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O ENGENHEIRO E O PROGRESSO HUMANO

Fernando Alcoforado*

A profissão formal de engenheiro, isto é, uma pessoa diplomada e legalmente habilitada


a exercer as múltiplas atividades da engenharia (civil, elétrica, mecânica, química,
geologia, agrimensura, mecatrônica, etc.) é relativamente recente, podendo-se dizer que
data da segunda metade do século XVIII. Antes dessa época, muita gente se ocupou de
diversas tarefas que hoje são atribuições do engenheiro, e aí estão para provar as
incontáveis e magníficas obras de engenharia desde a Antiguidade, como o Farol de
Alexandria, os Jardins Suspensos da Babilônia, a Acrópole e o Partenon de Atenas, os
antigos aquedutos romanos, a Via Ápia, o Coliseu de Roma, Teotihuacán no México, as
Pirâmides do Egito, dos Maias, Incas e Astecas e a Grande Muralha da China, entre
muitas outras obras. As obras de engenharia, desde a Antiguidade até o século XVIII,
são muito mais fruto do empirismo e da intuição do que do cálculo e de uma verdadeira
engenharia. Leonardo da Vinci e Galileu Galilei, nos séculos XV e XVII, por exemplo,
podem ser considerados os precursores da engenharia de base científica porque o que
eles fizeram era regido por leis físicas e matemáticas. Leonardo da Vinci fez a primeira
tentativa de aplicar a estática para a determinação das forças atuando em uma estrutura
simples, ou seja, a primeira aplicação da matemática à engenharia estrutural. Galileu
Galilei publicou, em 1638, o famoso livro As Duas Novas Ciências, que trata, entre
outros assuntos, da resistência de vigas e de pilares ou colunas, sendo assim o primeiro
livro, em todo mundo, no campo da Resistência dos Materiais.

Na medida em que se desenvolviam as ciências matemáticas e físicas, a engenharia foi


se estruturando, mas somente no século XVIII foi possível chegar-se a um conjunto
sistemático e ordenado de doutrinas, que constituíram a primeira base teórica da
Engenharia. A lei de Hooke, princípio básico da Resistência dos Materiais, é de 1660 e
o Cálculo Infinitesimal foi desenvolvido por Newton e Leibniz em 1674. Em 1729,
publica-se a primeira edição do livro La Science des Ingénieurs do engenheiro militar
francês, General Belidor, que foi o primeiro livro em que se sistematizou o que havia
até então na ciência do engenheiro. Os estudos de Bernouilli, de Euler e de Navier, que
fundaram as bases da Hidrodinâmica e da Teoria das Estruturas, são de meados do
século XVIII e início do XIX. Em 1795, funda-se em Paris a famosa École
Polytechnique que se tornou o modelo de outras escolas de engenharia pelo mundo
afora. Essa escola tinha o curso em três anos, onde professores de alto nível (Lagrange,
Prony, Fourrier, Poisson, etc.) ensinavam as matérias básicas da engenharia, sendo os
alunos depois encaminhados a outras escolas especializadas: Ponts et Chausseés, École
des Mines, etc. A École Nationale des Ponts et Chaussés, fundada em Paris em 1747,
parece ter sido o primeiro estabelecimento de ensino, em todo o mundo, onde se
ministrou um curso regular de engenharia, e que diplomou profissionais com esse título.

O nascimento da engenharia moderna foi consequência de dois grandes acontecimentos


que ocorreram na história da humanidade no século XVIII: a Revolução Industrial na
Inglaterra e o movimento filosófico e cultural denominado de Iluminismo na França. A
Revolução Industrial, com o aparecimento da máquina a vapor e de uma série de outras
máquinas, forçou o desenvolvimento tecnológico e o estudo e pesquisa das ciências
físicas e matemáticas, tendo em vista as suas aplicações práticas. O movimento do
Iluminismo, consequência do Renascimento e das ideias de Descartes, libertou o espírito
humano dos estreitos limites da escolástica tradicional e valorizou a observação da

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natureza, da experimentação, do estudo das ciências físicas e naturais e suas aplicações.
É oportuno observar que, desde a Antiguidade até o século XVII, a investigação
científica, inclusive nas ciências físicas e matemáticas, era quase mera especulação, em
geral sem ter como alvo aplicações práticas. Havia, quando muito, alguma aplicação
com finalidades militares. É importante destacar que a engenharia moderna nasceu
também dentro dos Exércitos. A utilização da pólvora, o progresso da artilharia e a
necessidade de realizar obras que fossem ao mesmo tempo sólidas e econômicas e,
também, estradas, pontes e portos para fins militares, a partir do século XVII, passaram
a exigir a presença de engenheiros militares para o seu planejamento e execução.

A formação do engenheiro do futuro a ser ministrado pelas escolas de engenharia


deveria ser orientada no sentido de que o mesmo adquira uma visão totalizante das
engenharias estabelecendo as relações entre as partes e o todo em seu conjunto ao
contrário do que ocorre no Brasil na atualidade que impõe o conhecimento fragmentado
de acordo com as especialidades (civil, mecânica, elétrica, química, minas, etc.). O
engenheiro do futuro deveria ser preparado para valorizar os aspectos sociais (o ser
humano) e ambientais (a natureza), além dos aspectos técnicos e econômicos, no
exercício de suas atividades. O profissional da engenharia do futuro deveria ser
preparado para assumir sua identidade com todos os seres humanos procurando não
comprometer com suas atividades a existência da humanidade no planeta.

O engenheiro do futuro deveria aprender a incorporar as incertezas abordadas pelas


várias áreas da ciência e a delinear estratégias que permitam a sociedade enfrentar os
imprevistos, o inesperado. O engenheiro do futuro deveria adquirir a capacidade de
fazer com que a Engenharia contribua para que as relações humanas no mundo saiam de
seu estado bárbaro atual. Finalmente, o engenheiro do futuro deveria conceber a
humanidade como uma comunidade planetária solidária. Esta proposta de Edgar Morin,
apresentada em sua obra Os sete saberes necessários à educação do futuro (São Paulo:
Editora Cortez, 2011), aplicada ao engenheiro do futuro representa a antítese do método
adotado atualmente pelos engenheiros e empresas de engenharia no desenvolvimento de
suas atividades quando, na elaboração de projetos, consideram exclusivamente os
aspectos técnicos, incluindo uma margem de segurança para reduzir o risco de falha
inesperada, e os econômicos visando a redução de custos e/ou a maximização dos
lucros.

O método atualmente adotado traduz uma visão eminentemente tecnocrática porque


desconsidera os impactos negativos e os custos dos projetos do ponto de vista social e
ambiental. É inadmissível elaborar, por exemplo, projetos industriais, energéticos, de
transporte, etc. sem avaliar os problemas que os mesmos trazem para as populações
residentes na área e os riscos para o meio ambiente. Na grade curricular dos cursos de
engenharia ou na pós-graduação deveriam ser incorporadas disciplinas relacionadas
com as ciências sociais e o meio ambiente, o que significa dizer que o engenheiro do
futuro deve ser preparado para fazer com que o seu papel seja capaz de contribuir para o
progresso humano. Sem esta abordagem, os engenheiros e as empresas de engenharia
não contribuirão para o progresso da humanidade.

*Fernando Alcoforado, 72, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional


pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),

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Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010) e Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil
e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) ,
entre outros.

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