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GF 507 - CARTOGRAFIA TEMÁTICA


TEXTO 1
Crampton, J.W. – What is critical cartography and GIS? In: Mapping: a critical
introduction to cartography and GIS, pp.39-48. Wiley Blackwell, 2010.

Tradução das principais ideias do texto

“A cartografia não é o que os cartógrafos nos contam que é”. (Brian Harley)

O axioma de Harley postado acima, afirmando que a cartografia não é o que os


cartógrafos nos contam que é, pode muito bem resumir algumas das ideias essenciais
subjacentes à cartografia e aos SIG críticos. Como o trabalho de Harley pode ajudar-nos
a entender o impacto da cartografia crítica? Eu sugeriria que uma boa definição de
mapeamento crítico é aquela que traz à tona o questionamento das coisas. Entre as coisas
mais importantes a serem questionadas está a afirmação de que a disciplina de cartografia
é uma ciência que avança na solução de um problema após o outro, como afirmou Arthur
Robinson.
O mapeamento crítico investiga a relação do conhecimento com o poder. Quais
são então as concepções ocultas, que ajudam a governar o conhecimento? Ou então, quais
racionalidades estão em jogo? (...) São as racionalidades que moldam e formam o sujeito
do mapa, ou seja, como o mapa ajuda a oprimir, subjugar ou sujeitar indivíduos e
populações (Wood; Krygier, 2009).
Observar a relação entre poder e conhecimento não é considerar apenas que
conhecimento seja poder, mas também, afirmar que, o que sabemos é influenciado pelas
relações de poder. Devemos ter em mente que o conhecimento pode nem sempre se
manifestar de forma despolitizada, pois o conhecimento está imerso nas relações de
poder.
A palavra disciplina tem mais que apenas um significado; ela também significa a
prática do ato de aprender, mantendo-se o controle e a ordem – o que, em outras palavras,
significa poder. Tal ordem e controle é o que o mapeamento crítico tenta desconstruir:
De que forma isto está ordenado? Quem é beneficiado por isto? É possível conceber
mapeamentos que estejam fora do controle da disciplina predominante?
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Indisciplinando o mapeamento

Nos últimos anos a cartografia tem escapado do controle das poderosas elites que
a têm dominado por várias centenas de anos. Provavelmente você já tenha notado isto a
partir da emergência dos aplicativos de mapeamento fantasticamente populares, entre
eles, o Google Earth. As elites – desde os especialistas em mapas, as grandes mapotecas
do ocidente, os governos locais e nacionais, as grandes empresas de SIG e de
mapeamento, e até as academias – têm sido confrontados por duas importantes tendências
que ameaçam minar a dominância desta elite.
Primeiramente, como o Google Earth já tem mostrado, os negócios relacionados
à produção de mapas, coleta de dados espaciais e mapeamento, têm escapado das mãos
dos especialistas. A habilidade de fazer um mapa agora está disponível a qualquer pessoa
que possua um computador pessoal e uma conexão de internet por banda larga. A mais
recente transição tecnológica da cartografia (Monmonier, 1985; Perkins, 2003) não é
somente uma questão tecnológica, mas, uma mistura de ferramentas colaborativas de
códigos abertos (open source), aplicativos de mapeamentos móveis e internet
geoespacial.
A segunda tendência, que também se tem sido observada, se refere à crítica
teórico-social sobre o mapeamento na era do pós-guerra. Durante os últimos 50 anos ou
mais, a cartografia e o SIG têm tido como principal ambição, se esforçarem em produzir
mapas como documentos científicos. A cartografia crítica, por outro lado, entende que o
ato de mapear está embutido nas relações específicas de poder. Isto é, o mapeamento está
envolvido em o que escolhemos para representar, como escolhemos representar objetos e
pessoas, e que decisões são tomadas com estas representações. Este é um processo
político, do qual tem aumentado o número de participantes. Se o significado de mapa é
reivindicado como conjunto específico de relações entre poder e conhecimento, então,
não apenas o estado e as elites, mas todos nós também poderíamos fazer afirmações
igualmente competitivas e poderosas sobre seu significado (Wood, 1992).
A cartografia crítica opera de baixo para cima, de maneira difusa, sem o controle
de cima para baixo, e não necessita de aprovação de especialistas para desenvolver-se. É
um movimento que está em andamento, independente de que esteja envolvida a
necessidade de aprovação ou não da disciplina acadêmica de cartografia (Wood, 2003).
É neste sentido que a cartografa está sendo libertada do confinamento da academia, e
tornando-se acessível a todas as pessoas.
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O que é um mapa? Por que não podemos defini-lo, e porque isto não
importa?

Se cartografia não é o que os cartógrafos nos contam que o mapa supostamente


possa ser, então, o que é exatamente um mapa? Uma definição oficial e típica é aquela
que afirma que o mapa é uma representação gráfica do espaço (Associação Cartográfica
Internacional, ICA). Esta definição é correta, mas conta-nos pouco sobre a forma como
os mapas são utilizados.
Se a crítica examina os pressupostos de um determinado campo do conhecimento,
então, uma crítica fundamental do mapa seria examinar cuidadosamente sua definição.
Por exemplo, o conceito de mapa seria aquele invariante entre culturas, idade, sexo etc.?
Em um experimento simples, conduzido por Roger Downs em sua aula introdutória de
geografia humana, ele conseguiu apresentar algumas coisas muito interessantes sobre
mapas. Neste experimento, Downs mostrou um determinado número de imagens aos seus
alunos, compostas de figuras retiradas de livros texto de geografia, fotografias aéreas,
mapas históricos, e assim por diante. Para cada imagem, cada pessoa teve que responder
“sim, isto é um mapa”, “não, isto não é um mapa” ou “não sei”. Os resultados mostraram
o seguinte:
1) Em um determinado grupo, algumas imagens foram quase sempre vistas como
mapas, algumas quase sempre não foram vistas como mapas, e algumas imagens
foram algumas vezes vistas como mapas;
2) O grau, segundo o qual uma pessoa concordou que uma imagem era um mapa,
aumentou com a idade.

A primeira conclusão do experimento mostrou que as pessoas possuem uma ideia


central sobre o que significa mapa (tipicamente os mapas em pequena escala ou mapas
globais encontrados em livros texto). São estes tipos de mapas que vem à mente quando
alguém fala sobre mapa e SIG. Existem também um número de imagens que são quase
universalmente rejeitadas como mapas, tais como fotografias aéreas e, frequentemente,
os mapas históricos.
A segunda conclusão do experimento indica fortemente que nossa compreensão
sobre mapas é uma resposta apreendida, porque, a medida em que adquirimos mais
experiência com a ampla variedade de formas de mapas, mais propensos estaremos a vê-
los como mapas. Crianças possuem uma concepção muito limitada do significado de
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mapa, devido a experiência e entendimento mais limitados delas em relação à


representação simbólica. Por exemplo, as crianças frequentemente confundem escalas ou
são incapazes de separar o símbolo do mapa de um objeto real (elas pensam que a estrada
deve ser vermelha, porque ela está traçada em vermelho no mapa). A medida em que
ficamos mais velhos o conceito de mapa se expande, embora a habilidade com o
mapeamento varie individualmente.
Se queremos responder à questão “o que é um mapa?”, então devemos começar
reconhecendo que ele é um conhecimento culturalmente aprendido. Não somente isto,
mas, as habilidades necessárias para compreender o mapa são aprendidas por meio de um
esforço de entendimento. Liben e Downs (1989) usam a palavra “perceber” para captar
este sentido de esforço; perceber no sentido de tornar real, isto é, os mapas percebem o
mundo, e, também, perceber no sentido de ganhar o entendimento (Ah! Agora eu
percebi!). Estes autores contrastam a posição comumente aceita, de que os mapas são
opacos, ao sentido de que os mapas são transparentes, isto é, vemos através dos mapas a
paisagem subjacente (Downs e Liben, 1988). É como o poeta e místico iraniano diz: “fale
uma nova língua, então este mundo será um novo mundo”.
A concepção de mapa varia significativamente entre diferentes grupos culturais.
Os mapas são, então, parte do conhecimento cultural que adquirimos por estarmos
imersos em uma sociedade. Tanto nossas expectativas sobre mapas (como eles devem
ser, como usá-los), quanto o conhecimento que eles produzem, estão profundamente
relacionados a determinada cultura e aos seus limites de poder.

A Produção do espaço

Considere a palavra representação na definição da ICA. A cartografia crítica


questiona o que quer dizer “representação”, uma questão que frequentemente aparece na
filosofia, nos estudos culturais, assim como, na geografia (Thrift, 2006). Isto porque,
“representação” naturalmente parece implicar que alguma coisa já existe a priori do ato
de mapear (o espaço ou paisagem mapeados). Existe uma paisagem fora dali (fora do
mapa), que é capturada segundo alguma maneira “representativa” pelo mapa. Mesmo que
concordemos que a paisagem não seja um mapa, os mapas deixam de fora, criativamente,
detalhes, como Monmonier escreveu: “não somente é fácil mentir com mapas, é
essencial” (Monmonier, 1991). A paisagem vem primeiro, e, como uma pintura ou uma
fotografia, captamos os elementos essenciais dela para nossa representação.
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Os cartógrafos críticos, por outro lado, argumentam que o mapeamento cria


significados e conhecimentos espaciais específicos, por meio da identificação,
nomenclatura (toponímia), classificação, exclusão e ordenamento ou organização. A
definição de mapa da ICA, como representação gráfica, não exclui este significado, mas
nem tampouco enfatiza-o. Além disso, uma vez que estas categorias são postas em
questão, elas podem ser utilizadas para exercer o poder e controlar coisas e pessoas.
O mapeamento cria conhecimento, assim como, a reflexão deste conhecimento.
Os cartógrafos críticos não argumentam que o espaço físico seja produzido pelo processo
de mapeamento, mas sim, que novas maneiras de pensar sobre o espaço e de tratar o
espaço são produzidas. “Espaço”, neste contexto, não é uma questão de disposição
material e física (embora seja isto), mas também a constituição dos objetos. Para a
cartografia crítica, o mapeamento não é apenas a reflexão da realidade, mas também, a
produção de conhecimento, e, portanto, verdade.
Por exemplo, quando Colombo desembarcou em 12 de outubro de 1492, ele
carregava consigo (ou tinha visto) um mapa ou um globo. Obviamente, Colombo
desconhecia o continente americano, mas, contrariamente à mitologia popular, ele sabia
que o mundo era redondo. Ele se baseou em antigos escritos geográficos produzidos por
Aristóteles e Ptolomeu, que já haviam tentado estimar o tamanho do globo, e já tinham
mapeado algumas áreas dele. O plano de Colombo era navegar em direção a oeste, para
a Índia e China, a fim de estabelecer novas rotas de negócios, mas, também, converter
habitantes ao catolicismo, a pedido do rei Ferdinando e a rainha Isabella, que financiaram
sua viagem.
Harley (1992b) mostrou que Colombo renomeou, com nomes cristianizados, ilhas
e lugares já nomeados pelos indígenas da tribo Sarawak. Então, o lugar onde ele
desembarcou passou a ser chamado de San Salvador, outras ilhas se tornaram Santa
Maria de la Concepción, Trinidad, e assim por diante. O seu barco foi chamado de Santa
Maria, e ele se auto intitulou Christoferens, ou, o portador do cristianismo. O cartógrafo
de Colombo, Juan de la Cosa, fez um mapa interessante destas descobertas, colocando os
novos nomes religiosos neste mapa.
Ao reinscrever novas identidades nestes locais, especificamente com nomes
cristãos ocidentais, Colombo efetivamente criou um espaço compatível com as crenças
cristãs, o que permitiu que este espaço fosse governado e controlado. Como observou
Harley:
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A proposta do mapa de Juan de la Cosa é a de claramente sinalizá-lo como um


instrumento do império europeu. Neste mapa, bandeiras nacionais da Espanha e da
Inglaterra são implantadas para reivindicar a posse dos novos territórios. O mapa
também proclama uma cruzada. A bússola, em rosácea, mostra a Sagrada Família sobre
a linha do Equador. A figura de São Cristóvão é uma alusão a Colombo carregando o
menino Jesus em seus ombros, como o portador do cristianismo através do oceano, em
direção às costas pagãs do Novo Mundo.

Este é um episódio clássico na história da cartografia e do colonialismo.


Demonstra que mapas produzem espaços, muito mais do que registram espaços. Isto é,
literalmente, “mapear ou ser mapeado” (Bryan, 2009; Stone, 1998).

Referências

Bryan, J. (2009) - Where would we be without them? Knowledge, space and power in
indigenous politics. Futures 41:24-32.

Downs, R. M.; Liben, L. S. (1988) - Through a map darkly: understanding maps as


representations. Genetic Epistemologist 16: 11-18.

Harley, J. B. (1992b) – Rereading the maps of the Columbian encounter. Annals of the
Association of American Geographers 82(3):522-542.

Liben, L. S.; Downs, R. M. (1989) – Understanding maps as symbols: the development


of map concepts om children. In H. Reese (ed.), Advances in child development and
behavior, 22:145-201, New York, Academic Press.

Monmonier, M. (1985) – Technological transition in cartography. Madison, WI:


University of Wisconsin Press.

Monmonier M. (1991) – How to lie with maps. Chicago: University of Chicago Press.

Perkins, C. (2003) – Cartography: mapping theory. Progress in Human Geography


27(3):341-351.

Stone, M. (1998) – Map or be mapped. Whole Earth, 94:54-55.

Thrift, N. (2006) – Non-representational theories. London: Routledge.

Wood, D. (1992) – The power of maps. New York, Guilford Press.

Wood, D.; Krygier (2009) – Critical cartography. In: N. Thrift and R. Kitchen (eds.), The
international encyclopedia of human geography, New York and London: Elsevier.

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