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CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES FITOGEOGRÁFICAS DO


ESTADO DO PARANÁ

Luciano Farinha Watzlawick

1. Introdução
A Região Sul do Brasil, formada pelos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul que, juntos possuem uma superfície de aproximadamente de 577 800 km2,
limitando-se, ao norte, com os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, a oeste com
Paraguai e a Argentina e, ao sul, com Uruguai, ao leste, com uma extensão de 1350 km, é
banhado pelo Oceano Atlântico.
Cerca de 19100 km2, da área regional corresponde à superfície líquida interna e
aproximadamente 558700 km2 é ocupada pelas formações vegetais, pois 60% da cobertura
florestal era formada por florestas e os 40% restantes de outros tipos de vegetação não
caracteristicamente florestais, tais como formações campestres e pioneiras (LEITE e KLEIN,
1990).
A vegetação da Região Sul tem uma longa história de pesquisas isoladas e localizadas,
conforme LEITE e KLEIN (1990), tanto no caráter florístico quanto fitofisionômico. A
caracterização dos componentes de um sistema, segundo WISNIEWSKI et al. (1997) assim
como dos processos resultantes da interação entre eles, são fundamentais para que se conheça
seu funcionamento, e se possa avaliar as implicações qualitativa e quantitativas da
interferência antrópica na sua autossustentabilidade.
Exatamente por constituir relações bastantes estreitas e independentes entre os
componentes físicos e bióticos entre as regiões fitogeográficas ou fitoecológicas na Região
Sul o presente capítulo tem por objetivo descrever de maneira sucinta as unidades
fitogeográficas do Estado do Paraná.

2. As Regiões Fitogeográficas Segundo MAACK (1968) x VELOSO et


al. (1991)
Cerca de 83% da superfície original do Estado do Paraná, segundo MAACK (1968)
era ocupada por florestas, os demais 17% eram formados por formações campestres (campos
limpos e campos cerrados), restingas litorâneas, manguezais e várzeas.
O Estado do Paraná, de acordo com o mesmo autor, sob ponto de vista fitogeográfico
possui as seguintes regiões fitogeográficas.
a) Floresta Atlântica: situada na porção leste do Estado, definida praticamente em toda
a sua extensão pela barreira geográfica natural da Serra do Mar;
b) Floresta com Araucária: situada na porção oeste da Serra do Mar, ocupando as
porções planálticas do Estado em média entre 500 a 1200 m N.M.M, sem influência direta do
oceano;
c) Floresta Pluvial: este tipo de floresta está presente nas regiões norte e oeste do
Estado e nos vales dos rios formadores da bacia do rio Paraná, abaixo de 500 m N.M.M. A
flora está condicionada a um período com baixa precipitação pluviométrica, quando 20 a 50%
das árvores do dossel perdem suas folhas;
d) Campos limpos ou campos campestres: ocupam cerca de 14% da superfície e ficam
geralmente localizados nas porções mais elevedas dos três planaltos paranaenses;
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e) Campos cerrados: estão localizados nas regiões norte e nordeste, ocupando cerca de
1%;
f) Restingas, manguezais, várzeas, campos alpinos e vegetação das rochas: essas
vegetações estão distribuídas esparsamente em função de condicionantes ambientais e
edáficos.
Partindo da premissa que a partir da década de 70 no Brasil, com a utilização das
técnicas de sensoriamento remoto (imagens de radar e de satélite, fotografias aéreas, imagens
de vídeo, dentre outras) revolucionou os levantamentos sobre cobertura vegetal (RODERJAN
et al. 1993), bem como o projeto RADAMBRASIL que teve como objetivo fazer
levantamento dos recursos naturais do país e o uso de novas tecnologia tanto que, VELOSO et
al. (1991) atualizou e reenquandrou alguns conceitos no que se refere sob ponto de vista
fitogeográfico no Estado do Paraná.
A Figura 1 mostra as regiões fitogeográficas do Estado do Paraná modificado, IBGE
(1992) e VELOSO et al. (1991).
Em uma breve análise comparativa, segundo (RODERJAN et al. 1993), pode ser
salientado que Maack delineou o mapa fitogeográfico do Estado do Paraná, diferindo
basicamente na terminologia utilizada. Embora o quadro da vegetação definido pelo o autor
acima na década de 50, apesar das dificuldades e recursos técnicos da época, constitui ainda o
mais preciso em bem elaborado documento a respeito, servindo como referência até os dias de
hoje.

FIGURA 1: Regiões Fitogeográficas do Estado do Paraná.

3. Classificação das Regiões Fitoecológicas


Segundo o IBGE (1992), esta classificação deve ser usada em todas as escalas desde a
classe até a subformação, pois o ¨sistema primário natural¨ necessita apresentar toda a
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hierarquia das formações. A partir daí pode-se determinar as comunidades que serão
detalhadas nas escalas maiores que 1:25.000, primeiro na fitossociologia seguida ou não de
estudos ecológicos.

3.1. Sistema Primário

Estão incluídos todos os ¨tipos de vegetação¨ ou Regiões Fitoecológicas brasileiras,


Formações Pioneiras, os Refúgios Vegetacionais e as faixas de Tensão Ecológica dos contatos
entre duas ou mais Regiões Fitoecológicas.

3.2. Sistema Secundário

São aquelas áreas onde houve intervenção humana para uso da terra (IBGE, 1992),
descaracterizando a vegetação primária. Essas áreas, quando abandonadas do uso antrópico,
a vegetação que surge reflete sempre os parâmetros ecológicos do ambiente.

4. Regiões Fitoecológicas do Estado do Paraná


4.1. Classificação das Áreas de Formações Pioneiras

Segundo IBGE (1992), a expressão Formações Pioneiras é usada para denominar o


tipo de cobertura vegetal formada por espécies colonizadoras de ambientes atuais, áreas
subtraídas naturalmente de outros ecossistemas ou surgidas em função da atuação recente dos
agentes morfodinâmicos e pedogenéticos (LEITE, 1994). As espécies ditas pioneiras,
desempenham importante papel na preparação do meio à instalação subseqüente de espécies
mais exigentes ou menos adaptadas às condições de instabilidade ambiental e de alta
intensidade luminosa.
Formações pioneiras são formações vegetais em fase inicial de sucessão, com
ecossistema dependentes de fatores ecológicos instáveis (LEITE et al., 1974 apud LEITE,
1994).
A formulação do conceito das Formações Pioneiras, conforme LEITE (1994)
fundamenta-se no processo natural de expansão da cobertura vegetal sobre ambientes
naturais, ou seja, isento de ação antrópica, onde geralmente a flora pioneira é pouca
diversificada, bastante específica, e adaptada ou com significativa tolerância às condições de
instabilidade natural dos parâmetros ambientais.
Ao longo da costa e em depressões aluvionares (pântanos, lagunas e lagoas) ocorrem
vegetações que recobrem terrenos normalmente instáveis, a qual chama-se de vegetação
primária em relação a ocupação edáfica (solo marinho), esta vegetação, possui plantas
adaptadas aos parâmetros ecológicos do ambiente pioneiro (IBGE, 1992).

4.1.2. Formação Pioneira de Influência Fluviomarinha

A vegetação de Formação Pioneira de Influência Fluviomarinha, conforme


RODERJAN et al. 1997, e composta pelos manguezais (Figura 3) e campos salinos,
desenvolve-se nos pequenos rios, canais e margens de baías atingidas pelas correntes quentes
de água salgada, condicionada a substratos de elevada salinidade e deficiência de oxigênio.
Os campos salinos, ocorrem na presença de planícies salobras e de represamento da
água do mar pelos terraços dos rios, caracterizados por densas populações de Spartina
montevidensis (praturá) e Crinum salsum (ceboleiro), que ocorre em especial na foz de rios,
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sendo uma planta herbácea com 1,0 a 1,5 metros de altura, característica por seus bulbos e
pelas suas flores alvas e vistosas. Ocorrem ainda a Acrotichum aureum, Salicordia virginica,
Limonium brasiliense, Paspalum vaginatum, dentre muitas outras espécies de herbáceas. A
Figura 2, mostra um Campo Salino com Spartina montevidensis.

FIGURA 2: Campo Salino com Spartina montevidensis.

FIGURA 3: Formação Pioneira de Influência Fluviomarinha (manguezal).

No mundo, existem em torno de 56 espécies pertencentes a manguezais e a + ou – 20


gêneros diferentes, sendo que nem todos são iguais. Possuem um ambiente simplificado sobre
o ponto de vista estrutural e florístico, sendo dominado pela química do solo.
No estabelecimento de um manguezal, as gramíneas são as primeiras a se estabelecer,
dando condições para que as espécies ocorrentes nos manguezais se estabeleçam, dentre as
espécies de gramíneas a Remiria é a mais importante em função de sua agressividade.
As áreas de manguezais do sul do Brasil possuem a ocorrência de apenas 3 espécies:
Laguncularia racemosa (mangue-branco), Rhizophora mangle (mangue-vermelho) e
Avicennia schaueriana (siriúba), as quais pertencem as famílias Combretaceae,
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Rhizophoraceae e Verbenaceae respectivamente. As três espécies monopolizam estes


ambientes em função de serem halófitas facultativas, ou seja, espécies que vivem em
ambientes aquáticos com alta concentração de sal, o quê não ocorre com a vegetação
circundante.
A Laguncularia racemosa (mangue-branco), possui um aspecto muito importante,
suas raízes além da função respiratória, possui em função de instabilização de ambientes,
como e o caso de um frontal a baía, que possui alta energia que ao invés de ficar matéria
orgânica, silte e argila, somente ficando areia. Assim nestes ambientes podem se estabelecer
espécies que possuem este artifício, lançando raízes que ocupam locais de maior energia,
fixando-se e dando condições para que outras espécies venham a colonizar o ambiente.
Os mangues, encontram-se em ambientes favoráveis a ocorrência desta vegetação,
desde o estado de Santa Catarina até o limite com a Guiana Francesa; prosseguindo pelo resto
da América Tropical, chegando a Flórida, sendo muito comuns nos trópicos do Velho Mundo,
na Ásia Central e Austral, chegando à Austrália e ao Pacífico (RIZZINI, 1992). O mesmo
autor relata que são encontrados ao longo de cursos de água e em torno de calmas baías, onde
terminam estuários fluviais, bem como para o interior, em torno de brejos e lagoas. Durante a
maré alta encontra-se alagado, na maré baixa, exime uma lama fina rica em raízes,
destacando-se as raízes respiratórias (pneumatóforos). Possuem dois fatores ambientais que
limitam e especializam a vegetação do mangue: o conteúdo salino e a carência de oxigênio.
No Brasil, a ocorrência de manguezal limita-se desde 30o N até 30o S, possuindo uma
variação neste intervalo em função da ocorrência de águas quentes (correntes quentes) e
condições químicas do solo, não possui a salinidade de um frontal marinho nem tão pouco
possuem tão pouco sal como às águas dos rios. Os manguezais ocorrem no encontro de águas
salgadas com às águas dos rios, determinando ambientes de certa calmaria como ambientes de
desembocadura de rios, baías, etc. O estado do Rio Grande do Sul, não possui a ocorrência de
manguezais em função da predominância das correntes frias ¨Malvinas¨.
Do ponto de vista fisionômico, o manguezal é basicamente, uma formação floresta ou,
conforme CAMARGO et al. (1972) uma formação arbóreo-arbustiva. Suas peculiaridades são
bem definidas, não possui sub-bosque, possui outros tipos de vegetação em função do efeito
da maré, por causa da saturação de água, desenvolvem raízes respiratórias. Estas raízes são
fortes, ficando sempre posicionadas acima da maré. Pelo sistema de classificação adotado
pelo IBGE (1992), não é uma floresta, mas sim, um ambiente de Formação Pioneira de
Influencia Fluviomarinha, seria uma floresta se possuísse vários estratos, não possuindo o
predomínio de uma única espécie ou de poucas espécies, tendo uma grande diversidade, o
termo mais correto seria de chamar de mata, para áreas que ocorrem pouca diversidade.
Os manguezais, em função da altura média do dossel e da densidade da população
arbórea podem ser agrupados em duas fisionomias distintas, o mangue baixo e o mangue alto.
(RODERJAN et al. 1997)
Nos trabalhos realizados pelo mesmo autor acima citado, pode-se observar na Figura
4, que o mangue baixo apresenta apenas um estrato arbóreo, possui altura média entre 3 e 5
metros, ocorre a predominância de Laguncularia racemosa (mangue-branco) com 84,31 %
das árvores, apresentando os troncos inclinados ou quase horizontais, comumente surgem três
ou mais brotações verticais. Enquanto que a Avicennia schaueriana (mangue-siriúba) e a
Rhizophora mangle (mangue-vermelho) são esporádicos, com diâmetros relativamente
pequenos e o dossel irregular. A densidade de indivíduos é em torno de 2.700/ha, possuindo
uma área basal de 20,83 m2/ha.
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FIGURA 4: Perfil esquemático do mangue baixo. (RODERJAN et al. 1997)

Conforme podemos observar na Figura 5, no mangue alto a espécie dominante é a


Avicennia schaueriana com um dossel situado em torno de 9 a 10 metros de altura, em um
estrato imediatamente abaixo encontram-se a Laguncularia racemosa e a Rhizophora mangle.
Nos registros de RODERJAN et al. 1997, a densidade de plantas por hectare é de 1445
indivíduos/ha, apresentando uma área basal de 23,946 m2/ha.

FIGURA 5: Perfil esquemático do mangue alto. (RODERJAN et al. 1997)

No estado do Paraná, foram encontrados indivíduos de até 30 cm de diâmetro,


apresentando 14 m de altura, extremamente retos, com um crescimento razoavelmente bom,
no entanto há uma heterogeneidade muito grande nos diversos ambientes, ocorrendo
indivíduos razoavelmente pequenos e em outros bem desenvolvidos. A densidade de
indivíduos é muito grande em termos médios em diâmetros acima de 5 cm em torno de 2.000
a 3.000 por hectare, em casos extremos este número pode chegar até 13.000 indivíduos. Não
chamamos de indivíduos por hectare, chamamos troncos, em função do sistema de
propagação.
Quando relacionamos dados de área basal (secção transversal), já foi encontrado locais
onde os valores chegam a 80 m2/hectare, valor este considerado altissímo, em geral os valores
estão em torno de 5 a 12 m2/hectare, muito exporadicamente 30 m2/hectare. Ao observarmos
os espaços ocupados pelos troncos, o percentual de ocupação e menor que 0,05 % de um
hectare ocupado com a secção transversal destes troncos.
Nas bordas dos manguezais, em transição, por sua vez, ocorrem comumente outras
espécies entre elas temos Hibiscus pernambucensis (Malvaceae), Spartina ciliata
(Gramineae) e Maytenus alaternoides (Celastraceae), ressalta-se que essas espécies não são
exclusivas da bordadura de manguezais.
A ocorrência de epífitas nos manguezais e muito pequena, porém a presença de vida
animal e intensa, como larvas de peixes, crustáceos, bem como a avifauna existente.
Como em todo o ecossistema florestal possui a absorção de nutrientes, quando as
folhas tornam-se senil, assim como galhos e indivíduos que caem, acontecendo mais
freqüentemente com as folhas, avaliando-se estes valores através da serapilheira (restos de
vegetais acima do solo), estes valores estão em torno de 12 toneladas/hectare/ano de material
seco, não sendo computada a água. Em função das folhas terem uma longevidade menor, elas
possuem a maior participação na formação da serapilheira, entre 70 a 80 % o restante e
composto de ramos e galhos.... A decomposição, diferente de outros ambientes se da de uma
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forma muito rápida, o processo de fragmentação e decomposição, pelo menos da meia vida
quando em contato com a água em torno de 30 dias.
O mau cheiro e causado pelo acúmulo de matéria orgânica, que acaba tendo
concentrações de enxofre, que ao entrar em contato com o ar reage formando o gás sulfídrico,
exalando o mau cheiro característico de manguezais.
O solo assume diferentes tipos, desde glei até orgânico, possui PH que vai desde 4,0 a
8,8, apresenta variações enormes em relação aos teores de matéria orgânica de 0 % até 40 %,
não é arenoso devido ser um ambiente de baixa energia, em função de não estar em um frontal
marinho. São ambientes dinâmicos, receptores de matéria orgânica, a qual e originada de toda
malha hídrica que vem do continente, de certa forma acaba sendo um ¨depósito¨ de matéria
orgânica.
Para RACHWAL & CURCIO (1994), os solos de manguezais são frágeis de origem
sedimentar flúvio-marinha, geralmente por material areno-síltico-argiloso, ricos em matéria
orgânica, hidromórficos, salinos, com alta capacidade de troca de cátions e elevada
condutividade elétrica. Ocorrem na foz de rios em ambientes flúvio-marinhos em locais de
águas tranqüilas, em função dos mesmos estarem sujeitos ao fluxo e refluxo das marés,
tornam-se extremamente instáveis, necessitando da proteção constante da cobertura vegetal
original, os autores ressaltam que não devem ser destituídos de sua cobertura vegetal, em
hipótese alguma. Abaixo da superfície do solo é um emaranhado de raízes que se forem
retiradas a água leva tudo embora, tendo o mangue uma função de estabilidade de bordadura
de baías e rios.

4.1.3. Formação Pioneira de Influência Marinha

As comunidades que recebem influência direta das águas do mar, sendo afetadas pelos
efeitos da maré, são classificadas segundo o IBGE (1992), como de Formação Pioneira de
Influência Marinha, as denominadas restingas que cobrem a maior parte da planície arenosa.
Conforme RODERJAN et al. (1997), a fisionomia esta intimamente associada às condições
ambientais de salinidade e das características pedológicas desfavoráveis.
O mesmo autor relata que nas Formações Pioneiras de Influência Marinha há uma
grande variedade de ambientes integrados, dentre os quais merecem destaque, pela maior
importância fisionômica, a faixa de praia, as dunas instáveis e as fixas, áreas aplainadas e
plano-deprimidas. No ambiente de praia, pobre em vegetação, em função da instabilidade e
do elevado teor de salinidade (fatores impeditivos da formação de solo), encontrando-se
poucas espécies.
Nas Formações Pioneiras de Influência Marinha, denominadas de restinga, possuem
os tipos herbáceo, arbustivo e arbóreo de vegetação, procurando contemplar as principais
variações fisionômicas observadas desde as praias até os pontos mais interiores da planície
costeira. O autor relata que são incluídas neste tipo, as comunidades ocorrentes nas praias,
dunas e sobre parte da planície costeira, nos setores com cordões litorâneos bem definidos
onde variam desde formações herbáceas, passando por arbustivas até florestas úmidas.
Freqüentemente o termo restinga, com significado bastante diverso é associado a estas
planícies, hora significa o tipo de vegetação que recobre-as, hora o próprio sistema substrato-
vegetação como um todo. Tanto restinga como planície litorânea ou costeira freqüentemente
são empregados de forma pouca precisa, embora tenha ocorrência mais ou menos expressiva
em quase toda a costa brasileira (SUGUIO & MARTIN, 1990).
A maioria das regiões de planícies foram formadas por sedimentos terciários e
quartenários, depositados em ambientes marinho, continental ou transicional, freqüentemente
associadas a desembocaduras de grandes rios e/ou reetrâncias na linha da costa, intercaladas
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por falésias e costões rochosos de idade pré-cambriana, sobre os quais assentam-se


eventualmente seqüências sedimentares e vulcânicas acumuladas em bacias paleozóicas,
mesozóicas e cenozóicas (VILLWOCK, 1994 apud MENEZES-SILVA, 1998). Estas feições
de planícies são denominadas de planícies costeiras ou planícies litorâneas.
As dunas possuem sua história relacionada muito com a ação do mar e dos ventos, esta
ação provoca quase que um alinhamento de certa forma, levando a diferentes denominações.
Ocorrem em forma de linhas, que são facilmente identificadas em fotografias aéreas (linhas
de cordões). Observa-se que estas linhas, estendem-se na planície em torno de 5 a 7 Km para
dentro, sendo testemunhas que um dia o mar avançou planície a dentro e recuou, estes recuos
com a ação do mar formavam os acúmulos de areia que formam as dunas, podendo ser
lineares formando os cordões de dunas ou irregulares. O espaço entre estes cordões e
denominado de inter cordões.
Normalmente nos cordões arenosos, onde a água da chuva cai, percola, sendo que a
vegetação que se instala e altamente adaptada. Nos inter cordões quase sempre existe água.
Esta diferenciação entre cordões e inter cordões, manifesta-se em toda a planície, dando
origem a áreas com ambientes diferentes, ambientes de solos, drenagem e consequentemente
de vegetação diferente, não significa que ao longo da planície adentro vai se intercalando
cordão/inter cordão, o relevo vai sofrendo um reafeiçoamento (termo utilizado pelos
geólogos) ao longo do tempo por ação dos ventos, vegetação e animais, vai formando
tabuleiros (locais mais altos, + ou – 1 metro), que uma área seguinte que pode ser uma lagoa.
Com o passar dos anos, e com o acúmulo de matéria orgânica, vai permitindo e dando
condições para que plantas mais exigentes se estabeleçam, diversificando-se até o
desenvolvimento de florestas.
Os cordões litorâneos foram bastantes reafeiçoados, isto é, retrabalhos principalmente
pela ação biológica, quase não podendo ser distinguidos. Por outro lado, os terraços
holocênicos possuem alturas de até 2,5 m ao nível médio dos mares., ocorrendo nas porções
externas dos terraços pleistocênicos e neles os cordões litorâneos são bem visíveis. Conforme,
ANGULO (1992) os cordões mais recentes podem ser facilmente reconhecidos em fotos
aéreas, e podem atingir de 10 a 100 m de largura e alturas superiores a 1 m, no Paraná os
terraços holocênicos ocupam uma área pequena, tendo no máximo 2 a 3 km de extensão.
Nas dunas instáveis, irregularmente dispersas, sofrem muito a influência do vento, em
função do substrato e o nível de antropismo, ocorre uma variação nas comunidades herbáceas
e arbóreas, típicas e ambiente xerofítico, destacando-se como espécies mais comuns a
Spartina montevidensis, Panicum reptans (capim-das-dunas), Sophora tomentosa (feijão-de-
praia), Scaveola plumieri (mangue-de-prai) e Cordia verbenácea (camarina). RODERJAN et
al. (1997), destaca a ocorrência de algumas Orchidaceae (Epidendum fulgens, Epidendum
latilabra, Oncidium barbatum, Cytopodium paranaensis), as Bromeliácea (Dickia
encholirioides, Aechmea gamosepala), os liquens (Cladonium didyma, Cladina confusa),
briófitas (Rhacopilum tomentosum, Pyrhobyum spiniforme) e muitas pteridófitas.
As dunas fixas, ocorrem onde a ação eólica não se faz tão intensa, sob proteção dos
cordões dunares móveis e semifixos, observa-se maior compactação e transformação
estrutural das camadas de areia, são observadas diversas espécies arbustivas e arbóreas, as
quais possuem papel importante na estabilização das dunas e na retenção da água. Destacam-
se as seguintes espécies: Schinus terebinthifolius (aroeira-vermelha), Ilex theezans (caúna),
Psidium cattleianum (araçá), Weinmania paulliniaefolia (gramiunha) e Rapanea parvifolia
(capororoca-da-praia). (Leite, 1994 apud RODERJAN et al. 1997)
No ambiente de frontal marinho, a radiação e muito forte, com excesso de vento (taxa
de transpiração alta) e provoca a dissecação, com uma grande disponibilidade de água, que
em função da condutividade hidráulica baixa, conseqüentemente a água não sobe pelos poros
ficando um ambiente muito seco, sendo este um fator condicionante. Pela proximidade do mar
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estas áreas possuem uma baixa constituição nutricional, razão pela qual poucas espécies são
encontradas, em função das existentes serem especializadas e adaptadas para estas condições
de ambiente. Este fator pode estar relacionado a ação dos ventos; a sota vento e a barla vento,
possuindo situações diferentes, ao fato de estar protegida do vento já determina modificações
importantes. Ao observarmos uma duna, ou um cordão, o vento agindo constantemente, atrás
de ambos a vegetação tem uma certa proteção e os indivíduos um porte razoável, situação
completamente diferente ocorre com a vegetação que esta em contato direto com o vento.
A origem da restinga foi no ponto rochoso, onde a vegetação pioneira varia do resto
das comunidades arenosas. Neste pontal, pode-se dizer que a principal espécie característica é
a Clusia criuva associada às Cactaceae dos gêneros Cereus e Opuntia, além das muitas
Bromeliaceae dos gêneros Vriesia, Bromelia, Canistrum, Aechmea que se destacam nos
estados da região Sul.
A vegetação de restinga herbácea visitada, Pontal do Paraná, representada na Figura 6,
possui a influência do vento constantemente em função de estar em um frontal marinho direto,
com uma insolação ¨violenta¨, intensidade de chuvas abundante, a existência de muitas
espécies diferentes, apesar desta área de vegetação ser relativamente recente possuindo a
influência do oceâno, quer seja direta através da arebentação ou mesmo indireta através do
vento, carreando muita areia.

FIGURA 6: Vegetação de Restinga Herbácea (Pontal do Paraná – PR).

As comunidades vegetais que recebem influência direta das águas do mar apresentam
como gêneros característicos de praias, tais como: Remirea e Salicornia estas espécies se
adaptam em áreas mais afetadas pelas marés, como as do gêneros Paspalum, Hidricotyle,
Ipomoea e Canavali, sendo plantas escandentes e estoloníferas que atingem as dunas,
contribuindo para fixá-la, contudo os outros gêneros associados ao plano mais alto das praias
contribuem para caracterizar a comunidade pioneira, destacando-se os gêneros Acicarpha,
Achyrocline, Polygala, Spartina Vignia.
A vegetação de restinga herbácea, possui uma variação muito grande, possuindo
comunidades de plantas, e dentro destas comunidades tem-se plantas dominantes resultantes
dos efeitos que agem sob determinada micro região. Pode-se exemplificar em uma mesma
região, as áreas ¨abaciadas¨ possuem água observa-se um determinado grupo de plantas da
família das Siperaceae e plantas que habitam as áreas úmidas, quando o terreno possui uma
certa elevação o grupo de plantas e diferente das que ocorrem nas áreas úmidas.
Dentro das áreas de restinga, ocorrem também os brejos de água doce com sua flora
característica em fisionomia típica, moldada por Thypha sp. Os brejos sujeitos à ação da água
do mar durante as marés altas são encontrados, em geral, logo após a região das dunas. Nesta
área, ocorre o predomínio de Spartina ciliata (Gramineae) e indivíduos raquíticos de
Laguncularia racemosa (Combretaceae).
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Nos trabalhos realizados por RODERJAN et al. 1997, na APA de Guaratuba, as


comunidades arbóreas são compostas por um único estrato denso e baixo, geralmente entre 2
e 5 metros de altura, moldados geralmente pela ação dos ventos, ocorrem principalmente as
seguintes espécies: Schinus terebinthifolius (aroeira), Tapirira guianensis (cupiúva),
Ternstroemia brasiliensis (vermelho), Gomidesia schauriana (rapa-goela ou papa-goela),
Psidium cattleianum (araçá), Andira anthelmintica (jacarandá-lombriga), Pithecellobium sp.
(timbuva) e Ocotea pulchella (canela-lageana).
Em relação as folhas da vegetação de restinga, pode–se observar que são menores,
folhas coriáceas, claras e apresentam serosidade (alta evapotranspiração) com o objetivo de
suportar a alta insolação, a salinidade e vento fortes. Em zonas de barlavento a vegetação é
mais baixa, já no sotavento a vegetação é mais desenvolvida. Plantas como Drosera sp. vivem
em ambiente úmidos com baixas condições nutricionais, principalmente com baixa
concentração de nitrogênio no solo. Espécie como a Tibouchina sp., possuem folhas coriáceas
e pilosas e se adaptam muito bem em ambientes secos e com grande insolação.
O sistema radicular é do tipo fascicular, com finalidade de função nutricional, desta
forma ele está mais próximo da superfície, as espécies que possuem raízes pivotante, com o
objetivo maior de sustentação. O meio muda estão a característica do sistema pivotante nestes
ambientes. A condição nutricional e hídrica num ambiente empobrecido está mais em cima,
próximo à superfície. As plantas em ambientes secos desenvolvem o sistema radicial mais
superficial para captar a umidade da atmosfera, aumentando a área de captação de água. Há
presença de liquens, os quais caracterizam ambientes com falta de água.
Algumas espécies como Gaylussacia brasiliensis (Ericaceae) são indicadoras de
profundidade do lençol freático, pois se a planta possui um porte baixo significa que o lençol
freático é alto e se possui um porte alto o lençol freático é baixo. É comum o aparecimento de
pteridófitas do gênero Rumohra sp., típica de restinga, sendo muito utilizada nas floriculturas.
Outra espécie muito característica de restinga é a Clusia criuva (Clusiaceae), tem sido estuda
com objetivo de combate a células cancerígenas.
A vegetação da restinga arbórea começou a se formar com as espécies anteriores
(herbáceas), e foi se diversificando cada vez mais, em função de condições menos drásticas.
Quanto mais afastado da linha da costa, as espécies vão assumindo um porte maior, e a
diversificação também aumenta, intercalando-se os cordões, pois este ambiente ficou mais
tempo sem a influência direta do mar ou indireta do vento.
De acordo com o ponto de inversão morfológica que é a primeira bifurcação, quanto
mais baixo for o ponto de inversão morfológica dos indivíduos que estão formando o dossel,
maior a competição lateral e externa no início do seu desenvolvimento. Este ponto permite
fazer inflexões sobre o histórico da área. A estratificação é de dois estratos arbóreos, o
primeiro dominante arbóreo e o segundo um arbustivo, a maior diversidade está no estrato
superior.
Espécies que crescem em ambientes secos desenvolvem um sistema radicial mais
superficial para pode captar a umidade. Todas as espécies que crescem nestes ambientes
(restinga, dunas) estão adaptados a essas condições, ou porque tolerarem pouca água ou por
terem um sistema radicial mais profundo. Em locais de restinga com vegetação de porte maior
ocorre um predomínio de Ilex theezans (Aquifoliaceae) e Tapirira guianensis
(Anacardiaceae).
VELOSO & KLEIN (1961), estudaram as associações vegetais ocorrentes na planície
litorânea em Guaratuba/PR, região próxima a Ilha do Cardoso. Esses autores, embora não
citem uma zona de transição restinga-mata, deixam clara sua existência ao se referirem a uma
vegetação arbórea formada por elementos da vegetação pioneira (restinga) e da vegetação
climax regional (mata), além de relacionarem esse tipo de vegetação intermediária com o
desenvolvimento do solo.
11

A transição da restinga para mata é gradativa e caracterizada pelo desaparecimento da


vegetação de cobertura do solo, ao mesmo tempo que a camada de folhas e húmus se torna
mais espessa; além disso, na zona de transição modificam-se completamente os caracteres da
vegetação, com a regressão ou completo desaparecimento dos xerofíticos. Nas partes da faixa
de transição mais próxima da restinga, predominam as espécies da vegetação de restinga, com
pequena proporção de elementos da mata; à medida em que se encaminha em direção à mata,
os elementos predominantes vão sendo substituídos por aqueles típicos da mata de planície
(MELO et al. 1991).
O mesmo autor ressalta que na restinga, as florestas periodicamente ocorrem sobre
solo inundado, alcançando 10 a 15 metros de altura com predominância de Calophyllum
brasiliensis. (Guttiferae); em sua região de transição com a floresta de planície, podem
apresentar árvores emergentes até 20 m de altura. Ainda na restinga, as florestas
permanentemente inundadas também ocorrem em pontos isolados e delimitados nas margens
de lagoas sendo reconhecíveis pela predominância de Tabebuia cassinoides (Bignoniaceae).
Como foi comentado anteriormente na restinga ocorre uma transição de uma fase
Vegetação Pioneira de Influência Marinha para a Floresta Ombrófila das Terras Baixas.
Possuindo de 20 a 30 espécies arbóreas, a formação da serapilheira, onde o solo com camada
L (com folhas e galhos não decompostos), camada F (um pouco mais decomposta) e H (já em
contato com o solo mineral). A contribuição da matéria orgânica nestes ambientes fica em
torno de 4 a 5 Ton/ha, no entanto em floresta a contribuição da serapilheira pode ser de 7 a
8,5 Ton/ha. A deposição de serapilheira é bem maior no verão com maior predomínio de
folhas (50-60%); a área basal fica em torno de 20-25 m2/ha, tendo 2500 a 3000 indivíduos/ha.
Em locais de restinga a interceptação de chuva é de 25% no máximo quando a mesma possui
porte baixo, contudo em estágio de floresta é de 30%.
A planície litorânea no Estado do Paraná, foi formada, de acordo com SUGUIO &
TESSLER (1984) por depósitos marinhos ocorridos durante o período Quartenário,
resultantes da ação conjunta de vários fatores, entre eles: fontes de areia, correntes de deriva
litorânea, variações do nível relativo do mar e armadilhas para retenção dos sedimentos. Na
superfície da areia depositada pelo mar ficaram marcados os alinhamentos das antigas cristas
praias, chamados de cordões litorâneos, formando os terraços marinhos de origem
pleistocênica e holocênica (WISNIEWSKI et al. 1997).
Os solos do litoral são facilmente identificados, pois nas duas superfícies, desenvolve-
se basicamente, de acordo com RACHWAL & CURCIO (1994) três classes de solo: Areia
Quartzosa, Podzol hidromórfico e não hidromórfico e os Solos Orgânicos.
A Areia Quartzosa e o Podzol são minerais, podendo serem distinguidos ainda em
hidromórfico e não hidromórfico. O Solo Orgânico no litoral e sempre hidromórfico. Com
relação a Areia Quartzosa e Podzol, a condição de hidromórfia ou não vai determinar
condições bem diferenciadas de vegetação. Quando há presença de água, pode ela estar no
solo em um determinado momento, evidenciando um acúmulo de água em função de uma
grande chuva. A interpretação de um solo hidromórfico e realizada na parte superior deste,
caso ela estiver tingida de preto, bastante matéria orgânica, isto evidência a presença de água
por um tempo suficiente que imprimiu esta modificação, com base nesta condição posso
inferir se é ou não hidromórfico.
A disposição dos solos hidromórficos e não hidromórficos é condicionada não só pela
superfícies intra (mais rebaixadas) e inter-cordões (mais altas), como também pela altura do
lençol freático, que é bastante variável, sendo influenciada não só pela superfície dos cordões,
como também pela profundidade e consistência do horizonte B espódico (Bh ou Bir). Um
horizonte B espódico mais próximo da superfície e mais consistente vai determinar mais
acúmulo de água, pois a condutividade hidráulica neste horizonte diminui consideravelmente
em função da coesão. Este passa a ser um fator ecológico muito importante neste ambiente, já
12

que os solos se desenvolvem sobre areia (textura areia ou no máximo areia franca), não tendo
capacidade de retenção de água (Rocha, 1987; Iapar, 1994; Prata, 1995 apud WISNIEWSKI
et al. 1997).
As Areias Quartzosas são constituídas na proporção de 85% ou mais por partículas
arenosas (sílica), pobres em nutrientes, baixa capacidade para retenção de água, sendo que tais
características são exclusivamente dependentes da matéria orgânica presente (RACHWAL &
CURCIO, 1994). Os mesmos autores afirmam que em função da ausência de estrutura e
coesão entre partículas, predispõem o ambiente, quando mal utilizadas a depauperação
intensa, por serem extremamente suscetíveis a erosão hídrica, eólica e ainda por lixiviação.
Ocorre que muitas espécies que não são de solos arenosos, ocorrem em solos arenosos
em função de terem vindo do continente através do interior de baías e rios, pode se
exemplificar com a Dalbergia ecastophyllum (Fabaceae), a qual ocorre como formação
pioneira tanto em ambientes de Influência Marinha, Fluviomarinha e Fluvial na Floresta
Ombrófila Densa na fase inicial da secessão secundária, sendo uma das principais pioneiras
nas chamadas dunas frontais, quando estas dunas ainda são móveis, ela inicia o processo de
fixação destas dunas.
No caso especifico da vegetação de restinga herbácea (Pontal do Paraná), é uma Areia
Quartzosa não hidromórfica, apresentando uma tonalidade alaranjada/amarelada,
característica esta das Areias Quartzosas. O que dá a tonalidade amarela e o horizonte de
eluviação de partículas. A Areia Quartzosa não possui o horizonte B, possui um A, sendo o
restante considerado C, a água entra e some com facilidade, exceto em condições geomórficas
em que o lençol freatíco é muito alto e grande esta condição de hidromórfia. As Areias
Quartzosas, não existem somente nas praias, existem manchas interiorizadas em função do
mar já ter estado na planície, podendo existir florestas em cima destes solos, com horizontes
de até 1 m amarelado, quase que totalmente estéril, o que permitiu o desenvolvimento de
floresta e o acúmulo de matéria orgânica ao longo dos anos. Em realizarmos uma tradagem, e
após um horizonte superior o solo for branco, ele é um podzol.
Segundo a EMBRAPA (1984), o Podzol é um solo mineral com horizonte diagnóstico
do tipo B Podzol ou B espódico, são arenosos, com seqüência de horizontes A1, A2, Bh ou Bir
ou ainda Bhir e C bem diferenciados, saturação em bases muita baixa e saturação com
alumínio trocável muito alta. O horizonte A2 tem coloração mais clara, textura mais arenosa e
espessura bastante variável. O horizonte B espódico apresenta concentração e precipitação de
compostos de matéria orgânica, alumínio e ferro. Os compostos orgânicos e sesquióxidos de
Fe e Al atuam como agentes cimentantes, determinando consistência, graus de dureza e
colorações variáveis a este horizonte. As cores podem variar desde a preta (no Bh), pois
predominam os compostos orgânicos, até a cor vermelha muita escura ou amarela (no Bir),
com a predominância dos óxidos de Fe.
Cabe aqui ressaltar que a permeabilidade é rápida no horizonte A, pode até ser
impedida no horizonte B espódico, dependendo do seu grau de cimentação, tendo assim,
influência muito grande no regime hídrico destes solos.
RACHWAL & CURCIO (1994), os Podzóis do estado do Paraná possuem a textura
essencialmente arenosa, diferindo das Areias Quartzosas por apresentarem um horizonte de
perda (E = aluvial), abaixo do horizonte A e um horizonte de acumulação (iluviação) de
matéria orgânica e/ou sesquióxidos de ferro e de alumínio (Bh ou Bir). Em função do processo
de lixiviação os Podzóis são solos mais pobres em nutrientes que as Areias Quartzosas,
apresentando maiores limitações. Quando o horizonte Bh ou Bir, apresentam-se cimentado,
concomitantemente ocorrendo em locais abaciados o Podzol pode tornar-se hidromórfico.
Ocorre no litoral, inclusive nas ilhas, estando sua instabilidade na íntima dependência da
manutenção da cobertura vegetal original.
13

Os mesmos autores relatam que os Solos Orgânicos, são constituídos por resíduos
orgânicos em vários estágios de decomposição depositados sob condições anaeróbicas em
locais abaciados. Possuem horizontes hísticos, com teores de carbono maior ou igual a 8% e
espessura mínima de 40 cm, apresentam densidade muito baixa (entre 0,1 a 0,3 g/cm 3),
possuem em função desta baixa densidade trafegabilidade reduzida. Os solos que possuem
uma camada de matéria orgânica menor que 40 cm, no litoral são chamados epihísticos.

4.1.3. Formação Pioneira de Influência Fluvial

As Formações Pioneiras de Influência Fluvial, ou chamadas comunidades aluviais,


segundo IBGE (1992), tratam de comunidades vegetais das planícies aluviais, as quais
refletem os efeitos das cheias dos rios nas épocas chuvosas ou, então, das depressões
alagáveis todos os anos. Nas planícies alagáveis mais bem drenadas ocorrem comunidades
campestres, e os gêneros Panicum e Paspalum dominam em meio caméfito do gênero Thalia.
Nos terraços mais enxutos dominam nanofanerófitos dos gêneros Acacia e Mimosa,
juntamente com várias famílias pioneiras, tais como: Solanaceae, Compositae, Myrtaceae e
outras de menor importância sociológica.
As plantas que compõem a vegetação destes ambientes, estão sujeitas a variações do
nível da água dos rios. Estas comunidades desenvolvem-se a partir de populações de algas que
invadem lagos, orlas de rios, e mais especialmente pequenas lagoas, algumas espécies fixam-
se no fundo de lagoas, rios, etc ..., vivendo sob espelho de água, permitindo que apenas suas
flores cheguem à superfície. Com o passar do tempo, estabelecem-se espécies flutuantes,
como a Salvinia auriculata, Azolla filiculoides, Eichornia crassipes (aguapé).
Após o estabelecimento da comunidade aquática, formam-se em banhados e margens
de lagoas, a ocorrência das várzeas (Figura 7), contribuindo para a formação de substratos
orgânicos.

FIGURA 7: Ocorrência de várzea com a Typha domingensis (taboa).

Conforme RODERJAN et al. (1997), relata que se situam-se entre os cordões de


dunas, que por vezes formam lagoas, e sobre superfícies aplainadas em geral sujeitas a
inundações ou encharcamento. Nesses locais, enquanto predominam estruturas herbáceas ou
gramíneo-lenhosas, destacando-se espécies seletivas higrófilas como Typha domingensis
(taboa), Fuirena umbellata (piri) e Cladium jamaicensis (tiririca), dentre muitas outras,
ocupando imensas áreas, envolvendo por vezes indivíduos esparsos ou agrupamentos puros de
Tabebuia cassinoides (caxeta), conforme podemos visualizar na Figura 8.
14

FIGURA 8: Grupamentos puros de Tabebuia cassinoides (caxeta).

O lírio-do-brejo (Hedichium coronarium - Zingiberaceae), espécie exótica que foi


introduzida neste ambiente, tornou-se uma planta invasora. Ela tem a mesma função da taboa
em determinadas situações, ou seja, indicar a presença de ambientes hidromórficos, mas é
mais plástica que a taboa, pois ocorre também em locais não hidromórficos.
A ocorrência da Mimosa bimucronata (marica) e Thypha sp. (taboa), ocorrem em
condições pedológicas diferentes, o marica ocorre em condições preferencialmente não
hidromórficas, já a taboa ocorre em condições hidromórficas, ele se faz presente apenas em
solos gleisados, que se caracterizam como solos minerais que apresentam coloração
acinzentada provocada pela redução do ferro, devido a presença de muita água e pouco
oxigênio.
A Cytharexylum miriantum (jacataúva), espécie indicadora de Solo Aluvial, embora
não ocorrendo exclusivamente neste tipo de solo, muitas vezes monopoliza certas situações.
As comunidades arbóreas ocorrem preferencialmente em Solos Orgânicos ou Podzóis,
sendo estes ambientes submetidos a períodos de inundação relativamente prolongados,
inicialmente colonizados por espécies herbáceas, sendo estas gradativamente substituídas
pelas arbóreas. Caso deixarmos intacto os caxetais, outras espécies se instalam, em
conseqüência da caxeta criar ambiente para outras espécies, as quais vão colonizando e na
seqüência substituindo a caxeta ao longo do tempo.
Os caxetais adultos chegam a ter diâmetro entre 60 e 80 cm e altura de 5 metros, é uma
das melhores espécies para fabricação de lápis, em função dessa propriedade foi muito
explorada já no início do século (1930), em função da exploração do cedro americano ter sido
proibida, o qual era utilizado para esta finalidade, aos poucos teve problemas relacionados a
conservação. Na época da guerra, descobriu-se a caxeta, sendo muito explorada até 1980, com
a quase destruição deste ecossistema aos poucos faltou a matéria prima, em sua substituição
implantou-se o Pinus sp e a Guimilinea arborea, atualmente os ecossistemas de caxeta estão
sendo transformados em pastagem, apresentando como um dos maiores problemas a
drenagem.
A caxeta (Tabebuia cassinoides), pertence a família das Bignoniaceae, cujo domínio é
em solos orgânicos, mas pode ser encontrada em solos do tipo “gley”, sendo que neste último
caso se trata de uma situação de transição. É uma espécie endêmica do litoral brasileiro,
apresenta raízes respiratórias, caracterizando desta forma ambiente anaeróbio e alagado.
Apresenta elevada propagação vegetativa, seus galhos que se curvam em direção ao solo na
época das cheias e emitem raízes, sofrem uma abscisão natural. A quantidade de frutos é
pequena, no entanto, é grande a quantidade de sementes em uma mesma cápsula. Na época
das cheias pode-se observar muitas plântulas boiando, que vão sendo transportadas do
ecossistema, um caxetal é uma hidrossere muito dinâmica. Ocorre em associação com o ingá,
15

o gerivá, o palmito, o guanandi, entre outros. Nos caxetais pode-se observar uma grande
presença de epífitas (Figura 9).

FIGURA 9: Presença de epífitas nos caxetais.

Em estudo realizado por GALVÃO et al. (1999), o qual teve como objetivo
apresentar informações florística e fitossociológicas de caxetais foram encontradas mais de
100 espécies arbóreas, vinculadas a 35 famílias botânicas, onde, além de família
Bignoniaceae, Fabaceae e Myrtaceae ocorreram em todos os locais com caxetais. Entretanto,
com ocorrência um pouco menor, mas com grande importância nestes ambientes são
encontradas as famílias, Moraceae, Areaceae, Aquifoliaceae, Melastomataceae, Clusiaceae e
Euphorbiaceae.
Segundo RODERJAN et al. (1997), nos levantamentos realizados na APA de
Guaratuba, foram registrados 52 espécies arbóreas de 26 famílias botânicas, destacando-se as
seguintes famílias: Myrtaceae (26% do total) e Myrsinaceae (5%). Os autores ressaltam, que
apesar de mais baixas do que as formações florestais de planície, as alturas máximas dessa
unidade situam-se entre 8 e 12 metros, com eventuais emergentes que não ultrapassam 16
metros. O estrato médio está compreendido numa faixa de 5 a 8 metros, e o inferior entre 2 a
5 metros. O levantamento apresentou uma alta densidade (3600 indivíduos/ha), possuindo
uma área basal de 36,81 m2/ha.
A Figura 10, apresenta perfil de trecho de Formação Pioneira de Influência Fluvial,
possuindo o monopólio da Tabebuia cassinoides, apresentando outras espécies como Syagrus
romanzoffiana, Tabebuia umbelliflora, Inga edulis, Illex dumosa, dentre muitas outras
espécies.
16

FIGURA 10: Perfil esquemático de trecho de Formação Pioneira de Influência Fluvial.


(RODERJAN et al. 1997).

O ecossistema com caxetais são ricos em aves, pássaros, formigas, além de possuir
algumas espécies associadas ao seu ecossistema entre elas Syagrus rommanzoffiana (jerivá),
Inga marginata (ingá-feijão), Inga sessilis (ingá-macaco), Marlierea tomentosa (guapurunga),
Cytharexylum myrianthum (jacataúva).
A instalação dos ecossistemas com caxetais inicia com Typha domingensis ou com
Fuirena umbellata, espécies de vegetação herbácea colonizadora de áreas de grande
instabilidade física. Com esta cobertura inicial estabilizada, o ambiente vai sendo preparado
para dar o início a instalação de uma vegetação um pouco mais exigente, no caso a Tabebuia
cassinoides. À medida que esta se configura um estrato contínuo e homogêneo, produzindo
sombreamento para vegetação herbácea original, e simultaneamente modifica as condições do
meio físico, o ambiente torna-se desfavorável para as espécies pioneiras, essencialmente
heliófilas, que gradualmente saem da formação. O crescimento de novos indivíduos muda
lentamente e gradativamente a fisionomia inicial de homogeneidade absoluta dos caxetais,
ocorrendo também mudanças estruturais que serão tanto mais significativas quanto maior o
número de estratos e altura do dossel.
A Tabebuia cassinoides (caxeta), predomina em Solo Orgânico, em Solo Podzol já é
uma condição transicional. Ela ocorre ocasionalmente em podzol e areia quartsoza
hidromórficos. A grande mudança, segundo (GALVÃO et al. 1999) ocorre quando o
guanandi (Calophyllum brasiliensis) ultrapassa Tabebuia cassinoides em altura, formando
junto com outras espécies de grande porte como Ficus spp., Pseudobombax grandiflorum,
Tapirira guinensis e Syagrus rommanzoffiana, o estrato superior, e portanto Tabebuia.
cassinoides passa então a ocupar um segundo plano no estrato médio.
Quando a caxeta começa a não predominar no dossel, ocorre o aparecimento, bem
como o destaque na fisionomia e estrutural de outras espécies como Ficus sp, Tapirira
guianensis e em especial a Calophyllum brasiliensis (guanandi), conforme vizualizamos na
Figura 11.

FIGURA 11: O Calophyllum brasiliensis (guanandi), destacando-se nos caxetais.

O guanandi, possui uma ampla distribuição, ocorre nas florestas aluviais, ocupando o
dossel da floresta. É comum o guanandi invadir o caxetal e superar a caxeta, por causa de suas
características. Chega a atingir mais de 20 metros de altura ocupando o primeiro estrato da
floresta, a caxeta forma o segundo estrato, mas encontra-se em declínio (saindo do sistema),
17

devido a falta de luz, pois o guanandi ocupa o seu espaço, a guapurunga ocupa o terceiro
estrato.
Segundo GALVÃO et al. (1999), a grande mudança ocorre quando o Calophyllum
brasiliensis (guanandi), ultrapassa a Tabebuia cassinoides (caxeta) em altura e vai formar,
juntamente com outras espécies de maior porte como Ficus spp., Pseudobombax
grandiflorum, Tapirira guianensis e Syagrus rommanzoffiana, o estrato superior, então a
caxeta passa a ocupar o segundo plano no estrato médio. A dispersão do guanandi (sementes)
é pela realizada pela água (hidrocoria), dessa forma que ele entra nos caxetais.
No Solo Orgânico, o sistema radicial predomina na superfície, somente na parte
orgânica. Este solo funciona como uma esponja, drena a água, deve-se ter muito cuidado neste
tipo de solo antes de se instalar drenos, pois há o perigo de drenar toda a água.
Para RACHWAL & CURCIO (1994), a composição orgânica os predispõem
sobremaneira a subsidência (rebaixamento superficial) quando drenados, em função da
contração de volume por remoção de água, ao que se segue uma intensa mineralização. A
drenagem pode causar ainda problemas de solapamento de drenos, ressecamento irreversível
da massa do solo, erosão eólica (devido a leveza das partículas) e até mesmo a combustão em
alguns casos.
Os mesmos autores ressaltam, que é indispensável que se mantenha a função ecológica
destes solos, permitindo que pelo menos uma faixa dos mesmos situados próximo às margens
dos rios, seja sempre mantida intacta, em função dos mesmos funcionarem como reguladores
da vazão dos rios. Pelo exposto, devem ser reservados para preservação permanente, sendo
que em alguns casos devem ser utilizados com o manejo racional de caxetas.
A origem do Solo Orgânico pode ocorrer entre cordões onde há acúmulo de água,
condição geomórfica depressiva. A irregularidade nestes locais é preenchida pela água. Há
uma camada superficial superior a 50 cm com acúmulo de água e matéria orgânica. Nos
pontos mais elevados forma o “gley” porque tem água contaminando, e nos pontos mais
baixos forma orgânico devido ao acúmulo de matéria orgânica.
O solo mineral pode ser hidromórfico ou não. Quando há o predomínio da argila, o
solo hidromórfico fica acinzentado dentro dos 50 cm superficíais, chamado então de solo do
tipo “gley”, esta característica é determinada pela redução do ferro, pois quanto mais ar
(oxigênio) tiver, mais avermelhado o solo, devido a oxidação, e quanto menos ar (oxigênio),
mais próximo do cinza azulado ele será, provocado pela redução do ferro (passa de Fe3 para
Fe2).
RACHWAL & CURCIO (1994), ressaltam que o Solo Glei podem ser de textura
argilosa ou média, com fertilidade variável, encontrando-se tanto sob matas ciliares como
locais mais interiorizados no plaino aluvial. Esta classe engloba, os Gleis Húmicos, Gleis
Pouco Húmicos e Gleis Turfosos. O Glei Húmico, difere do Pouco Húmico, basicamente por
possuir horizonte A mais espesso, mais escuro e com maiores teores de carbono que o
segundo. O Glei Turfoso por sua vez, apresenta horizonte superficial hístico com espessura
inferior a requerida para ser enquadrado em Solo Orgânico. Os autores afirmam, quando
explorados criteriosamente mostram bom potencial produtivo, principalmente para culturas
irrigadas. Porém, os que se situam em matas ciliares, muitas vezes associados aos Solos
Aluviais, devem ser mantidos para preservação permanente.

5. Floresta Ombrófila Densa


(Floresta Pluvial Tropical)

Conforme o IBGE (1992), a denominação de Floresta Ombrófila Densa, foi criado por
Ellemberg & Mueller-Dombois (1956/6), em substituição a palavra Pluvial (origem latina),
Ombrófila (origem grega), ambas possuem o mesmo significado ¨amigo das chuvas¨. Aceitou-
18

se a designação de Ellemberg & Mueller-Dombois, porque apresenta as duas fisionomias


ecológicas, tanto na Amazônia como nas áreas costeiras, justificando-se assim a terminologia.
A vegetação característica, é formada por fanerófitos, pelas sub formas de vida macro
e mesofanerófitos, além de lianas lenhosas e epífitas em abundância diferenciando das outras
classes de formação. Sua característica ecológica principal reside nos ambientes ombrófilos,
marcando muito bem a ¨região florística florestal¨, estando ligada aos fatores climáticos
tropicais de elevadas temperaturas, e de alta precipitação bem distribuída durante os meses do
ano.
O IBGE (1992), dividiu em cinco formações ordenadas da vegetação, segundo uma
hierarquia topográfica, refletindo fisionomias diferentes, em função das variações ecotípicas
resultantes de ambientes distintos. Salienta-se que a temperatura (gradiente vertical), varia
1oC para cada 100 metros de altitude, sendo que este gradiente e bem maior nas latitudes
maiores. Com as observações do projeto RADAMBRASIL, e estudos de fitogeografia
mundial de Humboldt em 1806, permitiram estabelecer faixas altimétricas de acordo com os
seguintes parâmetros:
Formação Aluvial – não varia topograficamente, apresenta sempre ambientes
repetitivos nos terraços aluviais dos flúvios.
Formação Terras Baixas – corresponde a altitude de 5 a 100 metros, quando encontra-
se entre a 4o Lat. N e 16o Lat. S; de 5 a 50 metros, entre 16o Lat. S e 24o Lat. S; e de 5 a 30
metros entre 24o Lat. S e 32o Lat. S.
Formação Submontana - situada a partir de 100 até 600 metros entre 4o Lat. N e 16o
Lat. S.; de 50 até 500 metros, entre 16o Lat. S. e 24o Lat. S.; e de 30 até 400 metros, entre 24o
Lat. S. e 32o Lat. S.
Formação Montana – no alto dos planaltos e serras, de 600 até 2000 metros 4o Lat. N.
e 16 Lat. S.; de 500 até 1500 metros, entre 16oLat. S. e 24o Lat. S.; e de 400 até 1000 metros,
o

entre 24o Lat. S. e 32o Lat. S.


Formação Alto-Montana – nos limites acima da forma Montana.
Salienta-se que existe uma grande variação ecotípica de acordo com a latitude, que
pode ser estabelecida em escalas regionais, e explorada para fins cartográficos, necessitando
de estudos e adaptações de acordo com a escala de mapeamento.
A flora arbórea dos diferentes estratos da Floresta Ombrófila Densa é de variedade
incomparável no Sul do Brasil. LEITE & KLEIN, (1990), relatam, com base na relação
florística organizada por Klein, e dos trabalhos desenvolvidos por LEITE E SOHN durante 38
anos de atuação na região Sul, a Floresta Ombrófila Densa, possui em torno de 708 espécies,
destas 50 % não exclusivas, demonstrando adaptações ecológicas restritas aos ambientes desta
região.
Nos ambiente de Floresta Ombrófila Densa, quando relacionamos com tipo de solo, há
o predomínio de Latossolos com características distróficas e raramente eutróficas, e também
dos Podzólicos, ambos os solos com uma baixa fertilidade natural. (IBGE, 1992)

5.1. Floresta Ombrófila Densa Aluvial

A Floresta Aluvial, ou ¨floresta ciliar¨ IBGE (1992), ocorre ao longo dos cursos de
água, ocupando os terraços antigos das planícies quaternárias. A formação é constituída por
macro, meso e microfanerófitos de rápido crescimento, em geral possuem a casca lisa, tronco
cônico, por vezes com a forma característica de botija, possuem as raízes tabulares. Apresenta
com freqüência um dossel emergente, muitas palmeiras no estrato intermediário, no sub
bosque encontra-se nanofanerófitos e caméfitos.
Apresenta muitas lianas lenhosas e herbáceas, além de grande número de epífitas e
poucas plantas parasitas. Os gêneros Palmae, Mauritia e Euterpe, ocorrem com seus ecótipos
19

bem marcados pelas latitudes diferentes, por exemplo o Euterpe edulis com dispersão desde
Pernambuco até o Rio Grande do Sul, penetrando no Brasil Central indo até os vales dos rios
Paraná e Iguaçu. A ¨ochlospécie¨ Calophyllum brasiliense, ocorre em todas as bacias
brasileiras e sempre ocupando as planícies inundadas com freqüência, tendo seu limite austral
na costa Centro-sul do estado de Santa Catarina.
Aluviais são as florestas que acompanham os cursos d’água, normalmente os solos às
margens dos rios são enquadrados como Solos Aluviais, com acumulação de sedimentos
trazidos pelas águas dos rios. Não é solo gleizado, nem tipo “gley”. Uma indicativo desta
afirmação é a existência de Schizolobium parahyba (guapuruvú), que se torna muito freqüente
nesta região.
A Bathysa meridionalis (queima-casa) ocorre no sub-bosque, a Psicotrya nuda que
ocorre no 3º estrato, são indicadoras neste local. O Schyzolobium parahyba (guapuruvú) é
muito característico das encostas e indicador de floresta secundária, crescendo bem em solos
não hidromórficos. O Euterpe edulis (palmito) ocorre da restinga até a Floresta Ombrófila
Densa Montana. É comum a presença de melastomatáceas pioneiras, de vida curta e de
madeiras moles, características estas, que compõem a fase inicial da floresta, assim como a
amplitude diamétrica pequena. Se fazem também presentes nesta região espécies como:
Podocarpus sellowii (pinheiro-bravo), Cabralea canjerana (canjerana), Guarea sp.,
Marlierea tomentosa (guapurunga).
Salienta-se que não é encontrada apenas na beira dos rios, ocorrendo nos campos, nas
várzeas e no planalto. E a floresta de galeria é quando o rio forma uma galeria, que pode se
passar na floresta próximo ao rio. Uma espécie muito característica e indicadora de Solo
Aluvial e o Cytharexylum myruanthum (jacataúva).
Conforme RACHWAL & CURCIO (1994), os Solos Aluviais são derivados de
sedimentos aluviais, sendo constituídos por um horizonte superficial A, sobrejacente a
camadas de composição física e química distintas, transportadas pelo rio e que não guardam
entre si nenhuma relação pedogenética, comumente apresentam alta fertilidade natural e
texturas variáveis. Podem ser hidromórficos ou não, muito utilizados para agricultura de
subsidência, com devastação da mata ciliar, conseqüentemente ocorrendo erosão hídrica e
eólica, desbarrancamento das margens e diversos tipos de contaminação, embora ocupem
áreas de proteção legal.
Os mesmos autores comentam, que como os solos de manguezais e os Solos
Orgânicos, quando ocorrerem nos diques marginais dos rios, jamais devem ser destituídos de
sua cobertura vegetal original, em função de desempenharem papel relevante na proteção e
conservação da qualidade da água.
A classificação de Solos Aluviais, não é muito fácil a medida que se aproxima da
planície litorânea, em função do tamanho das partículas serem menores e facilmente
confundidas com outra unidade pedológica.
Em um Solo Aluvial, caracterizam-se épocas diferentes de excesso de água, o aluvial
são deposições provocadas pelo rio, com camadas de diferentes cores e texturas, como pode
ser visualizado na Figura 12, cada uma destas possui uma história diferente, estando
relacionada ao movimento dos rios, pois os leitos são dinâmicos, isto é um Solo Aluvial
depende do material que vem de montante carreado pela água. O rio é dinâmico,
principalmente quando ele é mendrante, muito sinuoso em determinadas situações rompe,
quando existe processos de degradação, as pedras que estão nos rios possuem a função de
diminuir a velocidade das águas, aumentando o atrito com elas, ao serem retiradas aumenta a
vazão, e aumentando a vazão ele vai se romper mais facilmente.
Num rio sempre possui uma superfície onde ele tem uma velocidade maior,
provocando impacto nos barrancos ele vai erodindo, quanto mais veloz um rio maior é o
tamanho das partículas que ele pode transportar, com pouca energia ele traz material mais
20

fino, quando possuir maior energia ele carrega areia mais grossa, estando este transporte de
sedimentos relacionado a energia do rio. Por isso as deposições são diferenciadas, vai
depender da força do momento em que foi depositado, e do regime de pluviosidade também.
À medida que se distancia do rio, mais selecionado vai sendo o material.
Próximo do rio também não ocorre hidromorfia, porque a água drena facilmente. A
hidromorfia se dá mais interiorizada porque não tem por onde drenar a água.

FIGURA 12: Perfil de um Solo Aluvial.

5.2. Floresta Ombrófila Densa das Terra Baixas

Este tipo de floresta também é chamada de Floresta Atlântica de Planície ou da


Planície Litorânea e está situada em altitudes com 5 a 50 metros nível médio do mar.
(RODERJAN et al., 1996)
Geralmente ocupa as planícies costeiras, capeadas por tabuleiros pliopleistocênicos do
Grupo das Barreiras, nesses tabuleiros apresentam florística típica caracterizada por ecótipos
do gênero Fícus, Alchornea, Tabebuia e pela ¨ochlospécie¨ Tapirira guianensis. Esta
formação ocorre nos terrenos quaternários, em geral situados pouco acima do nível do mar
nas planícies, formadas pelo assoreamento, devido à erosão existente nas serras costeiras e nas
enseadas marítimas, dominam esta formação geralmente duas espécies Calophyllum
brasiliense a partir do estado de São Paulo para o sul até a costa centro-sul de Santa Catarina
e o Ficus organensis, terminando a ocorrência às margens da lagoa dos Patos, no Rio Grande
do Sul. (IBGE, 1992)
Para LEITE (1994), a Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas, desenvolve-se
sobre a maior parte da planície de acumulação, em áreas pouco mais enxutas e elevadas com
até 30 metros de altitude, originadas em conseqüência da ação de agentes morfodinâmicos
diversos e da interação terra-mar.
A floresta propriamente dita, conforme RODERJAN et al. (1997), desenvolve-se a
partir de áreas com vegetação pioneira como os caxetais ou restingas, os quais perderam a
fisionomia típica em função do desenvolvimento sucessional. Possui um porte médio entre 15
e 20 metros de altura, estrutura e fisionomia uniformes, quase sempre com o mesmo padrão
florístico e estrutural, sendo que as variações são em função da variação do nível do lençol
freático. Possui grande número de espécies de crescimento rápido, com madeira de baixa
densidade, o sub bosque geralmente e pouco denso, com exceção dos locais onde as herbáceas
são abundantes, estabelecendo diferenciação de densidade entre os estratos da formação.
21

O mesmo autor acima citado, relata que os estágios superiores são geralmente
constituídos pela Tapirira guianensis (cupiúva), Nectandra rigida (canela-garuva), Ficus
luschnatiana e Coussapoa microcarpa (figueiras), Ocotea aciphylla (canela-amarela), Myrcia
glabra (guamirim-ferro), dentre muitas outras. Já nos estratos médios e inferiores são mais
freqüentes a ocorrência do Euterpe edulis (palmito), Guarea macrophylla (catiguá-morcego),
Pera glabrata (tabocuva), Guatteria dusenii (cortiça) e a Psychotria nuda (grandiúva-d’anta).
As áreas que estão por um período alagadas apresentam o predomínio de Calophyllum
brasiliense (guanandi), Alchornea triplinervia (tápia), Manikara subsericea (maçaranduba) e
Andira anthelmithica (jacarandá-lombriga).
Nos levantamentos realizados por RODERJAN et al. (1997), na APA de Guaratuba,
conforme pode ser visto na Figura 13, o dossel desta formação está entre 20 e 24 metros,
onde destacam–se as famílias Clasiaceae, Anarcadiaceae, Lauraceae, Bombacaceae,
Myrtaceaea, Moraceae e Sapindaceae. No estrato intermediário as famílias Bignoniaceae
Arecaceae, Fabaceae, Euphorbiaceae e Araliaceae, com uma altura entre 14 e 20 metros. Já no
estrato arbóreo inferior, com as plantas tendo uma altura inferior a 14 metros, houve o
predomínio das Rubiaceae, Arecaceae, Myrtaceae, Celastraceae, Malghiaceae, Sapindaceae,
Sapotaceae, Thymelaeaceae e pteridófitas arborescentes.

FIGURA 13: Perfil esquemático de um trecho de Floresta Ombrófila Densa das Terras
Baixas. (RODERJAN et al. 1996)

O autor relata a ocorrência dos arbustos e das ervas, de espécies pertencentes a família
Bromeliaceae, sendo comum também Marantaceae (caetés), Rubiaceae, Acanthaceae,
Piperaceae e Zingiberaceae, bem como briófitas e pteridófitas. Ressalta que as herbáceas e
epífitas, embora pertençam às mesmas famílias botânicas da formação submontana, são
encontradas em maior densidade.
Foi encontrado na área de estudo, em termos de valores médios 2315 indivíduos/ha,
correspondendo a uma área basal de 47 m2/ha, onde a espécie dominante foi o guanandi
(Calophyllum brasiliense), que apresentou 9,95 m2/ha de área basal, perfazendo 21% do total.
No Parque Estadual do Palmito, localizado no estado do Paraná, encontra-se a
presença de Bactris lindmaniana (tucum) espécie da qual e retirado as fibras das folhas,
22

Euterpe edulis (palmito) de tronco mais fino e folhas delicadas, Syagrus romanzoffiana
(gerivá) de porte maior e folhas pendentes e Attalea dubia (indaiá) de folhas disposta de uma
forma que parece um espanador. O solo é do tipo Podzol hidromórfico epi-hístico, pode ser
considerado como um solo mineral de origem marinha, aparecendo o Callophylum brasiliense
(guanandi), Hyeronima alchorneoides (licurana).
ZILLER (1997), ao estudar a composição florística e estrutura fitossociológica do
estrato arbóreo na Floresta Estadual do Palmito, nos três estágios sucessionais, observou que
o estágio inicial, é uma área de restinga baixa, esparsa e pouco diversificada, com as árvores
espaçadas entre si formando touceiras oriundas de rebrotes, os troncos apresentam diâmetros
em média de 5 cm e atingem altura de 5 m. Apresenta uma fisionomia homogênea com a
predominância de uma espécie, poucas epífitas, e raramente bromélias, com relação a camada
orgânica do solo mineral é incipiente, havendo muitos pontos onde a areia fica exposta.
O estágio intermediário possui uma floresta bem desenvolvida, com dois estratos
arbóreos distintos e um terceiro começando a diferenciar-se, as árvores mais altas atingindo
12,5 metros de altura no primeiro estrato, enquanto que no segundo estrato a altura fica em
torno de 8 metros. Possui no sub-bosque muitas bromélias, o solo está coberto por uma
camada orgânica que chega a 20 cm de espessura recobrindo-o completamente. Nesta fase a
diversidade é maior, nos levantamentos realizados foram encontradas 23 espécies em 15
famílias e não ocorre a predominância desproporcional de uma única espécie, como no
estágio inicial. Quando possui três estratos distintos, sub bosque rico em bromélias, aráceas,
polipodiáceas, lianas, trepadeiras e outras plantas, que se distribuem tanto pelo solo como por
sobre as árvores.
No estágio avançado, a floresta é menos aberta do que no estágio intermediário em
função do sub bosque mais denso, apresenta regeneração das arbóreas, destacando-se o
Callophylum brasiliense (guanandi) que é uma referência da ocorrência de solos orgânicos,
com altura entre 3 e 5 metros, troncos finos e muito retilíneos. Possui uma camada orgânica
que recobre o solo mineral, muito densa, atingindo em alguns pontos até 30 cm de espessura e
tornando-se muito fofo é úmido. A diversidade é muito superior a dos estágios anteriores,
havendo registros da ocorrência de 50 espécies arbóreas em 27 famílias.
O solo no Parque Estadual do Palmito é muito pobre (Podzol e Areia Quartzosa), mas
a floresta é exuberante devido à ciclagem, esse é um ecossistema mais fechado, onde as
perdas e ganhos são mais controlados. As raízes não tiram a água do solo, elas tiram a
solução do solo, o sistema radicial está pronto para retirar os nutrientes do material
decomposto proveniente da serapilheira, por isso se concentram-se na superfície, evitando a
perda por lixiviação.
Conforme GALVÃO et al. (1999), o ponto a partir do qual a caxeta começa a deixar
de predominar no dossel, destacando-se fisionômica e estruturalmente outras espécies, marca
o final da etapa sucessional das Formações Pioneiras e o início da Floresta Ombrófila Densa
das Terras Baixas. O conceito de floresta implica necessariamente a ocupação de uma área
por indivíduos arbóreos de várias espécies em diferentes estratos, enquanto que as Formações
Pioneiras, na fase de ocupação arbórea, caracteriza-se por apresentar baixa diversidade, ou
seja, predomínio de uma ou de poucas espécies, quase sempre ocupando um único estrato.
A floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas é possível ser monitorada com a
presença das Cecropia sp. (embaúvas), indicativo que o solo não é Orgânico nem Aluvial,
constitui um Podzol ou Areia Quartsoza das terras baixas.
Possuem geralmente as seguintes unidades pedológicas: Orgânico, Podzol e Areia Quartzosa.
Caso o solo ser mais argiloso, já pode-se considerar como Floresta Ombrófila Densa
Submontana, encontra-se esta situação próximas as encostas de serras, podendo ocorrer em
planícies, porém é mais difícil.
23

5.3. Floresta Ombrófila Densa Submontana

É caracterizada por ecótipos que variam influenciados pelo posicionamento dos


ambientes de acordo com a latitude, ocorrendo em relevo montanhoso e planaltos com solos
mediamente profundos, ocupado por uma formação florestal de fanerófitos com alturas
uniformes, (IBGE, 1992). O sub bosque é composto por plântulas da regeneração natural,
com poucos nanofanerófitos e caméfitos, além da presença de palmeiras de pequeno porte e
lianas herbáceas em maior quantidade.
Não ocorre sob material de origem marinha, mas sim em solos continentais. Conforme
RODERJAN et al. (1997), a sua vegetação não está sujeita a limitações pelo excesso ou pela
falta de água no solo, possui uma cobertura florestal multiestratificada, o dossel podendo
atingir uma altura entre 30 e 35 metros, sendo composto originalmente pela Ocotea
catharinensis (canela-preta), Sloanea guianensis (laranjeira-do-mato), Alchornea triplinervia
(tapiá), Schizolobium parahyba (guapuruvu), Nectandra rigida (canela-garuva),
Aspidosperma olivaceum (peroba-vermelha), Virola oleifera (bocuva), dentre muitas outras.
Nos estratos inferiores evidenciam-se a Bathysa meridionalis (macuqueiro), Euterpe edulis
(palmito), Mollinedia spp (pimenteira), Psychotria suterella (grandiúva-d’anta, café-d’anta),
Geonoma gamiova (palha) e Clusia criuva (mangue-do-mato).
No levantamento da Vegetação da Área de Proteção Ambiental de Guaratuba – Apa de
Guaratuba, RODERJAN et al. (1997), encontrou 138 espécies arbóreas, distribuídas em 34
famílias botânicas, sendo as mais representativas a Myrtaceae (26 espécies), Rubiaceae (16
espécies), Lauraceae (9 espécies), Euphorbiaceae (8 espécies) e Moraceae (7 espécies).
O dossel, situa-se entre 20 e 24 metros de altura, destacando-se as famílias Lauraceae,
Euphorbiaceae, Myristicaceae e Chrysobalanaceae. O estrato intermediário com uma altura
entre 12 e 20 metros, sobressaindo as famílias Arecaceae, Clusiaceae, Meliaceae, Mimosaceae
e Proteaceae. No estrato arbóreo inferior, a altura varia entre 4 e 12 metros, com uma maior
concentração de Rubiaceae, Myrtaceae, Nyctaginaceae e Euphorbiaceae. O sub bosque
apresenta regeneração de espécies arbóreas facultativas e ombrófilas, das seguintes famílias:
Caesalpiniaceae, Proteaceae, Elaeocarpaceae, Myristicaceae e Myrtaceae.
Estando também presentes arvoretas e arbustos próprios do ambiente oligofítico, as
Monimiaceae, Arecaceae, Rubiaceae, Myrtaceae e Piperaceaea, lianas da família
Dilleniaceae, Smilacaceae e Bignoniaceae. Nas herbáceas, destacaram-se os caetês
(Moranteceae), caetês-banana (Strelitiziaceae), Bromeliaceae, Acanthaceae, samambaias e
xaxins (Pteridófitas). Sobressaem-se nas epífitas as Bromeliaceae, Araceae, Piperaceae,
Orchidaceae, além de briófitas e pteridófitas.
No trabalho realizado na APA, foi encontrada uma densidade de 1836 indivíduos por
hectare, onde as espécies mais expressivas encontram-se nos estratos inferior e intermediário,
destacando-se conforme podemos verificar na Figura 14, o Euterpe edulis (6,8%), Rheedia
gardneriana (6,0%), Marlierea obscura e Psychotria mapourioides (2,5%), as mesmas,
acrescida da Sloanea guianensis, são as que apresentam regularidade na distribuição espacial.
24

FIGURA 14: Perfil esquemático de um trecho de Floresta Ombrófila Densa Submontana.


(RODERJAN et al. 1997).

Neste levantamento a área basal (dominância) encontrada foi de 57 m2/ha, com uma
amplitude diamétrica de 4,8 a 84,4 cm. As espécies que apresentam maior dominância é a
Alchornea triplinervia, Cryptocarya moschata e Heisteria silvianii, que destacaram-se pelo
seu porte. Salienta-se que as espécies mais importantes desta formação é o Euterpe edulis,
Rheedia gardneriana, Alchornea triplinervia e Cyptocarya moschata.
ATHAYDE (1997), ao realizar levantamento da composição florística e estrutura
fitossociológica em quatro estágios sucessionais de uma Floresta Ombrófila Densa
Submontana (Guaraqueçaba-PR), salienta a existência de um total de 304 espécies
distribuídas em 91 famílias e 195 gêneros, sendo 185 de hábito arbóreo, 50 arbustivas, 43
herbáceas, 12 trepadeiras herbáceas, 3 trepadeiras lenhosas, 8 epífitas e 3 hemiparasitas.
Como famílias mais representativas encontrou Myrtaceae (33), Asteraceae (30),
Melastomataceae (19), Rubiaceae (18), Lauraceae (11) e Euphorbiaceae (9).
Nos estágios herbáceo/arbustivo destacaram-se a Asteraceae e Melastomataceae. As
áreas de estudo com esta vegetação possui em média de 1 a 3 anos de regeneração,
apresentando uma grande densidade de Desmodium leiocarpum nas áreas mais
desenvolvidas, com agrupamentos de até 2,5 metros de altura. Em áreas recém queimadas,
apresentando grande número de indivíduos mortos, principalmente a ocorrência de
Eupatorium laevigatum. A espécie com maior valor de importância foi o Jacaranda puberula,
apresentando os maiores diâmetros, inclusive provenientes de rebrotas.
Dentre as espécies mais importantes, cita-se ainda a Tibouchina clavata e Clidemia
neglecta, esta última dominante na fase hebácea/arbustiva. A maior densidade, porém com
baixos valores de freqüência e dominância, foi encontrada na Diodia radula. Apresentaram
menor freqüência as seguintes espécies: Adenocalymma dusenii, Bacharis semiserrata var.
elaegnoides, Clethra scabra, Guatteria australis, Hyptis pectinata e Psidium guajava.
A fase arbustivo/arbórea, apresentou-se bastante densa, com cerca de 8 a 10 anos de
recuperação após ser cultivada, apresentando sinais de transição para a fase inicial arbórea,
havendo distinção mais um menos 2 estratos, ocorrendo indivíduos de forma relativamente
25

esparsa com altura média entre 3 e 4 metros. Nesta fase foi observado 54 espécies em 36
gêneros e 25 famílias, destacando-se a Clidemia neglecta (Melastomataceae), possuindo os
maiores valores de densidade e freqüência, só perde em dominância para o Jacaranda
puberula. As espécies que apresentaram freqüência absoluta de 100% foram: Clidemia
neglecta, Jacaranda puberula, Rapanea ferruginea e Ossaeae amygdaloides, observando-se
que estas espécies constituírem e dominarem o estrato arbóreo, iniciando desta forma o
estágio arbóreo inicial, com gradual desaparecimento da densa cobertura arbustiva, pode-se
incluir ainda a Tibouchina sellowiana e Cecropia pachystachya.
A mesma autora, salienta que no local estudado o estágio arbóreo inicial, com cerca de
15 a 20 anos de desenvolvimento, apresentando indícios de transição para a fase seguinte,
com a ocorrência de várias espécies em comum a fase arbórea avançada, foram registrados 78
espécies, distribuídas em 61 gêneros e 40 famílias. Pode ser distinguido três estratos,
possuindo uma altura média de 10 metros para o superior, 7 metros para o intermediária e 5
para o inferior. No estrato superior ocorre o predomínio de Tibouchina pulchra, ocorrendo
também com posição de destaque no estrato intermediário, sendo esta a espécie de maior
importância geral nesta fase, destacam-se também no estrato superior a Vemonia puberula,
Symplocos laxiflora, Hyeronima alchomeoides, Cecropia pachystachya, Senna multijuga e
Rapanea ferruginea. Há uma mistura de espécies nos estratos superior e inferior, denotando
caráter temporário deste estrato. Já no inferior ocorre a maior densidade e número de
indivíduos, destacando-se a Cupania oblongifolia, Peschiera catharinensis, Aegiphilla
selowiana, Miconia dosecandra e Cecropia pachystachya. A família mais representativa foi a
Melastomataceae, e com menor densidade a Myrtaceae, porém destacou-se em número de
espécies.
Encontrando-se bem desenvolvida estruturalmente e floristicamente a fase arbórea
avançada, possui indivíduos de grande porte, apesar do extrativismo do Euterpe edulis. Foram
identificadas 137 espécies, pertencentes a 102 gêneros e 49 famílias. Apresentou três estratos,
o dossel com altura média de 15 metros, o intermediário com 9,5 metros, e o sub bosque com
5,5 metros de altura. O dossel, caracteriza-se por uma baixa densidade de indivíduos
ocorrendo com baixas freqüências, sendo as espécies mais representativas deste estrato a
Ocotea odorifera, Sloanea guianensis, Brosimum lactecens e Vemonia puberula. No estrato
intermediário merecem destaque Calyptranthes grandifolia var. grandifolia, Rheedia
gardneriana, Guapira opposita, Calyptranthes lucida e Peschiera catharinensis, entre outras.
O sub bosque possui o maior número de indivíduos, sendo a espécie mais característica
Rheedia gardneriana, também bem repreentadas neste estrato Trichipteris corcovadensis e
Coussarea contracta, além do Euterpe edulis, apesar da intensa exploração.
Conforme RODERJAN et al. (1997), a Floresta Ombrófila Densa Submontana, ocorre
preferencialmente em solos autóctones (Cambissolos e Podzólicos), podendo ocorre também
nos alóctones derivados de rochas cristalinas.
Segundo RACHWAL & CURCIO (1994), os Cambissolos são solos minerais pouco
desenvolvidos, não hidromórficos, situam-se em ambientes de encostas e sua posição na
paisagem, relevo e material de origem determinam o grau de desenvolvimento e a
profundidade do Solum. Podem estar associados aos Latossolos, Podzólicos e Solos
Litólicos. Em relação a profundidade podem ser subdivididos, em rasos quando a espessura
for inferior a 0,5 metros, pouco profundos quando situam-se entre 0,5 e 1,0 metro, e
profundos com espessura superior a 1,0 metro.
Os mesmos autores, informam que os solos Podzólicos, são minerais, não
hidromórficos, bem desenvolvidos (embora possam conter argila de alta e baixa atividade),
apresentam um horizonte subsuperficial B textural (Bt), ao qual pode-se evidenciar a
ocorrência de cerosidade, em função do revestimento de argila nas unidades estruturais
atribuindo-lhes um brilho graxo baixo, caracterizando-se também por apresentar incremento
26

de argila em relação ao horizonte superficial A, podendo apresentar o horizonte E.


Apresentam textura binária: arenosa/argilosa, enquanto no A é arenosa, o B é argilosa, este
gradiente textural aliado ao relevo acidentado em que geralmente ocorrem, faz com que seja
um dos solos mais suscetíveis a erosão hídrica. No estado do Paraná, esta classe é constituída
pelos Podzólicos Vermelhos-Escuros, Vermelho-Amarelos e Bruno-Acinzentados, diferem
entre si principalmente na cor e teor e forma dos óxidos de fero.

5.4. Floresta Ombrófila Densa Montana

Fisionomicamente não existe muita diferença entre Montana e Submontana. Em


Montana, geralmente as encostas são mais dissecadas, por esta razão os solos são mais rasos,
e de certa forma esta diferenciação esta associada a uma condição climática, determinando
uma diversidade diferente do que observaria nos pisos altitudinais mais baixos.
Esta transição de altitudes não e tão rigorosa, em função da planta não saber se estou
numa exposição norte, onde a entrada de energia e diferente da exposição sul, já que na
exposição norte as espécies sobem um pouco mais e no sul elas ficam num patamar mais
baixo.
Conforme LEITE & KLEIN (1990), embora a Floresta Ombrófila Densa tenha um
número elevado de espécies, e de formas de vida em suas diversas formações, apenas um
número reduzido marcam significativamente a fisionomia, compondo entre 70 e 80% da
cobertura superior, geralmente ocorrendo as seguintes espécies: canela-preta (Ocotea
catarinensis), laranjeira-do-mato (Slonea guianensis), peroba-vermelha (Asdosperma
olivaceum), pau-óleo (Copaifera trapezifolia), canela sassafrás (Ocotea pretiosa), bicuíba
(Virola oleifera), caxeta-amarela (Chrysophylum viride), canela-amarela (Nectandra
lanceolata), guarajuva (Buchenavia Kleinii), guapeva (Pauteria torta) e o palmiteiro (Euterpe
edulis).
Os mesmos autores, salientam que as planícies apresentam limitações ao
desenvolvimento de espécies fisionomicamente representativas dos ambientes mais enxutos
(formações florestais submontanas e montanas). Encontrando agrupamentos florestais onde se
podem observar espécies peculiares dos andares superiores da floresta primitiva, sendo em
ordem de importância: figueira-da-folha-miúda (Ficus organensis), tapiá-guaçu (Alchornea
triplinervia), guanandi (Calophyllum brasiliense), ipê-amarelo (Tabebuia umbellata), guaçá-
de-leite (Pouteria venosa), baguaçu (Talauma ovata), leiteiro (Brosimum lactescens) e o
guamirim-ferro (Myrcia glabra), dentre muitas outras. Convém ressaltar que as planícies são
pobres em lianas, porém relativamente ricas em epífitas, principalmente bromeliáceas.
RODERJAN (1994), em estudos do gradiente de uma floresta Ombrófila Densa no
morro Anhangava, Quatro Barras, PR – aspectos climáticos, pedológicos e fitossociológicos,
relata uma mudança de unidade quando o predomínio do solos Litólico da floresta de
transição é substituído pelo solo Cambissolo, verificando-se um incremento progressivo na
altura e no diâmetro das árvores, tornando a identificação dos estratos mais nítidas.
O autor relata que as famílias mais expressivas no segmento de Floresta Ombrófila
Densa Montana, são: as Lauraceae, Aquifoliaceae e Cytheaceae, dentre as 22 famílias
encontradas na área de estudo. Foi encontrado na área de estudo, em termos de valores médios
1.393 indivíduos/ha, correspondendo a uma área basal de 57 m2/ha, onde a espécie
dominante foi a Slonea lasiocoma, com 7,65 m2/ha de área basal, embora não tenha sido a
espécie que apresentou maior número de indivíduos, a qual foi a Dicksonia sellowiana com
125 indivíduos/ha, seguida da Ilex paraguariensis com 112,5 indivíduos/ha. As árvores do
dossel da floresta, situa-se entre 14 e 22 metros de altura.
Podemos observar a composição florística arbórea da floresta na Figura 15.
Destacando que as espécies mais importantes são: Ilex paraguariensis, Ocotea catharinensis,
27

Cabralea canjerana, Slonea lasiocoma, Dicksonia sellowiana, Trichipteris sp., Weinmania


discolor, Ilex taubertiana e Driys brasiliensis.

FIGURA 15: Perfil esquemático de um trecho de Floresta Montana. (RODERJAN, 1994)

Conforme IBGE (1992), esta formação se situa no sul do Brasil, entre 500 a 1.500
metros de altitude, onde a estrutura é mantida até próximo ao cume dos relevos dissecados,
quando solos delgados ou litólicos influenciam no tamanho dos fanerófitos, que se apresentam
menores. A estrutura florestal uniforme, mais ou menos em torno de 20 metros, sendo
representada por ecótipos relativamente finos com casca grossa e rugosa, folhas miúdas e de
consistência coriácea. No sul do Brasil o Podocarpus, único gênero tropical que apresenta
dispersão até a Zona Equatorial, típica dessa formação, ocorrendo por vezes juntamente com
os gêneros Ocotea e Nectandra.
A ocorrência de xaxins altos, é uma boa indicadora (Floresta Atlântica) que é uma
floresta primária, ou a floresta já alcançou um equilíbrio muito grande, outra espécie é a
batiza (apresenta folhas grandes), quando ela estiver na forma de árvore alta, normalmente
indica uma floresta já encontra-se em equilíbrio, em estágio avançado ou é uma floresta
primária.
No ambiente Montano, os solos geralmente possuem textura de franco para argilosa,
sendo solos autóctones, tornando-se difícil estabelecer em profundidade, alguns locais são
bastante profundos, em outros são muito rasos, dependendo muito da condição geomórfica.
Por exemplo: em área que favorece o acúmulo de material erodido de local acima, o solo
abaixo vai ficar mais profundo, em contrapartida acima mais raso, acontece também em
função da declividade.
O mais importante nestas condições passa a ser somente o equilíbrio de ar-água, não
importando o solo, se ele possuir boa disponibilidade de água, não em excesso, de uma
maneira em geral as espécies são mais ou menos as mesmas, mas a partir do momento que
tiver uma condição geomórfica que determina um acumulo de água e remete esta condição
para a hidromorfia, muda a vegetação, sendo o quê var comandar a estrutura, florística e o
28

equilíbrio ar-água. Como informação adicional, podemos citar a planície com uma intensidade
pluviométrica em torno de 2.000 mm/ano, já nas encostas têm-se registros de 7.000 mm/ano.

5.5. Floresta Ombrófila Densa Altomontana

Formação mesofanerofítica, localizada no cume das altas montanhas sobre Solos


Litólicos, apresentando acumulações turfosas nas depressões onde ocorre a floresta. A
estrutura é integrada por fanerófitos com troncos e galhos finos, folhas miúdas e coriáceas,
casca grossa com fissuras. Este refúgio é conhecido popularmente por ¨mata nuvígena ou
mata nebular¨, em função dos pontos onde a água evapora se condensa em neblina,
pricipitando-se sobre as áreas elevadas. (IBGE, 1992)
Chamada pelo Padre Balduino Rambo de ¨Matinha Nebular¨, não sendo esta exclusiva
da serra do mar, ocorrendo em quase todo o mundo, próximo ao limite das áreas de montanha,
principalmente nos trópicos temperados e alpinos. Apresenta como denominações
semelhantes a Floresta de Musgos, Floresta de Duendes, Floresta de Nuvens, todos os nomes
estão relacionados a umidade trazida pelas nuvens.
Quase todos os ambientes de Floresta Altomontana estão íntegros, porque o homem
não ve a transformação do recurso natural em dinheiro, em função da madeira não apresentar
condições de desdobro, visto que os troncos são tortuosos e não possuem grandes diâmetros,
outro fator e a impossibilidade de transformar a área em área agriculturável. A pouca
regeneração natural é em função da intensidade de iluminação ser baixa.
Para LEITE & KLEIN (1990), a Floresta Altomontana apresenta um dossel
essencialmente uniforme e homogêneo, composto por uma vegetação arbórea densa e baixa,
raramente ultrapassando 8 metros de altura, normalmente com folhas miúdas e esclerofilas e
com troncos finos, tortuosos e bastante ramificados, totalmente recoberto por musgos e
epífitas. Salientam que as espécies encontradas nesses ambientes normalmente são endêmicas.
RODERJAN (1994), relata que as características estruturais e florísticas gerais da
Floresta Altomontana são semelhantes aquelas de ambientes homólogos das montanhas
intertropicais, sendo seus aspectos comuns de possuir um único estrato arbóreo definitivo,
baixa estatura das árvores, elevada densidade por unidade de área, predomínio acentuado de
uma ou de poucas espécies e acentuado epifitismo.
Conforme RODERJAN & GRODZKI (1999), o Morro do Anhangava, local em que
foi realizado um acompanhamento meteorológico em um ambiente de Floresta Ombrófila
Densa Altomontana, realizado pelos autores acima relacionados, os dados meteorológicos
coletados com um termohigrogáfo, durante um ano, obteve como dados, a temperatura média
anual entre 13o e 14 o, apresentando temperaturas máximas de 30o (no interior da floresta) e
como temperaturas mínimas –5o. A precipitação anual em torno de 2.100 mm, a umidade
relativa do ar de 92%, sendo que ¼ do ano o ar esta saturado com água (100%), boa parte da
umidade que acaba prejudicando as plantas vem da umidade atmosférica, ventos fortes
(fenômeno local), a insolação (número de horas de brilho de sol) baixa, sem a presença de
nuvens a radiação e muito maior, aumenta o percentual de radiação ultra violeta, que é um dos
indicadores que atribuem-se as folhas pequenas e coreáceas.
Podemos verificar observando a Figura 16, que em função das condições climáticas e
pedológicas não se poderia esperar árvores grandes, existem poucas epífitas floríferas,
predominam musgos, líquens, não se tem lianas.
29

FIGURA 16: Floresta Ombrófila Densa Altomontana.

Os mesmos autores, relatam que a altura média de 3,5 metros, apresentando uma
densidade por unidade de área de 4.418 indivíduos/ha, as árvores da Floresta Altomontana do
morro Anhangava distribuem-se harmonicamente em um único estrato de copas, conforme
podemos verificar Figura 17, sendo foram identificadas 25 espécies, pertencentes a 15
famílias botânicas. Myrtaceae é a família mais representativa com 6 espécies distribuídas em
4 gêneros, a Aquifoliaceae, Lauraceae e Melastomataceae estão presentes com 2 espécies
cada, a Ilex microdonta (Aquifoliaceae) e Siphoneugena reitzii (Myrtaceae), são as espécies
mais importantes desta comunidade, perfazendo juntas metade do contingente arbóreo (56%),
destacaram-se a Blepharocalyx salicifolius e Gomidesia sellowiana (Myrtaceae), Drimys
brasiliensis (Winteraceae), Tabebuia catarinensis (Bignoniaceae), Weinmannia humilis
(Cunoniaceae) e a Myrsine parvifolia (Myrsinaceae).
Já nos levantamentos realizados por KOEHLER et al. (no plero), no Morro do
Anhangava, foi encontrado 24 espécies arbóreas pertencentes a 13 famílias botânicas,
concluindo que esta baixa diversidade é resultado das condições adversas ao estabelecimento
e ao desenvolvimento da vegetação. As famílias mais expressivas no segmento de Floresta
Ombrófila Densa Altomontana são: as Myrtaceae, Lauraceae, Aquifoliaceae e Cunoniaceae,
dentre as famílias encontradas na área de estudo. Foi encontrado na área de estudo, em termos
de valores de densidade no ambiente altomontano é bastante elevada 4.830 indivíduos/ha,
correspondendo a uma área basal de 41,87 m2/ha, sendo a espécie mais importante dessa
associação foi a Ilex microdonta (Aquifoliaceae), apresentando os maiores índices de
densidade (26,92%) e de dominância (46,15%) e um valor de importância de 84,38%, estando
em segundo maior valor de importância é de 42,24% pertencente a Blepharocalyx
salicifolius.
30

FIGURA 17: Perfil esquemático de um trecho da Floresta Densa Altomontana. (RODERJAN,


1994)

No mesmo levantamento foi constatado que a floresta é composta por apenas um


estrato arbóreo, com altura média de 4,6 metros e diâmetro médio de 9,0 cm, contudo existem
árvores de maior porte, o que pode-se perceber através do diâmetro máximo observado que
foi de 33,0 cm e da altura máxima de 8 metros, relatam ainda que as árvores normalmente
apresentam troncos tortuosos e inclinados, encaixando-se as copas umas nas outras para
formar um denso dossel, Figura 18.

FIGURA 18: Vista das copas na Floresta Ombrófila Densa Altomontana.

Avaliando a decomposição foliar e da serapinheira em cinco espécies arbóreas em um


ambiente altomontana, PORTES & GALVÃO (no plero), verificam que a Ilex microdonta, é a
espécie que possui a maior taxa de decomposição, apresentando o coeficiente (k) superior a 1,
levando em média 203 dias para que 50% das suas folhas sejam decompostas. As demais
espécies estudadas possuem (k) menor que 1, sendo a ordem decrescente de todas espécies:
Ilex microdonta > Weinmannia humilis > Siphoneugena reitzii > Podocarpus sellowii >
Drimys brasiliensis. A taxa de decomposição em um ambiente de Floresta Altomontana é
31

bastante lento, tendo como conseqüência uma acumulação suficientemente importante de


matéria orgânica que determina a formação de solos Orgânicos e Litólicos Húmicos, os quais
são predominantes e característicos deste ambiente.
Os autores concluem ainda que apesar das pequenas variações, todas as espécies
apresentavam baixa concentração de N e alta relação C/N, estando também relacionado com
as baixas taxas de decomposição, demonstrando que a floresta altomontana apresenta um
padrão de comportamento que a difere de outros ecossistemas tropicais.
PORTES et al. (no plero), relata que nos locais montanhosos, a ciclagem de nutrientes
assume papel fundamental para o desenvolvimento das florestas, devido as substâncias
solúveis serem lixiviadas pelo movimento de água descendente. Afirmam ainda, que a
produção média anual de serapinheira para a floresta altomontana é de 4,5 ton/ha/ano. Os
autores ao realizarem a avaliação da deposição de serapinheira e de nutrientes, relatam que as
folhas de Ilex microdonta, em função da grande produção (42%), foram tabuladas
separadamente, comprovando a importância da espécie. Ressaltam a grande percentagem de
galhos na produção de biomassa, quase 25% em função da ação dos fortes e intensos ventos.
A epífitas, contribuem com 4% do total, devido a grande ocorrência neste ambiente.
Ao ser feita a avaliação, os mesmos concluem que do total de serapinheira depositada,
as folhas totalizam 63% (2,8 ton/ha/ano) dos quais mais de 40% (1,4 ton/ha/ano) são de folhas
de Ilex microdonta. Os maiores valores de deposição ocorrem de setembro a novembro,
quando o clima começa a se tornar mais quente e úmido. Tanto os teores como as quantidades
depositadas de macronutrientes por cada fração, apresentaram-se na seguinte ordem
N>Ca>K>Mg>P, sendo o Ca>N nos ramos e casca.
Com relação a composição química, a serapinheira total contribui com 57,0 de N, 3,2 de P,
13,7 de K, 57,9 de Ca e 9,8 de Mg (Kg/ha/ano), sendo as folhas as que mais contribuem com
65% do N, 60% do P, 66% do K, 61% do Ca e 77% do Mg.
Conforme RODERJAN (1994), o relevo é montanhoso a escarpado, com solos pouco
desenvolvidos, havendo predominância de Litólicos e Orgânicos, além dos Afloramentos
Rochosos nas porções mais elevadas e Cambissolos nas porções menos íngremes.
Caso encontrarmos só matéria orgânica já em contato com a rocha em decomposição
ou não, necessariamente seria um Solo Litólico (são Solos Litólicos Hísticos), porque em
cima tem matéria orgânica, se possuir uma profundidade superior a 30 cm aí seria um Solo
Orgânico, nos ambientes altomontanos predominantemente existe litólico, vai depender muito
da profundidade.
Os solos não são considerados hidromórficos, embora possa ser, se pensar na
concentração de água que tem, só não é evidenciado no perfil por possuir este tingimento de
matéria orgânica. Só é considerado hidromórfico um solo mineral quando aparece argila,
mudando a cor para uma tonalidade acinzentada azulada. A temperatura baixa, provoca uma
decomposição lenta e vai acumulando em cima (acúmulo de matéria orgânica).
O solo de baixa estabilidade, cumprindo uma função, assim como a floresta., esta
umidade constante é mais ou menos responsável pela água que teria nos patamares altitudinais
abaixo, tem um enrequecimento de água aqui que é chamado de precipitação horizontal
(provocado pelas nuvens), estimando-se em torno de 10% ou mais que na precipitação
normal, no entanto esses valores passam a ser muito mais expressivos naquelas épocas que a
precipitação e extremamente baixa, pode representar em dados de Floresta Altomontanas até
60% da precipitação, quando esta precipitação é muito baixa em períodos de seca. Esta
precipitação acaba contemplando todos os pisos altitudinais abaixo, detalhe importante a
precipitação, por razões que não se sabe explicar o pH é mais baixo que o pH de chuva
normal, isto é um componente que acaba provocando uma acedificação ainda maior neste
solo, o qual apresenta um pH em torno de 3,1; 3,2 até 4,0.
32

A chuva horizontal e captada pela vegetação, o escorrimento desta pelo tronco das
árvores vai careando para o solo, contribuindo com a acidez do solo.
O empobrecimento na concentração de nutrientes nos vegetais, em função de um dos
processos que se dá a incorporação, e passivo depende fundamentalmente da transpiração,
quando se está perdendo água em cima, evidentemente ele esta retirando também da solução
do solo e não esta fazendo uma avaliação do que esta entrando, ele vai passivamente
colocando o quê da lá para dentro, acontece que as condições no ambiente são severas, ventos
intensos, temperatura baixa, nebulosidade, sol relativamente forte é obvio que as plantas irão
fechar os estômatos, fechando os estômatos reduz a taxa de fotossíntese, reduzindo
consequentemente a taxa de transpiração, pois não tem a entrada passiva de nutrientes, sendo
que a entrada ativa que irá selecionar, que se dá a duras penas e a um conjunto de situações
que remetem as condições de Floresta Ombrófila Densa Altomontana.

6. Refúgios Vegetacionais
(campos de altitude)

Segundo IBGE (1992), toda e qualquer vegetação floristicamente diferente e


logicamente fisionômico-ecológica também diferente do contexto geral da flora dominante é
considerada com um ¨refúgio ecológico¨, constituindo-se muitas vezes uma vegetação relíquia
que persiste em situações especialíssimas, como é o caso de comunidades localizadas em
altitudes acima de 1.800 metros. O refúgio ecológico faz parte de vegetação regional , onde é
determinado por parâmetros ambientais mais ou menos constantes, contudo, quando um ou
mais destes fatores físicos forem alterados provavelmente ocorrerão modificações na estrutura
e mesmo na florística da vegetação clímax. Assim, qualquer fator que destoe deste
sincronismo ambiental terá como terá como resposta fisionomias diferentes nos ambientes
menores.
Nas regiões serranas, acima de determinadas altitudes, a floresta é substituída por uma
vegetação arbustiva e/ou herbácea, muito peculiar, sujeita a condições de vida extremamente
diversificadas e de natureza bastante complexa variando em sua estrutura e composição,
conhecida como Campos de Altitude ou Vegetação Rupeste e constitui uma paisagem típica
das partes altas das serras costeiras do sul do Brasil. (HUECK, 1978; RIZZINI, 1979; apud
RODERJAN 1999)
Para RODERJAN (1999), devido as dificuldades de acesso, não constituem objeto de
atividade economicamente atrativa, passível de comercialização e/ou industrialização,
ambiente que possui um desconhecimento científico de vários aspectos, dentre eles a
vegetação. Em função deste desinteresse, constitui um dos ambientes naturais mais bem
conservados do estado do Paraná, condição esta comparável com as Florestas Altomontanas e
aos Manguezais.
SANTOS & HATSCHBACH (1998), apud RODERJAN (1999), ao realizarem
levantamento da florística fanerogâmica da vegetação altomontana do morro dos Perdidos,
classificaram entre os agrupamentos estudados, estão os Campos Graminosos de Altitude e a
Vegetação Rupícola sobre afloramentos, terminologia esta que refere-se a vegetação dos
Refúgios Vegetacionais Altomontanos. Ao referir-se à vegetação das encostas do morro com
¨habitat bastante húmido¨, são citadas como espécies características a Burmania discolor,
Cladium ficticium, Utricularia reniformis, Utricularia áurea, Oncidium blanchetii,
Andropogon ternatus e Valeriana ulei, nos afloramentos rochosos, citam a Mandevilla
atropurpurea, Sinningia cardinalis e Bifrenaria harrisoniae.
Já nos levantamentos do Plano de Manejo do Parque Estadual Pico do Marumbí
(PARANÁ, 1996), apud RODERJAN (1999), os refúgios foram divididos em Campos de
33

Altitude, sendo encontrada as seguintes espécies: Cladium ficticium, Chusquea pinifolia,


Croton splendidus, Mimosa congestifolia e Tabebuia catarinensis, e Vegetação Rupeste, com
Achyrocline satureoides, Cladium ficticium, Drosera sp e Baccharis sp.
Em coletas isoladas realizadas por RODERJAN (1999), nas áreas de Refúgios
Vegetacionais das serras dos Órgãos e Capivari, foram encontradas 128 espécies distribuídas
em 50 famílias botânicas, sendo que as famílias que apresentaram maior número de
representantes em ordem decrescente: Asteraceae, Poaceae, Cyperaceae, Rubiaceae,
Orchidaceae, Bromeliaceae, Ericaceae e Melastomataceae, dentre todas famílias botânicas.
Segundo o autor, a vegetação está condicionada preponderantemente às características
de dois fatores ambientais, resultantes da elevação da altitude em terrenos montanhosos: o
clima, com temperaturas baixas no inverno e a ação intensa de ventos, radiação solar e
umidade, e os solos, de espessuras modestas até os afloramentos e com elevados teores de
matéria orgânica, resultando portanto, em condições ambientais severas para a vida vegetal e
animal, exigindo mecanismos específicos para sua adaptação e estabelecimento.
A vegetação predominantemente é herbáceo/graminóide, geralmente hemicriptófitas,
caméfitas e geófitas, dotadas de estratégias necessárias para resistir a períodos desfavoráveis e
mesmo a variações momentâneas, comuns neste ambiente. A presença de nanofanerófitas
(plantas anãs – arbustos), representadas por um pequeno número de espécies, contribui para
uma variação fisionômica que imprime um caráter arbustivo à vegetação, sendo enquadrada
como Refúgios Vegetacionais Altomontanos Arbustivos, sendo os representantes mais
característicos: Croton splendidus, Chusque pinifolia e Mimosa congestifolia.
No levantamento fitossociológico realizado por RODERJAN (1999), nos refúgios
vegetacionais, situados preferencialmente da cota 1.300 metros de altitude, nos picos
Itapiroca, Capivari Grande, Camapuã, Ciririca, Taipabuçu, Paraná, Tucum e o Agudo da
Cotia, apesar da aparente homogeneidade fisionômica dos Refúgios Vegetacionais
Altomontanos, foram encontradas 64 espécies, pertencentes a 29 famílias, sendo que destas as
que apresentaram maior número foram a Poaceae (9), Melastomataceae (7), Asteraceae (6),
Cyperaceae (5), Ericaceae (4), Bromeliaceae e Cladoniaceae (3).
Ao relacionar as espécies mais constantes o autor, concluiu que a caratuva (Chusquea
pinifolia), pode ser vista na Figura 19, foi a mais constante, ocorrendo desde pequenos grupos
até populações contínuas, caracterizando a fisionomia arbustiva, ocorre indistintamente sobre
os dois tipos de solos, e em diferentes condições de exposição e declividade, sendo
importantes na florística e fisionomia dos refúgios vegetacionais, caracterizaram-se constantes
também as seguintes espécies: Cladoniaceae sp, Croton splendidus, Dychya reitzii, Eryngium
koehneanum, Machaerina austrobrasiliensis, Rynchospora cf rugosa, Sphagnum recurvum e

Siphoneugena reitzii.

FIGURA 19: Refúgios Vegetacionais com a caratuva (Chusquea pinifolia).


34

Caracterizando a fisionomia herbácea, a Machaerina austrobrasiliensis e a


Rynchospora cf rugosa, presentes em populações contínuas, ocasionalmente ocorreram a
Axonopus sp e Lagenocarpus triquetrus, dentre outras. Logo abaixo do estrato herbáceo,
ocupando a superfície do solo, encontrou-se a Sphagnum recurvum (Shagnaceae),
normalmente associada a Cladoniaceae. De uma maneira discreta, mas características destes
ambientes, estão presentes a Eriocaulon ligulatum (Eriocaulaceae), Gaylussaceae brasiliensis
(Ericaceae), Lobelia campestris (Lobeliaceae), Utricularia reniformis (Lentibulariaceae) e
Altroemeria apertiflora. E como espécies arbóreas a Ilex microdonta (Aquifoliaceae),
Weinmannia humilis (Cunoniaceae) e a Tabebuia catarinensis (Bignoniaceae), as quais são
características da Floresta Ombrófila Densa Altomontana.
Ocorre a predominância de solo Orgânico raso a pouco profundo, e de solo Litólico
raso epihístico e cascalhento, (RODERJAN, 1999). Os solos Orgânicos, com espessura entre
8 a 80 cm, em declividades acentuadas, possuem alta capacidade de retenção de água, como
resposta a um lento processo de decomposição da matéria orgânica. São predominantes nas
áreas estudadas, estando associadas as vegetações tanto herbáceas como arbustivas. Sua
ocorrência, em áreas abaciadas, resulta em excessivo acúmulo de água, que não raro aflora à
superfície, constituindo-se as chamadas ¨turfeiras¨, ocorrendo o predomínio da Cyperaceae
Machaerina austrobrasiliensis.
Já os solos Litólicos, predominantemente rasos, com espessuras entre 5 a 31 cm,
ocorrem próximos a matacões e afloramentos graníticos, não raro litóides, nas áreas de sua
ocorrência, observa-se associações florísticas simplificadas, geralmente herbáceas, com
predomínio pelas Axonopus sp (Poaceae), Lagenocarpus triquetrus (Cyperaceae), em
condições de espessuras mínimas ao afloramento, observa-se a Drosera montana
(Droseraceae), planta considerada insetívora.

7. Floresta Ombrófila Mista


(floresta com araucária)
Conhecida também como ¨mata-de-araucária ou pinheiral¨, é um tipo de vegetação do
Planalto Meridional, onde ocorria a maior freqüência. Segundo o IBGE (1992), está área é
considerada como o seu atual ¨clímax climático¨, contudo esta floresta apresenta disjunções
florísticas em refúgios situados nas Serras do Mar e Mantiqueira, muito embora no passado
tenha se expandido bem mais ao norte porque a família Araucariaceae apresentava dispersão
paleogeográfica que sugere uma ocupação diferente da atual.
A mesma citação, informa que foi recentemente constatado a ocorrência de fósseis
(fragmentos de caule), em terrenos Juracretácios no Nordeste brasileiro, evidenciando que
dentro da ¨plataforma brasileira¨ encontravam-se Coniferales, pois estes fósseis são também
encontrados em pontos isolados da borda sul do Planalto Meridional, como por exemplo em
Mata (próximo a Santa Maria, região centro do estado do Rio Grande do Sul). Mas como o
vulcanismo, iniciado nesta área no Cretáceo e terminado no Terciário Superior, foi
responsável pelo despovoamento vegetal do Planalto Meridional, a hipótese de que a
Araucaria angustifolia, atualmente alí existente, penetrou através do ¨Escudo Atlântico¨ que
se achava unido à grande plataforma afro-brasileira no Paleozóico, parece estar comprovada.
A composição florística deste tipo de vegetação, caracterizado por gêneros primitivos
como Drymis e Araucaria (Australásicos) e Podocarpus (Afro-Asiático), sugere, em fase da
altitude e da latitude do Planalto Meridional, uma ocupação recente, a partir de Refúgios
Altomontanos, apresentando quatro formações diferentes:
- Aluvial – em terraços antigos situados ao longo dos flúvios.
- Submontana – de 50 até mais ou menos 400 metros de altitude.
- Montana – de 400 até mais ou menos 1.000 metros de altitude.
35

- Altomontana – quando situados a mais de 1.000 metros de altitude.


Segundo LEITE & KLEIN (1990), a concepção de Floresta Ombrófila Mista, procede
da ocorrência da mistura de floras de diferentes origens, definindo padrões fitofisionômicos
típicos, em climática caracteristicamente pluvial. A coexistência de representantes das floras
tropicais (afro-brasileira) e temperada (austro-brasileira) com elevada relevância fisionômica
de elementos Coniferales e Laurales é o denominado Planalto Meridional Brasileiro,
diferindo-se pela dispersão natural da Araucaria angustifolia ou ¨curiirama¨dos indígenas. A
origem da Araucaria angustifolia e de outros elementos característicos dos pinhais sul-
brasileiros tem sido objeto de interessantes hipóteses. Algumas delas, de apreciável valor
científico, fundamentam-se em conhecimentos paleogeográficos e paleobotânicos (Wegener,
1912 apud Schenll, 1971 e Hurley, 1976).
Os mesmos autores relatam que com base nestas hipóteses, que os ancestrais da
Araucaria angustifolia tiveram ampla dispersão e desenvolvimento no período Cretáceo,
antes da ¨migração continental¨, com a deriva continental moldou-se a atual configuração dos
continentes, ocorrendo dobras e fraturas das plataformas continentais, originando-se cadeias
de montanhas e bacias hidrográficas. Ocorreram flutuações climáticas e mutações vegetais,
que desenvolveram adaptações aos diversos ambientes, no continente sul-americano
desenvolveu-se a série Columbidae que posteriormente por diferenciação, deu origem à
Araucaria angustifolia (no Brasil), e a Araucaria araucana (no Chile). Outra série originou as
sete espécies de Araucaria existentes na Austrália.
Para LEITE & KLEIN (1990), o formato arredondado e umbeliforme dos capões e
sua típica organização de comunidades, com as espécies macrofanerófitas (esciófitas) no
centro, nanofanerófitas (heliófitas) na periferia, preparando ambiente interno dos capões,
parecem hoje testemunha do clima pretérito nas posições mais elevadas e meridionais do
Planalto das Araucárias.
Segundo KLEIN (1960) apud CEPEF/FATEC (1990) a Araucaria angustifolia ocorre
nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná e ao sul do estado de São Paulo,
ocorre também em manchas isoladas nos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Na
América do Sul ocorre na Província de Missiones na Argentina e Oeste do Paraguai. O
mesmo autor afirma que a Araucaria angustifolia é a árvore mais alta dessa formação (extrato
superior), com suas copas verde escuro, formando uma cobertura muito característica.
LIDMAN (1974), as “matas-de-araucária” são muito altas, característica esta que
assemelha-se essencialmente as outras matas do Brasil, diferenciando-se apenas pela presença
da mistura da Araucaria angustifolia, sendo esta a maior das árvores do sul do Brasil. O autor
afirma que se desenvolve juntamente com outras árvores de mata virgem comum. Nesta
companhia superior estas espécies representam o papel inferior de mata baixa, as espécies que
ocorrem em associação são: Cedrella fissilis, Cupania vernalis, Apuleia leiocarpa,
Paraptadenia rigida, Tectona alba, entre muitas outras espécies de Mirtáceas e outras.

7.1. Floresta Ombrófila Mista Montana

No estado do Paraná esta formação, encontra-se nos dias atuais em poucas reservas
particulares e no Parque Nacional do Iguaçu. Na década de 50, ocupava grandes extensões de
terrenos situados entre as cidades de Lajes (SC) e Rio Negro (PR), podia-se observar a
Araucaria angustifolia, ocupando e emergindo da submata de Ocotea pulchella e Ilex
paraguariensis acompanhada por Cryptocarya aschersoniana e Nectandra megapotanica.
Ao norte de Santa Catarina e ao sul do Paraná, associado com a imbuia (Ocotea porosa),
36

formava agrupamentos característicos, atualmente os grandes agrupamentos gregários


desapareceram, substituídos por monoculturas. (IBGE, 1992)
A mesma fonte de informação acima citada, relata que na década de 20, consideráveis
disjunções de Araucaria, existentes no vale do rio Itajaí-Açu, associadas a Ocotea
catharinensis, foram quase inteiramente devastados, restando pequenos remanescentes. Estas
considerações exemplificam o lento mas constante desaparecimento da Araucaria
angustifolia, que na década de 80, já não apresentava mais expressão fitogeográfica e
econômica.
Segundo LEITE & KLEIN (1990), a Floresta Ombrófila Mista, conforme Figura 20,
esta associada a dois grupos distintos de comunidades, com Araucária e Lauráceas: um
primeiro, a araucária distribuindo-se de forma esparsa por sobre bosque contínuo, no qual 70
a 90% das árvores são as espécies: imbuia (Ocotea porosa), sendo esta a mais representativa,
a canela-amarela (Nectandra lanceolata), canela-preta (Nectandra megapotamica), canela-
fogo ou canela-pururuca (Cryptocarya aschersoniana) acompanhadas da sapopema (Slonea
monosperma), por vezes bastante freqüente, da guabirobeira (Campomanesia xanthocarpa) e
erva-mate (Ilex paraguaiensis). O outro grupo a araucária forma um estrato superior bastante
denso sobre um estrato de 60 a 80% de folhosas, principalmente das seguintes espécies:
canela-lageana (Ocotea pulchella), sendo a espécie dominante, canela-amarela (Nectandra
lanceolata), canela-guaicá (Ocotea puberula), canela-fedida (Nectandra grandiflora),
camboatá-vermelho (Cupania vernalis) e camboatá-branco (Matayba elaeagnoides),
acompanhadas de casca-de’anta (Drimys brasiliensis), do pinheirinho (Podocarpus lambertii),
pimenteira (Capsicodendron dinissi), guabirobeira (Campomanesia xantocarpa) e diversas
Mirtáceas e Aqüifoliáceas.

FIGURA 20: Floresta Ombrófila Mista Montana

7.2. Floresta Ombrófila Mista Aluvial


(floresta de galeria)

Formação ribeirinha, segundo o IBGE (1992), ocupa sempre os terrenos aluvionares


situados nos flúvios das serras costeiras ou dos planaltos, é dominada pela Araucaria
angustifolia, associada à ecótipos que variam de acordo com as altitudes dos flúvios. Além da
37

¨ochlospécie¨ dominante, também se encontram Podocarpus lambertii e Drymis brasiliensis,


espécies típicas de altitudes.
À medida que a altitude diminui a Araucaria angustifólia associa-se a vários ecótipos
de Angiospermas da família Lauraceae, destacando-se os gêneros Ocotea, Cryptocarya e
Nectandra, entre outros. No sul do Brasil a floresta aluvial é constituída principalmente por
Araucaria angustifolia, Luehea divaricata e Blepharocalyx longipes no estrato emergente e
por Sebastiana commersoniana, no estrato arbóreo contínuo.
LEITE & KLEIN (1990), relatam que acompanhando as planícies sedimentares
recentes, sujeitas a periódicas inundações, ocorre a formação aluvial da Floresta Ombrófila
Mista, nela a araucária, geralmente esta associada com o branquilho (Sebastiania
commersoniana), o jerivá (Arecastrum romanzoffianum), murta (Blepharocalyx salicifolius),
corticeira-do-brejo (Erytrina crista-galli), tarumã (Vitex megapotamica), açoita-cavalo
(Luehea divaricata), salgueiro (Salix humboldtiana), além da aroeira-vermelha (Schinus
terebinthifolius) e diversas Mirtáceas.

8. Estepe Gramíneo-Lenhosa
(campos)

Segundo IBGE (1992), neste subgrupo de formação observam-se as ¨floresta-de-


galeria¨de porte baixa flanqueando algumas drenagens, constituído pelo estrato herbáceo de
sinúsias, hemicriptófitos e geófitos, ambas apreentando pilosidade nas folhas e colmos, o que
sugere uma adaptação ao ambiente relativamente seco, em função da campactação superficial
do terreno, em vista das queimadas anuais e do excessivo pisoteio do gado.
Os campos limpos, na época desfavorável apresentam uma coloração acinzentada, são
dominados por ecótipos dos gêneros Stipa, Andropogon, Aristida e Erianthus. A progressiva
¨desertificação¨, pelo mau uso do solo, pode ser observado em áreas areníticas de Alegrete e
Itaqui no Rio Grande do Sul, podemos visuzlizar na Figura 21, onde vicejam os campos quase
desprovidos de vegetação na época desfavorável.

FIGURA 21: Processo de ¨desertificação¨ no município de São Francisco de Assis – RS

Os campos são conhecidos pelo nome do local ou município onde se encontram,


podendo, serem distinguidos vários tipos, em conformidade com os parâmetros ambientais
locais. Nestes observa-se as florestas de galeria de porte baixo, o estrato herbáceo é
constituído por duas graminóides, a dos hemicriptófitos e a dos geófitos, ambas apresentando
pilosidade nas folhas e colmos, devido a uma adaptação ao ambiente relativamente seco.
A palavra Estepe, é originária da Rússia conforme LEITE & KLEIN (1990), é
significa ¨deserto¨ vulgarmente, foi inicialmente aplicada para definir a vegetação da Zona
38

Holártica submetida a dois períodos de estacionalidade fisiológica distintos, provocados um


pelo frio e outro pela seca. A região no Sul do Brasil não apresenta déficit pluviométrico,
chove normalmente durante o ano inteiro, os índices térmicos são elevados no verão e baixos
no inverno, quando as médias inferiores a 15o C, perduram por mais de 3 meses, com
frequentes ações de frentes polares, com geadas e ventos frios de velocidade moderada.
Os campos do Estado do Paraná, acredita-se serem remanescente de um período
anterior mais seco e frio. No período atual, mais úmido e quente, favorece as florestas, que no
mesmo período seco e frio remanesceram nos fundos de vale e locais de encostas, e neste
mais favorável começaram a irradiar sobre os campos. Então é de imaginar que se não
houvesse a ação antrópica as florestas cobririam os campos ao longo dos anos. Uma outra
teoria da origem dos campos seria a partir do fogo dos períodos pré e pós-cambriano, pois o
ambiente seco e frio teria propiciado esta situação com a incidência de raios.
Após subir o 2º planalto observam-se afloramentos com rios de leito superficial, mas
não se pode generalizar esta situação para campos, neste local também ocorrem latossolos
profundos intercalados com afloramentos. A vegetação campestre, conforme Figura 22, é um
reflexo do meio, e a maior diversidade é devido a fatores pedológicos e/ou climáticos. Nesta
região tem-se pouca variação pluviométrica ao longo do ano, embora se tenha uma
sazonalidade (um período chove mais e outro menos) e solos rasos, profundos e afloramentos.
LEITE & KLEIN (1990), citam que dentre as espécies mais frequentes podem ser
mensionadas: o capim-caninha (Andropogon lateralis, Andropogon sellowianus), o capim-
touceira (Sporobulus indicus, Eragrostis baiensis), além de inúmeras espécies das gêneros
Stipa, Aristida, Panicum, Erianthus, Piptochaetiun, dentre muitos outros.

FIGURA 22: Estepe Gramíneo-Lenhosa.

Os mesmos autores, salientam que podem ser observados amplas áreas de relevo
plano-deprimido a suave-ondulado, às vezes com algum problema de hidromorfismo e
aeração dos solos, geralmente submetidos a intenso uso e manejo. Nestes locais observa-se a
dominância de gramíneas rizomatosas, principalmente a grama-forquilha (Paspalum notatum)
e grama-jesuíta (Axonopus fissifolius), ambas com a mesma dispersão no Sul do País.

9. Savana
(cerrado)

O Parque Estadual do Cerrado encontra-se localizado a nordeste do núcleo urbano do


município de Jaguariaíva, no segundo planalto paranaense. A altitude varia de 900 a 800 m,
chegando à cota de 750 m ao nível do rio Jaguariaíva. Esta região compreende rochas
sedimentares Paleozóicas do grupo Paraná – formação Furnas e formação Ponta Grossa. No
39

relevo predominam formas pouco movimentadas, variando de ondulado a suave ondulado,


chegando a escarpado somente no vale do rio Jaguariaíva. Atualmente o cerrado representa
0,5% da cobertura original existente no estado do Paraná e é encontrado nas cidades de
Jaguariaíva, São Gerônimo da Serra e Campo Mourão. O Cerrado representa parte de uma
vegetação que no passado com clima mais seco tenha ocupado áreas maiores do que ocupa
atualmente. No clima atual o Cerrado encontra-se num processo de retração, isto não significa
que ele esteja se retraindo, mas que as florestas estão invadindo estas áreas, principalmente as
periférias. Isso é importante porque favorece o isolamento geográfico dessas áreas,
principalmente no Sul do Brasil, onde as populações que ocupam este espaço não mantém
comunicação com outras do Cerrado do Brasil Central. Geneticamente, isto é importante
porque se traduz em uma especificação das espécies, neste local, talvez se encontram espécies
únicas deste tipo de formação, devido ao seu isolamento.
O contingente florístico do Cerrado do sul do Brasil apresenta-se reduzido em relação
ao do Brasil Central, com aproximadamente 150 espécies herbáceas, totalizando cerca de 450
espécies. Ocorre sob um clima de estacionalidade, isto é, zonas climáticas do tipo aw do
Köeppen, isto significa que este clima apresenta uma estação seca, que corresponde ao
outono-inverno, e uma estação úmida, em que estão concentradas de 60 a 70% das chuvas, e
corresponde aos meses de primavera-verão. As plantas apresentam diversas estratégias para
evitar a deficiência hídrica que terão que enfrentar durante os períodos secos. Esta região
apresenta clima do tipo Cfb, igual ao de Curitiba. Provavelmente no passado era aw, devido
ao fato de apresentar uma certa estacionalidade, podendo acontecer ocasionalmente, mas aí
não se trata de uma questão climática e sim meteorológica, por isso não se enquadra num aw.
A temperatura média anual é de 17,6%, sendo julho o mês mais frio (13,4° C) e janeiro o mês
mais quente (21,3°C), a precipitação média anual é de 1383,2 mm, sendo janeiro e julho os
meses de maior e menor precipitação (225,4 mm e 61,3 mm respectivamente). No ano
ocorrem 129 dias chuvosos contra 236 dias secos.
A vegetação é dividida em dois estratos: herbáceo e arbóreo-arbustivo, o estrato
herbáceo compreende praticamente gramíneas, que nesta situação, enfrentam uma deficiência
hídrica mais acentuada do que as plantas do estrato arbóreo-arbustivo, porque o sistema
radicial destas últimas é bastante desenvolvido para atingir o lençol freático que é também
bastante profundo (os Solos são Latossolos profundos), permitindo desta forma, que elas não
estejam tão susceptíveis ao déficit hídrico. As herbáceas desenvolveram então, mecanismos
especiais para enfrentar o déficit hídrico, como raízes tuberosas (xilopódios) que armazenam
água, isto as protege contra à seca e eventuais queimadas.
RAWITSCHER & RACHID (1946), apud UHLMANN et al. (1997), demostram que
caules subterrâneos poderiam atuar na proteção contra os efeitos do fogo e do estresse hídrico
durante a seca sazonal, para SCHUBART (1959) apud UHLMANN et al. (1997) demostra
que a reserva subterrânea de água era um fator importante para a resistência dos vegetais e
para RAWITSCHER (1943) apud UHLMANN et al. (1997), associam a ineficácia da reação
dos estômatos como forma de resistência à seca, manifestando assim a idéia de que as
espécies do Cerrado seriam xeromórficas, porém não necessariamente xéricas.
Para COLE (1986) apud UHLMANN et al. (1997), a genérica associação das savanas
arbóreas e graminosas com as superfícies de aplainamento, e da floresta com terrenos
declivosos ou dissecados, sugeriria que a distribuíção poderia ser influênciada por condições
pedológicas e pelo comportamento do lençol freático. Da mesma forma, AB’SABER (1963)
apud UHLMANN et al. (1997), opinou a respeito do envolvimento de um processo dinâmico
de mudanças da vegetação conseqüentemente à evolução geomorfológica. Em relação ao solo,
é importante salientar alguns aspectos: relacionar fitofisionomia com a distribuição do solo na
paisagem e a importância da água na distribuição da fisionomia.
40

Segundo UHLMANN et al. (1997), uma carácterística marcante observada para as


fisionomias savânicas foi a transição gradual das formas mais abertas (campo cerrado), Figura
23; até as mais densas (cerrado sensu stricto), Figura 24, característica não observada na
transição com as formações florestais ou com os campos higro/hidrófilos que ocorre
abruptamente. Os autores ao realizarem o levantamento das relações entre a distribuíção de
categorias fitofisionômicas e padrões geomórficos e pedológicos em uma área de savana
(cerrado) no estado do Paraná, percebem que não houve um padrão coincidente da
distribuíção dos solos com a vegetação savânica, exceto pela impossibilidade da vegetação
lenhosa da savana em ocupar as áreas com elevado grau de hidromorfia no solo, favorecendo
a formação de um limite abrupto entre os campos higro/hidrófilos e a savana. Este fato é bem
conhecido por diversos autores, aparentemente a vegetação lenhosa do cerrado é incapaz de se
estabelecer mediante condições de elevada hidromorfia do solo.

FIGURA 23: Campo Cerrado.

FIGURA 24: Cerrado sensu stricto.

Nos levantamentos realizados pelos autores acima citados, o campo cerrado e o campo
limpo/sujo ocuparam áreas de menor declividade (13%), onde houve o predomínio do
Latossolo Vermelho-Escuro, profundidade maior que 4 metros, com textura média no
horizonte A (franco-argilo-arenoso) e argilosa (argilo-arenosa) no Bw. Estas características
pedológicas se mantiveram mais ou menos constantes no terço médio, ainda que a
41

declividade aumentasse (16%) e fosse verificada a transição para o cerrado sensu stricto. No
terço inferior, entretanto, até o limite com os solos hidromórficos, o cerrado sensu stricto
encontrou-se sobre o Latossolo Vermelho-Amarelo de textura média nos horizontes A e Bw.
Resalta-se, que o horizonte A mostrou-se com textura muito próxima à arenosa, e o solum
apresentou pequena profundidade em alguns pontos.
O cerrado sensu stricto, posicionou-se no terço superior/médio acompanhando o
padrão de distribuíção do Latossolo Vermalho-Escuro. No terço médio/inferior, onde se
verificou a formação de um padrão geomórfico convexo-convergente, predominou o campo
cerrado. Esta mudança na vegetação ocorreu coincidentemente com uma mudança
pedológica, e nesta porção da encosta ocorreu o Latossolo Vermelho-Amarelo.
Quanto aos campos higrófilos (Figura 25), assentaram-se sobre Podzólicos Vermelho-
Amarelos gleicos de características muito semelhantes. Apresentaram o horizonte A
proeminente com 25 e 35 cm de espessura respectivamente, sendo que a partir de 50 cm
ocorreram indícios de gleização, justificando o caráter gleico, que se tornou extremamente
acentuado em 70 cm. Logo em seguida aos Podzólicos, à jusante, posicionaram-se os Solos
Orgânicos, onde ocorrem os campos hidrófilos, a espessura do substrato orgânico apresentou-
e variável.

FIGURA 25: Campos Higrófilos e Ecótono.

Além disso, a área em questão é ocupada pela floresta de ecótono em toda a sua
extensão, uma vegetação de padrão forestal com alguns elementos de savana esparsos e senis,
na maioria dos casos. Para os autores, a vegetação do Cerrado é especielmente adaptada para
condições de seca sazonal e aproveitamento das reservas subterrâneas de água. A interferência
que a geomorfia e geologia podem ter sobre a disponibilidade de água, pode ser de crucial
importância na estrutura da vegetação que ocupa um determinado sítio, atribuindo a dinâmica
das formações vegetais em áreas de avana aos processos geomórficos envolvidos na
modelagem do relevo, sendo que OLIVEIRA FILHO et al. (1989) apud UHLMANN et al.
(1997), consideram razoável propor que as variações internas da vegetação do Cerrado
pudessem ser devidas à profundidade do lençol freático em relação à superfície do solo.
Um fator que deve ser considerado é o fogo, que ao lado de outros fatores, contribui
para a manutenção de uma condição de formas savânicas abertas nas áreas mais altas,
salientam que as espécies de savana são capazes de resistir ao fogo, teriam maior poder de
resposta em relação às espécies florestais, o que seguramente limitaria a expansão destas
formações sobre áreas onde há a savana, permitindo sua manutenção.
Na análise da estrutura de duas unidades fitofisionômicas de savana (cerrado) no Sul
do Brasil, UHLMANN et al. (1998) comentam que o campo cerrado caracteriza-se pela
presença de indivíduos lenhosos xeromórficos esparsos (cobertura arbórea de 10-30%) e
baixos (1-2 metros) em meio a um estrato herbáceo predominantemente graminóide. O
42

cerrado sensu stricto possui indivíduos lenhosos distribuídos de forma mais densa (cobertura
arbórea de até 60%) e de maior altura (3-4 metros). O estrato herbáceo é heteregêneo com
muitas espécies de subarbustos e ervas em meio às ervas graminóides, as espécies arbóreas
apresentavam em seus troncos marcas evidentes de fogo.
Para os autores o cerrado sensu stricto caracterizou-se por maior densidade,
dominância, número de espécies lenhosas e diversidade, além disso, este mesmo conjunto de
dados indica a maior altura média dos indivíduos do cerrado sensu stricto, embora o diâmetro
não tenha apresentado diferenças significativas, a maior representatividade dos indivíduos em
classes superiores a 10 cm no cerrado sensu stricto, em torno de 70% dos indivíduos em
ambas as categorias concentram-se na classe de 5-10 cm.
No levantamento realizado no Parque Estadual do Cerrado, as 18 espécies encontradas
no campo cerrado também foram observadas em maior ou menor grau de importância no
cerrado sensu stricto, porém nesta unidade fisionômica, outras 15 espécies foram
encontradas.
No campo cerrado, seis espécies responderam por aproximadamente 84% do valor de
importância, a Stryphnodendron adstringens, Byrsonima coccolobifolia, Couepia grandiflora,
Annona crassiflora, Acosmium subelegans e Anadenanthera peregrina, totalizando 91% da
estimativa de densidade e 86% da dominância total, caracterizando portanto, uma fisionomia
homogênea, marcada pela abundância de Stryphnodendron adstringens, já as espécies pouco
abundantes, como Dalbergia miscolobium, Symplocos lanceolata e Ouratea spetabilis,
agregaram até 10% do percentual de cobertura. Stryphnodendron adstringens, Byrsonima
coccolobifolia, Couepia grandiflora e Annona crassiflora, somaram pouco mais de 80% da
dominância relativa, detendo no conjunto 77% do total do valor de cobertura.
As espécies mais importantes no cerrado sensu stricto, são: Byrsonima coccolobifolia,
Anadenanthera peregrina, Couepia grandiflora, Stryphnodendron adstringens, Acosmium
subelegans e Lafoensia densiflora, constatando-se que com exceção da última tratam-se das
mesmas espécies de maior importância no campo cerrado. No cerrado sensu stricto algumas
espécies contribuíram para que houvesse distribuíção marcante de indivíduos nas classes de
maior altura, destacando-se Tabebuia ochracea, Ouratea spectabilis, Annona crassiflora,
Stryphnodendron adstringens, Austroplenckia populnea, Cinnamomum sellowianum, Miconia
sellowiana e Dalbergia miscolobium, que apresentaram mais que 50% dos indivíduos
amostrados com altura superior a 3 metros, por outro lado no campo cerrado, a maior parte
dos indivíduos foi representada por arbustos de pequeno porte, havendo poucas espécies que
se sobressaíram por seu porte.
De acordo com a ecologia de populações, estas espécies são resistentes ao fogo e
apresentam elevada capacidade de rebrota. Mesmo que se corte por ação do fogo ou
mecânica, elas certamente rebrotam, o que já não acontece com as espécies da floresta, pois
elas nem resistem ao fogo e nem rebrotam.

10. Floresta Estacional Semidecidual


A Floresta Estacional Semidecidual (Floresta Tropical Subcaducifólia), conceito este
devido a vegetação estar condicionada pela dupla estacionalidade climática, uma tropical com
ápoca de intensas chuvas de verão, seguida por estiagem acentuada e outra subtropical sem
período seco, mas com seca fisiológica provocada pelo intenso frio do inverno, com
temperaturas médias inferiores a 15o C. Segundo IBGE (1992), a porcentagem das árvores
caducifólias, no conjunto florestal e não das espécies que perdem as folhas individualmente,
situa-se entre 20 e 50%.
O mesmo IBGE, estabeleceu critério com finalidade exclusiva de propiciar o
mapeamento contínuo de grandes áreas foi o de faixas altimétricas, utilizando também as
43

formações vegetacionais precedentes, como por exemplo: a formação aluvial está sempre
presente nos terraços mais antigos das calhas dos rios; a formação de terras baixas ocorre
estre 5 e 100 metros de altitude entre os 4o de latitude Norte e os 16o de latitude Sul, de 5 a 50
metros quando localizados nas latitudes de 16o a 24o Sul e de 5 a 30 metros nas latitudes de
24o a 32o Sul; a formação submontana situa-se numa faixa altimétrica que varia de 100 a 600
metros de acordo com a latitude de 4o Norte até 16o Sul, de 50 a 500 metros entre 16o até os
24o de latitude Sul e de 30 a 400 metros após os 24o de latitude Sul; a formação montana
situa-se na faixa altimétrica que varia de 600 a 2000 metros de altitude entre 4o de latitude
Norte e 16o de latitude Sul, de 500 a 1500 metros entre 16o e 24o de latitude Sul e de 400 a
1000 metros entre 24o e 32o de latitude Sul.
Para LEITE & KLEIN (1990), o fenômeno da semidecidualidade estacional é adotado
como parâmetro identificador desta região por assumir importância fisionômia marcante,
caracterizando o estrato superior da floresta. Para descrever esta região e a dinâmica
sucessional das comunidades, dentro das suas formações vegetais, é conveniente buscar
apoio em hipóteses que se ajustem à sua complexa realidade fitossociológica.
Como dizia RAMBO (1956 a) apud LEITE & KLEIN (1990), ¨a vegetação é o
espelho do clima¨ e o clima não atua de forma compartimentada, estanque. Para entender a
fitossociologia de uma região, não podemos encarar isoladamente, não podendo ser alheio à
hipótese da evolução climática, isto é, ignorando conhecimentos paleoclimáticos já evocados
para auxiliar o entendimento dos fenômenos fitossociológicos e de repartição da flora de
outras regiões fitoecológicas.

10.2. Floresta Estacional Semidecidual Submontana

A formação frequentemente ocorre nas encostas interioranas das Serras da


Mantiqueira e dos Órgãos e nos planaltos centrais capeados pelos Arenitos Botucatu, Bauru e
Caiuá dos períodos geológios Jurássico e Cretáceo. (IBGE, 1992)
O IBGE relata que a ocupação vai desde o Espírito Santo e sul da Bahia até o Rio de
Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, norte e sudoeste do Paraná e sul do Matograsso do Sul, os
gêneros dominantes com indivíduos caducifólios, são os mesmos que ocorrem na Floresta
Ombrófila Atlântica, como Cedrela, Parapiptadenia e Cariniana, sendo que nos planaltos
areníticos os ecótipos deciduais que caracterizam esta formação pertencem aos gêneros
Hymenaea, Copaifera, Peltophorum, Astronium, Tabebuia dentre muitos outros. Contudo o
gênero dominante, principalmente no planalto paranaense e no oeste do Estado de São Paulo,
é Aspidosperma, com seu ecótipo Aspidosperma polyneuron (peroba-rosa), Figura 26.
44

FIGURA 26: Aspidosperma polyneuron (peroba-rosa), espécie emergente na Floresta


Estacional Semidecidual Submontana.
O solo da porção norte do Parque Estadual Mata dos Godoy, Londrina-PR, segundo
boletim técnico da EMBRAPA (1984) apud SILVA (1990), pertence ao tipo Terra Roxa
Estruturada Eutrófica moderada textura argilosa, relevo suave ondulado e ondulado.
Caracteriza-se como solo mineral, não hidromórfico, com B textural, com argila de baixa
capacidade de troca de cátions e rico em alumínio, formado a partir dos produtos de
meteorização de rochas eruptivas básicas do derrame do Trapp, do grupo São Bento, do
Jurássico-Cretáceo.
No inventário das espécies arbóreas da porção norte do Parque Estadual Mata dos
Godoy, foram amostrados 1417 indivíduos/ha, reunidos em 100 espécies, 63 gêneros e 36
famílias, não foi possível a identificação de uma estratificação bem definida para o
componente árboreo, no entanto dois níveis de composição são possíveis de serem
destacados. Um reúne os elementos componentes do sub bosque, em outro aparecem os
elementos emergentes, os quais participam da formação do dossel. Destacam-se as espécies
emergentes como: Apidosperma polyneuron (peroba-rosa), Ficus luschnnatiana (figueira-
branca), Galesia gorarema (pau d’alho), Alchornea glandulosa e Machaerium minutiflorum
(tapiá), Tetrorchidium rubrivenium (canemão), Anadenanthera colubrina (angico), Syagrus
romanzofflana (gerivá) e Casearia gossyplosperma (guaçatunga).
O sub bosque é constituído por elementos bastante característico quanto sua forma e
tamanho, na maioria de pequenas alturas, não chegando a 8 metros, sendo composto pelas
seguintes espécies: Trichilia elegans (pau-de-ervilha), Actinostemon concolor (laranjinha-do-
mato), Solanum argenteum (joá-manso), Sorocea bonplandii (cincho), Mollinedia clavigera,
Picramnia ramiflora, Cestrum intermedium (coerana), Justicia brasilliana (junta-de-cobra-
vermelha) e Prockia crucis.
Espécies que compõem o sub bosque e o dossel, existem outras que intermedeiam
esses dois níveis, integrando, muitas vezes algum deles ou mesmo ambos, não sendo no
entanto exclussivas de nenhum, podemos destacar as seguintes espécies: Croton floribundus
(capixingui), Nectandra megapotamica (canela-preta), Cabralea canjerana (canjerana),
Holocalyx balansae (alecrim), Balfourodendron riedelianum (pau-marfim), Cedrela fissilis
(cedro), Bougainviliea spectabilis (primavera), Ocotea silvestris (canela), Campomanesia
xanthocarpa (guabiroba), Chorisia speciosa (paineira) e Myrocarpus frondosus (cabreúva),
sendo característica das espécies a grande amplitude de altura.
45

Dentre as espécies relacionadas, existem algumas de ocorrência extremamente rara,


como: Campomanesia eugenioides, Citronella megaphylla, Heliocarpus copayanensis,
Coudenbergia warmingiana e Cinnamomum sellowianum.
Nos levantamentos realizados, a família de maior densidade foi a Meliaceae, seguida
das Euphorbiacea, Lauraceae, Arecaceae, Myrtaceae, Apocynaceae e Mimosaceae. A
Aspidosperma polyneuron (peroba), foi a espécie que apresentou o maior valor de
dominância, seguida por Ficus luschanatiana, Croton floribundus, Galesia gorarema,
Nectandra megapotamica, Alchornea glandulosa, Cabralea canjerana e Euterpe edulis. Com
relação ao indíce de valor de importância as espécies mais importantes, em ordem decrescente
são: Aspidosperma polyneuron, Euterpe edulis, Croton floribundus, Trichilia claussenii,
Nectandra megapotamica, Cabralea canjerana, Ficus luschnatiana, Actinostemon concolor,
Galesia gorarema e Inga marginata.
BORGO (1999), ao realizar a caracterização do componente arbóreo de um
remanescente de Floresta Estacional Semidecidual Submontana no Parque Estadual de Vila
Rica do Espírito Santo, localizado em Fênix-PR, registrou na sua amostragem 1550
indivíduos, distribuídos em 36 famílias e 83 espécies. A família mais rica em espécies foi a
Lauraceae, seguida das Meliaceae, Myrtaceae, Fabaceae e Mimosaceae, as quais concentram
36% das espécies amostradas.
Nos levantamentos realizados pela autora, a Gallesia integrifolia foi a espécies mais
importante na amostra (VI = 42,79), seguida por Euterpe edulis (VI = 33,98), Sorocea
bonplandii (VI = 30,78) e Guarea kunthiana (VI = 24,47). A primeira apresentou altos
valores de dominância (32,98 %), 4,3 vezes superior à segunda colocada neste parâmetro, o
Euterpe edulis (7,62 %). A Cabralea canjerana, embora com baixa densidade e frequência,
foi a terceira em dominância (7,02 %), apresentando indivíduos de porte elevado, da mesma
forma que a Gallesia integrifolia.
No sub bosque destacou-se a Sorocea bonplandii, sendo um dos componentes mais
frequentes neste estrato e com maior densidade na área, acompanhando esta espécie
apareceram também o Citrus sinensis, Trichilia catigua, Eugenia moraviana e Trichilia
palida. As espécies com representantes emergentes foram Gallesia integrifolia, Aspidosperma
polyneuron, Ocotea diospyrifolia, Cabralea canjerana, Alchornea glandulosa, Ficus insipida
e Ficus sp. A ocorrência de lianas é muito expressiva (32 espécies). As epífitas são menos
frequentes que as lianas na área, sendo representadas por 20 espécies. As espécies com hábito
trepador, como Byttneria australis e a Pisonia aculeata, bem como outras Mimosaceae foram
as mais frequentes, distribuindo-se nos diversos estratos da floresta, desde próximo ao solo
até a copa das espécies arbóreas emergentes.

11. Sistema Secundário


(sucessão natural)

A sucessão segue um ritmo natural, chamando-se de vegetação secundária, que surge


após o abandono, instalando-se inicialmente um processo pioneiro de colonização do solo.
Podem ser classificadas em cinco fases.
A fase inicial (primeira fase), sugere uma ¨regressão ecológica¨, esta fase é colonizada
por hemicriptófitos pioneiros, bastante primitivos, como é o caso da pteridófita Pteridium
aquilinum, que possui distribuição mundial, e da Gramineae Imperata brasiliensis, as quais
praticamente reiniciam o processo de formação do horizonte orgânico do solo. Durante esta
fase que começa o aparecimento das primeiras teófilas e caméfitas.
O Pteridium sp (samambaia das taperas), são característico de áreas onde o solo
chegou a exauridão, sendo na maioria das vezes abandonado. As folhas desta espécie levam
cerca de 20 anos para se decompor, as mesmas possuem uma característica nutricional muito
46

baixa, não ajudando na melhoria das condições nutricionais do solo, desencadeando um


processo de retardo na recuperação natural da área.
Não necessitando passar pela primeira fase, a segunda fase depende do estado em que
foi abandonado o terreno após o cultivo, fase a qual se denomina de capoeirinha. Apresenta
hemicriptófitos, graminóides, caméfitos rosulados e nanofanerófitos de baixo porte, como
exemplo as gramíneas do gênero Paspalum, Solanaceae (Solanum), Compositae (Mikania e
Vernonia), dentre muitas outras. Aparecem plantas lenhosas o Baccharis (Compositae),
Leandra, Miconia e Tibouchina da família das Melastomataceae, que geram alterações
microclimáticas e pedológicas necessárias ao estabelecimento de espécies arbóreas das fases
posteriores.
Em uma fase mais avançada, encontra-se dominada pelo gênero Baccharis,
apresentando poucas caméfitas herbáceas e muitas plantas lenhosas ou sub lenhosas,
denominando-se de terceira fase ou ¨capoeira rala¨, Veloso (1945), apud IBGE (1992). As
plantas neste estágio, apresentam médio porte, com alturas excepcionalmente de até 3 metros,
bastante espaçadas entre si, onde algumas espécies Vernonia começam a substituir o
Baccharis.
Ao observarmos a Figura 27, podemos perceber o número de estratos 1 (um), número
de espécies 1(um) a Tibouchina sp, ponto de inversão morfológico baixo, não possui a
ocorrência de epífitas, não possui cipós, possui muita luz, ambiente pouco diversificado,
muito aberto, apresentado diâmetros mais ou menos iguais, pode-se classificar como uma
capoeira ou fase inicial.

FIGURA 27: Terceira fase na sucessão natural com apenas um estrato com a Tibouchina sp.

A área acima classificada como capoeira deve ter sido abandonada dos cultivos
agrícolas, em função da queda de nutrientes no solo, ou sofreu corte raso, sendo a segunda
menos provável em função da não observância de rebrotes de indivíduos que anteriormente
possam ter ocupado esta áreas ou tocos. Normalmente na fase de capoeira o acesso e difícil,
em função do emaranhado de cipós herbáceos, muita taquara, geralmente na fase inicial a
dispersão das sementes ocorre ação dos ventos.
Em locais onde por ocasião de ter existido atividade agrícola, o horizonte superficial
(com matéria orgânica), foi erodido, ou grande parte erodida, os processos sucessionais
tornam-se extremamente lentos, caso tiver solos com o perfil conservado, preferencialmente a
parte superior, todos os processos se dariam com muito mais velocidade, dependendo do
sítio.
A quarta fase, denominada segundo Veloso (1945) apud IBGE (1992), de ¨capoeira
propriamente dita¨, e dominada por microfanerófitos com até 5 metros de altura. Nos estados
do Paraná e Santa Catarina, nas áreas montanhosas dominam nas encostas ora Tibouchina
pulchra (enquanto que nos brejos sobressai a Tibouchina multiceps) ora a Miconia
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cinnamomifolia. Existem outras associações mais complexas dependentes de cada tipo de solo
e das situações geográficas. As espécies que se estabeleceram no sub bosque da fase anterior
alcançam o dossel e substituem as espécies arbóreas pioneiras de curta longevidade,
originando uma diversidade florística maior e uma fisionomia mais heterogênea, já é
perceptível a formação de um segundo estrato arbóreo, começando a surgir epífitas,
favorecidas pela modificação microclimática do interior.
Dominada por mesofanerófitos, com plantas que ultrapassam 15 metros de altura, a
quinta fase é eminentemente lenhosa, sem plantas emergentes, bastante uniforme quanto a
altura dos elementos dominantes. Podem ser observados muitos indivíduos do clímax
circundante, é uma comunidade denominada popularmente como ¨capoeirão¨, Veloso (1945)
apud IBGE (1992). Pela dinâmica sucessional, a vegetação aproxima-se a fisionômia,
estrutura e floristicamente das formações primárias. Há pelo menos três estratos arbóreos
definidos e a presença de lianas e epífitas é expressiva.
Podemos observar na Figura 28, um capoeirão, o qual encontra-se bastante
antropisada. Ressalta-se que a colonização de vegetação secundária e uma questão de
oportunismo, da época e do tempo de uso do solo, no caso a predominância e a Vochysia
bifalcata (guaricica), a qual possui um crescimento bastante rápido (madeira clara, fácil de
trabalhar, não durável) e um comportamento bastante interessante no litoral Paranaense, o de
colonizar determinadas fases de sucessão, podendo estabelecer-se primeiro, sendo apenas uma
questão de oportunidade, poder estar associada com outras espécies com o Tibouchina

pulchra (jacatirão).

FIGURA 28: Capoeirão bastante antropizado, com predominância de Vochysia bifalcata


(guaricica).
Em uma área datada de 12 anos, os guaricicais possuíam em torno de 40 cm de
diâmetro, estima-se que Eucalyptus sp melhorados regulariam com a guaricica, salienta-se
aqui o potencial que a mesma possui, visto a mesma possuir potencial para consorciação com
outras espécies, como o palmito, necessitando apenas de estudos de melhoramento da espécie,
para que possa ser explorada e plantada com fins comerciais.
Quando se chega numa fase mais avançada, maior amplitude de diâmetro, estrutura
mais ou menos formada, temos estratificação, com o dossel fechado (permitindo pouca
entrada da luz solar), abaixo do dossel possui grande quantidade de arvoretas, estratos bem
diferenciados, sub bosque, onde a maior diversidade de espécies vai estar no estrato superior e
médio e a menor diversidade no sub bosque, talvez o sub bosque tenha muito mais espécies
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do que na fase inicial do processo. Pode-se exemplificar numa Floresta com Araucária, o 1o
estrato e o mais simplório deles, com apenas a Araucária e uma ou outra Lauraceae, o estrato
imediatamente abaixo e que possui maior diversidade. Numa fase inicial ou intermediaria
onde se tem a menor diversidade e no dossel e a maior diversidade e nos estratos
intermediários.
Segundo anotações de aula (2000), podemos classificar uma formação vegetal como
floresta baseado nos seguintes parâmetros:
- Estratificação - em florestas observamos mais de um estrato, podendo ser constituída
pelo dossel, primeiro estrato, segundo estrato e o sub bosque.
- Fase sucessionais – pode estar em diferentes fases, inicial, intermediária, avançada
ou ainda numa fase de estabelecimento que não chegou a secundária, também existe a fase de
floresta primária.
- Amplitude em diâmetro – ao relacionarmos os diâmetros menores e árvores mais
grossas, observando-se também o porte dos indivíduos.
- Nível de epifitismo - por exemplo, o manguezal praticamente não possui epífitas,
elas vão se intensificando a medida que passa de uma formação pioneira para o conceito de
uma floresta (não sendo uma fase inicial).
- O ponto de inversão (PI), serve para diagnosticar se um indivíduo chegou
(estabeleceu-se) depois daqueles que estão em torno dele, como para verificar se um ambiente
e recente ou antigo, acaba-se sempre fazendo um resgate histórico da área. Pode-se classificar
como ponto de inversão também, aquele ponto em que a árvore vai crescendo em busca de
luz, quando ela acha, abre a copa e muda sua forma de crescimento.
Tanto para sucessão primária, como para a secundária os índices desses parâmetros
são os mesmos, lembramos de densidade, a idéia e de que as áreas mais jovens em formação
tenham uma alta densidade. Se quantificar a restinga, por exemplo, ela pode ter um número
grande de indivíduos do que uma floresta, pelas seguintes razões: qualquer ecossistema,
principalmente os empobrecidos, como o exemplo (restinga), até pouco tempo só existia areia,
sem nenhuma condição nutricional boa, somente o tempo determinou a possibilidade desta
vegetação se estabelecer, pela entrada de nutrientes pelas chuvas, fixação de biomassa, para
que a vegetação pudesse se estabelecer.
Jamais uma espécie pioneira vai se estabelecer no interior de uma floresta, porque o
ambiente não possui mais a condição para o estabelecimento da espécie, outras espécies
numa fase mais avançada do processo se estabelecerão. As sementes da fase inicial possuem
uma vida longa, podendo ficar anos embaixo dos solos, já no interior de florestas em fase
avançada, as sementes são grandes e de vida curta, caiu no solo vão germinar.

12. Classificação das Formas de Vida


Segundo o IBGE (1992), a classificação baseada em RAUNFIAER foi adaptada às
condições brasileiras, classificando as formas de vida em:
Fanerófitas: plantas lenhosas com gemas e brotos de crescimento protegidos por
catafilos, situados acima de 0,25 metros do solo. Subdividem-se conforme a altura média.
Macrofanerófitos: são plantas de alto porte, variando de 30 a 50 metros.
Mesofanerófitos: plantas de médio porte, variando entre 20 e 30 metros.
Microfanerófitos: plantas de baixo porte, variando entre 5 e 20 metros.
Nanofanerófitos: plantas anâs. Raquíticas, variando entre 0,25 a 5 metros de altura,
ocorrendo em áreas campestres.
Caméfitos: plantas sublenhosas e/ou ervas com gemas e brotos de crescimento
situados acima do solo, atingindo até 1 metro de altura e protegidos durante o período
desfavorável, ocorrem preferencialmente nas áreas campestres pantanosas.
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Hemicriptófitos: plantas herbáceas com gemas e brotos de crescimento protegidos ao


nível do solo pelos céspedes que morrem na época desfavorável, ocorre em áreas campestres.
Geófitos: plantas herbáceas com órgãos de crescimento (gema, xilopódio, rizoma ou
bulbo), situados no subsolo, estando protegidos, ocorrem preferencialmente nas áreas
campestres, algumas vezes em áreas florestais.
Terófitos: plantas anuais, onde o ciclo vital é completado por sementes que
sobrevivem à estação desfavorável, ocorre exclussivamente em áreas campestres.
Lianas: plantas lenhosas e/ou herbáceas reptantes (cipós), com gemas e brotos de
crescimento ocorrendo acima do solo, ocorrem exclussivamente em áreas florestais.
Xeromórfitos: plantas lenhosas e/ou herbáceas que apresentam duplo modo de
sobrevivência ao período desfavorável, um subterrâneo e outro áereo, com gemas e brotos de
crescimento protegidos por catafilos. Plantas apresentam alturas variáveis desde 0,25 até 15
metros, ocorrendo frequentemente nas áreas de savanas do Centro-Oeste brasileiro.

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