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www.revistaconexaolit . — ee TE eT LIVROS DE 4 ca ~“HELSING - CAGADORES DE MONSTROS” od SUSPENSE S MISTERIO OO Un a a Se TET URI) SUMARIO Seeegcla res honis onsen Mss Geseeeol-uackem scenery es Geeeeeeeete setter ie) Gees Tero kee Soles ere Seer. eh eta pepe ee ean oar eee Scie ee B| Coico ne ee aoe . Siiersc lens Se Ree cin mee (Coe ooh eee amet Bs Enitrevistalcom Juan Daniel Diniz Quintana, vencedor do concurso de edHtos “Helsing”, pag. es % Co eee eee ees Cann | [Sc cei ie tem tea aR usec 2rd Cee See eon eaten mer Sep otne hs ee asco ae aes Eieegerleono-fce ete Gop ecko) nego a ae (Speemee com clear ec Carers 5 Sees tea oteeee ene c Pee Diner ocr sm Sccces a Mine eit cae ae) vw Cee cereal Gee geeen sea eis ieee Saiba como barticipar da proxima edicao da Revista Conexio Literatura, pag. 97 NTE ee clee omeer: COLABORAM NESTA EDICAO enon el ESSE eee eee) Poe ieee cote ween atc ea ere (conse Ne==0> eMC cy ene swelt ine Pe eee ete Moca aria fence eet NEP ee ee ote ae eee . Sige ete- ( eoenount ee une cee Ee esas egies eee eee nes See aie eee ae oe Pesce etcReay foe ee rece sce ete a ea ae dinar Santiago Fe ese se aces da préxima edicde de Conexao Literatura, Gece eine ee te oer ie Resear ec ce Ruse eee tale y ISTACONEXAOLITERATURA.COM.E Aaa = Fy Resumo: Este artigo objetiva analisas, a partic das concepgdes trazidas pelos estudos literdrios, cinematogrificos e culturais sobre a questio de género que se apresenta no cotidiano da escola ¢ da sociedade. Utilizando-se do método comparatista estudaremos as produgées filmicas “Boys don’t Cy” e “The Danish Giel’, cujas reflexdes nos ajudam a compreender 0 cendrio macro que se instala em volta da discussio sobre género e a construgao de identidade. Palavras-chave: Literatura; Cinema; Comparatismo; Género; Construgio de identidade. Abstract This asticle aims to analyze, from the concepts introduced by the literary, cinematographic and cultural studies, about the gender that present itself in the daily life of the school and society. Using the comparative method we will study the film productions “Boys don't Cry” and “The Danish GirP, whose reflections help us to understand the macro scenario that recognize the discussion between gender and identity construction. nee CCONEXAO LITERATURA — NO 22 Key-words: Literature; Cinema; Comparatism; Gender; Identity Construction. Consideragées iniciais: As histérias das sociedades se confundem com as ideias conceituais do que & cultura, no sentido stricto da palavra. Embora nfo nos demos conta, as natrativas ¢ as obras cinematogrificas contam esta histéria, através das mais diversas leituras, imterpretagées e literaturas. O que esquecemos, neste processo, é que o olhar soberano, machista, cristio, heterossexual, homofébico ¢ imperialista continua ditando as normas, regras e conceitos, logo, seguir um rumo diferente do teagado por este modelo é se condenar a uma caminhada solitaria e cheia de adversidades e adversdrios. Dai as (re)afirmativas politicas sobre os ‘cidadaos’ de algumas sociedades, onde suas singularidades, diferencas e identidades so achatadas, desvalorizadas ¢ itreconheciveis por um sistema macto em poder e em determinagées, embora se reconheca que “identidade e diferenga esto em uma relagao estreita de dependéncia”. (SILVA, 2014: 74). Nesse sentido, o presente artigo tem como propésito a reflexdo conceitual sobre as questdes de género e as construgées de identidades nas obras cinematograficas: “Boys don’t Cry” ¢ “The Danish GitP, ou “Meninos nao Choram” e “A Garota Dinamarquesa”, como traduzidas no Brasil, sespectivamente. Além de apresentar definicdes sobre 0 método comparatista, modelo adotado nesta pesquisa por considerar as interfaces entre cinema ¢ literatura, bem como o uso desta técnica que consiste em comparar produgdes diversas e, meste caso, em especial, os elementos convergentes e/ou divergentes trazidos pelo cinema, a literatura e as discussées sobre géneros ¢ construgio de identidade na sociedade contemporinea. Este trabalho faz referéncia as produgies literdrias de Lingua Portuguesa e de outros idiomas, considerando que género e construgao de identidades nao sfo temas exclusivos da lingua Iuséfona, tampouco das artes cénicas ou Hiterdcias em suas mais diversas formas e estilos, mas que perpassam necessariamente por todas elas, a partir da ética dos estudos culturais e das sociedades; além disto, a ideia ¢ o desejo maior é que provoquemo-nos sobre os reais sentidos dos termos nas nossas vidas e no cotidiano de cada um, ainda que devamos considerar que A ordem cronolégica ideal é antes um processo de apresenta¢ao, tentando nas obras recentes, ¢ nao é a ele que nos referimos falando da histéria. Esta nogio corresponde antes a uma exposig¢ao pragmatica do que se passou. A histéria & pois uma conveccao, cla nao existe ao nivel dos préprios acontecimentos. (...) A histéria é uma abstracio ~ CCONEXO LITERATURA = NO 32 pois ela é sempre percebida e narrada por alguém, nio existe em si” (TODOROV, 1972: 213). Desse modo, construimos a cada nova narrativa, sentidos no nosso fazer e construir histérias, sejam elas reais ou nao, mas de maneira que o sentido politico impregne a vida dos cidadaos, pois nao basta definirmos os termos, mas percebermos como reagimos em determinados feitos que difiram do nosso universo sociocultural, com énfase naqueles momentos que nos fazem agie de modo preconceituoso, racista, discriminatério e segregador, chegando a ter no outro um inimigo, um opositor, um adversétio quando deveriamos ter consciéncia da sua singularidade e respeito por nossa importancia singular e planetaria, pois (...) © mundo em nossa volta esta repartido em fragmentos mal coordenados, enquanto as nossas existéncias sao fatiadas numa sucessio de episédios fragilmente conectados. Poucos de nés, se € que alguém, sio capazes de evitar a passagem por mais de uma comunidade de ideias e principios, sejam genuinas ou supostas, bem-integradas ou efémeras, de modo que a maioria tem problemas em resolver (...) (BAUMAN, 2005: 18-19). Nao sera, portanto, nossa pretensio encertar 0 debate sobre os temas apresentados, mas refletirmos e apontar possiveis altenativas de transformagio do meio e para melhor compreensio e efetivagio dos nossos objetives aqui definidos dividimos este artigo em trés topicos, a saber: O primeito tépico tem como titulo a literatura comparada como disciplina © campo de estudo e uma tentativa conceitual de sexo e género na contemporaneidade caracterizando-se por ser uma unidade conceitual dos termos que serio desenvolvidos nos tépicos seguintes, além de dissertar sobre a temitica especifica do Comparatismo e da Literatura Comparada traz ainda, concepgdes de sexualidade, sexo, género e construgho de identidades, a pactir de momentos que versam sobre as telagées sociais simbélicas que permeiam os discursos de género, sexo, sexualidade e a hipersexualizacio dos corpos masculinos e femininos nas fases iniciais da vida. Apresenta, ainda, uma reflexio sobre a falta de informagio ¢ os tabus da sociedade quando o tema se instaura em torno daqueles que tratam de sexo, sexualidade, género e construgo de identidade, sendo vistos com terror ¢ motivo de panico moral para as familias e a sociedade conservadora que se constituem, na sua maioria, por setes humanos machistas, cristios ¢ homofébicos, Na sequéncia, trataremos sobre a nogio de masculinidade e feminilidade a partic de obras cinematograficas, no qual, além desses conceitos faremos um CCONEXAO LITERATURA = NO 32 estudo minucioso a partir dos filmes “Boys don’t Cry” ¢ “The Danish Git? alguns contos e romances das Literaturas de Lingua Portuguesa, de mancira que possamos comparar a construco da masculinidade e da feminilidade na sociedade contempordnea, os jogos, as brincadeiras ¢ os superherdis da TV, do cinema e da literatura, suas contribuigdes na (des)construgio da masculinidade e da feminilidade, o micromachismo e o machismo invisivel nas artes cénicas ¢ literirias. Encertatemos nossa pesquisa com uma andlise, sendo uma proposigao interdisciplinar entre cinema, literatura e cusriculo escolar, a pastir das perspectivas do funcionamento e das priticas sociais pés-concepgées dos Estudos Culturais, de identidade, de género ¢ as possibilidades colaborativas de construgio ¢ reafirmagées destas tematicas no espago escolar e fora dele, Posto que seria a escola esse espaco de socializagao de saberes, conhecimentos € informagées, bem como de solidificagio das habilidades ¢ atitudes fundamentais de transformagio das pessoas ¢ da sociedade na qual estd inserida. Assim, tanto as estratégias de uso do cinema como da literatura pela escola e seus agentes sfio, sem sombra de diividas, salutares a reflexio e a transformacio, seja do homem, como da consequente sociedade onde este atua € promove seus atos menos exciudentes e mais sensiveis 4s causas das diferencas. 1A Literatura Comparada como disciplina e campo de estudo A Literatura Comparada integra a area de conhecimento, estudo e pesquisa dos Estudos Literdsios e, a0 longo dos tempos, houve entendimentos diferentes para uma definicio do que seria esta dimensio litesdsia, Tal percepgio mudou dependendo do periodo, da teoria usada ¢ das mudangas conceituais sobre Literatura Comparada ou Comparatismo. Pode-se incluir também uma agio comparativa entre a Literatura ¢ as outras artes ou outros aspectos culturais ou sociais, tanto que a fazemos neste artigo, quando comparamos 0 cinema ¢ a literatura em seus varios aspectos. © pesquisador Eduardo de Faria Coutinho, Doutor em Literatura Comparada pela Universidade da Califémia e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro ~ UFRJ, afirma no artigo Literatura comparada: reflexdes sobre uma disciplina académica, publicado na Revista Brasileira de Literamra Comparada, n° 8, em 2006, que a Literatura Comparada é uma caracteristica interdisciplinar e teansversal que abrange a comparagio, além da Literatura tout court, com outros aspectos como linguas, géneros, cultucas, as. artes em geral, sociologia, filosofia, cinema e assim por diante com outras disciplinas num conhecimento de Areas antigamente no consonas a0 conceito de Literatura Comparada. wy f) ——p A (CONEXAO LITERATURA ~ NO 32 A professora Tania Franco Carvalhal, professora titular de Teoria Literdsia ¢ Literatura Comparada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul — UFRGS, doutora em Teoria Literdria e Literatura Comparada pela Universidade de Sao Paulo, na obra A Literatura Comparada, de 2006, afirma que “a Literatura Comparada é uma forma especifica de interrogar os textos literdrios na sua interag4o com outros textos, literarios ou no, ¢ outras formas de expresso cultural e artistica.” (CARVALHAL, 2006, p. 69 - 70) Concernente aos objetivos ¢ 0 objeto de estudo da Literatura Comparada, sustentamos nossas premissas no que afirma Bara (2006, p. 2), no seu artigo “Os percursos da literatura comparada”, ocasido que define, segundo Tieghem, que o objeto de estudo da Literatura Comparada é “o estudo das diversas literaturas em suas relagées entre si, como se ligam umas 4s outras na forma, no contetdo, no estilo.”. Entretanto, Tieghem nao desenvolveu uma metodologia ou um estudo especifico. Mas fragmentario, pois 0 comparatista, estudioso da Literatura Comparada, esté limitado no seu estudo utilizando somente os conceitos de fonte e influéncias, como expresso por Wellek: (..) 86 poderia estudar fontes e influéncias, causas ¢ efeitos, € seria impedido, até mesmo, de investigar uma tinica obra de arte em sua totalidade, uma vez que nenhuma obra pode ser inteiramente reduzida a influéncias externas ou considerada um ponto isradiador de influéncia sobre paises estrangeiros apenas. (WELLEK in: CARVALHAL e “COUTINHO, 1994, p. 109) Ainda, segundo Wellek (idem, p. 144), Remak faz um avango considerando também as relagdes entre a Literatura e outras artes, porém de maneira artificiosa e contraditéria, ainda que, o objeto de estudo seja mais amplo, entre a Literatura e outros campos como arte, politica, ciéncias sociais, além da propria Literatura, mas 0 avango mais expressivo diz respeito ao Ambito dos Estados Culturais aumentando significativamente a pesquisa e 0 estudo com as temdticas culturais como a marginalizagio, o multiculturalismo, a sexualidade, os estudos de géneros, a construgio de identidades e outros. Dessa forma, a comparagao entre a Literatura ¢ as Artes tem como objeto © préprio texto quando transposto na arte, a exemplo do cinema, ou o tema entre uma pintura e um poema, ou na construgio arquiteténica de um romance ¢ assim por diante. Numa visio mais ampla de Literatura Comparada podemos inseri-la também num contexto intertextual ¢ interdisciplinar onde a comparacio, nesta Stica, referencia uma investigacao das relagdes entre a literatura e outras reas de conhecimento, mediante uma visio diferente de aportes tedricos e (CONEXAO LITERATURA — NP 32 metodolégicos, sem perda de sua especificidade, servindo de suporte transitério ¢ interdisciplinar que dialoga com a heterogeneidade histérica ¢ espacial das literaturas. Assim, tém-se novas praticas discussivas que dao conta da diversidade cultural no mundo atual e, por isso, esta articulacio determina uma intesdisciplinaridade a partic de campos de conhecimento diferenciados, operacionalizando os enfoques que atendam aos desafios epistemolégicos ¢ estéticos da contemporaneidade ¢ dos estudos literdrios que se transpoe de uma arte para outra. A Literatura Comparada, portanto, € um campo de estudo amplo e nao restrito somente ao texto literério, nos quais estudiosos se debrugam nas suas muiltiplas vertentes, sejam os pertencentes as escolas francesa ou americana, as de concepgdes mistas de literatura comparada entre outcas. Todavia, é também, uma disciplina que comegou, segundo Ceia (2016) com o termo “Literatura Comparada”, Mas é na iiltima década do século XIX que podemos seconhecer uma implantagSo institucional e académica da disciplina, com os nomes de Louis Paul Betz e Joseph Texte, que langardo as bases daquilo que Baldensperger, em 1921, consideraré ser, de forma paradigmatica, a disciplina do futuro dentro dos estudos literdrios. (CELA, 2016) Logo, é sobsetudo, nas universidades onde os Estudos Literdrios esto instalados, no seu interior hd de se encontrar a Literatura Comparada nas suas varias vertentes. Pos outro lado, pela natureza da disciplina, ocupa-se com elementos que a critica literéria habitualmente nio considera: correspondéncias, literatura de viagens, tradugées. No entanto, ao explord-las, atua criticamente. E desse modo que a literatura comparada se integra as demais disciplinas que estudam = 0_literario, complementando-as com uma atuagio specifica particular. (CARVALHAL, 2006. p. 86) Ressalta-se que 0 aspecto académico é fundamental para uma ampliagio do conhecimento desse campo de estudo, ou seja, a Literatura Comparada, como disciplina, divulga mais, scja a Literatura em si, que a critica e a histéria literdsia, constituindo-se em um estudo “imanente”, ou seja, no sendo apenas um conceito estruturalista que se fecha somente na construgdo de regras e estruturas do texto em si, sem estabelecer outras relagdes possiveis, que € limitado ou limitante, mas como podemos pesceber em Carvalhal (2006): “Ele faz parte de uma das possiveis andlises que podem ser referenciada a um texto ‘CONEXAO LITERATURA ~ NO 22 literdrio, O estudo deve ses mais amplo ¢ que tenha em conta outros aspectos como, mas nfo o é sobretudo a respeito de uma leitura comparatista de mais obras.” (Carvalhal, 2006. p. 46). A diegese das obras: Os filmes “Boys don’t Cry” e “The Danish GicP trazem em si, varias teméticas comuns, além das polémicas, tabus, intimeras controvérsias, ignorncia e intolerncia social que circundam o tema da identidade de género ea sexualidade humana. Ambos sio de género dramético pseudobiogrificos, em “Boys don’t Cy” é narrada a histéria de Brandon Teena e em “The Danish Girl’ a vida da pintora dinamarquesa Lili Elbe, tendo como diretores Kimberly Pierce ¢ Tom Hooper, respectivamente. As narrativas envolvem questdes que versam sobre identificag3o sexual, tansgénese ou transgenia masculina, como no caso de “Boys don’t Cry” € redesignagao sexual ou transexualidade feminina em “The Danish Gir?’. Narrativas estas entidades nos estudos literdrios como (..) um algorismo, isto é, como uma sucessao de enunciados cujas- fanges-predicados simulam linguisticamente um conjunto de comportamentos orientados para um objetivo. Na qualidade de uma sucessio, a narrativa possui uma ~~ dimensio temporak 08 comportamentos ali apresentados mantem entre eles relagdes de anterioridade posterioridade. (..) A nasrativa, para ter um sentido, deve ser um todo de significagao; ela apresenta-se, por isso, como uma estrutura seméntica simples. Disso resulta que os desenvolvimentos secundirios da natrag3o, nZo encontrando seu lugar na esteutura simples, constituem uma camada estrutural subordinada: a narragio, considerada como um todo, terd “ por contrapartida uma estrutura hierdrquica do contetido. (GREIMAS, 1972: 63). Os tempos das narrativas sio distintos. Enquanto “Boys don’t Cry” tem como cenério a tiltima década do século pasado; em “The Danish GicP somos conduzidos as duas primeiras décadas do século XX. Isto de certo modo, nao deixou a desejar na compreensio das narrativas, pois, considerando que se trata de acontecimentos reais ficcionados para o cinema traduziram as dificuldades que se perpetuam até os dias atuais, tais como 0 preconceito ¢ a discriminagao por falta de conhecimento desses temas, embora se reconhega que s6 hd pouco tempo essas tematicas vieram 4 tona em nossa sociedade. CONEXAO LITERATURA ~ N° 32 * Os filmes apresentam narradores extradiegéticos, que segundo a classificagio de Stam apud Genette (1992, p.120) é um narrador extemo, que | J media os registos visuais, sonoros e se manifesta através de cédigos especificos \W do cinema e utiliza imimeros e diferentes canais de expresso, no somente pot ~ meio de um discurso verbal, no qual o narrador personagem est inserido num primeiro nivel de nasracio. (STAM, 1992, p.120). “Boys don’t Cry” foi langado em 1999 e “The Danish Git? em 2015, os dois nos Estados Unidos, chegando nas telas dos cinemas brasileiros apenas um ano apés as suas publicagdes. Nos filmes, no s&o feitas referéncias as idades infantis das personagens. Ela sao apresentadas em sua fase adulta e em plena atividade sexual. Brendon Teena, protagonista do filme “Boys don’t Cry”, nasce em Lincoln, Nebraska, EUA, no dia 12 de dezembro de 1972, categorizado com 0 sexo feminino, mas se identificava e se apresentava como um homem, pois assim suas agGes 0 afirmara. Era de criar confusio, arruaceiro, famava, bebia exageradamente a ponto de cair nas calcadas e nas ruas, cogar os étgios genitais, como se testiculos ali houvesse ¢ bater em outros homens, tudo como tal fazem os ditos valentées. Isto 0 classificava como “uma deformidade”, segundo 0 personagem Lonny, seu primo, que o acolhe em sua casa e vive a provoci-lo sobre a sua masculinidade: - Entdo vocé é homem? Se fosse homem, até eu transaria com vocé. Vocé nao é homem. Esse é o seu problema. Porque nao admite que sapatio? - Eu nfo sou sapato. Responde Brandon. - Vocé é um erro. Vocé nao é homem. Nesse sentido, ¢ objetivando compreender e conceituar a ideia de “identificacdo” exposta no pardgrafo anterior, recorremos a Hall (2014), cujo (-) conceito de “identificagio” acaba por ser um dos conceitos menos bem desenvolvidos da teoria social ¢ cultural, quase tao ardiloso — embora preferivel - quanto 0 de “identidade”. (...) A identificagao é, pois, um proceso de asticulagao, uma suturacdo, uma sobredeterminagao, ¢ nio uma subsungao. (HALL, 2014: 105-106). Logo, 0 conceito antropolégico de “identidade” estaré sempre envolto as es de alteridade, uma vez que necessitamos da existéncia do outro, com as peculiaridades para que na comparagio e nas diferengas se cam uma adesdo e passemos a nos identificar nas particularidades e individuais e coletivos. Afinal, ‘CONEXAO LITERATURA — NO 32 (..) Todas as identidades estio localizadas no espago e tempo simbélicos. Elas t¢m aquilo que Edward Said chama de suas “geografias imagindrias” (Said, 1990): suas “paisagens” caracteristicas, seu senso de “lugar”, de “casa/lar”, ou heimat, bem como suas localizagées no tempo — nas tradigdes inventadas que ligam passado e presente, em mitos de origem que projetam o presente de volta 20 passado, em natrativas de nagdo que conectam o individuo a eventos histéricos nacionais mais amplos, mais importantes. (HALL, 2002: 71-72). Cansado de tantas confuses do primo, Lonny o expulsa de casa ¢ Brandon segue para a cidade de Fall City, Washington, EUA, onde encontra as. personagens Candice, sua filhinha ¢ os amigos dela - John Lotter e Tom Nissen. Candice se mostra atraida por Brandon que se apresenta como um garanhio, mas este se interessar4 por Lana Tisdel, desejada por John Lotter. Ressalta-se que, embora Brandon tivesse saido de Lincoln, ele deveria voltar para se apresentar 4 delegacia de policia para responder por suas atrocidades. O que no acontece, pois apés se apaixonar por Lana, o filme entra em seu ponto mais alto, uma vez que, por esse sentimento Brando inventar4 uma série de mentiras, tudo de modo a impressionar Lana e a convencer sua mie que desconfia, inicialmente, da orientagdo sexual de Brandon, a partir da pele sensivel e clara. Mas desconsidera e no retoma a questo a ponto de permitir quem namorem. O azar de Brandon serd a sua menstruagio que chega sem aviso prévio. Este segue até o banheiro ¢ tenta se ajustar, seguindo ao supermercado para providenciar absorventes. Ao retomar e depois de feita a colocagzo do absorvente, esconde a embalagem debaixo da cama que usa na casa da Lana. Isto ser4 um dos elementos-provas que seri utilizado pela Candice para detectar a sua feminilidade. Assim como 0 pénis titado contexto social seu valor privilegiado, é 0 contexto social que faz da menstruagio uma maldicfo. Um simboliza a virilidade, a outra a feminilidade. E & porque a feminilidade significa alteridade ¢ inferioridade que sua revelagao é acolhida com escindalo. A vida da menina sempre Ihe apareceu como determinada por essa impalpavel esséncia a que a auséncia do pénis nio conseguia dar uma figura positiva: € esta que se descobre no fluxo de sangue que lhe escosre entre as coxas. Se jé assumin sua condicao & com alegria que ela acolhe o acontecimento. f ee CCONEYKO LITERATURA ~ N° 32 - . "Agora, és uma mulher." Se sempre a recusou, o veredito sangrento a fulmina; o mais das vezes ela hesita: a macula menstrual inclina-a para a sepugnancia e 0 medo: "Es entio © que significam estas palavras: ser mulher!". A fatalidade que até entdo pesava confusamente sobre ela, e de fora, escondeu-se em seu ventre; ndo ha mais meio de escapar; ela sente-se acuada. (BEAUVOIR, 1967, p. 56). Durante os dias que se seguiram, Brandon e Lana vivem grandes emogées pes is, as quais Lana faz questio de confessar as amigas Lana e Kate. sive reforgando a masculinidade e drgio genital avantajado de Brandon, “veeefibora nunca tenha ocorrido 4 penetragio, Lana, ainda quem sem querer, ‘Provocava sentimentos de citime e inveja em Candice que continuava a alimentar sentimentos e desejos por Brandon, Enquanto isto, John Lotter e Tom Nissen sondam a vida daquele cara bacana, na cidade onde ele nasceu e descobrem a verdadeira histéria de Teena Brandon, uma vez que os jornais de Lincoln, Nebraska, EUA comegaram a noticid-la como foragida, por nfo ter comparecido ao tribunal para depor, conforme era dos eu conhecimento. John Lotter volta para Fall City, Washington, EUA e comunica a situagio para a mae de Lana que nfo acredita. Ele reforga o dito entregando-Ihe o jornal com a foto de Brandon estampada na capa. A chegada de Lana e Brandon na casa cria um clima pesado e todos cobram uma satisfagao de Brandon que nega tudo e se diz hermafrodita. Nao tolerando mais as mentiras apresentadas por ele, John Lotter e Tom Nissen agarram-no a forca, rasgam suas roupas e percebem apés penetrar seus dedos em sua vagina que nfo se trata de um hermafrodita, ela tem o sexo feminino. A mie de Lana no permite mais nenhum tipo de abuso em sua casa € expulsa os irmios, mas nio tolera a presenca de Brandon no seu interior. Ele permaneceu escondido na casa de Candice pelos dias seguintes até que fosse descoberto por John Lotter e Tom Nissen que o arrasta de A c o leva a um local deserto onde o estupra e o desvirgina de maneira constrangedora, além da sua violagdo anal. Imaginemos a situagio e temos em mente as premissas de Simone Beauvoir, na obra “O segundo sexo: a experiéncia vivida”, publicada no Brasil em 1967: A ideia de se pér nua diante de um homem comove-a profundamente; mas ela sente também que seté entio entregue sem apelo ao olhar dele. A mio que pega, que toca, tem uma presenga ainda mais imperiosa que a dos olhos: assusta mais. Mas 0 simbolo mais evidente e mais detestivel ‘CONEXAO LITERATURA — NO 32 da posse fisica é a penetragao pelo sexo do macho. Esse corpo que ela confunde consigo mesma, a jovem detesta que © possam perfurar como se perfura um couro, rasgé-lo como se rasga um pano. Mais porém do que o ferimento e a dor subsequente, o que a moga recusa é que ferimento e dor sejam infligidos. “E horrivel a ideia de ser furada por um homem”, dizia-me um dia uma jovem. Nao € 0 medo do membro viril que engendra o horror ao homem, esse medo é a confirmagao e o simbolo; a ideia de penetragho assume seu sentido obsceno e humilhante no interior de uma forma mais geral, de que é em compensagio um elemento essencial. (BEAUVOIR, 1967, p. 61). estupro é identificado por uma enfermeira, logo que Brandon chega ao hospital. A policia é acionada e, embora ele tenha se comprometido a nio denunciar os irmios, o fato é inevitavel, pois Lana ¢ sua mie, Kate ¢ Candice sabiam quem eram os responsdveis por cometer aquela atrocidade. Brandon volta para casa de Candice ¢ que, nas cenas finais, John Lotter e Tom Nissen invadem a sua casa, atiram e matam Candice ¢ Brandon na presenga do filhinho da Candice e da Lana que, no dia anterior, planejava fugir com Brandon. Embora seja uma narrativa baseada em fatos reais, mudangas no sentido de reconhecer as diferengas de géneros tém sido uma constante nos Estados Unidos e em muitos outros paises excludentes, conservadores e nem um tanto tolerante para com essas causas. Concemente “The Danish GizP, a obra tem como cenério Copenhague, a capital da Dinamarca, com um recoste especifico na segunda década do século XX e narra a trajetéria do pintor famoso Einar Magnus Andreas Wegener, posterior Lili Ilse Elvenes, cujo nome artistico foi Lili Elbes, como ficaria conhecida no mundo das artes, sendo provavelmente, a primeira mulher transexual a submeter-se a uma cirurgia genital. As cenas iniciais apresentam Einar Wegener especializado em pintar paisagens e Gerda Wegener - ilustradora de livros ¢ revistas de moda, em bailes e festas da elite dinamarquesa. Einar vive os seus momentos de gléria e Gerda uma tensa sensagio de improdutividade, mas vislumbrando a carreica do esposo e, paralelo a isto, esto na tentativa de ter filhos j que a sociedade comega a cobré-la. Einar Weneger ji demonstra o interesse ou 0 desejo por indumentérias femininas: roupas, sapatos, colares e outros, isto percebido em um dos momentos do filme, onde ele vai procurar a esposa numa galeria local. Dadas 4s frnstragdes provocadas pelo insucesso de Gerda Weneger na comercializacao das suas obras, ela propde um jogo ou uma brincadeica CCONEXAO LITERATURA = NO 32 apelativa a Einar Weneger que deveria vestit-se com as roupas femininas da €poca, isto ajudaria Gerda a encontrar um modelo para fazer uma ilustragao. Iniciaimente ele recussa, mas considcrando as investidas da esposa cede ¢ assim procede. Ao colocar as meias, sapatos, vestido, Einar parece se encontras. Vive um transe interior de maneira que parece ter um encontro consigo. Na verdade, ele apenas correspondia as exigéncias masculinas e patriarcais daquele pesiodo histérico. Casar-se foi 4 maneira mais adequada para que ele desse um retorno desejado para os padrdes daquela comunidade. No entanto, o filme “The Danish Gir? continuara mostrando, através do personagem Einar Weneger que este apresentara mudangas comportamentais graduais ¢ significativas quando o tema for a sua sexualidade. Ele continuard se vestindo com roupa e usara objetos associados ao sexo feminino, além de copiar gestos e¢ agSes que o descaracterizarao, enquanto pessoa do sexo masculino, pelo menos aqueles radicalmente estabelecidos pela sociedade do inicio do século passado naquela regido. Poderiamos afiemar que descobrira sua identidade, enquanto ser social, afinal, . (-) As identidades esto sujeitas a uma historicizagao ft } radical, estando constantemente em processo de mudanga e transformagio. (...) as identidades sio construidas dentro ¢ ~ nao fora do discurso que nds precisamos compreendé-las ay como produzida em locais histéricos ¢ institucionais " especificas, por estratégias e iniciativas especificas. Além a disso, elas emesgem no interior do jogo de modalidades ~ especificas de poder e so, assim 0 produto da marcagao da diferenga ¢ da exclusio do que o signo de uma unidade id@ntica, naturalmente constituida, de uma “identidade” em seu significado tradicional — isto é, uma mesmidade que tudo inclui, uma identidade sem costuras, inteirica, sem diferenciagio interna. (HALL, 2014: 108-110). Dessa forma, 0 cendrio vital do casal é alterado e Gerda Weneger comega a perceber que cometeu um erro envolvendo Einar Weneger naquela brincadeira. Ela se ver perdendo 0 esposo e teme perder o seu companheirismo. De cesto modo, ela favoreceu a sua descoberta, afinal ambos sabiam dessa condigao até ali ocultada. Tanto que, em dado instante, a personagem Einar Weneger a indaga: “. Imaginei que vocé soubesse.”. Ele passa a relatar um tnico sentimento que teve por Hans Axgil, mas proibido por seu pai. Nao hd diivida que tal condigao Ihe causasse sofrimento ¢ um prejuizo significative na sua forma de ser e agit numa sociedade machista, pfeconceituoso, excludente e cheia de normas, cujos comportamentos foram, ‘CONEXAO LITERATURA ~ NO 32 por muito tempo e ainda os so por muitos, considerados uma doenga mental, inclusive classificado no Manual Diagnéstico e Estatistico de Transtomos Mentais, sendo caracterizado como "travestismo fetichista". Gerda Weneger logra sucesso ¢ suas obras passam a ser comercializadas em Paris, espaco para onde a trama se move e l Einar Weneger é apresentado como Lili, sendo esta prima do seu esposo. Certa feita, em um retorno de uma das festas que frequentavam, Gerda é surpreendida por seu marido usando sua andgua. Ele assim dorme, enquanto sua esposa o pinta em poses femininas. Nas festas seguintes, Lili passa a ser desejada pelos homens que a corteja com maior frequéncia. Numa dessas festas, a esposa a flagra aos beijos com 0 personagem Henrik que o reconhece como Einar Weneger, mas no ver problema naquela fantasia dele desejar ser Lili, Em casa, ele supde que Henrik talvez soubesse que ele era a Lili e que a0 beijé-lo teve a sensacao de beijar a si mesmo. Gerda apavorada e temerosa das proporgées que a situacdo tomou sugere que ele v4 ao médico. Os médicos sugerem que ele tome choques elétricos e sessies de sessonancia magnética, pois a radiagao era o milagre da época, de modo que ele seria curado. psicélogo, por sua vez, afirma se tratar de um desequilibrio quimico-hormonal o que explicaria 0 estigio de infidelidade, a auséncia sexual ¢ o estado incomum de masculinidade e ainda, que se tratar de um caso de esquizofrenia e mesmo de atitude imoral e desrespeitosa que ofende a todos os homem dali. Tais consultas ¢ tratamentos nao surtiriam efeitos e de volta pata casa, Einar pede que a esposa o compreenda, afinal, ele sempre foi assim e no deveria se sentir culpada pelo que estava acontecendo. Gerda procura por Hans Axgil tentando uma reaproximagao com Einar Weneger, mas ao leva-lo até sua casa eles se deparam com Lili sentada a espera. Cria-se uma situag3o vexatésia, pois Hans reconhece em Lili, a pessoa do Einar. Ele compreende a situagio ¢ tenta passar conforto e seguranga a Gerda, deixando a entender um possivel triangulo amoroso. Diante das situacées apresentadas até aquele momento, Einar resolve realizar suas primeiras investidas em prol as cirurgias para mudancas de sexo. Sai nas ruas travestido e sofre as represdlias sociais, chegando a ser espancado nas cuas de Paris. Até ento, consegue garantir sua caracteristicas intersexual, ou seja, ora era Einar ora era Lili. No filme “The Danish Gir, Einar ‘Weneger se submete a duas cirurgias de redesignacio sexual, vindo a dbito apés a ultima. Todavia, registros do jornal El Pais, sob o titulo A fascinante vida de Lili Elbe, a primeira transexual a entrar para a histécia, (Uszaiz, 2016) damo-nos conta que foram cinco 3s cirusgias, sendo a tiltima de transplante de titero. ‘CONEXKO LITERATURA ~ NO 32 Primeiro se submeteu a uma castragio cinitgica sob a superviséio de Magnus Hirchsfeld, 0 famoso médico alemao que fondon a primeira associagio de defesa de homossexuais e transexuais, e depois passou por varias operagdes nas mos de Kurt Warnekros, o cirurgiao de Dresden a quem Elbe se referia como seu criador e salvador. Em 1933, Warnekcos planejava completar o proceso implantando em Elbe um iitero ¢ criando uma vagina artificial, mas a artista (que j4 quase nao era: Elbe pensava que a arte pertencia a Einar, a seu passado) nfo resistiu A citurgia e morreu dias antes de completar 50 anos. (URZAIZ, 2016) Durante sua caminhada Lili Elbe teve a sua identidade feminina legalmente reconhecida, seu casamento com Gerda Weneger anulado e, apesat do seu talento como pintora resolveu abandonar a carreira por considerar que esta estava relacionada diretamente a sua vida como Einar. Seu sepultamento ocorreu em Dresden, Alemanha, no dia 13 de setembro de 1931. Os filmes “Boys don’t Cry” e “The Danish GitP trazem em si “simbolos simples, nfo articulados sintaticamente, que em contextos iguais (ou suficientemente parecidos) tem um mesmo significado para ao menos dois participantes na interacdo” (Habermas, 1985: 13). O fato de apresentarem os protagonistas sendo violentados sexualmente, espancados a base de chupes, socos ¢ pontapés, bem como as mudangas de espacos geograficos representados através dos lugares que estes se posicionam. E ainda, suas identidades sendo vistas como doengas, além das cenas nas quais as personagens vislumbram seus corpos diante de um espelho, identificando-os sob as suas perspectivas homem versus mulher ou macho versus fémea reportam-nos a muitas outras significagdes dadas pelos dngulos cinematogrificos. Entende-se o significado de uma determinada agio simbélica, por exemplo, de uma jogada de xadrez, quando se domina a regra conforme a qual ha que se mover as correspondentes figuras. A compreensio de uma acio simbélica est4 ligada A capacidade de seguir uma regra. (HABERMAS, 1985, p. 29). Nesse sentido, as personagem protagonistas dos filmes “Boys don’t Cry” e “The Danish GirP estavam dispostas a seguir as regras propostas, ainda que tivessem que pagar com suas vidas para que seus objetivos fossem alcangados. =~ ‘CONEXHO LITERATURA - NO 32 ‘, O que nio significa necessatiamente uma questio de género, sexo e sexualidade, mas de identidade. 4 Nos filmes “Boys don’t Cry” e “The Danish Girl’, bem como no |} cotidiano social percebe-se um grande equivoco sobre os conceitos que\ vi envolvem as questdes de género, sexo e sexualidade. < Essa mesma sociedade nos induz a cometer e reforcat ertos conceituais repetidas vezes, em especial quando somos - em casa, na igreja, na escola e na vida em sociedade, obrigados a seguir esteredtipos preestabelecidos, cujas instituigdes nfo se abrem para novas discussécs ¢ onde determinada conquistas sio baseadas em movimentos politicos. Afinal, “no existe saber que nao seja a expressio de uma vontade de poder”. Logo, “o individuo é 0 produto do poder”. (SILVA, 2005: 120-121). Nesse sentido, precisamos compreender que “tal como a educacio, as outras instincias culmrais também sio pedagégicas, também tem uma pedagogia, também ensinam alguma coisa. (...) 0 cultural torna-se pedagégico € 0 pedagégico cultural”. Portanto, “nao se pode separar questées culturais de questdes de poder”, uma vez que identidades e diferencas sio resultados de atos linguisticos, sociais ¢ culturais, empoderando ou achatando determinados sujeitos ou grupos de pessoas oriundas de grupos denominados minoritarios, em especial aqueles que constituem o Terceiro Mundo. (Idem, 2005: 85 e 139). (.) 0 Terceiro Mundo é composto pelas nagées ¢ “minorias” colonizadas, neocolonizadas ou descolonizadas cujas desvantagens estruturais foram formadas pelo Pprocesso colonial e por uma divisio internacional do trabalho injusto, (...). O termo foi cunhado pelo demégrafo Alfred Sauvy nos anos 50 (...) tem mais a ver com uma prolongada denominagio estrutural do que com categorias econémicas (os pobres), de desenvolvimento (os atrasados), raciais (os nio-brancos) ou geograficas (0 Oriente, o Sul). (...) Por outro lado, os uiltimos anos tém testemunhado lutas anticoloniais e revoluciondrias continuas. (SHOHAT & STAM, 2006, p. 55) Este movimento tem, de certo modo, favorecido as discursdes em torno das questdes de género, sexo, sexualidade ¢ construgio de identidade dos sujeitos nos espagos coletivos e sociais, de modo que as pessoas no se sintam “deslocadas”, mas convocadas ao debate. 2. A nogao de masculinidade ¢ feminilidade a partic de obras cinematogréficas ‘CONEXKO LITERATURA ~ NO 32 Quando nos reportamos aos filmes aqui analisados, tanto em “Boys don’t Gy” como em “The Danish Gir? nos damos conta da confusio social e conceitual que as petsonagens apresentam quanto aos parimetros estabelecidos de sexo. Afinal, Brandon seria “verdadeiramente” um homem? — questionam Lonny, John, Tom, a mie de Candice, Kate e outros. O mesmo ecorre com Einar Weneger diante das experiéncias vividas, seria homem ou mulher? Pescebe-se que a preocupacao dos personagens secunditios se restringe apenas aos drgdos genitais dos protagonistas ¢ as suas funcionalidades, de tal maneira que os irm&os John e Tom agridem Brandon para conferir a sua genitalia. Por outro lado, nfo admitiriam ter 0 seu machismo afrontado por aquela fémea, criando neles repousa e alimentando o seu édio. Isto também ocorre em “The Danish Gir?’ quando Lili sai as ruas parisienses ¢ coincidentemente, dois rapazes que, inicialmente o paquera, mas ao perceber que se trata de um homem, comportam-se de maneira grosseira zombaria, chegando a Ihe machucar com chutes e pontapés, deixando-o ensanguentado nos jardins ptiblicos da cidade. © sesultado é uma reflexio acerca das agdes de intolerancia e violéncia que as personagens protagonistas vivenciam e uma andlise comportamental de que se os atos praticados contra eles constituiriam uma condigio socioeconémica e de instrugao, classificadas pelos dominantes como comuns os membros do Terceiro Mundo: brutos, pobres, machistas, negros, mal insteuidos e outros, como exposto acima ou se seria uma condigio meramente humana, pela suposta ridicularizagao a qual esto experienciando. Objetivando uma possivel definigao dos termos que pairam sobre esta questio, utilizamo-nos das premissas da Dra. Joan Wallach Scott, historiadora Norte-americana quando cita a PhD. Moira Gatens, professora da Universidade de Sidney, no seu artigo intitulado de Género: uma categoria util para andlise histérica, publicado em 1989. () © género & igualmente utilizado pata designar as relagdes sociais entre os sexos. O seu uso rejeita explicitamente as justificativas biolégicas, como aquelas que encontram um denominador comum para varias formas de subordinagao no fato de que as mulheres tém filhos ¢ que os homens tém uma forca muscular superior. O género se torna, alids, uma maneira de indicar as “construgies sociais” - a ctiagdo inteiramente social das ideias sobre os papéis \ préprios aos homens e as mulheres. E uma maneira de se =, referis As origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das mulheres. CCONEXAO LITERATURA — NO 32 © género é, segundo essa defini¢io, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado. (SCOTT, 1989, p. 7) Portanto, algo propria do individuo, pertencente a sua natureza e inquestion4vel pelos demais membros da sociedade na qual ele esta inserido. Nao se trata de um aceitar ou nao desse grupo. “O outro é 0 outro género, 0 outro é a cor diferente, o outro e a outra sexualidade, 0 outro e a outra raga, 0 outro é a outra nacionalidade, 0 outro é o corpo diferente.” (SILVA, 2014, p. 7) Os jogos de caca e perseguicées sio outros frequentes mas tramas trazidas por “Boys don’t Cry” e “The Danish Gic?, onde a ideia & se apresentar vencedor um sobre 0 outro. Quando Brandon surge como um valentio sobre a carroceria de uma camionete ele est4 se auto afirmando como tZo competente ou capaz que qualquer outro macho daquela regio, do lugar que nfo é 0 seu, mas que podera conquistar como de fato 0 faz. Nesse sentido, voltemo-nos mais uma vez para o que diz Beauvoie (1967): a lésbica desdenha o consolo dos veludos, da seda; como Sandor, ela os apreciara em suas amigas, ou o proprio corpo delas os substitnird. E também por essa razdo que a Késbica =i, gosta muitas vezes de bebidas fortes, de fumos fostes, de falar em linguagem rude, de impor a si mesma exercicios jentos: eroticamente ela partilha a dogura feminina, mas ama, por contraste, um clima sem pieguismos. Por esse “St expediente pode ser levada a comprazer-se na companhia dos homens. Mas aqui um novo fator intervém: a relagao amitide ambigua que mantém com eles. Uma mulher muito ‘ convencida de sua virilidade nfo quereré sendo homens como amigos e camaradas: essa seguranca quase 66 se encontra naquela que tem interesses comuns com eles, que — nos negécios, na ago ou na arte — trabalha e vence como um deles. (BEAUVOIR, 1967, p. 162). Igualmente, a luta de Lili para que sua identidade fosse solidificada ¢ esta pudesse ser aquilo que sempre foi, de modo que se construisse enquanto cidada e pertencesse aquele grupo social, embora se econhega que (..) 0 “pertencimento” e a “identidade” nao tém a solidez de uma rocha, nao so garantidos para toda a vida, so bastante negociaveis e revogaveis, e de que as decises que o proprio individuo toma, os caminhos que percosre, a maneira com age — e a determinagdo de se manter firme a tudo isso — si0 fatores cruciais tanto para o “pertencimento” quanto para a (CONEXHO LITERATURA ~ No 32 “identidade”. Em outras palavras, a ideia de “ter uma identidade” no vai ocorrer as pessoas enquanto o “pertencimento” continuar sendo o seu destino, uma condigao sem alternativa. (BAUMAN, 2005, p. 17-18). Ou seja, nio basta mudar a aparéncia, de bens ou mesmo de espaco geogrifico para que tudo mude em sua vida, o importante e Iutar por um Processo antes de autoaceitagao, de reconhecimento e autoafirmagao para que 20 chegarmos a determinada sociedade sejamos capazes de ler aquela realidade e saber se adaptar ao que melhor convém. Este é 0 jogo imposto em cada novo dia pelas midias e pelos que, de certa mancita, possui poderes sobre a vida dos habitantes deste Planeta. Logo, Desse modo, estamos “total ou parcialmente ‘deslocado’ em toda parte, nio estar totalmente em lugar algum (...), pode ser uma experiéncia desconfortavel, por vezes perturbadora”. Mas necesséria para a sobrevivéncia das diferengas. (BAUMAN, 2005: 19). 3. Cinema, Literatura e Curriculo Escolar Nao poderiamos discutir a triade: cinema, literatura e curticulo escolar sem que antes pensdssemos 0 cendsio educacional atual, a localidade em que a escola est inserida e quem constitui o grupo de usuarios desse ambiente, bem como quem gere esse espago. E ainda, qual a verdadcira fungio socioeducacional da escola na sociedade contemporanea. Isto porque compete a escola, em seus mais diversos niveis ¢ modalidades receber a todos sem distingo, garantindo acesso e permanéncia com atendimento de qualidade. Todavia, a questo é: estasia a escola prepara para lidar com tantas identidades nessa diversidade cultural? Como garantir direito de todos 2 uma qualidade ambiental, profissionais ¢ de resultados quando ninguém para pensar a escola ¢ sua seestruturacdo? Os profissionais da educagio estariam aptos a sepensar suas praticas e tomar o ensino mais significativo e atribuir sentido em estar junto com os demais naquele espaco? Quanto as questées de género e diversidade sexual, como tem sido as abordagens pelos alunos pelos profissionais da educacio? Como lidar com as diferengas dos colegas no espaco da sala de aula? Onde e em que momento as priticas de machismo e de micromachismo mais aparecem e como se materializam? Seriam muitas e diferentes respostas, assim como sio miiltiplos os sentidos e significados de estar e se ser parte da escola, além de uma grande sensagao de incapacidade de identificar a verdadeira fungao da escola para a sociedade, uma vez que a escola esté a servigo do poder e de seus mandatatios, sendo quase impossivel conceber um espaco efetivamente democratic, muito (CONEXHO LITERATURA ~ NO 32 pelo contrario, as escolas, através dos seus agentes reforgam de forma direta ou simulada os preconceitos que emergem no cotidiano das pessoas. As midias - em especial a TV e a internet, e, os avangos tecnolégicos que cada vex mais ripido tornam os objetos obsoletos cooperam com tudo isto ¢ 0 espago escolar passa a ser uma grande vitrine, sem que se consiga perceber a criticidade dos acontecimentos, inclusive por parte dos docentes que integram esse cendrio mercadolégico infrutifero, sendo para seus gestores. Concernente as questdes de género ¢ diversidade sexual na escola, as reflexes perpassam das mais simples as mais complexas, pois so no intesior das escolas que acontecem as primeiras investidas sexuais, quando nio, os proprios atos sexuais. No entanto, nao sio necessatiamente as priticas sexuais que estZo em xeque, mas como a escola e a sociedade tém lidado com essas tematicas no seu interior em fungio de uma comunidade mais solidaria compreensiva para com as diversidades, inclusive a cultural, afinal, (..) A “diversidade” cultusal é, aqui, fabricada por um dos mais poderosos instrumentos de homogeneizacio. Trata-se de um exemplo claro do cardter ambiguo dos processos culturais pés-modernos (...) no se pode separar questdes culturais de questdes de poder. E nesse contexto que devemos analisar as conexdes ente curriculo ¢ —multiculturalismo. © — chamado “multiculturalismo” é um fenémeno que, claramente, tem sua origem nos paises dominantes (...)._ (SILVA, 2005: 83). “Considerando que vivemos em uma cultura de poder dominada por aqueles que detém os maiores recursos sobre os paises de Terceiro mundo, que formagio a escola est garantindo as criangas, jovens e adultos brasileitos que ora se encontram nos bancos escolares? Seria uma educacio servil ¢ impensante? Como poderiamos mudar este cendtio nada estimulador, visto que os temas tratados mas escolas, em muitos casos se resumem a decorara datas e locais ditados por livros didaticos que no refletem 0 cotidiano do aluno? Nesse sentido, cabe A escola discutir os conhecimentos sobre a sade, prevencio e direitos sexuais e reprodutivos de adolescentes ¢ jovens, além de se um espaco continuo de reflexio sobre as questdes inerentes aos preconceitos, discriminagdes, as designaldades de género ¢ de orientagio sexual, de modo que se garantam as identidades nesse espago e fora dele, pois (.) a “identidade” s6 nos € sevelada como algo a ser inventado, e no descobesto; como alvo de um esforgo, “um objetivo”; como uma coisa que ainda se precisa construir a (CONEXHO LITERATURA ~ NO 32 hs partir do zero ou escolher entre alternativas e entao lutar por | ela e protege-la Iutando ainda mais — mesmo que, para que essa Iuta seja vitoriosa, a verdade sobre a condigao precaria e etemamente inconclusa da identidade deva ser, ¢ tenda a \ ser, suprimida e laboriosamente ocukta. (BAUMAN, 2005: ™ 21-22). Diante do exposto criam-se estratégias pedagégicas, a partir do uso dos ptincipios educativos da comunicagio mididtica que inclui o cinema ¢ a literatura nesse bojo, suportes para discutir género, identidade e sexualidade tendo essas astes como inspiracao para a (re) formulagao do curriculo escolar, na perspectiva dialégica, ocasifio que A experiéncia transmitida pelo relato deve ser comum ao marradot ¢ ao ouvinte. Pressupde, portanto, uma comunidade de vida e de discurso que o répido desenvolvimento do capitalismo, da técnica, sobretudo, destruiu. A distancia centre os grupos humanos, particularmente entre as geragdes, transformou-se hoje em abismo porque as condigdes de vida mudam em um ritmo demasiado sdpido para a capacidade humana de assimilagio. Enquanto no passado o anciio que se aproximava da morte era o depositario privilegiado de uma experiéncia que transmitia aos mais jovens, hoje ele nio passa de um velho cujo discurso é imitil. (GAGNEBIN apud BENJAMIN, 1987, P. 10) As artes cinematogrdficas tém apresentado possibilidades para a discussio sobre diversidade sexual e de género na escola e na sociedade, em especial nas iltimas décadas. “Boys don’t Cry” e “The Danish Git? sio apenas duas desses, mas poderiamos citar outros tantos, como: “Tle Light”, HolySiz (Benoit Pétré, 2014); C.R.A.Z.Y. - Loucos de amor (Jean-Marc Valleé, 2005); Contra a corrente (Javier Fuentes-Leon, 2009); De gravata e unha vermelha (Miriam Chnaiderman, 2015); Hoje eu quero voltar sozinho (Daniel Ribeiro, 2014); Laurence Anyways (Xavier Dolan, 2012); Milk - a voz da igualdade (Gus, Van Sant, 2009); Minha Vida em Cor de Rosa (Alan Berliner, 1997); Priscilla: A Rainha do Deserto (Stephan Elliott, 1994); Tomboy (Céline, Sciamma, 2012); Transamerica (Duncan Tucker, 2005) ¢ Vestido nuevo (Sergi Pérez, 2008); XXY (Lucia Puezo, 2006), todos adequados a faixas etarias que seguem apés os dez anos de idade. Cabe ao educador mediador selecionar 0 que melhor convém para sua escola ou comunidade, pois poderio trabalhar junto aos pais e interessados. CCONEXIO LITERATURA = NP 32 ‘Hi também, uma farta referéncia em videos de curta metragem. Nas Literaturas de Lingua Portuguesa e em muitas outras encontraremos uma grande variedade de propostas que versam sobre as questdes de género, diversidade sexual e construgdo de identidade, como por exemplo, no livro O Fio das Missangas, de Mia Couto ou mesmo em Insubmissas Higrimas de mulheres, de Conceigao Evaristo, nos contos do escritor Rosdrio Ngunza, além das obras Hey professor e Apaixonado pelo lobo, ambos de Tom Adamz; Teia de Video, de Ausélio Nery; Entre a luz e a Escuridao, de Mariana Rosa; O Principe Bastardo, de Valkiria Finisk; I Can't Even Get High, Raphacllas; Pétalas de Akayama, dos escritores Becca Stupello e Thai Hossmann; 2* Lamina, de Rebecca Stupello e Thaisa Lica; Futuro Renegado: entre escolhas e consequéncias, de Elton Moraes; Portées da Morte, de Mariana Rezer; O Amante do Rei e Meu doce deménio (Yaoi), ambos de Kathy Serfaph; Este é 0 porqué da minha morte, de Jasmin Palumbo; Madame Poison, de Paloma Nascimento; Maldicao de Levitico, de Duda Cartman e muitas outras produgées. Na Literatura infantojuvenil também ha Hvros que discutem género, sexualidade e diversidade sexual, embora enfrentem resisténcia de pais ¢ educadores em trabalhar esta tematica com as criangas e adolescentes. Nesta direg&o, sugerem-se as obras A histéria de Julia e sua sombra de menino, de Christian Bruel; Amor entre meninas, de Shirley Souza; Menina Nao Entra, de Telma Guimaraes Castro Andrade; Meu amigo Jim, de Kitty Crowther; Meus dois pais, de Walcyr Carrasco; No presente, de Marcio El- Jaick; O fado padrinho, o bruxo afilhado e outras coisinhas mais e Sempre por perto, ambos de Anna Claudia Ramos; O menino que brincava de ser, de Georgina da Costa Martins; O namorado do papai ronca, de Plinio Camillo; Olivia tem dois papais ¢ Do jeito que a gente é, ambos de Marcia Leite; Tal pai, tal filho?, Todos os amores e Tudo por vocé, todos de Georgina Martins; Uma bebida e um amor sem gelo, por favor, de Liliane Prata, além de muitas outras possibilidades basta que o educador cric o habito de pesquisa, seja em sites de busca na internet ou em catélogos impressos de videos ou livros e encontrar4 inimeras possibilidades de desenvolver um trabalho significativo na sua comunidade. Nao esquecendo que quase tudo é possivel a partir do didlogo, da reflexdo, da sensibilizagio acerca do tema estudado ¢ a compreensio do trabalho pedagégico quando do planejamento e sua execucio, afinal, Na perspectiva fenomenolégica, 0 cusriculo ndo é, pois, constituido de fatos, nem mesmo de conceitos tedricos ¢ abstratos: 0 curriculo € um local no qual docentes ¢ aprendizes tém a opostunidade de examinar, de formar renovada, aqueles significados da vida cotidiana que se J (CONEXIO LITERATURA ~NO 32 acostumaram a ver como dados naturais. O cusriculo é visto como experiéncia e como local de interrogagio ¢ questionamento da experiéncia.. Na _ perspectiva fenomenolégica, sfo, primeiramente, as préprias categorias das perspectivas tradicionais sobre curriculo, sobre <__ pedagogia e sobre ensino que sio submetidas a suspensio e 4 redugio fenomenolégicas. Objetivos, aprendizagem, avaliagdo, metodologia so todos conceitos de segunda ordem, que aprisionam a experiéncia pedagégica e educacional do mundo vivido de docentes ¢ estudantes. (SILVA, 2008, p. 40-41). A experiéncia contard no resultado do trabalho desenvolvido e 0 cusriculo se tornara mais dindmico, vivo, atuante ¢ significative. Por estes motivos devemos insistit em um trabalho coletivo e harménico entre escola ¢ comunidade, pois, tanto a escola, sepresentada por alunos e profissionais da educagio, como a comunidade através dos pais, responsaveis e comunidade em geral Quanto mais for levado a ‘efletir sobre a sua situacionalidade sobre o seu ensaizamento espaco-temporal, mais emergiré dela conscientemente carregado de compromisso com a sua realidade, da qual, porque é sujeito, nio deve set simples espectador, mas deve intervir cada vez mais. (FREIRE, 1993, p. 61) Portanto, no faltam ferramentas cinematogrificas, literdrias e lidicas para que a as questdes de sexo, sexualidade, género e construgio de identidade sejam efetivadas no ambito da escola e da sociedade, possibilitando transformagées sociais como as ocorridas em varias civilizagées, através do esclarecimento ¢ da resisténcia de grupos sociais em prol da civilidade que sespeite as diferengas e que a sensagio de pertencimento seja uma constante. Consideragées finais: Os resultados derivados das comparagées entre as obras filmicas e literdrias apresentadas constituem uma intengao de transformagao dos espagos socioeducacionais, sobretudo no que se refere A incluso dos temas sobre sexo, sexualidades, género ¢ construgio de identidade, uma vez que precisamos desmistificar tabus, preconceitos e discriminagées na escola e na sociedade. Diante do impasse que se apresenta entre masculinidade e feminilidade, © certo é que carecemos de leituras mais aprofundadas a respeito, pois é inadmissivel que, em pleno século XXI ainda tenkamos sujeitos com atitudes segregadoras e com competéncias para delimitar ou mesmo determinar o que € CCONEXAO LITERATURA — NO 32 coisa de homens e o que é préprio de mulheres. Que cabe somente ao homem a condigdo de provedor do las. Que apenas ele pode ser jogador ou arbitro de futebol, bem como predisposto ao trabalho pesado e ao servico militar. Tais reflexdes se estendem para mais além, necessitando de posturas que nos fagam repensar, inclusive as prdticas do micromachismo e de violéncias contra a mulher, seja de ordem fisica ou psicolégica, as quais as colocam em condigées de inferioridade, aumentando a ideia submissao e subserviéncia em casa e fora dela, pois a sociedade patriarcal tende a naturalizar o machismo, o ver como algo normal e, nesse contexto, a mulher passa a ser percebida como um objeto compravel a qualquer custo, ela é 0 outro citado pelos estudos sobre, multiculturalismo, globalizacao e pés-colonialismo. As questdes trazidas, referente aos filmes “Boys don’t Cry? e “The Danish Gis? estio presentes na sociedade contempordnea. Alias, sempre estiveram, mas foram e continuam, ainda que em menor proporco perseguidos e assassinados, pois nao conseguimos set aprazivel e tolerdvel com as temiaticas apresentadas. Enquanto pertencente a este grupo social, imaginemos quantos seres humanos sofreram que viverem fora do seu corpo, nao tiveram a oportunidade de se encontrar consigo ou se negaram a cada nova situagio social, simplesmente para cumprit as normas de um sistema excludente e ditatorial ¢ seletivo, em especial quando o vitimado é accito por sua condigao financeira de podetio. Nesse sentido, o papel da escola atual é repensar tudo isto e trazer para si a responsabilidade de colaborar com um avango socioeducacional instrucional da populagdo. Que a escola local passe a se constituir um espaco ainda mais sésio e comprometido com as transformagées do meio em que ela se insere. Nao se pretende criar uma concorréncia entre as instituigdes familiares, religiosos e a escola, afinal, a educacio de outrem é responsabilidade de todos, pelo menos 0 era para ser desde o periodo socratico. Assim como, a escola nao pertence ao diretor, mas a comunidade local. Educagao é responsabilidade do Estado, da escola, da familia e vice versa. Finalmente, ressalta-se que, embora existam imimeras discussdes equivocadas sobre diversidade sexual, de género e construgao de identidade, a sexualidade € um direito do individuo. Integra todo um corpo, no o & esfacelado on dividido. A sexualidade faz parte da vida e do corpo do cidadao, desde o seu nascimento. Cabe, portanto, aos pais, profissionais da educagio ¢ aos gestores piiblicos promover reflexées sobre a condigao de ser ¢ estar dos seus cidadios, afinal, todos sabem questionar e se posicionar diante desses fatos, constatando que o papel dos pais mostrar 0 mundo em sua plenitude e a escola sistematizar o conhecimento do senso comum. CCONEXKO LITERATURA —No 32 SOBRE O AUTOR E REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS: José Flavio da Paz: Habilitado para o Ensino de Lingua Portuguesa-UNIFAP; Bacharel em Letras-LIBRAS-UFSC; Cursando Letras-Espanhol-FAEL; Especialista em Arte, Educagio e Tecnologias Contemporaneas-UnB; Psicopedagogia Institucional-UNICID; Educacao Inclusiva-UNICID; Lingua Portuguesa ¢ Literatura Brasileira-FACEL; Linguistica e Formagio de Leitores-FACEL; Comunicagéo, Cultura Organizacional ¢ Tecnologia-FACEL; Metodologia do Ensino em Lingua Portuguesa, Literatura e Artes-FAVENI; Gestio do Trabalho Pedagégico (Administragio, Inspegio, Orientagio ¢ Supervisio)-FAVENI; e, Ambiental ¢ Geografia do Semidrido-IFRN. Mestre em Letras-UNIMAR; Mestre em Estudos Literdrios-UNIR. Doutorando em Estudos Literarios-UNEMAT. Membro da AINPGP - Associago Internacional de Pesquisa na Graduagio cm Pedagogia (Brasil); Membro da Red Iberoamericana de Docentes (Espanha); ANDEA - Associago Nacional de Dificuldades de Ensino ¢ Aprendizagem (Brasil); AJCS - Association des Jeunes Chercheurs en Sémiotique (Franca) e Red Federal de Poesia (Argentina). Escritor amador de poesia e crénica tendo Pparticipado de antologias ¢ concursos literarios de Ambito nacional ¢ internacional. Recebeu 0 Titulo de Membro Fundador Vitalicio e Imortal, ocupante da Cadeira n° 001/ALB/RN da Academia de Letras do Brasil; Titulo Honorifico de Cidadio Macapaense pela Camara dos Vercadores de Macapa ¢ Mengio Honrosa do Grupo FacedeébanoOficial em parceria com a ONG MovitACAO. Atualmente é Professor do Magistério Superior das disciplinas de Lingua Portuguesa ¢ Linguistica, lotado no Departamento de Letras Verndculas da Universidade Federal de Rondénia - UNIR. Contato: jfpaz@unit.br on jfp1971@gmail.com. Referéncias bibliogrificas: BARA, Paula Alvim Gattis. Os Percursos da Literatura Comparada. Disponivel em: https:/ /www.academia.cdu/11393648/Os_Percursos_da_Literatura_Comparada?auto=downloa . Acesso em: 11 jul.2016. BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Trad. Carlos Alberto Medeiros. ~ Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003; BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: a experiéncia vivida. Sio Paulo: Difusio Européia do Livro, 1967. CARVALHAL, Tania F.. Literatura comparada. ~ 4* ed. rev. e ampliada. - Sao Paulo: Atica, 2006. CBIA, C.. E-Dicionario de Termos Literarios. Disponivel em: http://edtl.fesh.unl.pt/business- directory/6079/canone/. Acesso em: 15 jun.2016. COUTINHO, Eduardo F; CARVALHAL, Tania F.. Literatura comparada: textos fundadores. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. COUTINHO. Eduardo de Faria. Literatura comparada: reflexdes sobre uma disciplina académica. In: Revista Brasileira de Literatura Comparada. Rio de Janeiro: Abralic. vol.. 1, n° 8. 2006. p. 41-57. 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