreza, num processo que se
preender a dinâmica da formação urbana, podemos vislumbrar duas fases estendeu durante toda a década de 50. Mas não só. Nesse mesmo período
para este período da história de Rio Branco, a saber: 1ª Fase – 1909 / 1930 uma parte das terras do Seringal Empreza ao norte da atual avenida Ceará
–consolidação de Penápolis pela ocupação da malha urbana planejada

História do Acre 9 A Opção Certa Para a Sua Realização


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foi definida como “Zona Ampliada” e foi dividida em lotes urbanos para o mas também por grileiros de terras, madeireiros e por trabalhadores rurais
futuro crescimento da área urbana da cidade. do sul do país.

Cabe ressaltar que com isso o governo do Território Federal do Acre Ao atingir o Acre essa frente de expansão causou uma verdadeira im-
tentava estancar a partida de trabalhadores com o fim da Batalha da Borra- plosão da estrutura social acreana na área florestal. O desmatamento
cha e o retorno à crise do extrativismo. Para tanto em diversas colônias promovido pelas madeireiras e a transformação dos seringais em fazendas
agrícolas foi instalada uma infra-estrutura mínima para dar suporte aos levaram ao êxodo milhares de famílias que há décadas habitavam a flores-
colonos e suas famílias, tais como escolas, núcleos mecanizados para ta, dela dependendo para obter o seu sustento. Esse novo fluxo migratório
beneficiamento da produção e postos de saúde. campo-cidade promoveu uma verdadeira explosão das cidades acreanas,
em especial de Rio Branco que por sua condição de capital atraia a maioria
Guiomard Santos foi responsável também por um grande programa de dos seringueiros, castanheiros e ribeirinhos expulsos de suas colocações
obras publicas que alterou mais uma vez a paisagem de Rio Branco, bem em todo o estado do Acre.
como de outras cidades acreanas. O Aeroporto Salgado Filho (Aeroporto
Velho), a Maternidade Bárbara Heliodora, o colégio Eurico Dutra, foram
algumas das novas construções de Guiomard Santos, além da conclusão
das obras do Palácio Rio Branco e da reforma do prédio da antiga peniten- Teve início então a pratica das “invasões”, nome regional usado para
ciaria que foi transformado no Hotel Chuí. designar terrenos públicos ou privados que eram invadidos por trabalhado-
res para construção de moradias, dando origem a novos bairros populares
A isso tudo se somava ainda a implantação de infra-estrutura voltada sem nenhuma infra-estrutura básica. Mesmo as tentativas oficiais de rever-
para a produção, como a Cerâmica oficial que produzia telhas, tijolos e ter a política de atração dos investidores “paulistas” para o Acre se revela-
pisos para a construção civil, a Estação Experimental que produzia mudas ram insuficientes para deter o processo de migração do campo e o incha-
e repassava técnicas de cultivo, o Aviário que produzia e distribuía aves, mento das cidades. Mesmo as políticas de habitação popular implementa-
suínos e até abelhas para os colonos. das nos anos 70 a 90 parecem não ter resultado em benefícios concretos
para os segmentos sociais que não possuíam profissão definida e nem
Com isso, o governo Guiomard Santos transformou Rio Branco muito renda assegurada, mas atenderam sobretudo as camadas médias da
mais profundamente do que Gabino Besouro e Hugo Carneiro haviam população.
conseguido anteriormente. Dois outros elementos, aparentemente menores
e secundários são simbólicos para esta abordagem da história da cidade e É necessário, entretanto, chamar atenção para o fato de que tanto o
provam essa afirmação. Foi na gestão de Guiomard Santos que foram fenômeno das “invasões”, quanto as conseqüências das políticas publicas
erigidas a Fonte Luminosa e o Ipase, o primeiro conjunto residencial da de habitação implementadas neste período precisam ser melhor estudadas
cidade. Estes dois elementos passaram a ser marcantes para a história de para esclarecer esses processos e sua importância na formação da cidade.
Rio Branco por diferentes motivos. O primeiro porque desde então povoou
a mente e os corações de todos os riobranquenses cujas infâncias, moci- Por outro lado duas características desse período, no que se refere a
dades e velhices estão repletos do encanto proporcionado por suas águas formação urbana da cidade, parecem bastante claras. A primeira é que
coloridas. Enquanto que o segundo parece ter dado origem a um modelo de apesar da “invasão” se constituir como um novo mecanismo espontâneo e
intervenção urbana pelo poder público através da construção de conjuntos desordenado de abertura de bairros, ele deve ter se orientado em linhas
residenciais que parece ter sido muito importante daí por diante. gerais pela localização das colônias agrícolas e dos bairros que já estavam
em formação na época em que ocorreram. Ou seja, os bairros oriundos de
Foi nesse período, portanto, que Rio Branco alcançou algumas das colônias agrícolas ou equipamentos urbanos que surgiram no período
principais características que viria a desenvolver em décadas posteriores. anterior continuaram atuando como focos de atração e fixação dos morado-
Os equipamentos instalados pelo governo territorial e as colônias agrícolas res da cidade.
serviram como novos pontos de atração e fixação urbana. A Cerâmica, o
Aviário, a Estação Experimental, o Aeroporto Velho, a colônia São Francis- A segunda característica diz respeito ao fato de que muitos dos fenô-
co, a Fazenda Sobral, a colônia Apolônio Sales, entre outros, deram origem menos sociais que estavam ocorrendo na área florestal do estado passa-
a alguns dos atuais bairros da cidade, revelando boa parte dos fluxos e ram a acontecer também em Rio Branco. É o caso, por exemplo, dos
processos sociais a que a cidade esteve submetida desde então. Ao mes- confrontos entre lideranças populares e grileiros de terras como os que
mo tempo em que deixam claros os motivos que levaram o 2º distrito da levaram ao assassinato de João Eduardo em 1981, como já tinham levado
cidade a neste período finalmente ser superado em importância pelo 1º a morte de Wilson Pinheiro em 1980 e ainda iria levar ao atentado a Chico
distrito em relação à vida orgânica da cidade. Mendes em 1988, deixando claro que o nível de tensão social tanto nas
florestas quanto nas cidades acreanas era extremamente alto então.
Devemos aguardar a realização de novos estudos, porém, para poder
definir fases que organizem melhor esse terceiro período do urbanismo de Diante desse contexto não é de estranhar que o quadro geral das cida-
Rio Branco e sejam capazes de ajudar na compreensão dos elementos des acreanas e de Rio Branco em especial tenha sido de degradação das
constituintes deste processo. condições de vida em todos os setores. Neste período Rio Branco não
cresceu, explodiu. Se ao longo de 90 anos de sua história as dinâmicas
4º Período – 1970 / 1998 – Invasões/bairros uma cidade em explosão geradas na cidade tinham dado origem a pouco mais de uma dezena de
bairros, entre 1970 e 1999 esse número iria passar de 150 bairros.
No principio dos anos 70 a conjugação da infinita crise do extrativismo
da borracha e dos anos de chumbo da Ditadura Militar teve efeito devasta- Novos bairros originados de invasões desordenadas sem a mínima in-
dor sobre o Acre suas cidades. O governo Vanderlei Dantas decidido a fra-estrutura de água, saneamento, luz, acesso, além de por vezes estar
modificar o eixo de desenvolvimento econômico regional estimulou a vinda situados em locais alagáveis ou impróprios, como nas novas áreas ocupa-
de grandes empresas, fazendeiros e especuladores de terras para o Acre, das no 2º Distrito (Cidade Nova, Taquari, Santa Terezinha/bostal, etc), ou
em sintonia com a nova política proposta pelo regime militar. Os seringalis- mesmo a partir de loteamentos clandestinos e conjuntos residenciais mal
tas falidos e sem crédito não tiveram como resistir e acabaram vendendo projetados e/ou implantados. Uma realidade, enfim, que estabeleceu enor-
enormes seringais por preços muito baixos. Em poucos anos um terço de mes desafios a serem enfrentados para a recuperação da qualidade de vida
todas as terras acreanas mudaram de mãos. dos cidadãos de Rio Branco.

Os novos donos da terra, conhecidos regionalmente como “paulistas”, 5º Período – 1999 / 2005 – O principio do reordenamento urbano
faziam parte da frente de expansão da fronteira agrícola que atingiu os
estados do centro-oeste antes de atingir Rondônia e Acre através do pro- Desde 1999 estão sendo realizadas diversas intervenções na malha
grama Polonoroeste e que previa, entre outras coisas, a abertura da Br- urbana de Rio Branco, especialmente nas vias estruturantes, que estão
364. Esta frente foi composta não só por fazendeiros e grandes empresas, modificando e melhorando os fluxos internos da cidade, bem como o aces-
so aos bairros mais distantes do centro. Além disso, obras de revitalização

História do Acre 10 A Opção Certa Para a Sua Realização


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do centro mais antigo da cidade e de implantação de equipamentos como o especialmente da mandioca - que se tornariam a base alimentar desses
Parque da Maternidade parecem apontar o início de um novo período da grupos.
história da formação urbana de Rio Branco, o que só poderá se constatado Isso marcou o surgimento, por volta de cinco mil anos atrás, do que os
mais corretamente no futuro. pesquisadores chamam de Cultura de Floresta Tropical, caracterizada por
grupos que praticavam uma agricultura ainda insipiente, complementada
A Amazônia sul-ocidental é habitada há milhares de anos por diferen- pela caça, pesca e coleta de frutos e sementes da floresta. A partir dessa
tes povos nativos que fizeram da grande região dos altos rios acreanos o nova organização social os grupos pré-históricos amazônicos passaram
seu território de viver, sonhar e cultivar raízes. Muitos desses povos foram também a fabricar cerâmica e a ocupar certos locais por períodos mais
engolidos pela floresta imensa sem deixar vestígios de sua passagem pela prolongados. Com isso deixaram grandes sítios arqueológicos que teste-
terra. Outros enfrentaram inimigos poderosos mas resistiram o suficiente munham seu florescimento por toda a Amazônia.
para ainda saber quem são. Porém, esses povos milenares permanecem No Acre, as pesquisas realizadas pelo Instituto de Arqueologia Brasilei-
ainda hoje, em grande parte, desconhecidos da maioria da sociedade ra nas décadas de 70 a 90 revelaram a presença de duas grandes tradi-
acreana. É preciso perceber que nossa história guarda muitas das marcas ções ceramistas no estado. A primeira foi identificada nos vales dos rios
que foram escritas precisamente por estes povos. Purus e Acre e denominada “Tradição Quinari”, enquanto que a segunda
está situada nos vales dos rios Juruá, Tarauacá e Muru e recebeu o nome
Os tempos da história indígena de “Tradição Acuriá”.
A presença de duas distintas tradições ceramistas nos dois maiores va-
Quando é preciso justificar o direito dos povos indígenas ao seu territó- les acreanos parece indicar que a diferenciação histórica e cultural da
rio tradicional se diz que essas terras já pertenciam a eles desde tempos população dos vales do Juruá e Purus é mais antiga do que se pensava.
imemoriais. Porém, esta idéia reforça o preconceito segundo o qual os Entretanto, nem todos os sítios arqueológicos já localizados no Acre estão
povos indígenas não possuem história, porque não dominam a escrita e classificados numa dessas duas tradições ceramistas, podendo ser identifi-
sua memória é baseada na tradição oral. Talvez fosse mais sincero admitir cadas ainda outras tradições pré-históricas na região.
que somos nós, os não-índios, que temos dificuldade de compreender a
história indígena. É o caso, por exemplo, dos misteriosos círculos de terra que aguçam a
A melhor prova disso é que do longo e consistente trabalho de educa- curiosidade dos que sobrevoam a área onde são mais comuns. Os geogli-
ção diferenciada que a CPI-AC, e mais recentemente também o governo fos, como vêm sendo ultimamente chamados, são grandes sítios com
estadual, desenvolvem junto às comunidades indígenas acreanas e do sul formas geométricas - círculos, quadrados, hexágonos e diversas outras
do Amazonas, emergiu uma interessante forma de organizar a história composições - que variam entre 350 e 150 metros de diâmetro.
nativa da região. E quando olhamos para essa temporalidade estabelecida
a partir das referências indígenas percebemos que ela conta também a Aparecem principalmente em duas áreas: no divisor de águas entre os
história da própria sociedade acreana. rios Acre e Xipamanu e no divisor de águas entre os rios Acre e Iquiri. Essa
Este texto é uma tentativa de reunir algumas informações sobre os po- localização revela que os povos que construíram essas misteriosas figuras
vos nativos do Acre utilizando uma adaptação daquela temporalidade com terra local, tinham preferência pela ocupação da terra firme em vez de
utilizada nas escolas indígenas. Aos tempos das malocas, das correrias, do habitarem ao longo das margens dos principais rios da região.
cativeiro, dos direitos e do presente acrescentamos o tempo de antigamen-
te para incluir as informações da pré-história. Com isso não pretendemos Quanto à razão que levava esses grupos pré-históricos a construir as
mais do que acrescentar profundidade a essa história de um povo que não grandes estruturas de terra - que tanto poderiam servir para defesa, como
desistiu nunca de lutar pelos seus direitos, um povo formado igualmente por para a agricultura, ou mesmo para a realização de festas e ritos - ainda não
brancos e índios. se pode afirmar nada. Porém, uma coisa é certa: não se tratam de sinais
deixados por extraterrestres no solo acreano, na linha do “eram os deuses
Tempo de antigamente astronautas”. Já que a maioria desses sítios apresenta cerâmica arqueoló-
A longa história do povoamento humano do Acre provavelmente come- gica, o que indica que foram construídos, utilizados e talvez habitados por
ça entre 20.000 e 12.000 anos atrás, quando os primeiros grupos humanos grupos indígenas pré-históricos.
provenientes da Ásia chegaram de sua longa migração até a América do
Sul. Esses grupos humanos perseguiam as grandes manadas de animais Apesar de ainda não possuirmos dados resultantes da análise do mate-
gregários que durante a idade do gelo se espalhavam pelas vastas savanas rial arqueológico desses sítios, as primeiras informações mostram que os
do mundo. A Amazônia era então uma ampla extensão dessas savanas, geoglifos parecem guardar algumas relações com ocorrências arqueológi-
com apenas algumas manchas de floresta ao longo dos rios que cortavam cas do Llano de Mojos, região alagável e muito fértil ao norte da Bolívia,
as terras baixas. onde foram construídos grandes aterros para agricultura durante a pré-
Era o tempo dos grandes animais como o mastodonte, a preguiça gi- história. O que reforça os indícios de contatos prolongados entre as civiliza-
gante (megatherium), o toxodonte e diversos outros exemplares de mega- ções andinas e os povos da Amazônia ocidental desde muito antes do que
fauna que serviam de base alimentar para aqueles bandos de caçadores se imagina. Mas só a realização de novas pesquisas arqueológicas será
nômades. Esses animais se extinguiram com o fim do pleistoceno, a ultima capaz de responder essas e outras questões sobre nosso mais distante
das grandes idades do gelo, e seus fósseis são localizados ainda hoje nos passado.
barrancos de muitos dos rios acreanos. Apesar de ainda não terem sido Tempo das Malocas
encontrados vestígios concretos da presença humana na região durante
esse mesmo período, podemos imaginar que o homem aqui já estivesse, Em linhas gerais a ocupação indígena dos altos rios Purus e Juruá cor-
junto com os animais que caçava. respondia a uma divisão territorial entre dois grandes grupos lingüísticos
Com o passar do tempo, a partir de 12.000 anos atrás, o clima do pla- que apresentavam significativas diferenças. No Purus havia o predomínio,
neta começou a esquentar. Isso ocasionou um aumento da umidade e mas não a exclusividade, de grupos falantes das línguas Aruan e Aruak, do
expansão dos sistemas florestais. Enquanto os últimos remanescentes da mesmo tronco lingüístico. Já no vale do Juruá havia o predomínio, também
megafauna desapareciam por causa da retração das áreas de pastagem, a não exclusivo, de grupos falantes da língua Pano. Essa divisão territorial
floresta se expandia. Isso favoreceu a proliferação de uma fauna terrestre por vales entre grupos lingüísticos dominantes parece ter sido semelhante
de pequeno porte e da fauna aquática através do crescimento dos cursos àquela que os arqueólogos detectaram através das tradições Quinari e
d’água que ficaram cada vez mais caudalosos. Acuriá. Mas o registro histórico e lingüístico apontou que além dessa divi-
Esse tempo de profundas mudanças climáticas e ambientais deu opor- são aparentemente simples, havia também grupos falantes da língua Katu-
tunidade para o surgimento de novas formas de organização social. Os quina nos afluentes situados entre o médio Purus e o médio Juruá, ao norte
grupos humanos pré-históricos da América passaram a contar com recur- do atual estado do Acre, já em terras do Amazonas. Além disso, havia
sos alimentares mais diversificados, graças ao ambiente de florestas tropi- outros povos de línguas Pano e Takana, ambas do mesmo tronco lingüísti-
cais, e lentamente começaram a desenvolver as primeiras experiências de co Pano, que se encontravam mais ao sul, no alto curso do rio Acre, no
domesticação de plantas e animais. Enquanto na América Central e nos Abunã, no Xipamanu e no Madre de Dios até sua confluência com o rio
Andes teve inicio o cultivo do milho e de outras sementes, nas terras baixas Madeira.
da Amazônia ocorriam as primeiras experiências do plantio de raízes -

História do Acre 11 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
Para facilitar a compreensão desse quadro, levando em consideração enquanto que os Manchineri já possuíam diversos objetos de metal, prova-
não somente os limites do atual estado do Acre, mas também as áreas velmente resultado de comércio feito com peruanos. Outros relatos contam
imediatamente vizinhas que integram a grande região indígena da Amazô- que era possível sair do rio Javari e, utilizando a vasta rede indígena de
nia sul-ocidental, podemos dizer que esses povos indígenas estavam caminhos e varações, chegar ao vale do rio Madeira depois de uns poucos
distribuídos em cinco grandes grupos: dias de viagem, em passo de indio é claro!
1 - No médio curso do rio Purus, hoje estado do Amazonas, habitavam
povos de lingua Aruan, do tronco Aruak. Grupos pouco aguerridos eram Por isso, desde os grupos indígenas mais fortes e numerosos que ocu-
comumente submetidos por outros grupos mais fortes ou se refugiavam na pavam as várzeas dos rios até os menores grupos familiares que perambu-
terra firme, espalhando-se por diversos afluentes de ambas as margens do lavam pelas cabeceiras, todos possuíam liberdade e com ela a possibilida-
médio Purus. Entre os diferentes grupos dessa região estavam os Jama- de de ser feliz.
madi, os Kamadeni e muitos outros já desaparecidos. Recentes análises de Tempo das correrias
lingüistas atribuem a essa família uma antigüidade de cerca de 2.000 anos.
2 - No alto curso do rio Purus e no baixo rio Acre estavam estabeleci- Quando, a partir de 1860, começaram a acontecer as primeiras viagens
das diversas tribos do tronco lingüístico Aruak. Subindo esses rios, do norte de exploração se constatou, não só a presença indígena, mas a grande
para o sul, habitavam os Apurinã, os Manchineri, os Kulina, os Canamari, riqueza natural dos rios acreanos, despertando a cobiça dos exploradores.
os Piros, os Ashaninka e outros. Na verdade, estes grupos se espalhavam Já em 1870 tinha início uma verdadeira corrida do ouro que fez com que
desde a confluência do Pauini com o Purus até a região das encostas em poucos anos os rios acreanos fossem tomados de assalto. Milhares de
orientais dos Andes, desde aproximadamente 5.000 anos atrás. E chama a homens vindos de todas as partes do Brasil e do mundo passaram a subir
atenção como puderam se manter por tanto tempo no domínio de uma os rios estabelecendo imensos seringais em suas margens. Era a febre
região tão vasta e tão rica ecologicamente. A pré-história registra que muito provocada pelo ouro negro, a borracha extraída da seringueira que depois
antes de resistir ao avanço dos homens brancos sobre suas terras, os de defumada era exportada para abastecer as indústrias européias e norte-
Aruak ou Antis, como eram chamados pelos Incas, já haviam resistido com americanas, cada vez mais ávidas por esse produto.
sucesso à chegada dos falantes da língua Pano e a expansão das civiliza-
ções andinas. Em 1878 a empresa seringalista alcançava a boca do rio Acre subju-
3 - No alto curso do rio Acre, alto Iquiri, Abunã e outros afluentes do rio gando todo o médio Purus e já em 1880 ultrapassava a linha Cunha Go-
Madeira já em território boliviano, havia um enclave de grupos falantes de mes, limite terminal das fronteiras legais brasileiras. Ao mesmo tempo os
lingua Takana e Pano. Alguns bastante aguerridos, como os temidos Paca- caucheiros peruanos vindos do sudoeste cortavam a região das cabeceiras
guara, outros mais sociáveis como os Kaxarari que mantinham ativo conta- do Juruá e do Purus, enquanto que os primeiros seringalistas bolivianos
to com os Apurinã, apesar das diferenças lingüísticas e culturais entre os começavam a se expandir pelo vale do Madre de Dios e invadiam as terras
dois grupos. Mesmo pertencendo ao tronco lingüístico Pano, a língua acreanas pelo sul. Em poucos anos, os povos nativos da região se viram
Takana é de origem mais recente, tendo surgido entre 3.000 e 2.000 anos cercados por brasileiros, peruanos e bolivianos, sem ter para onde fugir ou
atrás. como resistir a enorme pressão que vinha do capitalismo internacional que
4 - Na região intermediária entre o médio curso do Purus e o Juruá, ao dependia da borracha amazônica.
norte do Acre, habitavam os falantes da língua Katukina, sobre os quais se
tem pouca informação. Algumas características destes grupos apontam De senhores desta terra os povos nativos da Amazônia sul-ocidental
para um surgimento relativamente recente, há cerca de 2.000 anos. Esses passaram a ser vistos como obstáculos a exploração da borracha e do
grupos pouco numerosos ficavam apertados entre os povos Aruak ao leste caucho na região. Foi quando surgiu a prática das correrias: expedições
e os Pano a oeste, restando a eles a exploração das terras firmes, menos armadas feitas com o objetivo de matar as lideranças das aldeias, aprisio-
ricas em suprimento alimentar que as margens dos grandes rios. nar homens para o trabalho escravo e obter mulheres que seriam vendidas
5 - Boa parte do médio e alto curso do rio Juruá, bem como a maior aos seringueiros. Foi um tempo de terror. São muitos os relatos de correrias
parte de seus afluentes - como o Tarauacá, o Muru, o Envira, o Moa e daí quando, depois de queimadas as malocas e mortos os principais guerreiros,
por diante - era dominado por diversos e numerosos grupos de falantes da os vencedores se divertiam jogando as crianças para cima e aparando-as
língua Pano. Eram Kaxinawá, Jaminawá, Amahuaca, Arara, Rununawá, com a ponta do punhal numa demonstração cruel de habilidade no manejo
Xixinawá e muitas outras denominações tribais. Todos fazendo parte de um das armas.
tronco lingüistico muito antigo, com cerca de 5.000 anos, mas que teria se
originado em outra região, invadindo só mais recentemente as terras acre- Como se isso não bastasse, junto com os brancos chegaram também
anas. Com seu caráter guerreiro, os Pano conquistaram seu território muitas doenças contra as quais os índios não possuíam resistência. O
através da guerra contra tribos de outras línguas, mas também contra sarampo, a gripe, a tuberculose e outras doenças rapidamente se alastra-
grupos do mesmo tronco. Isso explica, em parte, a grande fragmentação ram entre os grupos indígenas da região dizimando aldeias inteiras diante
que as muitas tribos Pano apresentavam quando finalmente os brancos dos pajés que não sabiam como curar aquelas moléstias desconhecidas.
começaram a chegar na região.
É claro que a simples divisão lingüística dos grupos nativos do Acre Ainda assim a reação dos diferentes grupos indígenas acreanos a che-
nos últimos cinco mil anos esconde a grande variedade de culturas indíge- gada dos não-índios foi tão variada como eram diversificadas as culturas
nas e a complexa territorialidade estabelecida a partir das alianças e rivali- aqui presentes. Uma boa parte das tribos de lingua Aruan e Aruak, como os
dades tribais. Como entre os Apurinã e os Manchineri, nos rios Purus e Jamamadi, Apurinã, Manchineri e Ashaninka decidiram colaborar em certa
Iaco, onde foi estabelecido um amplo território despovoado que servia para medida com os brancos. Muitos índios tornaram-se remadores, guias,
evitar contatos e conflitos, já que esses dois grupos Aruak viviam em guer- mateiros, seringueiros. Algumas aldeias passaram a se relacionar com
ra. Por outro lado, existem registros do estabelecimento de aldeias conjun- seringais negociando os produtos da caça ou de sua lavoura em troca de
tas de grupos Aruak e Pano, para resistir ao avanço das ordens religiosas ferramentas, armas e objetos dos brancos.
pelo vale do Ucayali a partir do século XVII.
Mesmo com tantas histórias de conflitos, durante os milhares de anos Por outro lado, os grupos de lingua Pano, em linhas gerais, resistiram à
em que as aldeias foram compostas por grandes malocas coletivas, o povo invasão de seus territórios ancestrais, evitando contatos ou relações de
vivia do que lhes dava a floresta e se podia fazer grandes festas por ocasi- qualquer espécie com os brancos. O resultado imediato foi a perseguição e
ão da colheita estabelecendo um sutil equilíbrio econômico, ecológico e o extermínio de todos os grupos que dificultavam a abertura dos seringais
social na região. Ao se iniciar o século XIX, cada grupo familiar ou tribal ou a extração do caucho. A perseguição promovida contra os índios foi
possuía territórios claramente definidos e os relacionamentos entre esses intensa e certos grupos começaram a esconder sua identidade, como um
grupos obedeciam não só às semelhanças étnicas e culturais, mas também pequeno grupo de Jaminawá que passou a se dizer Katukina para evitar a
às alianças que foram sendo estabelecidas ao longo do tempo. perseguição.
Algumas informações indicam que havia extensas redes de comércio e
comunicação cortando os diversos vales acreanos e por elas chegavam Essa dura realidade de confrontos perdurou pelos primeiros trinta anos
notícias e produtos de áreas longínquas. Chandless, em sua viagem ao rio da ocupação não-índia da região. Entre 1880 e 1910 o ritmo da exploração
Aquiri, noticiou que os Apurinã comumente recebiam dos Kaxarari pedras da região só aumentou levando ao extermínio de inúmeros grupos indíge-
trazidas dos rios Abunã e Madeira para fabricar lâminas de machado, nas. Como os Canamari que desapareceram da grande floresta, ou os

História do Acre 12 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Takana que migraram para o sul até a Bolívia para nunca mais retornar ao alastraram por toda a região que surgiu a Aliança dos Povos da Floresta -
território acreano, ou ainda os Apurinã que tiveram seus vastos domínios formada por índios, seringueiros e ribeirinhos - que mesmo às custas do
reduzidos a ponto de não possuírem hoje nenhuma terra indígena demar- sangue de muitos conseguiu barrar o avanço da exploração predatória das
cada no estado do Acre, parte de seu território ancestral. florestas acreanas.

Tempo do cativeiro Tempo Presente


As conseqüências da febre do ouro negro foram terríveis para os gru-
pos indígenas da Amazônia. Nem o fim do primeiro ciclo da borracha, em Felizmente a história da Amazônia Ocidental pode registrar que essa
1913, diminuiu a pressão sofrida por esses grupos já tão enfraquecidos. luta, que hoje não é só dos povos nativos mas de boa parte da sociedade
Diante dessa nova realidade, com grandes e poderosos seringais espalha- acreana, vem obtendo resultados positivos. Atualmente são vinte e oito
dos por todos os principais rios, nunca mais seria possível retomar as terras indígenas já demarcadas e asseguradas para os povos nativos da
antigas formas de organização social. Alguns pequenos grupos ainda região, mas ainda falta conseguir a regularização de outras quinze terras
conseguiram se refugiar nas cabeceiras mais isoladas, mas a grande indígenas. É preciso ter pressa para obter as mínimas condições de sobre-
maioria dos índios do Acre foi obrigada a se modificar para não desapare- vivência para nossas populações ancestrais e a terra é uma dessas condi-
cer. Passaram a adotar então o modelo de casa cabocla que o branco ções essenciais.
utilizava, começaram a depender das ferramentas dos brancos, foram
perdendo suas línguas maternas e aprendendo o português ou o espanhol. Grandes conquistas já foram obtidas. Hoje existe uma educação dife-
Começava assim uma etapa da história dos povos nativos do Acre que renciada para os povos indígenas que é fruto de um longo e maduro traba-
se estendeu por um longo período, entre 1910 e 1980. A acentuada queda lho de muitos indígenas e indigenistas. Hoje existem diversos agentes de
nos preços internacionais da borracha fez com que ficasse cada vez mais saúde indígenas que dão assistência permanente às suas comunidades.
difícil trazer nordestinos para o corte da seringa. O gradativo esvaziamento Hoje já começam a se colher os primeiros frutos do trabalho dos agentes
dos seringais da região levou a necessidade cada vez maior do aproveita- agro-florestais indígenas que estão incorporando a parte boa da tecnologia
mento dos índios como mão de obra. Muitos foram os patrões que reuniram a favor de seus parentes. Mas ainda há muito a se conquistar pois o tempo
grupos dispersos de diversas etnias para trabalharem em seus seringais. dos direitos esta só começando.
Alguns desses patrões chegaram a ser reconhecidos como amigos dos
índios, como Ângelo Ferreira, famoso amansador de índios, que reuniu
muitos Kaxinawá, Jaminawá e Kulina, entre outros para trabalhar sob suas
ordens. Mas a maioria dos patrões tratava os índios ainda pior do que os Não deixa de ser muito importante o fato de que no mesmo ano em
seringueiros. Afinal de contas, como não sabiam ler e pouco entendiam da que a sociedade não-índia comemora o centenário da Revolução Acreana e
língua dos brancos, os índios eram enganados no peso da borracha, no da criação de um lugar no mundo chamado Acre, aconteça também o III
preço da mercadoria, na desvalorização de seus produtos, no pagamento Encontro de Culturas Indígenas do Acre e Sul do Amazonas, quando todas
da renda anual da estrada de seringa. Com isso os índios acumulavam as etnias dessa milenar região invadem a cidade de Rio Branco para can-
enormes dívidas com os barracões dos seringais e acabavam se tornavam tar, dançar e anunciar seu direito à vida e à felicidade, tão indios quanto
prisioneiros de seus patrões. aqueles isolados que ainda perambulam pelas intocadas florestas das
Quanto aos pequenos grupos indígenas que conseguiram se refugir no cabeceiras.
centro da mata ou nas cabeceiras, os índios “brabos” como ainda são A imigração de sírios e libaneses para o Brasil assumiu desde o início
tratados, foram caçados sistematicamente para serem “amansados” e certos padrões que foram reproduzidos e mantidos nas colônias formadas
assim poderem ser incorporados à nossa sociedade. Ainda assim, alguns nas mais diferentes regiões do país. Por isso diversas cidades brasileiras -
destes grupos conseguiram escapar ao domínio dos não-índios e resistiram como São Paulo, Rio de Janeiro, Belém e Manaus - receberam imigrantes
ao cerco cada vez mais apertado da nossa civilização, perambulando que se portavam de forma muito semelhante, seja no que diz respeito ao
sempre, sem parar nunca, varando pela região das cabeceiras onde os rios comportamento individual, seja em relação à vida em comunidade, apesar
e os brancos não chegam. das distâncias e do isolamento a que muitos ficaram sujeitos. O Acre não
foi exceção.
Tempo dos direitos
A seguir veremos algumas dessas características gerais assumidas pe-
Durante sete décadas de cativeiro os povos nativos do Acre sofreram la imigração árabe que formam o pano de fundo da longa história oriental
uma enorme degradação de suas culturas tradicionais. O peso dos precon- em terras acreanas.
ceitos da sociedade não-índia, a expropriação de suas terras ancestrais, a
falta de políticas de assistência, de educação ou de saúde, levou-os a uma A migração de origem síria e libanesa foi realizada por conta dos pró-
grave condição econômica e social. prios imigrantes, de maneira não oficial ou subsidiada, o que sempre foi
motivo de orgulho, como prova do espírito altivo e brioso desse povo.
Essa situação só começou a mudar a partir de 1976 com a instalação
da primeira Ajudância da Funai do Acre e sul do Amazonas. Começava Eles vinham para “Fazer a América” e qualquer lugar servia para ga-
assim uma longa luta pela demarcação das terras ancestrais dos povos nhar dinheiro. Uma vez que o período de maior afluência da imigração
nativos do Acre. proveniente do Oriente Médio coincidiu com o auge do ciclo da borracha,
entre 1870 e 1913, a Amazônia se tornou um dos principais objetivos
Boa parte dessa luta foi empreendida por diversas entidades indígenis- daqueles indivíduos interessados na fortuna rápida. A maioria acreditava
tas não-governamentais, como a CPI, o COMIN e o CIMI, mas principal- que apenas alguns anos de trabalho e remessas do dinheiro ganho na
mente pelas próprias lideranças indígenas que ao mesmo tempo em que América seriam necessários para atingir certa estabilidade financeira,
adquiriam consciência de seus direitos passaram a buscar a organização possibilitando a volta rápida para casa. Efetivamente, um terço dos que
de um movimento indígena politicamente articulado. Surgiram, então, em imigraram retornaram aos seus países de origem, mas a grande maioria
diversas aldeias as primeiras cooperativas que proporcionaram condições permaneceu constituindo família em diversas partes do continente america-
objetivas para que as comunidades se libertassem do domínio dos patrões. no.

Não se deve imaginar que esse processo se deu sem conflitos. Pelo Aliás, a família, ao lado da religião, é o pilar da identidade de sírios e li-
contrário, os patrões que se achavam com direitos sobre as terras e gentes baneses. Muitos imigrantes mandavam buscar esposas, ou voltavam às
não estavam dispostos a abrir mão de nada disso. Para complicar ainda suas aldeias no Oriente para se casar e em seguida retornar para os locais
mais a situação, o processo de venda dos seringais acreanos para os onde tinham seus negócios. Some-se a isto ainda que a decisão pela
“paulistas”, que havia sido iniciado no governo Dantas, trouxe para a região migração era tomada em família, sendo geralmente orientada por seu
grandes empresas com interesses e projetos agropecuários que provoca- chefe, bem de acordo com o espirito patriarcal tão marcante no Oriente.
ram a expulsão dos seringueiros de suas terras. Isso resultou em muitas
emboscadas, histórias de pistoleiros e jagunços, mortes anunciadas ou “Vendo gente, se não estiver pelado, é freguês”
não. Mas foi graças ao acirramento dos graves conflitos sociais que se

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Logo, os primeiros sírio-libaneses desembarcados no Brasil percebe- deputados de ascendência árabe, a história acreana registrou também a
ram que as maiores oportunidades estavam no pequeno comércio itineran- presença de senadores e governadores do estado do Acre.
te. Esta atividade não necessitava de grandes capitais para ser iniciada e
servia ao objetivo de manter uma relativa liberdade. Dessa forma os pionei- Os imigrantes sírio-libaneses e seus descendentes obtiveram completo
ros sírio-libaneses começaram a disputar espaço com os mascates italianos sucesso ao vencer a opinião corrente que um dia os considerou marginais.
e portugueses que se espalhavam por todo o país. Neste aspecto pesava também o fato de que, com o passar do tempo,
houve uma gradativa mistura com a população local, proporcionando uma
Começou, assim, a tradição brasileira de comerciantes sírio-libaneses, descendência de legítimos “filhos da terra”. Como acreanos natos os filhos
também conhecidos como mascates turcos. Na Amazônia estes mascates da colônia árabe estavam em igualdade de condições com os filhos de
eram chamados de regatões (porque praticavam comércio navegando outros imigrantes nacionais ou estrangeiros. Porém, o bem estar econômico
pelos rios) e se estabeleciam em qualquer parte onde encontrassem boas alcançado por muitos sírio-libaneses proporcionou uma educação de boa
oportunidades de negócios. Subiam os rios, os paranás e os igarapés, qualidade para seus filhos. Estes eram mandados estudar fora, nos gran-
negociando suas mercadorias em troca de borracha, castanha, couro de des centros do país, para depois voltar formados e preparados para se
caça, ou qualquer outro produto com valor comercial. Alcançaram assim tornar parte da sociedade que abraçaram como sua e da qual não poderiam
todos os vales acreanos, como pontas de lança do processo que formou ser dissociados nunca mais.
uma nova civilização no extremo oeste do “inferno verde”.
Como sírio-libaneses, ficaram conhecidos os milhares de homens e
“Todo o libanês é brimo, até a brimeira falência” mulheres provenientes de diferentes países do Oriente Médio que migraram
para as Américas a partir do ultimo quartel do século passado. Estes ho-
Foi nas cidades que a imigração árabe se tornou mais visível. Seme- mens eram portadores de identidades culturais extremamente ricas e
lhante ao que ocorreu em São Paulo e outras regiões do país, os sírios e trouxeram para o Brasil e para a Amazônia muitas das marcas milenares
libaneses que se estabeleceram nas diversas cidades acreanas abriram que herdaram de seus antepassados. Para entendermos o que foi a saga
pontos comerciais para a venda de armarinhos, tecidos e aviamentos em árabe em terras amazônicas precisamos primeiro conhecer um pouco da
geral. Como essas lojas normalmente se concentravam numa área especí- história do Oriente Médio, uma das regiões mais conturbadas do planeta.
fica da cidade, ruas inteiras passaram a ser dominadas pelos árabes.
O Oriente médio está situado na confluência dos três continentes de
Muitos desses comerciantes logo se tornaram não só varejistas mas ocupação humana mais antiga e intensa do mundo. Através da região do
também atacadistas e fornecedores de outros imigrantes que, recém che- Oriente Próximo, como era conhecida na antiguidade, ligam-se África, Ásia
gados à região, necessitavam de apoio para se estabelecer. Apesar de e Europa. Isso fez com que essa área fosse intensamente habitada e
existirem disputas entre os árabes imigrados, em razão de diferenças percorrida desde a pré-história até os dias de hoje, além de ser estratégica
religiosas e étnicas, a cooperação que existia entre os integrantes da para quaisquer povos que quisessem expandir suas influências ou sua
colônia era mais forte. dominação.

“O imigrante ao chegar, pobre, era tratado por Turco. Ao se tornar re- Na antiguidade o atual Líbano correspondia à Fenícia, uma das mais
gatão era Sírio e ao enriquecer como dono de comércio era Libanês.” florescentes e importantes civilizações que a história da humanidade já
conheceu. Em razão da situação geográfica das terras libanesas, composta
De uma forma geral os regatões eram mal vistos pela elite da socieda- por uma estreita faixa de terra apertada entre o mar e as montanhas, os
de extrativista e sofriam com a marginalização e os preconceitos a que fenícios se viram obrigados a desenvolver o comércio em lugar da agricultu-
estavam sujeitos. ra. Tornaram-se assim, exímios navegadores do Mediterrâneo e estabele-
ceram diversas feitorias, através das quais chegaram a dominar boa parte
Isso se dava porque os regatões eram atravessadores aos quais os se- da costa da África e da Europa Mediterrânea. Começava assim uma mile-
ringueiros recorriam para comercializar sua produção, seja para conseguir nar tradição comercial que certamente foi uma das referências mais impor-
melhor preço do que o oferecido pelos patrões, seja para escapar do endi- tantes para o desenvolvimento de um novo modo de vida na Amazônia,
vidamento crescente com o barracão, seja por conta da revolta contra os onde os regatões se assemelhavam à fenícios modernos navegando e
maus tatos infligidos por seringalistas violentos. Por isso a ordem nos comercializando pelo amplo rio-mar e seus afluentes.
seringais acreanos era de não deixar encostar regatões.
Além disso, no Oriente próximo, durante a antiguidade, desenvolveram-
Porém, os regatões não tinham como seu objetivo central, ameaçar a se diversas outras civilizações que maravilhavam o mundo através de suas
autoridade dos seringalistas. Pelo contrário, eles queriam a ascensão social realizações arquitetônicas, conquistas militares, inovações técnicas, tradi-
proporcionada pelo enriquecimento. O regatão passava um período regate- ções religiosas e organizações sociais. Mesopotâmia, Babilônia, Assíria,
ando pelas beiradas de rios, apenas o suficiente para acumular capital. Israel, Pérsia - entre outros povos guerreiros, agricultores ou pastores - que
Logo os “turcos” estavam abrindo uma porta de comercio em qualquer dos sucessivamente dominaram os vastos desertos da península arábica e os
núcleos urbanos acreanos em formação. Começava ai sua batalha para vales férteis do Tigre e do Eufrates.
tornar-se aceito na comunidade e ser visto, não mais como marginal, mas
como parte integrante do sistema. Séculos depois foi a vez do Ocidente levar novas formas de organiza-
ção e dominação, através da grande expansão do Império Romano, até a
Península Arábica. No século V da nossa era a consolidação do Império
Com o tempo e a prosperidade proporcionada pelo comércio do “ouro Romano do Oriente provocou a cristianização de diversas comunidades
negro” (como era tratada a borracha no início do século) os árabes do Acre daquela região. Foi a graças a presença da famosa Civilização Bizantina,
começaram a participar da maçonaria, dos clubes políticos, da fundação de que boa parte da população do Líbano atual e parte da Síria passaram a
clubes esportivos e diversas outras atividades que lhes rendiam dividendos professar doutrinas cristãs, algumas ortodoxas. Essa característica facilitou
sociais. bastante a adaptação no Brasil daqueles que possuíam orientação cristã e
saíram do Oriente para fazer a América contemporaneamente.
Quando a Segunda Guerra Mundial teve início e deu origem, em 1942,
ao novo ciclo de crescimento econômico, conhecido como a “Batalha da Ao mesmo tempo outro movimento religioso desenvolvia-se na Arábia,
Borracha”, os imigrantes sírio-libaneses já estabelecidos puderam se bene- entre os séculos VI e XV. Foi a religião fundada pelo profeta Maomé que, a
ficiar ao máximo.Com capital e proprietária de grande quantidade de em- partir de uma série de revelações divinas, escreveu um livro sagrado cha-
preendimentos a colônia árabe assumiu a condição de integrante da elite mado Corão ou Alcorão.
dirigente da sociedade acreana.
Os termos “islâmico”, “muçulmano” ou “maometano” têm o mesmo sig-
Foi o período em que a participação política dos árabes e seus des- nificado, isto é, “pessoa que está sujeita aos desígnios de Deus ou Alá”,
cendentes aumentou consideravelmente. Logo alguns dos representantes revelando todo o fundamentalismo inerente a essa corrente religiosa. Ao se
da colônia alcançavam posições políticas destacadas. Entre os diversos expandir, o islamismo foi se dividindo em várias seitas. A principal separa-

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ção estabeleceu-se entre os Xiitas, defensores intransigentes da fé e os se ter estendido o serviço militar obrigatório aos cristãos. Levando a um
Sunitas que eram mais maleáveis em relação as transformações do mundo. movimento migratório mais intenso e de caráter mais permanente.

Já no século XI chegou à região outra corrente humana. O Império Seu nome: Wilson Pinheiro. Um homem alto, determinado, de fala
Turco Otomano conquistou o domínio político do Oriente Médio até o início mansa e rara, mas de olhar poderoso.
do séc. XX. O grande chefe Otoman, daí o nome Otomano, deu início ao
processo expansionista que resultou na formação de um grande império Por um mês procuramos, em vão, sinais de sua voz. Nada.
com orientação muçulmana. Foi durante esse período que a Síria e a
Palestina, sob dominação Turca, sofreram uma forte opressão do governo Nenhum papel de pão manuscrito, nenhum documento do Sindicato,
muçulmano sobre uma população de maioria cristã. E foi justamente a nenhuma entrevista nos jornais, nenhuma frase solta e memorizada pela
perseguição religiosa um dos principais motivos que levaram muitas famí- multidão que instintivamente seguia os passos daquele homem de uma
lias cristãs libanesas e sírias a abandonar o Oriente e migrar para outras coragem evidente.
regiões.
Foi pelas vozes alheias que começamos a conhecer a história do Wil-
A decadência do poderoso Império Turco Otomano chegou ao seu pon- son. Sobram relatos do dia 21 de julho de 1980, quando três balas desferi-
to máximo durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Aliado da das pelas costas puseram fim a sua vida. O primeiro dos líderes da floresta
Alemanha que foi derrotada na guerra, o Império Otomano foi reduzido a morrer sem razão, por uma causa. Mas não o ultimo a pagar com sua
territorialmente a atual Turquia somente. As demais áreas do oriente foram vida para que outros pudessem continuar vivendo de acordo com suas
partilhadas entre as vencedoras da guerra. Enquanto a Grã-Bretanha ficou tradições ancestrais. Foram esses relatos da morte, da comoção popular,
com uma grande área da Palestina - atuais Israel, Jordânia e Iraque – a do enterro, da indignação, da dor e das juras de vingança, publicadas nos
França ficou com o domínio da região que atualmente forma o Líbano e a jornais acreanos e repetidas nas entrevistas feitas com as pessoas que
Síria. participaram dessa história, que nos fizeram começar a ouvir o som da voz
daquele homem calado.
Apesar dessa nova situação a imigração foi mantida por conta da crise
econômica que continuava forte na região. Além do que, o sucesso dos Não pudemos evitar um calafrio na espinha ao conhecer a história do
primeiros imigrantes que conseguiram constituir fortunas nas Américas homem enterrado de bruços pela multidão, com uma moeda na boca para
continuou atraindo os familiares daqueles afortunados e outros indivíduos evitar a fuga de seus assassinos. Os signos populares são poderosos. A
sem grandes perspectivas em seu país de origem. O regime de protetorado sina de um homem pode ser sintetizada em um único gesto.
francês na Síria e no Líbano perdurou até o início da Segunda Grande
Guerra (1945) quando estes países alcançaram sua independência política. Não pudemos, tão pouco, evitar um enjôo desagradável ao ler matérias
do jornal oficial que diziam que a culpa da malfadada “Tensão social” vivida
O certo é que uma boa parte dessa rica cultura milenar foi transportada pela população acreana naqueles anos terríveis era dos agitadores, dos
na bagagem dos que abandonaram os desertos orientais feitos de ventos e subversivos, dos comunistas que só queriam conflagrar a multidão para
areias para se internar nos desertos verdes de águas e sombras da Ama- destruir a ordem vigente.
zônia Ocidental.
Se bem entendemos essa história, era o povo que estava tentando
Box manter a ordem das coisas de um Acre invadido por pessoas inescrupulo-
sas, que pouco sabiam da gente que vivia do que a floresta tinha pra ofere-
Os motivos da partida cer, que só se interessavam por tirar o máximo possível no menor tempo
possível. Quem subvertera a ordem natural das coisas havia sido o então
A maioria dos sírio-libaneses que chegaram à América, vieram em ra- chamado “Capitalismo Selvagem”, o Governo Militar, o Governo Biônico
zão da precária situação econômica e da inferioridade sócio religiosa a que Estadual; para os quais só contavam índices econômicos favoráveis e um
estavam sujeitos em seus países de origem. Outras razões de ordem povo manso que obedecesse prontamente o que lhe era determinado. Era
econômica-demográfica somados a fatores de natureza política motivaram preciso progredir, alcançar e desenvolver as fronteiras de um país subde-
e consolidaram esse fenômeno. senvolvido (outra palavra da moda na época). Afinal de contas “Esse é um
país que vai pra frente”. “Brasil, o país do futuro”. E o que é o progresso ?
A migração foi a única saída encontrada por muitos para escapar aos Estradas asfaltadas, bois no pasto, horizontes sem homens monotonamen-
conflitos étnicos e religiosos iniciados no período da dominação turca e te preenchidos por soja para exportação. Não importa o preço a ser pago.
acirrados durante o regime de protetorado francês, após a I Guerra Mundi- No máximo, uma ou duas gerações de brasileiros cerceados, sem liberdade
al. É preciso compreender que no Oriente Médio a religião é um elemento de ir e vir, falar, pensar, plantar, sonhar, buscar a felicidade, enfim. Milhões
fundamental da identidade social. Entre esses povos a religião assume o de brasileiros entre 30 e 40, anos que sabem bem o preço que foi pago por
papel que na sociedade ocidental é exercido pelo Estado. Portanto, está tamanha estupidez oficial encastelada nas estruturas de poder desse país.
presente nos mais variados aspectos sociais, políticos ou individuais,
ultrapassando sua natureza espiritual. Massacres de cristãos, como o de Naquela época eram eles que falavam, o Wilson calava, mas agia. U-
1861 no Líbano, marcaram uma época quando estes não podiam sequer sava sua enorme força vital para conduzir o povo em uma marcha pacífica
caminhar nas calçadas sem correr risco de vida. pelo “empate” do progresso. Todos sabiam que não se podia vence-los.
Eles possuíam a polícia, as forças armadas, o capital, a justiça, tudo de seu
Outros fatores também concorreram para acelerar o processo de mi- lado. E o povo o que tinha ? Somente sua determinação e coragem frente à
gração. A expansão da rede de transportes que uniu áreas mais distantes, força bruta. Mas, se não se podia vencer os opressores podia-se pelo
trouxe diversos bens manufaturados para as aldeias do interior, desarticu- menos “empatar” com eles. E lá iam eles, mulheres e crianças à frente,
lou o caráter familiar da produção de artesãos e camponeses e os levou a impedir mais uma derrubada. Centenas de Wilsons, anônimos, calados,
uma produção voltada para a simples subsistência. Somando, ainda, o fato transformando suas ações em uma voz que gritava.
de que o crescimento populacional nas aldeias havia chegado ao seu limite
máximo, com uma grande escassez de terras aráveis com água suficiente Da culminância da dor, a vingança. Morte trocada. Para um Wilson
para o plantio, tornava a situação da maioria da população bastante precá- morto, uma outra morte, um Nilão, culpado ou não, um deles. Era o mínimo
ria. que podiam fazer se quisessem sobreviver. Aceitar de braços cruzados a
morte de Wilson significaria a derrota e a condenação à morte de muitos
Com a ocorrência da Primeira Guerra Mundial, a situação piorou ainda outros homens de um povo submetido ao terror instituído. Existe razão
mais. As populações das regiões montanhosas do Líbano passaram por um possível na guerra ?
momento de intensa penúria e fome. A produção de alimentos era insufici-
ente para aplacar a fome do povo e ainda assim era confiscada pelo Go- As versões estão lá, para todos verem. Quem perder algum tempo len-
verno Turco que arrecadava provisões para o exército em guerra. Além de do as matérias publicadas no “Varadouro”, no “Nós Irmãos”, na “Gazeta do
Acre”, no “O Rio Branco” e no “O Jornal” vão poder constatar pessoalmente

História do Acre 15 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
a mobilização popular que se espalhava por todos os vales do Acre - de
Boca do Acre até Brasiléia, de Sena Madureira até Cruzeiro - contra a A segunda grande guerra mundial, em fins de 1941, estava tomando
invasão predatória e ofensiva dos “paulistas”. Quem se detiver em ler as rumos muito perigosos. Além de não conseguir conter a ofensiva alemã, os
páginas que apenas começam a amarelar daqueles jornais ficará sabendo paises aliados viam o esforço de guerra consumir rapidamente seus esto-
do descaso oficial com a captura dos assassinos de Wilson e depois a fúria ques de matérias primas estratégicas. E nenhuma situação era mais preo-
com que os assassinos de Nilão foram perseguidos, presos e torturados. cupante do que a da borracha, cujas reservas estavam tão baixas que o
“Operação Pega Fazendeiro”, “Balas de Aço”, “Os sete dias de Brasiléia”. governo americano se viu obrigado a tomar uma série de duras medidas
Uma sequencia de manchetes que nunca precisariam ter sido publicadas, internas. Toda a borracha disponível deveria ser utilizada somente pela
se nossos governantes fossem homens sensatos e esse um país justo. maquina de guerra.

Anos se passaram desde então. A luta continuou e as manchetes dos A entrada do Japão no conflito, a partir do ataque de Pearl Harbour,
jornais seguiram estampando notícias de crimes de encomenda, de confli- impôs o bloqueio definitivo dos produtores de borracha. Já no principio de
tos eminentes, de empates vitoriosos e de ações públicas insuficientes. 1942 o Japão controlava mais de 97% das regiões produtoras asiáticas,
Outros homens tombaram antes que a floresta acreana e o modo de se tornando critica a disponibilidade da borracha para a indústria bélica dos
viver com ela pudessem ser salvos. Poucos culpados foram presos por aliados.
seus crimes. Mas o povo venceu. No que era possível, mas venceu. Reser-
vas extrativistas foram demarcadas, o povo da floresta fez uma aliança que Por estranho que possa parecer foi essa seqüência de acontecimentos,
mostrou a todos a existência de um povo que só queria tranquilidade e ocorridos em sua maioria no hemisfério norte ou do outro lado do Oceano
justiça pra tocar sua vida. A voz de Wilson e de seu povo foi forte o suficien- Pacífico, que deu origem no Brasil à quase desconhecida Batalha da Borra-
te para se fazer ouvir. cha. Uma história de imensos sacrifícios para milhares de brasileiros man-
dados para os seringais amazônicos em nome da grande guerra que con-
O Acre nunca mais seria o mesmo então. Os governantes até continua- flagrava o mundo civilizado. Um capítulo obscuro e sem glórias de nossa
riam os mesmos, nas mesmas famílias que à décadas. Mas havia algo história que só permanece vivo na memória e no abandono dos últimos
novo na paz que aos poucos voltava às cidades acreanas. O povo das soldados da borracha.
cidades também havia assistido à chegada de milhares de famílias expul-
sas de suas casas, presenciado a miséria que explodia em suas invasões Os Acordos de Washington
periféricas e ouvido as vozes que se levantaram de dentro da floresta. Os
educados filhos da cidade, viram que tudo o que acontecera em Xapuri, Quando a extensão da guerra ao Pacífico e ao Indico, interrompeu o
Brasiléia, Boca do Acre, Quinari, Tarauacá, era questão de resistência de fornecimento da borracha asiática as autoridades norte-americanas entra-
um povo. Era preciso reconhecer que nada daquilo havia sido coisa de ram em pânico. O Presidente Roosevelt nomeou uma comissão para estu-
comunista, de subversivo, de políticos cassados, de ambientalistas pós- dar a situação dos estoques de matérias-primas essenciais para a guerra. E
modernos, de ativistas burgueses, de intelectuais urbanos. os resultados obtidos por essa comissão foram alarmantes: “De todos os
materiais críticos e estratégicos, a borracha é aquele que apresenta a maior
Mais uma vez a voz que vinha do interior foi expressa por veículos es- ameaça à segurança de nossa nação e ao êxito da causa aliada (...) Consi-
tranhos ao povo que falava. Foi a vez das monografias acadêmicas, das deramos a situação presente tão perigosa que, se não se tomarem medidas
dissertações de mestrado, das teses de doutorado. O que era coragem e corretivas imediatas, este país entrará em colapso civil e militar. A crueza
sabedoria popular foi logo promovido à ciência, multiplicando os títulos, as dos fatos é advertência que não pode ser ignorada” (Comissão Baruch).
abordagens, os recortes epistemológicos, as linhas teórico-metodológicas
de pesquisa, economia, história, sociologia, antropologia, expressões e As atenções do governo americano se voltaram então para a Amazô-
palavras estranhas ao povo que de sujeito se tornou objeto (de pesquisa). nia, grande reservatório natural de borracha, com cerca de 300.000.000 de
seringueiras prontas para a produção de 800.000 toneladas de borracha
Diferente daquelas manchetes de jornais que não deveriam ter sido es- anuais, mais que o dobro das necessidades americanas. Entretanto, nessa
critas, alguns dos novos títulos revelaram o aprendizado de uma sociedade época, só havia na região cerca de 35.000 seringueiros em atividade com
civilizada com o que havia de mais antigo e inovador em sí mesma, a voz uma produção de 16.000-17.000 toneladas na safra de 1940-41. Seriam
do povo. “Ocupação recente das terras do Acre (Transferencia de capitais e necessários, pelo menos, mais 100.000 trabalhadores para reativar a
disputa pela terra)” (1982); O sertanejo, o Brabo e o Posseiro (Os cem anos produção amazônica e eleva-la ao nível de 70.000 toneladas anuais no
de andanças da população acreana)” (1985); “Conflitos pela terra no Acre” menor espaço de tempo possível.
(1987); “Os ‘Imperadores do Acre’ – uma análise da recente expansão
capitalista na Amazônia” (1988); “Modernização da agricultura – pecuariza- Para alcançar esse objetivo ocorreram intensas negociações entre au-
ção e mudanças – o caso do Alto Purus” (1991); “Seringueiros e Sindicato: toridades brasileiras e norte-americanas que culminaram com a assinatura
Um povo da floresta em busca de liberdade” (1991); “Capital e trabalho na dos Acordos de Washinton. Ficou acertado então que o governo americano
Amazônia Ocidental” (1992); entre tantos outros publicados nos corredores passaria a investir fortemente no financiamento da produção de borracha
das UNBs, UFACs, UFMGs, PUCs. amazônica, enquanto ao governo brasileiro caberia o encaminhamento de
milhares de trabalhadores para os seringais, no que passou a ser tratado
Isso sem falar nas prateleiras das livrarias dos shopping-centers reple- como um heróico esforço de guerra. Tudo ótimo enquanto as coisas esta-
tos de livros sobre a devastação da Amazônia, sobre a vida e a morte de vam no papel, mas muito complicadas quando chegou a hora de pô-las em
Chico Mendes, sobre ecologia, etc. Será possível que essa sociedade de prática.
consumo rápido e desenfreado tenha realmente ouvido aquela voz que
silenciou na boca de um Wilson Pioneiro ? Talvez nunca saibamos ao certo. A Batalha da Borracha

O que parece certo é que o Acre continua no seu caminho, Tentando Para o governo brasileiro era juntar a fome com a vontade de comer, li-
construir um destino próprio. Não importa se diferente das receitas caseiras teralmente. Somente em Fortaleza cerca de 30.000 flagelados da seca de
ou internacionais. Aqui existe uma voz que nunca foi escrita, da qual não se 41-42 estavam disponíveis para serem enviados imediatamente para os
registrou o timbre, da qual não restou nenhuma frase, mas que não deixa seringais. Mesmo que de forma pouco organizada o DNI (Departamento
de ser repetida e ouvida por seringais e cidades dessa Amazônia Ocidental. Nacional de Imigração) ainda conseguiu enviar para a Amazônia, durante o
Uma certa voz, de um certo homem alto e determinado, de fala mansa e ano de 1942, quase 15.000 pessoas, sendo a metade de homens aptos ao
rara, dono de um olhar e um silêncio poderosos. trabalho.

PS: Este deveria ser um artigo de história, na mais pura acepção Eram os primeiros soldados da borracha. Simples retirantes que se
pragmática da ciência. Porém, como não sentir e escrever com o coração amontoavam com suas famílias por todo o nordeste fugindo de uma seca
sobre uma tal história de dor e vida ? que teimava em não se acabar. O que era, evidentemente, muito pouco
diante das pretensões norte-americanas.
Os insuspeitos perigos da guerra

História do Acre 16 A Opção Certa Para a Sua Realização


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O problema era a baixa capacidade de transporte das empresas de na- um salário de meio dólar por dia e a expectativa de logo embarcar para a
vegação dos rios amazônicos e a pouca disponibilidade de alojamento para Amazônia. Os navios do Loyd saiam dos portos nordestinos abarrotados de
os trabalhadores em transito. Mesmo com o fornecimento de passagens do homens, mulheres e crianças de todas as partes do Brasil. Primeiro rumo
Loyd, com a abertura de créditos especiais pelo governo brasileiro e com a ao Maranhão e depois para Belém, Manaus, Rio Branco e outras cidades
promessa do governo americano de pagar U$ 100 por cada novo trabalha- menores onde as turmas de trabalhadores seriam entregues aos “patrões”
dor instalado no seringal as dificuldades eram imensas e pareciam intrans- (seringalistas) que deveriam conduzi-los até os seringais onde, finalmente,
poníveis. Isso só começou a ser solucionado em 1943 através do investi- poderiam cumprir seu dever para com a Pátria.
mento maciço que os americanos fizeram na SNAPP (Serviço de Navega-
ção e Administração dos Portos do Pará) e da construção de alojamentos Aparentemente tudo muito organizado. Pelo menos frente aos olhos
espalhados ao longo do trajeto a ser percorrido pelos soldados da borracha. dos americanos que estavam nos fornecendo centenas de embarcações e
caminhões, toneladas de suprimentos e muito, muito, dinheiro. Tanto di-
Para acelerar ainda mais a transferência de trabalhadores para a Ama- nheiro que dava pra desperdiçar em mais propaganda, em erros administra-
zônia e aumentar significativamente sua produção de borracha os governos tivos que faziam uma pequena cidade do sertão nordestino ser inundada
norte-americano e brasileiro encarregaram diversos órgãos da realização por um enorme carregamento de café solicitado não se sabe por quem, ou
da “Batalha da Borracha”. Pelo lado americano estavam envolvidas a RDC no sumiço de mais de 1.500 mulas entre São Paulo e o Acre.
(Rubber Development Corporation), a Board of Economic Warfare, a RRC
(Rubber Reserve Company), a Reconstruccion Finance Corporation e a Na verdade, o caminho até o eldorado amazônico era muito mais longo
Defense Supllies Corporation. Enquanto que pelo lado brasileiro foram e difícil do que poderiam imaginar tanto americanos quanto soldados da
criados o SEMTA (Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para borracha. A começar pelo medo do ataque dos submarinos alemães que se
a Amazônia), depois substituída pela CAETA (Comissão Administrativa de espalhava entre as famílias amontoadas a bordo dos navios do Loyd com-
Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia), a SAVA (Superin- boiados por caça-minas e aviões de guerra. Memórias marcadas por aque-
tendência do Abastecimento do Vale Amazônico) e o BCB (Banco de les momentos em que era proibido acender fósforos ou mesmo falar. Tem-
Crédito da Borracha), entre outros. pos de medo que estavam só começando.

Esses novos órgãos, em muitos casos, se sobrepunham a outros já e- A partir do Maranhão não havia um fluxo organizado de encaminha-
xistentes como o DNI e não precisamos de muito esforço para imaginar o mento de trabalhadores para os seringais. Freqüentemente era preciso
tamanho da confusão oficial que se tornou essa tal Batalha da Borracha. esperar muito antes que as turmas tivessem oportunidade para seguir
viagem. A maioria dos alojamentos que recebiam os imigrantes em transito
A ilusão do paraíso eram verdadeiros campos de concentração onde as péssimas condições de
alimentação e higiene acabavam com a saúde dos trabalhadores antes
Em todas as regiões do Brasil aliciadores tratavam de convencer traba- mesmo que fizessem o primeiro corte nas seringueiras.
lhadores a se alistar como soldados da borracha para auxiliar na vitória
aliada. Alistamento, recrutamento, voluntários, soldados, esforço de guerra, Não que não houvesse comida. Havia, e muita. Mas era tão ruim, tão
se tornaram termos comuns no cotidiano popular. A mobilização de traba- mal feita, que era comum ver as lixeiras dos alojamentos cheias enquanto
lhadores para a Amazônia realizada pelo Estado Novo foi revestida por toda as pessoas adoeciam com fome. Muitos alojamentos foram construídos em
a força simbólica e coercitiva que os tempos de guerra possibilitavam. lugares infestados pela malária, febre amarela e icterícia. Surtos epidêmi-
cos matavam dezenas de soldados da borracha e seus familiares nos
No nordeste, de onde deveria sair o maior numero de soldados, o pousos de Belém, Manaus e outros portos amazônicos. O atendimento
SEMTA convocou padres, médicos e professores para o recrutamento de médico inexistia longe das propagandas oficiais e os conflitos se espalha-
todos os homens aptos ao esforço de guerra que tinha que ser empreendi- vam entre os soldados já quase derrotados.
do nas florestas amazônicas. O artista suíço Chabloz foi contratado para
produzir material de divulgação acerca da “realidade” que os esperava. Nos A desordem era tanta que muitos abandonaram os alojamentos e pas-
cartazes coloridos os seringueiros apareciam recolhendo baldes de látex saram a perambular pelas ruas de Manaus e outras cidades buscando um
que escorria como água de grossas seringueiras. Todo o caminho que modo de retornar a sua terra de origem, ou de pelo menos sobreviver.
levava do sertão nordestino, seco e amarelo, ao paraíso verde e úmido da Outras tantas revoltas paralisaram os gaiolas em meio de viagem diante
Amazônia estava retratado naqueles cartazes repletos de palavras fortes e das alarmantes notícias sobre a vida nos seringais. Pequenos motins
otimistas. O bordão “Borracha para a Vitória” tornou-se o emblema da rapidamente abafados pelos funcionários da SNAPP ou da SAVA. Esse
mobilização realizada por todo o nordeste. parecia ser então um caminho sem volta.
Histórias de enriquecimento fácil circulavam de boca em boca. “Na
Amazônia se junta dinheiro com rodo”. Os velhos mitos do Eldorado ama- Soldados da floresta
zônico voltavam a ganhar força no imaginário popular. O paraíso perdido, a
terra da fartura e da promissão, onde a floresta era sempre verde e a seca Os que conseguiam efetivamente chegar aos seringais depois de três
desconhecida. Os cartazes mostravam caminhões carregando toneladas de ou mais meses de viagem já sabiam que suas dificuldades estavam apenas
borracha colhidas com fartura pelos trabalhadores. Imagens coletadas por começando. Os recém chegados eram tratados como “brabos”. Aqueles
Chabloz nas plantações da Firestone na Malásia, sem nenhuma conexão que ainda não sabem cortar seringa e cuja produção no primeiro ano é
com a realidade que esperava os trabalhadores nos seringais amazônicos. sempre muito pequena. Só a partir do segundo ano de trabalho o seringuei-
Mas, perder o que? Afinal de contas - espalhadas pelas esquinas, nas ro era considerado “manso”. Mesmo assim, desde o momento em que era
paredes das casas e nos bares - a colorida propaganda oficial garantia que escolhido e embarcado para o seringal, o brabo já começava a acumular
todos os trabalhadores teriam passagem grátis e seriam protegidos pelo uma divida com o patrão.
SEMTA.
Uma divida que crescia rapidamente porque tudo que recebia era co-
Quando nem todas as promessas e quimeras funcionavam, sempre brado. Mantimentos, ferramentas, tigelas, roupas, armas, munição, remé-
restava o bom e velho recrutamento forçado de jovens. A muitas famílias do dios, tudo enfim era anotado na sua conta corrente. Só no fim da safra a
sertão nordestino foram dadas somente duas opções: ou seus filhos parti- produção da borracha de cada seringueiro era abatida do valor de sua
am para os seringais como soldados da borracha ou então deveriam seguir dívida. Mas o valor de sua produção era, quase sempre, inferior a quantia
para o front lutar contra os italianos e alemães. Muitos preferiram a Amazô- devida ao patrão. E não adiantava argumentar que o valor cobrado pelas
nia. mercadorias no barracão do seringalista era cinco ou mais vezes maior do
que aquele praticado nas cidades, os seringueiros eram proibidos de ven-
Os caminhos da guerra der ou comprar de outro lugar. Cedo os soldados da borracha descobriam
que no seringal a palavra do patrão era a lei e a lógica daquela guerra.
Ao chegar aos alojamentos organizados pelo SEMTA o trabalhador re-
cebia um chapéu, um par de alparcatas, uma blusa de morim branco, uma Os financiadores americanos insistiam que não se deveriam repetir os
calça de mescla azul, uma caneca, um talher, um prato, uma rede, cigarros, abusos do sistema de aviamento que caracterizaram o primeiro ciclo da

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borracha. Na pratica, entretanto, o contrato de trabalho assinado entre Mais recentemente, a partir de experiências educacionais e de uma re-
seringalista e soldado da borracha quase nunca foi respeitado. A não ser lativa revisão historiográfica, cresceu o reconhecimento da história dos
para assegurar os direitos dos seringalistas. Como no caso da clausula que grupos indígenas nativos acreanos como parte importante de uma “História
impedia o seringueiro de abandonar o seringal enquanto não saldasse sua do Acre”. O que certamente representou um significativo avanço sobre a
divida com o patrão, o que tornava a maioria dos seringueiros verdadeiros compreensão do Acre como espaço etnicamente múltiplo.
prisioneiros de suas colocações de seringa.
Entre estes dois momentos extremos surgiram ainda diversos livros e
Todas as tentativas de implantação de um novo regime de trabalho, trabalhos dando conta da contribuição de povos árabes (os famosos sírio-
como o fornecimento de suprimentos direto aos seringueiros, fracassaram libaneses) na formação da sociedade acreana. Romances, contos e memó-
diante da pressão e poderio das casas aviadoras e dos seringalistas que rias cuja publicação foi impulsionada pela bem sucedida estratégia de
dominavam secularmente o processo da produção da borracha na Amazô- ascensão econômica e social que esses imigrantes árabes protagonizaram
nia. ao longo da história acreana até se tornarem parte das elites regionais
dominantes.
Uma Guerra que não terminou
E quanto à presença negra no Acre? O que existe publicado sobre o
tema? O que faz com que a participação de negros na formação da socie-
Mesmo com todos os problemas enfrentados (ou provocados) pelos dade acreana seja até hoje, na pratica, invisível?
órgãos encarregados da Batalha da Borracha cerca de 60.000 pessoas
foram enviadas para os seringais amazônicos entre 1942 e 1945. Desse Certamente isso não se deve a história acreana, mas a uma certa for-
total quase a metade acabou morrendo em razão das péssimas condições ma de compreende-la. É preciso romper com o silencio dominante, como é
de transporte, alojamento e alimentação durante a viagem. Como também preciso jogar luz sobre o que parece invisível e fazer ressaltar suas cores.
pela absoluta falta de assistência médica, ou mesmo em função dos inúme- Esse artigo é apenas um principio... nos dois sentidos do termo.
ros problemas ou conflitos enfrentados nos seringais.
O Navegador Negro
Ainda assim o crescimento da produção de borracha na Amazônia
nesse período foi infinitamente menor do que o esperado. O que levou o Antes de 1850 o Acre estava ainda na pré-história e não existia para a
governo norte-americano, já a partir de 1944, a transferir muitas de suas sociedade civilizada. Ninguém sabe quantos aventureiros subiram os rios
atribuições para órgãos brasileiros. E tão logo a Guerra Mundial chegou ao da Amazônia Ocidental vindos do Amazonas, da Bolívia e do Peru antes
fim, no ano seguinte, os Estados Unidos se apressaram em cancelar todos desse período. Destes possíveis aventureiros anônimos não ficaram regis-
os acordos referentes à produção de borracha amazônica. Afinal de contas, tros, memórias e nem mesmo lendas. As florestas do extremo oeste ama-
o acesso às regiões produtoras do sudeste asiático estava novamente zônico ainda pertenciam ao reino do imaginário, povoadas por índios com
aberto e o mercado internacional logo se normalizaria. rabos, mapinguaris, índios de meio metro de altura, cobras grandes ou
índios brancos e de olhos claros quando começaram as primeiras explora-
Era o fim da Batalha da Borracha, mas não da guerra travada pelos ções da região. E coube exatamente a um caboclo negro, nascido nas
soldados dela. Muitos, imersos na solidão de suas colocações no interior da margens do Manacapuru, a missão de explorar o rio Acre até suas cabecei-
floresta, sequer foram avisados que a guerra tinha terminado, só vindo a ras.
descobrir isso anos depois. Alguns voltaram para suas regiões de origem
como haviam partido, sem um tostão no bolso, ou pior, alquebrados e sem Manoel Urbano da Encarnação se tornou uma verdadeira lenda no Pu-
saúde. Outros conseguiram criar raízes na floresta e ali construir suas rus e seus afluentes na segunda metade do século XIX. Diretor de Índios
vidas. Poucos, muito poucos, conseguiram tirar algum proveito econômico nomeado pelo governo da Província do Amazonas para o vale do Purus,
dessa batalha incompreensível, aparentemente sem armas, sem tiros, mas Manoel Urbano realizou o prodígio de explorar a região sem violência, ao
com tantas vítimas. contrário do que fizeram os europeus por toda a América, estabelecendo
amistosas relações de cooperação com os grupos indígenas nativos destas
Pelo menos uma coisa todos os soldados da borracha, sem exceção, terras. Tanto assim que era comumente chamado pelos índios como “Ta-
receberam. O descaso do governo brasileiro, que os abandonou a própria pauna Catu” que, segundo Castelo Branco Sobrinho, significava negro bom.
sorte, apesar de todos os acordos e promessas feitos antes e durante a Com um sentido totalmente diverso do termo “negro bom” do período
Batalha da Borracha. Só a partir da Constituição de 1988, mais de quarenta colonial que se referia a um escravo manso e/ou trabalhador segundo a
anos depois do fim da Guerra Mundial, os soldados da borracha passaram ótica de seus senhores.
a receber uma pensão como reconhecimento pelo serviço prestado ao país.
Uma pensão irrisória, dez vezes menor que a pensão recebida por aqueles
que foram lutar na Itália. Por isso, ainda hoje, em diversas cidades brasilei-
ras, no dia 1º de maio os soldados da borracha se reúnem para continuar a Pratico insuperável na arte de navegar os perigosos rios acreanos,
luta pelo reconhecimento de seus direitos. Manoel Urbano percorreu essa região durante décadas. Guiou o inglês
William Chandless que se encantou com sua “grande inteligência natural”,
Nem poderia ser diferente já que dos 20.000 brasileiros que lutaram na plantou as sementes de futuras cidades do Purus, espalhou seus filhos por
Itália morreram somente 454 combatentes. Enquanto que entre os quase esses barrancos e estabeleceu boas relações com os diversos povos
60.000 soldados da borracha cerca da metade morreu durante a guerra. indígenas do Aquiri, Purus e Iaco. Enfim, Manoel Urbano não só descobriu
Apesar disso, com a mesma intensidade com que os pracinhas foram o Acre como foi seu primeiro civilizador, criando as bases de uma socieda-
recebidos triunfalmente pela sociedade brasileira, após o fim da Segunda de multirracial que estava reservada a um futuro ainda distante, apesar de
Grande Guerra Mundial, os soldados da borracha foram incompreensivel- seus mais de cento e vinte anos de idade, segundo as ultimas lendas que
mente abandonados e esquecidos, afinal de contas eram todos igualmente se ouviram sobre esse caboclo negro e bom nas margens do Purus.
soldados.
Acre – um resumo do mundo
O Acre foi construído através da participação de diferentes grupos étni-
cos, mas sua história, como sempre, foi construída apenas por alguns. Por Tão logo começou a febre do ouro vegetal, a borracha, que brotava
isso, desde sua organização como espaço brasileiro o Acre deu lugar a abundante de arvores amazônicas, uma corrente humana foi criada e levou
escritura de uma história de bravos e pioneiros povoadores nordestinos. milhares de homens cada vez mais longe floresta adentro. O ano de 1880
Muitos foram os pensadores da Amazônia que, ao longo do século XX, marcou a chegada dessa avassaladora onda humana às terras acreanas.
explicaram genericamente o Acre como obra fundamental de cearenses. Brasileiros de todas as partes: Amazonas, Pará, Maranhão, Paraíba, Rio
Consolidava-se assim uma versão histórica que interessava a oligarquia Grande do Norte, Ceará, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande
extrativista amazônica contraposta aos cafeicultores do sul que, no princípio do Sul que se misturaram aos muitos espanhóis, portugueses, judeus,
do século passado, dominavam a republica brasileira. sírios, libaneses, turcos, italianos, ingleses, barbadianos, bolivianos e
peruanos, entre outros.

História do Acre 18 A Opção Certa Para a Sua Realização


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nece como uma importante área verde da cidade por ter se tornado um
Em menos de vinte anos, ao raiar do século XX, o Acre havia se trans- parque histórico e ambiental há pouco mais de dez anos.
formado de território indígena em um verdadeiro resumo do mundo, apesar
da predominância absoluta de brasileiros de diferentes origens. Uma nova Outro combatente negro da Revolução Acreana foi Pio Nazário, que de
sociedade construída a partir da diversidade étnica e cultural dos que para tão ágil e rápido ganhou o apelido de “Pisa nas Asas”, graças à sua decisi-
cá migraram em busca da fortuna da borracha e na qual podemos identifi- va e corajosa atuação no segundo combate da Volta da Empreza (ali perto
car uma importante participação negra. Tão significativa quanto à própria da Gameleira) quando conseguiu lançar bombas incendiárias sobre o
presença de negros na sociedade brasileira da época. acampamento boliviano. Segundo notícias dos jornais da época, Pio Nazá-
rio era morador do Xapuri, onde virou até nome de rua.
A única lacuna existente a esse respeito se refere ao fato de que ainda
não encontramos vestígios arqueológicos ou históricos que revelem a Essa multiplicação de memórias e histórias identificadas na formação
presença antiga de quilombolas em terras acreanas. Apesar dessa presen- de Rio Branco mostra claramente a importância e a diversidade de homens
ça ser perfeitamente possível, o Acre ainda estava muito distante das e mulheres de cor negra nas primeiras décadas da construção da socieda-
regiões que possuíam escravos africanos antes da navegação a vapor, na de acreana. E não existem motivos pra imaginar que os outros povoados e
segunda metade do século XIX. Mesmo assim podemos levantar a hipótese seringais acreanos dessa época não tenham conhecido uma presença
de grupos de escravos fugitivos terem chegado ao Acre descendo o rio negra tão significativa quanto Rio Branco.
Madeira ou subindo o Purus e o Juruá. Mas isso, por enquanto, é apenas
especulação. Ou então, teremos que ampliar nossa compreensão sobre o A luz multicor da floresta
que eram comunidades quilombolas e assim rever a história acreana a
partir de uma nova conceituação, como tem sido sugerido pelos movimen- Nem só de exemplos localizados se deve construir a história negra do
tos que atualmente lutam pela igualdade racial no Brasil. Acre que ainda possui conexões e entrelaçamentos pouco estudados. Este
é o caso da criação de uma religião tipicamente acreana e de configuração
Por outro lado me parece que não podemos desprezar a vinda de fugi- genuinamente amazônica: o Santo Daime. Compreendido, não apenas
tivos de Canudos para o Acre como sinal evidente que essa região se como um chá feito a partir da composição de plantas da floresta, mas como
tornou área de refugio para muitos dos deserdados e perseguidos da uma religião com um corpo doutrinário próprio e a recombinação elementos
Republica brasileira. Para essas comunidades, muitas das quais certamen- de diversas tradições étnicas.
te negras, a nova sociedade da borracha que se formava por aqui deveria Apesar do Santo Daime já ter sido explorado em muitas reportagens,
aparecer, pelo menos, como a possibilidade de uma vida um pouco mais teses, dissertações e livros. Nada se publicou sobre a intima relação entre a
digna. Uma nova sociedade contraditória, é verdade, porque ainda que a formação dessa doutrina e a participação direta e decisiva de negros oriun-
possibilidade de ascensão social no Acre fosse real, também era muito dos da baixada maranhense. Para avaliarmos a importância desta relação
concreta a possibilidade de ser aprisionado em um novo tipo de escravidão temos que tentar reconstituir, ainda que rapidamente, a seqüência de
que aqui se desenvolveu: a escravidão por dívidas. acontecimentos que levaram a criação de uma nova religião na Amazônia
em pleno século XX.
Negros de Rio Branco – um resumo do Acre
O uso do chá feito pela mistura do cipó (jagube) com a folha (chacrona)
Já no princípio do século XX um dos primeiros bairros da Vila Rio é milenar entre diversos grupos indígenas amazônicos em uma extensa
Branco se chamava África. Uma surpreendente pequena África acreana área que começa nas selvas da Colômbia, passando pelo Brasil, Bolívia e
que os relatórios oficiais registraram apenas superficialmente, mas que a Peru até alcançar os contrafortes dos Andes. Mas a utilização da Ayahuas-
memória dos antigos moradores do bairro Seis de Agosto manteve viva até ca, o vinho das almas, nas civilizações andinas ainda não está de todo
os dias de hoje. Assim pudemos saber que a antiga rua da África é a mes- clara. A princípio seu uso era um conhecimento mágico típico de povos da
ma rua 1º de Maio, traçada ao longo da margem do rio Acre e que ainda floresta que lhe davam diferentes nomes e o empregavam a partir de um
resiste à força de sua correnteza no segundo distrito da capital acreana. conjunto comum de conhecimentos de natureza espiritual.
Uma rua chamada África porque ali moravam muitas das famílias negras do Durante décadas, após o inicio do povoamento das florestas acreanas
povoado nascente. pelos seringueiros, o uso do “Cipó” permaneceu como um conhecimento
restrito aos pajés indígenas e incompreensível para os brancos que habita-
Os mesmos antigos moradores da Seis de Agosto ainda lembram e fa- vam a região. Só nos primeiros anos do século XX começaram a ocorrer no
lam de um tcerto Absolon, negro de origem incerta e fé muçulmana, que Alto Acre experiências místicas e religiosas feitas por brasileiros.
também vivia no segundo distrito misturado ao “turcos” da rua do Comércio
(atual Eduardo Assmar). Como, em outras partes da cidade, se fala tam- Segundo histórias que circulam de boca em boca, sobre as quais te-
bém da família dos Caetanos que há décadas se instalaram em Rio Branco, mos apenas referencias genéricas em algumas publicações, foram os
vinda da região de Conceição dos Caetanos, que era um importante encla- irmãos André e Antonio Costa os primeiros a aprender o uso do chá com
ve territorial de negros nordestinos. xamãs bolivianos em Brasiléia. Teria sido fundado nessa cidade um pionei-
ro centro de uso do cipó por não-indígenas onde se começou a esboçar
A memória dos moradores de Rio Branco registra ainda muitas outras uma serie de explicações esotéricas que permitia a compreensão dos
histórias de personagens ou de comunidades negras na constituição deste efeitos do chá sob uma nova ótica religiosa. Existem, inclusive, indícios de
ou daquele bairro ou rua. Como no caso da lendária fuga de um grupo de perseguição policial dos praticantes brasileiros do uso do cipó e de fecha-
negros barbadianos da construção da Ferrovia Madeira-Mamoré e que teria mento desta primeira “igreja” pelo delegado Odilon Pratagi, que mais tarde
vindo bater no Acre. O curioso dessa memória é que não encontramos teria permitido seu funcionamento.
outras referencias sobre esse grupo, além da história oral. Podemos espe-
cular que teriam vindo para cá entre 1906 e 1912 (período das obras da Ainda segundo a tradição oral, Irineu Serra, um negro grande e forte,
ferrovia), mas não conhecemos famílias ou indivíduos com o característico imigrante do Maranhão, conheceu em Brasiléia por volta de 1912, os ir-
sobrenome inglês em Rio Branco, como é o caso de um bairro de Porto mãos Costa, igualmente negros maranhenses, através de quem ele teria
Velho ainda habitado por negros barbadianos com estranhos sobrenomes tido contato com o chá. Porém, algum tempo depois desse encontro, Irineu
(Shockness, Johnson ou Chase). teve sua própria iniciação mágica no uso do chá, recebendo na floresta
uma missão religiosa que passaria a desenvolver desde então. Mas é
Em outros casos podemos identificar marcas muito mais nítidas, deixa- possível que a influência dos irmãos Costa na transposição do chá da
das pelos negros que “fizeram” o Acre, no próprio corpo da cidade. É o sociedade indígena para a sociedade acreana também tenha sido importan-
caso do Capitão Ciríaco, um “caboclo escuro” do sertão maranhense que te nesses momentos iniciais.
lutou na Revolução Acreana obtendo a patente de capitão, que guardava
com imenso orgulho junto com as armas que utilizou durante a guerra. De toda forma, foi Irineu Serra quem chamou o chá do cipó e da cha-
Como se não bastasse sua luta em prol da causa acreana, que lhe custou crona de Santo Daime e passou a compor uma doutrina que, apesar de
traumas e tristezas carregados até o fim da vida, Capitão Ciríaco ainda incorporar diversos elementos indígenas e negros tinha uma base e um
plantou um verdadeiro seringal dentro de Rio Branco e que até hoje perma- calendário fundamentalmente cristão. Foi a maneira encontrada por Irineu

História do Acre 19 A Opção Certa Para a Sua Realização


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para traduzir para nossa própria sociedade, de base católica, o conheci- através das Conferencias pela Igualdade Racial e das articulações entre
mento espiritual e transcendente proporcionado pelo Daime. Na construção diferentes segmentos étnicos acreanos, como negros e índios. O que sem
dessa nova religião foi decisiva a herança cultural, religiosa e sincrética de duvida terá que resultar no rompimento da invisibilidade forçada a que
Irineu que reunia elementos religiosos da tradição africana presente nas foram submetidos muitos indivíduos e comunidades em uma sociedade tão
Casas das Minas, bem como da forte influencia católica estabelecida entre múltipla e diversificada quanto a nossa e assim poder afirmar: o Acre é, e
as famílias descendentes de escravos da baixada maranhense. sempre foi, também negro. fonte:Marcos Vinicius Neves
http://francasnunes.blogspot.com.br/2011/09/uma-breve-historia-da-luta-
Mais tarde, outro negro do Maranhão, também filho (ou neto como Iri- acreana.html
neu) de escravos, Daniel Matos, se envolveria com o Santo Daime através
de Irineu Serra. Este marinheiro que também havia chegado ao Acre nos Êxodo rural e pecuária no Acre
primeiros anos do século XX decidiu ficar morando e trabalhando em Rio Escrito por Jannice Dantas
Branco. Barbeiro, musico, boêmio, Daniel Matos adoeceu e foi tratado por
Irineu com o Santo Daime. Depois de muitas idas e vindas, Daniel abando- Com o declínio da borracha a maioria dos seringais encontrava-se em
nou a boêmia e fez de sua casa um centro de tratamento espiritual. processo de falência e as terras foram desvalorizando, com isso, os serin-
gais se tornaram a melhor opção para os que atenderam ao chamado do
Tinha início assim uma nova linha de trabalho religioso com o Santo governador.
Daime. Daniel Matos estabeleceu novos fundamentos doutrinários de
matriz africana em seu trabalho como curador. Diferente de Irineu, Daniel Grandes fazendas começaram a ser implantadas. Com isso, imensas
nem sempre usava o maracá ou o bailado, que eram elementos da cultura áreas de florestas nativas foram sacrificadas e milhares de seringueiros
indígena amazônica, ao mesmo tempo em que acrescentou o trabalho com desalojados das suas atividades extrativistas. Isso gerou conflitos, muitas
caboclos e preto-velhos, característico da Umbanda de matriz afro- vezes com vítimas fatais e aumentou o êxodo do campo para as cidades.
brasileira. O êxodo a muito se fazia sentir devido a falta de condições mínimas de
vida no meio rural. Os seringueiros aos poucos trocaram os campos pelas e
Desde então estavam estabelecidos os dois troncos principais a partir cidades, no entanto, o esvaziando dos seringais ocasionou queda na pro-
dos quais se desenvolveu o Santo Daime como uma religião popular acrea- dução gumífera e transformou o êxodo em verdadeira debandada, provo-
na de raiz tão afro-brasileira quanto indígena. Teve início no Acre uma cando o inchaço das cidades, que por sua vez, encontravam-se totalmente
longa trajetória de dificuldades e preconceitos que teve que ser superada despreparadas para receber o grande fluxo migratório.
pelos seguidores de Irineu e Daniel antes que o Daime fosse socialmente
aceito e se espalhasse para o mundo como uma nova e verdadeira religião, A capital acreana foi a mais afetada, teve um crescimento desordenado
inesperadamente nascida da floresta em pleno século XX, mas isso já é e ingressou num contínuo processo de degradação. Com a miséria, o
outra história. índice de marginalidade elevou-se e com ela uma crescente escalada da
violência. As tímidas ações do governo foram insuficientes e se tornaram
A cor da alma acreana impotentes diante das mudanças.
No entanto, é necessário esclarecer que o êxodo da população serin-
Neste ponto já está evidente que se pudéssemos percorrer em deta- gueira para os centros urbanos, cedo ou tarde aconteceria. Os seringais já
lhes toda a história do Acre veríamos a multiplicação de ocorrências seme- não ofereciam condições de vida e aos poucos iam gradualmente sendo
lhantes àquelas descritas até aqui. Basta um olhar mais atento para identifi- desativados. Isso já vinha acontecendo desde a primeira desvalorização da
carmos a participação de afro-descendentes em todas as etapas da forma- borracha. Afinal de contas, o Acre já vivia uma fase de comprometimento
ção da sociedade acreana. Bem como é possível identificar a influencia da sua principal fonte de receita: a extração do látex.
negra nos usos e costumes mais comuns e cotidianos de seu povo.
Surgia então a busca de novos caminhos para o Acre. O Governo Fe-
Exemplos não faltam para ilustrar esta afirmação. Basta lembrar da a- deral começa a instituir programas de incentivo à reativação dos seringais
legria e calor revelados no depoimento de seu Elpídio, negro cearense que nativos. Porém, os que aqui chegaram optaram pela pecuária e não pela
veio para o Acre como soldado da borracha em recente vídeo- continuação da extração do látex.
documentário, para perceber que boa parte do exército que veio para cá na
Há de se reconhecer que houve falha na forma como se deu esse pro-
Batalha da Borracha era negro. Ou então, podemos ressaltar a importância
cesso. Não houve um planejamento prévio ou qualquer outra providência
de Da Costa, acreano de Rio Branco, que além de ajudar a construir o
que tivesse por escopo proteger essas populações.
Palácio Rio Branco, marcou uma época da vida musical acreana através de
seus sambas. Ou Santinho, um baiano-acreano de espírito carioca, que Talvez o caminho fosse o zoneamento territorial, tão em voga nos dias
popularizou e disseminou as Escolas de Samba no Acre. de hoje. No entanto, não era cogitado naquela época, afinal, a orientação
do governo federal era: ” integrar para não entregar”. E a ocupação dos
Na verdade, o campo das artes e da cultura sempre foi terreno pródigo espaços vazios com certeza era a melhor forma de atingir esse objetivo.
de atuação dos negros acreanos. Mas, pra não dizer que não falei das
flores, não devemos esquecer de mencionar a atuação de diversas mulhe- A borracha a cada dia gerava menos receita, não porque tinha perdido
res negras nessa história. Seja na política através do exemplo de Laélia para o boi a sua hegemonia e sim por não conseguir preço compensador
Alcântara que foi a primeira senadora negra do Brasil representando o nos mercados do sul do país, face à maior competitividade da borracha
Acre. Seja na produção acadêmica através da Professora Maria José sintética.
Bezerra que, além de ser um exemplo de vida por sua luta e dignidade, é A pecuária que durante anos foi de subsistência, fazendo com que a
umas das historiadoras mais produtivas que a Universidade Federal do população se visse obrigada a dormir em filas nos mercados na tentativa de
Acre já conheceu. Ressaltando sempre que estamos apenas relacionando adquirir um quilo de carne que fosse e foi somente a partir da década de
exemplos que poderiam ser infinitamente multiplicados a partir de novas e setenta, quando Francisco Wanderley Dantas assumiu o governo que os
mais profundas pesquisas, apenas para demonstrar a importância da pecuaristas começaram a se instalar no Estado, atraídos por sua propa-
participação dos afro-descendentes em diversas áreas e momentos da vida ganda: “O Acre é um Nordeste sem seca e um Sul sem geada” e os acrea-
e da história acreana. nos passaram a comer carne sem precisar enfrentar longas e cansativas
filas nas portas dos mercados.
Porém, devemos ressaltar também que ficaram de fora desse artigo
muitas manifestações culturais e históricas com características afro- Enfim, a pecuária mostrou sua importância na economia acreana e tem
brasileiras do processo formativo do Acre. Como as trajetórias específicas papel fundamental na geração de emprego, renda e alimento. Como prova
da Capoeira, da Umbanda e do Candomblé na região, além de muitos disso, o atual rebanho do estado que já passa de 2.600.000 reses e segun-
outros temas e personagens fundamentais para a compreensão do Acre do informações prestadas pelo Instituto de Defesa Agroflorestal (IDAF), a
contemporâneo. Assim podemos compreender a enorme importância de vacinação nos gados da região atingiu o 96 % desse total.
uma discussão mais profunda e responsável sobre a questão racial na
Amazônia Ocidental. Uma discussão que só agora começa a se consolidar

História do Acre 20 A Opção Certa Para a Sua Realização


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República do Acre dição dos poetas”, uma aventura ainda mais romântica, que reuniu intelec-
tuais e estudantes amazonenses, liderados por Orlando Corrêa Lopes.
Fernando Granato Partindo de Manaus a bordo do vapor Solimões, eles desejavam ajudar os
Até o final do século 19, a região era um canto esquecido da Amazônia seringueiros a “emancipar o Acre”. Sem planos e estratégias definidos, os
que não interessava a ninguém. Mas, com o surto da borracha, se trans- conspiradores fracassaram e acabaram presos pelo governo brasileiro, que
formou num paraíso que, em menos de dez anos, foi palco de uma série de insistia em fazer valer o Tratado de Ayacucho.
conflitos que quase levaram Brasil e Bolívia à guerra Revolução
Segunda metade do século 19. O Brasil tornara-se um Império inde- Mais experiente, o ex-militar José Plácido de Castro havia integrado as
pendente de Portugal. O país crescia com a agricultura para exportação, forças federais brasileiras que lutaram na revolução de 1893, no Rio Gran-
com os imigrantes que vinham para substituir os escravos e caminhava, a de do Sul, e chegara à Amazônia por volta do 1900 (persiste uma dúvida
passos trôpegos, é verdade, em direção à República. Mas esse era o sobre essa data) com planos de desbravar a floresta. Logo se tornou um
retrato do Brasil atlântico, o Brasil com vista para o mar. A 5 mil quilômetros figadal opositor do plano boliviano de arrendar o Acre aos americanos e
dali, um outro país existia, um país que, de tão esquecido, estava para ser passou a organizar os seringueiros para uma nova reação. Anos mais
abandonado. Em 1867, dom Pedro II assinou o Tratado de Ayacucho e tarde, numas notas que escreveu a pedido do escritor Euclides da Cunha –
cedeu o território do atual estado do Acre à Bolívia. Um naco de floresta de que queria conhecer melhor a história desse conflito –, Castro relatou a
150 mil km2 habitados por tribos indígenas e sertanejos que viviam mal-e- gestação do movimento: “O contrato com a Bolivian Syndicate era uma
mal de explorar castanha, madeira e látex. completa espoliação contra os acreanos. Passei então a falar com vários
Na virada do século, no entanto, a coisa mudou. A nascente indústria proprietários de seringais da possibilidade de resistência”.
automobilística americana elevou a demanda por borracha a índices estra- As anotações de Plácido de Castro contam a tomada de Xapuri, em 6
tosféricos, fazendo da exploração de látex um negócio para lá de atrativo. de agosto de 1902. O lugarejo escondido na selva estava praticamente
Em 1899, o governo boliviano lembrou-se de seu pedaço de floresta e deserto, pois naquele dia se comemorava a Independência da Bolívia e a
resolveu abrir um posto alfandegário na vila de Puerto Alonso (a maior da população local havia passado a noite anterior em festa. As poucas autori-
região, onde hoje fica a capital do estado, Rio Branco) – e passou a cobrar dades de plantão estavam alojadas em três casas no vilarejo. Os 33 rebel-
taxas de extração e transporte dos seringueiros. E nada como impostos des brasileiros, liderados por Plácido de Castro, invadiram de surpresa a
para deixar brasileiro descontente. As medidas irritaram os seringueiros e vila por três flancos diferentes. O líder arrombou a casa que servia de
provocaram atritos entre as autoridades e os moradores da floresta. delegacia, cadeia e prefeitura e de lá retirou armas e munição. O sujeito
Nesse clima, o jornalista espanhol Luiz Galvez Rodrigues de Arias, re- que administrava o local, mal acordado, achou que o movimento tinha
dator do jornal Província do Pará e também funcionário do consulado alguma relação com os festejos na cidade. Plácido de Castro, ao dar voz de
boliviano em Belém, ficou sabendo que o governo da Bolívia tinha na prisão aos bolivianos, disse: “Isso não é festa. É a revolução”.
gaveta um projeto para arrendar o controle da região para uma empresa As tropas bolivianas demoraram mais de um mês para reagir. Com a-
americana. De posse dessa informação, Galvez passou a insuflar os pro- penas 70 homens e poucas armas, os revolucionários enfrentaram um
prietários de seringais a se rebelarem. O grau de insatisfação era tamanho batalhão com mais de 200 soldados bolivianos, em 18 de setembro. E os
que o movimento conseguiu contagiar praticamente toda a população local. homens de Plácido de Castro levaram a pior. “Vinte e dois mortos deixamos
Apoiados pelo governador do Amazonas, Ramalho Júnior – que forneceu no campo, dez feridos recolhemos e uns seis fugiram. Essa foi nossa
armas, munições e um barco especialmente equipado com um canhão, estréia”, escreveu.
além de uma guarnição de 20 homens –, os seringueiros capturaram os
poucos soldados bolivianos em Puerto Alonso e, em 14 de julho de 1899, A derrota apavorou os seringueiros travestidos de soldados e provocou
proclamaram a República do Acre. muitas deserções. Mas Castro não desanimou: mandou circular entre os
seringais um comunicado minimizando os efeitos do desastroso combate e
A nova nação formada por apenas uma cidade (Puerto Alonso, que prosseguiu a marcha. Em 5 de outubro, reiniciou os ataques às forças
mudou de nome para Porto Acre) tinha Luiz Galvez como presidente. Ele inimigas, próximo à vila de Panorama. “Empenhou-se o combate, sendo em
criou uma bandeira e até cunhou moeda própria. Galvez escolheu ministros pouco tempo tomadas duas trincheiras inimigas”, contou nas anotações. A
e fez do seu bando um exército, nomeando coronéis e generais. Cuidou de batalha durou 11 dias e os rebeldes abriram valas sob a terra e consegui-
rascunhar uma constituição e iniciou negociações diplomáticas para o ram finalmente chegar do lado dos adversários. Obrigaram o comandante
reconhecimento do Acre como uma república independente. “Pelo menos das forças bolivianas, coronel Rojas, a se entregar junto com seus 150
um país, a Argentina, interessada em ter um aliado na região, reconheceu soldados. “Os outros, em número de 30, haviam morrido.”
formalmente a nova república”, diz o professor José Dourado de Souza,
chefe do departamento de história da Universidade Federal do Acre. O movimento ganhou força e adesões e, em 18 de novembro, as tro-
pas de Castro dizimaram mais uma coluna boliviana na vila de Iquiry. O
Para o escritor Márcio de Souza, autor de Galvez, o Imperador do Acre, combate durou cinco horas e terminou com um vasto incêndio nas casas
o aventureiro espanhol era uma figura quixotesca, que conduziu uma dos inimigos. Às 9 horas da manhã do dia 15 de janeiro de 1903 os rebel-
revolução romântica apoiado por artistas e intelectuais que queriam libertar des chegaram a Porto Acre. Às 2 da tarde eles já ocupavam posições a 120
o Acre. “É incrível que aquilo tenha acontecido e obtido êxito diante das metros das trincheiras inimigas. “As nossas perdas nesse dia subiram a 50,
tropas bolivianas”, afirma o escritor. Mas o sucesso foi curto: seis meses. entre mortos e feridos. A sede nos devorava”, escreveu Plácido de Castro.
Foi o tempo que as tropas do Exército brasileiro demoraram para chegar ao Apesar das dificuldades, o que se viu a seguir foi digno de cinema, com os
Acre, capturar o Quixote da amazônia e devolver o controle da cidade à revoltosos adentrando a área inimiga, por rio, a bordo do navio Indepen-
Bolívia. dência, sob uma saraivada de balas.
No entanto, o estrago estava feito. A ousadia de Galvez mostrou às au- Depois de dez dias de cerco, Porto Acre rendeu-se. “No dia 26, por o-
toridades de La Paz que eles precisariam agir se quisessem manter a casião de uma revista geral passada às nossas tropas, no planalto de Porto
soberania sobre a região. E eles queriam. E agiram depressa. Além de Acre, um líder seringueiro, em nome de todos os oficiais combatentes da
enviar reforços militares ao local, o governo boliviano tornou público o revolução e dos civis presentes, aclamou-me governador do Acre e coman-
projeto de passar o controle do Acre para a Anglo-Bolivian Syndicate, de dante-em-chefe das forças”, relatou Castro.
Nova York, uma empresa multinacional que tinha entre seus sócios o rei
dos belgas e um parente do presidente dos Estados Unidos. A entidade A notícia revoltou a população boliviana, que exigiu uma resposta de
recebeu de bandeja o monopólio sobre a produção e a exportação da seu governo. O presidente Manuel Pando assumiu pessoalmente o coman-
borracha, além do direito de cobrar impostos e até de fazer as vezes de do do Exército e marchou para o Acre. A um passo da guerra, o Brasil agiu
polícia. com diplomacia e mandou o ministro das Relações Exteriores, o barão de
Rio Branco, falar com os vizinhos ofendidos.
A presença estrangeira na região acendeu fervores nacionalistas. Os
brasileiros eram vistos com desconfiança e os atritos com os bolivianos A primeira medida tomada pelo barão foi brecar a revolução dos serin-
passaram a ser cada vez mais freqüentes. Menos de um ano depois, um gueiros, que ainda estava em curso. Foi enviada ao Acre uma expedição
novo movimento tentaria repetir o intento de Galvez: foi a chamada “expe- militar que obrigou Castro a abandonar o poder. Nas suas notas, o líder

História do Acre 21 A Opção Certa Para a Sua Realização


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guerrilheiro falou com mágoa desse momento: “Publiquei uma ordem sobrou é, até hoje, um cemitério a céu aberto de locomotivas, trilhos e
dissolvendo o Exército acreano, visto o general brasileiro ter invadido o ruínas.
Acre meridional”.
Contida a revolta, a diplomacia brasileira transferiu o conflito da selva
para uma mesa de negociações. O local escolhido para selar a paz entre os Chico Mendes: um brasileiro
dois países foi Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ficou combinado que o Brasil Com ele, o Brasil (e o mundo) acordou para os problemas da ocupa-
ficaria com o Acre, rico em florestas e reservas de seringais, pelo qual ção da Amazônia
pagaria à Bolívia 2 milhões de libras esterlinas. O Brasil comprometeu-se,
ainda, a entregar áreas da fronteira do Mato Grosso e construir uma estra- A anexação ao Brasil não encerrou os conflitos pela posse da terra
da de ferro que cortasse a selva e oferecesse à Bolívia uma saída para o no Acre. Ocupada de maneira desordenada, muitas vezes às margens da
oceano Atlântico. As negociações, iniciadas em julho de 1903, encerraram- lei, como boa parte da Amazônia, a região foi disputada por posseiros,
se quatros meses depois, com a assinatura solene do Tratado de Petrópo- índios e fazendeiros que brigaram (e se mataram) por um naco da flores-
lis. ta. Oitenta anos depois da anexação ao Brasil, um novo surto de ocupa-
ção do Acre revelou esse conflito para o país e o mundo. Criadores de
gado chegaram à região na década de 70, derrubando grandes áreas e
Trem fantasma transformando floresta em pastagem. Enfrentaram a oposição dos serin-
gueiros e de um líder: Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes.
A ferrovia Madeira-Mamoré entrou para a história como sinônimo de Sujeito de fala mansa e gestos delicados, conseguiu acabar com uma
fracasso rivalidade de décadas, reunindo índios e seringueiros, numa comunidade
que chamou de “povos da floresta”. Eles resistiam ao avanço das fazen-
Uma estrada de ferro de 366 quilômetros no meio da floresta amazô-
das pondo-se à frente das máquinas que cortavam a floresta. Em 1987,
nica, passando sobre rios que triplicam de volume na época da chuva (o
Chico foi condecorado pela ONU e convidado a participar da reunião do
que pode durar quase metade do ano) e ligando coisa nenhuma a lugar
Banco Interamericano de Desenvolvimento.
algum parece uma péssima idéia. Se seria ruim hoje, imagine há 100
anos. Parte do acordo que colocou fim às hostilidades entre Brasil e
Bolívia pela posse do Acre, a construção da ferrovia Madeira-Mamoré Lá, convenceu banqueiros internacionais a não investirem numa
tinha tudo para dar errado. E deu. Desde que perdeu sua faixa litorânea grande rodovia no Acre, alegando que sem precauções ambientais, ela
no Pacífico para o Chile, durante a Guerra do Guano, em 1883, a Bolívia era um atentado à floresta. O mundo já o conhecia. O Brasil não. A maio-
ficou sem saída para o mar, fundamental para uma economia baseada ria das pessoas só soube dele depois de 22 de dezembro de 1988. Às
na exportação. Por isso, os bolivianos acharam uma boa idéia trocar o 18h45 daquele dia Chico Mendes foi assassinado na porta da cozinha de
Acre por uma ferrovia que fosse da fronteira com o Brasil ao rio Mamoré. sua casa em Xapuri. O autor dos disparos foi o fazendeiro Darci Alves
Daí, de barco pelos rios Madeira e Amazonas, os produtos bolivianos Pereira, a mando de seu pai, Darli Alves da Silva. Em 1991, pai e filho
chegariam ao Atlântico. foram condenados a 19 anos de prisão. Os dois fugiram da cadeia, em
Rio Branco, em dezembro de 1993. Recapturados em 1996, ficaram
Em maio de 1905, o governo brasileiro abriu concorrência para a o- menos de três anos presos. Hoje, Darli vive em sua casa, em prisão
bra. Tomando por base o custo das ferrovias construídas em Minas, São domiciliar. E Darci cumpre pena em regime semi-aberto.
Paulo e Rio, não conseguiu muitos pretendentes: apenas dois. Venceu
um ilustre desconhecido, de nome Joaquim Catrambi, testa-de-ferro de Êxodo rural: 6,4 mil famílias deixaram lotes doados pelo Incra
um poderoso empresário americano, Percival Farquhar, que achou que
poderia ganhar dinheiro explorando as riquezas naturais da região. Pelo
contrato, madeira e outras coisas retiradas da floresta pertenceriam a Edmilson Ferreira
quem achasse. As obras começaram em 1907. Das 16 mil famílias assentadas pelo Instituto Nacional de Reforma A-
Em plena estação das chuvas, 14 sujeitos abriram uma clareira na grária (Incra) no Acre nos últimos dez anos, 6,4 mil abandonaram os lotes,
mata e construíram casas para trabalhadores, oficinas e escritórios que, entregando-os ou vendendo-os, de maneira geral, a não-beneficiários da
mais tarde, viriam a se tornar a cidade de Porto Velho. reforma agrária. “A rotatividade chega a 40% dos assentados”, confirmou
ontem João Thaumaturgo Neto, superintendente em exercício do Incra.
Os empreiteiros americanos descobriram logo que o ambiente insa-
lubre e as doenças tropicais incapacitavam os trabalhadores num ritmo Para obter detalhes dessa situação e criar políticas de enfrentamento à
mais rápido do que eles podiam avançar com os trilhos. evasão agrária, o Incra instituiu, em parceria com o governo do Estado, o
programa Visita Técnica, que já atingiu grande parte dos projetos de assen-
Criaram então um processo de rodízio, no qual cerca de 500 novos tamentos e subsidia o Plano Estadual de Reforma Agrária.
empregados chegavam todos os meses para substituir os doentes. Cerca
de 22 mil operários – vindos dos Estados Unidos, Europa, China, Índia, A meta é identificar o perfil dos evasores e dos atuais ocupantes dos
países do Caribe e Oriente Médio, além de estados brasileiros – chega- lotes. Estes, se não forem beneficiários da reforma agrária, serão notifica-
ram e se foram. Segundo registros do Hospital da Candelária, criado dos a desocupar o imóvel. A princípio, o Incra estima que 90% dos adqui-
especialmente para tratar os funcionários da ferrovia, 1 593 pessoas rentes não possuem vocação agrícola. Os que receberam o terreno direta-
morreram depois de serem atendidas. Somados aos que nem chegaram mente do Incra ficam fora de qualquer programa oficial de distribuição de
ao hospital, estima-se que mais de 2 mil operários nunca voltaram para terra.
casa. A evasão é causada principalmente pelas más condições de acesso ao
Seis anos e milhares de dólares depois – nunca se soube ao certo o lote, falta de aptidão ao trabalho da terra, ausência de infra-estrutura, como
custo total da construção – a obra ficou pronta. escolas e postos de saúde e, principalmente, energia elétrica. Os próximos
assentamentos serão realizados às margens das rodovias para facilitar o
acesso dos colonos e o governo já assinou ordem de serviço para ampliar o
No mesmo ano de 1913 a exportação de borracha da Ásia superou a abastecimento de energia elétrica no meio agrário – ações que visam
da Amazônia e o preço do produto despencou. Com o tempo, a tão dese- reduzir, em curto prazo, o êxodo rural no Acre.
jada saída para o mar passou a ser cada vez menos freqüentada e ficou
praticamente abandonada por quase 20 anos, até que, em 1966, foi ofici- COMBATE – De seu lado, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Mi-
almente dasativada. “É impossível, por exemplo, dizer quanto custou a guel Rossetto, lançou semana passada, no assentamento Antônio Conse-
ferrovia Madeira-Mamoré aos cofres públicos e quanto foi transportado lheiro, localizado no município de Tangará da Serra (MT) e a cerca de 320
nos seus anos de existência, porque o Exército incinerou os documentos quilômetros de Cuiabá, a Campanha de Moralização dos Assentamentos da
oficiais sobre ela”, diz o historiador Márcio de Souza, que procurou os Reforma Agrária. Essa ação combate a venda de terras destinadas aos
arquivos da empresa para escrever o livro Mad Maria. Parte de seus assentamentos da reforma agrária, além de retomar áreas usadas irregu-
equipamentos foi vendida como sucata ou jogada no rio Madeira. O que larmente por assentados que ocupam mais de um lote ou por pessoas não

História do Acre 22 A Opção Certa Para a Sua Realização


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cadastradas no Incra. Com essa medida, o Incra pretende recuperar e PSD de Guiomard Santos, tendo o primeiro se posicionado contra a lei de
valorizar os assentamentos. transformação do Acre em Estado.
A campanha fará vistorias para a retomada das áreas comercializadas Depois de muitas disputas no Congresso Nacional, finalmente
e identificará os responsáveis que deverão prestar contas judicialmente – em 1962, durante a fase parlamentarista do governo João Goulart, foi
ação semelhante às visitas técnicas realizadas no Acre. A pena para os assinada a lei 4.070, de autoria do então deputado Guiomard Santos. Por
infratores pode chegar a até seis anos de prisão. Os nomes dessas pesso- uma ironia política, o Presidente João Goulart era do PTB, o partido que, a
as ficarão registrados em um cadastro para que não possam mais ser nível nacional, se colocava contra o tal projeto. Ainda assim, o projeto foi
contempladas com outras parcelas. aprovado e passou a vigorar a partir do dia 15 de junho de 1962.
O PTB, todavia, não foi de todo derrotado. Nas primeiras eleições livres
3 A evolução política do Acre: Território a Estado. e diretas realizadas na história do Acre, o PTB foi o grande vencedor,
fazendo o primeirogovernador constitucional do Acre, o Professor José
A evolução do Acre aparece como fenômeno típico de penetração mo- Augusto de Araújo, além de todas as prefeituras municipais acreanas.
derna na história do Brasil, acompanhada de importantes contribuições na
projeção econômica do país. Exercendo papel de destaque na exportação Na década de 1960 iniciou-se o segundo ciclo de esforços para acele-
nacional até 1913, quando se iniciou da borracha nos mercados europeu e rar o progresso da área amazônica, com a criação da Superintendência do
norte-americano, o Acre conheceu um período de grande prosperidade: na Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM,1966). Procurou-se melhor entro-
passagem do século, em menos de um década contava com mais de sar os subsetores regionais dentro do próprio Estado, concorrendo para
50.000 habitantes. isso os ramais da Transamazônica, que ligaram Rio Branco e Brasiléia, no
alto curso do Acre, e Cruzeiro do Sul, às margens do Juruá, cortando os
Logo após a anexação do Acre ao Brasil, os acreanos esperavam pela vales do Purus e do Tarauacá. Incrementou-se a política de planejamento,
sua elevação a Estado o mais rápido possível, uma vez que, nessa época destinada a corrigir as distorções demográficas, econômicas e políticas da
(Auge do Ciclo da Borracha), o Acre representava 1/3 do PIB brasileiro. integração nacional.
Porém isso não aconteceu.
4 Acre: desafio para um futuro sustentável.
Atendendo às disposições jurídicas do Tratado de Petrópolis, o presi-
dente Rodrigues Alves sancionou a lei que criava o Território do Acre
(1904) - o primeiro do país - dividindo o Território em três departamentos: o O Brasil tem um desafio: conciliar desenvolvimento com preservação.
do Alto Acre, o do Alto Purus e o do Alto Juruá, este último desmembrado O desmatamento desenfreado da Amazônia, a maior floresta tropical do
para formar o do Alto Tarauacá em 1912. A administração departamental planeta, não pode continuar. Quase um quinto da vegetação original já
exercia-se, até 1921, por prefeitos designados pelo Presidente da Repúbli- desapareceu, metade disso nos últimos vinte anos, quando o avanço das
ca. motosserras passou a ser monitorado com imagens feitas por satélites. O
Essa subjulgação causou intensas revoltas da população. Foi o caso pedido de demissão da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na sema-
da revolta de Cruzeiro do Sul, em 1910, que depôs o Prefeito Departamen- na passada, ocorreu no contexto desse debate central para o futuro - como
tal do Alto Juruá e proclamou criado o Estado do Acre (a chamada Revolta conciliar o crescimento econômico com a proteção ambiental, sobretudo na
do Alto Juruá). Cem dias depois, entretanto, as tropas federais atacaram os região amazônica, que abrange mais da metade do território nacional.
revoltosos e restabeleceram a "ordem" e a tutela. Em 1913, um movimento Marina teve de sair porque não soube solucionar essa equação. Sua saída,
de revolta ocorreria no Purus, em Sena Madureira, por motivos muito porém, não muda em nada o dilema colocado diante dos brasileiros.
semelhantes ao do Alto Juruá. Em 1918, seria a vez da luta autonomista Para dar o salto econômico de que necessita, o Brasil não pode abrir
chegar ao vale do Acre, em Rio Branco, que protestou intensamente contra mão de seu potencial agropecuário ou de investir na geração de energia.
a manutenção daquela situação de subjugação ao governo federal. Porém Tampouco pode destruir um bioma que é ao mesmo tempo um patrimônio
ambas as revoltas foram igualmente sufocadas à força pelo governo brasi- nacional a ser preservado e um foco de interesse internacional. Pela diver-
leiro. sidade biológica e pelo papel que a floresta tropical brasileira desempenha
A partir do fracasso das revoltas, a luta pela autonomia não recorreu no equilíbrio climático do planeta, seu destino desperta preocupação global.
mais às armas. Depois disso, a reforma política de 1920 - que unificou as A reação no exterior ao pedido de demissão da ministra foi de susto.
quatro prefeituras departamentais em um único governo territorial - serviu O jornal inglês The Guardian qualificou a saída de Marina Silva como
para acalmar o vale do Acre, que foi beneficiado pela reforma, já que para "uma ameaça ao futuro da maior floresta tropical do mundo". Marina Silva
capital do Território foi escolhida Rio Branco. nunca passou de um ícone, uma peça de marketing exibida pelo governo
Com a queda do Ciclo da Borracha (1920), o movimento autonomista Lula para mostrar uma suposta vocação ambientalista. Muito antes de ser
foi perdendo força, ressurgindo apenas uma década mais tarde, quando ministra, ela era reconhecida internacionalmente como defensora da pre-
a Revolução de 1930alterou completamente os rumos da república brasilei- servação da Floresta Amazônica, com excelente trânsito entre as ONGs
ra. Nesse momento, os acreanos acreditaram que poderiam, enfim, con- mais barulhentas do planeta. No cargo de ministra, porém, mostrou pouca
quistar a tão sonhada autonomia. Mas foi em vão. intimidade com a burocracia, a começar pela montagem da equipe. Seus
principais assessores eram quase todos militantes de organizações dogmá-
Com a constituição de 1934, o Acre só obteve o direito de eleger dois ticas, que viviam em atrito permanente com setores do próprio governo.
deputados federais para representá-lo na Câmara Federal, sem alterar o
regime de indicação dos governadores do território. Seguiu-se mais um Desde o primeiro mandato, Marina travou uma queda-de-braço com a
longo período em que as discussões autonomistas não passavam de então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. As divergências com
conversas em intermináveis reuniões e de fundações de agremiações relação à concessão de licenças ambientais para a construção de hidrelé-
políticas e jornais que tinham como bandeira maior o autonomismo. Multi- tricas chegaram a tal ponto que as duas mal se cumprimentavam. Para
plicaram-se os simulacros de partidos políticos: Legião Autonomista, Parti- Dilma, Marina era um obstáculo ao crescimento do país. Marina considera-
do Construtor, Partido Autonomista, Partido Republicano do Acre Federal, va Dilma a encarnação de tudo o que deveria ser combatido pelo governo.
Comitê Pró-autonomia, etc. Assim como se multiplicavam os títulos de O presidente Lula também não escondia de seus interlocutores a irrita-
jornais com apelo autonomista, como por exemplo: O Estado, O Autonomis- ção com o desempenho da Pasta do Meio Ambiente. Nas últimas semanas,
ta, O Estado do Acre, etc. houve dois exemplos claros do processo de fritura da ministra. O primeiro
Impulso mesmo o movimento autonomista só voltaria a ter em meados foi o lançamento da Política Industrial, que não tinha uma linha sequer
da década de 50, quando o PSD, do ex-governador José Guiomard dos sobre a questão ecológica, apesar dos longos textos sobre o assunto
Santos, resolveu assumir essa bandeira e elaborar um projeto de lei que enviados por Marina ao Planalto. Depois, no que acabou sendo a gota
transformava o Acre em Estado. Esse projeto causou grande movimenta- d'água, o presidente anunciou que o Plano Amazônia Sustentável seria
ção política em todo o Acre e chegou ao Congresso Nacional em 1957, coordenado por Mangabeira Unger, ministro de Assuntos Estratégicos. O
provocando uma intensa disputa política entre o PTB de Oscar Passos e o plano era um filhote do ministério de Marina, e ela tinha esperanças de

História do Acre 23 A Opção Certa Para a Sua Realização


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assumir sua coordenação. Entre quatro paredes, Lula mostrou-se aliviado O melhor de tudo é que o modelo não atrapalha a rotina das demais a-
com a renúncia da ministra. tividades ligadas à agricultura e pecuária e agrega valor a um recurso
natural que passa a ser utilizado de forma sustentável. Para se ter uma
idéia, na exploração tradicional de madeira, uma tora bruta é comercializa-
da por apenas R$ 30,00, sem contar os danos ambientais que comprome-
tem a existência futura do meio ambiente. O mesmo produto explorado e
manejado racionalmente obtém preço médio de R$ 200,00.
O manejo é uma solução que pode ser levada também a médias e
grandes empresas. O problema principal, neste caso, tem sido a falta de
planejamento. Abatendo árvores de maneira desorganizada e não prevendo
uso otimizado pode haver um desperdício de cerca de 65% de cada tora.
Além disso, a degradação do meio compromete o futuro da atividade e
o uso econômico de outros produtos da floresta como óleos, resinas, plan-
tas medicinais, látex, frutas e recursos animais. Na Amazônia existem
ÁREA PRESERVADA VIRA PASTO A reserva extrativista Chico Mendes, empresas certificadas, que detém o chamado "Selo Verde", concedido a
no Acre, criada em 1990 para ser um exemplo de exploração sustentável, empresas que realizam manejo sustentável adequado de produtos madei-
convive agora com queimadas e criação de gado reiros.
A base do conhecimento necessário para o manejo de florestas tropi-
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/conteudo_28 cais está no estudo de sua dinâmica. Somente por meio do conhecimento
0147.shtml da dinâmica de crescimento e regeneração natural da floresta será possível
a previsão de ciclos e taxas de corte adequados, assim como tratamentos
silviculturais necessários à produção sustentável. No Acre, o manejo de 10
Amazônia: desafio de uso sustentável para o século XXI metros cúbicos de madeira por hectare, num ciclo de 10 anos de explora-
Durante muito tempo, a Floresta Amazônica foi considerada um obstá- ção, permite a regeneração da mata, tornando o recurso natural uma fonte
culo: havia uma concepção de que o desenvolvimento dependia de derru- inesgotável.
bar matas. Nos últimos anos, esta visão mudou. Além de buscar alternativas que contribuam para solucionar os proble-
Durante muito tempo, a Floresta Amazônica foi considerada um obstá- mas da sociedade, por meio do planejamento e do uso sustentável dos
culo: havia uma concepção de que o desenvolvimento dependia de derru- recursos naturais, é essencial a interação entre as diferentes esferas dos
bar matas. Nos últimos anos, esta visão mudou. Temas como derrubadas, poderes executivo e legislativo municipal, estadual e federal, a fim de
queimadas, impacto da exploração madeireira, uso sustentável dos recur- promover as mudanças nas políticas atuais, bem como a proposição de
sos florestais, conservação ambiental e biodiversidade passaram a ser novas políticas que viabilizem a efetiva incorporação destas tecnologias aos
questões fundamentais na atuação do homem sobre este ecossistema. processos produtivos. Assim é que recentemente o Governo Federal redu-
Apesar disso, e do interesse mundial sobre as florestas tropicais, ainda não ziu de 17 para 3 as exigências de documentos para a aprovação de planos
conseguimos garantir, integralmente, sua preservação e uso racional. Um de manejo florestal de baixo impacto para as pequenas propriedades, e o
dos equívocos mais comuns tem sido a transposição de modelos de desen- Banco da Amazônia incorporou este procedimento nas opções de financia-
volvimento de outras regiões, o que tem causado resultados catastróficos mento para os pequenos produtores da Amazônia, financiáveis com recur-
para o ambiente e, principalmente, para os habitantes. O desmatamento sos do Fundo Constitucional do Norte.
desordenado de grandes áreas, eliminando as reais opções de renda e É função das instituições de pesquisa viabilizar condições que atendam
melhoria de qualidade de vida destas populações, é condenável sob todos às expectativas da sociedade e, em particular, do homem da Amazônia,
os aspectos. Sem um correto diagnóstico ambiental e socioeconômico da que vive numa região que se mostra como desafio na busca de sustentabi-
região, continuaremos privilegiando modelos que, além de baixo potencial lidade para o uso de seus recursos no século XXI. Entretanto, sem estímu-
de emprego, estimulam o êxodo rural e desconsideram as riquezas ambien- lo, organização e planejamento, há pouca ou quase nenhuma chance de
tais e econômicas da região. sucesso. A floresta é um bem de todos e usá-la de forma sustentável é
É preciso perceber que as características econômicas e sociais de garantir que gerações futuras possam desfrutar também dos benefícios
grande parte da Amazônia estão associadas com os recursos florestais. A hoje disponíveis. Alberto Duque Portugal Diretor-Presidente da Embrapa
população rural reside, em sua maioria, nas áreas desmatadas e nela
formou sua cultura. Por isso, qualquer programa que pretenda desenvolver
5 Orientação, localização e representação do espaço; o Acre no
de fato a região, sem causar impactos ambientais danosos, deve considerar espaço mundial e fusos horários.
os recursos florestais como referência.
Nas duas últimas décadas, a Embrapa se empenhou em desenvolver O estado do Acre ocupa uma área de 152.581 km², localizado no ex-
conceitos e estudos de manejo florestal para pequenos produtores e para tremo oeste do Brasil, localiza-se a 70º00'00" de longitude oeste
empresas na região Amazônica. Nos projetos de colonização, por exemplo, do Meridiano de Greenwich e a 09º00'00" de latitude sul da Linha do Equa-
os 50% da área de reserva legal, até o momento, têm sido encarados como dor e com fuso horário -4 horas em relação a hora mundial GMT. Dista
obstáculo ao desenvolvimento. Só no Acre, onde vivem quase 20 mil famí- 10º00'00" ao sul da Linha do Equador. No Brasil, o estado faz parte
lias em assentamentos, essas áreas de reservas representam mais de 780 da região Norte, fazendo divisa com os estados do Amazonas e Rondônia e
mil hectares de floresta tropical. fronteira com dois países: Peru e Bolívia.
Pesquisas neste Estado têm mostrado que em 40 hectares, manejados Praticamente todo o relevo do estado do Acre se integra no bai-
adequadamente, cada família pode obter renda líquida de até R$ 860,00 xo platô arenítico, ou terra firme, unidade morfológica que domina a maior
por ano, trabalhando no máximo três meses com extração e beneficiamento parte da Amazônia brasileira. Esses terrenos se inclinam, no Acre,
de madeira. Isto significa renda média de R$ 21,00 ao dia, duas vezes mais de sudoeste para nordeste, com topografia, em geral, tabular. No extremo
que o valor pago normalmente no mercado de mão-de-obra rural. oeste se encontra a Serra da Contamana ou do Divisor, ao longo
da fronteira ocidental, com as maiores altitudes do estado (609 m). Cerca
No município de Acrelândia (AC), um programa de treinamento, moni- de 63% da superfície estadual fica entre 200 e 300m de altitude; 16% entre
torado pela Embrapa, tem capacitado os produtores em inventários flores- 300 e 609; e 21% entre 200 e 135.
tais, uso adequado de motosserra e corte seletivo de espécies, planejamen-
to a derrubada e o arraste com tração animal. Além de produzir o mínimo O clima é quente e muito úmido, do tipo Am de Köppen, e
de impacto ambiental, a fórmula tem garantido a segurança das pessoas as temperaturas médias mensais variam entre 24 °C e 27 °C, sendo a
que lidam com uma atividade de alto risco. menor média da Região Norte. Aschuvas atingem o total anual de
2.100mm, com uma nítida estação seca nos meses de junho, julho e agos-

História do Acre 24 A Opção Certa Para a Sua Realização


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to. A Floresta Amazônica recobre todo o território estadual. Muito rica De igual maneira, muitos países resolvem as suas diferenças horárias
em seringueiras da espécie mais valiosa (Hevea brasiliensis) e Castanhei- conforme as suas peculiaridades e interesses. Exemplo disso é o caso da
ras (Bertholletia excelsa), a floresta garante ao Acre o lugar de maior produ- Argentina, que teoricamente, se acha no fuso de quatro horas, mas que
tor nacional de borracha e castanha. Os principais rios do Acre, navegáveis resolveu ficar situada no fuso de três horas, igual ao tempo de Brasília.
principalmente nas cheias (Juruá, Tarauacá, Envira, Purus, Iaco e Acre),
atravessam o estado com cursos quase paralelos e que só vão confluir fora 6 Características socioeconômicas dos municípios do Acre.
de seu território.
Fusos Horários O Estado do Acre, atualmente está dividido em 05 (cinco) microrregi-
Compreende a área que, em qualquer da faixa teoricamente limitada ões que comportam 22 (vinte e dois) municípios. A participação no Produto
por dois meridianos, conserva a mesma hora referida ao meridiano de Interno Bruto (PIB) é de aproximadamente 0,22% no âmbito nacional e de
origem. 4,8% em relação a Região Norte. Possui a média do IDH-M igual a 0,692,
ocupando o 21º lugar no cenário nacional.
Cada fuso tem, geralmente, 15º de longitude, cujo centro é um meridi-
ano cuja longitude é exatamente divisível por 15º. Como o círculo terrestre Nesse contexto uma visão heterogênea dos municípios, agrupando-os
tem 360º, e o movimento de rotação é executado em 24 horas, temos 360 de acordo com características estruturais, proporciona ao planejador subsí-
÷ 24 = 15, o que significa que cada hora do Globo se acha situada numa dios para a formulação das políticas públicas coerentes com o local, permi-
faixa de 15º. tindo uma maior aderência da análise a realidade. Com isto, a proposta
deste trabalho consiste em estratificar os municípios do estado do Acre
Os fusos são referidos ao Meridiano Internacional de Origem (0º - através da análise de agrupamentos, uma técnica da estatística multivaria-
Greenwich), bem como ao antimeridiano (180º), em torno do qual está a da. Objetiva-se minimizar o viés de uma visão homogênea dos municípios,
Linha de Mudança de Data. de forma que municípios com características semelhantes, possam receber
um tratamento similar pelo poder público.

Devido ao movimento do planeta, do ocidente para o oriente, de 0º a 2. MATERIAL E MÉTODOS


180º (este ou leste), as horas aumentam, e de 0º a 180º (oeste ou west) O agrupamento dos municípios acreanos de acordo com padrões de
diminuem. De Londres a Brasília são três fusos. Assim, quando é meio-dia similaridade quanto a características socioeconômicas parece ser mais útil
em Londres, são 9 horas em Brasília. Por outro lado, havendo quatro fusos para uma análise, do que se utilizar apenas da disposição geográfica dos
entre Londres e Teerã, por exemplo, meio-dia em Londres equivale a 16 municípios no agrupamento dos mesmos. O agrupamento com base nessa
horas em Teerã. configuração permite identificar grupos de municípios relativamente homo-
gêneos, mas heterogêneos em relação a outros fora do grupo. Neste traba-
O sistema de fusos horários foi estabelecido pelo Decreto nº 2.784, de
lho, os municípios são agregados através da análise de agrupamentos, por
18 de junho de 1913, o qual define, igualmente a hora legal, a qual, tam-
bém chamada hora oficial, é o intervalo de tempo igual para um determi- meio do método não-hierárquico K-means, que dispõe os itens em K gru-
nado fuso horário. Já hora local é a hora referida a um meridiano local, pos, onde os grupos de itens baseiam-se na sua proximidade em relação a
comparada com a hora referida ao meridiano dum fuso horário, ou o meri- um centróide. Johnson & Wichern (1992) expõem o processo em três
diano de Greenwich. etapas: i) Divisão aleatória dos itens em k grupos iniciais;ii) Disposição de
cada item ao grupo onde o centróide é mais próximo. Feito isso, recalcula-
É preciso que se saiba que a hora de cada fuso tem, em seus meridi- se o centróide para os novos grupos formados; iii) Repetição do passo
anos, limites teóricos. Em outras palavras, a hora é aparente. Nem sempre anterior até que não ocorra mudança em duas iterações consecutivas dos
uma linha imaginária, sobre um país, pode marcar, sem embaraços, um grupos.
limite-horário indiscutível. Senão, vejamos: o meridiano de 45º que marca,
no Brasil, o fuso de três horas, cortaria, no seu limite oriental, os Estados A determinação do número de grupos depende do conhecimento do
do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, problema ou de uma avaliação do conjunto de dados. No primeiro caso, a
escolha tem um maior grau de subjetividade. No segundo caso, pode-se
o que significaria, para cada um destes Estados, uma diferença horária ao
longo do meridiano de 45º. Dados os problemas que resultariam daí, para escolher K de modo que se maximize a variabilidade entre os grupos em
facilitar a questão, convencionou-se, neste caso, que o fuso de duas ho- relação à variabilidade intragrupos. A hipótese nula do teste é que a média
ras, o qual engloba as ilhas oceânicas do Brasil, não incorpore aquela da variável Xi é igual em todos os grupos e o teste pode ser realizado
parte do continente, entregando-a ao fuso de três horas. igualmente, esse através da análise devariância, pelo uso da estatística F, onde:
meridiano de 45º, no seu limite ocidental, cortaria o Amapá, o Pará, Mato
Grosso, Goiás , o Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Ficou
também convencionado que o limite coerente dos fusos de três e quatro
horas deveria passar pela linha que, de norte para sul, deixando todo o
Amapá para este, e, em seguida seguindo pelo rio Xingu até encontrar a
geodésica que divide o Pará e Mato Grosso, continuando por esta divisória
até o rio Araguaia, pelo qual prosseguiria, deixando os Estados do Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul para o fuso de quatro horas e, finalmente,
cedendo os Estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul A magnitude do valor de F para cada variável indica se a escolha de k
para o fuso de três horas. grupos está adequada. O valor de F será tanto maior quanto maior for a
heterogeneidade entre grupos ou quanto maior for o grau de homogeneida-
de intragrupo. Segundo Alves e Fontes (2001), além disso, a rejeição da
hipótese nula implica que a média de cada variável não é igual em todos os
grupos, e a caracterização dos grupos pode ser feita com base nas médias
de cada variável.
No presente trabalho, por se conhecer a realidade do Acre, optou-se
pela constituição de 5 agrupamentos a partir do 22 municípios, já que
utilizando testes de média e outros métodos de formação de agrupamentos,
verificou-se, estatisticamente, a formação de apenas 2 agrupamentos, um
sendo a capital Rio Branco, o que pouco contribui para a formulação de
políticas públicas.
As variáveis selecionadas para a análise de agrupamentos são: IDH-M
(Índice de Desenvolvimento Humano Municipal); RPC (Renda per capita);
IDHM-E (IDH-M bloco educação); G (índice de Gini)4; IDHM-L (IDH-M bloco

História do Acre 25 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Longevidade); DEE (quantidade de Domicílios com energia elétrica); DAE
(domicílios com água encanada e banheiro – taxa por pessoas); todas
referentes ao ano de 2000.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 expõe os 5 (cinco) agrupamentos e a Tabela 2 apresenta
uma caracterização dos mesmos, agregados pelo método K-means. O
Agrupamento 1, expõe a supremacia dos indicadores da capital do estado
sobre o outros municípios, ficando isolada do outros agrupamentos. Os
Agrupamentos 2 e 5, formado por 9 (nove) e 3 (três) municípios respecti-
vamente, apresentam municípios com indicadores defasados, expondo uma
carência socioeconômica.
O Agrupamento 3, formado por 6 (seis) municípios é composto por mu-
nicípios em estado intermediário de desenvolvimento. O Agrupamento 4,
formado por 3 (três) municípios é composto pelos municípios com piores
indicadores no estado do Acre e no Brasil, expondo os locais de piores
condições de vida do Estado do Acre.

4. CONCLUSÕES a agregação dos municípios é muito significativa sob a ótica da formulação


de políticas públicas.
A utilização da estatística multivariada, especificamente da análise de
agrupamentos, permitiu a agregação dos 22 municípios do estado do Acre Os resultados apontaram que o estado do Acre apresenta uma relativa
em 5 (cinco) agrupamentos. Estes são caracterizados pelos indicadores heterogeneidade entre os municípios em relação aos indicadores utilizados.
socioeconômicos que sintetizam a realidade de cada município. Com isso, Os municípios de Santa Rosa do Purus, Marechal Thaumaturgo e Jordão

História do Acre 26 A Opção Certa Para a Sua Realização


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destacaram-se por formar o agrupamento com piores indicadores do esta- O Acre está dividido em 22 municípios. O mais populoso deles é a ca-
do. Rio Branco, a capital, destacou-se isoladamente pelo perfil de seus pital, Rio Branco, com 300 mil habitantes, sendo o município mais rico do
indicadores. Os municípios dos agrupamentos 2 e 5 apresentam-se como estado.
municípios com defasagens em seu indicadores sócio econômicos. O
agrupamento 2 é composto pelos municípios em estado intermediário no Subdivisões
estado, que apresentam razoáveis valores para os O estado do Acre é dividido em duas (2) mesorregiões, cinco
indicadores. (5) microrregiões e vinte e dois (22) municípios, segundo o IBGE.

Os agrupamentos formados são ferramentas interessantes quando se Economia


desejar realizar políticas públicas para o Acre, principalmente pela obser- O modelo de desenvolvimento econômico baseia-se, primordialmente,
vação de similaridades e singularidades entre os municípios, visando no extrativismo, com destaque para extração de madeira por meio
planejamento que leve em consideração especificidades locais, buscando de manejo florestal, o que, teoricamente, garante o uso econômico susten-
criar um processo de desenvolvimento que envolva o maior número de tável da floresta.
municípios do estado. http://www.dex.ufla.br/53rbras/trabalhos/29.pdf
O Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID - financia um proje-
to de US$ 106 milhões no Estado, visando dotá-lo de infraestrutura física e
institucional que viabilize o sucesso do projeto de desenvolvimento susten-
7 As características gerais do estado do Acre: recursos naturais e tável.
meio ambiente, relevo e aproveitamento do solo, vegetação, hidro-
grafia, clima, apropriação do espaço e problemas ambientais. Controvérsias sobre o modelo de desenvolvimento escolhido passa por
questões como a ausência de consenso quanto à recuperação das áreas
O estado do Acre ocupa uma área de 152.581 km², localizado no ex- exploradas pelos planos de manejo e pela exclusão, na prática, de efetivos
tremo oeste do Brasil, localiza-se a 70º00'00" de longitude oeste benefícios às populações locais (apesar de previsão no projeto).
do Meridiano de Greenwich e a 09º00'00" de latitude sul da Linha do Equa- A economia acreana repousa na exploração de recursos naturais. Os
dor e com fuso horário -4 horas em relação a hora mundial GMT. Dista mais importantes são a borracha e a castanha, produtos nos quais se
10º00'00" ao sul da Linha do Equador. No Brasil, o estado faz parte
basearam o povoamento da região. A extração da borracha se faz ao longo
da região Norte, fazendo divisa com os estados do Amazonas e Rondônia e dos rios, pois a seringueira é árvorede mata de igapó. Os tipos produzidos
fronteira com dois países: Peru e Bolívia. são caucho, cernambi caucho, cernambi rama e cernambi seringa. A maior
Praticamente todo o relevo do estado do Acre se integra no bai- parte da produção estadual cabe à bacia do rio Purus. Nessa região desta-
xo platô arenítico, ou terra firme, unidade morfológica que domina a maior ca-se o vale do rio Acre, que, além de possuir o maior número
parte da Amazônia brasileira. Esses terrenos se inclinam, no Acre, de seringueiras, é também região rica em castanheiras, fazendo do estado
de sudoeste para nordeste, com topografia, em geral, tabular. No extremo o maior produtor e exportador nacional de castanha. A floresta acreana é
oeste se encontra a Serra da Contamana ou do Divisor, ao longo também objeto de exploração madeireira, e a caça nela praticada parece
da fronteira ocidental, com as maiores altitudes do estado (609 m). Cerca contribuir de forma substancial para a alimentação local.
de 63% da superfície estadual fica entre 200 e 300m de altitude; 16% entre A agricultura reduz-se a pequenas culturas de mandioca, feijão, cana-
300 e 609; e 21% entre 200 e 135. de-açúcar e arroz. A indústria de transformação compreende pouco mais
O clima é quente e muito úmido, do tipo Am de Köppen, e que algumas serrarias e pequenas fábricas de rapadura e de farinha de
as temperaturas médias mensais variam entre 24 °C e 27 °C, sendo a mandioca.
menor média da Região Norte. Aschuvas atingem o total anual de Como os rios mantêm no estado cursos aproximadamente paralelos,
2.100mm, com uma nítida estação seca nos meses de junho, julho e agos- as comunicações entre os diversos vales se fazem pelas confluências, o
to. A Floresta Amazônica recobre todo o território estadual. Muito rica que envolve longos percursos. Com a conclusão das estradas que integram
em seringueiras da espécie mais valiosa (Hevea brasiliensis) e Castanhei- a ligação Rio Branco-Porto Velho-Cuiabá-Limeira, o Acre passou a contar
ras (Bertholletia excelsa), a floresta garante ao Acre o lugar de maior produ-
com transporte rodoviário para o Sudeste do Brasil.
tor nacional de borracha e castanha. Os principais rios do Acre, navegáveis
principalmente nas cheias (Juruá, Tarauacá, Envira, Purus, Iaco e Acre), Agricultura
atravessam o estado com cursos quase paralelos e que só vão confluir fora
de seu território.
Política
O estado do Acre é governado por três poderes, o executivo, represen-
tado pelo governador, olegislativo, representado pela Assembleia Legislati-
va do Acre, e o judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça do Estado
do Acre e outros tribunais e juízes. Também é permitida a participação
popular nas decisões do governo através de referendos e plebiscitos.
A atual constituição do estado do Acre foi promulgada
em 1989, acrescida das alterações resultantes de posteriores Emendas
Constitucionais.
O Poder Executivo acreano está centralizado no governador do estado,
que é eleito em sufrágio universal e voto direto e secreto, pela população
para mandatos de até quatro anos de duração, e podem ser reeleitos para
mais um mandato. Sua sede é o Palácio Rio Branco, que desde 1930 é a
sede do governo acreano.
O Poder Legislativo do Acre é unicameral, constituído pela Assembleia
Legislativa do Acre, localizado no centro de Rio Branco. Ela é constituída
por 24 deputados, que são eleitos a cada 4 anos. No Congresso Nacional,
a representação acreana é de 3 senadores e 8 deputados federais.
A maior corte do Poder Judiciário acreano é o Tribunal de Justiça do Extração de látex da seringueira.
Estado do Acre, localizado no centro de Rio Branco. Compõem o poder Um dos principais produtores de borracha (Hevea brasiliensis) no país,
judiciário osdesembargadores e os juízes de direito. o Acre apresentou em 2008 a produção de 845t, representando pouco mais

História do Acre 27 A Opção Certa Para a Sua Realização


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de um quarto do total nacional. Na região de Abunã, um seringueiro chega ter ilegal. Em março de 2010 o valor da exportação por cabotagem foi de
a produzir 1,5 t de borracha por safra. Os tipos produzidos são "caucho", US$ 15.727.499 e a importação de US$ 15.059.156.
"cernambi caucho", "cernambi rama" e "cernambi seringa". Acoagula-
ção ainda é feita pelo processo da defumação. A produtividade média é de Infraestrutura
dois quilos de látex por hévea. O ensino fundamental contava em 2008 com 1.593 escolas, com o cor-
A coleta de Castanha-do-Brasil é também atividade importante, reali- po docente de 7.476 professores e 164.043 alunos matriculados. Contava
zada, em geral, pelo seringueiro, como ocupação subsidiária, na época o ensino médio com 111 escolas, 1.594 professores e 33.113 matrículas.
das chuvas. Sua safranão é regular. A produção acreana em 2009 foi de 20 O ensino infantil calculava 275pré-escolas, 1.052 professores e 22.104
t, representando 20% de toda a produção nacional, sendo a maior alunos. O ensino superior era ministrado em 2007, em 9 estabelecimentos,
do Brasil. A madeira tem também importância econômica na região, sendo com 17.840 alunos matriculados.
a produção de lenha em 2008 de 679.077 m³. O método de extração é Em 2008, a taxa de analfabetismo no estado é de 13%, uma das mais
rudimentar, sendo usadas serras manuais e, assim mesmo, só nos centros equilibradas do Brasil. Da população, 36,2% dos acreanos são analfabetos
mais adiantados. A lavoura é, em geral, de subsistência, não tendo condi- funcionais.
ções para se manter diante dos altos rendimentos da atividade extrativa. Os
principais produtos agrícolas do Acre, em 2008, apresentaram os seguintes As principais universidades do Acre são: Instituto Federal do A-
resutados: arroz (28.569 t), cana-de-açúcar (52.609 t), feijão (5.779 t), cre, Universidade Federal do Acre (públicas), União Educacional do Norte e
mandioca (730.434 t) e milho (61.088 t). Instituição de Ensino Superior do Acre (particulares).

Pecuária, pesca e mineração Saúde

A pecuária começou a ser desenvolvida só a partir da década de 1970. Em 2005, havia no estado 337 estabelecimentos hospitalares, sendo
O solo utilizado nos plantios desgasta-se pelas derrubadas e queimadas e 282 públicos e 55 particulares, com um total de 1.561 leitos. Dos 337 hospi-
passa a construir área de magra pastagem. Não há campos naturais e os tais, 227 eram de finalidade geral e 221 eram especializados. Dos
que são abertos na mata, se ainda não esgotados pela lavoura, são facil- 7 municípios existentes em 1970, apenas Rio Branco possuía abastecimen-
mente invadidos pela capoeira. Em 2008, contava o Acre com to de água encanada, embora não possuía serviço de esgoto, o que impede
155.861suínos, 2.425.687 bovinos, 77.623 ovinos, o controle de disenteria amebiana endêmica. Em 2005, o estado possuía
7.201 muares, 60.668 eqüinos e 15.433 caprinos. 48% de acesso à água 44,3% de acesso à rede de esgoto. Em 2006,
a mortalidade infantil era de 20,7 por 1.000 nascidos vivos, sendo
A pesca é praticada em pequena escala, sendo na maioria dos casos a malária a principal causa de morte. Povoações distantes entre si por dia
de subsistência. Em 2005, foram produzidas 3.510 t de pescado, a antepe- de caminhada na floresta, e que por vezes, no período das chuvas, ficam
núltima produçãodo país. A mineração é escassa e caracterizada pe- completamente isoladas, dificultam a irradiação da saúde pública.
la garimpagem mais primitiva — feita através de bateias —, sendo desco-
nhecidos dados estatísticos de sua produção. Segurança pública

Indústria Segundo o Exército Brasileiro, o Acre integra o Comando Militar da


Amazônia, que tem sede em Manaus, destacando ospelo-
A indústria do estado, em 2009, ocupava 13 mil pessoas em tões de fronteira.De acordo com a Força Aérea Brasileira, o estado integra
1416 estabelecimentos e unidades, que produziram bens no valor de R$ o VII Comando Aéreo Regional (VII COMAR), também sediado em Manaus,
773 milhões. A indústria ainda é de pouca escala no estado, sendo em se destacando o Destacamento de Controle de Espaço Aéreo de Rio Bran-
grande parte de produtos alimentícios, como queijos, manteiga, refrigeran- co (DTCEA-RB) e o Destacamento de Controle Aéreo de Cruzeiro do Sul
tes e outros; e à transformação rudimentar de alguns produtos agrícolas, (DTCEA-CZ), ambos pertecentes ao Centro Integrado de Defesa Aérea e
como a farinha de mandioca e o açúcar bangüê. O estado também possui Controle de Tráfego Aéreo IV (CINDACTA IV), o estado não possui uma
indústrias na produção de barcos, carrocerias de caminhões, laminados e Base Aérea. Não existem, no estado, unidades da Marinha.
pisos de madeira,móveis, vidros temperados, preservativos (sendo a única
do mundo a usar borracha natural proveniente de látex nativo), dentre A Polícia Militar do Estado do Acre (PMAC) tem por função primordial o
outros produtos. Nas colônias mais importantes do Alto Juruá e do Al- policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública no Estado do
to Purus, ou mesmo em locais que possam atender em várias colônias, Acre. Para fins de organização é uma Força Auxiliar e Reserva do Exército
estão instalados "conjuntos mecânicos", pertencentes quase todos Brasileiro, assim como suas co-irmãs e integra o Sistema de Segurança
ao governo. Nos conjuntos mecânicos encontram-se máquinas para debu- Pública e Defesa Social brasileiro e está subordinada ao Governo do Esta-
lhar o milho, descorticar o arroz, ralar, prensar e cozer a mandioca, além de do do Acre. Seus integrantes são denominados militares estaduais (artigo
moendas e tochas para o fábrico de açúcar de cana. A potência instalada 42 da CRFB), assim como os membros do Corpo de Bombeiros Militar do
das usinas geradoras em 2004 é de 331 GWh, com um consumo mínimo Estado do Acre.
de 405 GWh. Atualmente o estado possui 2 Distritos Industriais: 1 na capi- O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre (CBMAC) é uma Cor-
tal Rio Branco e outro no município de Acrelândia. poração cuja principal missão consiste na execução de atividades
No estado está sendo criada a chamada ZPE (Zona de Processamento de Defesa Civil, Prevenção e Combate a Incêndios, Buscas, Salvamentos e
para Exportação), um Distrito Industrial incentivado, onde as empresas Socorros Públicos no âmbito doestado do Acre. Ele é Força Auxiliar e
localizadas operam com redução/suspensão de impostos e contribuições Reserva do Exército Brasileiro, e integra o Sistema de Segurança Pública e
federais e liberdade cambial (podem manter no exterior 100% das divisas Defesa Social do Brasil. Seus integrantes são denominados Militares dos
obtidas nas exportações), com a condição de destinarem pelo menos 80% Estados pela Constituição Federal de 1988, assim como os membros da
de sua produção de bens e serviços ao mercado externo, pretendendo Polícia Militar do Estado do Acre.
levar os produtos fabricados no Acre para os mercados da Bolívia, Peru e A Polícia Civil do Estado do Acre, é uma das polícias do estado do A-
os países asiáticos, quando concluída a Estrada do Pacífico. A ZPE do cre, Brasil, órgão do sistema de segurança pública ao qual compete, nos
Acre será localizada na BR-317, entre a capital Rio Branco e o município termos do artigo 144, § 4º, da Constituição Federal e ressalvada competên-
de Senador Guiomard. cia específica da União, as funções de polícia judiciária e de apuração das
Comércio infrações penais, exceto as de natureza militar.

A quase totalidade do comércio do estado é feita por via fluvial e em A mais importante instituição penitenciária é a Colônia Penal e Agrícola
pequena escala por via aérea. O Acre exporta quase tudo o que produz e Evaristo de Morais, em Rio Branco.
importa praticamente tudo que consome. A pauta de exportação resume-se
na madeira compensada e perfilada (49%) madeira serrada ou em folha
(27%), frutas (21%) e outros (3%), convergindo na totalidade para os esta-
dos do Amazonas e Pará, de preferência para Belém, origem também da
maioria de suas compras. O comércio com o limita-se a compra
de gado em pé e gêneros alimentícios da Bolívia, frequentemente de cará-

História do Acre 28 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
Transportes Deus. Todos tomam o chá, inclusive as crianças e os idosos. Os integran-
tes usam fardas e cantam o hinário.
O Acre já foi retratado como cenário histórico no cinema e na televisão,
interpretado por um numeroso elenco de atoresconsagrados
na minissérie Amazônia, de Galvez a Chico Mendes (2007), da mesma
autora das telenovelas América(2005) e Caminho das Índias (2009), a
acreana Glória Perez.

8 A produção socioeconômica do espaço acreano: população (di-


nâmica populacional, migração), populações rurais e tendências de
uso dos recursos naturais (colonos, extrativistas, ribeirinhos e pe-
cuaristas), espaço urbano e espaço rural na atualidade e atividade
extrativista, industrial e agrícola.
Demografia
Acesso a Senador Guiomard pelarodovia estadual AC-040.
O censo de 2010 contabilizou que o Acre possui 707.125 habitantes. O
As principais rodovias do Acre são: censo de dez anos, registrou o número de 557.526 habitantes. Em 1991,
BR-364 - Juntamente com a BR-317 é a principal rodovia do Acre. A foram contados 417.165 hab. O índice de crescimento foi de 3,3% ao ano,
leste liga Rio Branco ao estado de Rondônia e ao restante do país. A oeste acima, portanto, da média nacional que, no mesmo período (1991-2006), foi
corta todo o estado, ligando a capital do estado a Cruzeiro do Sul, segunda de 1,33%. Estimativa para 2008, 680.073 hab.
principal cidade do estado, passando pelos municípios de Bujari, Sena Em 2000, 66,41% da população moravam nas cidades, e desses,
Madureira, Manoel Urbano, Feijó, Tarauacá e Rodrigues Alves. 89,42% viviam na capital. No interior, a população vive dispersa ao longo
BR-317 - Tem extensão de 330 km, liga a capital ao sul do estado, dos rios, ocupada na extração de borracha, castanha e madeiras.
passando pelos municípios de Senador Guiomard,Capixaba, Brasileia na As densidades demográficas, em 2006, mostravam-se bastante homo-
fronteira com a República da Bolívia, a partir de Brasileia a estrada continua gêneas. Na região mais povoada, a do baixo Acre, havia 17,2 hab./km² e,
por mais 110 km até chegar na cidade de Assis Brasil, já na fronteira com na menos povoada, a do alto Purus, 1,1 hab./km².
o Peru. A rodovia tornar-se-á um importante eixo de exportação do Brasil,
pois quando a estrada no lado peruano estiver concluída (estima-se que em Na formação da população acreana entraram, além dos índios,
2011), o Brasil estará totalmente ligado a Cuzco e aos dois principais portos os nordestinos - principalmente cearenses - que aí chegaram maciçamente
do país vizinho. durante o período áureo da borracha (1880-1913) e os sulistas, que chega-
ram maciçamente durante a década de 70 em diante.
AC-040 - Possui extensão de 100 km, liga Rio Branco até a cidade
de Plácido de Castro também fazendo fronteira com a Bolívia. Houve também imigrações de árabes (principalmente sírios-libaneses)
e italianos (sendo ambas as maiores na Região Norte), além de japoneses,
AC-401 - Também chamada de estrada do agricultor, com extensão de alemães e eslavos (esses em pequena escala).
50 km, liga a cidade de Plácido de Castro à cidade de Acrelândia, já próxi-
ma da BR-364. Principais centros urbanos
AC-010 - Tem extensão de 55 km, Ligando Rio Branco até a cidade Rio Branco, capital e centro administrativo, econômico e cultural, e
história de Porto Acre, já na divisa com o Amazonas. também o mais populoso município, com 335 796 habitantes, quase meta-
Comunicações de da população estadual.

Os principais jornais do estado são: O Estado, A Gazeta, O Rio Bran- Cruzeiro do Sul é a segunda maior cidade acreana e um porto do rio
co e A Tribuna. As principais estações e emissoras de televisão do estado Juruá, sendo também a mais desenvolvida da mesorregião que recebe o
são: TV Aldeia, TV Acre, TV 5, TV Rio Branco, TV Gazeta Rio Branco, TV mesmo nome.
União Rio Branco, TV 40, TV C, TV Cruzeiro do Sul, TV Ituxi e TV Integra- Outros municípios mais populosos são (IBGE 2009): Sena Madureira,
ção. As principais estações de rádio do estado são: Rádio Aldeia FM, Rádio com 37 993 habitantes; Tarauacá, com 35 526 habitantes; Feijó com 32 311
Gazeta FM, Rádio União FM, Rádio Educativa FM, Rádio Acre FM e Rádio habitantes e Brasileia, com 21 438 habitantes.
Boas Novas FM, Rádio Progresso AM, Rádio Líder AM, Rádio Universitária
FM e Rádio Aldeia FM, Juruá FM, Verdes Florestas, Integração FM, sendo Desenvolvimento Humano
que as três ultimas estão localizadas em Cruzeiro do Sul e as demais em O IDH do Acre é de 0.751, posicionando-se na décima sétima posição
Rio Branco. no ranking brasileiro, sendo que 16 estados estão em situação melhor, e 9
Cultura estados estão em situação pior ou igual: As cidades com melhor desempe-
nho são: Rio Branco, Senador Guiomard, Epitaciolândia, Plácido de Cas-
A cultura do Acre é muito parecida com a dos outros Estados da região tro e Acrelândia.
Norte. A comida típica utiliza o pato e o pirarucu, que herdou dos índios, e o
bobó de camarão, vatapá e carne de sol com macaxeira, trazido do Nordes- Etnias
te brasileiro logo quando iniciou a extração do látex, já que muitos nordesti- Existem no Acre, 34 terras indígenas ocupadas por mais de 12.000 ín-
nos migraram para o Acre tentando uma melhor qualidade de vida. dios, que representam 2% da população total do Estado. Esse contingente
No artesanato os artigos confeccionados com materiais extraídos da populacional pertence a 14 diferentes etnias, de línguas Pano, Aruak e
floresta amazônica. Do seringal surgiu a figura do seringueiro, que colabo- Arawá: (Yamina-
rou em momentos importantes da história brasileira para o desenvolvimento wa, Manchineri, Kaxinawá, Ashaninka, Shanenawa, Katukina, Arara,Nukini,
do país, trabalhando duro na extração do látex na floresta amazônica. Da Poyanawa, Nawa,Jaminawa-Arara e Isolados). As etnias isoladas, sem
floresta também surgiu Chico Mendes, que hoje é considerado referência contato com a sociedade, têm o seu território tradicional ao longo da frontei-
internacional na luta em defesa da Amazônia; Chico Mendes foi assassina- ra internacional Brasil-Peru.
do em 22 de dezembro de 1988 e ganhou um prêmio único da ONU, o Etnias
Prêmio Global 500 Anos, por defender e proteger a floresta amazônica.
Em Rio Branco encontra-se uma comunidade religiosa chamada Alto Cor/Raça (IBGE 2006)[79] Porcentagem
Santo (Centro de Iluminação Cristã Universal) que pratica o Ritual do Santo Pardos 57,5%
Daime, típico do Acre, de origem indígena, que usa o Daime, um chá natu-
ral feito com folhas ecipó, usado pelos índios como forma de aproximação a Brancos 33,0%

História do Acre 29 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
Negros 7,8% primeira grande leva de imigrantes ocorreu na década de 40, quando os
nordestinos encontraram na extração da borracha uma maneira de não
Amarelos ou indígenas 1,7% servir na II Guerra Mundial. A partir da década de 70, com a abertura de
estradas e a expansão da atividade pecuária, o Estado recebeu imigrantes
das Regiões Centro, Sul e Norte do País. Nos últimos trinta anos, a popula-
Fonte: PNAD (dados obtidos por meio de pesquisa de autodeclaração). ção total do Estado subiu de 215 mil habitantes para aproximadamente 547
mil habitantes – 65% na área urbana e 35% na área rural. A capital ainda
O ACRE concentra o maior número de habitantes: 50% do total. A população indíge-
na acreana, atualmente estimada em 9.300 pessoas, constitui 1,4% da
Situado no extremo oeste da Região Norte do Brasil, o Estado do Acre
população do Estado. É formada por 12 diferentes povos falantes de lín-
faz fronteira com os Estados do Amazonas e Rondônia, e os países Peru e
guas Pano, Aruak e Arawá. Nos últimos 25 anos, foram reconhecidas pelo
Bolívia. Sua superfície territorial é de 153.149,9 km², o correspondente a governo federal 28 terras indígenas no Acre. Desse total, 17 terras, que
3,2% da Amazônia brasileira e 1,8% do território nacional. representam 71,3% da extensão do território indígena existente no Estado
foram homologados por decretos presidenciais.
Divisões Fisiográficas
Do ponto de vista do relevo, o Estado divide-se em regiões de planí- http://jorgesaady.wordpress.com/2008/11/14/estado-do-acre/
cies, baixos platôs e a Serra do Divisor. Sua vegetação natural é composta
basicamente por floresta tropical aberta (baixos platôs e aluvial) e floresta
tropical densa (baixos platôs, superfície dissecada da Serra do Divisor). A Manejo Florestal Sustentável - Uma construção coletiva no Acre
floresta densa, também conhecida como floresta chuvosa, é caracterizada "O manejo florestal é hoje uma das atividades econômicas mais impor-
sobretudo por suas grandes árvores, que emergem de um estado arbóreo tantes do Estado do Acre, sendo que, de acordo com dados recentes, a
uniforme, de 25 a 35 metros de altura. atividade florestal representa mais de 20 % do Valor Bruto da Produção do
Recursos naturais Estado. Dados de órgãos oficiais indicam que no Acre existem mais de 500
empresas, entre grandes, médias e pequenas empresas relacionadas ao
O Estado do Acre possui uma grande variedade de ecossistemas. A di- setor florestal e que produzem mais de 700 mil metros cúbicos de madeira
versidade de paisagens é imensa, tanto do ponto de vista da flora quanto por ano, gerando em torno de 4.600 empregos diretos e movimentando
da fauna.É o Estado da Amazônia brasileira com maior área de floresta uma economia de mais de R$ 500 milhões por ano.
tropical contínua intacta, sediando o Corredor Verde do Oeste da Amazô-
nia, considerado da mais alta prioridade para conservação da biodiversida- Para alcançar esses indicadores, um esforço inédito no Acre tem sido
de no Brasil (Ibama, 1996). empreendido ao longo da última década por órgãos governamentais das
esferas federal, estadual, municipal, bem como por representantes da
A área alterada do Estado do Acre, incluindo desmatamento e outras sociedade civil e populações tradicionais. Por isso, é importante lembrar
formas de antropização, é de aproximadamente 1.600.000 ha, ou 10% da que a situação da atividade florestal no Acre, anterior a esses dados, com
sua superfície. As áreas desmatadas concentram-se, em sua maioria, ao mais de 90% da madeira sendo suprida pela atividade de desmatamento,
longo dos eixos rodoviários da BR-364, BR-317 e AC-40, onde destacam- muitas vezes também ilegal, com enormes impactos negativos ao meio
se os problemas e conflitos resultantes de projetos de colonização e do ambiente e as populações residentes nas florestas.
avanço da pecuária e das madeireiras.
Atualmente, dados do Instituto de Meio Ambiente do Acre mostram que
O estado possui 31,51% de seu território destinado à áreas de preser- mais de 90% da exploração florestal é oriunda de planos de manejo, que
vação e reservas indígenas, quatro vezes mais que a média nacional e o passam por um processo de licenciamento e monitoramento de acordo com
dobro da média da Região Norte. O potencial econômico da flora é imensu- a legislação federal e estadual e com base em conhecimento científico e
rável. Sua biodiversidade abriga essências de grande valor madeireiro, tecnológico de ponta.
oleaginoso, resinífero, aromatizante, corante, frutífero e medicinal.
Esta reviravolta na base de suprimento se deve a mais de uma década
Clima de implementação de uma política pública florestal, que pelos resultados
acima expostos, tem se mostrado como um caminho viável para que a
O clima do Estado é classificado genericamente como tropical chuvoso população acreana possa usufruir de forma sustentável dos seus recursos
(temperatura média do mês mais frio superior a 18ºC) com pequena esta- florestais, com inclusão social e conservação do meio ambiente.
ção seca. A umidade relativa apresenta-se em níveis elevados durante todo
o ano, com médias mensais em torno de 80-90%, sem significativas oscila- A formulação dessa política passou pela constituição e consolidação de
ções no decorrer do ano. É um clima quente e úmido, com duas estações: fóruns de discussão, cujos principais exemplos são esses três Conselhos,
seca e chuvosa. A estação seca estende-se de maio a outubro. A estação com larga participação dos representantes da sociedade civil, e que ao
chuvosa – o “inverno” – caracteriza-se por chuvas constantes, prolongando- longo da última década elaboraram, aprovaram e implantaram as normas
se de novembro a abril. No “inverno” são comuns as “friagens”, fenômeno para o adequado uso e ocupação do solo no Estado do Acre, tendo como
efêmero,porém comum na região. A “friagem” resulta do avanço da Frente destaque a própria aprovação do Zoneamento Econômico-Ecológico do
Polar, que impulsionada pela Massa de Ar Polar, provoca brusca queda de Acre.
temperatura, permanecendo por alguns dias com a média em torno de
10ºC. Os totais pluviométricos anuais variam entre 1.600mm e 2.750mm. No Acre, as instituições públicas federais e estaduais de fiscalização e
controle ambiental, como os Ministérios Públicos Estadual (MPE) e Federal
Vias de transporte (MPF) tem cumprido ativamente suas funções. Outrossim, como resultado
dessa política, e, principalmente, da atuação dos órgãos de fiscalização,
As principais vias de acesso rodoviário à região são as BR-364 e BR- além da sensibilização dos empresários do setor, houve uma verdadeira
317. A primeira liga o Estado de Rondônia e o Sudoeste e Sul do País a Rio mudança no comportamento das empresas florestais do Estado.
Branco, atravessando todo o estado até Cruzeiro do Sul, na fronteira com o
Peru. A segunda liga o Sul do Amazonas a Rio Branco, estendendo-se aos Problemas até podem existir, como em qualquer atividade humana,
municípios de Xapuri, Brasiléia e Assis Brasil, na fronteira com o Peru e a mas nenhuma das denúncias veiculadas nos meios de comunicação são
Bolívia.stas duas grandes rodovias apresentam uma importância estratégi- verídicas, pois não se coadunando com a realidade vivida na Floresta
ca para a integração econômica, comercial e cultural do Estado com os Estadual do Antimary, sendo desmentidas pelo grande desenvolvimento
países andinos, permitindo o acesso do Brasil aos portos do Pacífico. A social e econômico trazido para a população lá residente pelo manejo
malha de rodovias permitem a comunicação entre as principais cidades da florestal, que não pode ser contaminado por eventuais atividades ilegais
região. realizadas à margem da lei e da vontade do Estado do Acre.
População e migração Em todo processo de construção coletiva, principalmente naqueles que
pretendem reverter modelos produtivos não sustentáveis há muito tempo
O crescimento populacional no Estado obedeceu, historicamente, a arraigados, podem ocorrer problemas a exigir ajustes, devendo prevalecer
movimentos migratórios determinados por efeitos de políticas públicas. A o contexto geral de desenvolvimento sócio e econômico e de conservação

História do Acre 30 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
ambiental trazido pelo manejo florestal empreendido na Floresta Estadual O Plano Diretor de Rio Branco-Ac define a Zona Rururbana como sendo as
do Antimary sobre eventuais problemas pontuais, que exigem solução "áreas adjacentes ao perímetro urbano onde a população residente desen-
pontual e não o retrocesso ao modelo de produção anterior. volve atividades agroflorestais e hortifrutigranjeiras e utiliza a cidade como
apoio".
Dessa forma, não podemos permitir o retrocesso no debate de ques-
tões importantes para a sociedade acreana, como é a atividade de manejo http://planejurb.blogspot.com.br/2009/05/interacao-urbano-rural.html
florestal, cujos resultados econômicos, ambientais e sociais não podem ser
negados. Neste aspecto, vale destacar que a criação de Unidades de
Conservação e demarcação de Terras Indígenas associado as atividades O Neoextrativismo ou Agroextrativismo
de manejo florestal, contribuem para o êxito na conservação de 87 % das O Extrativismo tem sido comumente descrito como uma atividade dos
florestas acreanas, diminuição significativa das nossas taxas de desmata- povos primitivos, pouco a pouco substituída, na medida em que o homem
mento, ao mesmo tempo em que promoveu um expressivo crescimento foi descobrindo tecnologias, acumulando conhecimentos e se tornando
econômico. senhor das leis da natureza. Trata-se de um estereótipo transmitido à
sociedade, a partir da imagem da gênese do "homo sapiens".

INTERAÇÃO URBANO-RURAL Rio Branco - Acre Ao término do nosso milênio, na Amazônia brasileira, o extrativismo é
algo totalmente diferente de tal padronização. É um conjunto de atividades
As mudanças na sociedade têm levado a uma variedade de interpretações econômicas de grupos sociais que não exclui a incorporação de tecnologias
em relação ao espaço rural. As percepções relacionadas ao conceito do nem a transformação e agregação de valor aos produtos; pelo contrário,
rural e da ruralidade são muito diferenciadas. abrange atividades agro-pastoris, extrativas e silviculturais, atingindo não só
os processos produtivos mas também os transformativos e os de comercia-
Enquanto a economia se globaliza, surgem novas iniciativas que viabilizam lização.
processos diferenciados de desenvolvimento no espaço. Nesse novo
cenário, é importante buscar ampliar o papel da ruralidade e suas relações. Não existe, portanto, o extrativismo de coleta de um único produto. O
que existe são em torno de 200.000 famílias que na Região praticam o
Cidade e campo vêm sendo percebidos como polaridades. E nessa relação neoextrativismo de múltiplas atividades. Os ataques ao extrativismo "este-
o urbano tem se mantido como dominante, enquanto que o rural, vem reotípado" por manuais de antropologia ou economia, classificando-o como
sendo percebido como mercadoria, capaz de gerar outras mercadorias. etapa "superada" pela humanidade, tem toda validade, porém, quando
dirigidas contra o neoextrativismo, tais ataques são tão inócuos quanto os
O Rural Contemporâneo de Dom Quixote contra os moinhos de vento.
A Geografia utiliza os seguintes conceitos: O que interessa é a realidade, isto é, a existência de um milhão de
* Espaço urbano – cidades, aglomerações com alta densidade populacional pessoas que praticam o neoextrativismo, habitando na floresta tropical
e técnica. úmida.
* Espaço rural – áreas não urbanizadas e ocupadas, com pequena densi-
dade populacional. Embora os extrativistas em geral sempre tenham combinado sua ativi-
dade com a caça, pesca e plantio de culturas alimentares, a crise na co-
O Espaço Rural corresponde a um meio específico, de características mais mercialização da castanha e especialmente da borracha, nos últimos 10
naturais do que o urbano, e é produzido a partir de uma multiplicidade de anos os obrigou a aumentar suas atividades agropecuárias. Esta procura
usos, onde o fator primordial é a terra ou o “espaço natural”. de novas alternativas econômicas é a característica principal do neoextrati-
vismo, sendo que entre elas tem merecido especial atenção a agregação
Atributos definidores do rural: de valor aos produtos extrativistas, mediante o beneficiamento primário nos
* Baixa densidade populacional; lugares de produção.
* Predomínio de paisagens com vegetação, e de atividades agro-silvo-
pastoris; O neoextrativismo tem suas raízes em fatores econômicos relaciona-
* Forte identidade territorial coletiva, que busca afirmar o rural como espaço dos ao imperativo de sobrevivência dos extratores; na medida em que não
distinto do urbano. há mercado para certos produtos ou os preços não são compensadores, as
famílias buscam novas alternativas econômicas. Estas, até o momento tem
Atributos do espaço urbano: surgido mais no setor agropecuário daí a propriedade de classificar os
* Densificação populacional no espaço; neoextrativistas como agroextrativistas.
* A paisagem/espaço se sobrepõe ao rural ou ao “natural”; O agroextrativismo é fortemente favorecido pelos movimentos sociais,
* Todo urbano já foi rural, mas nem todo rural será urbano. na medida em que a desestruturação do sistema tradicional extrativista
permite a aquisição de autonomia das unidades produtoras em relação a
Relação Cidade/Campo patrões e proprietários que aos poucos desaparecem de cena, dando lugar
Correntes interpretativas sobre essa relação: a Associações, Sindicatos, Organização Regional e Nacional dos Seringuei-
* Oposição entre rural e urbano – campo reflete o atraso, enquanto a cida- ros que passam a apoiar e incentivar a diversificação de atividades econô-
de mostra o progresso. micas. A contribuição dos movimentos sociais foi mais forte ainda quando
* Continuum rural-urbano – a urbanização é responsável por mudanças na se tratou de defender a floresta contra a derrubada promovida pelos fazen-
sociedade e por aproximar o rural do urbano. deiros. Através dos "Empates" foi conquistada a consciência do "coletivo" e
os seringueiros começaram a solicitar, através dos Sindicatos e do Conse-
Rururbano lho Nacional dos Seringueiros, a criação de reservas extrativistas.
No Brasil, destaca-se o conceito de rurbano ou rururbano como referência à
urbanização do rural, em função da inclusão de novas atividades econômi- Pesquisas realizadas pela FUNTAC em 1990, em reservas extrativistas
cas, especialmente as não agrícolas. Essas atividades conduzem ao “novo do Acre, revelam que o extrativismo contribui apenas com 30% na compo-
rural”. sição da renda familiar dos seringueiros. Estes dados são confirmados
pelas pesquisas encomendadas pelo CNPT à ECOTEC em 1993.
Composição da Renda Familiar Seringais do ACRE

ATIVIDADE Kg VALOR US$

Agricultura (arroz, feijão, milho, farinha) 3.277 882.00

Borracha 600 430.00

História do Acre 31 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
Castanha 1.500 300.00

Animais Domésticos - 144.00

Caça - 358.00

TOTAL 2.114,00

Fonte: FUNTAC / CNPT

Composição da Renda Familiar em Reservas Extrativistas (%)

Fontes de Renda Reservas

Chico Mendes Alto Juruá Rio Ouro Preto Rio Cajari Média

Agricultura 47,12 36,08 26,43 62,64 43,06

Animais Domésticos 8,92 10,80 13,69 14,92 12,08

Caça e Pesca 5,78 32,52 8,92 9,66 14,22

SUB-TOTAL 61,82 79,40 49,04 87,22 69,36

EXTRATIVISMO

Borracha 29,56 20,60 50,96 0,76 25,57

Castanha 8,62 - - 3,63 3,06

Palmito - Açaí - - - 8,29 2,07

SUB-TOTAL 38,18 20,60 50,96 12,68 30,70

TOTAL 100 100 100 100 100

Fonte: ECOTEC - Estudo de Pré-investimento - Projeto RESEX/PPG-7

Região Amazônica

1. População Extrativista

Uf População Total População Rural População Extrativista População Seringueiros

N° % N° %

ACRE 483.483 185.237 120.600 25,00 120.600 25,00

AMAPA 373.994 68.700 38.450 9,50 3.200 1,20

AMAZONAS 2.390.102 771.306 317.750 13,30 89.700 3,76

MATO GROSSO 2.227.983 547.800 12.500 0,55 6.500 0,22

PARA 5.522.783 2.481.600 255.560 4,63 37.000 0,67

RONDONIA 1.221.290 483.742 181.800 14,88 118.700 9,72

RORAIMA 247.724 91.711 3.150 1,28 - -

TOCANTIS 1.048.514 417.629 21.150 2,21 - -

TOTAL 13.515.873 5.047.725 950.960 7,00 375.700 2,8

OBS: Cálculo da população que depende do coco babaçu no Maranhão, Tocantins e Piauí: 1.000.000 de pessoas

Historicamente, a economia acriana baseia-se no extrativismo vegetal, sobretudo na exploração da borracha, que foi responsável pelo povoamento da re-
gião. Atualmente, a madeira é o principal produto de exportação do estado, que também é grande produtor de castanha-do-pará, fruto do açaí e óleo da copa-
íba.

História do Acre 32 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
Os cultivos de mandioca, milho, arroz, feijão, frutas e cana-de-açúcar são a base da agricultura. A indústria, por sua vez, atua nos seguintes segmentos:
alimentício, madeireiro, cerâmica, mobiliário e têxtil.
O Acre apresenta dois grandes polos econômicos: o vale do rio Juruá, que tem a cidade de Cruzeiro do Sul como principal núcleo urbano; e o vale do rio
Acre, que é mais industrializado, possui maior grau de mecanização e modernização no campo, apresenta maior potencial nas atividades agrícolas, grande
produtor de borracha e alimentos (mandioca, arroz, milho, frutas, etc.), além de abrigar a capital estadual, Rio Branco.
A distribuição da população na região norte
A partir de 1980 a população da Região Norte obteve um bom nível de crescimento vegetativo, porém o número de habitantes ainda é modesto. Atualmen-
te a população dessa região é composta por 15.864.454 habitantes, respondendo por apenas 8% do povo brasileiro, distribuída em uma gigantesca extensão
territorial de 3 869 637,9 Km2. A população absoluta da Região Norte supera somente a da Região Centro-Oeste.
Dentro da Região Norte existe uma grande disparidade entre os estados quanto à concentração da população, por exemplo, o Pará abriga cerca de
7.581.051 habitantes, isso lhe dá a condição de mais populoso regionalmente, enquanto que Roraima possui apenas 450.479 habitantes.
De forma geral, a densidade demográfica de todos os estados do Norte é pequena, a população em sua maioria se encontra concentrada em centros ur-
banos (cidades), são aproximadamente 500 municípios.
Um aspecto comum da população da Região Norte, tanto habitantes do campo quanto das cidades, é a incidência de concentração de pessoas às mar-
gens de rios. As principais cidades da Região se encontram estabelecidas às margens de rios, como Manaus, Belém, Porto Velho, Santarém, Marabá e Alta-
mira. Essa configuração recebe o nome de população ribeirinha.
O fato de a população se concentrar às margens de rios é proveniente de diversos fatores, o principal é a dificuldade para se locomover dentro da floresta
Amazônica e a falta de infraestrutura de transporte, como rodovias e ferrovias, sendo assim, a melhor alternativa é a utilização dos rios com via de circulação
(hidrovia).
Um problema enfrentado por praticamente todos os estados da região Norte é o desprovimento parcial de redes de esgoto e água tratada, existem esta-
dos como o Acre onde apenas 35% da população têm acesso à rede de esgoto, Tocantins 16%, e o estado de maior percentual não ultrapassa 50% (Pará).
Por Eduardo de Freitas

9 O comércio, o transporte e as comunicações no Estado do Acre. Municípios e populações do Acre: população e localização. Nova configu-
ração do mapa. Microrregiões. Atuais Municípios.

Comércio
A quase totalidade do comércio do estado é feita por via fluvial e em pequena escala por via aérea. O Acre exporta quase tudo o que produz e importa
praticamente tudo que consome. A pauta de exportação resume-se na madeira compensada e perfilada (49%) madeira serrada ou em folha
(27%), frutas (21%) e outros (3%), convergindo na totalidade para os estados do Amazonas e Pará, de preferência para Belém, origem também da maioria de
suas compras. O comércio com o limita-se a compra de gado em pé e gêneros alimentícios da Bolívia, frequentemente de caráter ilegal. Em março de 2010 o
valor da exportação por cabotagem foi de US$ 15.727.499 e a importação de US$ 15.059.156.
Infraestrutura
O ensino fundamental contava em 2008 com 1.593 escolas, com o corpo docente de 7.476 professores e 164.043 alunos matriculados. Contava o ensino
médio com 111 escolas, 1.594 professores e 33.113 matrículas. O ensino infantil calculava 275pré-escolas, 1.052 professores e 22.104 alunos. O ensino
superior era ministrado em 2007, em 9 estabelecimentos, com 17.840 alunos matriculados.
Em 2008, a taxa de analfabetismo no estado é de 13%, uma das mais equilibradas do Brasil. Da população, 36,2% dos acreanos são analfabetos funcio-
nais.
As principais universidades do Acre são: Instituto Federal do Acre, Universidade Federal do Acre (públicas), União Educacional do Norte e Instituição de
Ensino Superior do Acre (particulares).
Transportes
As principais rodovias do Acre são:
BR-364 - Juntamente com a BR-317 é a principal rodovia do Acre. A leste liga Rio Branco ao estado de Rondônia e ao restante do país. A oeste corta to-
do o estado, ligando a capital do estado a Cruzeiro do Sul, segunda principal cidade do estado, passando pelos municípios de Bujari, Sena Madurei-
ra, Manoel Urbano, Feijó, Tarauacá e Rodrigues Alves.
BR-317 - Tem extensão de 330 km, liga a capital ao sul do estado, passando pelos municípios de Senador Guiomard,Capixaba, Brasileia na fronteira
com a República da Bolívia, a partir de Brasileia a estrada continua por mais 110 km até chegar na cidade de Assis Brasil, já na fronteira com o Peru. A
rodovia tornar-se-á um importante eixo de exportação do Brasil, pois quando a estrada no lado peruano estiver concluída (estima-se que em 2011), o Brasil
estará totalmente ligado a Cuzco e aos dois principais portos do país vizinho.
AC-040 - Possui extensão de 100 km, liga Rio Branco até a cidade de Plácido de Castro também fazendo fronteira com a Bolívia.
AC-401 - Também chamada de estrada do agricultor, com extensão de 50 km, liga a cidade de Plácido de Castro à cidade de Acrelândia, já próxima da
BR-364.
AC-010 - Tem extensão de 55 km, Ligando Rio Branco até a cidade história de Porto Acre, já na divisa com o Amazonas.
Comunicações
Os principais jornais do estado são: O Estado, A Gazeta, O Rio Branco e A Tribuna. As principais estações e emissoras de televisão do estado são: TV
Aldeia, TV Acre, TV 5, TV Rio Branco, TV Gazeta Rio Branco, TV União Rio Branco, TV 40, TV C, TV Cruzeiro do Sul, TV Ituxi e TV Integração. As principais
estações de rádio do estado são: Rádio Aldeia FM, Rádio Gazeta FM, Rádio União FM, Rádio Educativa FM, Rádio Acre FM e Rádio Boas Novas FM, Rádio
Progresso AM, Rádio Líder AM, Rádio Universitária FM e Rádio Aldeia FM, Juruá FM, Verdes Florestas, Integração FM, sendo que as três ultimas estão
localizadas em Cruzeiro do Sul e as demais em Rio Branco.

História do Acre 33 A Opção Certa Para a Sua Realização


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O estado do Acre é dividido geograficamente em cinco microrregiões:

Município Área {km²) População em 2009 PIB (R$ 1.000,00) em 2007


Microrregião de Brasiléia 14.120 55.203 416.758
Microrregião de Cruzeiro do Sul 29.7812 128.338 745.122
Microrregião de Rio Branco 22.847 386.868 3.874.717
Microrregião de Sena Madureira 40.646 48.029 338.600
Microrregião de Tarauacá 45.1642 73.664 401.985
As Microrregiões do Acre, segundo o IBGE.

Municípios

Município Área Mesorregião Microrregião

1 Acrelândia 1 574,55 Vale do Acre Rio Branco

2 Assis Brasil 2 875,915 Vale do Acre Brasileia

3 Brasileia 4 336,189 Vale do Acre Brasileia

4 Bujari 3 467,681 Vale do Acre Rio Branco

5 Capixaba 1 713,412 Vale do Acre Rio Branco

6 Cruzeiro do Sul 7 924,943 Cruzeiro do Sul Vale do Juruá

7 Epitaciolândia 1 659,131 Vale do Acre Brasileia

8 Feijó 2 202,027 Vale do Juruá Tarauacá

História do Acre 34 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Município Área Mesorregião Microrregião

9 Jordão 5 428,765 Vale do Juruá Tarauacá

10 Manoel Urbano 9 386,961 Vale do Acre Sena Madureira

11 Marechal Thaumaturgo 7 743,828 Vale do Juruá Cruzeiro do Sul

12 Mâncio Lima 4 672,321 Vale do Juruá Cruzeiro do Sul

13 Plácido de Castro 2 047,455 Vale do Acre Rio Branco

14 Porto Acre 2 984,643 Vale do Acre Rio Branco

15 Porto Walter 6 093,4 Vale do Juruá Cruzeiro do Sul

16 Rio Branco 9 222,577 Vale do Acre Rio Branco

17 Rodrigues Alves 3 304,559 Vale do Juruá Cruzeiro do Sul

18 Santa Rosa do Purus 5 981,137 Vale do Acre Sena Madureira

19 Sena Madureira 25 278,095 Vale do Acre Sena Madureira

História do Acre 35 A Opção Certa Para a Sua Realização


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Município Área Mesorregião Microrregião

20 Senador Guiomard 1 837,294 Vale do Acre Rio Branco

21 Tarauacá 15 553,43 Vale do Juruá Tarauacá

22 Xapuri 5 250,931 Vale do Acre Brasileia

História do Acre 36 A Opção Certa Para a Sua Realização


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História do Acre 37 A Opção Certa Para a Sua Realização


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História do Acre 38 A Opção Certa Para a Sua Realização


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PROVA SIMULADA
Questão 1
O mapa abaixo está destacando uma unidade federativa do Brasil.

Marque a alternativa que indica corretamente esse estado e sua capital.


a) Acre (estado) e Rio Branco (capital)
b) Amapá (estado) e Macapá (capital)
c) Rio Branco (estado) e Acre (capital)
d) Rondônia (estado) e Porto Velho (capital)
e) Acre (estado) e Porto Velho (capital)

Questão 2
Analise as afirmativas sobre a população e a economia do Acre e marque (V) para as verdadeiras e (F) para as falsas.
a) Com cerca de 733,5 mil habitantes, o Acre é o estado menos populoso do Brasil.

História do Acre 39 A Opção Certa Para a Sua Realização


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b) O extrativismo vegetal é uma atividade de grande importância para a economia estadual.
c) A atividade agrícola está em constante expansão, com destaque para os cultivos de mandioca, milho e arroz.
d) Rio Branco, capital estadual, é a cidade mais populosa do Acre.

Questão 3
Analise as alternativas sobre os aspectos físicos do Acre e marque a alternativa correta.
a) O estado do Acre é “cortado” pela Linha do Equador, fazendo com que uma parte do território pertença ao Hemisfério Setentrional e a outra parte ao He-
misfério Meridional.
b) Com extensão territorial de aproximadamente 164,1 mil quilômetros quadrados, o estado do Acre é o menor da Região Norte.
c) O Acre limita-se com a Bolívia e o Peru. No Brasil, possui fronteira com apenas um estado, o Amazonas.
d) O clima predominante no Acre é o equatorial amazônico, com umidade relativa do ar e temperaturas bastante elevadas.
e) A principal cobertura vegetal do Acre é a Mata de Araucárias, cuja árvore símbolo é o pinheiro-do-paraná.

Questão 4
O Acre é um estado brasileiro que está localizado em qual Região do país?
a) Sul
b) Nordeste
c) Centro-Oeste
d) Norte
e) Sudeste

Respostas

Resposta Questão 1
Alternativa correta: letra “A”.
a) Verdadeiro: O mapa em questão está destacando o estado do Acre, cuja capital é a cidade de Rio Branco.
b) Falso: O mapa não está destacando o estado do Amapá.
c) Falso: Rio Branco é a capital e o Acre é o estado.
d) Falso: Rondônia não é o estado destacado no mapa analisado.
e) Falso: O estado destacado no mapa é o Acre; no entanto, sua capital não é a cidade de Porto Velho, e sim a cidade de Rio Branco.

Resposta Questão 2
a) Falso: Roraima, com 450,4 mil habitantes e o Amapá, com 669,5 mil habitantes, são os estados do Norte que possuem contingente populacional inferior ao
do Acre. Portanto, o Acre é o terceiro estado menos populoso do Norte.
b) Verdadeiro: O extrativismo vegetal é uma atividade de fundamental importância para a economia do Acre, com destaque para a extração do látex.
c) Verdadeiro: A atividade agrícola está crescendo no Acre, em especial a produção de milho, arroz, mandioca, cana-de-açúcar, frutas, entre outros.
d) Verdadeiro: Com mais de 335 mil habitantes, Rio Branco é a cidade mais populosa do Acre, abrigando quase metade da população estadual.

Resposta Questão 3
Alternativa correta: letra “D”.
a) Falso: O território do Acre não é “cortado” pela linha do Equador. O estado está totalmente localizado ao sul da Linha do Equador, pertencendo, portanto,
ao Hemisfério Meridional.
b) Falso: O Acre possui extensão territorial de 164.122,280 quilômetros quadrados, sendo o segundo menor estado da Região Norte, pois o Amapá, que é o
menor, ocupa uma área de aproximadamente 142,8 mil quilômetros quadrados.
c) Falso: Além de Bolívia, Peru e Amazonas, o estado do Acre também possui fronteira com o estado brasileiro de Rondônia.
d) Verdadeiro: O Acre tem como clima predominante o equatorial amazônico, com umidade relativa que pode atingir 90% e temperaturas elevadas, com
média que varia entre 25 °C e 32 °C.
e) Falso: A principal cobertura vegetal do Acre é a floresta Amazônica. A Mata de Araucárias é um bioma encontrado na porção sul de São Paulo e nos
estados da Região Sul do Brasil.

Resposta Questão 4
Alternativa correta: letra “D”.
a) Falso: A Região Sul do Brasil é formada pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
b) Falso: O Nordeste brasileiro é formado pelos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão.
c) Falso: O Centro-Oeste é formado por Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, além do Distrito Federal.
d) Verdadeiro: O Acre está localizado na porção oeste da Região Norte. Os outros estados que compõem essa Região são: Amazonas, Amapá, Pará, Tocan-
tins, Roraima e Rondônia.
e) Falso: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais são os estados da Região Sudeste.

http://exercicios.brasilescola.com/geografia-do-brasil/exercicios-sobre-acre.htm#resposta-198

História do Acre 40 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
Questões de História e Geografia do Acre/SEFAZ/2009
1) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) O início da exploração da borracha amazônica foi próspero, mas a bonança durou pouco. Em 1912, a
produção atingia o pico de 42 mil toneladas — das quais 10 mil vinham do Acre. A borracha representava 40% de todas as exportações nacionais, incluindo
o café.
Mauro William Barbosa de Almeida. Floresta que sangra. In: Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, ano 4, n.º 44, maio/2009, p. 19.

A decadência da produção do látex brasileiro resultou da:

A) invenção da borracha sintética, pelo norte-americano Goodyear.


B) praga de fungos que atingiu as seringueiras, reduzindo sua produtividade.
C) concorrência da borracha produzida pelos ingleses na Malásia.
D) sabotagem promovida pelos seringueiros acreanos, descontentes com suas condições de trabalho.

2) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) O Acre, incorporado ao Brasil pelo Tratado de Petrópolis (1913), tornou-se:

A) estado em 1962.
B) município do estado do Amazonas em 1930.
C) estado associado em 1945.
D) território federal em 1983.

3) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) A república do Acre, proclamada em 14 de julho de 1899, resultou:

A) de ato do Bolivian Syndicate, que desejava a autonomia do território para melhor explorá-lo.
B) de movimento popular, composto basicamente por trabalhadores brasileiros e bolivianos dos seringais, que pleiteava a independência do território tanto em
relação à Bolívia quanto ao Brasil.
C) da expedição militar peruana, comandada por José Paravicini, que objetivava desmembrar o território da Bolívia e anexá-lo ao Peru.
D) da expedição comandada pelo espanhol Luis Gálvez Rodríguez de Arias e apoiada pelo governo do Amazonas.

Texto para as questões 4 e 5

Ao assumir o governo do Acre, Wanderley Dantas, afinado com as diretrizes de modernização do governo federal, e adepto da política do Brasil grande
potência, trazia para o estado um projeto de transformação da economia que não passava pelo extrativismo. Por iniciativa do governador Dantas, desfechou-
se ampla campanha de divulgação do estado no sul do país, junto a empresários.
Pedro Vicente Costa Sobrinho. Capital e trabalho na Amazônia Ocidental: contribuição à história social e das lutas sindicais no Acre. São Paulo: Cortez; Rio
Branco: Universidade Federal do Acre, 1992, p. 144 (com adaptações).

4) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) O projeto de transformação econômica a que se refere o texto caracterizou-se por

A) incentivar a transformação do estado em produtor de cereais para a exportação.


B) estabelecer em Rio Branco o modelo de zona franca adotado em Manaus.
C) estabelecer incentivos fiscais e créditos subsidiados para investidores do centro-sul brasileiro.
D) propor uma industrialização autóctone, visando os mercados consumidores acreano e boliviano.

5) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) As conseqüências do projeto de transformação econômica referido no texto incluem:

A) a redução da pobreza e das desigualdades sociais graças à dinamização da economia acreana.


B) o surgimento de divergências entre os governos acreano e amazonense, devido à concorrência com a Zona Franca de Manaus.
C) o êxodo rural, além do agravamento dos problemas urbanos.
D) o fracasso da industrialização, devido à recusa do governo boliviano em constituir uma zona de livre comércio na fronteira acreano-boliviana.

6) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) As unidades diversas geomorfológicas do estado do Acre incluem diversas depressões, fragmentos
da planície amazônica e a superfície tabular de Cruzeiro do Sul. Do ponto de vista geomorfológico, esta última constitui um(a):

A) horst.
B) graben.
C) chapada.
D) cuesta.

7) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) O processo de formação econômica do Acre ocorreu no contexto da expansão da frente pioneira
extrativista cuja base era

A) a cassiterita.
B) o pau-brasil para indústria madeireira.
C) o látex para a produção de borracha.
D) a mineração de ouro.

8) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) As microrregiões geográficas do Acre, divididas pelo IBGE, apresentam cinco regiões: Brasiléia, Sena
Madureira, Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Tarauacá. Com relação à disposição geográfica dessas microrregiões e tendo como ponto de referência o centro
geográfico do estado, é correto afirmar que a microrregião de:

A) Brasiléia está situada a sudoeste.

História do Acre 41 A Opção Certa Para a Sua Realização


APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos
B) Sena Madureira está situada a noroeste.
C) Rio Branco está situada a noroeste.
D) Cruzeiro do Sul está situada a oeste.

9) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) O processo de anexação do Acre ao Brasil passou por um conflito de fronteira entre a Bolívia e o
Brasil, interrompido por vários anos, atingindo o clímax, na região do Acre, onde Plácido de Castro, um gaúcho de 28 anos de idade, liderou outro levante
armado, em meados de 1902, contra os representantes do governo de La Paz. Esse conflito configurou-se mais grave, não porque a Argentina parecesse
respaldar a Bolívia a disputar com o Brasil a hegemonia da região, mas por envolver fortes interesses de outro país. País este que aportou uma canhoneira
em Belém em missão aparente de amizade e partiu rumo a Tabatinga e Iquitos, furtivamente, com os faróis de navegação apagados durante a noite, sem
esperar licença especial do governo brasileiro, levando a bordo o cônsul daquele outro país. Ato este considerado de desrespeito à soberania nacional. L. A.
M. Bandeira. O barão de Rothscild e a questão do Acre. In: Rev. Bras. Polít. Int., vol. 43, n.º 2, Brasília, 2000 (com adaptações).

No final do segundo período do texto acima, a expressão “outro país” refere-se:

A) aos Estados Unidos da América.


B) a Portugal.
C) à Argentina.
D) à Grã-Bretanha.

10) (Fiscal da Receita Estadual/SEFAZ-AC/Cespe/2009) Atualmente, o estado do Acre possui 22 municípios devido à criação, em 1992, de:

A) 8 municípios.
B) 9 municípios.
C) 10 municípios.
D) 11 municípios.
http://barbosadejesu.wordpress.com/2009/08/26/questoes-de-historia-e-geografia-do-acresefaz2009/

RESPOSTAS
01. C
02. A
03. D
04. C
05. C
06. C
07. C
08. D
09. A
10. C

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História do Acre 42 A Opção Certa Para a Sua Realização

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