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medicina. Por ser mais interativo que os outros consoles, ele permite a
utilização em estudos de motricidade, fisioterapia e geriatria.
Videogames entram na
medicina e tratam de
depressão a tetraplegia
Jogos ajudam a 'treinar' o organismo a
funcionar corretamente.
Resultados são mais rápidos, e pacientes
sentem menos dor.
Marília Juste Do G1, em São Paulo
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O game que Rigon joga é parte de um programa chamado “biofeedback”, que surgiu
como técnica psicoterápica para a promoção de uma mudança de comportamento. Hoje,
o biofeedback rompeu fronteiras e é utilizado tanto como um auxiliar à clínica médica
como fora dela -- por exemplo, para ajudar equipes esportivas a melhorar seu
desempenho. Nele, eletrodos colocados em partes-chave do organismo ajudam o
paciente a entender como o movimento funciona e como recuperá-lo.
Tetraplégico desde os 21 anos, ele já cruzou duas vezes os quase três mil quilômetros
que separam Ariquemes, em Rondônia, onde mora, de São Paulo, onde passa por
sessões de biofeedback na fisioterapia. “Descobri músculos que, para mim, eu tinha
perdido”, afirma Rigon.
Com sessões diárias por cerca de um mês, o veterinário conseguiu recuperar parte dos
movimentos, por exemplo, do tríceps. Ele, que tinha dificuldade para locomover sua
cadeira de rodas e já tinha deixado de dirigir por falta de força nos braços, voltou ao
volante após a terapia e hoje até corre de kart, em um modelo adaptado.
A psicóloga Dirce Perissinotti, uma das pioneiras do biofeedback no país, explica como
ele funciona. “O aparelho se conecta ao indivíduo e transmite uma mensagem do corpo,
que não temos consciência, para um computador. Ele traduz essa imagem para uma
atividade prazerosa – para que o indivíduo possa entender o seu funcionamento
interno”. Essa “atividade prazerosa”, na prática, é um joguinho de computador – mas
controlado pela mente.
Dirce fez uma demonstração de como funciona essa técnica, simulando como seria o
biofeedback aplicado a um paciente com depressão clínica. Nesse caso, a máquina lê a
atividade elétrica do cérebro da pessoa. O paciente é, então, convidado a realizar uma
atividade – no nosso teste: manter uma música tocando. Confira no infográfico abaixo.
Entenda o que é e como tratar a depressão clínica
No caso de Michael, os eletrodos são colocados no músculo que ele movimenta, mas o
resto é bastante parecido. Ao realizar a tarefa proposta na tela, ele, sozinho, descobre a
melhor maneira de alcançar os resultados que deseja. Quase inconscientemente, ele
acaba voltando a mexer partes do corpo que estavam imóveis.
O jogo escolhido varia de pessoa para pessoa e de doença para doença. Em alguns
casos, o que o médico procura é estimular a atividade elétrica em uma região específica
– mas, em outros, a intenção é diminuir essa atividade (como por exemplo, quando o
objetivo é tratar um transtorno de ansiedade).
Jogos tradicionais
O biofeedback é um jogo especial, desenvolvido exclusivamente para a aplicação
médica. Mas outros games convencionais, com equipamentos que você encontra em
qualquer loja de eletroeletrônicos, também estão entrando nos hospitais. Em Santa
Catarina, o médico geriatra André Junqueira Xavier utiliza jogos online para tratar
idosos com problemas de memória. Em Israel, o cirurgião plástico Josef Haik usa um
Playstation 2 para tratar vítimas de queimaduras.
“Nosso organismo é feito para responder a estímulos e para se adaptar a eles. Quando
usamos um videogame de forma a estimular uma área específica do organismo, ele pode
ajudar a consertar um funcionamento errado”, explica Xavier, que trabalha na
Universidade do Sul de Santa Catarina e fez sua pesquisa com os videogames em seu
doutorado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Em seu trabalho, Xavier forneceu jogos online simples (como “Tetris” e palavras
cruzadas) para idosos. “Cada jogo foi escolhido de acordo com o problema de memória
que cada pessoa tinha. O mais complexo que usamos foi o ‘The Sims’”, explica o
médico.
Ainda não é possível afirmar, com certeza, que o que ele fez pode evitar o surgimento
da doença degenerativa. “Isso o futuro que vai dizer. O que podemos afirmar é que os
videogames estimulam a área do cérebro que cuida da memória e que isso pode ter um
efeito protetor”.
Queimaduras
O trabalho do israelense Haik também usa videogames, mas para um objetivo diferente:
ajudar na recuperação e na cicatrização de vítimas de queimaduras graves.
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O trabalho dele na Universidade de Tel Aviv começou em uma imensa sala de realidade
virtual. Os custos do programa, no entanto, eram muito altos e o médico optou por uma
alternativa mais barata: o videogame.
Haik passou a utilizar um Playstation 2 com uma câmera chamada “EyeToy”, capaz de
fazer imagens do usuário e de as inserir diretamente no jogo, dispensando o uso de
controles. “O EyeToy é uma tecnologia bem simples, que existe há anos, que permite
que o paciente jogue sem precisar tocar em nada”, explica o médico.
Os jogos utilizados, nesse caso, também foram simples, como pingue-pongue e boliche.
“ É parecido com o Nintendo Wii, mas você usa o seu corpo para jogar e não um
controle”, afirma Haik.
A principal vantagem: o jogo distrai a pessoa e diminui a dor. “Na fisioterapia, o
paciente fica concentrado apenas no movimento que está fazendo. Isso faz com que ele
preste bastante atenção na dor. No videogame, eles se concentram no jogo e sua
preocupação é ter um bom resultado. Com isso, percebem menos a dor”, diz ele.
(Esta reportagem estava programada para ser publicada no fim de semana passado
como anunciado na sexta-feira (24) , mas foi reagendada para esta terça-feira (28).)