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Suas atividades artísticas iniciais, algo menos precoces que as de Mozart, desenvolveram-
se, como as deste, por influência paterna, que utilizava-se da criança, para obtenção de
recursos financeiros, até mesmo reduzindo sua real idade. De qualquer forma desenvolveu-
se rapidamente e já em 1783 apresentava composições significativas. E, em seguida, a
grande carreira, na conquista de seu reino musical, poderoso e expressivo, original e
emocionante, que enriqueceu o mundo.
A SURDEZ - A perda da audição deve ter se iniciado pouco antes dos trinta anos, ou seja,
nas vizinhanças do término do século. E progrediu de forma inexorável, podendo admitir-se
que antes dos 50 anos já apresentava dificuldade à conversação e nos períodos finais talvez
nada conseguisse ouvir. Ela iniciou-se pela queda na percepção dos sons agudos, já
evidente perante o som de flauta de um pastor. Foram consultados, sem resultado, inúmeros
médicos, inclusive o da corte, Dr. Standenheimer.
A causa da afecção foi muito discutida, com a proposição, em geral inconsistente, do papel
de vários agentes nocivos: esgotamento nervoso, abuso de bebidas alcoólicas, sífilis,
infecção tuberculosa, febre tifóide.
O processo tem sido admitido, ora como ocorrência isolada, ora associado a outras
afecções, como nevrite acústica e irritação nervosa. Uma opinião curiosa e aparentemente
expressiva, é da presença da moléstia de Paget. A suposição está fundamentada no aspecto
morfológico-estrutural do corpo, e , pelo que parece, já data de mais de trinta anos (v.s.
Naiken, J. A. M. A., 1971). É sabido que a hipoacusia por otoesclerose tem sido mesmo
admitida como forma retardada da moléstia de Paget (Naiken). Essa possibilidade obteve
recentemente o apoio significativo do Prof. Philip Sandblom, norte-americano educado na
Suécia, onde leciona cirurgia. Em seu admirável livro, CREATIVITY AND DISEASE (1995),
acentua as características da cabeça de Beethoven, com a fronte olímpica, a mandíbula
maciça e o queixo proeminente. Alguns aspectos discordantes podem ser lembrados:
aparente ausência de dor óssea e/ou articular, deformidade dos membros longos,
alargamento de zonas de junção; mas não são ocorrências anuladoras da hipótese.
E recorda seu passado: nascido com temperamento ardente e ativo, e agora a situação
presente, quando devo me separar dos homens e levar vida solitária. Ao desejar
sobrepujar o infortúnio acentua não ser possível dizer aos homens falem mais alto, gritem,
pois estou surdo. E ainda como posso revelar a debilidade de um sentido que deveria
ser, em mim, mais perfeito que nos outros, e que eu possuia outrora com a maior
perfeição.
Quase ao final recorda um deprimente passeio no campo, quando não ouvia o canto e a
flauta de um pastor. E sua dor explode em dolorosa confissão: Essas experiências me
lançaram a um estado próximo ao desespero e pouco faltou para que eu pusesse fim à
vida. Roga aos irmãos que, após a morte, seja solicitada aos médicos a descrição de sua
moléstia para que o mundo se reconciliasse com ele; acentua o rigor da mensagem
afirmando que procurará retardar a morte prematura, antes que tenha ocasião de
desenvolver todas as suas faculdades artísticas.
A MÚSICA - Uma simples observação nos revela que já no período crítico inicial, de 1799 a
1804, publicou obras magníficas, como as duas sonatas para piano conhecidas como a
Waldstein e a Appassionata e a grande Sinfonia de número três, a Heróica, dedicada à
memória de um Napoleão que o desiludiu. Nelas, entretanto, sente-se a presença de uma
situação espiritual intranqüila. O movimento inicial da primeira sonata é agitado, verdadeira
peça a exigir alta categoria do intérprete, embora o final seja repousante. A Appassionata é
dramática em seu total brilhantismo. E a Terceira Sinfonia é poderosa, rica em emotividade,
com a famosa "Marcha Fúnebre" como Adágio, mesmo que representando a "lembrança de
um grande homem".
Não podem ser ignorados, entretanto, fatos reconfortantes e sucessivos. Já em 1808 foi
apresentada em Viena a Sinfonia no 6, a Pastoral, idílica, como "um retrato musical da
natureza", apenas ruidosa no quarto movimento, constituído pela "Tempestade".
E, ainda, uma ocorrência altamente expressiva. O "Coral" que encerra a imortal Nona
Sinfonia ( cerca de 1824) é adaptação de trechos da Ode à Alegria (An die Freude) de
Schiller. E as palavras iniciais são uma invocação: "Alegria, tu fonte de luz imortal, filha de
Elysium".
Todas essas ocorrências evidenciam a elevada mentalidade diante da surdez e foi ela que
manteve sua arte e sua vida.
Assim viveu, assim sofreu, assim musicou o artista surdo que ainda embeleza a vida.