Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
A NAVE DOS
ANTEPASSADOS
Autor
CLARK DARLTON
Tradução
RICHARD PAUL NETO
Digitalização
VITÓRIO
Revisão
ARLINDO_SAN
Os homens servem à máquina...
na astronave do passado!
— Dei uma olhada no Mestre — disse Gucky dali a meia hora aos homens reunidos
na sala de comando. Todos os oficiais e chefes de seção haviam comparecido para serem
informados sobre a nova situação. — Consiste num filme de plástico sincronizado com
um robô falante. Com isso, aqui na tela, surge a impressão de que uma pessoa viva está
falando diante da câmara. Na verdade quem fala é um robô. É um processo bastante
complicado, e durante vários milênios o espetáculo produziu os efeitos desejados. Era
esse robô-imagem que dava as ordens e comandava a nave. Por isso tinha-se a impressão
de que pelo menos um dos antepassados continuava vivo e dirigia o vôo da nave. Na
verdade, todos os antepassados estão vivos, embora não tenham uma vida consciente.
Foram postos a hibernar no frio e só serão despertados quando a respectiva maquinaria
for ligada.
“A morte no conversor foi apenas um pretexto. Todas as pessoas levadas pelo
comando sinistro foram congeladas, ficaram em observação durante algumas semanas no
interior dos recipientes de vidro e depois foram literalmente empilhadas no depósito.
Dessa forma, as pessoas adormecidas ocupam menor lugar. No centro da nave repousam
cerca de cem mil criaturas. Isso corresponde ao núcleo de uma população planetária, e era
o que se planejava. Mas houve uma coisa que não correu segundo os planos...”
Gucky fez uma ligeira pausa para deleitar-se com o espanto dos ouvintes. Eram
arcônidas, conforme suspeitara, mas por que afirmar-lhes isso agora? Por que teriam de
saber que sua raça dominava a Via Láctea, ou ao menos a dominara até que foram
atingidos pelo destino que...?
Um belo dia, eles mesmos descobririam o segredo.
— Durante os primeiros séculos do vôo, que seria apenas uma experiência, os robôs
colocados a bordo obedeciam ao comandante. Um dia enganaram a pessoa que se
encontrava no comando e investiram o sucessor em suas funções. Recorreram ao
transmissor de imagens para transmitir-lhe as instruções que vigoram até hoje.
Os homens ouviram-no em silêncio. Não estavam compreendendo nada. Gucky
prosseguiu:
— Não sei por que a nave voa com uma relativa lentidão. É possível que as
instalações de hipersalto tenham entrado em pane, motivo por que a viagem teve de
prosseguir apenas em vôo normal. Acontece que a nave também não conhece qualquer
tipo de astronavegação ou pilotagem. Se a presente rota for mantida, dentro de dois
séculos a nave penetrará no campo de gravitação de um grande sol circundado por vinte
planetas. Mandei verificar isso pelo computador de minha nave. Quer dizer que dentro de
duzentos anos, aproximadamente, vocês chegarão ao destino. E depois disso, acontecerá
aquilo que seus antepassados desejavam. Vocês entrarão em órbita em torno do sol. O
processo que fará despertar as pessoas congeladas será iniciado automaticamente. Essas
pessoas despertarão uma após a outra. Depois de algum tempo, a nave pousará. Os
homens povoarão o planeta. Uma nova civilização terá início, se é que o planeta pode
sustentar a vida.
O comandante lançou um olhar de perplexidade para Ps-5. Muito confuso,
perguntou:
— E se esse planeta não puder sustentar a vida?
Gucky interrompeu-o com um gesto.
— Não se preocupem. É possível que seus antepassados tenham escolhido a rota por
simples acaso, mas a mesma justifica certas esperanças. O sol de que acabo de falar
possui pelo menos três planetas adequados à vida.
— Quem foi o Mestre? — perguntou o médico em tom curioso.
Mais uma vez, o rato-castor sorriu.
— Um enorme computador que fica no centro da nave, e que assumiu o poder há
milhares de anos. Tinha a intenção de pousar no planeta, despertar as pessoas
adormecidas e transformá-las em escravos. Pretendia formar uma verdadeira civilização
de robôs. O planeta, colonizado por vocês, se transformaria no centro de um gigantesco
império que seria governado pelo computador. Seria uma bela surpresa; ainda bem que a
mesma não se concretizou. No fundo devemos isso a um único homem.
“Refiro-me a T-39, que ainda dorme no seu esquife de vidro. Se o mesmo não
tivesse pensado em sua morte, e se eu não me encontrasse por perto, tudo poderia ter
saído muito diferente. Os robôs haviam notado a revolta que se esboçava, e estavam
preparando sua reação. No último instante consegui desligar a central energética. Se não
dispusesse da capacidade telecinética, isso teria sido totalmente impossível. Basta realizar
uma pequena reprogramação, e a energia pertencerá a vocês, ou seja, aos humanos. Com
isso, a missão que tenho de cumprir aqui estará concluída; trata-se de uma missão que me
foi trazida pelo acaso. Talvez ainda nos encontremos. Talvez consigamos conferir à nave
de vocês a velocidade que lhes permita atingir o planeta dentro de alguns anos. Talvez...
conforme acabo de dizer.”
O comandante adiantou-se. Estendeu as mãos para Gucky.
— Seus pensamentos são muito humanos, embora você não pertença a nenhuma
raça humana — disse muito comovido. — Nós lhe agradecemos. Transmita nossos
cumprimentos ao seu povo.
Gucky fez um gesto condescendente. A idéia de ser considerado o representante da
Terra divertia-o.
— Faremos o possível para ajudá-los e sempre estaremos empenhados em que entre
nós reine a paz eterna. Mas tenham cuidado para que os robôs continuem sempre a ser
seus servos; nunca mais deverão assumir o poder. Antes de retirar-me, ainda falarei com
os técnicos e os cientistas. Se vocês não puderem contar com os robôs reprogramados,
estarão perdidos. Quanto ao Mestre — um sorriso de triunfo surgiu em seu rosto — bem,
ele está liquidado. O acesso às instalações frigoríficas está livre, e um de vocês terá de
ocupar o lugar do Mestre.
“Deixem que as pessoas adormecidas descansem até que vocês cheguem ao destino.
Se algum falso alarma os despertasse, haveria uma catástrofe de proporções
inimagináveis. Nestas naves cabem mais de cem mil pessoas adormecidas, mas poucos
milhares de pessoas vivas. Como vêem, o raciocínio dos robôs também se desenvolve
segundo as trilhas humanas. Eles tomaram todas as providências para que apenas alguns
milhares de pessoas estivessem vivas de cada vez. E deixaram que vivessem por muito
tempo: aquilo que vocês designam como uma geração corresponde a cem anos em nosso
planeta. Os padrões de tempo estão bastante deslocados.”
Gucky respondeu a mais algumas perguntas, orientou os técnicos sobre as tarefas
que teriam de cumprir e despediu-se.
— Passem bem, amigos, e procurem ser dignos da liberdade reconquistada.
Obedeçam ao comandante, mas nunca se submetam às ordens de uma máquina. O
homem sempre deve ser o senhor da máquina; no momento em que esta “começa a
pensar”, inicia-se um terrível perigo. Mas, embora a máquina saiba ser mais lógica, a
longo prazo ela nunca consegue ser mais inteligente que o homem. Passem bem...
Diante dos olhos perplexos da assistência, Gucky desmanchou-se como um espírito
bondoso que, uma vez cumprida sua missão, retornasse ao reino do invisível. O que ficou
para trás foi um novo presente, que garantia um futuro razoável.
A porta abriu-se e um vigia entrou.
O comandante dirigiu-se ao mesmo e disse:
— O setor RC está sujo. Providencie para que o comando de limpeza imediatamente
inicie o trabalho.
A voz do robô soou com a monotonia de sempre:
— A ordem será executada imediatamente. Há outras instruções, senhor?
O comandante sorriu.
— Sim, há muitas instruções. Você as receberá dos setores competentes. Retire-se.
O robô saiu sem dizer uma palavra.
***
O cadete Brugg quase morreu de susto, quando uma voz soou às suas costas:
— Será que você já se esqueceu de mim, cadete?
Gucky exibiu o dente roedor e foi arrastando os pés em direção ao cadete perplexo.
Plantou-se à sua frente, apoiando-se sobre o rabo.
— Então?
— Pensei... — principiou o cadete muito confuso, procurando em vão uma
explicação sobre o lugar em que o rato-castor estivera nestas últimas horas. — Pensei...
— Ora esta! Quem não sabe pensar deve deixar isso para outras pessoas —
recomendou Gucky em tom paternal. Subitamente sua voz assumiu um tom penetrante:
— Onde estão as cenouras, meu filho?
O cadete Brugg tinha quase o dobro do tamanho de Gucky, mas preferiu não
responder. Girou sobre os calcanhares. Sem dizer uma palavra entregou dali a dez
segundos o saco de plástico a Gucky, e este desapareceu tão depressa como viera. Brugg
viu-se novamente a sós em seu “reino”, mas não se sentia como um rei. Para evitar novos
problemas preparou nada menos de cinqüenta quilos das malditas cenouras, pois se fosse
necessário pretendia...
Enquanto isso, Gucky materializava-se na sala de comando.
Ao contrário de Brugg, desta vez Wilmar Lund não se assustou.
— Então? — perguntou. — O que houve com essa nave? Afinal, você demorou
muito. Quase três horas...
— O que são três horas para quem tem de corrigir uma história de dez milênios? —
perguntou Gucky por sua vez.
Gucky não pretendia informar Lund sobre tudo que vira e soubera. Só Perry Rhodan
poderia tomar uma decisão sobre isso. Uma nova civilização poderia representar um
apoio importante para o Império Solar, mas também poderia acarretar um perigo.
— Essa nave está à deriva. Um belo dia teremos de cuidar dela.
— Se é que conseguiremos encontrá-la.
— Os dados já foram armazenados no computador — disse Gucky, sacudindo o
saco de plástico com as cenouras.
O comandante Lund esteve a ponto de irritar-se, mas resolveu calar-se.
Logo depois, fez o registro no diário de bordo:
Data: ...Posição CM-13-HB. Houve um atraso no
vôo porque um couraçado arcônida que está à deriva
cruzou nossa rota. O exame não trouxe qualquer
resultado. Dados relativos à rota do barco arcônida
foram armazenados. O próximo salto será realizado
dentro de...
***
**
*