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de valor. Aliás, ele não acreditava mesmo em sua existência. Por perceber que o trabalho
necessário à obtenção das mercadorias pode variar com o tempo e os avanços tecnológicos,
descartou a possibilidade de atribuir a algo o qualificativo de medida invariável ou estável de
valor, no tempo e no espaço à maneira de Smith. Ricardo aperfeiçoou a teoria smithiana do
valor trabalho por perceber nela uma série de inconsistências lógicas. Todavia, como o próprio
Smith já observara, reduzi-los a seu valor em dinheiro não era absolutamente a solução
adequada. Necessário, mesmo, era identificar o que os tornava equivalentes em dinheiro. E este
é o ponto de partida da análise do valor econômico em Ricardo.
Antes de construir sua teoria do valor, Ricardo classifica as mercadorias segundo sua
possibilidade de reprodução. Existiram, pois, duas categorias distintas de bens: a) bens
suscetíveis de reprodução limitada, cujo valor é regulado por sua raridade, oscilando, deste
modo, conforme oferta e procura, sem jamais alcançar um ponto de equilíbrio; e b) bens de
reprodução ilimitada, de valor regulado pelo seu custo de produção, consoantes a uma lei geral
e cujo preço gira em torno de um ponto de equilíbrio. Integram esta classe toda a sorte de
mercadorias que a sociedade pode, a despeito da escassez de recursos, reproduzir em série. E é
daí que Ricardo conclui: possuindo utilidade, as mercadorias derivam seu valor de troca de
duas fontes básicas: de sua escassez e da quantidade de trabalho necessária para obtê-las.
Ricardo alega que essas exceções à regra do valor-trabalho não provocam alterações
representativas na forma como o produto é distribuído entre as classes e nem tampouco chegar
a projetar efeitos significativos sobre a acumulação de capital. Um segundo problema a
considerar seria o da renda da terra. Smith não foi capaz de justificar, em termos do valor-
trabalho, a presença dessa componente entre os custos de produção. Ricardo excluiu a renda
fundiária do cômputo do valor da mercadoria. A renda não é uma compensação ao trabalho
penoso dos trabalhadores nem tampouco ao tempo de espera dos empresários, mas uma porção
do produto da terra paga aos latifundiários pelo uso das forças originais e indestrutíveis do solo,
e surge com a escalada do preço dos produtos agrícola, determinada pelo crescimento
populacional.
O terceiro e último óbice era o lucro do capital. A exemplo dos demais clássicos, o
esquema ricardiano considera o lucro e os juros integrantes de uma mesma categoria
econômica. Ricardo os tratou como unidade, convertendo-os em trabalho. O ponto de partida
foi a reformulação do ponto de vista smithiano a respeito da equação do valor. Para ele, capital
consiste na parte da riqueza nacional empenhada na produção. Por isso, capital pode ser
representado pelas roupas e alimentos, matérias-primas, máquinas, edificações e outros
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Por volta de 1815, a Inglaterra vivia um dilema: preservar-se como economia baseada
na agricultura ou aprofundar-se na industrialização. Outra questão em voga era o papel
reservado à aristocracia rural no sistema sociopolítico vigente, resguardado pelas Leis dos
Cereais. Os defensores desta lei valiam-se até de argumentos essencialmente fisiocráticos,
segundo os quais o crescimento econômico da nação dependeria da elevação da produtividade
natural da terra, reforçados pela ideia de que o fortalecimento do setor agrícola era uma questão
de defesa nacional, além de contribuir para a preservação das tradições. Em contraposição, os
industriais defendiam a revisão da lei, sob o argumento de que as pressões altistas sobre os
preços dos alimentos tinham repercussões perniciosas para a economia, uma vez que sua
consequência natural era a elevação dos salários e, consequentemente, a redução dos lucros.
Ricardo posicionou-se favoravelmente aos industriais. Seus argumentos baseavam-se na tese
de que os maiores beneficiários do aumento no preço do trigo, decorrente da elevação de tarifas
de importação, eram os landloars e não os agricultores, que defendiam veementemente as Leis
dos Cereais.
A teoria de Ricardo extrapolava os limites de uma simples solução ao problema de sua
época. A essência do pensamento desse economista foi além e tornou-se uma completa teoria
sore a distribuição do produto social entre as classes e suas consequências para o crescimento
econômico. O fato de que Ricardo ater-se à distribuição não põe à margem o problema do
crescimento da riqueza, como muitos pensam. Na verdade, o entendimento sistemático da
distribuição da renda entre as classes que compõem a sociedade o leva, consequentemente, à
investigação do crescimento econômico. Razão para tal é o fato de o esquema ricardiano
considerar a forma como ocorre a distribuição de riqueza como aspecto determinante do
crescimento econômico.
O reinvestimento dos lucros dos capitalistas no próprio desenvolvimento industrial
implica a ampliação da demanda por trabalho e faz aumentar a população, contribuindo para a
manutenção do salário em um patamar próximo Pa sua taxa natural, no âmbito de subsistência.
A proposição ricardiana parte do pressuposto de que os lucros por unidade monetária de
investimento e salários-hora pagos aos trabalhadores sejam iguais, na existência de completa
mobilidade de capital e tendência do salário a um mínimo necessário a sobrevivência do
trabalhador.
O interesse de Ricardo, assim como sua contribuição, no campo do comércio
internacional, encontra perfeita conexão com sua abordagem do valor e da distribuição. O
modelo de Ricardo pressupunha concorrência perfeita, custos de produção constantes, ausência
de custos de transportes, comércio bilateral, trabalho como único fator de produção, e, ainda,
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