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NOVO

COMENTÁRIO BÍBLICO
CONTEMPORÂNEO

F. F. BRUCE

Baseado na
Edição Contemporânea de Almeida
ÍNDICE

Prefácio..........................................................................................................................6
A br ev ia tu ra s................................................................................................................. 8
In tr od uçã o................................................................................................................... 12
Filipenses
1. Pre âm bulo (Filipens es 1: 1-2) ........................................................... ........... 35
2. Açõ es d e graças introdutórias
(F ili pe ns es 1:3-6)........... .................................................................................. 40

3. In te rlú di o (F ili pe ns es 1:7-8)............ ............................................................44


4. Oração Interces sória
(F ili pe ns es 1:9- 11)............ ...............................................................................46
5. Situação Atual de Paulo
(F ili pe ns es 1:1 2-1 4)........... ............................................................................. 50
6. Várias Razões para o Testemunho do Evangelho
(F ili pe ns es 1:1 5-1 7)........... ............................................................................. 53
7. Vida ou Morte? (Filipenses 1:18-26).......................................................... 56
8. Perseverança no Sofrimento
(F ili pe ns es 1:2 7-3 0)............ ............................................................................ 65
9. Convite para Considerações Mútuas
(F ili pe ns es 2: 1- 5) .............................................................................................70
10. Hin o a Cristo (Filipen ses 2: 6- 11 )............................................................7 7

11. Exor tação à Fidelida de


(F ili pe ns es 2: 12 -1 3) ........................................................................................9 0
12. Espe ranç a de Paulo Quanto aos Filipenses
(F ili pe ns es 2: 14 -1 6) ........................................................................................ 94
13. Libaçã o de Paulo Sobre o Sacrifício dos Filipen ses
(F ili pe ns es 2: 17 -1 8) ........................................................................................98
14. Visita d e Timóteo Ag uardada
(F ili pe ns es 2: 19 -2 4) ......................................................................................100
15. El og io a E pa fr od ito (Fi lip en ses 2:25 -30 )..............................................104
16. Primeira Conclusão: Chamada ao Regozijo
(F ili pe ns es 3:1 )...............................................................................................110
17. Adv ertência Contra os "Maus Obreiros"
(F ili pe ns es 3: 2- 3) ...........................................................................................112
ÍN DICE 5
18. An tigo Có digo de Valores de Paulo
(F ili pe nse s 3: 4- 6) ...........................................................................................116
19. Atual C ódigo de Va lores de Paulo
(F ili pe nse s 3: 7- 11 ).........................................................................................121
20. A m bi çã o de Pa ulo ( Fil ipe ns es 3:12 -14 ).................................................130
21. M aturidade Espiritual (Filipenses 3:15-16) ..........................................134
22. Im ita ção de Pau lo (F ilip en ses 3:17 )........................................................137
23. A dv ertê nc ia Co ntra Inim igo s (Filipen ses 3:18 -19).... ........................13 9
24. E sper ança e Cida dania Celestiais
(F ili pe ns es 3: 20 -2 1) ......................................................................................143
25. Ex orta ção à Pe rm an ece r Firm e (Filipe nses 4:1 )..................................147
26. No vo A pe lo em Pro l da Un idad e (F ilipen ses 4:2 -3).... ......................148

27. Conv ite Reiterado a Reg ozijar-se (Fil ipenses 4 :4) .............................151
28. Estímu lo à Fé (Fil ipenses 4:5-7) .............................................................. 152
29. Segunda Conclusã o: Alimento para a Mente
(F ili pe n se s 4: 8- 9) ...........................................................................................155
30. Su fic iên cia de Pa ul o (Fi lip en ses 4:10 -1 3) .............................................158
31. Ap reciação de Dádivas Anteriores
(Filipenses 4:14-17)......................................................................................162
32. Reco nhecim ento de Dádivas Atuai s
(F ili pe n se s 4: 18 -2 0) ......................................................................................165
33. Sa ud açõ es Fin ais (F ilip en ses 4:2 1- 22 )................................................... 167
34. Açã o de Graç as — Bê nçã o (Filip ense s 4:23 )___________________ 170
Posfácio......................................................................................................................171
Glossário................................................................................................................... 174
Prefácio

Embora não apareça nas listas comuns de "best-sellers", a Bíblia


continua a ser mais vendida que qualquer outro livro. E, a despeito do
crescente secularismo ocidental, não há sinais de que o interesse pela
mensagem da Bíblia est eja arrefe cendo. Bem ao cont rári o, núm ero cada
vez maior de homens e mulheres examina suas páginas em busca de luz
e orientação, em meio à crescente complexidade da vida moderna.
Esse interesse sempre renovado pelas Escrituras, o qual se encontra

tanto dentrobem
da África, como forada
como da Europa
igreja, ée fato
das notável entreNaosverdade,
Américas. povos daà Ásia e
medida
que saímos de países tradicionalmente cristãos parece aumentar o inte
resse pela Bíblia. Pessoas ligadas a igrejas tradicionais católicas e pro
testantes manifestam, pela Palavra, o mesmo anseio presente em comu
nidades evangélicas mais recentes .
Por isso, ao oferecermos esta nova série de comentários, desejamos
estimular e fortalecer esse movimento mundial de estudo da Bíblia pelos
leigos. Conquanto esperemos que pastores e mestres considerem estes
volum es muito úteis à compreensão e com unicação da Palavra de Deus,
não os escrevemos primordialmente para esses profissionais. Nosso
objetivo é fornecer, a todos os leitores das Escrituras, guias confiáveis
que os ajudem a melhor compreender os livros da Bíblia — guias que
representem o que há de melhor em erudição contemporânea, e que sejam
apresentados de maneira a não exigir preparo teológico formal para ser
entendidos.
É convicção do editor, bem como dos autores, que a Bíblia pertence
ao povo, e não meramente aos acadêmicos. A mensagem da Bíblia é tão
importante que de modo algum pode ficar acorrentada a artigos eruditos,
pre sa a ensa io s e m on og ra fi as herm éti cos, re dig id os apenas para os
especialistas em teologia. Embora a erudição rigorosa, esmerada, tenha
seu lugar no serviço de Cristo, todos quantos participam do ministério
do ensino, na igreja, são responsáveis por tornar acessíveis à grande
comunidade cristã os resultados de suas pesquisas. Por isso, os eruditos
que se unem para apresentar esta série de comentários o fazem tendo em
mente estes objetivos superiores.
Pre fác io
Há muitas traduções e edições contemporâneas, em português, do
Livro santo. Na sua maioria essas edições são excelentes e devem ter a
p re fe rê n cia do le itor no qu e conce rn e à com pr ee ns ão.
A Bíblia de Jerusalém, basead a na obra de erudit os católicos france ses,
vividamente traduzida para o português, talvez seja a mais literária das
traduções recentes. A BLH (Bíbli a na Linguagem de Hoje), da S ociedade
Bíblica do Brasil, é a tradução mais acessível às pessoas pouco familia
rizadas com a tradição cri stã. Há, aind a, em português, a Almeida Revista
e Atualizada, e a Edição Revisada de Almeida, além de outras traduções
mais recentes.
Todas e ssas versões são, à sua pr ópria maneira, mu ito boas, e devem ser
consultadas com proveito pelo estudante sério das Escr ituras . É possível que
a maioria dos estudantes deseje possuir diversas versões para consulta,
objetivando especialmente a clareza de compreensão — embora se deva
salientar que de modo algum qualquer delas esteja isenta de falhas e deva
ser considerada a última palavra quanto a qualquer ponto. De outra forma,
no haveria a menor necessidade de um comentário como este!
Esta série de comentários, por ser tradução do inglês, faz referências
à NEB, que constitui ver dadeiro mo numento à pesquisa moderna protes
tante, e a outras versões em inglês, entre elas a RSV, a NAB, e a
conceituada NIV.
Como texto bíblico básico desta série decidimos usar a ECA, por ser
esta edição a que está-se tornando padrão, de modo especial nos semi
nários e institutos bíblicos. Por representar, no momento, o que há de
melhor na literatura evangélica em língua portuguesa, ela aos poucos se
torna a mais utilizada por pastores e outros estudiosos das Escrituras.
Cada volume desta série contém um capítulo introdutório expondo em
minúcias o intuito geral do livro e seu autor, os temas mais importantes,
e outras informaç ões úteis . Depo is, cada s eção do livro é elucidada como
um todo, e acompanhada de notas sobre aqueles pontos do texto que
necessitam de maior esclarecimento ou de explanação mais minuciosa.
Esta nova série é oferecida com uma oração: que venha a ser instru
mento de renovação autêntica, e de crescimento entre a comunidade
cristã no mundo inteiro, bem como meio de enaltecer a fé das pessoas
que viveram nos tempos bíblicos, e das que procuram viver, em nossos
dias, segundo a Bíblia.
Editora Vida
Abreviaturas

A Codex Alexandrinus
a.C. antes de Cristo
ad loc. no lugar
Aleph Codex Sinait icus
ANF Pais Ante-Nicen os (série)
Ant. Josephus, An tiquities
ASN U Acta Seminari i Neo testamentici Upsaliensis
ASV Am erican Standard Version (190 1)
AT Antigo Testamento
B Codex Vaticanus
BC Início do Cristi anismo
BDF F. Blass, A. De brun ner, R. W. Fun k, Greek
Gram mar oft he New Testament and Other Early
Christian Literature
BFC T Beitrage zur Forschu ng Christlicher Theologie
Bib. Bíblica
BJ Bíblia de Jerusalém
BZAW Beihefte zur Zeitschrift für die alte stamentl iche
Wissenschaft
BZNW Beihefte zur Zeitschrift für die neutestamentenlic he
Wissenschaft
C Codex Ephraemi
CB Coniectanea Biblica
CBC Cambridge Bible Comm entary
CBQ Catholic Biblical Commentary
CBSC Camb ridge Bible for Schools and Colleges
cf. confron te, compare
cap. capítu lo, capítulo s
CIJ Corpus Inscriptionum Judaicarum
CIL Corpus Inscriptionum Latinarum
1 Cie m Cart a de Clemente de Roma aos Corínt ios
Ciem Hom Clementine Homilies
CNT Commentaire du Nouveau Testament
D Codex Claromontanus
Ab revia turas
D* Primeira mão em D
D1 Primeiro corretor de D
D2 Segundo corretor de D
d.C. Depois de Cristo
EC A Bíblia Sagrada, Edição Contemporânea, Almeida
EG T Expositor's Greek Testament
EPC Epworth Preacher's Commentaries
EQ Ev ange lic al Qu arterly
ET L Ephe me rides Theologicae Lovanie nses Ex pository
Times
F Codex Augiensis
Forschugen zur Religion und Literatur des Alten
FRLANT
und Neuen Testaments
Codex Boernerianus
G
Good News Bible (versão em inglês contemporâneo)
GN B Hastin gs' Di cti onary ofth e Bib le
HD B Handbuch zum Neuen Testament
HN T Harpers's New Testament Commentaries
HNTC Har va rd Theolog ica l Revie w
HTR Interpreteis Bible
IB C. F. D. Moule, Idiom- Bo ok ofNew Testa me nt Gr eek
IBNTG International Criticai Commentary
ICC Bíblia de Jerusalém
JB Jo urna l ofB ib lical Litera ture
JBL Jo urna l ofthe Ro ya l Statistica l Socie ty
JRStatSoc Jou rn alfor Theolog y an d the Ch urch
JTC
JTS Jo urna l o f T heolo gical Studies
Kriti sch-Exegetischer Kom mentar
KE K King James Version (Versão do Rei Tiago)
K JV Codex Angelicus
L Septuaginta (tradução grega pré-cristã do AT)
LXX M offatt New Testament Commentary
MNTC Ne w Am er ican Stan dard B ible
NAS B Ne w Centu ry Bible
NC B Ne w Clared on Bible
NCl arB Ne w Eng lis h Bib le
NEB New International Comm entary onth e New Tes tam ent
NIC NT Ne w Internationa l Greek Tes tam en t Co mmen tary
NIG TC Ne w Internationa l Version
N IV
10 Filipe nse s
No vT No vum Testamentum
Nov TSup N ov um Te stam en tum Su pp lement
NP NF Pais Nicenos e Pós-Nicenos (série)
NT N ov o Te sta men to
NT C Com en tário do Nov o Te sta men to
NT D Das Neue Testament Deutsch (NT alemão)
NT F N eu te stam en tli ch e For sc hu ng en
NT L Biblioteca do Novo Testamento
NT S New Te sta me nt Studies
NTT S New Te sta men t Too ls and Studies
P Codex Porphyrianus
P46 Papiro Chester Beatty das Cartas de Paulo
par. pa ralelo
PNTC Pelican New Testam ent Comm entaries
Psi CodexAthousLaurae
RB Re vue Bib lique
RNT Regensburger Neues Testa ment
RSPT Revue des sciences philo soph ique s et théolo giq ues
RS R Re cherche de Science religieuse
RSV Revised Standard Version
s.,ss. seguinte, seguintes (de versículos ou páginas)
SBLDS Society ofBi blical Literature Dissertation Series
SBT Studies in Biblical Theology
SD Studies and Documents
SE Studia Evangélica
SNT Die Schriften des Neuen Testaments

SNTSMS Society for New Testame nt Studies Mo nograph


Series
TB Tyndale Bulletin
TDNT Theological Dictionary ofthe New Testament
Test Zeb Testament ofZebulun (in Testaments ofthe
Twelve Patriarchs)
HKNT Theologischer Handkommentar zumN euenT estament
TKNT Theologischer Kom m entar zum N euen Testament
TU Texte und Untersuchungen
TZ Theologische Zeitschrift
v.(w.) versículo (versículos)
WBC W ord Biblical Commentary
WC W estm inster Com mentaries
Ab revia turas 11

WPCS We stminster Pelican Comm entary Series


WUNT Wissenschaftl iche Unters uchungen zum
Neu en Testamen t
ZK Zahn Komm entar
ZNT Zeitsch riftfü r das Neue Testame nt

(
Introdução

Filipos
A cidade de Filipos leva o nome de Filipe II, rei da Macedônia,
fundada por ele em 356 a.C. Antes, existia nesse lugar um vilarejo
traciano conhecido pelo nome grego Krenides ("fontes"), que em 361
a.C. foi tomado por colonos da il ha de Tasos , com andado s por um exilado
ateniense chamado Calistrato. O maior atrativo desse lugar era o fato de
localizar-se nas proximidades das minas de ouro do monte Pangéus, que
Filipe fez questão de controlar ao fundar de novo a cidade. Filipos tinha
também importância estratégica por constituir a rota terrestre para o
Helesponto (Dardanelos) e Bósforo, e portanto, para o interior da Ásia.
Lucas descreve Filipos como "a primeira cidade dessa região da
M aced ônia"1 — isto é , o primeiro ent re quatr o distr itos em que a
M aced ônia fora dividida pelos roma nos, em 167 a.C. — e acrescenta que
se tratava de um a colônia roman a (Atos 16:12). A cidade foi transfo rm a
da em colônia em 42 a.C., pelos líderes romanos Antônio e Otaviano,
após obterem vitória ali sobre Bruto e Cássio, os assassinos de Júlio
Césa r. Os comandantes vitorios os estabeleceram um batalhão de solda
dos veteranos em Filipos. Doze anos mais tarde Otaviano, havendo por
sua vez derrotado ali as tropas de Antôn io na batalha de Actium, instalou
na área parte das tropas desbaratadas de Antônio, bem como algumas
famílias, às quais despojou a fim de estabelecer também seus próprios
soldado s veterano s, dando à cidade seu próprio nome: Colônia Júlia
Filipense. Três anos depois, quando O taviano assumiu o t ítulo d e Augus-
A 2
to, o nome da cidade foi ampliado: Colônia Júlia Augusta Filipense.
Os cidadãos de qualquer colôni a rom ana eram autom aticamente c ida
dãos romanos; a constituição de uma colônia romana seguia o modelo
da cidade-mãe, Roma, havendo um colegiado de dois magistrados na
liderança. Na maior parte das colônias esses magistrados eram oficial
mente conhecidos como duo uiri (ou duumuiri iuri dicundo, "dois
hom ens que administram justiça"). N outras col ônias, todavia, preferi am
ser chamados pelo título mais distinto de preto r; falando, por exemplo,
dos magistrados-chefes de Cápua, na Itália, Cícero observou que "em
bora se jam denom in ados duo uiri nas outras colônias, estes querem ser
Introd ução 13
cham ados de pretores." Parece que i sso também era verdade quanto aos
magistrados-chefes de Filipos: Lucas se refere a eles usando um termo
grego stratego i, equivalente ao título de "pretores" (Atos 16:22, 35, 36,
38), que ECA traduz "magistrado".
À semelhança dos magistrados-chefes de Roma, os das colônias
romanas eram acompanhados pelos lictores, que possuíam fasces, ou
molhos de varas, símbolos do cargo. Os lictores que atendiam aos
pre to re s fi li pense s su rg em na narr ativa de Lucas sob a desi gnação gr eg a
equivalente: rhabdouchoi, literalmente "seguradores de varas", que ECA
traduz "quadrilheiros" (Atos 16:35, 38).
Macedônia
Macedônia, território a que Filipos pertencia, era antigo reino da
penín su la balc ânic a, que se lim itav a ao sul co m a T hess ália, e a es te e
nordeste com a Tráci a. Quand o os persas invadiram a Europ a, nos inícios
do século quinto a.C., os reis da Macedônia colaboraram com os invaso
res e por isso conseguiram certa independência limitada para si próprios.4
Apesar disso, o rei macedônico Alexandre I ajudou secretamente as
regiões gregas mais distantes, ao sul, que foram atacadas porXerxes em
480 a.C..5 Tanto Alexandre I como seus sucessores patrocinaram a
cultura gr ega; o pr óprio Alexandre, como príncipe coroado da M aced ô
nia, teve permissão para comp etir nos jog os olímpicos (abertos acenas
aos gregos), visto que sua família afirmava descender de Argive.
Por volta do quarto século a.C., a Macedônia fazia parte do mundo
grego no que se referia à maior parte das questões práticas. Filipe II da
Macedônia (359-336 a.C.), mediante diplomacia e conquistas militares,
tornou-se senhor das cidades-estados da Grécia. Após seu assassinato,
seu filho Alexandre III (Alexandre, o Grande) herdou o domínio greco-
macedônico, fazendo dele a base para a conquista da parte ocidental da
Ásia (do extremo leste, até o vale do rio Indo) e Egito. Todavia, com a
divisão do império de Alexandre, logo após sua morte em 323 a.C., a
Macedônia tornou-se outra vez um reino separado.
O reino da Macedônia entrou em conflito com os romanos quando
Filipe V (221-179 a.C.) celebrou um traído com o inimigo deles, Aníbal,
durante a segunda guerra cartaginesa. Os rom anos foram capazes de
suscitar muitas encrencas para Filipe, no lado ocidental do Adriático, de
mod o que Fil ipe permanec eu ocupado o tempo todo, en quanto seu t ratado
com Aníbal deixou de surtir efeit o. Quando a segund a guerra cartaginesa
14 Filipenses
aproximou-se do fim, estando Aníbal morto, os romanos encontraram
um pretexto para declarar guerra a Filipe. Essa guerra findou em 197 a.C.
com a derrota de Filipe em Cin ocefá lia, na The ssália central. Daí em
diante ele foi obrigado a limitar seu governo à Macedônia, sem poder
interferir nos assuntos das cidades-estados gregas mais distantes, ao sul.
Perseu, filho de Filipe, por sua vez atraiu as suspeitas de Roma, as
quais foram incrementadas pelo seu inimigo, o rei de Pérgamo, e aliado
de Roma. Seguiu-se a terceira guerra macedônica (como é chamada pelos
historiadores romanos), terminando em 168 a.C. com a vitória dos
rom anos em Pidn a, cidade litorânea a o sul da Ma cedôn ia. Foi quando
os romanos aboliram a dinastia real da Macedônia e dividiram o reino
em quat ro re pú bl ic as .10 Entreta nto, em 149 a.C., um aven tureiro c ham a
do An drisco, declarando ser filho de Perseu, reunificou a Macedôn ia sob
seu comando , por um cur to períod o.11 Quando os romanos abateram
A ndrisco , em 148 a.C., decidiram que a única açâo a s er tom ada com
respeito à M acedônia ser ia anexá-la a uma província. As qu atro repú
blicas que vin te an os an tes hav ia m sido es ta bel ec id as , perm anece ra m
como distritos geográficos retendo, porém, pouca importância política.
A fim de consolidar o poderio sobre a nova província, os romanos
construíram uma enorme estrada militar, a via Inácia, partindo de Apo-
lônia e Dirráquio, no Adriático, até Tessalônica; mais tarde estendeu-se
pa ra o leste, até Filip os , e a seu po rto N eáp olis (a m ode rn a C av al a) , e
mais tarde até Biz ânc io.13
A Macedônia tornou-se assim uma base para maior expansão do
pod er io ro m an o. Em 27 a.C., ela se to rn ou pro vín ci a se na to rial , pe lo
imperador Augusto. Seu sucessor, Tibério, colocou-a sob seu controle
direto, como provín cia imperial, em 15 d.C., mas Cláudio a dev olve u ao
senado em 44 d .C .14 O procônsul (assim se chamava o go vern ado r de
uma província senatorial) tinha sua sede administrativa em Tessalônica.
A Chegada do Evangelho
O cristianismo chegou à M acedônia menos de vinte anos a pós a morte
de Cristo. Um dos documentos mais antigos do Novo Testamento — a
pri m eir a ca rta aos T ess alo nic en se s — fo i en vi ad a de Corinto , pro vavel
mente no outono de 50 d.C., dirigida à recém-fundada igreja de Tessa
lônica. 15 Esta carta foi enviada por Paulo, Silvano e Tim óteo , e indica
que a igreja de Tessalônica teve seu início quando esses três homens
visitaram a cidade, tinha pouco tempo. A visita deles a Tessalônica havia
Introdução 15
sido precedida por uma visita a Filipos, "havendo, primeiro padecido, e
sido ultrajados em Filipos" (1 Tessalonicenses 2:2).
Os movimentos de Paulo e seus companheiros, registrados em
1 Tessalonicenses, coinci dem com os r egist ros mais minuciosos de Atos
16:6-18:5, os quais foram escritos em data posterior, e podem ser aceitos
com máxima confiança como formando uma estrutura histórica dentro
da qual os dados mais incidentais da correspondência paulina se encai
xam, para maior compreensão.
Quando Paulo e seu companheiro Silvano (chamado de Silas, em
Atos) lançaram-se, após o concilio de Jerusalém, à travessia da Ásia
Menor, a partir da Cilícia, indo para o oeste, a Macedônia nâo constava
de seus planos de viagem. Pelo que se pode determinar mediante a
narrativa de Atos, o objetivo deles era Efeso. Entretanto, ambos foram
impedidos de proseguir em sua viagem naquela direção e se viram
obrigados (agora aco mp anha dos de Timóteo, que se l hes jun tara em
Listra) a ir para noroeste, saindo de Icônio ou Antioquia da Pisídia, até
chegar ao mar Egeu, ao porto de Trôade Alexandria).
E aqui que se inicia a passagem na primeira pessoa do plural, "nós",
de Atos: e a narrativa prossegue nessa pessoa, o que indica talvez que o
pró pri o narr ador estiv es se pre se nte aos aco nte ci m en to s:
"Paulo teve de noite uma visâo em que se apresentou um homem da
M acedô nia, que lhe rogava: 'Passa à M acedôn ia, e ajud a-no s.' Logo
depois desta visâo, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que
o Senhor nos cham ava para l hes anunciarm os o eva nge lho" (Atos 16:9,
10).

O grupo missionário, agora aumentado para quatro pessoas (segundo


pare ce), pela ad iç ão do narr ador (que pre su m im os ser L uc as ), atr avess ou
o mar, de Trôade a Neápo lis, e dal i viajou cerca de dezesseis q uilômetros
pel a vi a In áci a, até Fi lip os.
Era costume de Paulo, ao visitar uma cidade gentia, dirigir-se à
sinagoga local a fim de encontrar alguns ouv intes dentre os jud eu s e
gentios tementes a Deus que porventura a freqüentassem. Parece que em
Fili pos não havia uma comunidade judaica sufici entemente grande para
estabelecer-se uma congregação regular na sinagoga (para isso o quorum
seria de z hom en s).16 Todavia, havia um local informal de reuniões, fora
da cidade, às margens do rio Gangites, onde algumas mulheres se
reuniam aos sábados para recitar determinadas orações. Esse grupo
14
Filipenses
fem inino era formad o provavelmente por m ulheres judias e outr as,
temen tes a Deus (povo gentio que aderia à form a jud aica de cult o sem
serem prosélitos conv ertidos); a líder era Lídia, nat ural de Tiatira, na Ásia
M enor, que negoc iava com pú rpura, tintura fabricada com o sumo da raiz
da r uiva-d os-tintureiro s, pela qual a cidade já há muito tem po se tornara
famosa. (Homero descreveu o modo que "uma mulher macedônica ou
cariana tingia o ma rfim com t intura de púrpura.") Lídia e suas amigas
form aram o núcleo da igreja e m Fil ipos. A s mulheres da Mac edônia já
há muito tempo tinham a fama de exercer iniciativa e influência, e estas
nobres tradições foram bem conservadas pelas mulheres das igrejas
m acedô nicas.1 8
Lídia colocou sua casa à disposição dos missionários, a qual se tornou
sem dúvida o lugar de reuniões da igreja que logo surgiu em Filipos.
Entretanto, os missionários envolveram-se em problemas graves
quando Paulo exorcizou o "espírito de adivinhação" de umajovem que,
"adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores" (Atos 16:16). Tec
nicamente esse espírito é chamado de espírito de pitonisa, ou seja:
tratava-se do mesmo espírito, porém de menor poder, que subjugava a
pro fe ti za pít ic a de D elf os de m od o que es ta fa la va co m o port a- voz de
Apoio. Como resultado do exorcismo a jovem não m ais conseguia
pre diz er o fu tu ro . (E xiste um para le lo lite rá ri o em Theophoroumene [A
Mulhe r Divinamente Inspirada], de Menander, peça em que umajovem
escrava perde seus címbalos e tamborins e, com eles, o dom da profecia
deles pro ve nien te.)1 9

Os proprietários filipenses da escrava ficaram perturbados diante da


perd a do s re ndim ento s re gu la re s que a l eitura da so rte lh es propo rc io n a
va. Paulo, assim julgav am eles , era culpado de interferir em seus direitos
de pr opriedade. Portanto, Paulo e Silvano (o s dois jud eu s genuínos do
quarteto missionário) foram arrastados ante o magistrado, no fórum, sob
a seguinte ac usação: "Estes homen s, send oju deu s, perturbaram a nossa
cidad e. E nos pregam costumes que não nos é l ícito receber nem praticar,
visto que somos romanos" (Atos 16:20, 21). Os presentes uniram-se
nesse ataque e o magistrado, decidindo que aqueles dois estrangeiros
indesejáveis precisavam de uma boa lição, ordenou que fossem castiga
dos com as varas dos lictores e trancafiados até o dia seguinte.
Quando os lictores chegaram à prisão na manhã seguinte, a fim de
expulsar ambos de Filipos, foram surpreendidos com um protesto: os
16
Introduç ão
p ri si on eir os exig ia m qu e fo ss em re co nduzid o s à pre se nça do s m ag is tr a
dos. Paulo e Silvano eram cidadãos romanos e não poderiam sujeitar-se
ao tratamento que receberam. Os magistrados haviam ouvido a acusação
sem dar-se o trabalho de investigá-la e sem convidar os dois acusados a
deporem , contando sua versão do acon tecim ento .20
Se Paulo e Silvano declararam sua cidadania romana perante o fórum,
nenhuma atenção lhes foi dada em meio à grande confusão. Agora, todavia,
em circunstâncias mais tranqüilas, os homens injustiçados exigiam seus
direitos. Agora os magistrados precisaram ouvi-los, e pedir desculpas por
haverem açoi tado cidadãos romanos sem julgamen to e sentença normais.
Os magistrados não podiam sumariamente expulsar cidadãos romanos de
uma cidade romana, mas com grande instância suplicaram que ambos

fossem
to embora:
público. julgaram
Acertando -se incapa
a situação zes de eprotegê
legal, Paulo Silvano-los contr a o ressentimen
certificavam-se de
que os convertidos filipenses não se tornariam vítimas do ódio popular, por
estarem associados a criminosos comuns.
O episódio bem conhecido da narrativa de Lucas, sobre a evan geliza-
ção de Filipos, é o que diz respeito ao terremoto que ocorreu à meia-noite,
enquanto Paulo e Silvano "oravam e cantavam hinos a Deus" na escuri
dão daquela prisão, e ao terror do carcereiro, sua tentativa de suicídio, e
conversão (Atos 16:25-34).
Podemos destacar este episódio de seu contexto, pois possui afinida
des próprias. Numa obra grega do primeiro século chamada Testamento
de José (um dos trabalhos da coletânea denominada Testamentos dos
Do ze Patriarc as), José nos conta como seu senhor egípcio "me açoitou
e me encerrou na prisão de faraó. Estando eu na casa da escuridão,
acorrentado, cantando hinos ao Senhor e glorificando ao meu Deus,
regoz ijando-m e com voz jubilo sa, a mu lher egípcia me ou viu ."21 Não
existe nenhuma questão de dependência literária direta, desta ou daquela
forma; todavia, ambos os documentos prendem-se a uma convenção
estilística comum. A idéia geral reaparece um pouco mais tarde no
escritor estóico Epiteto: "Seremos competidores com Sócrates, quando
pud erm os es cre ver câ nt ic os de lo uvor na pri sã o." 22
Quanto aos efeitos do terremoto à meia-noite, Orígenes, em meados
do terceiro século (ou mesm o o pagão Celso, setenta anos antes), sugeriu
um paralelo entre o registro de Lucas e a descrição em Bacchae, de
Eurípedes, da fuga dos ébrios e de Dionísio da prisão de Penteu: "os
14 Filipenses
grilhões dos pés se lhes soltaram, por si mesmos, e as chaves abriram as
port as sem qu e m ãos m ort ais ag is s e m ." 23 Não é poss ív el dei xa r de
reconhecer as afinidades entre esses episódios, os quais todavia, não
depreciam a historicidade do evento bíblico.
A Igreja de Filipos
Paulo e Silvano deveriam abandon ar Filipos; o delicado pedido dos
magistrados não poderia ser desprezado, como não poderiam desprezar
a eventual expulsão à força, da parte dos lictores. Todavia, deixaram atrás
umajovem igreja constituída de ardentes convertidos, cujo afeto pelo
apóstolo foi demonstrado mediante dádivas que lhe enviaram em mais
de uma ocasião, iniciando-se algumas semanas depois de sua partida

(veja Filipenses
velhos; é possível4:15, 16).tenha
que Lucas T imóteo aco mp em
permanecido anhou seus dois colegas
Filipos. mais
É digno de nota que a primeira passagem narrada na primeira pessoa
do plural (nós), em Atos, term ina em Filipos (A tos 20: 5). Se Luc as
perm an ec eu em F ilip os , dur ante os sete ou oi to an os se gui nt es , sem
dúvida os crentes filipense s o cons ideraram como um del es: é até possível
que o tenham nomeado representante da igreja entre os delegados de
outras igrejas que contribuíram para a oferta que Paulo levou aos pobres
da Judéia, em 57 d.C.
A lista dos companheiros de viagem de Paulo, de Atos 20:4, não
menciona nenhum membro da igreja de Filipos, embora talvez ela seja
incompleta. Os que constavam da lista, informa-nos Lucas, "indo adian
te, esperaram-nos em Trôade" enquanto "nós" (isto é, Paulo, o narrador

edetalvez mais(Atos
Filipos" um ou dois)
20:5, 6). "depois dos dias
Na verdade, dosembarcado
teriam pães asmos,
emnavegamos
Neápolis,
por to de Fi lipo s. Em 57 d.C . a f esta do s pães as m os ca iu na se m an a de 7
a 14 de abril.
A igreja de Filipos foi, então, a última das igrejas de Paulo a oeste do
mar Egeu, com a qual ele manteve contato pessoal antes de sua última e
infeliz visita à Jerusalém. Essa igreja continuou a comunicar-se com o
apóstolo, como o fazia desde sua fundação, e a carta de Paulo aos
filipenses dá ao leitor uma idéia do imenso prazer que essa igreja
pro porc io nava ao ap ós to lo , ca da vez que pe ns av a ne la , e co mo era gr an de
a apreciação da bondade e afeição dos crentes.
Que a igrej a de Filipos preservou o m esmo caráter meio século depois,
transparece pelo seu cuidado por Inácio, bispo de Antioquia, a caminho
Introd ução 19
de Roma, sob guarda militar, a fim de ser atir ado às bestas feras da aren a.
À semelhança de Paulo, antes, Inácio velejou de Trôade a Neápolis,
pro ss eguin do a vi ag em por te rr a, pe la vi a In á c ia .24 F altam -n os m in úcia s
da pousada de Inácio em Filipos; contudo, os crentes filipenses tiveram
grande interesse por ele, ao ponto de escreverem a Policarpo, bispo de
Esmirna, sujjlicando-lhe que lhes enviasse cópias das cartas de Inácio
disponíveis. A resposta de Policarpo ao pedido dos filipenses sobrev i
veu até nossos dias. No início da carta, o bispo expressa sua alegria
quanto ao fato de os filipenses "terem seguido o exemplo do verdadeiro
amor, e terem ajudado como puderam, sempre que houve oportunidade,
os que estavam em cadeias". Tais cadeias, diz ele, são ornamento dos
santos; constituem "diademas de todos quantos verdadeiramente têm

sido pensava
ele escolhidos
de por Deusespecial
modo e nossoemSenhor JesusACristo"
Inácio). seguir(dentre os quais
acrescenta ele:
"Alegro-me também em vossa fé firmemente enraizada, reconhecida
desde os primórdios, a qu al prevalece até o presente e produz frutos para
nosso Senhor Jesus Cristo."26 A árvore que Paulo e seus colabodores
pl an ta ra m con tinuav a a pro duzir fr uto s qu e atestav am a qualidade do
serviço daqueles servos.

Caráter. Ocasião e Propósito da Carta


Tema
A carta é enviada à comunidade cristã de Filipos por Paulo, que
acrescenta o nome de Timóteo ao seu, logo na saudação inicial.
Após haver saudado seus amigos filipenses e assegurado sua profunda
gratidão e suas orações por eles, Paulo lhes relata como sua situação atual,
a despeito das restrições da prisão, promoveu a divulgação do evangelho
entre os oficiais, sob cuja guarda ele se encontra, tendo encorajado a
muitos dos crentes locais a serem mais ousados no testemunho da fé.
Ainda que alguns tenham sido impelidos por motivos inamistosos contra
Paulo, permanece o fato que Cristo está sendo proclamado, o que faz
Paulo regozijar-se. Ele não sabe em que resultará sua prisão; contudo,
ele já entendeu e decidiu que, quer a prisão termine com a li bertação,
quer com a morte, tudo redundará para a glória de Cristo.
Em seguida, faz um apelo para que haja harmonia entre os membros
da igreja fili pense: lamenta a existência de ciúmes e antipatias despre zí
veis e lhes traz à memória a auto-renúncia de Cristo, ao tornar-se servo
14 Filipenses

dos homen s, ao ponto de sofrer a morte na cru z. D epois de mais algumas


pal avr as de encora ja m ento , na s qu ais se to rn a be m evi de nte o en volv i
mento pessoal de Paulo no bem-estar espiritual de seus convertidos, o
apóstolo lhes diz que logo enviará Timóteo, que os visitará e trará notícias
deles. Agora, diz Paulo, ele lhes manda de volta Epafrodito, membro da
igreja deles, que viera para desincumbir-se de uma tarefa que lhe fora
entregue pelos filipenses, e durante a qual ficara seriamente doente.
Entâo, com um "Quanto ao mais, irmãos meus..." (3:1), Paulo dá a
impressão de que vai finalizar a carta mas, de súbito, alerta seus leitores
contra intrusos subversivos. E o apóstolo estabelece (em parte ao rebater
a má influência de tais pessoas), referindo-se à sua própria experiência,
a essência da fé e da vida cristãs.
Palavras adicionais de admoestaçâo (4:1-9) sâo seguidas de agradeci
mentos por uma oferta que Epafrodito lhe t rouxe de Filipos (4:10-20) . A
carta se encerra com uma doxologia final, saudações e bênção.
Autoria
Aceita-se, de modo geral, que Filipenses seja uma carta genuína de
Paulo.
O prim eiro de safio sério à auten ticidade da carta f oi feita em 1840,
por F. C. B au r, de Tü bingeajg27 Bau r cito u a op in ião de um er udi to m ais
velho , W. M. L. de W ette, para quem a genu inidad e da carta estava
"acima de qualquer questão." Baur, entâo, pediu licença para apresentar
alguns pontos que poderiam enfraquecer a opinião de Wette.

Um desses
gnósticas pontos
que, com todaeracerteza,
o alegado emprego
enchiam a mentede doexpressões e idéias
autor da carta, e
que aparecem de modo especial na passagem cristológica — Filipenses
2:6-11 29 Outro ponto era a natureza repeti tiva do documento. Dizia Baur
que a carta caracterizava-se "por uma falta de conexão profunda, sólida
de idéias, e por certa pobreza de pensamento".30 Acrescentou a seguir
que nâo se consegue encontrar "nem motivo nem oportunidade para a
carta, nenhuma indicação distinta quanto a propósito e, tampouco, uma
idéia pr inc ipa l".31 O desab afo polêm ico de Filipen ses 3:2-19 foi con si
derado "imitaçã o frac a e sem vida" d e 2 Co ríntios 11:13-1 5. A re fe
rência em Filipenses 4:15,16 a reiteradas oferendas recebidas de Filipos
foi considerada contradição, po is Paulo afir ma em 1 Coríntios 9:15-18,
e noutras passagens, que ele preferia nâo ser sustentado pelos seus
convertidos, mas ganhar seu sustento mediante seu próprio trabalho. A
Introdução
ba se estaria, segu nd o B au r pensa va , em 2 C oríntios 11:9, on de Pa ulo
menciona uma exceção ao seu costume regular — certa ocasião em
Corinto quagx^o suas necessidades foram atendidas por alguns amigos da
Macedônia.
Finalmente, Baur, que presumiu ser Roma o lugar da prisão, de onde
a carta aos Filipenses supostamente teria sido escrita, alega que a descri
ção do progresso do evangelho em Roma, na época indicada, fica sem
apoio. A pista que conduz a tal descrição, e à menção dos "santos... da
casa de César" (4:22) foi tirada (assim pensava Baur) da referência a
certo Clemente, em Filipenses 4:3. Este Clemente, de acordo com Baur,
deve ser identificado como o Tito Flávio Clemente, aparentado por
casamento com o imperador Domiciano, que o matou em 95 d.C. Este
homem, alega-se, foi introduzido na carta por um autor pós-apostólico
que conhecia bem a história legendária de Clemente. Segundo essa
história, Clem ente teri a sido convertido p or Pedro; ao tr azê-lo em contato
com Paulo, o autor de Filipenses deu excelente contribuição à reconci
liação póstuma entre os dois apóstolos que (assim acreditava Baur) foram
adversários enquanto viveram.34
Alguns dos argumentos de Baur sâo apenas questão de opinião, ou
modo de ver as coisas; outros dependem da forma como se encara a
evidência; todavia, o argumento a respeito de Clemente é simplesmente
errado. O Clemente de Filipenses 4:3 é um filipense cristão, sobre quem
nada mais sabemos, mas de forma nenhuma esteve associado a Roma.
N enhum do s arg um ento s de B au r re fe re nte s à car ta ao s Fil ip ense s
conseguiu convencer as futuras gerações de estudiosos sobre Paulo.

Mais recentemente, colocou-se um ponto de interrogação sobre a


autoria pau lina dessa carta, á base de uma análise estatística da ling ua ge m .35
Tampouco este argumento conseguiu aceitação geral; o documento é dema
siado pequeno para prover evidências convincentes desse tipo.
Ocasião
E evidente que Filipenses foi escrita enquanto Paulo estava na prisão
aguardando ojulgamento que significaria liberdade, ou talvez a perda da
pró pria v id a .36 Tr ês vez es no prim ei ro capítulo ele m encio na a prisã o,
integrando-a no decurso de seu ministério apostólico: declara estar o nde
foi "posto para defesa do evangelho" (Filipenses 1:16). Mediante a prisão
de Paulo, na verdade, o evangelho estava sendo promovido em áreas
onde, de outra forma, poderia nâo ter acesso.
14
Filip enses
Mas, onde estava ele preso? Paulo não diz explicitamente. Nem era
pre cis o diz ê- lo a se us am ig os fi li pense s. E le s sa bia m on de o apó st ol o
estava pois enviaram Epafro dito, um deles m esmos, para visitá-lo (2:25 ).
A resposta tradicional a tal pergunta tem sid o Rom a; entretanto, em
épocas mais recentes, Efeso e Cesaréia têm sido mencionadas como
pos si bilid ad es .
A prisão em Efeso tem sido defendida por A. Deissmann, G. S.
Duncan, e outros.38 E bem possível que Paulo houvesse sido preso pelo
menos uma vez, enquanto residiu em Efeso (52-55 d.C.), mas a prisão
que o apóstolo sofria ao enviar esta carta a Filipos dificilmente poderia
ter s ido uma prisão efésia. Quando Paulo diz: "de ma neira qu e as minhas

cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana


e de todos os demais" (1:13), a palavra grega traduzida por "guarda
pre to ri an a" é praitorio n, emprestada do latim praetor ium. Se Paulo usa
uma palavra emprestada, a idéia é que ela detém seu sentido técnico. O
termo denota a sede do pretor, mais particularmente o quartel do oficial
comandante num acampamento militar. Na cidade de Roma, sob o
império, a "guarda pretoriana" significava a segurança pessoal do impe
rador. Longe de Roma, o termo designava a sede do governo provincial,
mas governo de província imperial, que possuía unidades militares sob
seu comando. Não existe exemplo, nos tempos imperiais, do emprego
dessa expressão para a sede de um procônsul, o governador de uma
pro vín ci a se nat orial co m o er a a Á si a, nes sa ép oc a.
Tem-se apelado para incrições, como evidências da presença de um
pr ae torian us (membro de uma guarda pretoriana) nas vizinhanças de
Efeso; todavia, tais evidências tornam -se irrelevantes para a questã o que
se discute. O praetorianus mencionado em três inscrições latinas era um
antigo membro da guarda pretoriana que mais tarde desempenharia
funções policiais como um sta tio na riu s numa estrada romana, na pro
víncia da Ásia.39
Efeso está excluída, como provável local de onde a carta foi enviada,
de modo que Cesaréia se apresenta para nossas considerações. Cesaréia
tem sido habilmente defendida por vários eruditos, de modo especial por
Ernst Lohmeyer.40 Em apoio desta cidade há a declaração expressa de
Atos 23:35 de que Paulo cnji| man tido sob a guarda ali, "no pretório de
Herodes" (lit., praetorium .)
N os últ im os an os de seu m in is té ri o ao lo ng o do m ar E ge u, Pa ul o
Intro du çã o 23
organizou uma coleta nas igrejas da missão gentílica, para socorro dos
pobre s da ig re ja em Je ru sa lé m . N a festa de Pen te cost e de 57 d. C ., Pau lo
chegou a Jerusalém com alguns representantes dessas igrejas, os quais
deveriam entregar as contribuições dos crentes aos líderes da igreja em
Jerusalém. Não m uitos dias após sua chegada, Paulo foi atacado por uma
multidão feroz, no recinto do templo, tendo sido resgatado por membros
da guarda romana e levado à fortaleza Antônia, que dava para o pátio
externo do templo. O comandante da fortaleza tomou-o sob custódia e o
enviou ao procurador Félix, em Cesaréia.
Paulo permaneceu em Cesaréia dois anos (57-59 d.C.), aguardando
que Félix promu lgasse um a decisão jud icial quanto ao seu caso (Atos
24:26, 27). Félix, na verdade, nu nca chegou a pronun ciar um veredicto
formal sobre Paulo: Lucas explica esse adiamento pela esperança de
Félix em receber um dinheiro de suborno, de Paulo ou de seus amigos.
Ele sabia que Paulo havia chegado à Judéia trazendo uma substancial
soma de dinheiro para ser distribuído entre os pobres da igreja de
Jerusalém (Atos 24:17), e presum iu que ele t eria acesso a maiores fundos.
Todavia, Paulo tinha muitas razões para supor que o veredicto de Félix,
quando saíss e, lhe seria favoráv el e ele sairia livr e. Isso proveria, po der-
se-ia argumentar, bom motivo para o otimismo do apóstolo: "E, tendo
esta confiança, sei que ficarei, e perman ecerei com todos vós para o vosso
pro gre ss so e gozo na fé " (F ilip ens es 1:25).
Contudo, Cesaréia era um charco político. Se foi lá que Paulo ficou
pre so ao esc re ver a car ta ao s Filip ense s, é ce rto qu e to dos do prae torium
de Herodes ficariam sabendo por que Paul o estava lá , m as que im portân
cia havia nisso? Havia cristãos em Cesaréia, mas seriam eles suficiente
mente num erosos ou diversi ficados de m odo que pudessem tomar par tido
ao lado de Paulo, ou contra Paulo, à maneira descrita em Filipenses
1:15-18? Ainda que fossem estimulados pela residência forçada do
apóstol o naq uela cidade a pregar o evangel ho com renovado entusi asmo,
Cesaréia oferecia um ambiente restrito demais que explicasse o alegre
entusiasmo de Paulo ao narrar como sua prisão contribuiu para o avanço
do evangelho. Rom a, porém, apresentar ia um quadro bem diferente .
Félix foi removido da Judéia em 59 d.C. sem haver resolvido o caso
de Paulo. Foi substituído como procurador por Festo. Quando Festo
com eçou a reabrir o cas o de Paulo, o apó stolo logo perceb eu que pode ria
expor-se a perigo mortal em face da atitude que o novo procurador, em
14 Filipenses
sua inexperiência, parecia tomar. Portanto, Paulo lançou mão do direito
que t inha, com o cidadão rom ano, e dis se: "Apelo para Cé sar", isto é,
pediu qu e seu caso fo ss e tr an sf eri do da cort e pro vin cia l para aju ri sd iç ã o
direta do imperador, em Roma. A Roma, pois, Paulo foi enviado, onde
chegou em inícios de 60 d.C. Ficou durante os dois anos seguintes em
pri sã o dom ic ilia r, aguar dando a au diç ão de seu ca so. Q uando es te vie ss e
à tona, Paulo talvez tivesse de defender-se de mais de uma acusação. A
que pesava sobre sua cabeça ao ser preso em Jerusalém era a de violar a
santidade do templo; tal acusação, todavia, poderia ser facilmente refu
tad a. Havia men ção, porém , da acusação de perturbar a pa z romana por
todas as províncias do império (Atos 24:5). Esta era uma acusação séria,

e embora Paulo pudesse dar-lhe uma refutação poderosa, não havia meios
de saber como o caso seria conduzido no tribunal imperial.
Enquanto Paulo aguardava que seu caso fosse levado perante Nero,
ter-lhe-ia sido supremamente alegre ver como o evangelho estava-se
espalhando por toda Roma, mediante sua presença na cidade, embora
sob custódia. Além do mais, favorecendo a idéia de que a carta vinha de
Roma há a referência aos "sant os da casa de César " que, juntam ente com
os demais cristãos, enviam suas saudações à igreja filipense (Filipenses
4:22). É verdade que o funcionalismo civil imperial se compunha de
membros da casa de César — em grande parte constituída de ex-escravos,
— os qu ai s se es palh avam por to das as pro vín ci as. T odavia , co ncentr a
vam-se em Roma, e só em Roma seriam suficientemente numerosos de
modo que tivessem um grupo de cristãos.

Se concluir mo s que es ta cart a foi enviada de Roma, torna-se nece ssá


rio relacionar a expectativa e intenção declaradas de Paulo de visitar
Filipos e m brev e (Filipenses 1:25- 27; 2: 24) como plan ejara anteriorm en
te, conforme Romanos 15:24, 29, de ir de Roma à Espanha. Quando o
apóstolo remeteu sua carta aos romanos, no início de 57 d.C., estava
pre st es a desp edir -s e do m undo b anhado pel o Ege u. T em o m esm o
sentido o registro que Lucas faz das palavras de Paulo aos anciãos da
igreja efésia, quando se encontrou com eles brevemente em Mileto, em
sua última viagem a Jerusalém: "Agora, na verdade, sei que nenhum de
vós ... jam ais tom ará a ver o meu rosto" (Atos 20:25) . Se Filipense s deve
ser datada d e quando Paulo foi preso em Rom a, ou mesm o de quando est eve
pr es o em C es aréi a, seus pl ano s de vem te r m uda do su bs tanc ia lm en te .
Os planos de viagem de Paulo nunca foram inflexíveis: sempre
Introdução 25
estiveram sujeitos à sua percepção da orientação divina. Na verdade, a
pro ntidão co m qu e Paul o es ta va dis pos to a m udá-los de ix av a se us am ig os
desconsertados, e dava motivo a seus adversários para acusá-lo de
vacilação (cf. 2 Coríntios 1:15 — 2:1). Quando ele manifestou perante
os crentes romanos seu plano de passar algum tempo com eles, quando
a caminho da Espanha, previu a possibilidade de surgirem problemas
durante sua iminente visita a Jerusalém, mas não previu sua prisão ali,
sua subseqüente detenção por dois anos em Cesaréia, seu envio sob
guarda armada a Roma, e seu cativeiro domiciliar adicional, de outros
dois anos, enquanto aguardava a intimação para comparecer perante
César. Esta seqüência imprevista e imprevisível de acontecimentos po
deria tê-lo levado a reconsiderar seus planos de viagens. Continuavam

chegando notícias da parte de seus amigos do mundo ao redor do Egeu


que o levaram a decidir que seria preciso visitá-los outra vez, tão logo
ele pudesse, estando livre. Expectativa semelhante Paulo expressa em
sua carta a Filemom, de Colossos (a qual também deveria ser datada,
pro vavelm ente , de qua nd o es te ve pre so em R om a) : "P re para -m e ta m bém
pousa da, porq ue es per o qu e pela s voss as ora ções vo s hei de ser co nce
dido" (Filemom 22).
Se fosse provável a datação de Filipenses como sendo de Roma, por
outros argum entos, a esperança e xpressa de Paulo de visitar Filipos outra
vez não constitui argumento decisivo contra essa datação.
O núm ero de viage ns de ida e volta entre Filipo s e o luga r do cative iro
de Paulo, implícitas na carta, leva alguns ajulgar que a carta srcinou-se
em Éfeso, em vez de Roma.43 A viagem entre Roma e Filipos, ou
vice-versa, exigia cerca de 40 dias;44 a viagem entre Filipos e Éfeso
requeria apena s uma semana ou 10 dia s.45
A época em que a carta foi escrita
a. chegaram a Filipos as notícias da prisão de Paulo;
b. Epafrodito viajou de Filipos, a fim de entregar uma oferta a Paulo
(4:18);
c. chegaram notícias a Fili pos da do ença de Epa frodito (2:26);
d. chegaram notícias a Epafrodito sobre a ansiedade dos filipenses, ao
saberem de sua doença (2:26);
e. E pafrodito estava prestes a partir para Fili pos, levando a carta de Paulo
(2:25, 28);
/ Timóteo deveria s egui-lo em br eve, tão l ogo os planos de Paulo se
tomassem mais viáveis (2:19-23);
14 Filipenses
g. O próprio Paulo esperava poder visitar Filipos, se fosse libertado
(2:24).
Quatro destas viagens se realizaram; as três últimas deveriam ocorrer
em futuro próximo. Porém, as quatro primeiras estâo descritas de modo
que deixam implícito que Epafrodito caiu doente após ter chegado no
lugar onde estava Paulo: como fica sugerido abaixo, no comentário sobre
2:26, os fatos nâo aconteceram assim, necessariamente; Epafrodito po
deria ter ficado doente a caminho do encontro com Paulo. Isto reduziria
o tempo necessário para as sucessivas viagens. Em qualquer caso, como
esclarece C. H. Dodd, "seja onde for que Paulo estivesse na época, as
circunstâncias exigiam intercomunicações freqüentes com Filipos; ape

sar de morou
Paulo Efeso estar
dois bem
anosperto, o cativeiro
em Roma romanoé também
e só então que seu foi longo".
caso subiu aos
tribunais; quando Filipenses foi escrita, estava iminente uma decisão a
respeito do apóstolo. Houve, então, muito tempo, suficiente para todas
as viagens efetuadas.
Tem sido argumentado que a expressão de agradecimentos de Paulo aos
filipenses, iniciada com um "finalmente" — finalmente eles haviam de
monstrado cuidado pelo apóstolo outra vez (4:10) "nâo pode deixar de ser
considerada repreensão, uma repreensão sarc ástic a, na verdade," caso a
carta nâo fosse enviada até o período do cativeiro romano. Esta interpretação
também tem sido levantada como argumento favorável à srcem efésia da
cart a. C omo ficará dem onstrado n o comentário sobre ess a passagem, en tre
tanto, tanto Paulo quanto os filipenses sabiam bem que o longo intervalo
que permeou o envio das ofertas era devido ao costume financeiro do próprio
Paulo, e não a algum a negligên cia da parte dos filipenses. Ou tros eruditos,
na verdade, têm dito que a expressão de ag radecimentos de 4:10-20 constitui
uma cartinha separada, que antecedeu a principal carta, dentro da qual esse
bilh ete teria sid o inser ido edito ria lm ente.
Isso levanta a questão sobre se essa carta, como se nos apresenta hoje,
é compilação.
Documento Único ou Compilação de Fragmentos?
Mais especificamente em tempos recentes é que se levantaram algu
mas questões sérias quanto à unida de literária da carta. Na verdad e,
Policarpo escreveu aos crentes fili pens es na primeira metade do segundo
séculoTlêmbrando-lhes de como Paulo nâo só lhes ensinou "a palavra da
verdade", quando presente entre eles, "como também, quando ausente,
Intro dução 27
vos escreveu cartas" {Aos Filipenses 3:2). Há grave risco em inferir-se
daí que Policarpo entendia que a carta canônica se compunha de docu
mentos separados: se ele nâo está usando um plural generalizante, pode
ter em mente outras cartas que nâo chegaram até nós, além dessa que
sobreviveu.
Muitos comentaristas (talvez a maioria deles) ainda crêem na unidade
do documento, mas há os que o consideram uma compilação de fragmen
tos. Günther Bornkamm o descreveu como "uma coleção de cartas
p a u li n a s ." 50 Há du as se çõ es , de m odo es pec ia l, que al guns pensa m
constituir inserções na carta principal:
(a) a nota de agradecimentos de 4:10-20 e
(b) a seção que se inicia em 3:2 e prossegue até o capítulo 4.
N ota de agra decim en to s (4:1 0- 20) . A nota de agra decim en to s de
4:10-20 vincula-se ao corpo principal da carta mediante a referência a
Epa frodito (4:1 8; cf. 2:25-30) . Em ambas as passagens trata-se da mesm a
e única missão de Epafrodito. Todavia, os que inferem de 2:25-30 que
Epafrodito gastou tempo considerável com Paulo, após lhe haver entre
gue a oferta filipense, tendo ficado doente logo depois, chegam à con
clusão de que Paulo enviou essa nota de agradecimento tão logo recebeu
a oferta, nâo tendo esperado, portanto, que Epafrodito se curasse e
pudess e volt ar pa ra casa. D eduzem , da í, que a not a de agra decim en to s
deve ter sido remetida antes da carta prin cip al.51
Contudo , se Epa frodito caiu doente a caminho da vis ita a Paulo (o que
é mais provável), e o apóstolo o remeteu de volta a Filipos antes do tempo
pla neja do, a f im de alivia r a an sieda de do s am ig os fili pense s concern ente
a Epafrodito, teria sido muito conveniente que o viajante convalescido
levasse consigo a not a de agradecim entos — jun to a uma cart a mais
longa , ou inserida nela (veja com entário s sobre 2:26-28). (Se a nota foi
enviada anexa à carta maior, posteriormente teria sido incluída nela.)
Advertência Contra os Maus Obreiros (3:2ss.). As três características
princip ais de sta seçã o são:
(a) vem depois do "finalmente" (3:1)
(b) a diferença de tom, em relação ao restante da carta, e
(c) semelhante aos últimos quatro capítulos de 2 Coríntios.
A expressão "quanto ao mais" (gr. to loipon em 3:1 (usada outra vez
em 4:8), poderia ser considerada preparação do autor para a conclusão
da carta; entretanto, nâo se pode afirmar muita coisa em cima dessa
14 Filipenses
expressão apenas, visto que em cartas informais (não se falando de
sermões), as palavras que sugerem a aproximação da conclusão podem
vir muito antes da própria conclusão.
Entretanto, a repentina severidade da advertência, nesta seção, e sua
semelhança em tom e assunto com 2 Coríntios 10-13 exige alguma
explicação. Na verdade, há difer enças: enquanto em 2 Coríntios 10-13
os "falsos apóstolos" já estão de fato operando em Corínto, tal não fica
implícito de Filipenses 3:2ss.: não se sabe se os "maus obreiros" já
estavam trabalhando em Filipos — e tampouco se havia qualquer dispo
sição entre os crentes filipenses para dar-lhes ouvidos.
Em Corínto, os intrusos proclamavam ter credenciais e realizações

mais elevadas do que as de Paulo, de modo que o apóstolo se sentiu


obrigado ("envergonhado o digo", 2 Coríntios 11:21) a argumentar que
se tais credenciais e realizações que eles aparentemente estavam apre
sentando fossem realmente necessárias, ele, Paulo, poderia apresentar
um currículo muito mais impressionante que qualquer desses intrusos.
Paulo trilha um caminho semelhante em Filipenses 3:4-16, observando
que se fosse adequado alimentar confiança nas dotações naturais e nas
realizações, o apóstolo não se sentiria perdido, mas cheio de razões para
ter confiança. Entretanto, tudo q uanto antes el e valorizava agora despre 
za como inútil — e lança-se, em seguida, a uma eloqüente declaração
das coisas que realmente têm valor: o conhecimento pessoal de Cristo, a
pa rtic ipaç ão em seus so frim en tos, a espe ra nç a de re ssur re iç ão com ele e a
ambição de cum prir o alt o propósito para o qual ele foi cham ado p or Cristo .
C. H. Dodd, que aceita Filipenses como sendo um documento único,
datado do cativeiro de Paulo em Roma, cita Filipenses 3:13-16 como
indicando "muito claramente o que a experiência havia feito desse
homem por natureza orgulhoso, autoconfiante e impaciente". Também
pro ven do evid ên ci as pa ra sua te se se gun do a qual na ép oc a da "t ri bula ção
que nos sobreveio na Ásia" (2 Coríntios 1:8), o apóstolo passou por uma
"segunda conversão" que lhe resultou em marcante mudança de tempe
ram ento .52 Entretanto, é dif ícil r econh ecer t al "mudança de tempe ram en
to" na forma como Paulo trata os "maus obreiros" no próprio contexto
de 3:13-16 — na fustigação dos "cães" de 3:2 ou na denúncia dos
libertinos de 3:18,19. É verdade que el e afirma estar escrevendo aquelas
pala vra s de den úncia "ch ora ndo", en qu an to em 2 C oríntios 10— 13
talvez ele houvesse escrito aquelas palavras mais com ira do que com
Introd ução 29
tristeza. Entretanto, não há grande diferença entre a linguagem de Paulo
nesta ou naquela carta . Se hou ver alguma base para a tese de Dodd quan to
a uma "segunda conversão" (en a verdade há alguma), deveríamos, então,
dizer com T. W. Manson que Filipenses 3:2ss. "se entende melhor antes
da segunda conversão, do que de po is."5 3
E muito improvável que se possa tirar alguma inferência de uma
mudança de perspectiva que se tenha verificado entre a expectativa de
Paulo em 3:20, 21, quanto a partilhar a "mudança" que os crentes
remanescentes experimentarão quando da volta de Cristo, e a expectativa
do apóstolo em 1:23, de estar "com Cristo" ao morrer; a possibilidade de
ser executad o, como resultado do julga m ento pendente, é suficiente para
explicar sua expectativa de 1:23, enquanto em 3:20, 21, Paulo dec lara
(talvez em forma de credo) a esperança dos crentes em geral.
À parte isso, se fosse possível vencer tal quebra de "probabilidade
bib li og rá fi ca" co m o a di vis ão de Filip ense s em dua s ca rtas origin ari a-
mente separadas, muito se poderia dizer a favor da datação de 3:2ss. no
mesm o período genérico de 2 Corínti os 10— 13, datando a carta como
um todo no final do cativeiro romano de Paulo. Embora as pessoas
antipáticas de 1:15-18 não sejam as mesmas das mencionadas com tanta
seve ridad e em 3: 2, 18, 19 (e, na verd ade , aquela s não parece m hav er
adulterado o evangelho), a suavidade de Paulo, no entanto, ao referir-se
àquelas pessoas fica em notável contraste com a forte invectiva contra
estas outras, havendo a sugestão de um período intermediário aplacador.
Paulo aprendeu a enxergar motivos para dar graças em situações que,
noutros tempos, tê-lo-iam levado a explodir de indignação.

Se supuséssemos que outra carta, ou parte de outra carta, se inicia em


3:2, até onde ela iria? Com certeza até 4:1, com aquele apelo aos
filipenses: "estai assim firmes no Senhor, amados"55 mas talvez até 4:356

e po ssive lm en te até 4:9. Se a carta se enc errasse em 4:9, teríam os uma


conclusão satisfatória para uma carta, em que o último parágrafo se
iniciari a com "Quanto ao mais , irmão s", encerrando -se com uma bênção:
"E o Deus de paz será convosco." A seguir, a carta principal anunciaria
sua conclusão: "Quanto ao mais, irmãos meus, regozijai-vos no Senhor"
(3:1), seguida danota de agradecimentos (4:10-20) e a saudação ebênção
finais (4: 21-23). En tretanto, t odos os argum entos em prol d e considerar-
se Filipenses como sendo produto de comp ilação na melhor das hipóteses
são apenas tentat ivas. O julga m ento de W . G. Küm mel deve m erecer
14 Filipenses
respeito: "Nâo existe... razão suficiente para c^ue se duvide da unidade
srcinal de Filipenses, como foi transmitida."5
Propósito
O propósito da carta só pode ser formulado após considerar-se todo
seu conteúdo.
Epafrodito estava de regresso a Filipos por causa da insistência de
Paulo, que aproveitou a oportunidade e lhe entregou uma carta dirigida
aos crentes fi lipenses, agradecend o-lhes a oferta d e que Epafro dito havia
sido portador, agradecendo-lhes também pela participação geral e cons
tante deles, em seu ministério, e explicando-lhes incidentalmente por que
estava enviando Epafrodito de volta tão depressa.
Ao mesmo tempo, Paulo aproveita a oportunidade para dar-lhes
informações sobre sua situação atual, a fim de prepará-los para a iminente
visita de Timóteo, a qual seria seguida (assim esperava Paulo) de uma
visita dele mesmo. O apóstolo os adverte contra uma variedade de
elementos que rondavam as igrejas subvertendo a fé e a moral cristãs.
Contudo, o principal objetivo de Paulo era, evidentemente, estimular o
espírito de unidade entre os crentes. O que militava contra tal unidade
era a tendência natural para a auto-afirmação, que Paulo combatia com
toda a disposição de que era capaz. O exemplo de Cristo deveria inspirar
seus seguidores no sentido de colocar os interesses dos outros diante de
seus próprios interesses, e serem marcados pelo espírito de autonegação
e auto-sacrifício espontâneo. Se aprendessem essa lição, não apenas
transbordariam o cálice de Paulo com alegria mas também seriam
liberados de tensões internas e seriam capazes de, jun tos com Paulo,
regozijar-se no Senhor.
N ot a: No in íc io do livr o há um a list a de ab re via tu ra s us ad as nes te
comentário (veja pp. 9-12).

Notas
1. Este texto (GNB) provavelm ente deve ser srcinal, embora nâo se encontre
nos manuscritos gregos; foi preservado em alguns manuscritos da Vulgata
Latina, e em versões provençais e alemãs, baseadas no latim; consulte E.
Elaenchen, The Acts ofthe Apostles, p. 474.
2. Quanto ao nome completo, consulte a inscrição latina de Filipos, reprodu
zida por M. N. Tod, em An nual ofthe British School atAt hens 23 (1918-19), p.
95, no. 21.
3. Cícero, On the Agrarian Law, 2.93.
Intr odução 31
4. Heródoto, History 5.17f.
5. Idem, 7.173; 9.45.
6. Ibid.,5.22; 8.137.
7. Polybius, Histor y 7.9.
8. Idem, 18.22-28.
9. Ibid., 31.29.
10. Livy, History 45.29.5ss.; cf. J. A. O. Larsen, Greek Fed eral States .
11. Diod orus, History 32.9b, 15; Flor us, Epitomel.30.
12. Florus, Epitome 1.32.3; cf. M. G. Morgan, "Metellus Macedonicus e a
Província Macedônica," Historia 18 (1969), pp. 422-46.
13. Strabo, Geogr aphy 1.1 A. Consulte, para um bom relato popular, F.
0'Sullivan, The Egnatian Way.
14. De 15 a 44 AD a Ma cedônia se uniu à Acaia, no sul, e à Moe sia bem ao
norte para forma r uma província imperial. (Tácito, Annals 1.76.4; 1.80.1.). Uma
provínc ia imp erial, dif eren tem ente de um a província sen atorial, exigia a pr esen 
ça deimperador.
pelo unidades militares,
Consu ltee tam
era governada por oglu,
bém F. Papaz um legado nomeado
"Qu elq diretamente
ues asp ects de l'h istoire
de la province Macédoine," in Aufstieg und Nie dergang der romischen Welt,
ed. H. Tem porini e W . Ha ase, 2.7.1 (Berlim e Nova York: de Gruyter, 1979),
pp. 302-69.
15. Cf. F. F. Bruce, 1 & 2 Tessalonicenses.
16. O termo técnico para este quorum de dez homens é minyan.
17. Homero, Ilia da 4.141 s.
18. Cf. W. W. Tarne G. T. Griffith, Hellen istic Civilisation, pp. 98s.; W. D.
Thomas ,"The Place of Women in the Church at Philippi, " E xpT 83 (1971-72),
pp. 117-20. Consu lte o com entário sobre 4:3 abaixo.
19. Cf. T. B. L. Webster, An Introduction to M enander (Manchester: Man-
che ster Univ ersity Press , 1974), p. 191.
20. Por trás da frase grega traduzida por "sem sermos condenados" (Atos
16:37), W. M. Ramsay discerniu o termo legal romano re incógnita, "sem
investigar o caso" St. Paul the Traveller and the Roman Citizen pp. 224s.).
21. Testament ofJoseph 8:4s. Veja W. K. L. Clarke, "St. Luke and the
Pseudepigrapha," JT S 15 (1914), p. 599; "The Use ofthe Septuagint in Acts,"
BC 1.2 (Londres: M acm illan, 1922), pp. lis.
22. Epictetus, Dissertations 2.6.26.
23. Eurípedes, Bacchae 447s., cf, 586ss.; veja Orígenes, Ag ainst Celsus 2.34.
Quanto a um padrão corrente que seguidamente aparece nos relatos de fuga s da
prisão (cf. tam bém Atos 5:19-2 3; 12:6-11) veja R. Re itzenstein, Die hellenis-
tischen Wundererzahlungen (Leipzig: Teu bne r, 1906), pp. 120-122.
24. Inácio, A Policarpo 8:1.
25. Policarpo, Ao s Filipenses 13:2
26. Idem, 1:,2.
27. F. C. Baur, Paulo: Sua Vida e Obras vol. 2, pp. 45-79.
28. W. M. L. de Wette, Leh rbuch der historis ch-kritischen Einleitung in die
14 Filipenses

kanonischen Büucher des Neuen Testa ments, p. 268.


29. Baur, vol. 2, pp. 46-53.
30. Idem, p. 53.
31. Ibid., p. 53.
32. Ibid., p. 55.
32. 33. Ibid .,pp . 56-58. Ve ja comentá rio sobre 4:16.
34. Ibid., pp. 58 -6 4.0 Flávio Clemente histór ico é menciona do porD io Cássio,
Hist. 67.14; Suetônio, Domício 15.1. A explicação integral da lenda sobre
Clemente, que envolve uma confusão entre Flávio Clemente com o pai apostó
lico Clemente de Roma, aparece no quarto século, nas obras Clementine
Re cognitions e Clementine Homilies.
35. Cf. A. Q. Morton, "The Authorship of Greek Prose," J R Stat Soe série A
127 (1965), pp. 169-233;" The Authorship ofthe Pauline Corpus," sm TheN ew
Testamentin Historical and Contemporary Perspective: Essays in Memory of
G. H. C. MacGregoreá. W. Barclay eH. Anderson, pp. 209-35; The Integrity
ofthe Pauline Epistles (Manchester: M anche ster Statistical Society, 1965); M.
Levison, A. 0 . Morton, and W . C. Wake, "On Certain Statist ical Features ofthe
Pauline Epistles," Ph ilo sophical Journal 3 (1966), pp. 129-48.
36. Isto foi contestado por T. W. Manson, que sugeriu que o encarceramento
men cion ado em Filipen ses 1:7, 13s., 17, fo i o de Fili pos (Atos 16:23-39) ou um
breve p eríodo de custódia em Corinto, aguardando seu comp are cim ento dia nte
deG álio (Atos 18:12-17); el e datou Filipens es como escrito durante o ministério
efésio de Paulo, julgan do que o encarceramento era o mais antigo, não aquele
que o apóstolo estava sofrendo por ocasião da escrita (Studies in the Gospels
and Epistles, pp. 149-67).
37. Cf. o prólogo "marcionita": "Os filipenses são macedônicos. Estes, haven
do recebido a palavra da verdade, permaneceram firmes na fé. O apóstolo os
elpe ia^esc revend o-lhes da pns ão em Roma,." * „ . , . ,
38. C femA.Anatolia
Paulus," Ueissm nann, ZurPrese
Studies epnesimschen Gefangenschaft
ntedto Sir W. desH.Aposteis
M. Ramsaye d. W. Buckler
e W. M. Cald er, pp. 121-27; P. Feine, Die Abfassung des Philipperb riefes in
Ephesus-, W . Michaellis, Die Ge gangenschaft des Pa ulus in Ephesus; D er B rie f
des Paulus an die Philipper, J. H. Michael, The Epistle ofPaul to the Philip-
pia ns; G. S. Duncan, St. PauTs Ephesian Ministry; "A New Setting for Paul's
Epistle to the Philippians," ExpT43 (1931-32), pp. 7-11; "Were Paul's Impri-
sonment Epistles Written from Ephesus?" Exp T67 (19 55-56 ), pp. 163-66;
"Paul's Ministry in Asia — The Last Phas e," N TS 3 (1956-57), pp. 211-18.
39. C1L\\\. 6085,7135,7136.

•2ÍSE
segundo se pensava , por Ma rcion (ca. 144 d.C.) e seus segmdo res.
Introdução 32
40. E. Lohmeyer, Der B rie f an die Ph ilipper pp. 3s., 38-49; tamb ém L.
Johnson, "The Pauline Letters from Caesarea, " Exp Tô S (1956-57), pp. 24-26;
J. J. Gunther, Paul: Mes seng er an d Ex ile pp. 98-107; J. A. T. Robinson,
Redating the New Testament, pp. 60s., 77-79.
41. A sede ocasional de Pilatos em Jerusalém é mencionada com o praetor ium
(pretório) em Mar cos 15:16; João 18:28, 33; 19:8.
42. B. Reic ke ("Cae sarea, Rome and the Capti vity Epistles," em W . W. Gasque
eR. P. Martin, eds ., Apo sto lie Histo ry an d the Gospel , pp. 277-86), que defende
a teoria segundo a qual as demais cartas do cativeiro provieram de Cesaréia,
mas que a de Filipenses teria vindo de Roma, pensa que "era impossível que os
leitor es não entendessem a referência à Roma e aos funcionários de Nero" nesta
saudaç ão; ele compara a menção em seis inscri ções romanas (C/J 284,3 01,3 38,
368,416 ,496) da sina goga d os Augus tenses, "os ex-escravos libertos" (p. 285).
Compare o comentário e nota adicional ad loc.
43. Veja Duncan, St. PauTs Ephesian Ministry, pp. 80-81.
44. Veja W. M. Ramsay, "Roads and travei (inNT)," em HD B5, pp. 375-402
(especialmente p. 385).
45. Veja o itinerário em Atos 20:6-16.
46. C. H. Dodd, "The Mind ofPaul: II," em New Testaments Studies, p. 97.
47. Manson, Gospels and Epistles, p. 157.
48. Compare Dodd, New Testaments Studies, pp. 97-98.
49. Tais questões eram levantadas esporadicamente, em tempos mais remotos:
um dos primeiros estudiosos a apontar os problemas relaci onados com a unidade
(que era aceita) das cartas, foi S. Le Moyne, Varia Sacra (Leiden: Daniel à
Gaesbeeck, 1685), vol. 2, pp. 332-43.
50. G. Bom kamm, "DerPh ilipperbrief a is paulinische Briefsammlung" em W.
(' van Unnik, ed., Ne ote sta me ntica et P atristica, pp. 192-202. Veja também F.
W. Beare,^4 Commentary on the Epistle to the Philippians, pp.4,149-57; B. D.
Rahtjen, "The Three Letters of Paul to the Philippians", NTS 6 (1959-60), pp.
167-73; W. Schmithals, Pa ul a tui the Gnostics, pp. 67-81.
51. Veja Beare, Philippians, p.150. Rahtje n, "The Three Letters," p. 170,
•li f-uinenta que E pafro dito já havia sido enviado de volta a Filipos quando Paulo
escreveu 2:25-3 0 — que Paulo não diz : "Por isso, tanto mais me apresso em
mandá-lo" (2:28, "Almeida Revista e Atualizada"), mas "Por isso vo-lo enviei
nmis depressa" (ECA). O tempo do verbo epempsa (mandou) indica aconteci
mento passado.
52. Dodd, New Tes tam ent Studies, pp. 80-82.
53. Msnson, Gospels and Epistles, pp. 163, 164.
54. Com esta expressão de repreensão suave, mas erudita, F. G. Kenyon
eo«l limava derrubar algum as hipótes es literárias e críticas (como em The Bible
mui Modern Scholars hip, Londres: JohnMurray, 1948, p. 37). Rupturas assim
• k orriam, de vez em quando, e isto fica demonstrado pela (praticamente certa)
Itmcrção da posterior "Constituição de Draco" na Constituição de Atenas
in e.lotólica, de que Kenyon pro duziu a primeira edição impre ssa em 1891.
34 Filipenses
55. Também Beare, Philippians, pp.24,25.
56. Também Bom kamm , "Der Philippe rbrief a is pau linische Brie fsammlung,"
p. 195; tam bém , (mais recente) J. E. Symes, "Five Epistles to the P hilippian s,"
The InternrpterlO (1913-14), Dp. 167-70.
57. Tambem Rah tjen, The Three Lette rs , pp. 171,172. Entretanto , esse autor
considera 3:2-4:9 como carta posterior, a qual "segue o padrão clássico do
testamento de um p ai moribundo a seus filhos ."
58. W. G. Kümmel, Introduction to the N ew Testament, p. 237. A unidade da
carta é defendida t ambém por B. S. Mackay, "F urtherTh oughts onPhilip pians,"
N T S1 (1960-61), pp. 161-70; V. P. Fumish , "The Plan andP urpos e ofPhilip-
pians iii" , N TS 10 (1963-64), pp. 80-88; T. E. Pollard, "The Integrity of
Philippians," N TS 13 (1966-67), pp. 57-66; R. Jewett, "TheEpistolary Thanks-
giving and the Integrity of Phili ppians," Nov T 12 (1970), pp. 40-53.
1. Preâmbulo (Fi lipe nses 1:1-2)

O preâm bulo, ou saudação introdutória de uma carta antiga, nor m al


mente continha três elementos:
(a) nom e do reme tente, ou d os que assinavam a cart a;
(b) nom e do destinatário, ou a quem deveria ser transmitida; e
(c) cumprimentos e felicitações.
São abundantes os exemplos de cartas da época do Novo Testamento,
em grego e em latim, tanto literárias quanto comuns. Exemplos mais
antigos são fragmentos de correspondência oficial da corte persa, men
cionados no livro de Esdras; compare Esdras 7:12, "Artaxerxes, rei dos
reis, ao sacerdote Esdras, escriba da lei do Deus do céu : Sau daçõ es." Est e
padrã o é se guid o aq ui, co m o ta m b ém em to d as as car ta s do N ovo
Testamento.
N est a ca rta qu e p rin cip ia m o s a est ud ar, Pau lo e Tim óte o sã o m en cio 
nados como remetentes e "todos os santos em Cristo Jesus, que estão em
Filipos" são os destinatários, sendo "graça" e "paz" os votos de bem-estar
e felici dade .

1: 1 / Pau lo é o único autor da carta, ainda que o nome de Timóteo seja


acrescentado n este preâmb ulo. Perc ebem os isto quando Paulo d iz: "Dou
graças ao meu Deus" (Filipen ses 1:3). Ao con trário do que acontec e em
Colosse nses 1:3, onde o nome de Tim óteo aparece jun to ao de Paulo no
pre âm b u lo , Pau lo diz: "G ra ça s da m os a D eu s" . P o st eri o rm en te , na ca rta
aos filipenses, Paulo se refere a Timóteo pelo nome, com o verbo na
terceira pessoa (2:19).
Timóteo tem seu nome associado ao de Paulo no preâmbulo em sinal
de amizade. O moço estava com Paulo à época em que a carta estava
sendo escrita e até poderia ter agido como secretário de Paulo, tomando-
lhe o dit ado. Ele era bem conh ecido entre os crentes fil ipense s, tendo sido
membro da equipe missionária que levou o evangelho àquela cidade pela
pri m ei ra ve z. A p re se nça de Tim óte o es tá im plícita, e n ão exp re ss am ente
declarada, conforme Atos 16:11-40.
Timóteo era nativo de Listra, na Licaônia, nascido de um casamento
misto, pois sua mãe erajudia e seu pai grego. Foi educado na féjudaica
mas não havia sido circuncidado na infância. Durante a primeira visita
54 (Filipenses 1:15-17)
de Pau lo e Ba rnab é à sua cidade natal (Atos 14:8- 20) ele s e converteu ao
cristianismo. Quando Paulo passou por ali outra vez, um ou dois anos
mais tarde, ficou impressionado com o desenvolvimento espiritual de
Tim óteo, que era reconhecido por crentes íntegros de Listra e de Ic ônio.
Paulo decidiu nomear Timóteo seu cooperador pastoral para que este
trabalhasse em seu ministério apostólico, mas circuncidou-o primeiro, a
fim de regularizar s ua situ ação reli giosa anômala : sendo filho de m ãeju dia,
não era um cristão gentio, mas umjudeu em tudo, exceto quanto à circun
cisão.
Paulo e Timóteo bem sabiam que a circuncisão não faria a mínima
diferença quanto à sua si tuação perante Deus; todavia, a circuncisão tinha
o objetivo de rem over uma verdadeira barreira nas relações de Paulo com
as autoridades da sinagoga (Atos 16:1-3).
Com grande disposição Tim óteo uniu-se a Paulo, a quem passou a servir
com devoção como colaborador; o desprendimento desse moço pode ser
avaliado pelas palavras e logiosas de Paulo em Filipenses 2:20- 22.
Paulo e Timóteo são descritos como servos (literalmente "escravos")
de Cristo Jesus. Em Romanos 1:1 Paulo se apresenta como "servo de
Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de
Deus."
Ao dirigir-se aos filipenses, Paulo não tinha necessidade de enfatizar
sua autoridade apostólica, como o fez ao dirigir-se às igrejas da Galácia
e de Corinto: não havia a tendência, em Filipos, para deixar de reconhecer
sua autoridade, como acontecia naquelas outras igrejas.
Tem sido argumentado que o termo "servos", aqui, não tem o sentido
de "escravos", p orque a palavra grega "doulos” é usada na LXX (versão
grega d o Velho T estamento) referindo-se a algué m a quem D eus usa num
ministério especial, ou através de quem Deus fala, como Moisés (Ne-
emias 10:29), Josué (Josué 24:29), Davi (Salmo 89:20 [LXX: 88:21],
Jonas (2 Reis [LXX: 4 Reis] 14:2 5), todos os quais são chama dos de
"servo (Grego: doulos) do Senhor."
Entretanto, os leitores das cartas de Paulo entenderiam mais depressa
que o apóstolo queria dizer que era um "escravo" de Cristo no sentido
de humildade, pois esse era o sentido que a palavra tinha para eles. Não
há dúvida de que Paulo considerava uma honra elevada ser escravo de
Cristo, mas também deixava implícito, pela palavra "escravo", que
estava totalmente à disposição de seu Senhor. No entanto, por essa
55
(Filipenses 1:15-17)
mesma razão suas palavras e ações tinham a autoridade de seu Senhor,
e naquele trabalho de servo Paulo sentia liberdade perfeita.
Os destinatários da carta são chamados de santos ou de "povo santo",
pess oas a qu em D eu s se pa ro u pa ra si m esm o — desi gnação m uito
comu m de Paulo para os crentes em suas car tas (conform e Rom anos 1:7;
1 Coríntios 1: 2; 2 Co ríntios l:l; E fé si o s 1:1; Colossense s 1:2 ).
A designação grega " hagios” tem raízes nos tempos do AT quando
Deus celebrou uma aliança com Israel, depois de havê-lo libertado do
Egito. Deus o chamou de "nação santa" (Êxodo 19:6) e intimou o povo:
"Sede santos porque eu sou santo" (Levítico 11:45). Esta intimação é
trazida ao NT e imposta sobre o povo da nova aliança. O uso cristão
também pode ter sido influenciado, até certo ponto, pela descrição que

Daniel faz do remanesc ente eleito, no fim dos t empos: "os santos do
Altíssimo" (Daniel 7:18, 22, 27). E provável que Paulo tenha em mente
í» des crição de Daniel, quando afirma que "os santos hão de julg ar o
mundo" (1 Coríntios 6:2).
Paulo escreve, a seguir, a todos os santos em Cristo Jesus que estão
«Mi Filipos — isto é, à igreja toda naq uela cidade. Suas cartas an teriore s
•;ao endereçadas explicitamente às igrejas em várias cidades, conforme
<«álatas 1: 2; 1 Tess alonicenses 1:1; 2 Tessalon icenses 1:1; 1 Coríntios
1:2; e 2 Co rín tio s 1:1.
Paulo introduz variações em suas últimas cartas às igrejas, quanto à
rrd açã o (Rom anos 1:7; Co lossen ses 1:2; Ef ésio s 1:1). Ele desc rev e os
i icntes como estando em Cristo Jesus. Isto indica que os que crêem em
( i isto estão unido s a ele, a nova vida da qual participam r epr ese nta seu

quinhão na vida enoutra


I' tiilo expressa ressurreição de quando
passagem, Cristfala
o. Esta
dos idéia é idêntica
crentes àquela que
como sendo
im-mbro s do corpo d e Cristo, 1 Coríntios 12:12 ,27, e Ro man os 12:4.
I >en tre as pessoas a quem a carta é endereçad a, Paulo menciona de
modo especial os bispos e diáconos. As palavras gregas assim traduzidas
MI iam a ser preservad as (em portuguê s estas palavras também são
ilrtivadas do grego). Paulo e seus companheiros estimularam as qualida
des de liderança nas igrejas que plantaram. Quando os crentes comuns,
u4 ovelhas do Senhor, eram lentos e m reconhe cer os irmãos que demon s-
iMvnm tais qualidades, eram admoestados a fazê-lo de imediato. Os
111 Irres em potencial poderiam até ser m enciona dos por nome (como em
I Coríntios 16:15-18).
54
(Filipenses 1:15-1 7)
Não havi a nenhum a de si gn açã o ofi cia l pa ra os lí der es ec le si ást ic os
nas igrejas paulinas. Em Tessalônica eram designados como: "os que
trabalham entre vós, e os que presidem sobre vós no Senhor, e vos
admoestam" (1 Tessalonicenses 5:12). Talvez os próprios crentes fili
pen se s é qu e se re fe ri am a seus líder es na ig re ja co mo episkopoi, "os
bis pos qu e gover nam " (o m es m o te rm o é ap lica do ao s anc iã os da ig re ja
de Éfeso em Atos 20:28, a fim de expressar a responsabilidade deles
como pastores espirituais).
Os diáconos (gr. diakonoi) são aqueles que desempenham qualquer
serviço na igreja. Nas cartas pastorais os deveres deles são mais forma
lizados (cf . 1 Tim óteo 3:8-13).
N es ta ca rt a aos fi li pense s é in ce rt a a razã o da m en çã o es pe ci al a bispos
e diáconos. Muitos estudiosos, de Crisóstomo em diante, têm ensinado
que estes oficiais foram os responsáveis pelo envio de Epafrodito com
uma oferta para Paulo. F. W. Beare acha possível que Paulo desejasse
atrair a at enção dos líderes para a obra d e Epafrodito. E. B est considera
a possibilidade de haver Paulo recebido um a carta form al, assinad a pelos
"santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos e
diáconos," e usou este jog o de palavras, em sua res posta. E por isso, de
forma proposital e perspicaz, evita atribuir-se qualquer título além do
"escravo de Cristo Jesus."
Cinqüenta anos mais tarde, quando Policarpo escreve à igreja filipen
se, esta ainda é administrada por uma pluralidade de líderes, a quem ele
chama de "anciãos" {To the Ph ilipe ns 6:1; 11:1).

1:2 I A esta altura do preâmbulo de uma carta grega, o remetente


norm almente desejaria "alegri a" a se u correspondente; n uma carta lat ina,
ele desejaria "perfeita saúde." Paulo herdou o costume hebraico (e
semítico, generalizado) de desejar ao destinatário "paz" (Heb. shalôm),
mas freqüen tem ente ele amplia se us votos para "graça e paz." É possível
que se tratasse de uma expressão usual em bênçãos nas sinagogas ou
igrejas . Num a obra jud aica p osterior, apocalíptica, do primeiro século,
uma carta provavelmente enviada por Baruque às tribos de Israel depor
tadas pelos assíri os, apresenta um cabeçal ho: "M isericórdia e paz" (2
Baruque 78:2). Paz é a soma total das bênçãos tempo rais e esp irituais, e
a graça é a fonte de onde provêm.
A graça...e paz que Paulo invoca sobre seus destinatários quase
sempre derivam da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.
55
(Filipenses 1:15-17)
A íntima associação de Cristo com Deus, em expressões desse tipo,
testifica do lugar que Cristo ocupava no pensam ento de Paulo. Sendo
aquele que ressurgiu e foi exaltado, Cristo recebeu de Deus a designação
de "Senhor" — o "nome que é sobre todo o nome" (Filipenses 2:9) —
revestido de humanidade celestial (1 Coríntios 15:45-49).
Deus e Cristo são um na srcem e na concessão da salvação. A boa
vontade incondicional em prol dos seres humanos que foi manifestada
na obra redentora da cruz é sempre chamada "graça de Deus" (Romanos
5:15) e de "graça de nosso Senhor Jesus Cristo" (Filipenses 4:23). De
modo semelhante, o estado de vida a que essa obra redentora conduz os
crent es — paz com Deus e paz uns com o s outros — é sempre cham ada
"paz de Deus" (Filipenses 4:7) e "paz de Cristo" (Colossenses 3:15).

Notas Adic ion ais 1.


1:1 / Quanto à circuncisão de Timóteo fe ita por Paulo, veja-se M. Hengel,
Act s a nd the H ist or y ofEa rliest Christianity , p. 64.
Quanto à f rase servos de Cristo Jesu s, consulte-se K. H. R engstorf, TDNT,
vol. 2, pp.261-80, s. v. [doulos, etc. (specially 276, 277). G. Sass,"Zur Bedeu-
tung von doulos bei Paulus," ZNWAO (1941), pp.24-32, conclui que para Paulo
trata-se de um título honorífico.
Quanto à expressão santos em Cristo Jesus (Filipenses 4:21), consulte-se
O. E. Evans, Saints in Christ Jesus: A Study o fthe Christian Life in t he New
Testament. Veja-se também o capítulo "The Corporate Christ" em C. F. D.
Moule, The Origin ofChristology, pp. 47-96.
Nas Epísto las Pastorais os termo s episkopos e pr es by te ros ainda são usados
intercambiavelmente, havendo, pelo que se percebe, vários oficiais assim de
signados em determinad as igrejas (cf. 1 Timóte o 3:2; 5:17; Tito 1:5-7); suas
qualificações
diakonoi são em
usados estabelecidas minuciosamente.
conjunto na literatura cristã,Aocorre no deDidac heepiskopoi
incidência 5:1. e
Em outras passagens das cartas paulinas, os crentes aqui denominados
episkopoi são chamados de proista menoi, os que "presidem" (Romanos 12:8;
cf. 1 Tessalonice nses 5:12) que não constitui, entretanto, termo técnico. V eja J.
B. Lightfoot, "The Christian Ministry," em Ph ilip pia ns, pp. 181-269; F. J. A.
Hort, The Christian Ecclesia pp. 211-13; E. Best, "Bishops and Deacons:
Philippians 1:1" TU 102 = SE 4 (1968), pp. 371-76; B. Holmberg, Pau l an d
Power: The Structure ofAu thority in the Prim itive Churc h as R eflect ed in the
Pa uline E pistles, pp. 100, 101,116 e 117.
2. Ações de Graça s Introdutórias (Filipe nses 1:3-6)

O preâmbulo das cartas de Paulo freqüentemente é seguido por uma


expressão introdutória de agradecimento. Gálatas constit ui exceção, pois
quase não havia motivos que suscitassem agradecimentos em relação à
situação em que se encontravam as igrejas gálatas.
A prioridade que Paulo atribuía à ação de graças, em geral, está
explícita e m Rom anos 1:8: "Primeiram ente dou gra ças ao meu Deus, por
meio de Jesus Cristo, no tocante a todos vós." O agradecimento aqui em
Filipenses reflete "o senso de íntima comunhão de Paulo com seus
amigos filipenses"; a expressão dele é "incomumente fervorosa"
(0 'B rien , p. 19). Como em outras passagens, a açã o de graças d e Paulo
está interligada a uma oração.

1:3 / A forma verbal no indicativo dou graças também é usada no


agradecim ento i ntrodutório d e Ro ma nos 1:8; 1 Coríntios 1:4; 2 Tim óteo
1:3 e Filemom 4. No plural: "graças damos", em Colossenses 1:3 e 1
Tessalonicenses 1:2. Temos :"sempre devemos, irmãos, dar graças" em
2 Te ssalon icense s 1:3. Em 2 Coríntios 1:3, em Efé sios 1:3, com o tam bém
em 1 Pedro 1:3 encontramos a form a mais litúrgica "Bendito seja o Deus
e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo." Basta pensar em seus amigos
cristãos em Filipos e outras cidades, e Paulo já encontra m otivo para dar
graças a Deus.

1:4 O preâmbulo gratulatório de Paulo está repetidamente ligado à


certeza de suas constantes orações pelos amigos a quem escreve (cf.
Rom anos 1:9; Efésios 1:16; 1 Tessalonicen ses 1:2; 2 Timóteo 1:3;
Filemom 4). Têm -se a impressão de que o apóstolo não consegu ia pensar
nos amigos sem orar por eles, contudo ele intercedia principalmente
como indivíduos e também como igreja, com regularidade e dentro de
um programa estabelecido.
N ão pod em os te r ce rtez a qu an to às pal av ra s em todas as minhas
orações, súplicas por todos vós, se elas estão intimamente ligadas ao
pe rí od o se gu in te (c om o ac on te ce na N IV ) ou se co m o pe rí odo pre ce
dente: Dou graças ao meu Deus, sendo que neste caso estariam em
conexão paralela com todas as vezes que me lembro de vós.
99
(Filipenses 2:17-6a)
A repetição de todas, todos, todas as vezes (são da mesma e única
raiz, no grego) é digna de nota, pois trata-se de uma característica do
estilo de Paulo, em toda sua correspondência e de modo especial nesta
carta. Há três ocorrências nos versículos 3 e 4, que poderiam ser salien
tadas na seguinte tradução: "Dou graças ao meu Deus todas as vezes que
me lembro de vós, fazendo sempre, em todas as minhas oraçõe s, súplicas
por todos vós com alegria."
A declaração de Paulo de que ele ora por todos eles com alegria
introduz uma nota repetitiva nesta carta confo rme v emos em: 1:18; 2:2,
17, 18, 28, 29; 3:1; 4:1, 4, 10. Em contra ste com muita s outra s de suas
igrejas, a igreja filipense dava a Paulo alegria pura quando pens ava nela.
É evidente que essa igreja não abrigava ensinos subversivos que haviam

encontrado guarida noutras igrejas da Galácia, e t amp ouco a libertinagem


à margem da ética, que era defendido por alguns membros da igreja de
Corínto.

1:5 / O que desperta alegria da ação de graças em Paulo, de modo


part ic ula r aq ui, é a enér gi ca dis posi ção co m qu e os cre nte s fi li p en ses
haviam cooperado com o apóstolo no evangelho, desde que ele visitara
a cidade pela primeira vez. Enquanto Paulo estivera ali vários irmãos
"trabalharam comigo no evangelho" (4:3) e, após sua partida, prossegui
ram no testem unh o ativo. Orava m por ele com regu larida de (v. 19);
mantinham contato com ele através de mensageiros como Epafrodito
(2:25-30); enviavam-lhe ofertas, sempre que havia oportunidade — na
verdade, uma das razões para o envio dessa carta era agradecer-lhes a
ic-messa de uma oferta, pela mão de Epafrodito; aqui, Paulo antecipa de
modo breve seu agradecimento mais elaborado de 4:10-20.
Eles havi am parti cipado com generosi dade na arrecadação de fundos
pa ra so corr o dos fa m in to s de Jer u sa lé m , ca m p anh a qu e o ap óst olo
i>i ganizara em sua missão ev angelística entre os gentios, nos anos finais
> Ir seu ministério na costa do Egeu. Em 2 Co rínti os 8:1-5 faz um caloroso
rlogio da liberal doação feita pelas igrejas macedônicas (dentre as quais
figura a igreja fil ipense).
O fato de que a cooperação dessa igreja, no evangelho, havia prosse-
Hilido sem interrupção até agora, sugere que nada havia acontecido no
•irio da comunidade filipense que causasse preocupação séria a Paulo.

1:6 / A ardente participação deles no ministério evangélico de Paulo


54 (Filip enses F. 15-17)
era um sinal seguro da obra da graça, que começava a operar em suas
vidas quando, de início, creram na mensagem salvadora. Paulo externa
sua convicção de que aquele que em vós começou a boa obra a
aperfeiçoará (cf. 2:13) até chega r à consuma ção, na vinda de Cristo. De
mod o sem elhante, em 1 Tessalo nicen ses 5:24, depois d e orar para que
seus leitores sejam "conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo", Paulo e seus companheiros afirmam: "Fiel é o que
vos cham a, o qual t am bém o fará ." A salvação é obra d e Deus do princípio
ao fim; portanto, onde ela começou, certamente se completará.
O dia de Cristo Jesus, cham ado "o dia de Cristo" no v. 10, e em 2:16,
é o dia da vinda de Cristo em glória, que aguardamos (cf. 3:20). A

expressão fo i tirada do
de Israel, reivindicaria AT: "dia
suajustiça, do Senhotoda
eliminando r" — o dia em
injustiça, ondeque Iavé, o Deu s
quer
que fosse encontrada, em primeiro lugar e pri ncipalmen te entre seu povo
(cf. Amós 5:18-20). Agora, todavia, por ordenação divina, "Jesus Cristo
é Senhor" no sentido mais augusto dessa palavra (2:11); o dia do Senhor
é, portanto, o dia de Cristo Jesus. N um conte xto crist ão é o dia em qu e
a vida e obra do povo de Crist o serão avaliadas. "A obra d e cada um se
m anifestará, porque o dia a demonstrará" (1 Coríntios 3:13); port anto , o
ju lg a m e n to fi n a l deverá esp era r o Sen hor , "a té que venh a", e nã o dev e
ser antecipado por aqueles cujo conhecim ento dos m otivos e cir cunstân 
cias pessoais dos outros é, pelo menos, imperfeito (1 Coríntios 4:5).
Acima de tudo, o dia de Cristo Jesus é o dia em que a salvação dos
crentes, já principiada, será cons umada. De m aneira semelhante a seus

irmãos e irmãs
algo: "... e aguaderdardes
Tessalônica,
dos céusosa crentes deaFilipos
seu Filho, quem ele haviam aprendido
ressuscitou dentre
os mortos" (1 Tessalonicenses 1:10), e a regozijar-se na "esperança da
salvação", porque haviam sido escolhidos não para receber a retr ibuição
divina, que recairá sobre os iníquos, no final dos tempos, mas para
"alcançar a salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Tessalonicenses
5:8,9). Portanto, pa ra os crentes esse será um dia de luz e não de escuridão
(em contrast e com a advertência d e Am ós 5:20, de que para alguns esse
dia trará "trevas, e não luz").

Notas Adicionais 2
1:3 / Quanto a agradecimentos iniciais nas cartas de Paulo, consultem-se P.
Schubert, Fo rm an d Function ofthe Pa uline Tha nksgivingse, P. T. 0'Brien,
(Filipe nses F. 15-17) 55
In trod uctor y Tha nk sgivings in the L etters ofPaul. Tais ações de graças têm sido
identificadas em cartas escritas em papiro no mesmo período genérico: "Paulo
estava , portanto, aderindo ao belo costume secular , quando com tanta freqüên cia
iniciava suas cartas dando graças a Deus" (A. Deissmann , Ligh tfr om th eA ncie nt
East, p. 181, no. 5).
O verbo aqui é eucharisteo (como em Rom anos 1:8; 1 Coríntios 1:4; Filem om
4); cf. eucharistoumen qm Colossenses 1:3; 1 Tessalonicenses 1:2; eucharistein
opheilomen e m 2 Tess alonicenses 1:3; charin echo em2 Timóteo 1:3; eulogetos
ho theos em 2 Coríntios 1:3; Efésios 1:3.
As palavras todas as vezes que me lembro de vós (gr. epi pase te mneia
hymon) poderiam ser traduzidas assim: "todas as vezes que vós lembrais de
mim" (se hymon para genitivo sub jetivo, e não objetivo); cf. Mo ffatt: "por todas
as lembranças que fazeis de mim." P. T. 0'Brien acha que "é melhor entender
a frase como referindo-se ao fato dos filipenses se lembrarem de Paulo ao
sustentá-
vings, p. lo financeiramente
23). em várias
Se isto for verdade, Pauloocasiões,
estaria antes" (Introductory
mencionando três razõesThanksgi
para
dar graças: o fato de eles se lembrarem do apóstolo, a participação contínua
deles na obra do evangelho (v. 5), e a con fiança de Paulo em que a boa obra será
integralmente realizada (v. 6).
Por outro lado, em todas as demais passagens em que Paulo usa as
pal avra s "lem bra r- se " (mneia), em seus agradecimentos iniciais, é ele
quem se lem bra de seus leitores (Rom anos 1:9; Efé sios 1:16; 1 Te ssa lo
nicenses 1:2; 2 Timóteo 1:3; Filemom 4). A palavra mneia aparece uma
única vez, noutra passagem, nas cartas de Paulo, significando na verda de
que seus leitor es se lembram dele; não se t rata, t odav ia, de agrade cimento
introdutório (1 Tessalonicenses 3:6).
1:5 / A frase pela vossa cooperação ( koinonia é tradução literal. Significa
"parti cipação" ativa da parte dos filipenses no ministério evangélico de Paulo,
estando, portanto, correta. Entretanto, H. Seesemann, Der B egri jf Ko inon ia im
Ne ue n Testament, pp. 73s., 79, defende um senti do mais passivo para a partici
pação dos crentes nas bê nção s salvíficas do evangelho: vo ss a co op eraç ão no
evan gelho seria, assim, um rodeio de palavr as para o significado de "voss a fé."
3. Interlúdio (Filipe nses 1:7-8)

Estas palavras pessoais com que Paulo se dir ige aos fi lipenses de modo
direto afirmam sua profun da afeição por el es, e representam tam bém uma
transição entre a ação de graças dos versículos 3-6 e a intercessão dos
versículos 9-11.

1:7 / Os filipenses demostraram tão grande comunhão com Paulo que


se tornou "muito natural" (Moffatt) que o apóstolo sentisse por eles o
que sentia. A graça do ministério apostólico havia sido concedida por
Deus a Pau lo (cf . Ro m anos 1:5), ma s ele se reg ozi ja quando seus
convertidos tornam-se participantes a seu lado. A "cooperação" deles
no testemunho do evangelho significava muito para Paulo, quando o
apóstolo estava livre para ir aonde bem entendia; e significava muito mais
par a ele, ag or a nas minhas prisões. Não se de ve in fe ri r, da traduç ão da
ECA, que as oportunidades de Paulo na defesa e confirmação do
evangelho eram maiores quando ele estava em liberdade do que agora,
em situação restritiva. Paulo havia entendido que os interesses do evan
gelho exigiam que ele estivesse exatamente onde estava no momento:
em prisão dom iciliar. Sabia que estava no posto de serviço determin ado
po r D eu s "p ara defe sa do ev an gel ho" (v. 16), e agu ar dav a a r ar a oportu 
nidade de defesa e confirmação do evangelho diante das altas autori
dades e magistrados civis, quando seu ca so viesse a julga m ento , em
br ev e. E nquan to ele es tive ss e no lu ga r que D eu s lhe dete rm in ara , o
ministério que r ecebera haveria de prosper ar. Esta certeza foi fortalecida
em Paulo pela fi rm eza com que seus amigos filipenses dem onstraram ser
seus cooperadores em sua prisão e em seu contínuo testemunho evangé
lico.

1:8/ Em momentos de emoção intensa, Paulo tendia a invocar a Deus


como sua testemunha (Deus me é testemunha; cf. Romanos 1:9; 2
Coríntios 11:11, 31; 1 Tessalonicen ses 2 :5) . Aqui, a emoção é uma
pro fu nda af ei çã o. C ha m ar a Deus como testemunha não é indicação de
que alguns filipenses precisavam ter bastante certeza da afeição paulina;
Paulo nunca se mostra reticente ao falar de seu amor pelos seus conver
tidos ( cf. 2 Coríntios 12:15; Gálatas 4:19; 1 Tessalon icenses 2: 8). Entre 
(Filipenses 2:1 7-8a) 99
tanto, os termos que Paulo usa ao dirigir-se aos filipenses "demonstram
uma profundidade sem precedentes" (0'Brien, p. 29). Paulo anseia pelos
filipenses na terna misericórdia de Cristo Jesus — eis um am or
totalmente desinteressado. "Não é Paulo, mas Jesus Cristo, quem vive
em Paulo, de modo que não é mediante o coração de Paulo, mas pelo de
Jesus Cristo, que Paulo age" (Bengel, ad loc.).
Fica enfatizad a a união da igreja f ilipense em seu relacionam ento com
Paulo; todos cooperavam no ministério paulino e todos participavam da
afeição cordial do apóstolo.

Notas Adicionais 3

hymas1:7 /poderia
Porqu eser
vostraduzido
retenh oigualmente
em m eu coração
por "vós(gr. dia to echein
me tendes me en
em vosso te kardia
coração"
(cf. NEB: "porque vós me retendes em grande afeição"). As duas traduções
encaixam-se bem no contexto ; é possí vel que a ordem das palavras favoreça a
primeira tradução.
A graça (gr. charis) concedida a Paulo é mencionada outra vez em
1 Coríntios 15:10; Gálatas 2:9; Efésios 3:7, 8, 9 ("esta graça me foi dada a fim
de que eu pregasse aos gentios as riquezas insondáve is de Cris to, e tomass e clara
a todos a administração deste mistério").
As palavras defesa e conformação do evangelho (gr. en te apologia kai
bebaiosei tou euangeliou) podem ter conotações jurídicas, tendo em vista o
esperado comparecimento de Paulo perante os tribunais.
1:8/A frase sa uda des que te nho de todos vós é tradução do verbo epipotheo,
que Paulo usa repetidamente quando sente saudades de seus amigos, a quem
quer ver: como em Rom anos 1:11, 1 Tessalonicenses 3:6, 2 Timóteo 1:4; o
substantivo epipothia é usado de maneira sem elhante em Roma nos 15:23; cf.
Filipenses 2:26 a respeito de Epafrodito ter anseios de rever seus amigos
filipenses; 2 Coríntios 5:2 sobre os crentes que "gememos, desejando ser
revestidos da nossa habitação, que é do céu". Todavia aqui a palavra é usada
sem um infinitivo dependente, referindo-se ao anseio afetuoso de Paulo por seus
amigos: con forme oco rre em 2 Cor íntios 9:14, a respeito do profun do am or que,
assim espera Paulo, a igreja de Jerusalém nutrirá pelos seus convertidos gentí-
licos, ao recebere m o dom de Deus; também 2 Coríntios 7:7, 11, em que o
substantivo epipothesis é utilizado com respeito ao afeto dos crentes coríntios
por Paulo). Consultem -se C. Spicq, "Epipothein. Désirer ou chérir?"
RB 64 (1957), pp. 184-95; Notes de Lexic ograp hie Néo -Testam entaire,
1 (Fribourg: Editions Universitaires, 1978), pp. 277-79.
Na te rn a m is er ic ór di a de Cr isto Jesu s, lit., "nas entranhas de Cristo Jesus".
Entranhas (gr. splan chna é termo usado com freqüên cia significando centro das
emoções (como "coração" no v. 7); cf. Filipenses 2:1.
4. Oração Intercessória (Filipen ses 1:9-1 1)

A ação de graças introdutória, que inclui em si um elemento de


oração, é seguida agora por uma oração intercessória (falando-se de
modo exato, é uma oração com "jeito" de relatório). O assunto abran
gente desta oração é idêntico ao da carta, como um todo; na oração
concentram-se os principais interesses que Paulo explica de forma mais
minuciosa ao longo da carta.

1:9 / E esta é a minha oração: que se encaixa com "fazendo...


súplicas" no versículo 4 (embora aqui o apóstolo use uma palavra
diferente), pode significar "estou orando neste momento" (o que sem
dúvida era expressão da verdade, em qualquer caso) ou opção mais
pr ov áv el "eu oro po r vós com re gula ri dade, e é por isto que esto u
orando: que o vosso amor aumente mais e mais. Para Paulo, "o
fruto do Espírito é o amor", acima de tudo, na vida das pessoas de quem
o Santo Espírito toma posse (Gálatas 5:22); "o amor de Deus está
derramado em nossos corações pelo Espírito Sant o" (Romano s 5:5 ). Se
esse amor aumen tar entr e os fil ipenses, lhes removerá as am eaças contra
a unidade de coração e propósito, que surgem por ocasião de eventuais
choques de personalidade e temperamento. Paulo retorna ao assunto em
2:2, onde o apósto lo incita seus leitores: "com pletai o meu gozo... tend o
o mesmo amor".
Este amor, assi m espera Paul o, se fará acom panhar de pleno conhe
cimento e toda percepção. Paulo não estava cego aos perigos das
emoções não controladas pela ra zão. Estava resolvido, por sua pr ópria
conta, a orar e cantar "com o espírito, mas também... com o entendi
mento" (1 Coríntios 14:15); o apóstolo estava preocupado, desejando
que ele e seus convertidos pudessem amar tanto no espírito quanto no
entendimento.
É o amor que proporciona o crescimento do verdadeiro conhecimento e
toda p ercepção, ou discernimento espiritual. O "conhecimento" divorciado
do amor "incha" (provoca or gulho), enquanto "o am oredif ica" (1 Coríntios
8:1). Entretanto, se o amor é indispensável, o pleno conhecimento e toda
percepção são necessários. A verdade do evangelho pode ser subvertida,
quando a ignorância e ojulgamento deficiente provêm apoio para o ensino
(Filipenses 2:17-9 a)
pre ju dic ia l co ntra o qu al os fi li pense s são al ertados no capítulo 3.

1:10 / Quando tantas formas competitivas de doutrinas e de modos de


viver se apresentam à escolha dos crentes (como com certeza seria o caso
no mundo m editerrâneo o riental , no primeiro século), o pleno conhecimen
to e toda percepção capacitarão os crentes a discernir as coi sas ex celentes
(quanto a esta expressão, cf. Romanos 2:18). Pode significar "saber o que é
bo m ou ex ce lente" co ntra sta nd o co m "sutile za s e es pe cu la çõ es va zias "
(Calvino, ad loc.) ou como sugere a tradução de ECA discernir as coisas
excelentes, "as melhores dentre as boas" (Bengel, ad l oc.) . Am bos os tipos
de discriminação são necessários. Esse discernimento advém mediante
experiência amadurecida. Um texto clássico sobre o assunto no NT é

Hebreus 5:14, prática,


das que "pela que faztêm
referência às pessoas
as faculdades espiritualmente
exercitadas amadureci
para discernir tanto
o bem como o mal." Sem e sta faculdade discriminatória a pessoa não
consegu e desenvo lver "o s enso daqu ilo que é vital" (Mo ffatt ). E o efeito,
não de um processo lógi co de filosofia moral, mas de percepção crescente
do caráter e da vontade de Deus.
E importante, diante do dia de Cristo, o dia da avaliação e r ecom pensa
de seu povo (cf. v. 6), que os crentes sejam sinceros e inculpáveis. Os
cristãos não poderão ser sinceros e inculpáveis se não viverem aqui e
agora vidas sinceras e inculpáveis. Portanto, a escolha das coisas exce
lentes, das melho res coisas, inclui a escolha imp ortantíssima daq uilo que
é eticamente o melhor . De modo semelhante, a oraç ão de 1 Tessaloni
censes 5:23 para que Deus possa guardar seus filhos "plenamente con
servados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" exige
que o Senhor os "santifique completamente" hoje.

1: 11 / O fruto da jus tiça que Paulo deseja ver reproduzido na vida


dos filipenses é, essencialmente, idêntico àquelas graças que, de acordo
com Gálatas 5:22, 23, compõem o "fruto (ou 'colheita') do Espírito."
Tais qualidades são o produto espontâneo da nova vida im plantada dentro
dos crentes, vida baseada na "justiça que vem de Deus pela fé" (3:9). É
por cau sa da uni ão do s cr en te s co m D eu s, pel a fé , qu e eles m ost ra rã o o
fruto da justiça , o qual vem por meio de Jesus Cristo; este fruto se
ma nifestou com perfeição em seu próprio caráter e obr a. Não existe lugar
para auto congra tu la ções, aqu i.
E em vidas assim que Deus é glorificado. As palavra s para glória e l ouvo r
54 (Fili pens es F. 15-17)
de Deus fazem parte da sentenç a, mas ao mesm o tempo servem ao propósito
de uma dox ologia, concluindo o trecho de ações de graças e oração.

Notas Adicionais 4
1:9 / Quanto às orações intercessórias nas carta s de Paulo, veja-se G. P. W iles,
PauVs Interces sory Prayers.
Minha oração: gr. pro seucho mai, enquanto no versículo 4 é usado o subs
tantivo cleesis. A palavra proseuchom ai (que vem do substantivo proseuche )
expressa o sentido mais generalizado de oração; ãeesis (com o verbo deomai)
denota o elemento de petição da oração. Veja-se 4:6.
Conhecimento é a tradução do gr. epignosis (cognato de gno sis), usado no
NT ape nas pa ra conhecim ento mo ral e religioso. A GNB adiciona o adjetivo
"verdadeiro" que, provavelmente, tem a intenção de comunicar a força do
pr efixo epi-; "o cognato epignosis tomou-se um termo técnico para designar o
conhecimento decisivo de Deus, que fica implícito na conversão à fé cristã (R .
Bultman, TDNTl, p. 707, s.v. ginosko, etc.).
Toda perce pção é a tra dução do gr . aisthesis ("percepção"), que não se acha
em nenhuma outra passagem do NT. Denota aqui percepção moral; cf. aisthe-
teria ("órgãos dos sentidos") em Hebreus 5:14, para faculdades m orais treinadas
"para discernir tanto o bem como o mal."
1:10. Sinceros é a tradução do gr. eilikrines ("não-misturado" e, portanto,
puro, sin ce ro), aqu i como em 2 Pedro 3:1 no sen tido mo ral (cf. o sub sta ntivo
eilikrineia em 1 Coríntios 5:8; 2 Coríntios 1:12 ; 2:17). O adje tivo traduzid o por
inculpáveis é aproskopos, e pode ter força intransitiva ("que não tropeça")
ou transitiva ("que não causa tropeços a outrem"), sendo a referência em
ambo s os casos de ordem ética. É prováve l que a força sej a intransitiva, aqui;
em 1 Coríntio s 10:32 é transiti va (diz a NIV: "não sej ais causa de alguém
tropeçar"). A outra (e única) ocorrência desse adjetivo no NT está em Atos
24:16, onde se aplica à "consciência sem ofensa" de Paulo.
1:11/ Quanto a fruto ou colheita, usado em sentido ético cf. Provérbios
11:30; Amós 6:12; Efésios 5:9; Hebreus 12:11; Tiago 3:18. Aqui, fruto ou
colheita de ju sti ça (gr. karpos dikaiosynes poderia bem ser o fruto que consiste
em justiça (dikaiosynes sendo tomado como genitivo de definição), porém, é
mais do que isso, de acordo com a analogia de expressões similares, e com o
próprio pensam ento paulino que o ente nde c om o o fru to que pr ovém do dom da
justiça, ou da ju stific aç ão que Deus, me dia nte sua graça, concede aos crentes.
Enquanto o adjetivo che ios (gr. peple rome noi comumente é usado como passi
vo, é muito possível tomá-lo como estando no tempo gerúndio, como na NEB:
"Colhendo a safra total dajustiça" (cf. G. B. Caird, ad loc.).
Há uma variante curiosa, no f inal do versículo 11, onde em vez de pa ra glória
e louvor de Deus os manuscritos FG ocidentais (com Ambrosiaster) trazem:
"para minha glória e meu louvor. " O possessivo deve ser entendido no sentido
de 2:16 ("para que no dia de Cristo possa gloriar-me"); ainda assim, está fora
(Filipen ses F. 15-17) 55
de lugar, aqui, embora J.-F. Collange (ad loc.) julgue tal idéia "de caráter
suficientemente surpreend ente para ser srcina l" (ele compara "louvor" n um co n
texto es catológico semel hante, em 1 Coríntios 4:5).
5. Situa ção Atual de Paulo (Filipe nses 1 :12 -14 )

Os crent es de Fili pos estavam profundam ente preocupados com P au


lo. Nutriam caloroso afeto por ele; sabiam que estava preso agora,
aguardando o julga m ento , e que seu caso deveria subir l ogo perante o
supremo tribunal do impér io. Como estaria Paulo nesse momen to? E qual
seria a deci são jud icial, após o julgam ento? E além de tudo, de que
maneira essa decisão e os fatos precedentes contribuíram para maior
avanço do evangelho por to do o m undo ro m an o?

Paulo sabe transmitir-lhes


tranqüilizá-los, o que há na ummente dosdafilipenses,
pouco confiança eque
porlheisso deseja
enche o
coração enquanto contempla sua própria situação.

1:12. O fato do apóstolo aos gentios estar em cadeias poderia muito


be m ser consi der ad o um go lp e co ntra o avanço do evangelho que Paulo
fora chamado para pregar. Todavia, não era assim: fosse qual fosse a
situação de Paulo, a palavra de Deus não estava presa (cf. 2 Timóteo 2:9).
Na ve rd ad e, a pre se nça de Pau lo em R om a co mo pri si oneir o, ag ua rd an do
ju lg am ento , hav ia co ntrib uíd o para maior avanço do evangelho. Tra-
tava-se de um prisioneiro famoso, um cidadão romano que exercia sua
pre rr ogat iv a, a de te r seu caso ex po st o pe ra nte o im per ad or; e Pau lo fe z
questão de fazer que todos quantos entrassem em contato com ele
ficassem sabendo que sua prisão domiciliar se devia à pregação do
evangelho, e não a alguma atividade política subversiva, nem a conduta
criminosa.

1:13 / Toda a guarda pretoriana, diz Paulo, e todos os demais de


alguma forma relacionados com o meu caso conhecem as minhas
cadeias, em Cristo. Temos aqui mais um exemplo do uso "incorporati-
vo" da frase "em Cristo" (veja acima no versícu lo 1). Não se trata apenas
do fato de Paulo ser um "escravo de C risto", e por isso estar preso, como
traz a GNB; isso é verdade mas, perante seus olhos, faz parte de sua vida
em Cristo, a quem está unido pela fé; é, de modo especial, parte de seu
compartilhamento nos sofrimentos de Cristo (cf. 3:10). É claro que os
membros da guarda pretoriana e todos os demais a quem Paulo se
refere não viam as coi sas de seu ponto de vista , porém não podiam deixar
(Filipenses 2:17-25a) 99
de entender que Paulo estava na pri são pelo fato de ser um crist ão.
A guarda pretoriana é, literalmente, o "praetorium", isto é, a guarda
pes so al do im pe ra do r. A pala vra "p ra eto ri um " te m vári os si g n if ic ad os,
depend endo do contexto (cf. Marcos 15:16 par. Mateus 27:27 e João
18:28ss., quanto ao pretório em Jerusalém; Atos 23:35, quanto ao pretó-
rio em Cesaréia); contudo, como temos argumentado na introdução, o
sentido mais provável aqui é a guarda pretoriana de Roma. Havendo
apelado ao imperador, Paulo se t ornara prisioneiro do imperador (embora
pre fe ri ss e ju lg ar-se "p ri si onei ro de Cristo Jesu s" ), e en quanto esp er av a
ju lg am en to fo i- lh e "p er m itid o m o ra r à par te , co m o so ld ad o qu e o
guardava" (Atos 28:16). Era natural que o soldado (substituído por um

companheiro a cada
imperi al. Seri a de quatro horas,portanto,
esperar-se, mais ou que
menos)
as pertencesse
notícias àconc
guardaernentes a
esse prisioneiro extraordinário se espalhassem por todo o quartel preto-
riano.
Além dos soldados, havia outras pessoas (todos os demais) que
estavam interessadas em Paulo — de modo especial os oficiais encarre
gados de preparar o processo para exposição perante o imperador. Paulo
não afirma haver convertido este ou aquele grupo, mas sente-se an imado,
po rq ue de ss a m aneir a o ev angel ho to rn ou-s e m otivo de co n versa ção na
capital, no coração do império.

1:14 / Não foi só isso: esses fatos reanimaram os cristãos romanos.


Quando Paulo chegou a Roma como prisioneiro, por causa do evangelho,

alguns deles talvez houvessem perguntado se haveria segurança para os


(|ue profes sassem a mesm a fé de Paulo. De acordo com Luca s, os líderes
(Ia com unidade jud aica em Rom a decidiram que seria melhor não se
lelacionar com Paulo, nem se intrometer em seu caso (Atos 28:21).
I ntreta nto, quando o evangelho tornou-se assunto de conversa por causa
da presença de Paulo na cidade, os crentes aproveitaram a ocasião e
começaram a dar seu testemunho público com maior confiança e vigor.
Quando Paulo diz que isso é verdade a respeito de muitos dos irmãos
no Senhor, ele não está querendo dizer que uma minoria recusou-se a
.iproveitar a oportunidade para evangelizar; diz ele que tantos crentes
evangelizaram, que essa ação caracterizou a igreja de Roma como um
lodo. Nada poderia dar maior alegria ao apóstolo.
136 (Filipenses 3:15-12)

Notas Adicionais 5
1:12 / Quero, irmãos, que saibais é expressão chamada de "fórmula reve-
ladora", por J . L. White, The Form andF unction ofthe Body ofthe GreekLetter,
pp. 2-5, etc.; traz o autor m uitos exemplos do uso dessa fórmu la, que marca a
transição de um agradecimento preambular para o corpo da carta. Cf. também
J. T. Sanders, "The Transition from Opening Epistolary Thanksgiving to Body
in Letters of the Pauline Corpus, " JB LS l (1962), pp.348-62. É comum Paulo
redigir a fórmula de modo negativo: "Não quero, porém, irmãos, que ignoreis"
(Romanos 1:13, etc.).
1:14 / A frase no S enhor, que alguns as socia m a mais c onfi ada m ente , sem
temor (é o caso de J. B. Lightfoot, ad loc.), deve associar-se a irmãos, "irmãos
no Senhor", que são os "irmãos cristãos" (cf. C. F. D. Moule, IBNTG, p. 108).
Talvez haja alguma nuance de diferença no significado de no Senhor e "em
Cristo"; "a pessoa se toma no Senhor quandojá está em Cristo" (M. Bouttier,
In Christ, pp. 54-61; cf. C. F. D. Moule, The Origin ofChristology, p. 59: "o
que você é, já é 'em Cristo'e o que vai tomar-se é 'no Senhor"') .
Falar a palavra de Deus: embora o genitivo "de Deus" esteja ausente de
P46 (a maioria dos testemunhos posteriores), é muito forte a certeza quanto ao
sentido.
6. Várias Razões para o Testemunho do Evangelho
(Filipenses 1:15-17)

Dibe lius deu o título de "dissertação " (ad loc.) a este pará gra fo; Pa ulo
acrescenta ao que já disse, que nem todos os que ap roveitaram a oportu 
nidade para t estemunh ar do evangelho foram motivados por sentimentos
igualmente dignos. Pelo menos a oportunidade foi aproveitada e isso é
causa de satisfação.

1:15 / Nem todos os crentes romanos que estavam pregando o evan


gelho tão ativamente possuíam o mesmo espírito de comunhão com
Paulo. As casas-igrejas da cidade representavam uma grande variedade
de perspectivas crist ãs. Hav ia tanto cristãosjud eus com o gentios . Alguns
deles (em amb os os grupos) nutriam simpatias por Paulo e suas práticas;
havia os que partilhavam as mesmas suspeitas de outros adversários
ju d eu s, noutr as cid ad es; hav ia outros de te ndência gnóst ic a qu e con si de
ravam a teologia paulina, o evangelho que ele pregava, como sendo algo
curiosam ente imaturo no qual faltava luz . E havia outros ainda, sem dú vida,
que não tinham certeza quanto a que atitude tomar em relação a Paulo.
Entretanto, parece que aqui o apóstolo tem em mente pessoas que pregam
o evangelho genuíno, independentemente da motivação por que pregam.
Por que alguns haveriam de pregar o evangelho de Cristo por inveja
e porfía? Talvez sentissem inveja das realizações de Paulo, que levou o
evan gelho a tantas províncias, em t ão curto tempo, e julga ssem que
poderiam ultra pass á-l o ag or a qu e o ap óstolo es ta va enca rc er ad o. Tal ve z
se considerassem seguidores de algum outro líder, perante quem (a seus
pró prios ol hos ) Paul o er a m er o rival; ag or a que P a u lo já não es ta va liv re
para m ovim enta r- se por on de bem en te ndess e, o líder del es conse guiria
m aior progresso. H averia já um part ido pró "C efas" em Rom a, como
tinha havido alguns antigamen te e m Co rínt o (1 Coríntios 1:12)?
Todavia, os crentes que pregavam o evangelho de boa mente, alegra
vam-se ao pensar, enquanto trabalhavam, que partilhavam do ministério
de Paulo; o apóstolo lhes elogiou o mesmo espírito de participação com
o qual elogiava também aos crentes filipenses.

1:16 / Paulo amplifica suas referências aos dois tipos de pregadores


54 (Filipenses F. 15-11)
usan do um ti po de quiasmo. Ele critica, prim eiro (no versículo 16), os
que pregavam de boa mente (que foram mencionados por último no
versículo 15) e, em seguida (no versículo 17), critica os que pregavam
por inveja e porfia, (que foram m encionado s primeiro no versículo 15).
Os que pregavam de boa mente foram motivados por amor a Paulo.
Reconheciam que Deus havia enviado o apóstolo a Roma exatamente
com esse propósito — para defesa do evangelho. Como no v ersículo 7,
pro vavelm en te ele te m em m en te a oport unid ad e que em bre ve se lhe
apresentará de defender o evangelho perante o tribunal de César: é por
isto, diz ele, que fui colocado aqui e m Roma. Se Paulo , a despeito de suas
restrições, estava promovendo os interesses do evangelho, aqueles cren
tes de boa mente não poderiam fazer menos: deviam desempenhar seu
pa pe l ao lado do ap ós tolo .

1:17 / Mas, que se dirá daqueles cuja pregação não se srcinava de


motivos sinceros, mas de um espírito de contenda, não sinceramente?
É evidente que sentiam ciúmes do desempenho e prestígio de Paulo,
como pregador do evangelho. Fosse o que fosse que Paulo fizesse, eles
conseguiriam fazer melhor; estavam dispostos a provar que não ficariam
atrás d e Paulo em nenhum a realização, em nenhum aspect o. E les ju lg a
vam (e esperavam) que as notícias a respeito do que estavam fazendo
haveriam de encher Paulo de desgosto e frustração. Já era humilhante
par a Pa ul o es ta r p ri vad o de sua libe rd ad e: se ria m ais hum il hante aind a o
apóstolo ficar sabendo que aquelas pessoas que não lhe queriam bem
estavam progredindo na apresentação do evangelho.

Se alguém julga difícil acreditar que algu ns seguidores de Jesus Cristo


pode riam de fa to en co nt ra r s at is fa çã o em esf re gar sal na s f eri das de Pau lo
é porque tal pessoa não consegue entender como a personalidade do
apóstolo era controvertida até mesmo nos meios cristãos, e como era
pro fu nda e am ar ga a opo si çã o at irad a por algu ns , dev id o a in te rp re ta çã o
dada por Paulo ao evangelho, e em virtude de suas práticas m issionárias .
Porém, se pensaram que Paulo f icaria perturbado, ou ressenti do, é que
não conheciam este homem. Se fossem muito bem sucedidos na propa
gação do evangelho, isso seria o maior bem aos olhos de Paulo. O maior
interesse de Paulo era que a mensagem salvadora, "que a palavra do
Senhor se propague e seja glorificada" (2 Tessalon icenses 3:1). O após
tolo sabia encarar atitudes inamistosas com indiferença tranqüila: que
importava a inimizade, se Cristo estava sendo pregado?
(Filipe nses F. 15-11) 55

Notas Adicionais 6
1:15 / W. Schmithals nos apresenta o argumento bastan te fora do comum de
que "as observaçõ es nos w. 15-17 só são significa tivas e pertinentes" se se
referirem a grupos de pessoas de Filipos, "porque se se referissem ao local em
que Paulo estava encarcerado teriam sido tão enigmáticas para os filipenses
como são para nós" (Paul and the Gnostics, p. 75). Paulo aqui está dando
informações aos fil ipenses sobre seus próprios atos , informações que eles não
possuíam ; e o apó stolo deixa implíc ito por tod a a carta que a igreja filipense,
como um todo, apoiava sua obra missionária.
T. W. Manson afirma que a referência aqui se liga ao sectarismo existente na
igreja de Corínto; acredita Manson que Paulo havia deixado Corinto há pouco
tempo, mas mantinha correspondência com esta igreja (Studies in the Gospels
and Epist les, pp. 161s.). T. Hawthom argumentou que a distinção se faz entre
os que pregam num espírito de antagonismo apocalíptico contra o estado e
aqueles que, em sua pregação, manifestam a mesma atitude de boa mente como
é o caso de Paulo em Romanos 13:1-7; aqueles com toda certeza pregam,
ju lg an do su sci tar afli ção às min has cad eia s ("Filipenses 1:12-19 com refe
rência especi al aos w . 15, 16 e 17." ExpT 62 [1950-51], pp. 316s.).
1:16/0 quiasmo fica anulado na maioria dos manuscritos posteriores que,
(acompanhando D1Psi) inverte m a ordem dos w . 16 e 17 (cf. KJV).
1:17 / Não sinceramente (gr. ouch hagnos ) é ligado por J.-F. Collange (ad
loc.) a ju lg an do (oiomenoi: "o julga me nto d eles não é puro..., i.é. , não está
isento de motivos ulteriores." A paráfrase de ouch hagnos é boa, porém iria
melhor com anunciam a Cristo (cf. NIV: "aqueles pregam a Cristo... por
motivos falsos").
Por contenda, não sinceramente (Gr. ex eritheias , em antítese a ex agapes,
po r amor, no v. 16). Quanto a eritheia, cf. 2:3. Essa palavra srcinalmente
significava fazer alguma coisa por interesses materiais, ou por salário, e veio a
denotar a atitude mercenár ia; no NT sempre é usada no mau sentido, denotando
espírito sectário e a contenda adveniente. R. Jewett liga as pessoas a que Paulo
se refere aqui com aquelas descritas em 2:21, como estando interessadas apenas
em seus próprios interesses; julga ele que se trata de missionários que manti
nham o "homem divino" (theios aner como um ideal, e achavam que o
espetáculo humilhante de Paulo na prisãojogou por terra esse ideal e compro
meteu a missão deles (" Conflicting Mov emen ts in the Ear ly C hurch as Reflec ted
in Philippians," Nov T 12 [1970], pp. 362-90).
Julgando suscitar aflição às minhas cadeias. Quanto à suscitar (gr. egei-
rein conforme as principais t estemunhas alexandrinas e 'ocid entais') a maior ia
dos manuscritos posteriores com D2 Psi trazem "adicionar" (epipherein; diz a
KJV: "sup ondo que est ariam acrescentando afliç ões às minha s cadeias." ECA
6 preferível.
/ . Vida ou Morte? (Fili pen ses 1 :18 -2 6)

Paulo contempla a morte ou a absolvição como decisão final de seu


pro ce ss o pen den te , co m perf eit a eq uan im id ad e. Sua pre fe rê ncia pes so al
seria partir desta vida e estar com Cristo, mas ele sabe que é mais
importante, por amor a seus amigos, que seja poupado e permaneça com
eles mais um pouco.

1:18 / A reação de Paulo contra os que lhe suscitavam dificuldades é


muitíssimo diferente do anátema que ele invocou sobre aqueles agitado
res, vários anos antes, que haviam invadido as igrejas da Galácia e
ensinavam a seus neo-convertidos "outro evangelho", diferente daquele
que haviam ouvido da parte dele mesmo. É verdade que seus inimigos,
que lhe desejavam o mal em Roma, não se intrometiam na esfera
missionária ministerial, que não lhes dizia respeito, não havendo a
mínim a pist a quanto a algum defeito ou elemento subversivo na pregação
deles. Q uaisquer que fossem os m otivos deles — quer as atividades deles
(por um lado) fossem uma capa acobertadora de suas ambições, quer
fossem uma forma de diminuir o prestígio de Paulo, ou ainda (por outro
lado), fossem o fruto de um desejo puro de divulgar o evangelho da
salvação — o fato de primordial imp ortância era que Cristo estava sendo
pre gad o (2 C orí ntios 11:4). A in da as sim , Pau lo te m um a expre ss ão doce:
demonstra mais da "mansidão e benignidade de Cristo" do que pudera
demonstrar, quando invocou essas graças ao exortar os membros insu
bord in ados da ig re ja co rí ntia (2 Corínt io s 10:1). É po ss ív el qu e seus do is
anos de encarceramento em Cesaréia, seguidos de mais um cativeiro
domiciliar em Roma, lhe houvessem ensinado novas lições sobre paciên
cia.
Há, aqui, uma extraordinária similaridade entre a atitude de Paulo e
as palavras de Lutero, mencionadas com muita freqüência, extraídas do
pre fá ci o à ca rta de T ia go , em seu N ovo Tes ta m en to em al em ão , em 1522:
"A doutrina que não ensina a Cristo não é apostólica, ainda que Pedro
ou Paulo a tenham ensinado. E mais, a pregação que ensina a Cristo é
apostóli ca, ainda que Judas, Anás, Pilatos ou Herodes a tenham pregado ."
O que importa é o conteúdo da pregação, não a identidade do pregador.
Paulo se regozija, pois, e prossegue regozijando-se, não só pelo fato
99
(Filipenses 2:17-28a)
•Ir que Cristo está continuamente sendo anunciado, mas também por
Iodas as circunstâncias e situações.

1:19 / Paulo vê a mão de Deus manifestando-se em tantas obras, na


riitu ação que ele acaba de de screver, que não resta a menor dúvida qua nto
ii ser aquele o lugar em que Deus quis que ele estivesse, para o cumpri
mento de sua comissão apostólica. Tendo tal confiança, ele pode aplicar à
sua própria si tuação atual as palavras de Jó 13:16: "também isso será a minha
salvação." Quan do a firma que o presente est ado de coisas lhe resultará em
salvação, Paulo não está pensando principalmente na libertação imediata,
no livramento da guarda pretoriana (c f. GN B) mas, (à semelhança de Jó) na
sua reivindicação da corte celestial, em sua salvação eterna. Esta lhe é
garantida, quer ele receba um veredicto favorável, quer desfavorável, do
tribunal de César (c f. a confian ça expressa em 2 Timóteo 4:8, segu ndo a
sentença jud icial do "Senhor, ret o Jui z") .
Torna-se claro, na verdade, pelas palavras que se seguem, que "o
destino último [de Paulo] está intimamente ligado ao seu dilema atual"
(R. W. Funk, em Farmer et al., eds., p.262). Ele está certo de que o bem
estar espiritual dos fili pen ses depen de de que ele sobreviva em seu corpo
mortal; ele sabe que permanecerá na terra a fim de prosseguir em sua
obra frutífera. A súplica de seus amigos filipen ses co ntribuirá para iss o,
ju n ta m en te co m o socorro do Espírito de Jesus Cristo. Esta é, contudo,
uma expressão de confiança, não a afirmação de algo que ele recebeu
mediante revelação, ou outro meio. Na verdade, Paulo não recebeu
nenh um a revelação quanto ao resultado desse processo judic ial.

1:20 / A ardente expectativa e esperança de Paulo não gira em t orno


de sua própria segurança, mas objetiva o progresso do evangelho, a
pers evera nça de seus convertid os e a concre tização do s pro pósi to s re-
dentivos de Deus. Aqui está uma das duas ocorrên cias do substantivo (gr.
apokaradokia), traduzida como ardente expectativa; em Romanos 8:19
a tradução é a mesma: toda a "criação aguarda a revelação dos filhos de
Deus". Naquele contexto, a expressão está ligada a repetidas menções
sobre a concretização da esperança dos tempos, "esperança de que
também a própria criação será libertada do cativeiro da corrupção, para
a liberdade da glória dos filhos de Deus" (Romanos 8:21). A ardente
expectativa e esperança de Paulo prendem-se a esta consumação; na
verdade, Paulo sabe que seu ministério desempenha um papel especial
58 (Filipenses 1:18-26)
no apressamento do fim. É por isso que ele es per a e ora no se nt id o de em
nada ser confun dido. A esperança cris tã e ficar e m c onfusã o são coisas
que se excluem mutuamente (cf. Romanos 5:5). A única coisa que
poder ia confu ndir P au lo (d eixá -lo en ver gonha do) , seria dei xar de re ceber
aprovação de seu Senhor; essa é a razão por que ele mantinha "o dia do
Senhor" diante de seus olhos, em t udo quanto planejava e faz ia. Declarar
o evangelho é o dever que lhe fora atribuído; Paulo está ansioso por ser
fiel à sua vocação e não deseja fazer nada indigno dela, de modo especial
quando com parecer perante César . Não é a humilhação pessoal que Paulo
teme; ele já havia suportado m uitas hum ilhações no desem penho da obr a
de Cristo e estava disposto a suportar mais ainda. Todavia, ele sabe que
não deve em nada ser confundido pa ra que Crist o sej a engrand ecido
no meu corpo, de modo especial mediante seu comportamento e defesa
na corte suprema.
O que Paulo precisa é muita coragem a fim de tornar conhecido (o
evangelho) com muita coragem (como é traduzida a expressão aplicada
à mesm a situação e m Efésios 6:19, "intrepidez") . Proclam ar o evangelho
com coragem é a antítese de fica r con fuso peran te ele (c f. Ro m anos 1:16).
A ambição permanente de Paulo é que em seu corpo — isto é, qu alqu er
coisa que lhe aconteça no plano físico, seja a vida, seja a morte — que seja
pr om ov id a a glória de Cristo. Se o avanço da causa de Crist o ex ige que ele
seja sentenciado à m orte e executad o, a morte é bem-vind a! Contu do, se
esse avanço da causa de Cristo se fará caso P aulo seja libertado, recebendo
mais algum tempo de vida mortal, a vida é bem-vinda!

1:21 / Paulo contempla a morte e a vida com equanimidade. Na


verdade, não tivesse ele outras considerações a fazer, senão suas próprias
escolhas pessoais, a expectati va da mo rte seria prefer ível: morrer nada
significaria senão lucro, e viver é Cristo. A tradução de ECA: morrer
é lucro levanta a pergunta: "que lucro?" A resposta seria: "O lucro é
Cristo." A existência de Paulo resumia-se na vida em Cristo, isto é, Cristo
vivendo nele (cf. Gálatas 2:20); a morte não conseguiria trazer cessação
nem dim inuição dessa existência, mas, ao contrári o, a exaltaria mediante
a experiência de estar com Cristo (v. 23), numa comunhão mais íntima
do que a que mantivera em vida física. Se viver significa Cristo, estar
vivo deve ser algo maravilhoso, muito alegre; "entretanto, até mesmo
para tal vi da , pre ci sa m ente pa ra um a vi da as sim , morrer é lucro" (F. W.
Beare, ad l oc. ). Se a morte sig nificasse (aind a que temporariam ente) ter
(Filipenses F. 18-26) 59
menos de Cristo do que a pessoa tinha na vida física — acima de tudo,
se a morte significasse (mesmo temporariamente) aniquilação — seria
absurdo falar de morte como sendo lucro.
Sem dúvida, Paulo queria dizer que para o crente em Cristo, morrer
representaria lucro, não importando a forma pela qual a morte sobrevies
se. Contudo, a morte que o apóstolo tem em mente, para si mesmo na
atual situação, é a execução em conseqüência dejulgamento adverso nos
tribun ais imperiais. Se esse t ipo de morte a serviço de Cristo coro asse
uma vida investida no ministério cris tão, haveria de ser lucro não apenas
par a Paulo , m as par a a ca usa de Cristo no m undo todo .
1:22 / A continuação da vida física significaria fruto para a minha

obra, diz Paulo, uma oportunidade para colher mais frutos do trabalho
que havia sido interrompido ao ser preso e encarcerado, como também
do trabalho que estivera executando durante sua prisão. Uma tradução
literal de suas pala vras seria: "Tod avia, se [o resulta do fina l para mim
for] que eu viva na carne, este é o fruto de minha obra," e estas palavras
poderi am ser ente ndid as de várias m aneiras difere nte s. Poderiam es ta r
enfatizando o fruto para a minha obra no futuro (como NIV e ECA
pare cem in dic ar ) ou o fruto para a minha obra já efe tu ada (com o NEB
entende a expressão, seguindo J. B. Lightfoot: "pois viver eu no corpo
significa que poderia colher o fruto de meu trabalho!"). Assim, a morte
pre m atu ra ou a continuaçã o da vi da tinha m se us atrat iv os, e se a es co lh a
entre ambas pudesse ser deixada a critério de Paulo, o apóstolo encon
traria dificuldades para tomar uma decisão. A escolha, todavia, não

estava em suas mãos.


1:23 / Mas de ambos os lados estou em aperto, afirma Paulo; uma
traduçã o liter al seri a: "estou cercado dos dois lados." Se Paulo co nside 
rasse tão somente os seus interesses, ser-lhe-ia muito melhor partir e
estar com Cristo, sendo esse seu desejo.
Em várias de suas cartas, Paulo fala dos crentes que morreram e que
ressurgirão no dia em que Cristo voltar (cf. 3:20, 21). Ele tem menos
coisas a dizer acerca da situação do crente imediatamente após a morte,
mas o que ele diz é bastante simples. Pelo que podemos inferir de sua
correspondência, Paulo só cuidou desse assunto quando se lhe tornou
pro vável, ao av aliar sua situ aç ão, qu e m orr eri a an te s do ad ve nto de
Cristo, e que talvez não chegasse a testemunhar a volta do Senhor. Paulo
58 (Filipenses 1:18-26)
no apressamento do fim. É por isso que ele espera e ora no sentido de em
nada ser confundido. A esperança cris tã e fi car em c onfusã o são coisas
que se excluem mutuamente (cf. Romanos 5:5). A única coisa que
poder ia co nfu ndir P au lo (deixá -lo enve rg on ha do ), se ria deix ar de re ceber
aprovação de seu Senhor; essa é a razão por que ele mantinha "o dia do
Senhor" diante de seus olhos , em tudo quanto planejava e fazia. D eclarar
o evangelho é o dever que lhe fora atribuído; Paulo está ansioso por ser
fiel à sua vocação e não deseja fazer nada indigno dela , de m odo especial
quando com parecer perante Césa r. Não é a hum ilhação pessoal que Paulo
teme; ele já havia s uportado muitas hum ilhações no desempen ho da obra
de Cristo e estava disposto a suportar mais ainda. Todavia, ele sabe que
não deve em nada ser confundido pa ra que Cristo seja engrandecido
no meu corpo, de modo especial mediante seu comportamento e defesa
na corte suprema.
O que Paulo precisa é muita coragem a fim de tornar conhecido (o
evangelho) com muita coragem (como é t raduzida a expressão aplicada
à mesm a sit uação em Efésios 6:19, "intrepidez"). Pro clama r o evangelho
com coragem é a antítese de fica r con fuso peran te ele (c f. Ro m anos 1:16).
A ambição permanente de Paulo é que em seu corpo — isto é, qu alqu er
coisa que lhe aconteça no plano físico, seja a vida, seja a morte — que seja
pr om ov id a a glória de Cristo. Se o av an ço da causa de Crist o ex ige que ele
seja sentenciado à morte e executado, a morte é bem-vinda! Contudo, se
esse avanço da causa de Cristo se fará caso Paulo seja liber tado, recebendo
mais algum tempo de vida mortal, a vida é bem-vinda!

1:21 / Paulo contempla a morte e a vida com equanimidade. Na


verdade, não tivesse ele outras considerações a fazer, senão suas própri as
escolhas pessoa is, a expectati va da m orte seria preferível: morrer nada
significaria senão lucro, e viver é Cristo. A tradução de ECA: morrer
é lucro levanta a pergunta: "que lucro?" A resposta seria: "O lucro é
Cristo." A ex istência de Paulo resum ia-se na vida e m Cristo, isto é , Cristo
vivendo nele (cf. Gálatas 2:20); a mo rte não conseguiria trazer cessação
nem d iminuição dessa exis tência, mas, ao contr ário, a exaltari a med iante
a experiência de estar com Cristo (v. 23), numa comunhão mais íntima
do que a que mantiv era em vida física. Se viver significa Cristo, estar
vivo deve ser algo maravilhoso, muito alegre; "entretanto, até mesmo
par a ta l vi da , pre cis am ente pa ra um a vi da as sim , morrer é lucro" (F. W.
Bear e, ad loc.) . Se a mo rte significa sse (ainda que tem por ariam ente ) ter
(Filipenses F. 18-26) 59
menos de Cristo do que a pessoa tinha na vida física — acima de tudo,
se a morte significasse (mesmo temporariamente) aniquilação — seria
absurdo falar de morte como sendo lucro.
Sem dúvida, Paulo queria dizer que para o crente em Cristo, morrer
representaria lucro, não importando a forma pela qual a morte sobrevies
se. Contudo, a morte que o apóstolo tem em mente, para si mesmo na
atual situação, é a execução em conseqüência dejulgamento adverso nos
tribunais imperiais. Se esse tipo de morte a serviço de Cristo coroasse
uma vida investida n o ministério cristão, haveria de ser lucro não apenas
par a Paulo , m as par a a ca usa de C risto no m undo todo .

1:22 / A continuação da vida física significaria fruto para a minha

obra,
que havia diz sido
Paulo, uma oportunidade
interrompido para colher
ao ser preso mais frutos
e encarcerado, comodo também
trabalho
do trabalho que estivera executando durante sua prisão. Uma tradução
lit eral de suas palavras seria: "Todavia, se [o resultado final para mim
for] que eu viva na carne, este é o fruto de minha obra," e estas palavras
po deri am se r en te ndid as de vár ia s m aneir as difere nt es. Poder ia m est ar
enfatizando o fruto para a minha obra no futuro (como NIV e ECA
pare cem in dic ar ) ou o fruto para a minha obra já ef etu ad a (c om o N EB
entende a expressão, seguindo J. B. Lightfoot: "pois viver eu no corpo
significa que poderia colher o fruto de meu trabalho!"). Assim, a morte
p rem atu ra ou a con tinu ação da vid a tinha m se us at ra tivos, e se a es co lh a
entre ambas pudesse ser deixada a critério de Paulo, o apóstolo encon
traria dificuldades para tomar uma decisão. A escolha, todavia, não
estava em suas mãos.

1:23 / Mas de ambos os lados estou em aperto, afirma Paulo; uma


tradução literal seria: "estou cercado dos dois lados." Se Paulo conside
rasse tão somente os seus interesses, ser-lhe-ia muito melhor partir e
estar com Cristo, sendo esse seu desejo.
Em várias de suas cartas, Paulo fala dos crentes que morreram e que
ress urg irão no di a em que C risto voltar (cf. 3:20, 21). Ele tem men os
coisas a dizer acerca da situação do crente imediatamente após a morte,
mas o que ele diz é bastante simples. Pelo que podemos inferir de sua
correspondência, Paulo só cuidou desse assunto quando se lhe tornou
pr ov áv el, ao av alia r su a situaç ão , qu e m orr eri a ant es do ad ve nto de
Cristo, e que t alvez não cheg asse a testem unh ar a volta do Senhor. Paulo
nn (Filipenses F. 18-26)
*(i« • _________ niilht quando o advento aconteceria; no entanto, à medida
• |ii> n Hpi mtol o vai envelh ecen do, no ta-se nele uma mu dan ça de pers pec-
11 v i i-ii i|uan to nas cartas iniciais Paulo tende a identificar-s e com aque les
qur sobreviverão até a volta do Senhor, em suas últimas cartas ele t ende
a identificar-se com os que ressuscitarão dentre os mortos, naquele dia.
Tal mud ança de pers pec tiva pode ser perce bida entre 1 e 2 Coríntios:
em 1 Coríntios 15:52 ele di z: "num mom ento, num abrir e fech ar de olhos,
ao soar a última t rombeta. Pois a trombe ta soará, e o s m ortos ressurgirão
incorruptíveis, e nós seremos transformados". Mas, em 2 Coríntios 4:14
ele diz: "sabendo que aquele que ressuscitou ao Senhor Jesus, nos
ressuscitará também por Jesus, e nos apresentará convosco (os vivos)."
Esta mudança de perspectiva pode ser devida à experiência crítica na
pro vín ci a da Á sia, qu e Pau lo de sc re ve em 2 Corínt io s 1:8-10. N es sa
época a morte parecia tão certa que não havia escapatória à vista, mas
quando o livramento se lhe abriu as portas, contrariamente a todas as
expectativas, o apóstolo o saudou como exemplo do poder de Deus para
ressuscitar os mortos.
Tendo esse fato como pano de fundo, P aulo declara sua convicção em
2 Coríntios 5:1-10: "sabemos que, se a nossa casa terrestre deste taber-
náculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, uma casa não
feita por mãos, eterna, nos céus." Diz mais o apóstolo: "mas temos
confiança, preferindo deixar este corpo e habitar com o Senhor." Paulo
não atribui e ssa confiança a um a revelação especial, como em 1 Te ssa
lonicenses 4:15, com respeito à ressurreição, ou em 1 Coríntios 15:51,
com relação ao revestimento de imortalidade aos crentes que ainda
estiverem vivos; no entanto, o apóstolo afirma sua esperança de modo
tão positivo ("sabemos... temos ...") que não há lugar para quaisquer
dúvidas.
E a mesma esperança que encontra expressão aqui. O crente goza a
pre se nça de Cristo nes ta vid a e nã o se rá privad o del a ao té rm in o de seus
dias, pois Cristo está vivo do outro lado da morte e porque ele vive, seu
povo ta m bém vi ve. "'M o rre r' e 'e sta r co m C ri st o' são, po rt an to , qu as e
sinônimos perfeitos. A vida com Cristo após a morte não constitui
pro ble m a par a o ap ós to lo ; el a fl ui co m o um a fo nte qu e parte da vit óri a
obtida na Páscoa" (J.-F. Collange, ad loc.). Não é de admirar, portanto,
que Paul o enfatize (acum ulando comparativos) que é muito melhor pa ra
ele partir e estar com Cristo.
(Fil ipen ses F. 18-26) 61

1:24 / Entretanto, Paulo teria sido o último homem a colocar seus


pró prios in te re ss es e p re fe rê n cia s an tes do qu e se ja vanta jo so para os
outro s. Ele exorta seus leit ores a levar e m conside ração o bem d os outros
em 2:4. Tal admoestação, contudo, não teria muito peso, caso eles não
soubessem qu e Paulo era um exemplo pessoal disso. Ele julg av a ser mais
necessário para seus convert id os, e en tre el es os cre nte s de Filip os, qu e
pro ss eguis se à dis posi çã o del es na te rr a — qu e ele perm anecess e aq ui
(permanecer na carne, gr. eti te sarki.)

1:25 / A idéia de que sua sobrevivência contribuiria para o benefício


de seus companheiros cristãos, e sua confiança em que Deus faria

qualquer coisa que


combinaram-se fosse que
de modo necessária
deram aopara o crescimento
apóstolo deles na de
grande esperança graça,
que
na verdade lhe seria concedido mais um período de vida e atividade
apostólica, para que alcançassem progresso e gozo na fé. Este sei qu e
ficarei, aqui, com o no versícu lo 19, é um a expressão de fé (c f. 2 Coríntios
5:1). Esta é a dedução mais provável do que supor-se que Paulo tenha
tido uma revelação divina quanto à questão (E. Lohmeyer) ou houvesse
recebido u m a pista i ndicativa de veredicto fav oráve l para o seu cas o (W.
Michaelis).
Os cristãos fil ipense s já exultavam pelo fato de t erem u m amigo na
pess oa de um servo de Cris to do ga bar ito de Pa ulo : a li bertaç ão do
apóstolo, e seu ministério adicional lhes daria maior motivo parajúbilo.
A questão bastante debatida sobre se Paulo foi libertado ou não
deveria, talvez, avaliando-se tudo, ser respondida afirmativamente, não
tendo, todavia, qualquer apoio na interpretação de Filipenses.

1:26 / Fosse Paulo libertado, tendo a oportunidade de rever o s filipen


ses, haveria motivo de vos gloriardes... em Cristo Jesus, pela minha
presença de novo convosco. Paulo, que se regozijara quando capaz de
van gloriar-se a respei to de seu s convertidos (cf . 2:16; 1 Tessalonicen ses
2:19; 2 Coríntios 7:4; 9:2, 3), não objetava contra o fato de eles se
van gloriarem a respeito dele mesmo (cf. 2 Coríntios 1:14). Esse orgulho
não c onflitava co m a decisão do apóstolo de não se gloriar em nada senão
na cruz de Cris to (Gálat as 6:14), vist o que todos os relacionam entos com
seus convertidos fundamentavam-se no evangelho de Cristo crucificado, e
tal vangloria era um genuíno gloriar- se em Cristo Jesus (cf. Filipenses 3:3).
O problema de relacionar a esperança de Paulo, expressa aqui, de
62 (.Filipenses 1:18-26)
visitar seus amigos filipenses m ais uma vez, com sua i ntenção, de clarada
em Ro man os 15:24,29, de esticar sua viagem , indo de Rom a à Espanha,
já fo i di sc utido na In trod uç ão .

Notas Adicionais 7
1:8 / Mas que importa? é a tradução da pergunta tigar? ("para quê"), que
pode sig nific ar "que importa? em qualq uer caso, Cristo está sendo pregado," ou
"que diremos? só isto: Cristo está sendo pregado."
1:19 / A citaçã o de Jó 13:16 é exata: tout o m oi apo besetai eis sot eri an.
Pelo socorro do Espirito de Jesus Cristo é literalmente: "o... suprimento
(gr. epichoregia) do Espírito de Jesus Cristo." ECA presume que "do Espírito"
(pneum atos) é genitivo subjetivo, significando "aquilo que o Espírito de Jesus

Cristo supre."
Espírito aquilo Todavia, tambémcomo
que é suprido, poderia
em ser um genitivo
Gálatas objetivo,
3:5, "Aquele quesendo
vos dáo
(epichoregon) o Espírito." Cf. NEB: "o Espírito de Jes us Cristo me é dado como
apoio." Se Paulo, à semelhança de Jó, está aguardando reivindicação da corte
celestial, o Espírito "surge aqui no papeljoanino de advogado" (G. B. Caird, ad
loc.) Cf. R. W. Funk, "The Apostolic 'Parousia': Form and Significance," em
W. R. Farmer, C. F. D. Moule, e R. R. Niebuhr, eds., Christi an H ist ory and
I n t e r p r e t a ti o n , p. 262, n. 1.

1:20 / A muita coragem que Paulo deseja é o gr. p a r r h e s i a "liberdade de


expressão oral. " W. C. van Unnik ("The Christian's Freedom o f Speec h in the
New Testame nt," B J R L 44 [1961-62], pp. 475s.) sugere a tradução "com
máxima abertura", aqui, "porque não será a coragem do mártir, mas o próprio
Cristo que se revelará em toda a plenitude." Fazendo Cristo o-sujeito da
oração (Cristo seja engrandecido no meu corpo), Paulo "salienta o que é
o poder real da 'liberdade de expressão oral', o fato de que não apenas o
evangelho é simplesmente proclamado, mas que o Senhor do evangelho está
sendo revelado."
A frase no meu corpo (gr. en to som ati mou) é apropriada, visto que
Paulo está pensando na morte ou vida na esfera física. S o m a , po rt an to ,

não sign ifica o 'e u' integral de Paulo, mas apenas aque la parte dele mais
imediatam ente influen ciada pelo resultado do processo, e através do qual
ele dá testem unho ao mundo visível ao seu redor" (R. H. Gundry,"SoOTa "
in B iblical Theology: Wit h Em pha sis on Pauline An thropology, p. 37).
Cf. 1 Corín tios 6:20, "glorific ai, pois, a Deu s no vosso co rpo"), onde
Paulo refuta a idéia de que as ações corporais são ética e religiosamente
indiferentes.
1:21 / No caminho de Damasco, D eus substituiu a Tora , como centro da vida
e pensamento de Paulo, pondo em seu lugar a Cristo; até então ele poderia ter
dito: "pois, para mim o viver é a Tora." Agora, o apóstolo está permanente
(Fili pen ses F. 18-26) 63

mente consciente de que sua vida se resume em Cristo, porém usa linguagem
semelhan te a respeito de seus irmã os na fé: "Cristo, que é a nossa vida"
(Colossenses 3:4).
1:2 2 / Mas, se (gr. ei de, pode introduzir a prótas e de um a sen ten ça co nd i
cional, como se nota em NIV, RSV e ECA e provavelmente na maioria das
versões. Nesse caso, a apódose pode ser "não sei então o que deva escolher"
(como também traz a GNB), ou "isto significará labor frutífe ro para mim" (como
traz NIV, acrescentando: "então, que hei de escol her? eu não s ei!" como período
independente). Por outro lado, ei de pode ser tradu zid o nã o por "mas, se" porém
po r "e se" (com o o fa z NEB : "e se minha vida no corpo pu de r servir a algum
pro pós ito bom ?"). J. B. Lightfoot (ad loc.) prop õe esta última construç ão porque
"pare ce adequar-se ao contexto bem abrupto, apresentando menos dificuldades
do que as traduções aceitas em geral".
Fruto para a minha obra é a tradução do grego karpos ergou, "fruto
(colheita) do trabalho " (cf. "fruto de jus tiça " no v. 11). A referên cia aqui se faz
ao resultado (especialmente na vida dos convertidos de Paulo, e de outros
crentes , seus companheiros) do ministéri o que o apóstol o já havia desenvol vido
ou iria desenvolver.
Não sei é tradução do gr. ou gnorizo. Paulo (e outros escritores do
N T), usa m es te verb o transi tivãm ente (" fa zer conhecid o") e nã o in tr an-
sitivãmente ("saber"); é melhor tomar a ocorrência aqui como não sendo
uma exceção à regra e traduzir, como a RSV e NEB, "não sei di zer" (no
sentido de "não posso tornar conhecido").
1:23 / A única outra passagem em que Paulo usa synecho ("constranger)",
"reter") é 2 Coríntios 5:14, "o amor de Cristo nos constra nge (synec hei hem as)"
(NIV: "O amor de Crist o nos compele").
Tendo desejo: ( epit hym ia). J.-F. Collange (ad loc.) argumenta que desde que
epit hym ia tem sentido pejorativo quase que em todas as passagens paulinas,
assim deveria ser traduzido aqui, também, como "desejo egoísta," que Paulo
menciona
esse desejoapenas para condená-lo.
( epithimia Entretant
) é mau ou bom, sendoo,muito
só o contexto
provável pode determinar
que possamos tê-lose
aqui no bom sentido, como em 1 Tessalonicenses 2:17, onde denota o grande
anseio de Paulo e seus companheiros de verem os crentes tessalonicenses outra
vez.
Partir: gr. analysai, pode si gnif ic ar um na vio re colh endo a ân co ra ,
ou um exército levantando acampamento.
Estar com Cristo, imediatamente após morrer, é a implicação de Paulo.
Contra este pensamento O. Cullmann nega que o NT apóie a "idéia de que os
mortos estejam vivendo antes da época d a volta e, assim, gozando já o fruto do
cumprimento final das cois as" ( The Early C hurch p. 165). E poss ível que esses
crentes que, quando morreram, e stavam com Cristo, ainda estejam esperando a
ressurreição, como Paulo enfatiza (cf. 3:21); entretanto, esse autor não faz
justiça suficien te a Paulo. O apó stolo e ncurta o hiato entre a m orte e a r ess urrei-
136 (Filipenses 3:15-1)
ção em 2 Coríntios 5:1-10. Veja A. Schweitzer, The M ysti cism ofP au l th e
A p o s tl e , pp. 90 -100 ,109-13; L. S. T homton, Ch ris t and the Church pp. 137-40;
F. F. Bruce, P a u l: A p o s t l e o f th e F r e e S p ir itpp.
, 309-13.
O que é muito melhor: É tremenda a diferença entre a atitude de Paulo e a
expressão de petulânc ia de Jonas: "melhor me é morrer do que viver" (Jonas
4:3, 8). G. M. Lee ("Filipenses I 22-3," N o v T 12 [1970], p. 361) critica a
observação de Libãnio (OrationM. 29) dizendo que, em certos casos de depres
são de espírito "é melhor partir (desta vid a) do que viver" ( kreitton apelthein e
z e r i) , contudo, a não ser pelo comparativo kreitton (cf. a expressão de Paulo
p o l l o m a ll o n k r e is s o n )as duas passagens nada têm em comum. J. B. Lightfoot
(ad loc.) refere-se à pergunta levantada por Eurípedes, e mencionada com muita
freqüência (fragmento 639), ti s oiden ei to zen m en esti katthanein/to katt hanein
de zen (" Quem sabe se a vida é morte e a morte, vida?") e observa que a "sublime
conjectu ra [do poeta] ... que foi recebida com ridicularização ignóbil pelos
poeta s côm icos, tom ou -se verdade incontestável em Cristo" — entretanto, a
conexão, se existente, é fraca.
1:24 / Perm anecer na carne: tradução literal de epimenein [en j te s arki , em
que o artigo pode voltar a en sarki no v. 22, "viver na carne". Para Paulo,
perm ane cer ou viver en te sarki, no corpo mortal, é coisa muito diferente de
viver kata sarka, "de acordo com a carne"; ele faz um contraste entre as duas
expressões em 2 Coríntios 10:3. Viver ou agir kata sarka é viver de acordo com
os padrões da humanidade não regenerada. J. B. Lightfoot (ad loc.), aceitando
a omissão de e n (com Aleph A C, etc.), sugere a tradução "habitar na carne",
isto é, "prender-se à presente vida, assumi-la com todas as suas inconveniên
cias." É tradução um tanto torcida.
1:25 / Sei que ficarei, e permanecerei com todos vós: gr. meno kai
p a r a m e n o em que meno é absoluto , enquanto p a r a m e n o é relativo de todos
vós, sendo o dativo p a s i n h y m in governa do pelo prefixo p a r a .
O vosso progresso e gozo na fé: a frase na fé (gr. genitivo tes pisteos
qualifica tanto progresso quanto gozo. Gozo (quer seja o substantivo chara
quer sej a o verbo chairein é tema dominante nesta carta — o gozo dos filipenses
(como aqui; cf. 2:28, 29; 3:1; 4:4), o gozo de Paulo (cf. versíc ulo s 4, 18; 2:2;
4:1, 10), o gozo dele s e de Paulo, jun tam en te (cf. 2:17, 18).
1:26/... pela m inha presença de novo convosco: o substantivo p a r o u s i a
é usado aqui no sentido não técnico de "visita" (como em 2:12; cf. também
1 Coríntios 16:17; 2 Coríntios 7: 6, 7; 10:10). Não é usado nesta carta com
referência ao advento de Cristo; de fato, as únicas cartas paulinas em que
a palavra é emp regada com referê ncia a Cri sto s ão: 1 Coríntios (15:23),
1 Tessalo nicense s (2: 19; 3:13 ; 4:15; 5:23) e 2 Te ssalon icense s (2:1, 8).
8. Perseverança no Sofrimento (Filipenses 1 :27 -30 )

O sofrimento é tido como absolutamente inevitável, em todo o NT,


especialmente nas cartas de Paulo, como algo que ocorre na existência
dos cristãos neste mundo. Não há nada de surpreendente, aqui: Cristo
havia sofrido, e seus seguidores — os que estavam "em Cristo" — não
deveriam esperar algo diferente. O próprio Paulo em t oda sua carreira de
apóstolo soube o que significava sofrer por amor de Crist o; e ele preparou
seus convertidos para sofrimentos semelhantes. Na verdade, ele os

estimulou mediante
era prova da a convicção
genuinidade da fé. de que o sofrimento por amor de Cristo

1:27 / Entretanto, o desejo ansioso de Paulo em relação aos filipenses


era que eles, bem como seus demais convertidos, se portassem digna
mente conforme o evangelho de Cristo. Desde que a nova existência
deles se baseava no evangelho de Cristo, a conduta deles deveria estar
alinhada com a de Cristo (cf. 2:5). Paulo usa um verbo, aqui, que significa
estritamente "viver como cidadãos", estando relacionado com o que o
apóstolo diz mais tarde acerca da posição dos crentes como "cidadãos
dos céus" (3:20).
Uma vida vivida dignamente conforme o evangelho de Cristo
estaria em perfeita harmonia. Visto que os crentes partilham a vida
comum com Cristo, devem mover-se firmes em um mesmo espírito,
comba tendo juntam ente com o mesmo ânimo. Só assim podem os
crentes recomendar o evangelho tanto por palavra como por ação. O
testemunho dos filipenses exigia esforço corajoso e unificado; precisa
vam lutar lado a lado pela fé do evangelho. Haviam cri do no evangelho
e, agora, o objetivo de seus testemunhos era levar outros à mesma fé.
Deveriam contar com oposição poderosa e incessante, na consecução de
seus objetivos, razão por que deles se exigia ação perseverante.
Paulo gostaria muito de aproveitar uma oportunidade de fazer-lhes
uma visita e vê-los em ação — e de participar de tal ação também.
Contudo, se essa visita não fosse possível, Paulo ainda assim esperava
"ouvir" que os fil ipens es estavam firme s contra toda oposição, dand o um
testemunho unificado. Não parece que o apóstolo aguardava execução
dentro de algumas semanas: ele estava preparado para a hipótese da
66 (Filipenses 1:27-30)
execução, m as expressava-se como alguém que esperava continuar vivo
durante mais algum tempo.

1:28 / A oposição que precisavam enfrentar provinha com toda pro


ba bil id ad e de fo ra da co m unid ad e. De fa to , al guns eru ditos arg um enta m
que Paulo se refere a "adversários que abriram caminho para dentro da
igreja e nela passaram a exercer influência" (Marxsen, Introduction, p.
62). J.-F. Collange (ad loc.) pensa "mais precisamente em pregadores
iti nerantes juda ico-cristãos a quem Paulo se refere com maior violência
em 3:2ss." Entretanto, o contexto (especialmente os versículos 29 e 30)
indicari a que os crentes fi lipenses estavam enfrentando, agora, oposição
que o próprio Paulo enfrentara quando estava entre eles — oposição da
part e de se us viz in ho s pagãos, tã o gra nde co m o p o r p arte da s auto ri dades.
A presença da oposição, assegura-lhes Paulo, demonstra que eles
estão no caminho certo, no testemunho ativo do evangelho. E sinal de
salvação para eles, e sinal de perdição para seus adversários: Isso para
eles, na verd ad e, é si nal de destruição, m as para vós de salvação. Deus
é o autor do evangelho: os que o defendem podem esperar, portanto,
livramento e vitória da parte do Senhor, tão seguramente como os que o
combatem podem esperar seujul gamen to. O mesmo pensamento encon
tra expres são bem desenvolvida em 2 T essalonicenses 1:5-10.
Lutai pelo evangelho sem serdes intimidados pelos adversários, exorta
Paulo (usando um verbo que se aplica de modo específico a cavalos
assustados); enfrentai-os com persistência, unidos, pois isso para eles, na
verdade, é sinal de destruição, sinal de que estão errados e não poderão
subsistir contra vós. O próprio Paulo havia sido perseguidor, no passado, e
podia le m bra r-se da per sistên cia d aq ue le s a quem atac av a. Se n aq uel a é po ca
aquela persistência lhe parecera mera obstinação, após sua conversão,
por ém , ele podia olh ar p ar a trá s e a pre ci á-la pelo qu e er a n a ver dad e — um a
evidência do pode r de Cri sto capacit ando os cris tãos a fim de man terem a
fé imaculada, e a evidência de que ele próprio estava, a despeito de sua boa
consciênci a, travand o uma batalha já perdida contra Deus.

1:29/ Os filipenses haviam cri do em Cris to depois de ou vir a pregação


do evangelho, pelo que poderiam manifestar gratidão a Deus. Estariam
eles todavia entendendo que poderiam manifestar gratidão a Deus tam
bé m pela op ort unid ade de padecer po r C risto? E sta ri am el es con si d e
rando o sofrimento como privilégio, um favor especial que deviam
(Filipenses 1:27-30) 67
agradecer a Deus? Era assim que Paulo via seu próprio sofrimento a
serviço de Cristo. O Senhor ressurreto havia dito o seguinte, a respeito
de Paulo, para Ananias de Damasco: "Eu lhe mostrarei o quan to deve
padecer pe lo m eu nom e" (A to s 9:16 ), e P aul o so fr eu o c um prim ento des ta
pre diç ão . T odav ia , ele aceitou se us so fr im ento s co m o part ic ip ação no s
sofrimentos de Cristo (Filipenses 3:10). Na verdade, o desejo de Paulo
era que sua parti cipação fosse m aior, a f im de que a de seus irmãos crentes
fosse menor (2 Coríntios 1:3-7; Colossenses 1:24). Tampouco foi Paulo
o único, na era apostólica, a receber o privilégio concedido de padecer
por ele (Cristo); está registrado que os apóstolos, depois de serem
açoitados m ediante sentença do Sinédrio, "retiraram-se... regozijando-se,
porq ue tinham sid o ju lg ados dign os de pa dec er af ro nta pe lo no m e de Je su s"
(Atos 5:41 ). Se os filipenses pude ssem enxe rgar s eus próprios sofrimen tos
à luz desta realidade, a alegria deles seria bem m aior .

1 : 3 0 / 0 encoraj amento qu e Pa ulo d ava a seus amigo s er a ma is


aceitável porque não provinha de alguém destituído de experiência
pess oal em so fr er p o r am or de Cristo . No cat ál ogo de pro vações a po st ó 
licas que ele delineia em 2 Coríntios 11:23- 27, o apóstolo men ciona que
três veze s foi "açoitado com varas" (2 Coríntios 11: 25), uma vez em
Filipos (Atos 16:22,23); de que seus amigos filipenses podiam lembrar-
se bem. E assim que ele consegue fazê-los apreciar o mesmo combate
que já em mim vistes. A vida cristã para Paulo era um conflito, um
combate travado contra inimigos espirituais (Efésios 6:12), mediante
assistência divina. E a mesma palavra que ele utilizou (gr. agorí) no fim

de sua carreira
Timóteo , quando
4:7). Vós disse quediz
vos lembrais, havia combatido
Paulo, "o bom
na verdade, de combate" (2
que eu sofri
encarceramento em vossa própria cidade; agora, sofro prisão nesta
cidade; aqui em Roma, como em Filipos, sou prisioneiro por amor de
Cristo. Estou tendo o m esmo com bate que já em mim vistes e agora
ouvis que é meu. Ouço agora que vós t amb ém lut ais da mesma forma;
é o mesmo combate para vós e para mim . P art ilhais m eu m in is té rio nã o
apenas mediante vosso t estemunho no evangelho, m as t amb ém m ediante
vossa perseverança na aflição, na causa do evangelho.
N ão sa bem os qu al te ri a sido a fo rm a exata da pers eguiç ão so fr id a
pelo s cr is tã os filipense s. Pau lo nã o pre cis ava e n tr a re m m in úcia s qu e os
filipenses conheciam muito bem. O importante era o espírito com que
eles aceitavam a perseguição.
68 (Filip enses F. 27-30)

Notas Adicionais 8
1:27 / Deveis portar-vos: gr. p o l i t e u e s t h e (imperativo), "vivei como cida
dãos", daí (de modo mais genérico) "vivei como membros da comunidade." Tal
verbo seria prontamente compreendido pelos residentes de uma colônia romana.
Policarpo o usa ao escrever à igreja filipen se de seus dias (5: 2): "se vivermos
como cidadãos [ p o l it e u s o m e t h a ]de maneira digna dele " (K. Lake traduz assim:
"se form os cidadãos dig nos da comun idade dele"). Ocorre em apenas mais uma
passagem no NT — At os 23:1 (ao relata r ao Sinédrio: "Irm ãos, até o dia de hoje
tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência", Paulo pode talvez
estar pensando em sua vida como participante do povo de Israel). Cf. o
substantivo p o l i t e u m a em Filipenses 3:20, com exposição e nota ad loc. Veja
R. R. B rew er," The M e m i n g o fp o l i t e u e s t h e inFilipenses 1:27," J B L 73 (1954),
pp. 76-83.
Dignamente [a«'os] conforme o evangelho de Cristo: quanto ao advérbio
axios com p o l i t e u e s t h a i , cf. Policarpo (To the Phili ppian s 5:2) citado na nota
anterior. E usado com p e r i p a te in ("rogo-vos que andeis") em Efésios 4:1
("como é digno da vocação com que foste s chamados"); Colossenses 1:10
("andar dignamen te diante d o Senhor") ; 1 Tessalonicenses 2:12 ("andásseis de
um modo digno de Deus").
Ouça acerca de vós: gr. akouo, "ouvir." W. Schmithals ( P a u l a n d th e
Gnostics, p. 69) tira a infe rência disto que Pau lo deve ter ouv ido que nem tudo
estava bem na igreja de Filipos, com respeito à harmonia e comportamento
digno, e faz comparação c om o "ouço" de 1 Coríntios 11:1 8 (cf. 1 Coríntios
1:11). Todavia, não há comparação entre akouo aqui (presente do subjuntivo
num período de propósito) e akouo aqui (presente do indicativo). Paulo havia
ouvido recentemente (de Epafrodito) a respeito da igreja filipense; todavia, ele
tinha boas razões para esperar que o que ele viesse a ver com seus próprios olhos
(se lhes pudesse fazer uma visita) ou ouvir com seus próprios ouvidos (embora
de longe) enchê-lo-ia de satisfação.
Em um mesmo espírito: (gr. en heni pneu m ati. ) Não é adm issível que a
referênc ia aqui seja ao Espírito de Deus (cf. 1 Coríntios 12:13; Efésios 4:4), em
vista da frase paralela com o mesmo ânimo (gr. m iapsyché) . O verbo estais
firmes se repete (no imperativo) em 4:1, e combatendo em 4:3. Paulo gosta de
descrever o testemunho evangélico usando termos militares e atléticos.
Pela fé do evangelho: gr. tep istei t ou euangeliou, que J. B. Lightfoot traduz
"em harmonia com a fé do evangelho," tomando o dativo como sendo regido
pelo prefixo s y n em syimthlountes (combatendo) e entendendo pela fé como
objeto direto, equivalente a "o ensino do evangelho", mas esta é uma interpre
tação improvável. M. Dibelius toma a sentença como significando "a fé que é
o evangelho." Com toda probabilidade, significa que é a resposta de fé ao
evangelho ( tou euangeliou seria, então, genitivo objetivo) ou a resposta de fé
que o evangelho exorta os ouvintes a dar ( tou euangeliou) sendo, neste caso,
(Filipenses 1:27-30) 69
genitivo subjetivo) — não há praticamente nenhuma diferença entre ambas as
interpretações.
1:28 / sem serdes intimidados: gr. m ept yromenoi . O verbo ocorre somente
aqui na Bíblia grega. Encontra-se quase sempre na forma passiva e, à parte seu
uso para cavalos assustados, significa "deixar-se intimidar."
Isso...é sinal: lit., "o que é prova" (gr. hetis estin...endeixis.) Quanto a
endeixis cf. Romanos 3:25, 26; 2 Coríntios 8:24; entretanto, o paralelo mais
aproximado quanto ao sentido, nesta ocorrência, é endeigma em 2 Tessaloni
censes 1:5 (em que a referên cia também é a perseverança do cristão em face da
pe rseguiçã o, com o p rova do socorro vin douro para este, ejul ga m en to vin douro
para seus persegu idores). Não fica ime dia tam ente claro qual é o antecedente do
pronom e rela tivo hetis (que concor da em gênero e número com endeixis.) ECA
considera que os filipenses é que não devem intimidar-se; G. B. Caird (ad loc.)
acha que se refe re à "unidade inabalável da igreja em face da persegu ição ". Estas
duas sugestõede
dos filipenses s não
não sãoserem
mutuamente exclusivas
intimidados deveria ;constituir
a recusa corajosa e unificadaaos
uma mensagem
adversários.
E isso da parte de Deus: gr. kai touto apo theou, "e isso vem de Deus." A
que se refere "isso"? À prova (endeixis), assim diz J. B. Lightfoot: "é indicação
direta da parte de Deus." Talvez haja razão (como també m quanto a G. B. Caird).
1:29 / Pois vos foi concedido: gr. hymin echaristhe — como ato de graç a
(charis). Quanto a outr o exemplo do ve rbo charizesthai veja 2:9, quanto a Deus
haver concedido a Cristo o nome que é sobre todos os nomes.
Por amor de Cristo: tradução literal de to h yper Christ ou, em que o artigo
to antecipa suas duas ocorrências seguintes, antes dos infinitivos p is te u e in ,
"crer" epaschein, "sofrer."
1:30/ o mesmo combate, gr. ton auton agona. Em 1 Tessa loni cense s 2:2
Paulo e seus companheiros falam de sua pr egação do evangelho em Tessal ônica
enpo ll o agoni, "no meio de grande combate." Consultem-se V. C. Pfitzner, Paul
an d t he Ag on M oti f: Trad it ional Ath leti c Im agery in the Pauline L it erature,

N o v T S u p ló ; também E. Güttgemanns, D e r le id e n d e A p o s t e i u n d s e in H e r r .
9. Convite para Con side raçõ es Mútuas
(Filipenses 2:1-5)

A preocupação de Paulo quanto à unidade de espírito e consideração


mútua entre os membros da igreja filipense não implica necessariamente
que aqueles crentes estivessem numa atmosfera de dissensão. Dois
membros são especificados pelos nomes e recebem a exortação de
entrarem em acordo, em 4:2, o que poderia sugerir (a menos que 4:2
pert ença a um a ca rta ori gin alm ente se par ad a) que era ca so ex ce pci onal
de conflito. Não sabemos o que Epafrodito disse a Paulo concernente ao
estado da igrej a, mas por essa época o apóstolo havia detetado evidências
suficientes de mau relacionamento e ambição egoística em alguns setor es
da igreja em Roma, c apazes de induzi-lo a ficar ansios o: que nada diss o
se m anifestasse na igreja de Fili pos.

2:1 / Não se cultiva com facilidade a união de pensamento quando


seres humanos de culturas e temperamentos diferentes partilham de uma
mesma companhia; entretanto, os recursos que possibilitam tal união
estão à disposição das pessoas que têm Cristo, que mantêm comunhão
com o Senhor. No amor de Cristo há conforto tão profundo que
compensa os problemas indefectíveis da existência cristã neste mundo.
Os crentes obtêm novo ânimo e força do Cristo ressurreto, pois dele
pa rticipam . Rec eb er am o Espírito de Cristo, que os une numa comunhão
de amor; o Senhor habita nos crentes como indivíduos, e como um grupo de
discípulos e, através de Cristo, "porque o amor de Deus está derramado em
nossos corações" (Romanos 5:5). É o Espírito que lhes mantém a vida em
comum, no corpo de Cristo. O efeito desta vida em comum deveria ser
corações mais afetuosos e cheios de compaixão, porém, estes afetos e
compaixões em primeiro lugar provêm de Cristo . Os crentes experim entaram
os entranháveis afetos e compaixões de Cristo, de modo que agora podem
demonstrar mais facilmente tais virtudes uns para com os outros.
Todas as condições, em suma, existem dentro da comunidade cristã
com o objetivo de alimentar um sentimento de unidade, um propósito
comum, não apenas entre os crentes entre si, mas entre os crentes e Paulo.
O apóstolo e os crentes estão interligados na amorosa comunhão do
Espírito.
99
(Filipenses 2:17-36a)

2:2 / Já havia evidência suficiente de unidade de propósito e afeto


mútuo, na igreja filipense, que causavam alegria em Paulo. E le já disse
que suas orações em prol dos cristãos filipenses eram orações alegres
(1:4). Agora, diz ele, para que meu cálice transborde dessa alegria:
completai o meu gozo. Permitam-me ouvir que vós tendes o mesmo
modo de pensar, tendo o mesmo amor, que sois unidos no mesmo
ânimo, pensando a mesma coisa. Paulo exorta, na verdade, para que
tenham unanim idade de coraçã o. Não se trata da unanim idade form al que
se consegue manter mediante o exercício do poder de veto; trata-se
daquela unanimidade sincera de propósitos, pela qual ninguém deseja
impor um veto sobre as pessoas.

N ão é qu es tã o de le var to das as pes soas a v er em um ca so pe lo m es m o


ângulo, isto é, terem a mesma opinião sobre um assunto. A vida ficaria
insossa e monótona sem a prática da discussão honesta, em que a
variedade de opiniões provê amplo campo para debates e avaliações
amistosos.

2:3 / Contudo, avaliações e debates deixam de ser amistosos quando


cada pessoa objetiva superar os companheiros em pontos, impingindo
seu modo de pensar. Não deve haver estímulo ao espírito de "Diótrefes,
que gosta de exercer a primazia" (3 João 9). Nada façais por contenda
ou por vangloria, exorta Paulo; esquecei todos os pensamentos de
pre st íg io pes so al . A p re o cu pação co m pre st íg io pess oal e vangloria
surgem da raiz pecaminosa do orgulho. O orgulho não deveria ter lugar
na vida cristã; o que caracteriza o cristão é a qualidade oposta, a
humildade. A humildade não era uma virtude estimada de modo geral,
na antigüidade pagã, na qual a palavra grega aqui traduzida por humil
dade tem o sentido de servilismo. A atitude do AT é diferente: Deus
"escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes" (Provérbios
3:34, citado e m Tiago 4:6; 1 Pedro 5:5 ). A hum ildade é especialm ente
apropriada aos crentes cujo Mestre era, não por constrangimento, mas
com toda espontaneidade, "manso e humilde de coração" (Mateus
11:29). Seus primeiros discípulos acharam a lição sobre humildade difícil
de ser aprendida: de modo reiterado, quando eles se punham a discutir
quem dentre eles seria o maior no reino de Deus, Jesus insistia em que
entre seus seguidores a verdadeira grandeza consistia em ser o menor de
todos, o servo de todos — "pois, o Filho do homem não veio para ser
92 (Filipenses 2:12-13)
«trrvldo, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Marcos
10:45).
Portanto, diz Paulo, cada um considere os outros superiores a si
mcflmo. Regozijai-vos na honraria prestada a outros, em vez de na que
vos é dedicada. A simplicidade da linguagem de Paulo não deveria
cegar-nos quanto à sua dificuldade. A pessoa que realmente tenta consi
derar os outros melhores do que a si própria logo descobre que isso não
advém com naturalidade. É fácil demais incluir exceções permissíveis à
regra de Paulo, se não com respeito a indivíduos, com certeza no que
concerne a comunidades. Há a tendência, por exemplo, de considerar
nossa denom inação m elhor d o que as outras , ao ponto de julgarm os que
o próprio Deus está mais agradado com a nossa do que com as demais
(portanto, com toda certeza, ele se agrada mais comigo por pertencer a
determinada denominação, do que se agrada dos demais crentes, das
outra s denom inações) . Onde a verdadeir a humildade reina não se perm i
tem tais exceções. Como o profeta Miq uéias viu, séculos antes de Paulo,
a humildade floresce melhor na comunhão com Deus (Miquéias 6:8).
Ou, como diz James Montgomery:

O pássaro que alça as asas nos céus,


Constrói seu ninho lá em baixo, na terra.
E o que trina maviosamente,
Canta de noite quando tudo repousa.
N a coto via e no ro uxi no l vem os
Quanta honra cabe à humildade.

O santo que usa a coroa mais brilhante do céu,


Curva-se em humilde adoração.
O peso da glória faz que se prostre,
Quanto mais se prostra mais sua alma ascende;
O escabelo da humildade deve estar
Bem perto do trono de Deus.

2:4 / atente... para o que é dos outros, isto é, ter interesse em proteger
os interesses alh eios faz parte dos alicerce s da ética cr istã. "Leva i as
cargas uns dos outros," exorta Paulo em outra carta, "e assim cumprireis
a lei de Cristo" (Gálatas 6:2) — lei que Cristo não apenas estabeleceu,
mas exem plificou em s i mesmo. O ass unto é explorado ma is amplam ente
em Romanos 15:1-3: "Mas, nós que somos fortes, devemos suportar as
(Filipenses 2:12-13) 93
fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de
nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação. Pois, também
Cristo não agradou a si mesmo." O exemplo de Cristo é sempre o
argumento supremo de Paulo na exortação étic a, principalmente quando
trata do interesse altruísta pelo bem -estar d o próximo. Se o exem plo de
Cristo deve ser seguido, é melhor, então, manter maior interesse pelos
direitos dos outros e pelos nossos deveres, do que cuidar principalmente
de nossos direitos e dos deveres dos outros. Quando alguns membros da
igreja coríntia firmaram o propósito de defender seus interesses pessoais
com tanta avidez que recorreram ajuizes pagãos para receberem indeni
zações da parte de seus irmãos cristãos, Paulo lhes disse que preferir
sofrer injustiças sem ficar preocupado com reparações legais, e sem
envolver o nome de Cristo num litígio público, é trilhar o caminho do
Senhor (1 Coríntios 6:7).

2:5 / Em seguida, Paulo exorta os filipenses a exibirem o mesmo


sentimento que houve em Cristo Jesus. É provável que esta tradução
seja exata, mas qualquer tradução destas palavras exige boa medida de
interpretação adequada. Uma tradução um tanto literal da sentença seria:
"Pensai nisto entre vós mesmos (Ponde vossa mente nisto), que... tam
bé m em C rist o Je su s." Na se nte nça "q ue ... ta m bém C risto Je su s" fa lt a
um verbo que precisa ser acrescentado. Além disso, a frase "em Cristo
Jesus" pode assumir o sentido especial atribuído por Paulo ("em união
com Cristo Jesus" ou "como membros de Cristo Jesus"), ou pode ter o
sentido genérico, referindo-se a uma característica que se manifestara na

pess oa de Cristo.
A ECA analisa "em Cristo Jesus" desta última maneira; e assim
também o faz a versão KJV ("Que este desígnio esteja em vós, como
estava também em Cristo Jesus"). O sentido especial paulino de "em
Cristo Jesus" foi preferido pelos tradutores de NEB: "Que vosso proce
dimento uns para com os outros derive de vossa vida em Cristo Jesus."
As palavras que se seguem, que celebram o auto-esvaziamento e
auto-humilhação de Cristo, ao tornar-se homem e consentir em suportar
a morte por crucificação, sugere com muita força que seu exemplo neste
sentido deve ser seguido pelos seus discípulos. A vida comunitária dos
seguidores de Cristo — "vida em Cristo Jesus" — deveria ser marcada
pela s qualidades qu e fo ra m vis ta s n a pess oa de C risto; entr et an to , a f ra se
"em Cristo Jesus" neste contexto refere-se ao que foi detectado no
92
(Filipenses 2:12-13)
Senhor, de modo pessoal, em vez de na vida comunitária dos discípulos
(que aqui se exprime na frase "em vós"). Portanto, o verbo faltante, na
tradução de "que... também em Cristo Jesus" é "houve", isto é, que "foi
visto."

Notas Adicionais 9
2:1 / As quatro orações deste versículo são condicionais, sendo cada uma
delas iniciada com a conjunção ei("sd'); a oração principal de todas as quatro
é o período imperativo completai o meu gozo do v. 2.
Portanto, se há algum conforto em Cristo: lit., "se há algum consolo (gr.
pa raklesis ) em Cristo. " NIV toma a frase em Cristo em seu sentido incorpora-
tivo, a vida comum dos cristãos. A frase cobre os quatro períodos deste
versículo. Por estarem em Cristo (unidos a ele) recebem conforto, consolação,
comunhão no Espírito e entranháveis afetos e compaixões. A conjunção ei
("se") implica a inexistência de qualquer dúvida quanto à realidade destas
bên ção s, quer n a mente de Paulo, que r na experiênc ia dos filipen ses: pod eria
ser traduzido assim: "Tão certo quanto..."
J. B. Lightfoot (ad loc.) acha que paraklesis aqui significa "exortação" e
pa ramythion (ECA: consolação), "incentivo." Esta distinção é tênue demais.
As duas palavras são quase sinônimas; quando Paulo usa a segunda (ou seu
verbo cognato paramytheistha i) ela vem sempre associada com a primeira (ou
com seu cognato, o verbo parak aleirí), talv ez com o objetivo de enfatizar a idéia
de conforto. Cf. a associação de ambas em 1 Coríntios 14: 3; 1 Tessalonice nses
2 : 11 .

Quanto à comunhão no Espírito, a alternativa marginal de GNB é melhor:


"O Espírito vos trouxe à comunhão uns com os o utro s." A comunhão mú tua dos
discípulos é, na verdade, a decorrência de sua comunhão com Cristo. Todos os
crentes em Cristo foram batizados em um Espírito, num corpo (1 Coríntios
12:13). Aquele que os une, portanto, em Cristo, também os une un s aos outros.
Cabe-lhes, pois, doravante, mediante o cultivo da paz dentro dessa comunhão,
"guardar a unidade do Espírito" (Efésios 4:3). Deus chamou seu povo "para a
comunh ão de seu Filho Jesus Cristo" (1 C oríntios 1:9), para que participe de
sua ressurreição. E o Espírito que nos capacita a reagir positivamente a esse
chamado divino e gozar da comunhão; esta pode, portanto, ser chamada de
"comunhão do Espírito Santo" (2 Coríntios 13:13) ou nossa participação em
comunhão no Espírito.
Alguns entranháveis afetos e compaixões que os crentes têm em Cristo são
partilha dos mutuamente. J.-F. Collange (ad loc.) acha que estas palav ras se
referem aos laços de afeto e simpatia que unem Paulo aos filipenses. Paulo
estava bem ciente de tais laços, mas sua preocupação na época voltava-se mais
para a m anu tenção da com unh ão de am or den tro da igreja filipense. A palavra
grega para afetos é splan chn a ("entranhas "), traduzida por "tema misericór dia"
93
(Filipenses2:12-13)
em 1:8. A palavra compaixões éoiktirmoi, plural de oiktirmos ("piedade"). Em
Rom anos 12:1 Paulo apela a seus leitores pela oiktirmoi de Deus ("pela com
paixã o de D eu s"); em 2 Co rín tios 1:3, cham a ele a D eus de "o Pai das oiktirmoi
", o Pai das misericórdias". Os dois substantivos splanchna e oikti rmos vêm
ju nto s outra vez em Co lossenses 3:12, "rev esti-vos de com paixão" (lit., "colo-
cai-vos entranhas de compaixão" ).
2:2 / para que tenhais o mesmo modo de pensar... pensando a mesma
coisa: gr. hina t o autophon ete,. .. to henphronoun tes, com repetição do verbo
p h r o n e in , verbo bastante freqü ente nesta carta, de modo especial (Paul o o usa
vinte e três vezes, e só nesta carta ele aparece dez vezes). Significa "pen sar" no
sentido de ter uma opinião definida, uma atitude delibe rada, a pessoa ter fixado
a mente num a determinada direção.
2:3 / por humildade: gr. en tapeinophrosyne, ou "espírito mesquinho, de
servo." Um bom exemplo do uso desta palavra, vindo do primeiro século,
denotando um vício, e não uma virtude, encontramos em Josefo, em W a r 4.494,
onde há menção do "espírito mesquinho" tapeinophrosyne do Imperador Galba,
ao negar aos guardas pretorianos uma dádiva que lhes fora prometida no nome
dele.
2:4 / atente cada um ... também para o que é dos outros: E possível que
Paulo esteja enfatizando um ponto específico, "exortando seus leitores afixa rem
os olhos nos pontos positivos, nas qualidades de outros crentes; quando tais
virtudes forem reconhecida s, deveriam constitui r, então , um incentivo à nossa
forma de viver" (R. P. Martin, ad loc.). A preocupação egoística com "nossas
próp ria s cois as" (to heauton) po de ser a marca da ten dência de u m "perfeccio
nista. " Se, na verdade, Paulo está estimulan do seus com panheiros a prestare m
atenção nas boas qualidades alheias, isto seria um preparativo bem apropriado
para coloc ar- lhe s diante dos olh os o exemp lo sup rem o de Cristo. De mo do
semelhante Cristo poderia ser colocado diante deles como exemplo de alguém
que pôs os interesses alheios antes de seus próprios interesses. No texto grego
srcinal não existe um substantivo para completar o sentido de "o que é seu" ta

heautone "o que ée dos ta heteron;


próp rias coisas" "as outros"
coisas dos daí decorre
outros." Que a tradução
"coisas" deaKJV:
Pau lo tinh em me"suas
nte é
questão de interpretação. E de relevância para a interpretação o fato de haver
algumas evidências (no ocidente) para a omissão de "também" (kai da segunda
parte do vers ícu lo (traduz ido de m odo literal na KJV: "mas cad a pes soa também
para as coisas dos outros"). Se esse "tam bém " fo r ma ntido, o sen tido será:
"atente cada um tanto para os interesses (pontos positivos) dos outros, quanto
para os seus próp rio s"; se ess e "tam bém " fo r om itid o, o sen tido seria: "atente
cada um para os interesses (pontos positivos) dos outros, e não para seus
pr óp rios ."
2:5 / De sorte que haja em vós o mesmo sentimento: gr. toutophroneite en
hymin, "tende em vós (no meio de vós) esta mentalidade." O problema interpre-
tativo neste versículo encontra-se, em parte, na adição de um verbo à oração
adj etiva ho Ch risto l esou e em parte, na compreensão correta da frase en C hrist o
136 (Filipenses 3:15-39)
lesou. As duas questões encontram-se relacionadas entre si, pois se adicionar
mos, como J. B. L ightfoo t (ad loc.) o verbo ephroneito "que houve", en Ch rist o
lesou significaria então, naturalm ente, "na pessoa de Jesus Crist o"; se, por outro
lado, conforme J. Gnilka (ad loc.) sugere, adicionarmos p r e p e i ("é adequado"),
en Ch rist o lesou significaria, então, "em sua vida de comunhão em Cristo
Jesus." Esta última alternativa não depende de acrescentarmos p r e p e i à sentença
adjetiva (quanto a isto, consulte-se também F. W. Beare, ad loc.); a posição é
defendida também por R . P. Martin ( Carm en Chris ti , p. 71), par a quem o verbo
faltante é p h r o n e i t e ("vós pensais," "vós tendes este desígnio") e aprova a
tradução de K. Grayston (EPC, ad loc.): "Pensai entre vós desta maneira, que é
como pensais em Cristo Jesus, i.e., como membros de sua igreja."
E. Kasem ann ("A Criticai Analysis ofPh ilipp ians 2:5-11") aceita esta inter
pretação e vai mais longe ainda: entendendo que os vv. 6-11 expressam o drama
da salvação, ele toma "em C risto Jes us" do v. 5 como denotando a nova situação
do crente sob o domínio daquele que foi exaltado como Senhor acima de todas
as coisas; em outras palavras, o termo denota a abrangência da salvação
estabelecida pela vitória de Cristo na cruz, à qual foram trazidos mediante
conversão e batismo. Pensar com humildade é a maneira como o crente deve
pensa r (deiphronein) na esfera da salvação.
C. F. D. Moule, em "Further Reflections on Philippians 2:5-11, em W. W.
Gasque e R. P. Martin, eds , , A p o s t o l i c H i s t o r y a n d th e G o s p e l,pp. 264-76,
apresenta uma defesa persuasiva do ponto de vista de que Paulo está exortando
seus leitores a manifestarem o mesmo espírito de autonegação demonstrado por
Cristo. Ele sugere uma amplificação de tout o to phron em aph roneite en hymit i
ho kai en C hristo les ou, que traduz "Adotai uns para com os outros, em vossas
relações mútuas, a mesma atitude que se encontrou em Cristo Jesus" (p. 265).
Isto, mais a exegese dele dos versículos seguintes, se nos apresenta como
interpretação aceitável (que concorda, incidentalmente, com a tradução de
NIV). Consulte-se, para praticamente o m esmo efeito, E. Larsson, Christus ais
Vorbild, p. 233.
10. Hino a Cristo (Filipense s 2: 6-1 1)

Ao mostrar estes versículos impressos em forma de poesia, NIV reflete


0 reconhecimento amplamente divulgado de que aqui temos um hino
cristão primitivo, em louvor a Cristo. À semelhança de muitos outros
hinos cristãos primitivos, este aparece em prosa rítmica, não, porém, em
métrica poética (nem grega, nem semítica). Consiste numa declaração
da obra salvífica de Deus, em Cristo, em sua auto-humilhação seguida
de exaltação. E le se hum ilhou; ele foi exaltado por Deus. D e acordo com
1 Pedro 1:11, o espírit o de profecia nos t em pos do AT estava voltado,
de modo especial, para a predição dos "sofrimentos de Cristo e das
glórias que have riam de seg uir-s e"; est e é o tema de dois tópicos que temo s
agora diante de nó s. Quer tenha sido composto pelo próprio Pa ulo, qu er sej a
composição de outrem, o apóstolo o incorpora em sua atual argumentação,
a fim de reforçar seu apelo ao cultivo de um espírit o humilde.

2:6 / Se os filipenses são exortados a apresentar o mesmo "sentimento


que houve em Cristo Jesus", de que maneira Jesus demonstrou esse
sentimento?
Ele o demonstrou ao humilhar-se e tornar-se homem, ao humilhar-se
e assumir a forma de servo, ao humilhar-se e submeter-se obediente
mente à morte — e morte por cruz.
Que, sendo em forma de Deus: lit eralmente, "sen dojá em form a de
D eu s." A posse da form a implica em participação na essênci a. Parece-no s
inúti l d iscutir a evidência de que estas palavras presum em a pré-existên-
cia de Cristo. Noutra passagem em que Paulo aponta para a autonegação
de Cristo, como exemplo diante de seu povo — "... Jesus Cristo, que,
sendo rico, por amor de vós se fez pobre, para que por sua pobreza vos
tornásseis ricos" (2 Coríntios 8:9) — a pré-existência do Senhor fica
pre su m id a, de m od o se m el hante (e m bo ra Paulo , em 2 Coríntios, faça sua
pró pria esc olh a de pala vra s, usa ndo, em F ilip ense s, um a com posição
disponível, à mão). Noutras passagens paulinas, Cristo é apresentado
como agente na criação: "nele foram criadas todas as coisas que há
nos céus e na terra" (C olossen ses 1:16, 17 ; cf. 1 Co ríntios 8: 6). Outros
escritores do NT concordam com Paulo nesta declaração doutrinária
(cf. João 1:1- 3; Heb reus 1:2; Ap oca lipse 3:14); tal idéia evid ente m ente
92 (Filipenses 2:12-13)
está amarrada à primitiva identificação cristã de Cristo com a divina
sabedoria do AT (cf. Provérbios 3:19; 8:22-31; também, com "palavra",
em vez de "sabedoria", Salmo 33:6) . Os cristãos do primeiro século n ão
part il hara m es te pro ble m a in te le ct ual qu e pert urb a a ta nto s hoj e, qu e
consiste em "combinar a pré-existência celestial com a herança genética
humana" (Montefiore, Pau l the A postle, p. 106).
Várias traduções estão disponíveis, da declaração seguinte, além da
que ECA nos oferece: sendo em forma de Deus, não teve por usurpa-
ção ser igual a Deus. Diz a NIV: "ele não considerou que a igualdade
com Deus fosse algo a ser arrebatada". A tradução marginal de GNB:
"ele não pensou que à força deveria tentar perm an ec er igual a Deus."

Todavia, estas
a form a de traduções
Deus, comonão esgotamCristo
acontecia, as possibilidades.
não considerava"Existindo sob
essa igualdade
com Deus como um harpagmos" — eis a força literal das palavras. E ste
substantivo é derivado de um verbo que significa "agarrar subitamente"
ou "apoderar-se". Não existe a questão de Cristo tentar arrebatar, ou
apoderar-se da igualdade com Deus: ele é i gual a Deus, porque o fato de
ele ser igual a Deus não é usurpação; Cristo é Deus em sua natureza.
Tampouco existe a questão de Cristo tentar reter essa igualdade pela
força. A questão fundam ental é, antes, que Crist o não usou sua igualdade
com Deus como desculpa para auto-afirmação, ou autopromoção; ao
contrário, ele a usou como ocasião para renunciar a todas as vantagens
ou privilégios que a divindade lhe proporcionava, como oportunidade
para auto -e m pobre ci m ento e auto -s ac ri fí ci o se m re se rv as .
Vários comentaristas têm visto um contraste, aqui, com a história de
Adão: Cristo gozava de verdadeira igualdade com Deus, m as recusou-se
a auferir quaisquer vantagens dessa igualdade, ao tornar-se homem,
enquanto Adão, criado homem, à imagem de Deus, tentou arrebatar para
si uma falsa e ilusória igualdade com Deus. Cristo alcançou senhorio
universal mediante sua renúncia, enquanto Adão perdeu seu senhorio
mediante o roubo do fruto proibido. Todavia, não há certeza se este
contraste estava na m ente do autor ou não .

2:7 /m as a s i mesmo se e svazi ou — em ve z de explo ra r sua ig ua ld ad e


com Deus, e dela auferir vantagens. A tradução encontrada em ECA é
lit eral. J. B. Lig htfoot prefere traduzir esta oração assim: '"ele se desp o
jo u a si próp ri o ', nã o de su a natu re za di vi na , vis to qu e isso se ria
impossível, mas 'das glórias, das prerrogativas da divindade."' A lição
(Filipenses 2:12-13) 93
par a a ig re ja fi li p ense é clar a: as si m co m o C ris to deix ou de la do se us
pró prios in te re ss es, p or am or às pess oas, o m es m o deveriam fa zer os
filipenses.
Cristo "esvaziou-se" ou "despojou-se" mais especificamente, e assu
miu a forma de servo (lit., "a forma de escravo"). Ist o não significa que
ele trocou sua natureza (ou forma) divina pela natureza (ou forma) de
um escravo: significa que el e demo nstrou a natureza (ou form a) de Deus
na natureza (ou forma) de um escravo. O incidente narrado em João
13:3-5 prove um a excelente ilustração disto: o fato que aconteceu durante
a última ceia. Jesus tomou os pés de seus discípulos, lavou-os e enxu-
gou-os com a toalha que se havia cingido, e ele o fez plenamente
consciente de sua ori gem e destino, totalmente cônscio da autoridade que
lhe fora co nferida pelo Pai. Sua natureza divina foi dem onstrada, e de
modo mui digno, naquele ato de serviço humilde.
Fazendo-se semelhante aos homens: tais palavras seriam mal inter
pre ta das, se to m adas co m o se ntido de qu e a h um anid ade de C risto te ria
sido apenas uma semelhança de humanidade, e não humanidade real.
Antes do final do primeiro século d.C. surgiu dentro da igreja esta
doutrina herética — doutrina que veio a ser denominada docetismo (gr.
dokesis, "semelhança"). Tal doutrina herética enquadrava-se em certas
correntes de pensamento, mas foi rejeitada, com acerto, como idéia
subversiva, destruidora dos alicerces do evangelho. Um escritor do NT,
post eri orm ente , ad ver te se us le itore s contra es ta fo rm a de ensino fa ls o
que nega que "Jesus Cristo veio na carne" e estigmatiza-o como ensino
do anticristo (1 João 4:2,3; 2 João 7). Paulo não tinha dúvida de que Jesus
era verdadeiramente homem, "nascido de mulher" (Gálatas 4:4), e que
morreu de forma terrível, por crucificação.
Fazendo-se pro vavelm ente si gnif ic a "n as ce u" co m o os dem ais h o 
mens ("nascido de mu lher," para cit armos Gálatas 4:4 outra vez). Q uanto
a ele ser semelhante aos homens, uma possibilidade seria que temos
aqui uma alusão àquele que era "um como o filho do homem," na visão
de Daniel do dia do julga m en to, alguém que recebe ra de Deus pode r e
honra tais que "seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o
seu reino o único que não será destruído " (Dan iel 7:13, 14). Estas
pala vra s de D an ie l podem te r sido consi dera das um a an te cip ação da
exaltação de Jesus, que aqui em Filipenses é apresentada como fato
consumado (vv. 9-11).
92
(Filipenses 2:12-13)

2:8 / E, achado na forma de homem: este período repete com


pala vra s dif ere nte s o que já fo i dito no an terior.
Humilhou-se: está indicada uma auto-humilhação deliberada; pou
quíssima diferença existe entre ele se humilhou, aqui, e "a si mesmo se
esvaziou" no v. 7, a menos que signifique: ele "a si mesmo se esvaziou"
ao tornar-se homem e, a seguir, como homem, humilhou-se mais ainda.
A vida inteira do Senhor, da manjedoura ao túmulo, foi marcada por
genuína humildade.
Sendo obediente até á morte, e morte de cruz: a NIV infelizmente
dá a mesma impressão que várias outras versões poderiam dar, de que
foi a morte que comandou e recebeu a obediência de Cristo. Ele obede
ceu exclusivamente à vontade de Deus e, ainda quando essa vontade
apontava para o sofrime nto e mo rte, C risto a acatou: "Não se faça a minh a
vontade mas a tua" (Lucas 22:42) disse ele a seu Pai celestial.
Contudo, foi pela maneira como experimentou a morte, morte de
cruz, que Cristo atingiu o ponto mais baixo de sua humilhação. As
pala vra s morte de cruz não foram acrescentadas depois a uma compo-
siçãojá pronta, a fim de adaptá-la com maior precisão aos fatos históri
cos. São palavra s essenciais ao sentido, e talvez ao ritmo tam bém. O texto
todo celebra a humilhação de Jesus, humilhação coroada pela morte de
cruz. Segundo os padrões do primeiro século, nenhuma outra experiên
cia poderia ser mais repugnante e degradante do que essa.
Torna-se mu ito difícil para nós, dep ois de tantos séculos de cristianis
mo, durante os quais a cruz tem sido venerada como símbolo sagrado,
per ce ber to do o horr or in efá vel , to do o pavor pr ovoca do pe la si m pl es
menção da cruz, na verdade, pelo mero pensamento na cruz. Pela lei
ju daic a, qual qu er pe ss oa que fo sse cru cif ic ad a m orr ia sob m ald iç ão de
Deus (Gálatas 3:13, mencionando Deuteronômio 21:23). Na educada
sociedade romana a palavra "cruz" era obcenidade, termo que não
deveria ser mencionado numa conversa. Até mesmo quando um homem
estava sendo sentenciado à morte por crucificação, havia uma fórmula
arcaica que se usava a fim de evitar-se a simples pronúncia desse palavrão
(em latim, cria). Esta vil forma de punição foi a que Jesus suportou e,
ao suportá-la, transformou aquele vergonhoso instrumento de tortura em
objeto do mais orgulhoso gloriar-se, entre seus seguidores. "Mas longe
esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo"
(Gálatas 6:14) disse Paulo, (colocando em contraste as razões que as
93
(Filipenses 2:12-13)
outras pessoas apresentavam para gloriar-se) — transtornando de modo
irracional todos os valores aceitos na época. Paulo herdara as atitudes
ju d a ic as e ro m an as co m re sp eito à cru cif ic aç ão.

2:9 / Prossegue o hino, celebrando agora o reverso da humilhação de


Cristo, a suprema ilustração de suas próprias palavras: "quem a si mesm o
se hum ilhar será exaltado" (Mateus 23:12, etc. ). Visto que Cristo desceu
às maiores profundidades, Deus o exaltou soberanamente.
Os cristãos filipenses confessavam a Jesus como o Senhor exaltado.
Todavia, como foi que ele atingiu tal exaltação? Mediante o auto-esva-
ziamento, ao entregar tudo quanto possuía. Não fica implícito que a
exaltação final serviu de incentivo para que ele se humilhasse, nem que
fosse incentivo para os crentes que lhe seguem o exemplo de humildade.
Mas, como Cristo era aquele a quem confessavam como Senhor de tudo,
seu exemplo lhes seria decisivo.
A redação destes versículos não teve a finalidade primordial de prover
uma interpretação para determinada passagem do AT, mas ecoa alguns
pre ced ente s do AT . H avia a descri ção do d esfig u ra d o , m al tr ata d o se rv o
do Senhor que, não obstante, "procederá com prudência"; e haveria de
ser "engrandecido, e elevado, e muito sublime" (Isaías 52:13, 14). E
assim foi que Jesus, embora como homem caísse em desgraça e descré
dito, finalmente foi vindicado divinamente, como homem.
Vários escritores do NT expressam a realidade da reivindicação e
exaltação de Jesus dizendo que ele se sentou à destra de Deus (Atos 2:33;
Heb reus 1:3, etc. ). Paulo co nhece esta expressão, mas parec e que a usa
apenas quando citando um credo doutrinário, como em Romanos 8:34 e

Co lossen ses 3:1. A expressã o deriva de Salmo 110: 1, em que o rei Davi
recebe convite em oráculo para partilhar o trono de Iavé, sentando-se à
sua direita. De acordo com Marcos 14:62 e textos paralelos, Jesus em seu
ju lg am en to dia nte do su m o sa ce rd ote e seus com pan heir o s dis se -l hes qu e
ainda haveriam de ver "o Filho do homem assentado à direita do Todo-
po d ero so ," as sim o cu pan do, co m o se di ria, a po si ção de m aio r honra no
universo, e sobre o universo.
Ao ressuscitar a Jesus, Deus lhe deu um nome que é sobre todo o
nome. Provavelmente se trata da designação "Senhor", em seu sentido
mais sublime. No AT grego esta palavra ( kyrios ) é usada de modo
especial, além dos usos e significados normais, para representar o nome
pes so al do D eu s de Is ra el. E st e no m e pess oal, em ge ral re pre se n ta do po r
92 (Filipenses 2:12-13)
Iavé, chegou a ser considerado sumamente sagrado, de modo que não
poderi a ser p ro nuncia do em vo z alt a; por isso , qu an do as E scr it ura s er am
lidas em público, Iavé era substituído por outra palavra, com muita
freqü ência por uma palavra q ue significa "Senhor". (Em ECA e na
ma ioria da s versões em português, " SENH OR" é grafado com seis let ras
maiúsculas, quando se aplica ao inefável nome de Iavé.) Este é, pois, o
nome que Deus atribuiu a Jesus — raríssima honra, a mais rara, à vista
de sua própria afirmação em Isaías 42:8, "Eu sou o Senhor, este é o meu
nome!" (querendo dizer: meu, e de mais ninguém).
Outra perspectiva é que "Jesus" tornou-se o nome que é sobre todo
o nome, como se o nome que uma vez foi inscrito numa cruz se
transformasse em nome sublime, excelso, no céu. Mas, o nome aqui
comentado é o que ele recebeu em conseqüência de sua humilhação e
morte; o nome "Jesus" lhe pert enceu desde o nascimento. Porém , o nome
de Jesus agora tem o valor de "Senhor"; por decreto de Deus, tornou-se
"o nome elevado, acima de tudo / no inferno, na terra e céus" — com
estas palavras, Carlos Wesley reproduz em ordem contrária a divisão
tríplice do universo, do versículo 10: nos céus, na terra e debaixo da
terra.
2:10 / Em Isaías 45:23 o Deus de Israel, que já havia d eclarado que
não partilharia seu nom e nem sua glória co m outrem , jur a so lenem ente
por su a pró pri a vi da , "d ia nt e de mim se dob ra rá to do jo elh o , e por m im
ju ra rá to da língu a. " A qu i, em F il ip en se s, o te xt o se re pet e m as , ag or a
para que ao nom e de Jesus se dobre todo joelh o. Há paralelos desta
pass ag em em outras porç õe s do N T : em Jo ão 5:22 , 23 o Pa i fa z do F ilho
ju iz un iv er sa l "p ar a que to dos honre m o Filho, co m o honra m o Pa i," e
na visão do céu no Apocalipse 5:6-14, os seres celestiais ao redor do
trono de Deus prostram-se perante o Cordeiro vitorioso, quando este
surge, e entoam o cântico de celebração da dignidade do Cordeiro, que
também passa a ser entoado por toda a cri ação. Pode ser também que, n o
encontro com a igreja, a primeira menção ao nome de Jesus será feita
com palavras de homenagem — joelho s dobrando-se em honra ao
Cordeiro, e a confissão de seu senhorio. Assim, a congregação refletirá
na ter ra a adoração contínua apresentada nos céus. Todavia, fica expressa
a confiança em que esta adoração está destinada a espalhar-se ainda mais
— que até m es m o aq ue le s qu e na ép oc a pre se nt e se re cusa m a r e co nh e
cer, por ação ou palavra, o senhorio de Cristo, um dia haverão de
(Filipenses 2:12-13) 93
pres ta r- lh e es se re co nheci m en to . N ão ex iste qual qu er d úvi da no NT en tre
o senhorio de Cristo, na igreja, e seu senhorio sobre o universo.
N a fr ase "p ar a qu e ao nom e de Je su s" (t ra duz id a lite ra lm en te na AS V
e outras versões) evidencia-se a força exata da preposição (gr. eri).
Ado ração é oração são ap resentadas a Deus, o Pai, no nome de Jesus (ou
mediante Jesus) porque ele é o caminho para o Pai, o único "Mediador
entre Deus e os hom ens" (1 T imóteo 2:5) . M as não é is so que o apóstolo
quer dizer aqui. O sentido é transmitido mais adequadamente na tradu
ção: "para que ao nome de Jesus" (como aparece em ECA, NIV, KJV,
RS V, JB, NEB , NAS B) ou "em honra ao nome de Jesus" (GNB). O poder
do nome de Jesus, diante do qual moléstias e demônios fugiam, durante
seu ministério terreno, aumentou muito com a exaltação dada por Deus:
"Anjos e homens diante dele sucumbem / Demônios fogem e somem."
É assim que Carlos Wesley identifica (em ordem contrária) os habitantes
do "inferno, terra e céus." Não apenas seres humanos, é o que o texto diz,
mas anjos e demônios, em alegre espontaneidade ou temor relutante,
reconhecem a soberania do crucificado — nos céus, na terra e debaixo
da terra. Mas que se entende, precisamente, por debaixo da terra? Esta
frase pode denotar o reino onde "se pensava que os mortos continuavam
a existir" (G NB, nota marginal); pode significa r també m a habitação dos
maus espíritos, ou dos anjos desobedientes: "aos anjos que não guarda
ram o seu principado" (posição de autoridade) "ele os tem reservado em
pri sõ es et er nas , na esc ur id ão, pa ra o ju íz o do gra nde dia" (J ud as 6). Po de
ser relevan te relemb rar como a legião de demôn ios expu lsos do jove m
gadareno "rogavam-lhe que não os mandasse para o abismo" (Lucas
8:31).
Talvez não seja tão importante pesquisar com muita minúcia se essa
referência diz respeito a seres humanos mortos, a demônios, ou a ambos
os grupos. É possível que a linguagem usada tenha a intenção de
expressar a universalidade da homenagem prestada a Jesus. Noutra
pas sa gem Paulo ex pr im e a id éi a de ss a u niv ers alid ad e em te rm o s de cé us
e terra (sem mencionar debaixo da terra), quando diz (Colossenses
1:16-20) que em Cristo "foram criadas todas as coisas que há nos céus e
na terra, visíveis e invisíveis" (incluindo expressamente "tronos... domi
nações... principados... potestades" espirituais) e também que através de
Cristo, Deus reconciliou "consigo mesmo todas as coisas, tanto as que
estão na terra como as que estão nos céus" (talvez com a inclusã o
92
(Filipenses 2:12-13)
implícita dos poderes espirituais). Podemos comparar este texto com o
Salmo 48, onde a universalidade do louvor a Deus se expressa em
minúcias.
Sem sombra de dúvidas é isto que Paulo afirma: nada existe em toda
a criação, agora, que não esteja "sujeito ao poder e soberania de Cristo,
nosso Redentor" (é com base nestas palavras que o simbolismo do globo
terrestre dominado pela cruz é explicado no culto de coroação inglês).
Quanto aos mortos, o rei Ezequias poderia achar que estariam excluídos
do privilégio de louvar a Deus (Isaías 38:18); todavia, a obra de Cristo
transformou tudo isso: nas próprias palavras de Paulo, "Cristo morreu e
tornou a viver, para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos"
(Romanos 14:9).
2:11 / Todos quantos se ajoelham a fim de honrar o nome de Jesus
confessam assim que Cristo Jesus é o Senhor. Aquele que assumiu "a
form a de servo" foi exaltado por Deus a fim de ser Senhor de todos , de
mod • v ue toda língua confesse que Cristo Jesus é o Senhor. A
salvação, diz Paulo, é assegurada a todos que o confessarem: "Se com a
tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que
De us o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo" (Rom anos 10:9);
"ninguém", afirma Paulo noutra passagem, "pode dizer: Jesus é o Se
nhor! senão pelo Espírito Santo" (1 Coríntios 12:3).
"Jesus (Cristo) é o Senhor" é a quintessênc ia do credo cristão, no qual
a palavra "Senhor" recebe o mais augusto sentido. Quando os cristãos de
gerações posteriores se recusaram a dizer "César é o Senhor," recusa
ram-se porque sabiam que tais palavras não constituíam mera cortesia
requerida pelo título: era um título que dava o direito a César de receber
honras divinas e, neste sentido, não podiam atribuí-las a mais ninguém
senão a Jesus. Pa ra eles havia "um só Deus, o Pai.. . e um só Senho r, Jesus
Cristo" (1 Coríntios 8:6). No AT grego, lido pelos cristãos gentios, Iavé
era designado por theos ("Deus") ou (na maior parte das vezes) por kyrios
("Senhor"); reservava-se theos normalmente para Deus, o Pai, e kyrios
para Jesu s.
Quando se prestam honras assim ao Jesus humilhado e exaltado, a
glória de Deus Pai não é diminuída mas aumentada. Quando o Filho é
honrado, o Pai é glorificado; porque ninguém consegue lançar sobre o
Filho maiores honrarias do que as que o próprio Pai lhe concedeu.
93
(Filipenses 2:12-13)

Notas Adicionais 10
O pioneir o na apres entaçã o da tese de qu e os w . 6-11 formam uma com po
sição independente, que Paulo incorporou em sua argumentação, foi E. Lohme-
yer, na prime ira edição de seu come ntário sobre Filipenses (KEK, 1928) e em
sua monografia K y r i o s J e s u s : E in e U n t e r s u c h u n g z u P h i l 2 , 5 - 1 Ojulgamento
1.
predom inan te quanto à autoria é que esse texto foi comp osto po r outra pessoa,
e não por Paulo (v eja R. P. Martin, Carmen Christ i pp. 42-62). To davia, a autoria
pa ulina tem sido defend ida po rM . Dib elius (ad lo c.), W. Michaelis (ad loc.), E.
F. Scott (ad loc.), L. Cerfa ux, "L'hy mn e au Christ — Serviteur de Dieu (Phil .
2, 6-11; Is a. 52, 13-53, 12)," pp. 425-37; J. M. Fu mes s, "The Authorsh ip of
Philippians ii. 6-11," E x p T I O (1958-59), pp. 240-43. F. W. Beare (adloc.) vê
aqui, "não um louvor 'pré-paulino', mas um louvor composto em círculos
paulino s, sob influência de Pau lo, mas introduzindo certos te ma s na proc lama
ção da vitória de Cristo que são elementos elaborados independentemente de
Paulo."
Lohmeyer ( K y r i o s J e s u s , p. 9) argum enta que houve um original aramaico
desta invocação; quanto às tentativas de retroversões aramaicas veja P. P.
Lev ertoff ( reproduzidas em W. K. L. Clarkc. N e w T e s t a m e n t P r o b l e m sp. 148);
R. P. Martin, Carmen Christi pp. 40, 41; P. Grelot, "Deux notes critique s sur
Philipp iens 2, 6-11," pp. 185, 186. Não há necessid ade de defe nde r-se um
srcinal aramaico; o texto grego não é tradução. Por outro lado, as retroversões
aramaicas exibem, sem torcer o texto, estrutura e ri tmo apropri ados.
O. Hofius ( D e r C h r is tu s h y m n u s P h i l i p p e r2, 6-11, p. 8) argumenta com
ba sta nte pe rsuasã o que a composição segu e o padrão dos salmo s do AT que
reiteram os atos salvíficos de Iavé, mediante confissão e agradecimentos.
2:6 / que, sendo em forma de Deus: gr. hos en morphe theou hyparchon
("que, sendo já em form a de Deus"). Quanto ao prono me relativo h o s assim
usado aqui, para introduzir uma invocação ou confissão cristológica, cf. Colos-
senses 1:15, hos estin eikon tou theou tou aoratou ("Ele é a imagem do Deus
invisível"); 1 Timóteo 3:16, hos ephan erot he en sarki ("aquele que s e manife s
tou em carne") . O substantivo morphe "impli ca não nos acidentes e xternos mas
nos atributos essenciais" (J. B. Lightfoot, ad loc.); possui um conteúdo mais
substancial do que homoioma, na última frase do v. 7 ou schema na primeira
frase do v. 8. O verbo hyparchein "denota 'exist ência anterior'" (Lightfoot, ad
loc.).
Há disputa em tomo do significado de harpagmos. De acordo com a an alogia
de formações com -mos, deveria significar o ato de agarrar ou arreb atar harpa-
z e in . Esta é a interpretaç ão da KJV: "não considerou um roubo o se r igual a
D eu s"— tradução que apoia a versão de Tyndale, de 1526, indo além da Vul gata
non rapinam arbitrat us est . Todavia, há uma tradição forte favorecendo o
tratamento de harpagmos como se fora sinônimo de harpagma — isto é, (de
acordo com a analogia de tais formações em -ma, algo agarrado, ou a ser
92 (Filipenses 2:12-13)
agarrado. Assim é que J. B. Lightfo ot oferece a seguinte paráfrase: "Cristo,
embora existindo desde antes do universo sob a forma de Deus, não considerou
sua igualdade com Deus como se fora um prêmio, um tesouro que deveria ser
avidamente agarrado e ostensivamente exibido; ao contrário, Cristo abriu mão
das glórias dos céus" — acrescentan do: "esta é a interpretação comum , na
verdade, a mais universal entre os pais gregos, que teriam a mais viva sensibi
lidade quanto aos circunlóquios da língua" (Philippians. pp. 134,135).
Que o neutro harpagma poderia ter este sentido é certo: Plutarco (O n
A l e x a n d e r s F o r t u n e o r V ir tu e1.8.330d) afirma que Alexandre, o Grande, não
tratou de sua conquista da Ásia hosper harpagma, "como um prêmio" a ser
explorado para seu gozo ou vantagem pessoais, mas como um meio de estabe
lecer a civilização universal sob uma lei (cf. A. A. T. Ehrhardt, "Jesus Christ
and Alexander the Great," em The Fra m ework ofthe N ew Testament Stor ie s,
pp. 37-43).poderia
Filipenses, Todavia, se expresso
ter sido este fosse o sentido
facilmente objetivad o nesta
mediante passagpalavra
harpagma, em de
muitíssimo fam iliar — que ocor re dezessete veze s na LXX, enquanto harpag-
m o s ocorre apenas uma única vez, aqui, na Bíblia grega, e mui raramente na
literatura grega.
C. F. D. Moule ("Further Reflexions on Philippians 2:5-11," em W. W.
Gasque e R . P. Martin, eds.,Apostol ic History and t he G ospe lp. 272), apresenta
um poderoso argumento no sentido de manter-se a força ativa própria de
harpagmos-, "O ponto central da passagem é que, ao invés de imaginar que a
igualdade com Deus significaria obter algo, Jesus, ao contrário, — deu-a —
deu-se, até 'esvaziar-se'... ele considerou a igualdade com Deus não como
p l e r o s i s mas como kenosis, não como harpagmos mas, como desgaste total —
até à morte."
Quanto à opinião de que Paulo objetiva, aqui, um contraste entre Cristo e
Adão, consultem-se O. Cullmann, The Ch ristology of the New Testament, pp.
174-81; R. P. Martin, Carmen Christi, pp. 161 -64 (M artin faz r ecuar esta opinião
até G. Estius em 1631). D. H. Wallace ("A Note on morphe") argumenta contra
essa opinião, dizendo que o morphe theou do v. 6 (como se toma evidente de
morphe doulou do v. 7 é diferente da igualdade com Deus concedida a Adão e
Eva em Gênesis 3:5. (O AT grego não usa morphe mas eikon ao referir-se à
"imagem" de Deus com que Adão foi criado.) Outra opinião sustenta que o
contraste objetivado é entre Cristo e Lúcifer, pois este tentou ser "semelhante
ao Altíssimo" (Isaías 14:14); à bibliografia referen te a esta opinião, indicada em
R. P. Martin, Carm en Christ i, pp. 157-61, acrescente-se E. K. Simpson, Words
Worth in the G reekN ew Testament (Londres: Tyndale Press, 1946), pp. 20-23.
2:7 / mas a si mesmo se esvaziou: gr. heauton ekenosen (tradução literal).
O uso do verbo grego aqui atribuiu o nome de kenosis a uma teoria cristológica
que já foi popula r (a teoria "cinótica") que, n a verdade, nada tem que ver co m
o significado da presente passagem. Consulte-se E. R. Fairweather, "The
'Kenotic' Christology," nota anexa a F. W. Beare, P h il ip p i a n s , pp. 159-74.
W. Warren em "On heauton ekenosen ," sugere que estas duas palavras gregas
(Filipenses 2:12-13) 93
pod eriam ser equiv ale nte s ao hebraic o heerah .. . nafsho (Isaías 53:12), "ele
expôs sua vida" (KJV: "ele derramou sua alma"). Esta sugestão foi elaborada
na suposição de que a frase interveniente lammaweth ("até à morte") do texto
hebraico faz eco no gr. mech ri thanat ou ("tão longe quanto a morte") no v. 8
abaixo, de modo que a si mesmo se esvaziou... até à morte poderia ser
considerado praticamente como tradução variante de "derramou sua vida na
morte" (Isaías 53:12). Consultem-se H. W. Robinson, "The Cross ofthe Ser-
vant" (1926), em The Cross in the O ld Test am ent (Londres: SCM Press, 1955),
pp. 104,1 05 ; C. H. Dodd, A c c o r d i n g to th e S c r ip tu r e s p.
, 93; J. Jerem ias, "Zur
Gedankenfü hrung in den paulinischen Briefen," em S tu d ia P a u li n a in h o n o r e m
J. de Zwaan ed. J. N. Seven ster e W. C. van Unni k, p. 154 com n2 3; A. M.
Hunter, P a u l a n d h is P r e d e c e s s o r s ,pp. 43,44. Esta sup osição co ntribu i para o
argumento de que a invocação cristã é uma interpretação do quarto cântico do
Servo (Isaías 52:13 — 53:12); permanece esta suposição, talvez atraente, mas
destituída de prova.
Tomando a forma de servo: gr. morph en doul ou labon, em que labon é o
particíp io aor isto sim ultâ neo ("ele se esva zio u a si mesm o ao tom ar..."). Com o
ocorre no v. 6, morphe significa "não apenas a semelhança externa ... mas os
atributos que o caracterizam" (J. B. Lightfoot, ad loc.). C. F. D. Moule salienta
a importância da palavra doulos ("escravo") neste contexto: "escravidão, na
sociedade da época, singificava o ponto extremo no que concerne à pri vação de
direitos ... Pressionada pela conclusão lógica, a escravidão negaria à pessoa
todos os seus direitos — até mesmo o direito à vida, o direito de ser pessoa"
("FurtherReflections," p. 268).
Fazendo-se semelhante aos homens: gr. en hom oiomati ant hropon geno-
menos, onde g e n o m e n o s pro vavelmen te sig nifica "nascido" (com o em Gálatas
4:4 g e n o m e n o n e k g y n a ik o s"nascido de mulhe r"); cf. Rom anos 1:3, "que nasceu
(genomenon) da descendência de Davi"; João 8:58, "antes que Abraão nascesse
g e n e s th a i, 'eu sou'"; e quanto ao sentido geral, Sabedoria 7:1-6, onde Salomão

insiste (genomenos,)
nasci em que ele veio ao mundo
comecei com oo qualqu
a respirar er outro ser humano: "quando eu
ar comum."
E, achado na forma de homem: gr. schem ati heurethei s hos anthropos, onde
schema, sem sugerir que a humanidade de Cristo era apenas aparente, pode
indicar que h avia nele mais do que mera humanidade (Crist o continuou a possuir
a "natureza de Deus"). Não existe qualquer ênfase na idéia de encontrar-se em
heuretheis (particípio passivo aoristo de heuriskein)-, o passivo de heuriskeiné
usado aqui mais como se trouve re m francês (cf. 3:9; Hebreus 11:5). Com h o s
anthropos compare Daniel 7:13 (Theodósio), hos hyios anthropou (" o que
p a r e c i a u m s e r h u m a n o " ). L ig h tf o o t ( a d lo c .) c o m p ara-o com T e s ta m e n t o f
Z e b u lu n 9:8, "você verá Deus à semelhança do homem" (e n schema ti anthro
p o u ) — mas isto surge de uma revisão cristã da obra, e poderia depender da
redação deste louvor a Cristo.
2:8 / humilhou-se a si mesmo, sendo obediente: gr. etapeinosen heauton
g e n o m e n o s h y p e k o o s ,"ele se humilhou ao tomar-se obediente" (como labon no
92 (Filipenses 2:12-13)
v. 1, g e n o m e n o s é simultaneamente particípio aoristo). Enquanto W. F. Beare
(ad loc .) vê aqui uma provável referência à "subm issão ao poder dos Espíritos
Elementares" (os stoicheia, inexist e qu aisquer paralelos de tal pensamento no s
escritos do NT) . Cristo penetrou na esfera da vida humana que era dominada
po r aqu elas forças , mas em vez de ele se lhe s sub meter, ela s é que se lhe
subme teram (Colosse nses 2:15). Se A. J . Band stra estiver certo em toma r a lei
como sendo uma dessas forças (T he Law an d the Elements ofthe W orld pp.
60ss.), poder-se-ia concluir, então, que Cristo, por ter nascido sob a lei (Gálatas
4:4), de alguma forma se lhe submeteu; mas, em Gálatas 4:3, 9, é o legalismo,
e não a lei como revelação da vontade de Deus (à qual [vontade] Crist o prestou
obediência com total alegria e liberdade), que se encontra entre stoicheia.
Tampouco foi à morte que Cristo pr estou obediência (como se poderia deduzir,
pela redação de KJV); foi à vontad e do Pai que ele prestou o bediê ncia até c hegar
à morte.
A frase até à morte, e morte de cruz constitui o climax da primeira parte
do louvor. Não se trata de adendo posterior, que objetivasse cristianizar a
composição; ela integra o sentido e ritmicamente forma uma coda para a
prime ira parte, assim como a fra se para glória de Deus Pai forma uma coda
pa ra a segunda parte (cf. O. H ofius, D e r C h r is tu s h y m n u s ,pp. 3-17).
Morte de cruz, nas palavras de Cícero, "a mais cruel e abominável forma de
punição" ( Verri ne O rations 5.64);" a própri a palavra 'cr uz', disse ele, "deveria ser
estranha não somente ao corpo de um cidadão romano, mas a seus pensamentos,
seus olhos , seus ouvidos" ( Oration in Defen se oJC . Ra birius, 16). Veja M. Hen gel,
Crucifixion.
2:9 1 Deus o exaltou soberanamente: gr. ho theos auton hyperypsosen,
"Deus altamente o exaltou." O verbo simples é usado no começo do quarto
cântico de Isaías (Isaías 52:13): "será engrandec ido, e elevado" ( hypsothesetai ).
Todas as fontes de testemunho do NT concorrem para celebrar a exaltação de
Jesus: "É-me dado todo o poder no céu e na terra" (Mateus 28:18); "Jesus,
sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos toda s as coisas" (João 13:3);
Cristo é retratado como "feito mais sublime do que os céus" (Hebreus 7:26);
"havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potestades" (1 Pedro
3:22); "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber poder, e riqueza, e
sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor" (Apocalipse 5:12).
C. F. D. Moule ("FurtherReflexions," p. 270) propõe o seguinte: "a despeito
de todo o peso das opiniões contrárias," entend er o nome que é sobre todo o
nome como sendo "o nome de 'Jesus', não o título 'Senhor'... Deus, na
encarnação, atribuiu a Quem está em igualdade um nome terreal que, em vista
de acompanhar o auto-esvaziamento mais parecido com o do próprio Deus, veio
a tomar-se, na verdade, o mais exaltado de todos os nomes, porque o trabalho
e a auto- entrega são em si mesmos os mais elevados atributos divin os." Veja-se
também J. Barr, "The Word Became Flesh: The Incamation in the New
Testament," I n te r p 10 (1956), pp. 16-23, especialm ente p. 22.
2:10 / para que ao n ome de Jesus: "quando o nome de Jesus é pronunciado"
(Filipenses 2:12-13) 93
(C. F. D. Moule, I B N T G p . 78; cf. "Further Reflexions," p. 270, onde o autor
liga a tradução à identificação de "Jesus" como o nome que é sobre todo o
nome).
Nos céus, na terra e debaixo da terra: gr. epouran ion kai epi geion kai
katachthonion, três substantivos no genitivo plural , provave lmente para serem
entendidos como sendo do gênero masculino (ou neutro), visto que são seres
inteligent es que prestam hom enagem laudatór ia e fazem confissão. Todavia, W.
Carr (Angels a nd P rincipali ti es, pp. 86-89) diz o seguinte: "é razo avelmente
certo que os três substantivos sejam do gênero neutro, em vez de masculino,"
visto que a referência aplica-se "não tanto aos seres que habitam as três regiões,
mas à noção abrangente da un iversalidade do louvor a Deus ."
Há uma passagem paralela notável (que na verdade poderia depender desta
passagem de Filipe nse s) em Inácio, To the Trallians 9:1, onde se afirma, em
seqüência de credo, que Jesus Cristo "verdadeiramente foi crucificado, e mor
reu, à vista dos que habitam os céus, a terra e debaixo da terra" ( bleponton to n
epouranion kai epigeion kai hypochthonion). Também aqui os substantivos
parec em ser do gên ero m asc ulino, visto que as pes soa s viram a paixão de Cristo.
E possível que Carr tenha razão em pensar que Inácio, ao usar esses três
substantivos, referia-se de modo abrangente a "todo o universo habitado";
todavia, esse universo é de seres inteligentes.
F. W. Beare ( ad loc.) argumenta que a referê ncia a todos os três substan tivos
"se faz com certeza a espíritos — astrais, terrestres e demo níac os." Não há razões
plausív eis para limitarmos assim a referência aos seres intelig entes, e mais
enfaticamen te nenhuma razão para a declar ação adicional de que a proclam ação
do v. 11 nã o é "uma con fissão de fé em Jesus por parte da igreja, mas a
aclamação dos espíritos que rodeiam o trono de Cristo." Trata-se de ambas as
coisas.
2:11 / Cristo Jesus é o Senhor: gr. kyrios Iesous Christos. Cf. Atos 10:36,
"Jesus Cristo (este é o Senhor de todos)."
Para glória de Deus Pai: é a coda para a segunda parte do louvor e também
para o louvor to do ("até à m orte, e m orte de cru z", é a coda da prime ira parte).
Deus foi glorificado na humilhação de Cristo, tanto quanto é glorificado em sua
exaltação.
11. Exortação à Fidelidade (Filipe nses 2: 12 -1 3)

Após a invocação a Cristo, Paulo retoma a exortação apostólica, que


é reforçada pelo conteúdo daquele louvor.

2:12/ Paulo enfatiza a obediência que caracterizou Cristo. A obediên


cia dele deve servir de exemplo para seus discípulos. Paulo não tem
dúvidas quanto à obediência dos crentes filipenses: nada há neles pare
cido com os coríntios, na situação refle tida em 2 Coríntios 10:6, mas os

filipenses sempre demonstraram obediência, não tanto a Paulo mas ao


Senho r de quem ele era apóstolo. Se alguém ju lg ar estranho que se
men cione ob ediência numa carta de um am igo dirigida a amigos amados
(NIV traz "meus amigos amados"), é preciso lembrar-se de que Paulo
não era apenas o amigo dos filipenses; ele era o apóstolo de Jesus Cristo
par a eles. N es ta ca rta, Pa ul o nã o af ir m a su a au to ri da de apo st ól ic a, co m o
o faz em outras (cf . 1 Co ríntios 9:1, 2; 2 Coríntio s 3:1-3); a autoridad e
dele nunca foi desafiada em Filipos. Entretanto, por toda a carta fica
evidente a marca da autoridade apostólica.
O apelo de Paulo aos filipenses é, então, este: de sorte que, meus
ama dos, ass im com o sempre obed ecestes, não só na minha presença,
mas muito mais agora na minha ausência, assim também efetuai a
vossa salvação com temor e tremor. A obediência dos filipenses
envolvia a tradução dos princípios do evangelho, em que haviam crido,
em ação constante. O evangelho lhes trouxera salvação — sua pr óp ri a
salvação, como Paulo diz com muita ênfase, porque é dádiva gratuita de
Deus para eles. Entretanto, ela precisa ser "efetuada" na vida prática, à
vista da aproximação do "dia de Cristo," que lhes completará a salvação
(neste sentido Pau lo diz em Rom anos 13:11 que a salvação dos crentes
"está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé.") Neste
contexto, Paulo não está exortando cada mem bro da igreja a empenhar-se
na obra de sua salvação pessoal; Paulo está pensando na saúde e bem-
estar geral da igreja como um todo. Cada crente, e todos os crentes, num
corpo só, precisam prestar atenção a este fato.
A seriedade com que os crentes devem tratar deste assunto fica
indicada na frase com temor e tremor. É evidente que a atitude reco
mendada pelo apóstolo aqui nada tem que ver com o terror servil; o
(Filipenses 2:17-46a) 99
apóstolo tranqüiliza os crentes d e Roma, dizendo: "não r eceb estes o
espírito de escravidão para outra vez estardes em temor" (Romanos
8:1 5). T rata-se, antes, de uma atit ude de reverência e profun do respe ito,
na presença de Deus, de extrema sensibilidade à sua vontade, de
consciência de nossa responsabilidade à vista de havermos de prestar
contas perante o tribunal de Cristo. Os crentes devem reconhecer que
em sua vida comunitária Deus está presente. Os pagãos que entravam
nas reuniões dos crentes imediatamente se conscientizavam disso.
"Deus está verdadeiramente entre vós" (1 Coríntios 14:25). É certo,
pois , qu e os cre nte s deveri am te r m uito m aio r co nsciê n cia da pre sen ça
divina.

2:13 / Estando Paulo vivo e, de modo especial, quando ele estava em


liberdade, podendo visitar os filipenses, seu interesse era a "salvação"
deles. Entretanto, nem sempre Paulo estava por ali, disponível. Isto não
significava, porém, que quando o apóstolo estivesse permanentemente
ausente, os f ilipenses seri am abandon ados a seus próprios recursos . Deus
é o que opera em vós, diz Paulo — não em vós apenas individualmente,
mas como coletividade. Pelo seu Espírito que em vós habita ele opera
em vós tanto o querer como o efetuar — tanto o desejo de efetuar,
segundo a sua boa vontad e, como também o poder para ef etuar. Trata-se
de parte do ensino de Paulo a respeito do Espírito Santo, ainda que o
Espírito não seja explicitamente mencionado aqui. Como Paulo enfatiza
nou tras passagens, o Espírit o realiza o qu e a l ei não co nsegue realizar: a
lei podia dizer à s pessoas o que deveriam faz er, m as não podia suprir-lhes
o poder, nem mesmo a vontade de fazê-lo; o Espírito supre ambas as
coisas (Romanos 8:3, 4; 2 Coríntios 3:4-6). Quando o Espírito toma a
iniciativa de partilhar com os crentes o desejo e o poder para realizar a
vontade de Deus, esse desejo e poder se lhes torna possessão pessoal,
como dádiva de Deus, e os crentes obedecem à vontade de Deus "de
coração" (Efésios 6:6).

Notas Adicionais 11
2:12 O apóstolo, à semelhança do sha liah entre os judeus, era um mensageiro
devidamente credenciado; enquanto permanecesse obediente às condições de
sua comissão, o apóstolo exercia a autoridade da pessoa que o havia enviado:
"o shaliah de um homem é como esse homem em pessoa" (Talmude Babilôn ico,
tractate Berakot3 4b). Consulte-se C. K. Barrett, " Shalia h and Apostl e, " em E.
92 (Filipenses 2:12-13)
B a m m e l, C . K . B a r r e t t, e W. D . D a v ie s , e d s ., D o n u m G e n ti li c iupp.
88-102. m,
Na minha presença ... na minha ausência. No tex to gre go estas fras es
vêm ligadas a assim também efetuai, como demonstra o m e negativo,
prec ed en te, que é ne ga tivo adequado ao im perativ o katergazesthe, e não ao
indicativo hypekousate (obedecestes): efetuai não apenas na minha pre
sença (parousia, como em 1:26), mas muito mais agora na minha ausência
(iapousia , somente aqui, em todo o NT). A partícula traduzida por "assim
como" h o s que precede na minha presença é omitida em B e em outros
fragmentos; essa partícula "coloca ênfase no sentimento, ou no motivo do
agente" (J. B. Lightfoot, ad loc.) — "como se minha presença vos motivas
se." F. W. Beare (ad loc.) pensa que, no contexto geral, o contraste entre
"presença" e "ausência" significa "durante minha vida" e "depois de minha
morte"; tal implicação está embutida nas palavras de Paulo, mas o sentido
do texto não precisa restringir-se a isso apenas.
A vossa salvação: gr. ten heauton soterian ("vossa própria salvação"), estando
o pronome reflexivo da terceira pessoa estendido de modo a abranger a segunda
pessoa. Q uanto ao sentido corporativo de salvação aqui, veja J. H. Michael, "Work
outyourown Salvation," E x p o s i to r , série 9, 12 (1924), pp. 439-50.
Com temor e tremor: gr. meta phob ou kai tr omou, parelha favorita do
vocabulário de Paulo, segundo parece, referindo-se a diversos tipos de temor.
Em 1 Coríntios 2 :3 é empregada quanto às dúvidas com que Paulo aproximo u-se
pela primeira vez de Corinto, tendo sido expulso de uma cid ade macedônica
após outra; em 2 Coríntios 7:15 é usada com referência ao tremor com que os
crentes coríntios saudaram a Tito, o enviado de Paulo, tão logo foram repreen
didos pela severa carta do apóstolo; em Efésios 6:5 é usada quanto ao sentido
de reverência e dever a respeito de Cristo, que deveria motivar os escravos
cristãos a obedecerem a seus senhores pagãos.
Não há apoio no texto, nem no contexto, para a opinião de W. Schmithals
(Paul and the G nostic s, p. 98) que Paulo aqui está advertindo seus leitores contra

a falsa segu rança daqueles que crêem que já alcançaram a perfeição (veja-se
mais na discussão de 3:12-14).
2:13 / que opera em vós: gr. energein (duas vezes neste versículo), é um
verbo usado com freqüência por Paulo, referindo-se à eficácia do poder de Deus
(cf. o substantivo cognato energeia, "poder", em 3:21).
querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade : gr. hyp er t es eudokias,
"para o bom prazer." Não está escrito expressamente "bom prazer" de quem,
mas certamente é de Deus (visto que Deus é o sujeito da oração). O substantivo
eudokia foi usado em 1:15 para referir -se à "boa mente" ("genuína boa von ta
de") com que algumas pessoas pregam o evangelho em Roma, porém o sentido
aqui é um tanto diferente (a despeito dos que acham que hyp er tes eudokiassig-
nifica "promover boa vontade"). Cf. Lucas 2:14, em que en anthropois eudokias
não significa "entre homens de boa vontade" mas "entre seres humanos que são
objetos da boa vontade de Deus" (propósito salvífico; cf. NIV). (Uma frase
hebraica semelhante, " filhos de sua/tua boa vont ade" ( bene resono/resoneka,
(Filipenses 2:12-13) 93
ocorre na literatura Qumran (1QH 4.32, 33; 11.9), referind o-se "m ais nat ura l
mente à vontade de Deus em conferir graça àqueles a quem ele escolheu, mais
do que o fato de deleitar-se e a provar a bond ade nas vidas dos hom ens" (E. Vogt,
'"Peace among Men of God's Good Pleasure' Lk. 2:14," em The ScrolLs and
the New Testament, ed. K. Stendahl, p. 117).
12. Esper ança de Paulo Quanto aos Filip enses
(Filipenses 2:14-16)

A obediência filipense, ou resultado do "efetuai a vossa salvação",


dependia em grande parte da persistência do amor e da harmonia na
com unidade dos crentes. Se o amo r e a harm onia se ma ntivessem , o
testemunho dos filipenses perante o ambiente pagão seria eficaz. Paulo
podia ag uard ar con fi ante a ép oca em qu e ele se ria co nvocad o a fi m de
pre sta r co nt as de su a m ord om ia co m re sp ei to àq uela ig re ja .

2 :1 4 /0 propósito de Deus para se u po vo só pode ser cumprido se est e


viver em unidade harmoniosa, fazendo todas as coisas sem murmnra-
ções nem contendas. Esta linguagem foi tomada de empréstimo das
descrições feitas no AT das gerações de israelitas que atravessaram o
deserto, sob a liderança de Moisés, após a libertação do Egito. Eles
reclamavam reiteradamente das privações, dizendo que jam ais deveriam
ter deixado o Egito (Números 11:1-6; 14:1-4: 20:2; 21:4, 5). Moisés os
descreveu como "geração perversa e depravada" (Deuteronômio 32:5,
me ncionado no v. 15 abaixo), "geração perversa, filhos sem l ealdade"
(Deuteronômio 32:20).

2:15 / Os seguidores de Cristo não deveriam proceder como aquelas


gerações israelitas, no deserto. Escrevendo a seus convertidos coríntios,
Paulo precisou adverti-los com seriedade contra a imitação de um
exemplo tão desastroso, de modo que viessem a incorrer no mesmo
ju lg am ento : nã o dev er ia m m urm ura r "c om o al gu ns del es m urm ura ra m ,
e pereceram pelo anjo destruidor" (1 Coríntios 10:10). Todavia, ainda
que uma admoestação para que se procure um modo de vida harmonioso,
cheio de al egria, nunca é imprópria, Paulo sabia que seus amigos filip en 
ses t inham um c aráter melhor . N ão eles, mas seus vizinhos p agãos é que
podem se r des cri to s co m o geração corrompida e perversa. Os crentes
filipenses devem estabelecer um exem plo m elhor perante o mundo que
os circunda, mostrando-se irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus
inculpáveis, refletindo o caráter de seu Pai , povo con tra cuja m aneira de
viver ninguém pode apontar um dedo acusador. Era isso que Jesus tinha
em mente para seus discípulos, ao chamá-los de "sal da terra", exortan
(Filipenses 2:17-16a) 99
do-os a que, mediante generoso altruísmo, se tornassem verdadeiros
filhos do Pai celeste — que fossem perfeitos como Deus é perfeito
(Mateus 5:13, 45, 48). Em contraste, as pessoas daquela geração do
deserto foram repud iadas: "já não são seus filhos" (Deu teronôm io 32:5).
Jesus comparou seus seguidores não apenas ao sal mas também à "luz
do mundo" (Mateus 5:14-16). Paulo apanha esta figura de linguagem e
com ela encoraja os cristãos filipenses: resplandeceis como astros no
mundo. A palavra que o apóstolo usa é "luminárias" (gr. phosteres)-, é
usad a na vers ão gre ga de Gênes is 1:14-1 9 quanto ao sol, à lua e às estrelas
que o Criador espalhou pela abóbada celeste no quarto dia. Tais luminá
rias não brilham para si mesmas; brilham a fim de prover luz para o
mundo todo. O mesmo deveria ser verdade a respeito do crente: ele vive

bp en
araefíc
os iooutdoross.quAe nã
ig ore ja
sãotesó
m cios
sido. cham ada de cl ub e qu e ex is te para o
No mundo: tradução literal do grego kosmos. Esta palavra foi usada
em João 3:19 e 12:46, onde Jesus fala sobre ter vindo "ao mundo como
luz" (cf. também 1:9; 8:12; 9:5).

2:16 / Paulo muda, agora, deixando a linguagem figurada para usar a


literal, e diz que a tarefa deles é reter a palavra da vida. Devem
apresentar o evangelho pelo modo de vida, como também pelas palavras
que pronunci am. Ninguém lhe s aceitari a a mensagem com seriedade, se
vivess em de form a contraditória à palavra. E ntretanto, se vivesse m de t al
modo que seus vizinhos lhes perguntassem o que é que os capacitava a
serem irrepreensíveis e sinceros no viver, os crentes filipenses pode
riam então falar-lhes da palavra da vida que lhes havia revolucionado
as atitudes e condutas.
A palavra da vida é chamada assim porque proclama a verdadeira
vida que se encontra em Cristo ; ela nos fala de como "o justo viverá da
fé" (Rom anos 1:17; Gálatas 3:11, citando Hebreus 2:4). O evangelho que
os apóstolos foram convocados para pregar compreende "a mensagem
completa desta nova vida" (Atos 5:20) — expressão sinônima de "a
p ala vra des ta sa lv açã o" (A to s 13:26). N ou tr a p assag em Pau lo se re fe re
a essa vida como "o dom gratuito de De us" que "é a vida eterna, em Cristo
Jesus nosso Senhor" (Romanos 6:23); "vida eterna" significa a vida na
era vindoura (a da ressurreição), recebida e gozada pelos crentes, aqui e
agora, mediante a participação deles na vida ressurreta de Cristo.
Paulo punha ordem em sua vida à luz do dia de Cristo que está
92 (Filipenses 2:12-13)
pró xim o; el e sa bi a qu e ne ss e di a sua ob ra ap os tó lica seria in ve st ig ad a.
Assim disse ele : "A mim pouco se me dá de ser julga do por vós, ou por
algum t ribunal humano" visto que , prossegue o apóstolo, "quem m ejulg a
é o Senho r" (1 Coríntios 4:3,4). Reiteradam ente Paulo deixa bem claro
que ele enfrentará o dia de Cristo com muita confiança, desde que seus
convertidos permaneçam firmes e vivam de modo que tragam crédito ao
evangelho que lhe s pregou. Quando ele tiver d e encontrar-se face a face
com o Senhor, de quem recebeu um ministério no caminho de Damasco,
sua esperança é que lhe será suficiente apontar para seus convertidos e
convidar o Senhor para avaliar a qualidade de sua obra segundo a
qualidade da vida daqueles a quem levou a Cristo. E assim é que Paulo
e seus companheiros podem descrever os cristãos da Tessalônica desta
maneira: "qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória na
pr es ença de noss o Se nh or Je su s na sua vi da ? N ão sois vó s? " (1 T essa lo 
nicenses 2:19). De modo semelhante, Paulo assegura a seus irmãos
filipenses que, se eles mantiverem seu bom testemunho de Cristo, terão
retido a palavra da vida, para que no dia de Cristo possa gloriar-me
de não ter corrido nem trabalhado em vão.
A palavra corrido é um exemplo da preferência de Paulo pela lingua
gem de atlet ismo a fim de descrever se u ministéri o. De modo semelhante,
em Gálatas 2:2, ele decl ara: "para que de ma neira algum a não corress e,
ou não tivesse corri do em vão." (V eja-se também 1 Coríntios 9:24-27. )
A palavra para corrido é a mesma para trabalho árduo, ou esforço
extenuante; Paulo a usa outra vez em Gálatas 4:11a fim de expressar a
idéia de trabalhar em vão : "Receio por vós, que de algum modo eu t enha
trabalhado em vão para convosco."
Quanto ao dia de Cristo vejam-se os comentários de 1:6, 10; quanto
à associação de orgulho ou gloriar-me naqu ele dia, veja -se 1:26 com os
comentários.

Notas Adicionais 12
2:14 / W. Schmithals acha que a advertência contra murmurações e conten
das só é inteligível com referência à "dissensão trazida à comunidade pelos
falsos mestres" {Paul and the Gnostics, p. 74). Todavia, é fácil pensar numa
grande variedade de outras causas que poderiam levar a murmurações, queixu-
mes e discussões. Comparem-se também as exortações de 4:1-3, 8-9.
2:15 / Há uma espantosa sim ilaridade entre para que sejais (hina genesthe)...
filhos de Deus e as palavras do serm ão do monte: "para que sejais (hopos
(Filipenses 2:12-13) 93
filhos do vosso Pai que está nos céus" (Mateus 5:45). A palavra
g e n e s th e )
traduzida por irrepreensíveis aqui, em ECA é o gr. amorna, "sem mancha" (cf.
Efésio s 1:4; 5:27; C olossenses 1:22, etc.), usada na LXX em especial para
referir-se aos animais sacrificiais. Veja abaixo.
Uma geração corrompida e perversa: Gr. g e n e a s s k o l ia s k a i d ie s tr a m m e -
nes, de Deuteronômio 32:5, que assim descreve a geração do deserto. Os
israelitas daquela geração são ainda descritos, no mesmo versículo, como tekna
mometa, "filhos.. . mancha", ou "filhos manchados"; há um contraste deliberado
aqui entre tekna. .. amorn a, "fi lh os não man chad os (inculpá veis). " Veja acima.
Entre a qual resplandeceis como astros no mundo: visto que o verbo está
na voz mediana, ou passiva, (phainesthe, não na ativa p h a in e te , que pode muito
bem sig nific ar "vós resplandeceis," "vós dis trib uis a luz ," alguns têm argumen
tado (entre eles por exemplo E. Lohmeyer, ad loc.), que o texto significa "vós
apareceis como luzeiros no mundo." Contudo, a voz passiva também fica

atestada com o sentido de é"resplandecer" p h o s t e r e s ("lumi


nárias"); "resplandeceis" uma tradução em associação
apropriada aqucom
i. Em Daniel 12:3 está
escrito que, no dia da ressurreição, "os que forem sábios (os quais suportaram
o peso da perseguição) resplandecerão como o fulgor do firmamento (LXX:
p h a n o u s in h o s p h o s te r e s to u o u ra n o u ,'resplandecerão como luminárias nos
céus'); e os que a muitos ensinam ajustiça refulgirão como as estrelas sempre
e eternamente." Todavia, aqueles que, agora, partilham a ressurreição de Cristo
antecipmi o ministério do dia da ressurreição ejá dão testemunho resplande
cente. É que a designação "filhos da luz" aplicava-se aos seguidores de Cristo
cf. Luca s 16:8; João 12:36; Efésio s 5:8; 1 Tessalonic enses 5:5.
2:16 / possa gloriar-me: gr. eis kauchema emoi, "tenha (motivo) para
gloriar-me"; cf. uso similar do substantivo kauchema em 1:26, to kauchema
hymon, "vosso (motivo) para gloriar-vos."
de não ter corrido nem trabalhado em vão: O. Bauem feind sugere, à lu z
de Gálatas 2:2, que a expressão "corrido em vão" ( eis kenon trechein "era de
uso comum para o apóstolo Paulo" (TDN T, vol. 8, p. 231, s. v. "trecho"). A
palav ra ertraoduzid
descrev a por
trabalho trabalhado
cristão, ( kopian
seu mesm o ou de) outrem
é uma (cf.
dasRomano
favoritass dele para 1
16:6,12;
Coríntios4:12; 15:10; 16:16; Gálatas4:l 1;Colossenses 1:29; 1Tessalonicenses
5:12); a implicação de que o trabalho resulta em cansaço está em João 4:6, em
que Jesus ao meio-dia senta-se ao lado do poço de Jacó porque está "cansado"
kekopiakos da viagem.
13. Libação de Paulo Sobre o Sacrifício dos
Filipen ses (Filipenses 2:1 7-1 8a )

A vida da igreja filipense é vista como uma oferenda a Deus: se


falta alguma coisa para tornar essa oferenda perfeitamente aceitável,
Paulo está disposto a dar a própria vida em sacrifício como a coisa
faltante — para crédito dos filipenses, não seu.

2:17 / Paulo retorna á sua atual situação. Aguarda um veredicto


favorá vel, da parte do tribunal imperial, m as não pode ter cert eza: o caso
pod e pender p ar a o ou tro lado , e o ap ós to lo pode se r s ente ncia do à morte.
Se as sim for, a sentença po deria ser morte por decapitação. Como é que
Paulo via essa perspectiva?
A vida e o trabalho dos cristãos poderiam ser descritos como um
sacrifício. Paulo exorta os crentes romanos a apresentarem seus "corpos
como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus" (Romanos 12:1). Ao ferta
monetária dos filipenses a Paulo é comparada a "cheiro suave, como
sacrifício agradável e aprazível a Deus" (Filipenses 4:18). Então, se a
vida de fé for oferecida em sacrifício a Deus, poderia algo ser acrescen
tado a fim de garantir sua aceitação? Quando se oferecia um sacrifício
no templo de Jerusalém, como, por exemplo, uma oferta queimada, com
a acompanh ante oferenda de cereais, podia-se fazer uma oferta de bebida,
ou libação, isto é, vinho ou azeite derramado sobre o sacrifício queim ado,
ou ao seu lado. Este derramamento era feito no final do sacrifício, e o
completava. E, ainda que seja oferecido p or libação, diz Paulo, permi-
tam-me ser derramado como oferta de bebida sobre o sacrifício e serviço
da vossa fé. Quando Paulo afirma: ainda que seja oferecido por libação
(gr. ei kai spendomai), ele não está pensando numa libação literal de
sangue, como a que se fazia em alguns cultos pagãos (cf. Salmos 16:4:
"suas libações de sangue"); ele está pensando na entrega fervorosa de
sua vida a Deus.
Carlos Wesley, em versos memoráveis, ora para que sua vida venha
a ser um sacrifício perpétuo, aceso no "altar indigno de meu coração",
pela ch am a do E sp írito Santo:
Pronto estou para fazer toda a tua perfeita vontade,
Repete meus atos de fé e de amor
(Filipenses 2:17-18a) 99
Até que a morte venha selar tuas misericórdias sem fim,
E completar meu sacrifício.
As fi gura s de l inguagem de Paulo são semelhantes, com uma d iferen
ça material: a morte dele completaria o sacrifício dos fili pe ns es . O
m artí rio coro aria sua vida e seu apostol ado, m as Pa ulo deseja que ess e
sacrif íci o seja colocado como crédit o aosfili pen ses e não a se u próprio.
Se a s s im f o r , " nada há aqui para lá g rim a s e s ta p e r s p e c tiv a le v a o
apó stolo a dizer: eufolgo e me regozijo com todos vós, e a mesma
p ers p ectiv a deveri a le vá-lo s a d iz er o m es m o.

2:18 / Paulo havia dito antes que esperava ser libertado e, assim,
aum entar-lhes o "progresso e gozo na fé" (1: 25). C ontudo, os filipense s
devem regozijar-se da mesma forma, se as coisas saírem de modo
diferente. Seja qual for o resultado do julga m ento , trará honra a o nome
de Cristo (1:20), o que constituiria motivo para que os filipenses se
regozijassem , ainda que tal honra sobrev iesse me diante a morte de Paulo,
e não pela sua libertação e sobrevivência. E por isso, diz Paulo,
vós também regozijai-vos e alegrai-vos comigo.

Notas Ad icion ais 13


2:17 / Quanto a libações de vinho (NIV: "ofertas de bebidas") p ara Iavé cf.
Oséias 9:4 e especialmente Siraque 50:15, na descrição do ministério do templo
de Simão, o sumo-sacerdote (ca. 200 a.C.):
"Não derramarão vinho perante o Senhor, nem as suas ofertas serão para ele
suave s. Tais sacrifícios para eles serão como o pão de pranteadores."
Outras referências às libações expressam desaprovação porque estão asso
ciadas ao paganismo (cf. Jeremias 7:18; 2 Reis 16:13). Quanto ao uso de
spendomai cf. 2 Timóteo 4:6 (provavelmente se trata d e um eco desta passa 
gem), em que a libação em que Paulo se tomará deixa de ser mera possi bilidade
para con cretizar -se, em brev e; tam bém o verb o deriv ado spondizomai em
Inácio, To the Rom ans 2:2, em que Inácio roga aos cristãos de Roma que não
tentem impedir o martírio dele nessa ci dade: "concedei-me nada mais senão ser
derramado (spondisthenaí) para Deu s"; eles seria m comp aráveis ao coro do
templo, que canta enquanto o sacrifício está sendo oferecido no altar.
A palavra serviço é tradução do gr. lei tourgia, cu lt o religioso (usada outra
vez no v. 30, abaixo).
J.-F. Collange (ad loc.) acha que essa referência não é ao martírio de Paulo, mas
à sua vida, gasta na obra de Deus; ele compara W. M ichaelis (ad loc.) ; A. M. Denis,
"Versé en libation (Phil. 11,17). Versé en son sang?" R S R 45 (1957), pp. 567-70 e
"La fonction apostolique et la liturgie nouvelle en esprit," R S P T 42 (1958), pp.
617-50; T. W. Manson, S t u d i e s in th e G o s p e l s a r u i E p is t l e spp.
, 151,1 52.
14. Visita de Timóteo Aguardada
(Filipenses 2:19-24)

Em 2:19-3 0 temos um a seção que t em sido chamada de "parousia apostó


lica" ou "plano de viagem." Paulo anuncia sua intenção de fazer uma visita a
seus leitores dentro em breve (v. 24), m as planeja enviar Timóteo antes disso.

2:19 / Espero no Senhor Jesus, em que "no Senhor Jesus" pode ter
a mesma força "incorporativa" de frases semelhantes com a preposição
"em", noutras passagens de Paulo (cf . 1:14,26). Paulo e Tim óteo, como
com panheiros cristãos, partilham a ressurreição de Cri sto. Seus planos e
esperanças formam-se à luz de sua união com Cristo; quase se poderia
dizer que "o Senh or J esus" constitui a esfera dentr o da qual Paulo e seus
companheiros agem e pensam (cf. v. 24, "confio no Senhor").
Paulo espera, então, enviar-lhes Timóteo em breve — nã o im edia ta 
mente, parece, mas quando o provável resultado de seu processo ficasse
mais claro (cf. v. 23). Se é certo que seus amigos filipenses ficariam
contentes em receber notícias suas, Paulo estava ansioso por receber
notícias deles, e ficaria mais animado ao recebê-las. As notícias que
Paulo aguardava o deixariam cheio de confiança em que continuavam
unidos de coração e de propósito, capazes de repelir as ameaças contra
a fé e contr a a vida em C rist o, não impo rtando quais fossem elas. Em bora
o futuro fosse ince rto, Paulo esperava não só ser poupado , m as viver um a
vida suficientemente longa para que Timóteo realizasse a viagem até
Filipos e voltasse até ele com notícias.
Com freqüência Timóteo era enviado por Paulo como mensageiro;
esta missão não deve, necessariamente, ser identificada com aquela
mencionada noutra pas sagem. Ele enviou Timóteo a Tessalônica, partin
do de Atenas (1 Tessalonicenses 3:1-5) e a Corinto, partindo de Efeso (1
Co ríntios 4:17; 16:10, 11). Esta últim a missão pode ria coin cidir com
aquela mencionada em Atos 19:22, em que Paulo enviou Timóteo e
Erasto à Macedônia, partindo de Efeso. Os que afirmam que Filipenses
foi enviada de Efeso precisam identificar a presente missão com a que
está mencionada em A tos 19:22; todavia, não há o meno r indí cio em Atos
de que Paul o n essa época esti vesse sob custódia, ou aguard ando a decis ão
final de um julgamento.
(Filipenses 2:17-19a)
É mais segur o inferir q ue Timóteo havia-se unido a Paulo em R oma,
e que ficara d isponível outra vez, para ser enviado a um a ou outra cidade,
como mensageiro do apóstolo.

2:20 / Quando Paulo diz a respeito de Timóteo: a ninguém tenho de


igual sentimento, ele usa um a palavra seme lhante àque la usada no v. 2,
em que exorta s eus lei tores ate r "o mesmo ânimo". Aqui está u m hom em
que tem "o mesmo modo de pensar" e "o mesmo amor" e pensa "a mesma
coisa" em relação a Paulo. Paulo descobriu que Timóteo é um compa
nheiro do mesmo tem peramento e mesmo sentimento, mas aqui el e está
pensa ndo, num as pecto part ic ula r, no cará te r de T im óte o, qu e so a co m o
um eco em seu próprio coração: Timóteo partilha os sentimentos de
Paulo: a ninguém tenho de igual s entimento, que sinceramen te cuide
do vosso bem-estar. Paulo os estimulou a buscar os interesses alheios:
"cada qual (atente) também para o (interesse) que é dos outros." Estas
pala vra s se rã o enfa ti zadas outra vez pe lo exem plo de T im óte o quando
de sua visita. E provável que os filipenses mantivessem Timóteo num
lugar especial, em seu afeto, visto que esse moço estivera em Filipos
quando o evangelho ali foi pregado pela primeira vez, com a imp lantação
da igreja.

2:21 / Até mesmo entre os crentes com quem Paulo mantinha contato,
na época em que escreveu estas linhas, havia muitos que colocavam seus
interesses acima e antes dos interesses alheios, ou estavam muito preo
cupados, buscando mais o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus.
Alguns de fato estavam em Roma, na época, pregando o evangelho "por
amor" (1:16); entretanto, de todos quantos estavam disponíveis perante
Paulo, nenhum era tão destituído de egoísmo como Timóteo. Para
Timóteo, como para Paulo, a causa de Cristo Jesus envolvia o bem -estar
de seu povo.

2:22 / Mas bem sabeis: Timóteo havia feito parte do grupo que
chegara de início a Filipos, com o evangelho. Nessa cidade, bem como
em outras, o jove m demonstrou seu valor como auxiliar d o apóstol o.
O próprio Paulo tinha razões espec iais para aprec iar a natureza altruís
ta de Timóteo. As qualidades que recomendavam Timóteo perante Paulo,
como sendo companheiro adequado e representante confiável de seu
ministério apostólico, eram qualidades que poderiam muito bem ter
elevado esse jove m a posi ções pessoais vantajosas, houvesse ele decidi do
102 (Filipenses 2:19-24)
pô-l as no in te re ss e de su a pró pri a ca rr ei ra . Nós só podem os te nta r
imaginar quais seriam as ambições que Timóteo poderia ter começado a
alimentar, em sua própria mente, quando Paulo o visitou em seu lar, em
Listra, e o persuadiu a tornar-se seu auxiliar e cooperador. Um ou dois
anos antes, Paulo ficara desapontado com outro jov em , João M arcos, de
Jerusalém, que se despedira do apóstolo e de Barnabé, no meio de uma
viagem missionária, e voltara para casa (Atos 13:13; 15:38). Timóteo
era, de igual modo, um jov em talentoso, mas P aulo discerniu nele a
pro m es sa de es ta bil id ad e m ai or , e o ap óst ol o nã o fi cou de sa ponta do. E
pos sí vel qu e T im óte o te nha sido ca tiva do em par te pe lo m agne ti sm o do
poder os o es pí rito de am iz ad e de Pa ulo: ai nd a as si m , o fa to de Tim óte o
deixar seu lar e abandonar outras perspectivas a fim de partilhar as
incertezas e os perigos do modo de vida de Paulo não foi um mero ato
insignificante de autonegação. Paulo deu grande valor à devoção de
alguém a quem ele descreveu como "meu filho amado e fiel no Senhor"
(1 Coríntios 4:17). Todo e qualquer serviço que um filho po deria prestar
a seu pai, Timóteo prestou a Paulo; todo o afeto que um pai poderia
dedicar a um filho, P aulo dedicou a Timóteo, o jov em que serviu comigo
no evangelho. "Ele me serve como se fora um escravo," diz Paulo (esta
é a tradução literal do grego, aqui) — não um escravo de Paulo, n atural
m ente , ma s de Cristo (cf. 1:1).

2:23 / Tão logo Paulo fique a par de sua sentença (logo que tenha
visto a minha situação), enviará Timóteo em visita aos filipenses. O
resultado do processo provavelmente seria conhecido um pouco antes de
a sentença ser pronunciada.
2:24 / Paulo tem bastante confiança quanto ao resultado, pois diz:
confio no Senhor. Acha que em breve estará em liberdade, podendo ir
visitá-l os. A frase no Senhor tem a mesma força de "no Senhor Jesus",
do v. 19. N ão te m os m ei os de sa ber se a esp er an ça confia nte de Pa ul o,
quanto a rever os filipenses em breve, se r ealizou ou não.

Notas Adicionais 14
2:19 / As designações "plano de viagem" e "parousia apostólica" foram
sugeridas para a seção de Filipenses 2:19-30 po r R. W. Funk — a primeira em
L a ti g u a g e , H e r m e n e u t i c a n d W o r d o f G o, dpp. 264-74, e a última em "The
Apostolic P a r o u s i a : Form and Significance," em W. R. Farme r, C. F. D. Moule,
eR. R. Niebuhr, eds., Christi an H ist ory atui Interpretat ion: Studies Presen ted
(Filipenses 2:19-24) 103
to John K , pp. 249-68. Nos w . 19-24 aparecem três caracterí sticas da
nox
"parousia apostóli ca": (a) envio de um emissário com nome, credenciais e
pro pósitos; (b) be ne fíc ios usufru ídos po r Paulo pelo env io do em issário; (c)
anúncio de u ma v isita pess oal.
Espero no Senhor Jesus (gr. en kyri o lesou): veja-se a nota adicional
sobre 1:14.
2:20 / Timóteo é descrito aqui como isopsychos "igual na alma" (cf. a
exortação no v . 2 aos filipenses, para que sejam sympsychoi, "juntos na alma").
No Salm o 55 (LX X 54): 13 o "meu igual" e "me u íntimo am igo" corresponde
a isopsychos , como tradução do hebraico keerki "meu igual" (lit., "de acordo
com minha apreciação"). Erasmo para fraseia esta passagem ass im: "Eu o
enviarei como o meu alter ego G. B. Caird (ad loc.) afirma que há muito que
dizer a respeito de tomar-se isopsychos como significando "bem d e acordo com

vossa
que(dos filipenses) cuide
sinceramente expectativa."
do vosso bem-estar: sem dúvida esta afirmativa é
verda deira, ma s o verbo está no futuro (gr. merimnesei, "cuidará") , referindo -se
à ajud a prática que Timóteo lhes porporcionará quando os visita r. O advérbio
sinceramente g n e s i o s nos faz lembrar de como Paulo usa o adjetivo corres
pondente e m 1 Tim óteo 1:2, onde Tim óteo é chamado d e "meu ve rda deiro filho
(gnesios, 'nascido de verdade ') na fé." "Timóteo é um fi lho legítimo, o únic o
representante autorizado do apóstolo" (J.-F. Collange, ad loc.)
2:21 / todos buscam o que é seu: (gr. h oip au tes . . . ta heauton zetousi n).
Nã o fic ou be m claro a que m se refere ess e "todos." Veja-se a opinião de R.
Jewett mencion ada na nota adicional sobre 1:17. En tretanto, seria necessário
uma porção excepcionalmente grande da devoção de Timóteo (tanto a Paulo
quanto aos filipenses) se alguém quisesse empreender, p or amor a Paulo, uma
viagem de quarenta dias a pé, até Fili pos, e mais qua renta dias para regres sar.
Veja-se G. B. Caird (ad loc.).
2:24 / Mas confio no Senhor: gr. p e p o i th a .. . en k y r io . Cf. o particípio
p e p o ith o s
pe esse versículo.em 1:6,14,25. Quanto a no Senhor cf. 1:14 e a nota adicional
rfeito
sobre
também eu mesmo em breve irei ter con vosco: de acordo com G. B. Caird,
"ele não teria tido muita confiança em sua liber tação, pois do contrário não teria
necessidade de enviar Timóteo" (ad loc.). E ntretanto, Paulo enviou a Timóteo
de Efeso a Co rinto, antes de sua própria ida (1 C oríntios 4:17, 19), quando não
havia iminência de motivo de força m aior que poderia impedi-lo de ir pessoal
mente, na devida ocasião.
15. Elogio a Epafrodito (Filipen ses 2: 25 -3 0)

Antes ainda de Timóteo partir, Paulo tem outro emissário pronto para
ir a Filipos. Epafrodito, emissário da igreja filipense em visita a Paulo,
deveria voltar imediatamente, sem esperar para saber como seria decidi
do o processo de Paulo.

2:25 / Epafrodito havia vindo de Filipos, a fim de visitar Paulo,


trazendo-lhe um a oferta daquela i greja (cf . 4:18). Quando Paulo decrev e
Epafrodito como seu colega de trabalho e irmão de armas (cooperador
e companheiro nos combates), poderá est ar in dic an do qu e E pafr odit o
em alguma época anterior havia estado ao seu lado, partilhando seu
trabalho apostólico e que, após haver-lhe entregue a oferta da igreja
filipense, pe rm anecera por ali , executando algum trabalho m inisteri al. O
caráter extenuante da obra evangelística fica evidenciado pelo gosto de
Paulo em descrevê-la em termos de atletismo ou militares. E possível
mesmo que os crentes filipenses tenham instruído Epafrodito a perma
necer ali, após haver entregue a oferta a Paulo, a fim de ajudá -lo naquilo
que porventura o apóstolo estivesse necessitando. Esta idéia pode ter
surgido por tê-lo Paulo cham ado de vosso enviado ou "mensageiro" (gr.
apostolos). Os "mensag eiros apostoloi das igrejas" gozavam de status
especial, como representantes credenciados de suas igrejas, para propó
sitos específicos (cf. 2 Coríntios 8:23, "são embaixadores das igrejas").
Talvez Epafrodito não tenha recebido formalmente esse status da igreja
filipense, mas Paulo se refere a ele com o respeito devido a tal repre
sentante: ele é vosso apostoloi e meu leitourgos (um ministro que atende
às minhas necessidades), diz Paulo, escolhendo esta última palavra
também como denotando pessoa que merece respeito (refere-se a uma
pes so a qu e pre st a se rv iç o re ligi os o) .
E provável que a igreja filipense tivesse tido a intenção de deixar
Epafrodito mais tempo ao lado de Paulo, para pro ver às suas necessi
dades, representando a igr eja. Paulo deixa bem claro que ele é o respon
sável por enviar Epafrodito de volta antes do tempo esperado. Julguei,
contudo, necessário mandar-vos Epafrodito, diz o apóstolo, e prosse
gue, dando as razões disso.
(Filipenses 2:1 7-25a) 99

2:26 / Pouco depois de sair de Filipos, Epafrodito caíra doente. A


doença dele suscita algumas perguntas, para as quais não podemos dar
respostas certas. Teria ele ficado doente a caminho de ver Paulo, ou após
haver chegado ao lugar onde estava o apóstolo? A opinião comum é que
ele adoeceu após haver chegado; todavia, é preciso considerar a possibi
lidade — na verdade, a probabili dade — de a doença tê-l o aco metido a
caminho. G. B . Caird, por exemplo, conclui assim: "Ele caiu doente na
estrada de Filipos a Roma, e sua determinação era completar a viagem e
desincumbir-se da missão que quase lhe custou a vida" (ad loc.).
Se Paulo estivesse em Roma (como acreditamos), Epafrodito teria
viajado p arti ndo pelo oeste de Fi lipos, percorrendo av ia Inácia. Nalgum
ponto no tr aje to da es trada ele fi co u doent e, e se us am ig os de Filip os
ficaram sabendo. Não sabemos como foi que souberam. Talvez (e o
máximo que podemos afirmar é "talvez") Epafrodito tenha conseguido
enviar uma mensagem aos filipenses, mediante alguém que viajasse na
direção oposta, avisando-os de que estava impedido de prosseguir a
viagem (pelo menos não o conseguiria dentro de um tempo razoável) e
pedin do-l hes qu e m andass em outr a pess oa até ond e ele se encontr ava, a
fim de apanha r a oferta e levá-la a Paulo, em Roma. E natural que a igreja
de Filipos tenha ficado preocupada com Epafrodito, mas tenha tido
dificuldad e em encontrar alguém que o subst ituíss e; os crentes só pod iam
esperar que Epafrodito se restabelecesse a tempo, de modo que pudesse
terminar a viagem.
Epafrodito restabel eceu-se e conseguiu terminar sua viagem a Roma;
mas sabia que seus irmãos em Filipos estariam ansiosos a seu respeito.
Talvez chegasse a culpar-se por causar-lhes tanta ansiedade. Embora
estivesse muito angustiado p or ca usa disso , d ese ja va m uito fic a r co m
Paulo e prestar-lhe algum serviço, conforme as instruções que recebera.
Entretanto, Paulo sabia que quanto antes Epafrodito voltasse a Filipos,
melhor seria para ele e para seus irmãos filipenses, pelo que o mandou
de volta, isentando-o perante aquela igreja de toda responsabilidade pelo
regresso tão rápido.

2:27 / E certo que Epafrodito esteve doente. Na verdade, esteve tão


mal que quase morreu. Enquanto não recebessem a carta, os filipenses
não fi cariam sabendo quão grave fora a doença do moço. Não fa zia mal
que ficassem sabendo agora, já que era o própr io E pafrodito qu em lhe s
106 (Filipenses 2:25-30)

levava a carta; podiam ver por si m esm os que agora ele esta va são e salvo.
Paulo se sentira consternado, na verdade, pelo fato de Epafrodito ter
corrido risco de morte, por causa de seu anseio de servi-lo em nome da
igreja de Filipos. Paulo teria tido tristeza sobre tristeza, houvesse o
moço falecido. Seu restabelecimento foi prova da misericórdia de Deus
par a co m E pafr odit o, m as fo i ta m bém pro va de m is er ic órd ia di vin a pa ra
com o próprio Paulo, na ótica do apóstolo.

2:28 / Agora que Epafrodito estava restabelecido, de bom grado teria


per m an ec id o em R om a a fi m de at ender a Pau lo aind a mais. E ntr et an to ,
o apóstolo lh e dis se: "Não. No ssos amigos lá em Filipos estão ansiosos

po
quer você
ca us asede vo cê , e fi carã
recuperou. Alémo aldisso,
iv ia do
vous dar-lhe
ao ve reuma
m cocarta
m seque
us você
pró pri os ol ho s
lhes
entregará, em que digo como as coisas a meu respeito estão caminhando
e na qual lhes agradeço a oferta da parte deles, de que você foi p orta dor ."
O próprio Paulo ficaria muito mais aliviado ao pensar na alegria mútua
que Epafrodito e seus irmãos filipenses experimentariam quando se
vissem unidos o utra vez, em segurança. Em última análise, foi por causa
do amor deles por Paulo que tanto Epafrodito quanto os demais crentes
de Filipos se sentiam angustiados, ansiosos, e o amor de Paulo por eles
fê-lo aliviar essa aflição o quanto antes. Assim, Paulo haveria de sentir
menos tristeza por te r sido a ca us a in vol untá ria da an gús tia deles .

2:2 9/E ntão, pros segue Pau lo, recebei-o no Senhor com todo o gozo.
Esta não é a única ocasião em que Paulo solicita boas-vindas para um
emissário seu: de modo semelhante ele pede aos crentes romanos que
recebam Febe "no Senhor, como convém aos santos" (Romanos 16:2).
Entretanto, não é preciso apresentar Epafrodito aos crentes filipenses.
Ele é um deles e, com toda certeza, será recebido com todo o gozo ao
voltar — será recebido "no Senhor," como irmão, membro da comuni
dade de cr entes. A inda que parte de sua missão po r força maior houvesse
ficado po r cump rir, assim lhes pede Paulo: "apesar de tudo, recebei-o
bem: sou eu qu em o m an da de volta pa ra casa."
Pessoas como Epafrodito são as que são dignas de honra na igreja.
Paulo emprega o mesmo tipo de palavreado ao elogiar Estéfanas e sua
fam ília, perante os crentes corí ntios. Visto que el es se têm "dedicado ao
ministério dos santos," ele suplic a à i greja de Corint o: "que também vos
sujeiteis a estes, e a todo aquele que auxilia na obra e trabalha"; ao
(Filipenses 2:25-30) 107
mencionar alguns outros de mesmo caráter, o apóstolo acrescenta: "Re
conhecei aos tais" (1 Coríntios 16:15-18). Os filipensesjá tinham seus
"bispos e diáconos" (1:1); pelo seu trabalho sacrificial, altruísta, Epafro
dito se mostrara muito bem qualificado para pertencer a esse grupo.
Estas instruções de Paulo estão em perfeita harmonia com os ensinos
de Jesus, de acordo com quem as maiores honrarias, entre seus seguido
res, pertencem aos que prestam os serviços mais humildes (Marcos
10:42-45; Lucas 22:24-27; cf. João 13:13-15).

2:30 / Epafrodito (ao lado de outros que se parecem com ele) precisa
receber honra, repete Paulo, porque pela obra de Cristo chegou até
bem próximo da morte, não fazendo caso da vida. O moço deixou-se

gastar no serviço como emissário de seus irmãos da igreja filipense, ao


fazer por eles o que a igreja como um corpo não conseguiria fazer (nem
todos poderiam empreender aquela viagem a Roma, para visitar Paulo).
Epafrodito deixou-se gastar também ao prestar serviço a Paulo, minis
trando ao apóstolo não apenas por sua própria conta, mas também como
representante da igreja filipense. Tanto Paulo quanto a igreja de Filipos
estavam eng ajados na mesm a obra evangelística (1: 5), pelo que, ao servir
a Paulo e sua igreja, o moço servia à causa de Cristo.
N ão fo i co m p re m editação del ib era d a qu e P aulo ap re se nto u tr ês
exemplos da mesma atitude de auto-renúncia, "o mesmo sentimento que
houve em Cristo Jesus" (v. 5). Contudo, foi isso mesmo que o apóstolo
fez. Sua própria prontidão para sof rer o martírio, que fosse cre ditado na
conta espiritual de seu s irmãos filipense s, o trabalho altruísta de Timóteo
em favor de Paulo, mais seu interesse genuíno pelos demais crentes, a
devoção de Epafrodito à missão que lhe fora confiada, com grande risco
à saúde e (como deveria ter sido) à própria vida — tudo isso demonstra
o cuidado pelo próximo, cuidado isento de egoísmo, pregado por Paulo
no início deste capítulo, e enfatizado pelo poderoso exemplo do auto-es-
vaziamento do próprio Cristo.

Notas Adicionais 15
2:25 / R. W. Funk ("The Apostolic Parousia : Form and Significance," em
Farmer, Moule and Niebuhr, Christian History, p. 250) considera os w . 25-30
como estando ligados à "parousia apostólica" propria men te dita (vv. 19-24),
sendo uma passagem secundária porém relacionada . Os elementos que caracte
rizam um a "parousia apostólica" encontram- se nos w . 25-30, que s ão: (a) envio
108 (Filipenses 2:25-30)
de emissário com nome, credenciais e propósitos; (b) anseio do emissário em
ver aqueles a quem busca; (c) benefícios resultantes sobre a pessoa procurada,
mediante o envio do emissário; (d) benefícios resultantes a Paulo por haver
enviado um emissário.
Julguei, co ntudo, nece ssári o: gr. anankaion de hegesamen, onde hegesa-
m e n com toda probabilidade deve ser tomado como aoristo epistolar (i. é, a
pe rsp ectiv a de temp o é a de seus leitores, não a do redator). Cf. epempsa (v.
28 ).

Epafrodito, que significa "amoroso" (derivado de Afrodite), era nome


pe ssoa l ba sta nte comu m; cf. o patro no de Josefo, Ep afrodito, a qu em seus
últimos trabalhos foram dedicados (Ant. 1.8; Vida 430; A g a i n s tA p i o n 1.1; 2.1,
296). Epafras de Colossos (Colossenses 1.7; 4:12; Filem om 23) te m um nome
que é abreviatura de Epafrodito, não havendo, todavia, necessidade de identifi
car a ambos.
Cooperador e companheiro nos combates: gr. synergos e synstratiotes ,
duas palavras compostas preferidas por Paulo, com s y n (cf. 4:3, sy(n)zygos
"coleg a de jugo"). Paulo também usa synergos a respeito de Priscila e Aquila
(Romanos 16:3), Urbano (Romanos 16:9), Timóteo (Romanos 16:21; 1 Tessa-
lonícenses 3:2), Tito (2 Coríntios 8:23), Filemom (Filemom 1), bem como outras
pesso as, de fo rm a mais ab ran gente (Filipens es 4:3). Quanto ao termo synstra
tiotes, Paulo o aplica também a Arquipo, de Colossos (Filemom 2). Noutras
pa ssag en s o apó sto lo se refe re ao m inistério eva ng élico em term os de cam panha
militar (strateia , como em 2 Coríntios 10:4) e refere-se a si próprio e a seus
colaboradores como estando empenhados numa guerra ( strateuesthai ) espiri
tual, como em 1 Coríntios 9:7; 2 Coríntios 10:3).
vosso enviado para prover às minhas necessidades: eis uma tradução feliz
do hendíadis "vosso mensageiro ( apostolos e ministro leitourgos pa ra minha
necessidade." Quanto ao termo um tanto sacro leitourgos cf. leitourgia em
2:17, 30. Em Romanos 15:16 Paulo é o leitourgos de Cristo Jesus aos gentios
desempenhando uma "função sacerdotal" ( hierourgein ); em Romanos 13:6 até
mesmo governadores seculares são "ministros ( leitourgoi ) de Deus."
2:26 / Quanto ao momento em que Epafrodito ficou doente, veja-se W. J.
Conybeare e J. S. Howson, The Life and Epistles ofSt. Paul, p. 722; B. S.
Mackay, "Further Thoughts on Philippians," N T S (196 0-61 ), p. 169; C. O.
Buchanan, "Epaphroditus' Sickness and the Letterto the Philippians," EQ 36
(1964), pp. 157-66.
angustiado: gr. ademonon, te rmo em pregado a respei to de Jesus no G ets ê-
mani, em M arc os 14:33 par. M ateus 26:3 7 ("angusti ar-se m uito” ), repre 
sentando a trist eza que se segue a um grande c ho qu e" (H. B. Swete, The G ospel
A c c o r d i n g to S t. M a r k ,p.
342).
2:28 / Por isso vo-lo enviei mais depr essa : gr. spoudaioteros ou n epem psa
auton, em que epempsa é aoristo e pistola r (cf. hegesamen no v. 25) e spoudaio
teros enfatiza a iniciativa de Paulo de en viá-lo de volta.
W. Schmithals sugere que, além de t odas as razões plausíveis de Paulo para
(Filipenses 2:25-30) 109
enviar Epafrod ito de volta, o apóstol o talvez desejasse colocar na igreja filipe nse
um homem em quem podia confi ar, alguém que provi denciar ia tud o p ara qu e
Paulo recebesse relatórios exatos a respeito da situação ali ( P a u l a n d th e
G nostics , pp. 70, 71). Esta sugestão liga-se à opinião de Schmithals de que
Paulo estava perturbado pelas tendências gnostizantes da igreja filipense.
2:30 / chegou até bem próximo da morte: gr. p a r a b o l e u s a m e n o s t e p s y c h e ,
lit. "tendo jog ado sua vida" (esta é a única ocorrênci a da palavra p a r a b o l e u e s -
thai no NT).
pela obra de Cristo: a redação variante "pela obra do Senhor"
encontra-se em vários fragmentos textuais, inclusive Aleph A P Psi
(talvez pe la influ ên cia de 1 Co ríntios 15:58; 16:1 0). De acordo co m J. B.
Lightfoot, "obra" sem genitivo (como em C) é o texto srcinal.
para suprir para comigo o serviço que vós próprios não podieis
prestar lit eral mente, "a fim de suprir a vossa defici ência para co m igo"
(gr. hina anap lerose to hym on h yster em a tes pr os m e leit ourgias). A
leitourgia inclui ria a ofert a m encionada em 4:10-20, trazida a Paul o po r
Epafrodito (cf. o verbo leitourgesai usado para ofertas monetárias em
Rom anos 15: 27) ; mas seu sentido não fi ca limitado a es te. Ali estava um
ministério que a igreja filipense podia prestar, e o fez, mas a ministração
pess oal qu e Paulo re ceb eu de E pafr od it o, em R om a (com o leitourgos
dos f ilipense s às necessidad es do apóstolo, v. 15), essa i greja não po de ria
pre st ar- lh e, em cará te r pess oal, e es se serviço es tá incluí do na leitourgia.
16. Primeira Conclusão: Chamada ao Regozijo
(Filipenses 3:1)

"Com esta comunicação a respeito de Epafrodito, agora, parece que a


carta chega ao final" (Ewald, ad loc.). Se assim é, nada mais restaria
senão uma palavra final de despedida. O leitor está preparado, portanto,
para a ex pr es sã o Quanto ao mais, irmãos meus.

3:1 / Quanto ao mais, irmãos meus: a inferência natural desta frase


(conclusão tirada pela maioria dos com entarist as) é que Paulo está prestes
a encerrar sua car ta. Se est a for considerada uma unidade, deve-se
pre su m ir qu e ocorr eu algo qu e m otivou a ad vert ência do vers íc ulo 2 e
seguintes.
A exortação regozijai-vos é expressa num a palavra (gr. chairete), que
também é uma forma comum de saudação em despedida: "até logo."
A redação aqui, Quanto ao mais, i rmãos meus, regozijai- vos. . . (gr.
to loipon, adelphoi mou, chairete . . . ) é muito semelhante à de 2
Coríntios 13:11 (gr. loipon, adelphoi, chairete ), onde o sentido certa
mente é: "finalmente, irmãos, até logo." A principal razão para não
tomarmos as palavras de Filipenses 3:1 no mesmo sentido é que há uma
sentença adicional: no Senhor (gr. en kyrio ; cf. 4:4). Regozijai-vos no
Senhor ecoa como um a exortação repetida nos Salmos (cf. 32:11; 33:1).
O povo de Deus regozija-se nele porque ele é "a minha alegria e o meu
pra ze r" (S al m os 43:4) ; cf. R om an os 5:11 , "t am bé m nos glo ri am os em
Deus." Não é necessário atribuir a no Senhor, aqui, seu sentido incor-
po ra tivo .
Surge, agora, a pergunta: quais são as mesmas coisas que Paulo já
havia escrito antes, e que ele não se incomoda em escrever outra vez?
Esta referência pode ligar-se à exortação para que o povo se regozijasse,
em 2:18 (cf. também 1:25; 2:28, 29), mas é difícil ver como uma
exortação reiterada para regozijar-se representaria segurança para vó s.
G. B. Caird explica que a alegri a "é segurança contra a atitude utilitária
que jul ga p essoas e coisas só pelo uso que se lhes pode dar" (ad l oc.) .
Por o utro lado , F. W. Beare (ad loc.) , considerand o 3:2-4 como frag m en 
to de outra carta de Paulo, que foi editorialm ente interpolad o entre 3:1 e
4:2, toma essa referência com o exo rtação de Paulo à unidad e, o que já
(Filipenses 3:1) 111
foi expresso em termos gerais em 2:1-4, estando agora prestes a ser
repeti do com respei to a duas pessoas cujos nomes são mencionados em
4:2. Outra possibilidade é que a segunda metade de 3:1 liga-se intima
mente à advertência de 3:2, referindo-se a exortação semelhante dada em
carta anterior, que se perdeu (cf. J. H. Michael, ad loc.). No todo, a
despeito de algumas dificuldades, parece que é melhor entender que as
mesmas coisas é expressão ligada ao apelo de regozijo em 2:18 e outras
pass agen s.

Notas Adicionais 16
3:1 / Na obra The N ew Testament: an Am erican Translat ion, a primeira
oração é traduzida assim: "Agora, meus irmã os, até logo, e o Senhor esteja

convosco"; cf. Se
E. nhor
J. Goodspeed, P r o b l e m s o fM e w T e s ta m e n t T r a n s la ti o n ,
174, 175. "O esteja convo sco" é tradução exce ssivam ente livre de pp. en
kyrio, "no Senhor."
Quanto ao significado de quanto ao mais e a importância de as mesmas
coisas, veja-se (além dos comentários e introduções ao NT) W. Schmithals , P a u l
and the Gn ost ic s, pp. 71-74 ; ele trata de 3:2— 4:3 e 4 :8, 9 c omo sen do parte de
outra carta de Paulo, e argume nta contra a divisão do v. 1, de modo que rela ciona
sua segunda oração ao que se segue imediat amente, como tam bém sugerem R.
A. Lipsius, F. Haupt e P. Ewald (ad loc.).
e é segurança para vós: é tradução literal (gr. asphales). V. P. Fum ish ("The
Place and Purpose ofPhilippia ns iii," N T S 10 (1963-64), pp. 80-88) argumenta
que o adjetivo asphales (não encontrado em nenhum outro texto de Paulo)
significa aqui "específico" ou "confiável" (como em Atos 25:26) e (de modo
be m convincente) diz que "es crever as mesm as coisas" (t a auta graphein )
significa "dar as mesmas admoestações por escrito que Timóteo e Epafrodito
foram instruídos a dar-lhes oralmente" (e não, como aparece em ECA: escre
ver-vos as mesmas
As palavras coisas outra vez).
em oi men oukokn eron, hymin de asphales ("não aborrecido para
mim, e segur o para vós" ) podem bem formar um trímetro jâm bico (que Paulo
menciona, copiando de alguma fonte qualquer), ainda que um p urista objetaria
contra o corte no penúltimo pé espondaico, por violar "a lei do crítico final."
17. Advertência Contra os "Maus Obreiros"
(Filipenses 3:2-3)

De pois de "quanto ao mais , irmãos m eus," do v . 1, est a advertênc ia


vem com o surpresa, junta m ente co m as exortações dos vv. 18 e 19,
formando parte substancial da carta em sua apresentação atual. É por
meio de contrast e com aqueles contra quem Paulo lança tais advertências,
que o apóstolo estabelece seus próprios propósitos e modo de viver (vv.
7-14).

3 :2 / Então, quem são esse s maus obreiros, os cães contra quem Paulo
adverte seus leitores, para que est ejam alertas ? E certo que se iden tificam
com os que praticam a falsa circuncisão (as três expressões denotam as
mesmas pessoas), sendo que estas últimas palavras nos dão a pista para
descobri-los. No srcinal há um único substantivo, usado por Paulo num
trocadilho depreciativo em torno de "circuncisão" (gr. p e r ito m e ), tra d u 
z i d a e m te x t o s a n t i g o s p o r " c o n c is ã o " (g r. k a t a t o ).
m eAs vezes Paulo
usa a palavra "circuncisão" como substantivo coletivo, como quando
Pedro é chamado de apóstolo "da circuncisão" com o significado, como
N IV a trad uz : "p ar a os ju d eu s" (G álat as 2: 7- 9) . A qui, a pala vra "c onci
são" é usada d e modo semelhante, para indicar "os que mutilam a carne",
ou o "partido da mutilação", como diríamos.
Para Paulo, circuncisão era um termo sacro, aplicado não apenas no
seu sentido literal, mas também para a purificação e dedicação do
coração. H á um precedente disto no AT, em De uteronôm io 10:16 ("cir-
cuncidai, portanto, o vosso coração") e em Jeremias 4:4 ("circuncidai-
vos para o Senhor, e tirai os prepúcios do vosso coração"), em que a
ênfase é colocada na circuncisão do coração, que é o que Deus
realmente deseja. O conteporâneo mais velho de Paulo, Filo de Ale
xandria, concorda em que circuncisão significa "a remoção do prazer
e de todas as paixões e a destruição da glória ímpia," mas discorda
daqueles que acreditam que o rito externo pode ser descontinuado
desde que a lição espiritual seja praticada ( M i g r a t i o n o f A b r a h a m , 9 2 .)
Aqui, portanto, Paulo aplica àqueles que insistem no rito externo uma
p aró d ia deprecia ti va da pala v ra sa cra — p aró dia qu e li ga a cir cu ncis ão
literal àqueles cortes que os pagãos praticavam no corpo, e que eram
(Filipen ses 2:17 -5 7a) 99
p ro ib id o s p el a lei de Is ra el (L ev ític o s 19:2 8; 21 :5 ; D eute ro n ôm io 14:1;
cf. 1 Reis 18:28).
Entretanto, não é aosju deu s em geral que Paulo se refere aqui d e form a
tão fulminante, e t ampouco àquelesju deus crist ãos que ter iam continua
do a praticar a circuncisão em seus filhos, de acordo com a tradição
ancestral. As pessoas contra quem os gentios cristãos deveriam perma
necer em guarda, e a quem Paulo denuncia noutras passagens, usando o
mesmo tipo de palavreado contundente empregado aqui, são as que
visitavam as igrejas gentias e insisti am em que a circuncisão era condição
essencial , indispensável pa ra sere m justificados perante Deus. Tal insis
tência havia sido concebida como parte da campanha que visava levar os
conv ertidos gentios de Paulo sob o contr ole da igreja-mãe em Jerusalém.
E certo que Paulo fazia o máximo para enfatizar a independência de seus
convertidos: não estavam sob o jug o de Jerusalém. Todavia, a objeção
b ási ca de P aulo er a qu e a in si st ência na ci rc un cis ão dest ru ía o ev angelh o
que proclamava que a graça de Deus é que justific aju de us e genti os, de
modo igual, mediante a fé em Cristo, sem necessidade alguma da
circuncisão ne m de qualquer outra exigência legal . Os juda izan tes são,
então, os que "mutilam a carne", a falsa circuncisão — ou , "m u tila do-
res", como H. W. Montefiore adequadamente traduz este termo.
Ao chamá-los de maus obreiros, é possí vel que Paulo tenh a em m ente
os que praticam a iniqüidade" (NIV: "todos quantos praticam o mal,"
"vós todos que praticais o mal") que alguns dos salmistas usaram para
descre ver seus inimigos (cf. Salmos 5:5; 6: 8; etc.); ele s e refere à mesm a
classe de i ntrusos de 2 Coríntios 11:13, os "obreiros fraudule ntos". Na
mente do apóstolo, esses homens estavam executando a obra do diabo,
ao subverter a fé dos crentes gentios. Ao chamá-los de cães, é possível
que Paulo lhes estivesse devolvendo um termo injurioso com o qual
aqueles homens chamavam os gentios incircuncisos; seria termo bem
apropriado, ademais, se Paulo os estivesse retratando como perambulan-
do ao redor das igrejas gentias, tentando "abocanhar" prosélitos, ganhar
novos adeptos para seu modo de pensar e de viver.
N ão fic a im pl íc ito qu e es se s ho m ens já h av ia m -s e in fi ltra d o até o
âmago da com unidade crist ã fili pense. Todavia, com toda a pro babilida
de tentari am u sar a mesm a tát ica em Filipos que já haviam usado em
Corinto (cf. 2 Coríntios 11:4-6 ,12-15 ,20), pelo que os cristãos filipense s
são advertidos de antemão contra os tais.
132 (Filipenses 3:12-58)

3:3 / Pois a circuncisão somos nós, diz Paulo. (Eis outro exemplo de
"circuncisão" como substantivo coletivo). A verdadeira circuncisão, "a
circuncisão nâo feita por mâos ... a circuncisão de Cristo" (Colossenses
2:11), é questão de purificação e consagração interior. Os que podem
dizer: a circuncisão somos nós pre st am a Deu s dev oçã o ve rd adei ra , do
coração: nós, que servimos a Deus em Espírito. Este foi o ensino de
Jesus à mu lher sam aritana, à beira do poço: "Deus é Espírito, e importa
que os que o adoram, o adorem em espírito e verdade" (Joâo 4:24). Tais
pes so as dizem: nó s nos gloriamo s em Cristo Jes us — m ais litera lm en te :
nós "nos vangloriamos em Cristo Jesus"; o Senhor é o objeto da exultaçâo
dos crentes (nâo há necessidade de dar à frase "em Cristo Jesus" seu
sentido incorporativo.) Muitas vezes Paulo menciona as palavras de
Jerem ias 9:24 : "Aquele que se gloria, glorie-se n o Senhor" (1 Coríntios
1:31; 2 Corín tios 10:17). E possível que o apóstolo esteja alud indo a esse
mesmo texto aqui; para Paulo "o Senhor" é Cristo Jesus.
A carne daqui em diante deixa de ser importante. A circuncisão física
foi substituída pela circuncisão do coração, que se efetua "no espírito,
nâo na l etra " (Romanos 2:29 ). A palavra traduzida por carne (gr. sane)
é usada por Paulo não apenas em seu sentido comum mas também para
denotar a natureza humana nâo-regenerada e, às vezes, para incluir
pra tica m en te tu do (m en os D eu s), to da s as co isas na s qu ais as pe ss oa s
confiam, e por isso erram.

Notas Adicionais 17

3:2 / "Sempre parecerá extraordinário," escreveu H. J. Holtzmann, "que a


carta na verdade tenha seu centro bem no ponto onde parece encaminhar-se para
o final" (Einleitung in das Neue Testament p. 301). A transição abrupta,
passando para uma nota de advertência, tem sido explicada de várias maneiras:
por causa de situações que mudaram e que afe tar am a atitude de Paulo, enquanto
ditava a carta (R. A. Lipsius, ad loc.); por causa de um estímulo atrasado da
parte de Timó teo (P. Ewald, ad loc.); ou p or causa de um re latório recentíssim o
que chegara a Paulo no momento (J. B. Lightfoot, Philippians, p. 69).
Acautelai-vos é a tradução do gr. blepete, que se emprega de modo seme
lhante em várias passagens de advertência, no NT; cf. M arcos 4:24; 8:15; 12:38;
13:5, 9; 1 Coríntios 8:9; Gálatas 5: 15; Colossenses 2:8; etc. A palavra pode
significar, é claro, apenas "vede", "prestai atenção" (cf. G. D. Kilpatrick,
"Blepete Philippians 3:2," em M. Black e G. Fohrer, eds., In Mem oriam Paul
Kahle pp. 146-48), mas, no presente contexto, há indicação de um sentido mais
premente.
(Filipenses 3:12-14) 133
Câes eram considerados animais imundos (cf. Apocalipse 22:15) porque nâo
eram meticulosos quanto às coisas que comiam. J. B. Lightfoot (ad loc.) cita
Ciem. Hom. 2.19, onde (com referência a Mateus 15:26), se diz que os gentios
sâo chamados de câes porque seus hábitos concernentes a alimentos e conduta
sâo muito diferentes dos hábitos israelitas.
A idéia de que a falsa circuncisão se refere ajudeus que nâo receberam a fé
cristã (cf. E. Lohmeyer, ad loc.) pode ser excluída, porque Paulo nâo usa
linguagem tão carregada de opróbrio ao falar de s ua própria gente, seus patrícios
naturais; além disso, nâo parece que haveria uma comunidade judaica tão grande
em Filipos (vejam-se pp. 4-5). Quanto à opinião de W. Schmithals ( Pa ul and
the Gnostics, pp. 65-91) segundo a qual se tratava de gnósticosjudaico-cristâos,
he katatome teria sido uma forma muito i mprecisa e desorientadora de s e
designar tais pessoas. Como ocorre com muitas das características das interpre
tações de Schmithals, o gnosticismo precisa passar por Filipenses 3:2 a fim de
ser devidamente interpretado.
3:3 / nós, que servimos a Deus em Espírito: gr. hoi pneumati theou
latreuontes, para esta redação existe uma variante menos prestigiada: hoi
pne umati theo latreuontes (que assim aparece em KJV: "que adoram a Deus
em espírito").
18. Antigo Código de Valores de Paulo
(Filipenses 3:4-6)

Quando Paulo se gloria de que poderia mostrar um relatório mais


expressivo "na carne", do que a maioria das pessoas, se atribuísse alguma
importância à carne (que não atribui), ele se refere não apenas às
cerimônias externas mas a uma vasta gama de heranças, dotações e
reali zações. Contem plar tão var iado cam po hum aníst ico noutros tempos
o encheria de satisfação, coisa que agora não acontece mais.

3: 4/ Se um a linhagem e uma educação ortodoxas , segui das de grandes


realizações pessoais na esfera moral e religiosa, assegurassem posição
pr iv ileg ia da na pre se nç a de Deu s (co mo se de du z a resp eito da s pe ss oa s
contra quem Paulo direciona suas advertências), Paulo não precisaria t em er
concorrência. Há íntima afinidade entre suas palavras aqui e 2 Coríntios
11:21 ss ., onde ("com insensatez falo") relaciona coisas de que poderia
gabar-se, se a vangloria fosse apropriada e, a seguir, exclui a idéia de
vangloriar-se naque las coisas, considerando-as loucura tota l. Isto nos indica
que os adversários que ele tem em mira agora são da mesma espécie
daqueles a quem castiga em 2 C oríntios 11:12-1 5; seria até fácil crer que
esta advertência tenha sido redigida mais ou menos à mesma época de 2
Coríntios 10-13. A inda que tais pessoas ain da não se houv essem infiltrado na
igreja de Filipos, poderiam muito bem estar tentando. Não é tão certo, como
ju lg a W. Schm ith als (Paul an d the Gnostics) , que a linguagem de Paulo reflet e
alguém tentando minar-lhe a autoridade, aos olhos dos filipenses.

3:5 / Paulo relaciona agora sete itens que, outrora, lhe teriam dado
confiança diante de Deus.
Circuncidado ao oitavo dia, como todo menino israelita deveria ser,
de acordo com os termos da aliança de Deus, celebrada com Abraão
(Gênesis 17: 12). P aulo era jud eu de nascimento, e não prosélito vindo
do paganismo, que era circuncidado à época da conversão.
Da linhagem de Israel. Havendo nascido no seio do povo escolhido
e admitido à comunidade da aliança mediante a circuncisão, Paulo
herdou todo s os privilé gios que pertenciam a essa comunidade — privi
légios que enumera em Romanos 9:4, 5.
(F ilipe nse s 2:17-6a) 99
Da tribo de Benjamim. É evidente que Paulo atri buía alguma impor
tância ao fato de ser membro desta tribo; ele o menciona também em
Ro ma nos 11:1. Be njam im foi o único filho de Jacó nascido na terra santa
(Gênesis 35:16-18). Quando a monarquia davídica se rompeu, após a
morte de Salomão, a tribo de Benjamim, situada na fronteira norte de
Judá, passou a fazer parte do reino do sul. Após o retorno do exílio
b ab il ó n ic o , houve asse n ta m ento s em Je ru sa lé m e no s te rr itó ri o s ad ja c en 
tes, por mem bros da tribo de Be njam im (N eemias 11: 7-9 , 31-36). Foi
através de tais ancestrais que a família de Paulo teria traçado sua
ascendê ncia. Seus pai s ter-lhe-iam dado o nome de Saulo (cf. Atos 7:58;
13:9; etc.) em homenagem ao primeiro rei de Israel, o mais ilustre
membro da tribo de Benjamim, na história hebraica.
Hebreu de hebreus (hebreu, filho de pais hebreus). Isto implica em
algo mais do que ser "israelita de nascimento," como em 2 Coríntios
11:22, onde ele afirma, de seus adversários: "São hebreus? também eu.
São israelitas? também eu." "Hebreus" no sentido especial (como pro
vavelmen te em Atos 6: 1) eram os jude us que normalmente falavam
aramaico entre si, e freqüentavam sinagogas em que se celebrava o culto
em hebraico (bem diferentes dos helenistas, que só falavam o grego). De
acordo com Lucas, Paulo ouviu a voz celestial na estrada de Damasco
falando-lhe em hebraico (Atos 26:14), e o apóstolo pôde dirigir-se a uma
multidão hostil, num discurso de improviso, em hebraico (Atos 21:40;
22:2); em amb as as ocasiões, a palavra "hebraico" p oderia ter sido usada
no senti do de incluir o aramaico. D iferentem ente de mu itos jud eu s da
dispersão, parece-nos que a família de Paulo evitou tanto quanto lhe foi
poss ív el a ass im ilação da cu ltura do am bie nte de Tar so .
Segundo a lei, fariseu. A seita dos fariseus mantinha na consciência
a obrigatori edade de cum prir a lei juda ica em suas minúcias, em bora
todos os membros da comunidade da aliança também estivessem obri
gados a guardar a lei desse modo. Os fariseus, que aparecem pela
p ri m eir a vez na his tó ri a no se gund o sé cu lo a. C., pare cem te r sido os
herdeiros espir ituai s dos hassideus, um grupo piedoso que desemp enhou
importante papel na defesa de sua religião ancestral, quando Antíoco
Ep ifanes (175-164 a.C. ) se propôs aboli-la (c f. 1 M acabe us 2:42; 7:14;
2 Macabeus 14:6). Em épocas anteriores, esses grupos piedosos recebe
ram menção honro sa em M alaquias 3:16-4: 3; a devoção d eles à lei divina
é ilustra da no Salm o 119.
132 (Filipenses 3:12-60)

0 term o fariseu significa "separado"; várias explicações têm sid o


oferecidas mas, referindo-se às pessoas assim designadas, talvez se
enfatizasse a separação que buscavam, fugindo de tudo que pudesse
transmitir impureza ética ou cerimonial. Os fariseus coligiram um corpo
de tradições orais cujo objetivo era adaptar os antigos preceitos da lei
escrita às situações alteradas dos últimos dias, de modo que ficassem
salvaguardados os princípios, impedindo-os de se perderem como obso
letos ou impraticávei s. Nisto os fariseus se distinguiam de seus principais
rivais, os saduceus, que advogavam tão somente a autoridade da lei
escrita, e que rejeitavam também a crença dos fariseus na ressurreição
dos mortos, e na existência de ordens de anjos e de demônios (cf. Atos
23:8). Os fariseus se agrupavam em comunidades locais. Josefo, que
afirma haver orientado sua própria vida segundo os princípios dos
fariseus, desde a idade de dezenove anos, calcula que havia cerca de seis
mil fariseus em sua época (Ant. ).
O fato de Paulo ser mem bro da seita dos fariseus é atestado por Lucas,
que nos relata as palavras do apóstol o: "criado aos pés de Gam aliel
(principal líder fariseu de seus dias [cf. Atos 5:34]), instruído conforme
a verdade da lei de nossos pais, zeloso de Deus" (Atos 22:3); Paulo
dissera a Agripa: "conform e a mais severa seita da nossa religião, vivi
fariseu" (Atos 26:5); afirmara perante o Sinédrio: "eu sou fariseu, filho
de fariseu" (Atos 23:6), dando a entender que não era o prime iro mem bro
da família associado àquela seita, nem que (menos provável) era o
pri m ei ro di sc íp ulo de fa ri seus de sua fa m íl ia .
Segundo o zelo ...: zelo por Deus era uma tradição cheia de honra em
Israel e, nesta época, não se confinava àquele partido de nacionalistas
militantes que vieram a ser conhecidos como zelotes. O precedente de
zelo piedoso havia sido lançado por Finéias (Números 25:7-13; Salmos
106:3 0, 31), Elias (1 Reis 19:1 0, 14) e M atatias, pai de Juda s M acab eu
(1 Macabeus 2:24-28). Paulo se autodescreve em Gálatas 1:13,14, como
tendo sido "extremamente zeloso das tradições de meus pais," muito
mais do que s eus jove ns com panheiros contemporâneos, fornecend o
suprema evidência daquela devoção ou zelo com que impiedosamente
ele "perseguia a igreja de Deus, e a assolava." Em 1 Co ríntios 15:9 ( cf.
1 Tim óteo 1:13, 14) a perseguição à i greja, vista de um a perspectiva
post eri or, co nst it uiu o pe ca do do s pec ad os, to rn ando-o in di gno da gr aç a
que, apesar de tudo, chamou-o para ser apóstolo; entretanto, quando
(Filipenses 3:12-14) 133
Saulo estava empenhado ativamente na obra de perseguir a igreja, ele
achava que isso era um serviço muitíssimo aceitável perante Deus.
Quando em Rom anos 10:2 ele descreve seus compan heiros israelitas
como tendo "zelo de Deus," acrescentando que o zelo é "de Deus, mas
não com entendimento," Paulo está traçando um retrato do homem que
ele mesmo havia sido, esforçando-se mediante seu zelo perseguidor para
firm ar seu próprio modo de t ornar-se justo perante Deus.
De fato, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Eis a
avaliação cristã que Paulo faz de suas atividades pré-cristãs. Ele a faz
partin do de um a pers pect iv a de qu as e trin ta an os de m in is té ri o ap os tó lic o.
N en h u m ju d eu poderi a te r conse guid o m ais, no que co nce rn e a dev oçã o
à sua herança ancestra l. Os pais de João Batista são elogiados po r serem
"ambos justo s perante Deus, andando sem repreensão em todos os
mandamentos e preceitos do Senhor" (Lucas 1:6). Aí está um grande
elogio, na verdade, e Paulo também o merecera. Houve época em que
receber tal elogio era a maior ambição de Paulo, mas agora a grande
reviravolta nos valores havia alterado tudo.
As realizações de Paulo podem ser comparadas às do homem rico que
assegurou a Jesus que havia guardado todos os mandamentos de Deus
desde sua juve ntud e (Marcos 10:20) ou, mais imp ortante ainda, às
pró p ri as de cla ra çõ es de P au lo , diante do Siné dr io , de hav er m an tido boa
consciência diante de Deus durante toda a sua vida (Atos 23:1; cf. 24:16).
O conform ar-se à justiça exigida pela l ei exigia infinita dili gência, m as
(como Paulo comprovara) não era coisa impossível. Ele atingiu a meta,
só para descobrir que de nada lhe adiantara.

Notas Adicionais 18
3:4 / O pronom e que aparece duas vezes: Ainda que eu também poderia
confia r na carne. Se algum outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda
mais é enfático (gr. ego). Cf. a repetição "ainda que", "ainda mais" (gr.
kago=kai ego) de 2 Corín tios 11:22. W. S chmit hals acha que Paulo está
defendendo -se contra agnósticos que o julg am mero hom em carnal, a quem falta
o espírito cristão, não sendo, portanto, um apóstolo de Cristo, mas, quando
muito, um apósto lo de homens (Paul andthe Gnost ics, pp. 90,91). Nada existe
no texto que dê apoio a tal idéia. Paulo está, isto sim, defendendo-se contra os
ju da izan tes que ten tam dim inu ir-lhe o status, ob jetivando exa ltar a pró pria
autoridade pretensamente superior.
3:5 / da tribo de Benjamim. Eis uma das "coincidências não planejadas"
entre Atos e as cartas paulinas; só nestas é que lemos que Paulo pertencia à tribo
136 (Filipenses 3:15-61)
de Benjamim e só em Atos é que lemos que o nome deste jud eu é Saulo. Os
primitivos a utores cristã os traçaram a conexão entre o zelo perse guidor de Paulo
e as palavras acerca de Benjamim, na bênção de Jacó a seus filhos (Gênesis
49:27): "Benja mim é lobo que despedaça; pela manhã devorará a presa, e à tarde
repartirá o despojo" (cf. Hipólito, On the Blessing ofJac ob, ad loc.; cf. A N F 5 ,
p. 168).
Hebreu de hebreus: quanto a hebreus e helenistas, veja-se C. F. D. Moule,
"Once More, Who Were the Hellenists?" E x p T I O (1958- 59), pp. 100-102; F.
F. Bruce, P a u l: A p o s t l e o ft h e F r e e S p i rpp.
i t 42,43.
Segundo a lei: (lit., "de acordo com a lei", gr. kata nomori). A omissão do
artigo definido antes de "lei" ê comum em Paulo; pode refletir a tendência
ju da ic a de tratar a palavra heb raica correspo ndente torah quase como um nome
própr io, não exigindo, portanto, o artigo, quando se trata da lei de Moisés.

"Fariseu"quanto
15.Fariseu: com tod aosafariseus, contulte-se
probabilidade Josefo, doW aramaico
é a tradução a r 2.162-66; A n t. 18.12-
p e r is h a y y a , e
do hebraico p e r u s h i m , "separados" (especialmente no sentido moral). Quanto
à palav ra he braica , cf. um com entário rabínico posterior, L e v i ti c u s R a b b a ,onde
a injunção: "Sede santos porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo" (Levítico
19:2) aparece amplificado: "Assim como eu sou sant o, vós também dev eis ser
santos; assim como eu sou separado, vós também deveis ser separados (perus
him). " Os fariseus eram escrupulosos de modo especial na observância às leis
juda icas sobre alimentação e as con cerne ntes ao dízimo. Davam o dízimo de
ervas do quintal e dizimavam os cereais, o vinho e as azeitonas (cf. Mateus
23:23; Lucas 11:42), e evitavam comer o alimento que ainda estivesse suje ito a
ser dizimado, a menos que tivessem certeza de que esse dízimo havia sido pago.
Consulte-se W. D. Davies, P a u l a n d R a b b in ic J u d a is m E. ; P. Sanders , P a u l a n d
P a le s t in ia n J u d a is m - ,eE. Rivkin , A H i d d e n R e v o lu ti o n .
3 :6 / Em Gálatas 1:14 Paulo chama a s i mesmo de zelote (gr . z e l o te s quanto
às tradições ancestrais; em A tos 22:3 ele afirma perante um auditório jud aic o
em Jerusalém que, antes de sua conversão, ele "era zeloso de Deus, como todos
vós hoje sois"; em Atos 21:20 os anciãos da igreja de Jerusalém dizem a Paulo
que todos os seus membros são zelotes, quanto à lei. Em nenhuma dessas
passag ens o sub stantivo é us ado no sentido de des ignar um parti do (como, por
exemplo, em Lucas 6:15; A tos 1:13, onde a palavra talvez tenha sentido
sectário) . O partido dos zelotes partilhava os princípio s dos fariseu s mas insistia
na adição de um prece ito: seria impermissível que jude us que morassem na ter ra
santa pagassem impostos a um governo pagão (semelhante ao governo romano).
19. Atual Código de Valores de Paulo
(Filipenses 3:7-11)

Paulo considera agora fracasso o que antes considerava grande reali


zação. O que antes el e considera va sem valor e , na verdade, pe rnicioso,
agora reconhece que é o único valor a ser procurado — o conhecimento
pess oal de Je su s co m o Se nh or , part ilhand o a exper iê nci a de su a m ort e e
ressurreição.

3:7 / No mínimo era razoável sentir orgulho, como Paulo chegou a


sentir, por causa de sua folha de serviços meritórios. Se algum leitor
suspeitar de que Paulo ainda sentisse algum orgulho em ser capaz de
apresentar um currículo de realizações tão grandes, todas as suas suspei
tas cairiam por terra em função do que Paulo diz a seguir: mas o que
para mim era lucro, considerei-o perda por causa de Cristo — isto
é, por amor de Cristo, a quem ele desejou receber. Aquelas realizações
se transferiram do lado do crédito, no livro da contabilidade, para o lado
do débito; não só são vistas como sem valor, irrelevantes, mas o apóstolo
se considera mais rico estando despojado delas. Talvez a própria lem
bra nça de ta is re alizações pudess e se r da nos a, se ca rr egas se cons ig o a
tentação de nelas colocar a confiança, outra vez. Só Cristo deve ser digno
da confiança de Paulo, de modo que por causa de Cristo (por amor a
Cristo) todas aquelas coisas em que ele confiava perderam seu valor.

Paulo havia aprendido que, apesar de todas as suas realizações, o único


meio pelo qual teria aceitação diante de Deus era o meio que o apóstolo
p art ilh ava co m o m ai s at ra sa do pag ão co nv er tid o: a fé em Cr isto. Ele nã o
nega que foi grande privilégio tern asc ido jud eu , e ter acesso aos orácul os
divinos (Romanos 3:1, 2); o que ele nega é que a pessoa possa confiar
em tal privilégio, como base para a aprovação divina.

3:8 / Na verdade, não apenas a herança e as realizações pessoais de


Paulo, mas todas as coisas deste mundo foram reavaliadas em Cristo.
Tão grande é a excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu
Senhor, que mediante comparação, todas estas coisas se tornaram não
mera me nte sem valor, mas prejudiciais, com valor negati vo. Tudo quanto
exista fora de Cristo, e do evangelho que Paulo, sob ordem, deveria
132 (Filipenses 3:12-62)
pre gar por to do o m un do, re pre se nta pe so m orto, algo a se r consi dera do
como perda, e serjogado fora, como se fora refugo ou lixo, dejetos de
rua. Quando o apóstolo iniciou seu trabalho para Cristo, no caminho de
Damasco, isso representou a renúncia de tudo quanto tinha valorizado
até aquele momento; mas valeu a pena fazer tal renúncia.
O conhecimento de Deus assumia imenso valor perante os olhos dos
grandes profetas de Israel (cf. Oséias 6:6); para Paulo, o conhecimento
de Deus tinha a suprema mediação de Cristo, e tal conhecimento se
tornava imensamente enriquecido por essa mediação. "Conhecimento"
(gr. gnosis) era termo corrente no vocabulário religioso e filosófico dos
dias de Paul o; o "co nhecim ento" bastante procurado e apreciado em parte
era i ntelectual e em parte místi co. Certas f orm as de cultivo d e " conh eci
mento" dessa época evoluí ram num sist ema de pensamento que aparece,
no segundo século, sob a designação genérica de "gnosticismo." A igreja
de Corinto procurava esse tipo de "conhecimento", que não chegou a
imp ressionar Paulo: 'ÍA ciência (o conhecim ento) incha, mas o amor
edifica", diz o apóstolo (1 Coríntios 8:1). Uma comunidade era ajudada
a crescer em maturidade muito mais mediante o amor a Deus e o amor
fraterna l, mútuo, do que pela busca frenética do conhecim ento. O conhe
cimento de Cristo Jesus, meu Senhor é o conhecim ento pessoal: inclui
a experiência de ser amado por Cristo, e de amá-lo, em troca — e em
amar, por amor de Cristo, todos aqueles por quem ele morreu. Não se
tem certeza se aqui, como na correspondência aos Coríntios, Paulo está
contrastando seu conhecimento pes so al de Cristo com as formas infe
riores de conhecimento: é certo que o apóstolo está enfatizando que
conhecer a Cristo é o único conhecimento que vale a pena possuir, pois
é um conhecimento tão transcendent al em seu valor que compen sa toda
e qualq uer perda, se ja do que for .
Conhecer a Cristo e ganhar a Cristo são duas formas de exprimir a
me sma ambição. Se Crist o é a Pessoa "em quem estão ocultos todos os
tesouros da sabedoria e da ciência" (Colossenses 2:3), conhecê-lo é ter
acesso a esses tesouros; tod avia, conh ecer a Cri sto por amo r a Cristo é a
coisa mais importante, para Paulo.
Paulo não chegou a conh ecer o Jesus terre no. Se, durante o ministério
de Jesus, Paulo viesse a saber alguma coisa a respeito dos ensinos dele,
o apóstolo teria reprovado tudo. Jesus fora preso e executado, e Paulo
pen sa ri a nel e co m re pu ls a, co mo al guém so br e qu em , em vir tu de da
(Filipenses 3:12-14) 133
natureza da morte que lhe coube, permanecia a maldição de Deus:
"Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro" (Gálatas 3:13).
Todos quantos proclamavam que tal pessoa era o ungido do Senhor,
como o faziam os discípulos de Jesus, eram blasfemos; o bem-estar de
Israel exigia a extinção de tais pessoas. E mais ainda: à parte o ódio de
Paulo por tudo quanto Jesus representava, de que maneira poderia ele
usufruir um relacionamento pessoal com alguém que já havia morrido,
a quem jam ais conhecera?
Quando Deus decidiu, na estrada de Damasco, revelar seu Filho a
Paulo, ao mesm o tempo o Filho de Deus se aprese ntou a Paulo: "Eu sou
Jesus," disse ele. Imediatamente Paulo se tornou cativo de Jesus, e seu
escravo pelo resto da vida. "Senhor, que farei?" perguntou-lhe Paulo. E
sua carreira subseqüente foi de obediência à resposta suscitada por tal
perg u nta (A to s 22 :7 -1 0) . N aq uele m om en to , P aul o se ntiu qu e er a am ad o
pe lo F ilho de D eus qu e, se gu ndo su as pala vra s, "m e am ou e a si m esm o
se entregou por mim" (Gálatas 2:20) . D aí em diante, "o primeiro e grande
mandamento", amar ao Senhor seu Deus, Paulo o honrou em seu amor
a Cristo, a imagem de Deus: "mas, se alguém ama a Deus, esse é
conhecido dele" (1 Coríntios 8:3 ). Estabe leceu-se ali , naquele mom ento,
um relacionamento de conhecimento e amor mútuos, entre o apóstolo na
terra e seu Senhor exaltado nos céus; dali em diante a alegri a inex tinguí-
vel de Paulo seria explorar a totalidade desse relacionamento. Para o
apóstolo a vida seria, em suma, o próprio Cristo — amar a Cristo,
conhecer a Cristo, ganhar a Cristo. "Cristo é o caminho, e Cristo a
recompensa."

3:9 / Ganhar a Cristo significa ser achado nele, usufru ir fé e união


com ele (e, port an to , co m to dos os se us dis cí pulo s) ; co m pare co m N EB:
"por (causa de) quem sofri... encontrando-me incorporado nele". Paulo
estava intensamente cônscio de seu relacionamento íntimo, pessoal, com
Cristo, relacionamento que ele prezava acima de tudo, e que não era
exclusivo: "Eu sabia que Cristo me havia dado novo nascimento, a fim
de que eu me irmanasse com todas as almas da terra" (John Masefield,
"The Everlasting M ercy"). Paulo já estava em C rist o, mas aqui ele fala
a respeito de ser achado nele. O aoristo dos verbos "ganhar" e "ser
achado" sugere que o apóstolo está outra vez agu ardando o di a de Crist o.
Todavia, a ambição de Paulo de ser achado nele naquele grande dia só
p oder ia co ncr etiza r- se se o apó st olo co ntín ua e p ro g re ss iv am en te viv esse
132 (Filipenses 3:12-63)
em união com Cristo, nesta existênci a mortal. Para atingir i sso, Paulo de
bom gr ad o jo g a fo ra to das as co is as , in cl us iv e a j u s ti ç a p ró p r ia , qu e
vem da lei, outrora tão valorizada .
O hom em que havia consegu ido grandes resultados na luta em prol da
j u s t iç a legal, agora jog a fora essa ju s ti ç a , po r hav er enco ntr ad o ou tra,
de melhor espécie. O que de bom a j u s t iç a p ró p ri a , legal, lhe havia
pro duzid o, af in al ? Ela nã o o hav ia livr ad o do pec ad o de pers eguir os
discípulos de Cristo. Qualquer pessoa que buscasse a ju s ti ç a legal, sem
dúvida poderia reclamá-la como lhe pertencendo; todavia, seria fatal
imaginar que tal ju s ti ç a , que inevitavelmente é auto-retidão, pudesse
afirmar que Deus lhe pertencesse.

Entretanto, em se tratando da ju s ti ç a de melhor estirpe — a que vem


pela fé em Cristo — não ex is te a m enor so m br a de dú vid a qu an to a
afirmar a posse de Deus; é o próprio Deus quem nos concede suajustiça.
É a ju stiç a que vem de Deus pela fé. A fé em Cristo é o meio pelo qual
os pecadores se apropriam dessa justiç a; são "justificado s pela fé e m
Cristo, e não pelas obras da lei" (Gálatas 2:16). É bom fazer o que a lei
exige, mas esse não é o modo de receber a j u s ti ç a concedida por Deus.
O alicerce da ju s t iç a legal, própria, em que Paulo confiava, entrou em
colapso sob seus pés, na estrada de Damasco, quando ele de súbito se viu
como o principal dos pecadores; todavia, naquele mesmo instante ele
recebeu pela fé no Filho de Deus o novo e perene alicerce da ju s t iç a
livremente concedida pela graça de Deus. Agora, e para sempre, Paulo
sabe que é aceito por Deus, por causa de Cristo.

3:10 / Desejo conhecê-lo: mais uma vez Paulo declara qual é sua
ambição. Ele havia vivido com o conhecimento de Cristo por muitos
anos, mas veio a encontrar em Cristo uma plenitude inexaurível; sempre
havia mais de Cristo para conhecer. Tal conhecimento era de tal forma
uma questão de união interpessoal, que "conhecer a Cristo" significava
experimentar o poder de sua ressurreição. Se o amor de Deus fica
demonstrado de modo supremo na morte de Cristo (Romanos 5:8), o
poder de Deus fica demonstrado de modo supremo na ressurreição de
Cristo; e todos quantos estão unidos, pela fé, ao Cristo ressurreto,
poss uem es te poder, po is lh es fo i con fe ri do. "A su pre m a gr an de za do
seu poder para conosco, os que cremos, segundo a operação da força do
seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos"
(Efésios 1:19,20); é o poder q ue, dentre outras coisas, capacita o crente
(Filipenses 3:12-14) 133
a desprezar os incentivos, as tentações próprias do pecado, e levar vida
de santidade agradável perante Deus.
Se, num certo plano, Paulo partilhou o poder do Cristo ressurreto,
noutro plano o apóstolo partilhou seus sofrimentos. Sofrer por Cristo,
como Paulo já dissera antes (1:29) , é um privilégio; além do mais, so frer
po r C risto é so fre r co m ele. "A s afl iç õ es de Crist o tr an sb o rd am par a
cono sco" (2 Coríntios 1:5), diz Paulo num a carta que, talvez mais do que
qualquer outra, revela-nos este aspecto do seu apostolado. Aos olhos de
Paulo, os sofrimentos que ele suportou por amor de Cristo, no decurso
de seu ministério apostólico, representavam sua parcela e participação
nos sofrimentos de Cristo, de modo que aceitá-los desta forma só fazia
transfigurá-los e glorificá-los. Era também esperança de Paulo que, ao
absorver tanto do sofrimento de Cristo quanto lhe fosse possível, em sua
pró pri a pess oa, p udess e "n a m in ha ca rn e" cum p ri r "o re st o da s afl iç ões
de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja" (Colossenses 1:24) e deixar
menos aflições a serem cumpridas pelos seus irmãos crentes. Assim, ele
esperava poder fazer alguma compensação pessoal pelo zelo com que
havia feito o povo de Cristo sofrer, em certa época, tendo assim perse
guido ao próprio Cristo (cf. Atos 9:4, 5). O apóstolo não está revelando
espírito de autopiedade ao falar assim: para ele era uma honra participar
da comunhão dos seus sofrimentos, e assim estreitar ainda mais os laços
que o prendem ao Senhor.
Conformando-me com ele (Cristo) na sua morte era, para Paulo, em
pa rte, au to -i d entifi cação co m o Cristo cru cif ic ad o e, em pa rte, um a
questão de experiência diária, uma antecipação da morte física que, com
toda probabilidade, lhe tomaria a forma de martírio por amor a Cristo
(como de fato ocorreu).
No qu e co ncer ne à au to -i dentifi caçã o co m Cri sto , a m orte co m o
Senhor ilustrada no batismo, logo no início da carreira cristã de Paulo
(Romanos 6:2-11), não foi brincadeira tipo "faz-de-conta"; ela exerceu
influência decisiva sobre o apóstolo a partir d e ent ão: "Estou crucificado
com Cristo, ejá não vivo, mas Cristo vive em mim" (Gálatas 2:19, 20).
No qu e diz re sp eito à ex p eri ência diá ri a, P aul o podia dize r: "C ad a dia
morro... por Cristo Jesus nosso Senhor" (1 Coríntios 15:31). Ele podia
falar a respeito de "o morrer do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a
vida de Jesus se manifeste tamb ém em nossos c orpos" (2 Coríntios 4: 10).
Se Paulo tivesse, um dia, de enfrentar o carrasco por causa de Jesus, tal
132 (Filipenses 3:12-11)

fato coroaria sua semelhança a Cristo na sua morte. A morte, de modo


especial a morte de mártir, haveria de ser (como o apóstolo disse em
1:21), grande lucro, par a algu ém cu jo viv er era Cristo.
Não hav ia a m enor dú vi da de que ex is tiam cre nte s nas ig re ja s ge nt í-
licas (não necessariamente na de Filipos), que viam aquelas aflições de
Paulo, inclusive seu encarceramento atual, como sinal de que o apóstolo
ainda não chegara ao estágio de perfeição espiritual que eles próprios
alegavam haver chegado (cf . 1 Coríntios 4:8) . Paulo as v ê de mo do bem
diferente: aquelas tribulações por que passava constituíam as condições
indispensáveis de identificação com C rist o na gl óri a: "Com ele pad ece
mos, para que também com ele sejamos glorificados" (Romanos 8:17).

3:10,11 / Experimentar aqui o poder da sua ressurreição (de Cristo)


não constituía um substituto imediato da esperança da ressurreição do
corpo, como parecia que alguns convertidos de Paulo pensavam (1
Coríntios 15:22). A ressurreição de C rist o, cujo poder havia sido conce
dido a seu povo na presente vida mortal, envolvia a expectativa para os
que já haviam morrido, crendo no Senhor , "que aquele que ressuscitou
ao Senhor Jesus, nos ressuscitará também por Jesus" (2 Coríntios 4:14).
Paulo voltará a este tema mais tarde (vv. 20, 21). Aqui ele fala de modo
pe ss oa l: se al gu ém qu e en fr enta va a m ort e to do s os di as por ca us a de
Cristo, estava su jeito a encerrar sua vida física como m ártir, por amor do
Senhor, tal pessoa poderia experimentar o poder da sua ressurreição
dia a dia, e aguardar com certeza o partilhamento da ressurreição de
Cristo, após a morte. A esperança que Paulo deixa implícita (ver se de
alguma maneira posso chegar) não é esperança incerta, mas certeza
bem fu ndam en ta da. Se es ta li ng ua ge m im pl ic ar em in ce rt ez a — "se eu
puder fi nalm ente ch eg ar à re ss urr eiç ão de nt re os m or to s" (N EB) —
poderá se r in ce rteza da pa rt e de Pau lo qu an to cr er que, m es m o ne ste
estágio de sua carreira, talvez ele não passe pela morte, mas esteja vivo
quando o Senhor voltar. Todavia, todos os sinais indicavam que o
apóstolo deveria sofrer a mo rte e, com toda probabilidade, m orte violen
ta. A certeza dele, entretanto, era que "de fato Cristo ressurgiu dentre os
mortos", e tornou-se "as primícias dos que dormem" (1 Coríntios 15:20).
"Sabemos," diz Paulo em 2 Coríntios 5:1, "que, se a nossa casa terrestre
deste tabemáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, uma
casa não feita por mãos, eterna, nos céus."
A redação de ECA: para ve r se de alguma ma neira posso chegar à
(Filipenses 3:12-14) 133
ressurreição dentre os mortos, ressalta a clara implicação do texto
pau lino: qu e a re ss urr eiç ão do s cr en te s é um a re ssu rr eiç ão qu e os traz
p ar a fo ra do dom ín io do re st ante do s m or to s.

Notas Adicionais 19
3:7 / considerei-o: gr. hegemai-, a referência não é particular, específica à
experiência da conversão do apóstol o, como de fato seria, fosse usado o tempo
aoristo hegesamen. (No v. 8 tenho também por perda é tradução do presente
hegoumai.)
A linguagem de Paulo aqui é diferente da adaptação da terminologia de
contabilidade, lucros e perdas, que de vez em quando se encontra noutras
passag ens . Cf. Aristó teles, N ic o m a c h e a n E th ic s 5.4.13, onde se afirma que a
ju st iça é a m édia entre lucros e pe rdas (nin guém gan ha mais nem me no s do que
merece); também P i r q e A b o t 2 1,
. onde o rabino Judah , o Príncip e (cerca de 200
d.C.) teria afirmado este prece ito: "Calcule-se a perda sofrida no cumprimento
de um mandamento, descontando-se o galardão auferido nesse ato de obediên
cia, e o lucro obtido na transgressão, descontando-se a perda envolvida nessa
desobediência."
3:8 / E, na verdade: gr. alia menounge kai ("sim, na verdade"). Gr. alia kai
é reforçado pela partícula composta (men, oune ge), que enfatiza o sentido
progressivo (cf. M. E. Thrall, G reekPa rti cles in t he New Test ament, pp. 15,16).
F. W. Beare (ad loc.) apresenta uma discussão interessante sobre conheci
mento de Cristo Jesus, meu Senhor. A linguagem de Paulo aqui não pode ser
explicada em termos de seu pano-de-fundo hebraico, nem de sua cultura
helenista, quanto a g n o s is : antes, o apóstolo produz "uma fusão nova, criativa,
de helenismo com hebraísmo, que redunda em síntese distintivamente cristã,
muito mais rica do que aqueles elementos culturais isolados, sendo, entretanto,
herdeira de ambos." Nesta síntese, é preciso acrescentar, o elemento mais
importante é o conhecimento pessoal de Cristo que Paulo já havia obtido; o
apóstolo expande seu significado no v. 10. Con sultem-se R. Bultman n, TDNT
vol. 1, pp. 689 -714 , s.v. "ginosko," "gnosis," etc.; J. D u p o n t, G n o s is : L a
connaissance reli gieuse dans les é pitres de saint Paul- , B. E. Gartner, "The
Pauline and Johannine Idea of 'to know God' against the Hellenistic Back-
ground," N T S 14 (1967-68), pp. 209-31.
Tenho também por perda todas as coisas: gr. tapanta ezemiothen (passi
va), literalmente, "sofri multa de tudo", "fui despojado de tudo que tenho," que
pode deixa r im plíc ita um a pen a pesada, ou que Paulo ten ha sido deser dad o po r
causa de sua fidelidad e a Cristo; pode implicar também que ele tenha renunc iado
a tudo, de boa vontade, por amor a Cristo.
3:9 / e seja achado nele: gr. hina... heuretho. Quanto ao uso da voz passiva
de heuriskein como forma suplente do verbo "ser" ou "tomar-se," cf. 2:7.
Consulte-se também E. D. Burton, The E pistle to the Ga latians, p. 125 (numa
nota sobre G álatas 2: 17). Se pergunta ssem a Paulo em que época ele esperava
132 (Filipenses 3:12-65)
ser achado em Cristo, a resposta poderia ser "no dia de Cristo"; mas, ele sabe
que só será achado em Cristo naquele dia se viver em Cristo hoje.
A ju st iç a que ve m de D eus é "o modo de Deus tomar as pessoas retas diante
dele mesmo" (Romanos 3:21) — um relacionamento justo com Deus, recebido
po r graça divina e não atingido pela lei. Recebemos a justiça que vem pela fé
em Cristo: gr. dia pist eos Chris tou, que ECA com certeza traduziu bem, ao
tratar Christou como genitivo objetivo, embora alguns desejem tratá-lo como
genitivo do sujeito, traduzindo-o assim: "mediante a fidelidade de Cristo" (cf.
Romanos 3:22, 26; Gálatas 2:16). Veja-se J. A. Ziesler, Th e M eaning of
R ig h te o u s n e s s in P a u l,F. F. Bruce, The Epistle to the G alati ans, pp. 138-40 (em
nota sobre Gálatas 2:16).
3:10 / Desejo conhecê-lo: gr. tou gnonai auton, "a fim de conhecê-lo," em
que o aoristo do infinitivo segue o precedente dos aoristos kerdeso (para que

possa ganhar) e heuretho ("para que possa ser achado") nos w. 8, 9. Paulo
está interessado aqui com o conhecimento de Cristo que se pode experimentar
nesta vida (como no v. 8, conhecim ento de Cristo Jesus, meu Senhor). É inútil
dizer que "Paulo sem dúvida tomou algo emprestado dos gnósticos, ao descrever
g n o s i s C h r is to u le s o ucomo sendo marca distintiva do cristão", quando se
concorda, de imediato, que o conteúdo dos w . 8-11 "é muit o diferente do
gnosticismo" desde que "Paulo não está descrevendo experiências individuais,
mas o caráter da existência cristã em geral" (R. Bultmann, TDNT, vol. 1, pp.
710,711, s. v. g in o s k o , g n o s i s ) .É possível, como diz W . Schmithals, que Paulo
aqui "lança o verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo, lutando contra 'as
oposições da falsamente chamada ciência"' (Paul an d t he Gnostics ", p. 92), se
ficasse claro que Paulo tem em mente os proponentes deste g n o s is rival
(consultem-se as notas sobre os w . 18, 19, abaixo).
Quanto ao desejo de Paulo sobre usufru ir a comunhão dos seu s sofrimentos
(de Cristo), consultem-se B. M. Ahem, "TheFellowshipofHis Sufferings(Phil

3:10)," CB Q 1-32; tam bém H. Seesemann, D e r B e g r i f f K O l N O -


N 1A im N e u e22
n T(1960),
e s ta m epp.
n t.
3:11 / para ver se de alguma maneira: gr. eipos, "se talvez," "se de algum
modo," introduzindo uma oração de propósito, em que a execução desse
propósito de modo algum está no poder da pessoa; cf. Atos 27:12, quanto à
esperança do marinheiro de atingir Fênix e a li passar o inverno; Rom anos 1:10,
quanto à oração de Paulo para que no final lhe seja possível vis itar Roma; 11:14,
quanto à esperança do apóstolo de promover a salvação de seus compatriotas
ju de us , lev ando-o s a desejar pa rtilha r as bênçãos do eva nge lho que os crentes
gentios tanto usufruem. Veja-se BDF, 0375.
O substantivo exanastasis, "ressurreição," não tem paralelo no NT; a adição
do prefixo e x antes da form a regular anastasis (usado, e.g., no v. 10), reforça o
sentido da preposição e k m seguinte frase: eknekron, "fora (tendo saído) dentre
os mortos," e enfatiza que o que se tem em mira é a ressurreição do corpo
temporal dos justos , no último dia, e não simplesmente uma ressurrei ção
espiritual no presente. A "intenção, sem sombra de erro, é transmitir a realidade
(Filipenses3:12-14) 133
da ressurreiç ão dos que morreram fisicame nte, mas só faz sentido se se distinguir
de outra interpretação" (J. Gnilka, ad loc.) — sendo esta outra, presumivelmen
te, aquela contra a qual Paulo lança uma declaração integral sobre a doutrina da
ressur reição, em 1 Coríntios 15. Diga-se, t odavia, que esta é uma possibilida de;
não existe certeza absoluta.
20. Ambição de Paulo (Filipenses 3: 12 -1 4)

N ão im port an do o qu e out ro s di gam so br e si m es m os, P au lo sa be qu e


ainda não atingiu a perfeição. Enqua nto existir vida física, há campo p ara
contínua perfeição. O prêmio só será conferido no final da corrida.

3:12 / Agora, P aulo deixa o jarg ão do contabilista, e atém-se ao do


atleta (c f. 2:16). Ei-lo que participa d e uma corrida; ainda não enverga a
faixa de campeão e tampouco empunhou a taça, mas deve continuar
correndo, até que esses prêmios lhe sejam atribuídos. Alguns de seus
convertidos, no utros lugares, im aginavam que já haviam atingido a
perf eiç ão e qu e j á havia m ad en tr ad o a gl ór ia real: Paul o lh es di z co m
ironia que gostaria que as declarações deles fossem verdadeiras, porque
nesse caso ele próprio estaria incluído na perfeição; todavia, ele sabe que
ainda está lutando muito, em meio ao calor e poeira ( 1 Coríntios 4:8-13).
Se porventura alguns de seus amigos filipenses têm a tentação de fazer
declarações semelhantes, prematuras, quanto às suas realizações espiri
tuais, o que Paulo tem a dizer agora poderá ser-lhes útil. O apóstolo ilustra
a verdadeira natureza da existência crist ã na terra fazendo um a referência
a si próprio. O sempre crescente conhecimento de Paulo a respeito de
Cristo, o fato de o apóstolo partilhar, aqui e agora, tanto os sofrimentos
quanto o poder da ressurreição de Cristo, tudo isso o leva cada vez mais
per to do alvo ; entr et an to , enq ua nto ele es ti ver no co rp o, es se al vo
perm an ecer á à su a fr ente , di stan te . Ja m ai s, nes ta vi da , Paul o atingir á a
perf eiç ão , no se nt id o qu e nã o lhe se rá pos sí vel af ir m ar : nã o pos so obte r
maior progresso espiritual, e nada mais existe para ser almejado, além
do ponto que já atingi . Ao apóstolo resta, ainda, agarrar e cum prir o
pro pósi to para o que fui alcançado por Cristo Jesus na estrada de
Damasco.
Paulo relembra sua conversão como sendo um mom ento em que a mão
podero sa do Sen hor lhe fo i co lo cad a so br e o om br o, vir ando-o to ta lm ente
em seus caminhos, quando uma voz que não admitia refutação lhe falou
ao ouvido: "Tu deves seguir-me." Paulo havia sido convocado para o
serviço de Cristo; todavia, jamais houve um recruta convocado mais
ardoroso do que ele. A paixão de sua vida, a partir daquele mom ento, era
servir a seu novo Senhor e cumprir o propósito para o qual ele o
99
(Filipenses 2:17-66a)
convocara — alcançar aquilo para o que fui alcançado por Cristo
Jesus, como ele afirma. Cada fase da vida subseqüente de Paulo, cada
ato seu, todos os elem entos de sua com preensão e pregação do evangelho
p od em se r rel acio n ado s à r evel açã o de Je su s Cristo qu e lhe fo i conced id a
naquele lugar, naquele dia.

3:13 / "Não, de modo nenhu m, diz Paulo, eu não consigo im aginar que
já te n h a ating id o a perfe iç ão , nem qu e te nh a cum pri do o p ro p ósito par a
o qual fui chamado ao serviço de Cristo; eis porque continuo minha luta."
Ele se refere a si mesmo como sendo um atleta numa corrida, que tem um
único objetivo em vista: terminar a corrida e ganhar o prêmio. Quem corre
numa competição não fica olhando para trás, por cima do ombro, a fim de

calcular que dist ância já percorreu, ne m com o vão os concorrentes: quem


corre fixa os olhos na meta de chegada. As coisas que para trás ficam
descreve a parte da corridajá feita; todavia, de nada adianta ao participante
da corrida sobressair-se à frente dos demais durante nove décimos do
caminho, e ser alcançado e vencido na fase final.
Quando Paulo contemplou tudo quanto havia real izado na obra apos
tólica, isso serviu para reforçar sua resolução de prosseguir, da forma
como havia iniciado. Quando ele registrou o término de seu ministério
"desde Jerusalém e arredores, até o Ilí rico," foi para anu nciar seus planos
de viajar para a Espanha e repetir no lado oeste do Mediterrâneo o
prog ra m a qu e havia concl uíd o no lado leste. E nqu anto se lhe o fe recesse
um a oportunidade pa ra "anunc iar o evangelho, não onde C rist o já fora
nomeado," a tarefa de Paulo permaneceria incompleta, por terminar
(Romanos 15:19-24).

3:14 / prossigo para o alvo, diz o apóstolo, usando um substantivo


(gr. skopo s) não encontrado noutra parte do NT. Há um prêmio a ser
conced ido, e Paulo quer ganhá-lo. Ele espera ouv ir o presidente daqueles
jo g o s cha m á- lo ao pó di o a fi m de co n fe rir -l h e a m ed al ha. E m ce rtas
ocasiões especiais, em Roma, este chamado poderia provir do próprio
imperador; com que orgulho o atleta vencedor atenderia ao chamado,
caminhando até a tri buna imperial a fi m de receber o prêm io! Para Paul o,
o presiden te dos jog os não era outr o senão Jesus, seu Senhor; o prêmio
seria fruto da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus, ou, de modo
mais simples, "o chamado para cima, vindo de Deus, em Cristo Jesus"
(RSV). Usando linguagem semelhante, Paulo fala, mais tarde: "a coroa
132 (Filipenses 3:12-14)
da just iça me está guardada, a qua l o Senhor, jus to juiz , me dará naquele
dia" (2 Timóteo 4:8).
A palavra traduzida por prêmio (gr. brabeiorí) é usada em 1 Coríntios
9:24: "os qu e correm no estádio, todos, na verdade, correm, m as um só
leva o prêmio." Todavia, não existe t al exclusivismo acerca deste prêmio;
ele será dado, como diz Paulo, em continuação, acerca da coroa da
vitória, em 2 Timóteo 4:8, "não somente a mim, mas também a todos os
que amarem a sua vin da ." Paulo tenciona ganhar o prêmio; todavia, existe
um prêmio para todos que terminarem a corrida; Paulo recomenda seu
pró pri o ex em plo a se us le itore s (1 Corínt io s 9:24 ), de ta l m an ei ra qu e
tomem a ambição dele para si mesmos.
E que pod erá ser esse prêmio senão receber de modo definitivo o Cristo,
por am or de qu em , co m o diz Pa ulo, va le a pe na pe rd er tudo o mais?

Notas Adicionais 20
3:12 / Não que já a tenha alcançado ( elabon ); o verbo é transitivo, mas o
objeto direto não vem expresso. Esse objeto direto é a ambição, que Paulo
declarou por extenso nos w . 8-11, o ganhar a Cristo final e completo, que não
se deve distinguir do prêmio de que ele falará a seguir.
Ou que seja perfeito: "tenha sido aperfeiçãoado" (tetel eiom ai). E possível
que Paulo esteja tomando emprestado algum termo das religiões místicas (cf.
4:12), nas quais a pessoa admitida às mais elevadas esferas era considerada
"perfeita"; entretanto, da forma como Paulo usa essa palavra, aqui, não existe
qualquer conotação de mistéri o. T ampouco está ele referindo-se ao seu martírio,
que se aproxima, embora Inácio (To t he Eph esians 3:1) use um term o sinônimo,
enquanto contempla sua provável exposição perante as bestas feras da arena:
"Aindaà não fui aperfeiçoado aperti smai
ma-se perspectiva do martírio, seja qual forem
a foJesus rma
Cristo,"
quediz
vierela tomar,
e; mas, confo
"desder
que eu possa ganhar epitycho a Jesus Cristo (T o t heRom ans 5:3). A perspectiva
de Paulo é mais sadia: a perfeiç ão que o apóstolo ainda não atingiu lhe pertencerá
quando chegar o momento de "partir e estar com Cristo" (1:23).
Antes de ou que seja perfeito os manuscrito s P , com Irineu (tradução
latin a) e Am brosiaster , insere m uma sente nça: "ou tenha já sido justifica do"
(dedikai om ai). Teria sido um uso não-paulino do verbo "jus tificar" : Paulo sabia
que ele, e todos os crentes em Cristo, já haviam sido "justificados pela fé"
(Romanos 5:1, etc; cf. v. 9 acima). Parece-se mais com o uso que Inácio faz
desse verbo. Falando das tribulações que sofrerá a caminho de Roma, Inácio
declar a: "Não sou justific ado por estas coi sas" ( dedikai om ai), implicando que
no fim é que serájustificado, quando houver sofrido a morte de mártir (To the
R o m a n s 5:1).
Mas prossigo: gr. dioko\ "eupersevero," "eu continuo."
(Filipenses 3:12-14) 133
Para alcançar aquilo para o que ... gr. ei kai katalabo, "se na verdade eu
pu de r a lcan çar aqu ilo..."; o uso de e i ("se") a fim de introduzir uma oração de
propósito é seme lha nte à do v. 11, "p ara v er se..."(g r. eipos). O antecedente de
aquilo para o que não vem expresso no srcinal, sendo provavelmente seme
lhante a al go como "propósit o", em linha com ep h ’ ho, "com vistas a."
Fui alcançado por Cristo Jesus: gr. katelemph then hypo C hrist ou les ou,
"fui agarrado por Cristo Jesus." O trad utor precis ou encontrar um verbo apro 
priado a fim de expressar am bo s os sen tido s de katalam ban ein ( katalabo.. .
katelemphthen). Toma-se difícil melhorar a escolha feita por KJV, que traduziu
assim: "apreendido por Crist o Jesus". Quanto à importância da experiência de
Paulo de ter sido "apreendido por Cristo Jesus", em relação ao seu ministério
subseqüente, consultem-se J. Dupont, "The Conversion of Paul , and Its Influen-
ce on his Unders tanding of Salvatio nby Faith," em W. W. G asque e R . P. Martin,
eds., A p o s t o l i c H i s t o r y a n d th e G o s p e l,pp. 176-94; G. Bo mkamm, "The

Revelation ofand
Justification Christ to Paulation,"
Reconcili on theem
Damascus
R. Banks,Roaded.,
andR Paul's
e c o n cDoctrine
i li a t io n of
andH ope,
pp. 90- 103 ; S. Kim , The Origi n ofPau fsGo spel.
3:13 / Há um texto variant e: "não" (ou), para não (julgo que o tenha
alcançado) [ainda] (oupo ). Apesar de a idéia contida em "ainda não" contar
com aprovação antiga, geral, é mais provável que o texto srcinal tenha sido um
"não" simples.
3 :1 4/0 alvo ou skopos tinha essa designação porque o competidor mantinha
os olhos fixos nele ( skopein , "olhar "). O "chamado do alto" dirigido ao vencedor
vinha, nos jog os gregos, do agonothetes, e nos jog os pan-helenísticos (como os
de Olimpo), do hellenodikai.
21. Matu ridade Espiri tual (Filipenses 3: 15 -1 6)

Paulo sabe que nem todos os seus amigos valorizam as questões do


cristianismo como ele as valoriza. Não impinge sobre eles seus padrões
de valores, mas dá-lhes alguns conselhos úteis.

3:15 / A NIV está certa ao traduzir teleioi ("perfeitos") como "madu


ros", nesta passagem . A grande m aioria dos estudiosos crê que a refe rên 
cia atinge as pessoas que afirmam haver alcançado a perfeição, num
sentido que Paulo rejeitou para si mesm o (v. 13). En tretanto, ago ra Paulo
se in clui ent re os qu e são "perfeit os", da m esma forma com o em R om a
nos 15:1 ele se inclui entre os "fortes" ("mas nós, que somos fortes"). A
repetição de certa palavra ou de seu deri vado num sentido diferente, num
intervalo curto, constitui fenôm eno literário comum. Não há necessidade
de inscrever a palavra, como aparece agora, dentro de aspas, como se
Paulo não lhe estivesse atribuindo seu verdadeiro significado. Pode-se
ter certeza de que se algum leitor de Paulo afirmasse ser perfeito, num
sentido que não poderia ser real, atingível, senão no dia de Cristo, haveria
uma palavra de admoestação para esse crente: reconhecer que tal perfei
ção é inatingível durante nossa vida mortal aqui, é marca dos crentes
"maduros" — perfeitos.

Que nenhum mortal pense que num segundo


Tudo se fez, toda a obra esteja ter minada;
Emb ora tu a inicies em tua aurora,
Dificilme nte a acabarás ao pôr-do-sol.
(F. W. H. Myers, "SaintPaul")
De modo mais positivo, a ambição centralizada em Cristo, expressa
por Pau lo , é o qu e de ver ia cara cte ri zar to do s os cre nte s "m aduro s", isto
é, perfeitos. Sem dúvida nenhuma, a ambição de Paulo, a partir do
momento de sua conversão, foi servir a Cristo e ser "achado nele";
entretanto, a averiguação mediante experiência pessoal de tudo quanto
estava envolvido na busca desta ambição exigiu-lhe tempo. Então, ha
vendo atingido a maturidade espiritual, Paulo "deixa de preocupar-se
demais com fraquezas, fracassos e frust rações," quer t enham aparec ido
nele mesmo, quer nos outros (Montefiore, Pau l the Ap ostle, p. 30).
99
(Filipenses 2:17-15 a )
Se alguns dos leitores de Paulo se sentissem obrigados a admitir que
não conseguiam exprimir suas ambições, ou atitudes, nos termos de
Paulo, eles que não se desesperassem, nem se resignassem a trilhar uma
existência cristã de segunda categoria. Que o problema seja entregue a
Deus: se pensais de outra maneira, também Deus vo-lo revelará.
Paulo não os repreenderá, nem expressará desapontamento por terem
feito um progresso tão insignificante. Em vez disso, o objetivo de Paulo
será encorajá-los.
Se pensais de outr a m aneira, também (kai touto) Deus vo-lo reve
lará. Supondo-se que Paulo esteja discutindo com aqueles que afirma
vam possuir uma perfei ção premat ura, a pa lavratam bém pode signif icar
que, além e acima das "visões e revelações" que eles se vangloriav am de
ter receb ido (cf. 2 Co ríntios 12:1), havia questõe s de vivê ncia cristã que
lhes deveriam ter si do reveladas também . D e outra form a, o ponto central
pod e ser qu e, po r h avere m ac eitado a re vel aç ão div in a qu e co nduz a u m a
atitude característica da maturidade espiritual, eles poderiam confiar em
Deus. Aí, o Senho r lhes concede ria qualquer r evelação espiritual que l he
fosse necessária afim de remover-l hes quaisquer inadequações ou incoe
rências no modo cristão de ver as coisas.

3:16/ andemos segundo o que já alcançamos constitui a linha mestra


do viver cristão que Paulo de modo habitual recomendava a seus conver
tidos — se esse é o princípio, como ele afirma noutra passagem, ou "os
meus caminhos em Cristo, como por toda a parte ensino em cada igreja"
(1 Coríntios 4:17) — el es qu e pro ssi gam , co n tinu and o a seg uir "os
caminhos" de Paulo, como regras do viver cristão, pois o crescimento
espiri tual desejado haverá de m anifest ar-se. Aqueles que já caminham
segundo a luz de que dispõem agora, mais luz se lhes dará.
N ão há um a pala v ra no te xto gr eg o, aq ui, corr espo nd ente a "r eg ra ";
as versões que a acrescentam podem ter sido influenciadas (de modo
adequado) pela redação semelhante de Gálatas 6:16, em que o substan
tivo "regra" (gr. kanorí) aparece: "A todos os que andarem con form e esta
regra, paz e misericórdia."
Respondendo-se à pergunta sobre como esta referência a "regra" se
harm oniza com a recusa de Paulo em atribuir um lugar à lei , na vida crist ã,
é preciso que se diga o seguinte: (1) esta "regra" não consiste de
regulamentos legais; antes, tem a natureza de linhas gerais ou princípios
de orientação, e (2) para contrapo r-se à "lei", no sentido jud icial, Paulo
136 (Filipenses 3:15-16)
opresenta "a lei de Cristo" — isto é, o modo de vida exemplificado por
Cristo, e registrado nos evangelhos para imitação de seus seguidores. A
regra im plícita aqu i abarca, portanto, os princípios de vida envolvido s na
"lei de Cristo", dentre os quais assume papel saliente o levar as cargas
uns dos outros (Gálatas 6:2). Paulo estimula os crentes filipenses a
pro ss eguir em na m arc ha av an te, co m o co m unid ad e co es a, om bro a
ombro, de acordo com o ensino que haviam recebido do apóstolo, desde
o princípio, quando dele receberam o evangelho.

Notas Adicionais 21
3:15/Perfeitos: gr. teleioi. W. LütgertfD/e Voll komm enen i m P hili pp erbrief

und di e Enthu siast en in T hessalonich p. que


19),asW. Schmassim (Paul an d the
ithals designadas
Gnostics, pp. 99-104), e outros, entendem pessoas são
as de tendências gnósticas, semelhantes às que a si mesmas se designavam
"pessoas espirituais" (pneumatikoi) em Corint o (cf. 1 Coríntios 2:13, 15 ; 3:1,
etc.). De acordo com esses comentadores, a ostensiva associação de Paulo com
tais pessoas na primeira pessoa do plural é, quando muito, captati o benevolen-
tiae. Esta constitui uma interpretação torcida das palavras do apóstolo.
Tenhamos este sentimento: gr. to utophronomen, "tenhamos esta mentali
dade." No documento Aleph, L, e em alguns outros manuscritos, o verbo
p h r o n o u m e n , no indicativo, é tr aduzido assim: "nós temos esta mentalidade"
(todavia, esta variante não tem base para consideração séria). A atitude em pauta
é explicada por Crisóstomo como prontidão para "esquecer o que ficou para
trás"; e acrescenta, fazendo um trocadilho com o sentido duplo de "perfeitos"
(teleios: "a marca distintiva de quem é perfeito é não considerar-se perfeito"
(Ho milies on Ph il ippians, 12) .

Se pensais de o utra m ane ira pode significar q ue as pessoas têm uma atitude
errada; o advérbio heteros "parece ter o sentido de 'erra do'" (J. B. Lightfoot , ad loc.).
Também Deus vo-Io revelará: gr. apokalypsei literalmente. Gr. kai touto
poderia sign ificar "na verdade, isto," com o se o sentido do versículo fosse: "esta
é a revelação de que vocês precisam; não as revelações como são entendidas
nas escolas gnósticas" (cf. Schmithals, P a u l a n d th e G n o s ti c s ,p. 104).
3:1 6/ and em os segundo o que: literalmente , "marchemos segund o a mesma
(regra que vimos seguindo) até ao ponto que já atingimos " ( eis h o eph thasam erí) .
Com to auto ("o mesmo"), vários documentos trazem kanoni ("regra"), mas o
peso de evidências favorece a o missão desta palavra (ainda que esteja presen te
esse significado implícito). Cf. Gálatas 6:16, "e a todos os que andarem
conforme esta regra" (gr. hosoi to kanon i touto stoichesou sin), cuj a influência
pro vavelm ente dev erá ser vista naq uelas autoridades que acresc entam "regra"
(kanoni ) aqui. O verbo stoichein (traduzido por andemos segundo) significa
"permanecer na linha" ou "marchar em linha"; a implicação é que não se trata
de realização individual, mas algo que movimentaria toda a comunidade, coesa.
22. Imitação de Paulo (Filipenses 3: 17 )

Há muitos mestres itinerantes cujo exemplo seria desastroso seguir.


Paulo recomenda seu próprio exemplo e o de outros que, como ele,
seguem o caminho de Cristo.

3:17 / Se os preceitos de Paulo não são suficientemente claros, que se


siga seu e xemplo. "Imitação de Paulo" é tema notável e freq üen te nas
epístolas paulinas. Ele ensinava a seus convertidos mediante preceitos
orais e escritos, sobre como deveriam viver; en tretanto, um exemplo vivo
p od eri a se r m ais efi ca z do qu e m u itas pa la vra s. Se de se j as se m v er a v id a
cristã em ação, Paulo lhes dirigiria a atenção para sua própria conduta,
como o faz aqui: "unam-se aos que me imitam."
Um homem como Paulo assumir esta atitude significava que ele
p re cis ava se r ex cep cio n alm ente cui dado so na conduta , de m odo qu e seu
exemplo não fosse uma pedra de tropeço espiritual para os outros, ou até
mesmo induzi-los ao pecado, ainda que sem essa intenção. E o apóstolo
exortava seus convertidos a serem igualmente cuidadosos: "Não vos
torneis causa de tropeço nem pa ra jude us, nem para gen tios, nem pa ra a
igreja de Deus. Como também eu em tudo agrado a todos, não buscando
o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam
salvar. Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo" (1
Coríntios 10:32-11:1).
Estas últimas palavras são cruciais: não é que Paulo desejasse estabe
lecer sua própria vida como um padrão ético; ele apresentava a Cristo
como o padrão absoluto, tanto no ensino quanto na ação. Ele próprio só
deveria ser imitado desde que e até onde imitasse a Cristo; a imitação de
Cristo era u m ex ercício que Pau lo praticava todos os dias. Sabia que
muitos de seus convertidos o imitariam, de qualquer maneira, e sabia
também que se seu exemplo os induzisse ao erro, não teria uma resposta
satisfa tória para isso no dia de Cri sto. D aí o cuidad o com que ele pratica va
incessante autodisciplina, de modo que, "pregando aos outr os, eu mesm o
não venha de alguma maneira a ficar reprovado" (1 Coríntios 9:27).
Veja-se também 4:9,
Tampouco recomendava o apóstolo apenas o seu próprio exemplo.
Outros havia que seguiam a mesma trilha de vida e partilhavam as
142 (Filipenses 3:18-17)
mesmas atitudes e princípios: Timóteo e Epafrodito foram mencionados
em 2:19-30, quanto a is to. Hom ens e mulheres da qualidade deles também
apresentaram exemplos que podiam ser seguidos com confiança.

Notas Adicionais 22
3:17/observai: gr. skopeite, "olhai," "ficai alertas." Em Romanos 16:17 este
verbo é empregado no sentido de "observar e evitar"; aqui, no sentido de
"observar e seguir."
Segundo o exemplo que tendes em nós: lit., "como tendes a nós como
exemplo." No grego, em nós (hemas) ocupa posição enfática, como última
palavra na sentença; provav elm ente deixa im plícito que os outros pro porcionam
um exemplo diferente — a saber, aqueles contra quem os w . 18, 19 constituem
advertência. Consulte-se W. P. DeBoer, The Imitation ofPaul.
23. Advertência Contra Inimigos (Filipenses 3: 18 -1 9)

Paulo adverte os filipenses contra os indivíduos cujo exemplo é


danoso ou inútil moralmente.

3:18 / Foi o com portam ento dos ind ivíduos a que Paul o se refere agora
que os tornou inimigos da cruz de Cristo. Os homens que tentaram
impor a le i jud aica sobre os convertidos gentios de Paulo, nas igrejas
gálatas, deixavam implícito em seus ensinos (de acordo com Paulo), que
a morte de Cristo não tinha significado e era ineficaz (Gálatas 2:21); nesse
senti do, pod eriam ser chamados de inimigos da cruz, embora Paulo nada
diga contra seus padrões m orais. Os inimigos da cruz aqui denunciados
são descritos em termos diferentes daquelas pessoas contra as quais os
filipenses devem resguardar-se, no v. 2, e que não precisam ser identifi
cadas como inimigos da cruz. É inúti l insistir nesta conex ão, segundo a
qual "as entidades não precisam ser multiplicadas mais do que o estrita
mente necessário" (princípio conhecido como "navalha de Ocam"),
como se isto determinasse a identificação dos dois grupos: a vida real é
mais complicada do que o argumento lógico.
Fica evidente, mediante sua correspondência, que Paulo às vezes era
obrigado a travar guerra em pelo menos duas frentes — em Corinto, por
exemplo, lutou contra os ascetas, de um lado, que gostariam de proibir o
casa m ento (1 C oríntios 7:1), e contra os libertinos, por outro lado, cujo

grito de aguerra
idêntico, graça era: "tudoé recebida
de Deus é permissível"
em vão(1porCoríntios 6:12).
aqueles que De modo
continuam
a viver sob a lei, e por aqueles que pensam que devem permanecer "no
pecad o, pa ra que a g raça au m en te " (R om an os 6:1). N os vv. 18 e 19 P aul o
está preocup ado com as pessoas que aderiram a este últ imo preceito, tanto
no ensino quanto na prática. Cristo suportou a cruz a fim de libertar os
crentes dos pecados, e reconciliá-los com Deus (Romanos 6:7; 2 Corín
tios 5:18-21); os que de modo deliberado permanecem no pecado e
repudiam a vontade de Deus, renegam tudo quanto a cruz de Cristo
representa.
Paulo já hav ia exortado os crentes fili pense s, antes, contra tai s pessoas
— se m edia nte pala vra oral ou se po r es crito , nós não o sa be m os . Se ele
agora repete sua advertência, é porque sabe ser ela necessária. Aquelas
132 (Filipenses 3:12-18)
pess oas es ta vam ex er ce ndo m á in fl uência em m ui ta s ig re ja s e ta lv ez
dessem u ma ch egada até à igreja de Filipos, se já não o haviam feito. N ão
existe a mínima sugestão de que a igreja filipense estivesse inclinada a
ouvi-los de bom grado, mas Paulo sabia como eram insidiosos os
argumentos que usavam, como poderia ser prejudicial o exemplo que
davam.

3:19 / Falando dessas pessoas, diz Paul o: O seu fim é a perdição; os


que lhes seguem o mau exemplo são passíveis de partilhar o mesmo
destino.
O seu deus é o ventre; compare Romanos 16:18, onde os cristãos
romanos são advertidos contra pessoas indesejáveis que "não servem a
Cristo nosso Senhor, mas ao seu ventre" ("ventre" é tradução do subs
tantivo grego koilia). NIV traz "estômago", talvez menos adequado que
"apetites", de outras versões, que dá idéia de glutonaria como não sendo
o único vício das pessoas sobre quem pesa a acusação. De modo seme
lhante em 1 Coríntios 6:13, em que Paulo cita o epigrama libertino: "os
alimentos são para o estômago ( koilia ) e o estômago ( koilia ) para os
alimentos," o contexto torna claro que a l ibertinagem é de ordem sexual,
e não a isenção de restrições alimentares é que constitui a questão sob
discussão. Se o seu deus é o ventre, isto é, seus "apetites", isto significa
que seus "apetites" são o interesse máximo dessas pessoas; não o
declaram taxativame nte, mas seu modo de viver deixa cl ara a implicação.
A sua glória é a vergonha (eis um bom exemplo de paradoxo): isto
confirma nosso modo de interpretar a oração precedente. Não existe
alusão à circuncisão aqui, como se a vergonha deles denotasse aquela
part e do co rp o qu e port av a o selo da ci rc unc is ão . 1 Coríntios 5:2 traz um
exemplo específico da situação que Paulo lamenta, em que uma união
sexual ilícita dentro da igreja, que não só quebrava a lei jud aic a como
também chocava o senso pagão daquilo que é apropriado (até mesmo na
atmosfera permissiva de Corinto), era considerada por alguns membros
da igreja como um belo exemplo de liberdade cris tã. "Não é boa a vossa
jac tâ n cia," diz P au lo , ne ss a si tu açã o (1 Coríntios 5:6), porq ue se org u
lhavam de coisas de que deveriam envergonhar-se. Um século e meio
depois, Hipólito de Roma falaria de um grupo chamado simônio que se
congratulava por sua própria promiscu idade porque (assi m dizia o grupo)
"é isso o que significa o perfeito amor" (Refutation ofHeresies 6.19.5).
Tais pessoas não estavam alertas para o necessidade cristã de exibirem
(Filipenses 3:12-14) 133
um padrão de comportamento mais elevado do que aquele demonstrado
pel os se us v iz in hos. C on te n ta vam -s e co m o fa to de su a m en te esta r em
coisas terrenas: só pensam nas coisas terrenas. N a v erd ad e, nã o hav ia
razões para pensar que haviam sido tocados pela graça de Deus, pro cla
mada no evangelho; suas vidas estavam longe de produzir o fruto do
Espírito.

Notas Adicionais 23
3:18 / Antes da expressão inimigos da cruz de Cristo, P46 insere "cuidado",
"vigiai" (gr. blepete, tomado de empréstimo do v. 2). Policarpo cita a frase
"inimigos da cruz" (To the Philippians, 12:3); anteriormente, na mesma carta,
ele declara que "quem não confess a o testemunho da cruz é do diabo" (7:1).

mesmo s gnósticos judaico-c ristãos, quando inimigos.


Há disputa em tomo de quem são esses
os discerneW.
Schmithals vê neles os
em "aquelas pessoas que
pratica m o mal", do v. 2; à semelhança de seu s co mp anheiro s de Corínto ,
"colocaram o 'conhecimento' no lugar da 'loucura da cruz"' (Paul and th e
Gnostics, p. 107). W. Lueken (ad loc.) pensa em cristãos que não conseguem
quebrar os laços fam iliares da velha imoralidade pagã (de modo semelhante E.
Haupt [adloc.], eT. Zahn. I n t r o d u c ti o n to lh eAT vol. l ,p . 539). E. Lohmeyer(ad
loc.) acha que se trata de cristãos apóstatas, ou que caíram em engano; H. Appel,
com mais precisão (e correção) identifica-os como sendo crentes que se confessa
vam como tal mas que abusavam da doutrina da graça, transformando-a em
libertinagem (Einlei tungin dasNT , p. 57).
3:19 / Tais inimigos estão destina dos à perdição (gr. apoleia), palav ra u sada
em 1:28 para designar o destino dos perseguidores da igreja. Cf. a frase
particip ial hoi apoll ym enoi, "os que estão perecendo," usada em 1 Coríntios
1:18; 2 Coríntios 2:15; 4:3 para qualificar os que rejeitam o evangelho. Em 1
Coríntios 1:18 ela aparece num contexto que trata da cruz como esva ziada de
seu poder: "para que a cruz de Cristo não se faç a vã" (1 C oríntios 1:17).
Um paralelo verbal da oração "o seu deus é o ventre" está em Eurípides,
Cyclops 334,335 , em que Ciclope di z: "Não ofereço sacrifícios a nenhum deus
senão a mim mesmo, e a este meu ventre, a maior das divindades" (kai t e m egiste
g a s t r i t e d e d a im o n o n ). Schmithals acredita que as palavras de Paulo se referem
a "uma desconsideração para com as leis concernentes a alimentos" (Paul and
the Gnostics, p. 109); mas o próprio Paulo nutria essa descons ideraç ão. J.-F.
Collange (ad loc.) sugere que essa é a descrição dos adoradores de si próprios,
que ficam contemplando seu próprio umbigo (não sendo, porém, um sentido
natural para koilia).
Em contraste com os que têm uma glória que é a sua própria vergonha, Paulo
fala de si mesmo e de seus companheiros como tendo rejeitado "as coisas que
po r vergo nha se ocu ltam" (2 Co ríntios 4 :2). (Em Judas 13 os mestres libertino s
são comparados a "ondas furiosas do mar, espumando as suas próprias sujida
142 (Filipenses 3:18-19)
des.") J. A. Bengel (Gnomonad loc.) e alguns autores posteriores entenderam
que a referência aqui se faz à circuncisão, como se o gr. aischyne ("vergonha")
fosse sinônimo de aidoia-, entretanto, tal sentido dificilmente se atribui a
aischyne. As coisas terrenas podem contrastar com "as coisas que são de cima,
onde Cristo está assentado ã destra de Deus," onde os cristãos são admoestados
a pôr seus corações (Colossenses 3:1,2). Na verdade, é isto que Paulo vai dizer,
a seguir.
24. Esperança e Cidadania Celestiais
(Filipenses 3:20-21)

Os verdadeiros crentes são cidadãos dos céus, onde o Senhor deles


está agora. Quando ele voltar, vindo dos céus, equipará seu povo com
corpos semelhantes ao seu, adequados para a recepção da herança
celestial total.

3:20 / Ao dizer que a nossa pátria está nos céus, Paulo utiliza o
substantivo po liteu ma, não encontrado em parte alguma do NT; relacio-

na-se com o verbo


a "conduta" polie
dos crentes ue sth ai,dando
filipenses, que Paulo
ênfaseusou em 1:27
especial para descrever
à responsabi
lidade deles com o membros de uma comunidade. Portanto, aqu i, se a pá tria
deles está nos céus, a conduta deles também deveria ser compatível com
essa cidadania.
É possível que haja, aqui, um a alusão à constituição de Fili pos. Visto
ser Filipos uma colônia romana, sua politeuma, o registro de seus
cidadãos era mantido em Roma, a cidade-mãe (gr. metropolis). Sem
dúvida alguma apenas uma minoria dos membros da igreja possuía stat us
de cidadania, mas a constituição da cidade seria muito bem conhecida
p o r to dos . A tr adu ção de M o ffa tt: "M as, so m os um a colô nia do s céu s, "
talvez expresse bem o sentimento generalizado. Assim como os cidadãos
de uma colônia romana deveriam prom over os interes ses de sua cidade-
mãe, e manter-lhe a dignidade, os cidadãos dos céus de igual modo,
estando num ambiente terreno, deveriam representar os interesses de sua
verdadeira pátria celestial, e viver uma vida digna de sua cidadania. A
p á tr ia cel es tial já lh es per te nci a; nã o pre cis avam agua rd á-l a. E ntr eta nto ,
com grande anseio esper avam o Salva dor, o S enh or Jesu s C risto, que
dela viria. Esta expectativa constituía elemento constante na pregação
p ri m itiv a ap ost ól ic a: os co nv er tido s te ssa lo n ic en ses, p o r e xem plo , fo ram
ensinado s a aguarda r "dos céus a seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre
os mortos, a saber, Jesus, que nos l ivra da ira vindo ura" (1 Te ssalo nicen 
ses 1:10).
Inferir, daqui, que o apóstolo esperava, ele próprio, estar vivo ainda,
a fim de aplaudir a vinda do Salvador, seria torcer dem ais as palavras de
Paulo. Em 1:20-24 ele espera a morte, que sobreviria antes do advento
144 (Filipenses 3:20-21)
de Cristo, e n o versículo 11, acima, ele espera "chegar à ressurreição
dentre os mortos." Portanto, ao dizer agora: de onde esperamos o
Salvador, Paulo expressa a atitude dos crentes em geral, sem qualquer
referência especial às suas expectativas pessoais.

3:21 / Quando o Salvador vier, transformará o nosso corpo de


humilhação. Em 1 Coríntios 15: 42- 53 há um a declaração ma is com ple
ta. Quer os crentes t enham morrido, quer ainda estejam vivos por ocasi ão
do segundo advento, deverão passar por uma transformação, a fim de
herda r o reino eterno de Deus. Os mortos receb erão um "corpo espiritual"
que substituirá o "corpo natural" que se desintegrou; a mortalidade dos
que ainda estiverem vivos será "revestida de imortalidade." Tanto os

mortos que ressuscitarão quanto os vivos que se transformarão, tendo


tido até então "a imagem do [homem] terreno" (o primeiro Adão, de
acordo com a narrativa de Gênesis 2:7), dali em diante assumem a
"imagem do [homem] celestial".
Esta úl tima declaração é expressa aqui de modo ligeiramente d iferen
te, quando Paulo afirma que Cristo transformará o nosso corpo de
humilhação, para ser conforme o seu corpo glorioso (lit ., "o seu corp o
de glória") — isto é, o corpo glorificado de Cristo, Os corpos que os
crentes em Cristo terão na era vindoura serão da mesma ordem celestial
que seu corpo ressurreto. "A ardente expectativa da criação aguarda a
revelação dos filhos de Deus" (Romanos 8:19) porque sua revelação
como filhos e filhas de Deus será sua participação na glória, na qual
aquele que é o Filho de Deus por excelência há de revelar-se. "Quando
Cristo, que é a nossa vida, se manifestar," diz Paulo aos crentes colos
senses , "ent ão também vós vos m anifestareis com e le em glória" (Colos
senses 3:4).
Segundo o seu eficaz p o d e r de sujeitar t am bém a si toda s as coisas ;
é o poder que Cristo partilha com o Pai, que o demonstrou ao ressuscitar
a seu Filho dentre os mortos (veja-se comentário abaixo, sobre o v. 10,
"o poder de sua ressurreição"). E o mesmo poder infinito exercido pelo
Filho, em virt ude da autoridade que recebeu para con ceder vida a quem
ele chamar (cf. João 5:21, 25-29). A ressurreição dos crentes, a quem ele
concede nova vida, é uma fase do exercíci o, porp arte do Filho, da autori dade
que o Pai lhe deu: "Pois convém que ele reine," diz Paulo aos coríntios, "até
que haja posto a todos os inimigos deba ixo dos seus pés" (1 Coríntios 15:25,
ecoando Salmos 8:6; 110:1).
(Filipenses 3:20-21) 145

Paulo não sabia, nem pretendia saber, quando o segundo advento


ocorreria. Já se disse algo acerca de sua própria perspectiva de mu dança,
no comen tário de 1:23. A assim cham ada demora da p a r o u s i a não
envolveu uma torturante reavaliação dele mesmo e de sua teologia, como
às vezes se tem afirmado. A certeza do segundo advento provém da fé;
a data de ocorrência fica inacessível ao cálculo curioso. Cada geração
sucessiva da igreja goza do privilégio de viver como se fosse a geração
que haverá de saudar o retorno de Cristo.

Notas Adicionais 24
3: 20 / Quanto à cidadania romana, consulte-se A . N. Sherwin- White, R om an
78-80
S o c i e t y a n d R o m a n L a w in th e N e w T e s t a m e n t p p . e The Rom an C it izens-
hip\ quanto à relevância para Filipenses N e w T e sta 
ment T heol ogy pp. 29 6,29 7. Qua nto à m3:20, veja -se
etrópolis E. Stauffer,
celestial cf. Gálatas 4:26 ("a
Jerusalém que é de cima é livre, a qual é mãe de todos nós"). Quanto a algumas
analogias gentílicas, consultem-se Platão, R e p u b l ic 9.592B (sobre o padrão da
cidade ideal edificada no céu); e Marco Aurélio, M e d i t a t i o n s 3:11 ("querida
cidade de Deus").
E. Lohmeyer (ad loc.) chama a atenção para a estrutura rítmica do texto
iniciado com as palavras: de onde esperamos o Salvador, como se Paulo
estivess e citando um hino cristão, ou uma co nfissão de fé cristã, sem nece ssa
riamente concordar com todas as suas minúcias (assim também crêem E.
Giittgemanns, D e r l e i d e n d e A p o s t e i u n d s e in H e r pp.24 r 6, 247; J. Becker,
"Erwagungen zu Phil 3, 20-21," T Z 27 (1971), pp . 16-29). Além d o mais, a
p a l a v r a S a l v a d o r (g r. s o t e r não
) aparece noutras passagens pauli nas, exceto em
Efésios 5:23 e nas cartas pastorais. Contudo, a redação de Filipenses 3:20, 21
(especialmente no que concerne a corpo no v. 21) tem total coerência com o
ensino geral de Paulo; veja-se R. H. Gundry, "Soma " in B iblica l T heology, pp.

177-83.
J.-F. Collange (ad loc.), R. P. M artin (ad l oc.), e outros apontam pa ra uma
série extraordinária de paralelos entre esta passagem e 2:6-11. Dentre estas
outras, M. D. Hoo ker vê 3:20,21 como transport ando a linha de pensamento de
2:6-11: em 2:6-8 temos uma descrição de como Cristo se tomou com o um de nós;
em 2:9-11 temos um relato do que ele é agora, e em 3 :20,21 ficamos sabendo como,
mediante o poder que lhe foi concedido, ele nos fará semelhantes a ele mesmo
("Interchange in Clirist." J T S n.s. 22 (1971), pp. 356, 357; e "Philippians 2:6-11,"
em J e s u s u n d P a u lu s ,ed. E. E. Ellis e E. Grasser, p. 155).
Quando Paulo afirma que "a nossa pátria está nos céus," usando o gr.
hyparchei ("já") mas, aponta para o futuro, quando se dará a sua consumação,
no advento de Cristo, o apóstolo ilustra o intercâmbio da escatologia ocorrida
com a futura, no NT; quanto a esta e a outras características da presente
passagem, ve ja-se A. T. Lincoln, P a r a d i s e N o w a n d N o t Y et ,pp. 87-109.
136
(Filipenses 3:15-21)
3:21 / O ' 'corpo de humilhaçao" ( som a tes tapeinoseo s hemon) é o mesmo
"corpo natural" (lit. "da alma"), ou somapsychikon de 1 Coríntios 15:4 4, assim
chamado porque é herança do primeiro Adão, que se tomou "alma vivente"
(psyche zosa, Gen 2:7, LXX). O "corpo espiritual" (s om apneum ati kon) de 1
Coríntios 15:44 tem esse nome porque Cristo, o "último Adão," tom ou-se pela
ressurreição "um espírito doador de vida" (pneuma zoopoioun, 1 Coríntios
15:45). Em 1 Coríntios 15:42-50, como na passagem atual, o corpo do crente
deverá parecer-se ao corpo ressurreto de Cristo.
Com a expressão para ser conforme o seu corpo glorios o (gr. symmorphon,
"con fo rmáv el ") pod em os co m parar ”conformando-me (sy mm orphi zomenos)
com ele na sua morte," no v. 10, acima. "Se fomos plantados junt am ente com
ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição"
(Romanos 6:5).
Segundo o seu eficaz poder (gr. energeia) de sujeitar também a si todas

as — que
coisascom
[Deus] ele cum
ele [oprehomem]
o que setenha
diz adomínio
resp eitosobre
do homem nodas
as obras Salmo
tuas 8:6 ("Fazes
mãos;
tudo puseste debaixo de seus pés") e do rei Davi no Salmo 110:1 ("Assenta-te
à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés").
Veja-se 1 Coríntios 15:24-28; Hebreus 2 :5-9.
Quanto à iminência e "demora" do segundo advento, veja-se A. L. Moore,
The Pa rou sia in the N ew Testament, pp. 108-74; também S. S. Smalley, "The
Delay ofthe Parousia," J B L 83 (1964), pp. 41-54.
25. Exortaçã o para Permanece r Firme
(Filipenses 4:1)

4:1 / Mais uma vez Paulo exprime sua alegria e orgulho por causa de
seus amigos filipenses, encorajando-os de novo a que permaneçam
firmes na vida cristã (cf. 1:27). De modo mais particular, no contexto
atual, Paulo os estimula a perseverar, resistindo contra aquelas influên
cias sobre as quais acabou de adverti-los — influências que poderiam
minar-lhes a estabilidade cristã. Entretanto, a satisfação que Paulo en
contra ent re esses am igos, ao escrever-lhes e ao lemb rar-se deles, sugere
que tais influências danosas ainda não haviam penetrado naquela igreja,
como de fato já havia acontecido em outras igrej as.

Notas Adicionais 25
4:1 / saudosos irmãos: é a tradução do ad jetivo verbal epipothetos, "de quem
tenho saudades." Esta forma não aparece noutras partes do NT, mas o verbo
epipothein é freqüente : ocorre duas vezes nesta carta — em 1:8, onde Paulo fala
de "sentir saudades" de todos (veja-se a nota adicional sob re 1:8), e em 2:26,
onde ele se refere à ansiedade de Epafrodito em vê-los.
Minha alegria e coroa; cf. 1 Tessalonicenses 2:19, em que Paulo e s eus
companheiros, de olhos postos no segundo advento de Cristo, chamam os
crentes tessalonicense s de "gozo, ou coroa de glória" (NIV: "nosso gozo, ou
coroa em que nos gloriamos"). Em ambas as passagens a "coroa" é stephanos,
o laur el concedido ao vencedor no sjog os (não diadema, símbolo de soberania).
26. Novo Apelo em Prol da Unidade
(Filipenses 4:2-3)

A dois membros da igreja Paulo roga, mencionando seus nomes, que


alcancem unanimidade de espírito, como irmãs em Cristo; a um de seus
colaboradores Paulo roga que as ajude nesse esforço.

4:2 / Evódia e Síntique evidentemente eram dois membros ativos da


igreja filipense, talvez mem bros fundadores. Considerando o fato de que
(numa carta destinada a ser lida na igreja) Paulo roga a cada uma, pelo
nome, que sintam o mesmo no Senhor, pod em os deduzir qu e o d esa
cordo entre el as, não importando sua natureza, representava um a ameaça
à unidade da igreja, como um todo (de modo especial em vista da
pre em in ên cia e in fl uência de qu e go za va m ). E ntr et an to , de ss e fa to , que
apenas duas ir mãs são mencionadas nom inalmente — pode-se inferir que
essa dissensão pessoal seria excepcional naquela comun idade particular.

4:3 / Quem é colocado em evidência como le al comp anheiro de jugo


de Paulo? Era simplesmente alguém que não precisava ser identificado:
todos, inclusive a pessoa assim qualificada, sabiam de quem se tratava.
A sugestão bastante atraente que apresentamos é que se tratava de
Lucas. Se Lucas foi o autor de Atos, ou pelo menos da narrativa na
pr im eir a pes so a do plu ra l (" nó s" ), podem os in fe ri r qu e ele es ta va em
Filipos durante parte do tempo, ou na maior parte do tempo, entre a
pr im eir a ev an gel iz aç ão do po vo e a b re ve vis it a de Paul o à ci dad e, an te s
de lançar-se em sua última viagem a Jerusalém (cf. A tos 16:17 com 20:5).
Portanto, se esta parte da carta coincide com esse período (como as
afinidades com 2 Coríntios parecem sugerir), é bem possível que Lucas
seja o le al com panheiro de jugo. De outra forma, a identidade desse
colaborador torna-se assunto de especulações mais amplas.
O le al comp anheiro de ju g o é exortado a coop erar no caso de Evódia
e Síntique, a fim de que a valiosa contribuição delas à vida e ao
testemunho da comunidade não seja prejudicada pela dificuldade em
entrarem num acordo. Paulo concede às duas mulheres um tributo
notável, ao afirmar que essas mulheres... trabalharam comigo no
evangelho. Eis um termo vigoroso, emprestado do atletismo (o mesmo
136 (Filipenses 3:15-4)
verbo syna thlein aparece em 1:27, "com batendo jun tam en te com o
mesmo ânimo pela fé do evangelho"). Isto não indica que as colabora-
doras de Paulo do sexo feminino desempenharam funções de menor
importância, em comparação com os colaboradores do sexo masculino.
Paulo se recorda delas, e pensa noutros colaboradores que contribuí
ram nobremente no esforço comum. De Clemente, mencionado pelo
nome, nada mais sabemos: visto que seu nome é latino, é concebível
pensa r qu e ele se ria cidadão de Fi lipos . Q uan to a to dos os outros
cooperadores, Paulo observa que seus nomes estão no livro da vida —
a lista oficial dos habitantes do reino celestial. Livro da vi da é expressão
encontrada no AT para exprimir as pessoas que sobreviveram a um
desastre, passando a gozar um período extra de vida na terra, como em
Isaías 4: 3: "todo aquele que estiver i nscrito entre os vivos em Jerusalém ."
(Cf. também Êxodo 32:32; Salmos 69:28; Ezequiel 13:9). Em Daniel
12:1 e no NT essa figura de linguag em é usad a mais para as pessoas que
foram admitidas à vida eterna, cujos "nomes estão escritos no céu"
(Lucas 10:20; cf. Hebreus 12:23). A maldição do Salmo 69:28 ("Sejam
riscados do livro da vida, e não sejam inscritos com os justo s") passa por
reversão em Apocalipse 3:5, admitindo crentes destemidos que ganham
vitória espiritual: "De maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da
vida." No dia do juíz o final, em Apoca lipse 20:11-15, o "livro da vida"
(cf. Ap ocalip se 13:8; 17:8) é aberto e "todo aquele que não foi achado
inscrito no livro da vida, foi lançado no lago de fogo."
Entretanto, Paulo pode estar denotando aqui algo mais do que a posse
da vida eterna (que é a herança de todos os crentes); a implicação pode
ser que a obra evangelística realizada pelos seus cooperadores está
registrada, ao lado de seus nomes, no livro da vida.

Notas Adicionais 26
4:2 / Diz Paulo: Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que sintam o mesmo;
a repetição do verbo rogo a (gr. pa raka leo) antes de cada nome, como se ele
estivesse se dirigind o pessoalmente, primeiro a um a e em seguida à outra ("Por
favor, Evódia; por favor, Síntique..."), é digna de nota.
Que sintam o mesmo: gr. to autophronein, traduzido por "tenhais o mesmo
modo de pensar" em 2:2a. Nada existe que sugira um desacordo em tomo de
alguma agitação gnóstica, como se as duas mulheres pusessem em perigo a
unidade da igreja " ao abrir as po rtas— talvez como líderes de i grejas domésticas
— para os gnó stic os" (W. Schmith als, Pau l and the Gnostics, pp. 112-14).
142 (Filipenses 3:18-76 )
É infrutífero tenta r identificar uma del as com a Lídia de Atos 16:14, 40, como
se Lídia não fosse nome próprio, mas significasse "a mulher lídia" (da região
de Lídia, cf. a men ção de Tiatira em Atos 16:14).
4:3 / O leal c ompan heiro de jugo foi identifi cado como sendo Lucas por M.
Hájek ("Comments on Philippians 4:3 — who was 'Gnesios Syz ygos'?" Com -
mu nio Viat orum 1 [1964], p. 261-62) e T. W. Manson. O adjetivo leal (gr.
gnesios leva alguns a op tar por Timóteo, c omo por ex. J.-F. Collange e G.
Friedrich (cf. o advérbio g n e s i o s em 2:20, com nota adicional ad loc.) . E possív el
que Timóteo houvesse recebido instruções verbais, antes de partir para Filipos;
todavia, a inclusão dessas instruções na carta asseguraria que quando a mesma
fosse lida em público, na igreja, sua autoridade para tomar providências nesta
questão ficaria assegurada. Esta última consideração também se aplicaria a
Epafrodito, o leal companheiro na opinião de Marius Victorinus e J. B.
Lightfoot. Muitos comentadores julgam que Syzygo s é nome próprio, e não o
substantivo comum que significa companheiro de jugo: assim opinam K.
Barth, P. Benoit, P. Ewald, J. Gnilka, E. Haupt, J. J. Müller, K. Staab. Mas, G.
Delling salienta (TDNTvoX. 7, pp. 748-50) que não existem provas de Syzygos
ser nome próprio; ele próprio prefere achar que se trata de Silas (Silvanus),
companheiro de Paulo na evangelização de Filipos.
O fato de a palavra grega syzygos (à semelhança da palavra portuguesa
"companheir o, companheira") às vezes tero sentido de "cônjuge", levoualg uns
a ver esse sentido aqui — como se Paulo tivesse uma esposa residente em Filipos
(quem senão Lídia?) e estivesse pedindo a ela que ajudasse a resolver a questão
entre Evódia e Síntique. Tal interpretação aparentemente teria sido aprovada
po r Clemente de Alexandria (Sfrom.3.6.53.1) e defen did a po r Erasm o; cf.
também E. Renan, S t. P a u l, p. 76; S. Baring G ould,/! S t u d y o f S t . P a u l(London:
Isbister, 1987), pp. 213-16. Todavia, o adjetivo leal ou "genuíno" (gnesie,
vocativo) que qualifica syzygos, aqui, certamente é masculino. A idéia pertence
à ficção romântica, e não à exegese histórica.

estaW. Schmithals
seção pertenciasugere que o endereçamento
srcinalmente, teria sido fe (agora perdido)
ito a uma pessoadapelo
carta,
nomà qual
e (e.g.,
um líder da comunidade, ou talvez um dos primeiros convertidos dentre os
filipenses); esta pesso a seria, então, o leal companheiro (Paul an d t he G nosti cs,
pp. 76 ,77). E melhor reconhecer que a identi dade do leal companheiro era do
conhecimento perfeito da igreja fil ipense, e que nós só podemos faz er conjec
turas, nesse caso.
27. Convite Re iterado a Regozijar -se (Filipen ses 4: 4)

Paulo repete e enfatiza a exortação de 3:1.


4:4 / O advérbio sempre deixa bem claro que isto não é mera fórmula
de despedida; o verbo regozijai-vos é empregado em seu sentido total.
Com pare-se com 1 Tessa lonicenses 5:16, "Regozijai-vos sempre." Aqui,
está bem claro que o Senhor deve ser o motivo de ssa alegri a.
Outra vez digo: o verbo está no futuro, sem qualquer ambigüidade
(ero). "Eu já disse uma vez," é o que Paulo pretende dizer, "e eu o dire i

pela se gunda vez" (p ara m aio r ênf ase ).


Notas Adicionais 27
4 :4 /Em The N T: An Ame rican Translation este versículo é traduzido assim:
"Adeus, e que o Senhor esteja para sempre convosco. Digo-o ou tra vez: Adeus."
Cf. a tradução, nesta obra, de 3:1, com E. J. Goodspeed, Pr ob lems o fN T
Translation, pp. 174, 175.
28. Estímulo à Fé (Filipense s 4: 5- 7)

A certeza da presença do Senhor, a confiança em poder aproximar-se


de Deus mediante oração e ações de graças e a conseqüente paz no
coração se manifestarão numa atitude de cortesia para com todos.

4:5 / A moderação inculcada aqui é traço do caráter cristão. Em 2


Coríntios 10:1, Paulo fala de "mansidão" ou "benignidade" de Cristo,
mediante a qual o crente consegue suportar com paciência até mesmo o
abuso da parte de outrem (cf. Sabedoria 2:19). Mediante a moderação o
crente sabe como parar pela graça, não insisti ndo em seus dir eitos . Matthew
Arnold traduziu o termo grego por "doce razoabilidade", que se tomou
termo de uso comum. Quando Pórcia, de Shakespeare, diz a Shylock, em
"Mercador de Veneza" 4:1:

Ainda quejustiça seja o teu pleito, lembre-se:


No curs o da j u s ti ç a nin guém dentre nó s
Deveria ver salvação... falei tudo isto
A fim de abrandar ajustiça de teu pleito,

ela está-lhe recomendando o cultivo da moderação, que seria atributo


pr ove nie nte do pr óp rio Deus.
Os crentes devem manifestar esta virtude em seu relacionamento com
as demais pessoas, e perante o Senhor.
Perto está o Senhor. Pode significar que "a volta do Senhor está
pró xim a," "o Sen ho r va i re gre ss ar em bre ve"; é algo qu e P aulo poderia
ter dito (cf. 3:20), no espírito das instruções de Jesus a seus discípulos,
que deveriam proceder como servos que aguardam a seu senhor (Lucas
12:42-48). Entretanto, as palavras do apóstolo podem implicar perto
quanto a lugar ou perto no tempo. "Perto está o Senhor" é certeza
reiterada perante seu povo no AT (cf. Salmos 34:18; também Salmos
119: 151; 145: 18) . Se o único elem ento em vista fosse o tempo, alguém
p o d e ri a ju lg a r qu e es sa certeza se ria m ais válida par a os que estarã o viv os
um pouco antes da data desconhecida do advento do Senhor, e menos
válida para os que viveram muito antes; contudo, segundo o sentido
pro vável da s pala vra s de Paulo , aq ui , o Sen hor es tá se m pre ig ualm ente
pert o de seu povo, se m pre "p er to ". "C rist o es tá , port anto , se m pre à n oss a
(Filipenses 2:17-77a) 99
porta; tã o perto es ta va há do is mil an os co m o es tá ag or a, e não m ai s per to
hoje do que ontem, e não mais perto no advento do qu e agora" (Newm an,
p. 241).

4:6 / Visto que "perto está o Senhor," a exortação a seu povo é: nã o


andeis ansiosos por coisa al guma. Ist o se enq uadra no ensino do próprio
Jesus a seus di scípulos: "Não andeis ansiosos pela vossa vi da, q uanto ao
que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que
haveis de ve stir... não andeis ansiosos pelo dia de amanhã, po is o amanhã
se preocupará consigo mesmo" (Mateus 6:25-34). A existência cristã
num mundo pagão era cheia de incertezas: perseguições de um tipo ou
outro sempre constituía uma possibilidade, e tornar-se membro de qual
quer associação patrocinada por divindades pagãs era algo impossível, o
que resultava em desvantagem econômica. Entretanto, se o Senhor
estivesse perto, não havia razão para ansiedade. Jesus havia estimulado
seus discípulos a eliminarem a ansiedade porque o Pai celeste, que
alimenta os pássaros e veste a erva do campo com flores, sabia de suas
necessidades e podia muito bem supri-las (Mateus 6:26-32 par. Lucas
12:24-30). De modo semelhante Paulo ensina: mas em tudo, pela
oração e pela súplica, com ações de graças, sejam as vossas petições
conhecidas diante de Deus. O apóstolo usa três palavras gregas para
"oração", aqui. Há pequenas diferenças de sentido entre essas palavras
mas o principal efeito no uso de todas as três é a ênfase na importância,
na vida cristã, da constância na oração de fé, plena de expectativa. À
semelhança de seu Mestre, Paulo age com máxima certeza de que um
elem ento essencial da oração é q ue se peçam coisas a Deus com o mesmo
espírito de confiança que as crianças demonstram quando pedem coisas
a seus pais. Na oração que Jesus ensinou a seus discípulos, para que a
usassem ao dirigir-se ao Pai celeste, o Senhor incluiu o pão de cada dia
ao lado da vinda do reino à terra.
Acima de tudo, a lembrança de bênçãos passadas constitui salvaguar
da contra a ansiedade quanto ao futuro: essa memória acrescenta con
fiança à oração que roga mais bênçãos. E is aqui a i mp ortância das ações
de graças na verdadeira oração.

4:7 / Se os filipenses acatassem esse estímulo, em lugar da ansiedade


eles gozariam de paz no coração. Jesus, em João 14:27, concedeu a seus
discípulos "a minha paz," que ele deu não "como o mundo a dá."
136 (Filipenses 3:15-7)
Portanto, aqui, a paz que os filhos de Deus recebem é a paz de Deus,
que excede todo o entendimento. Paz que "ultrapassa toda imaginação"
(F. W. Beare); vai além de tudo quanto a sabedoria humana consegue
pla neja r. E st a paz será "fortaleza", guardará os vossos corações e as
vossas mentes, mantendo do lado de fora a ansiedade e outros intrusos:
guardará os crentes em Cristo Jesus.
A paz de Deus pode sig nif ic ar nã o ap en as a pa z qu e ele m es m o
concede (cf. Rom anos 5:1) mas a serenidade em que o próprio Deu s vi ve:
Deus não está sujeito à ansiedade.

Notas Adicionais 28

4:5 / moderação:
epieikeia, "benignidade," epieikes,
gr em adjetivo
2 Coríntios neutro;
10:1. cf. o descreve
Aristóteles substantivo abstrato
epieikeia
como aquil o que não apenas é jus to porém melhor ainda do que a justiç a
(Nicomachean Ethics 5.10.6). Há ocasiões em que a insistência estrita na letra
da lei (como no caso da libra de carne de Shylock) induz à injustiça; epieikeia-
reconhece essas ocasiões e sabe como agir quando elas surgem. "Para o emprego
correto dos métodos e dos segredos de Jesus, precisamos da epieikeia, a doce
razoabilidade (benignidade) de Jesus" (M. Amold, Literature an d Dogma,
London: Smith, Elder, 1900, p. 225.) Veja-se também R. Leivestad, "The
Meekness and Gentleness of Christ, " N TS (1965-6 6), pp. 156-64.
Perto está o Senhor. (Gr. ho kyrios engys.) O advérbio engys pode significar
"perto" quanto a lugar ou quanto a tempo; quem decide o significado no rmal
mente é o contexto.
4:6 / em tudo, pela oraç ão... : das três palavras utilizadas neste versículo para
"oração," a primeira (proseuche) é termo genérico para oração a Deus; a
segunda (deesis) e nfatiza o elemento de petição, a súplica em oração; e a terceira
(aitema) significa aquilo que se está pedindo.
4:7 / guardará (ou "será como fortaleza"), gr. ph rouresei. Em Colossenses
3:15 Paulo usa uma figura de linguagem diferente: a paz de Cristo "domine em
vossos corações" (gr. brabeuein "seja árbitro", lit.,). NI V traz: "que a paz de
Cristo reine em vossos corações."
29. Segunda Conclusão: Alimento para a Mente
(Filipenses 4:8-9)

Os leitores são exortados a que, no pensamento e também na ação, se


concentrem naquelas coisas que são boas em si mesmas e benéficas a
todos.

4:8/ Quanto ao mais, irmãos: p raticam ente a m esm a re daçã o de 3:1.


Se "a mente é colorida segundo a cor dos pensamentos em vigília,"
aquil o em que a pessoa pensa dá personali dade à vida. É necessária boa
alimentação para a saúde física, tanto quanto é necessário que haja bons
p en sa m en to s p ar a qu e h aja sa úd e m en ta l e e sp iritual . P au lo faz u m a lista
de seis desses bons pensam entos e, em seguida, ex orta os fi lipenses: nisso
pensai; isto é, "levai estas coisas em consideração" ou "em vossas
decisões cons iderai estas coisas" (F. W. Beare). Colocai as vossas m entes
nelas, diz o apóstolo, e tendo fixado nelas o vosso pensamento, planejai
e trabalhai de acordo com tudo o que é:
(1) verdadeiro. Poderia tratar-se de advertência contra indulgência
mental em fantasi as ou difamações infundadas. Todavia, há coi sas ver
dadeiras factual me nte em que não devemos fix ar o pensamento: tudo o
que é verdadeiro p oss ui as q ualidades m ora is de re tidão e co nfia n ça, de
realidade em contraposição à mera aparência.
(2) honesto. Esta palavra (gr. sem nos) é particularmente comum nas
cartas pastorais; esta é a única vez que ocorre no NT, fora daqueles três
documentos. A mente que se concentra em assuntos desonestos corre o
peri go de to rn ar- se deso ne st a. H onestidad e é o contr ári o da du pli cid ade
de caráter que avilta a moral, sendo incom patível com a mente de Cristo.
(3 ) ju s to . (Gr. dikaios.) Não é necessário enfatizara importância dos
pen sam en to s e pla n os ju sto s: o pró pri o D eu s é ju sto e am a a ju s tiç a em
seu povo (Salmos 11:7). O reverso disso nós o encontramos no homem
iníquo que "maquina o mal na sua cama," a fim de executá-lo depois, à
luz do dia (Salmos 36:4; cf. Amós 8:4-6).
(4) puro. Esta palavra (gr. hagnos) tem o sentido genérico de inocên
cia (como em 2 Coríntios 7:11) ou o sentido especial de castidade (como
em 2 Coríntios 11:2). Pureza de pensam ento e de propó sito é condição
p relim in ar in dis pensá vel p ara a p ure za na pala v ra e na aç ão , em o posi ção
160 (Filipenses 4:10-13)
à "prostituição, e toda sorte de impureza ou cobiça" que nem sequer
devem ser mencionadas entre o povo de Deus (Efésios 5:3).
(5) amável. (Gr. prosph ile s.) Tudo que é amável se auto-recomenda
pela at ra çã o e en can to in tr ín se co s. São aq ue la s co isas que pro porc io nam
pra zer a to do s, nã o ca us an do dissa bor a nin gué m , à se m el ha nça de um a
fragrância preciosa.
(6) de boa fama. (Gr. euphemos.) Uma coisa tem boa fama neste
sentido quando merece e usufrui "reputação admirável." A mente que se
fixa nestas coisas, em vez de naquelas que são desonrosas, tem muitas
coisas em comum com o amor, que se alegra quando traz a verdade
às outras pessoas, e jam ais nas coisas que lhes tr azem descrédito
(1 Coríntios 13:6).
Há uma qualidade rítmica no texto grego do verso 8 (como também
na familiar t raduçã o KJV: "Todas as coisas que s ão verdad eiras..."). Isto
sugere que Paulo poderia estar citando certas palavras bem conhecidas
de admoestação ética. As virtudes que ele relaciona não são especifica
mente cristãs; todavia, são excelentes e elogiáveis sempre que encontra
das. Entretanto, num contexto cristão como este em que se apresentam,
tais palavras adquirem nuances distintas, associadas à mente de Cristo.
Então, estas coisas — em si mesmas revestidas de virtude, ple nas de
louvor — devem ocu par n os so pen sa m ent o, part ic ip ar de noss os pl an os ;
os resultados serão benéficos para a vida e para a ação.

4:9 / Mais um a vez a tecla da i mitação de Paulo é acionada. M ediante


ensino e exemplo Paulo tem demonstrado a seus convertidos como viver
e como agir, inculcando neles, assim, a tradição ética derivada dos
ensinos e exemplo de Jesus. Se eles puserem em prática estas lições (o
que aprendestes, e recebestes, e ouvistes de mim, e em mim vistes,
isso fazei) a conduta deles será a exteriorização dos hábitos mentais
inculcados no versículo 8.
E o Deus de paz será convosco. Deus é um Deus de paz. N ão se trat a
apenas dele nos con ceder pa z; a paz pertence ao seu caráter divino. Deus
é o "autor da paz e da concórdia": a inimizade e a dissensão provêm de
nossa "natureza pecaminosa" (Gálatas 5:19-21). Possuir o próprio Deus
da paz é ainda melhor do que ter apenas a paz de Deus (v. 7). "O Deus
de paz" é designação recorrente de Deus no NT — de modo especial nos
finais das cartas de Paulo (Romanos 15:33; 16:20; 2 Coríntios 13:11;
1 Tes salonicenses 5:23) e també m em Hebreus (13: 20).
(Filipenses 4:8-13) 161

Notas Adicionais 29
4:8 / Quanto ao mais, irmãos (gr. to loipo n, adelph oi)-. o pronome posses
sivo "meus" (gr. mou.) está ausente, estando expresso em 3:1. Quanto à repetição
de to loipon, consultem-se pp. 27,29 e 110, acima.
Honesto: gr. semnos, "muito digno." A qualidade de semnotes, de acordo
com Aristóteles, é "uma gravidade amena e decente" (Rhetoric 2.174); é o meio
termo en tre areskeia, "obsequiosidade," "subserviência," e authadeia, teimosia
grosseira (Eudem ian Ethi cs, 2.3.4).
De boa fama: J. B. Lightfoot (ad loc.) sugere um sentido ativo para este
adjetivo euphemos-, "falar bem de" em vez de "ter boa reputação." NIV traz
"admirável."
Se há alguma virtude: lit., "se há alguma bondade" (gr. arete), "virtude,"
"excelência, " palavra que Paulo não usaria outra v ez, em seus escrit os.
Nisso pensai: gr. logizesthe, "considerai," "levai em consideração."
4: 9/ receb este s: Gr . p a r e l a b e t e . Deveríamos talvez reconhecer aqui o verbo
p a r a l a m b a n e i n no sentido de "receber por tradição" (sendo o correlativo para-
didonai, "entregar como tradição"), como em 1 Coríntios 15:1; Gálatas 1:9;
Colossenses 2:6; 1 Tessalonicenses 4: 1 • Atrad ição (paradosis) de Cristo no NT
possui trê s com ponentes principais: (1) um resum o da história do eva nge lho ,
quer sob a forma de pregação (kerigma), quer de confissão de fé ( hom ologia) ;
(2) uma narrativa das palavras e obras de Cristo; (3) princípios gerais éticos e
comportamentais que possam reger a vida crist ã. O que se tem em mira aqui é
a terceira destas categorias de tradição. Veja-se R. P. C. Hanson, Tradition in
the Early Church; F. F. Bruce, Tradit ion O ld and New.
N a ap res en tação do exe mp lo de Pau lo, aqui, como em 3:17, W. Sch mithals
faz distinção, discernindo uma nota polêmica, como se Paulo estivesse adver
tindo os filipenses contra o que eles poderiam ter "aprendido, recebido e visto"
em contato com terceiros (Paul and the Gnostic s, pp. 112, 113).
30 . Suficiência de Paulo (Filipenses 4: 10 -1 3)

Paulo chega agora a uma das principais razões por que está escreven
do. Se esta nota (4:10-20) era parte integra nte da carta principal, o
apóstolo a reservou para o fim com o objetivo de dar-lhe ênfase — sua
expressão de gratidão pela oferta que Epafrodito lhe trouxera da igreja
de Filipos.

4:1 0/M uito me regozi jo n o Senhor, significando "apresentei alegres


agradecim entos ao Senhor" (quando recebi vossa oferta) . Pau lo agradece
aos crentes filipenses a oferta que lhe enviaram, mas seu "regozijo"
deriva principalmente da evidência que esse fato representa de os fili
pen ses te re m co nt ín uo des ej o ar de nte de cooper ar com Pau lo no evan
gelho.
Alguns comentadores acham a redação de Paulo aqui bastante estra
nha, em se tratando de uma expressão de grati dão: Dibelius se refere ao
"agradecimento sem graças" de Paulo. Todavia, as palavras dele devem
ser lidas à luz do mútuo e profundo afeto existente entre ele e a igreja
filipense, e à luz do bem-documentado hábito financeiro de Paulo.
O advérbio finalmente pode im plica r, se to m ad o só em si m es m o, que
os filipenses permitiram que um longo período de tempo decorresse
desde que haviam enviado a última oferta a Paulo; todavia, o contexto
nos revela que não há base para tal ponderação. É concebível, isto sim,
que n o endereçam ento, ou cabeçalho da nota que lhe enviaram junto à
dádiva, houvessem escrito algo a ssi m: "Finalmente temos a satisfação
de enviar-lhe uma oferta, mais uma vez," e que Paulo, aproveitando a
frase, lhes diga: "Finalmente, como vocês dizem..." Entretanto, o longo
intervalo se deve, com toda probabilidade, ao costume de Paulo no que
conc erne à aceitação de prese ntes e ofertas por parte das igrejas. Ele d eixa
bem clar o que, se só ag or a renovastes o vosso cuidado a meu favor,
isso não se deveu a alguma interrupção no interesse da parte deles, mas
antes, ao fato de faltar-lhes oportunidade para mostrá-lo. E por que
não tiveram tal oportunidade? Porque o próprio apó stolo os privara de la.
Na M ac ed ôn ia — esp eci al m en te em T es sa lô nic a — e ta m bém em
Corinto, Paulo verificara que se aceitass e ajuda financ eira para si mesm o,
da parte de seus convertidos, seus adversários deturpariam esta idéia,
(Filipenses 2:17-80a)
99
com malícia, dizendo que Paulo queria viver às custas da igreja. (Tais
detratores de Tessalônica aparentemente não faziam parte da igreja; os
de Corinto, sim). Daí, talvez, o pedido de Paulo a seus convertidos, para
que não lhe enviassem dinheiro para seu uso pessoal. Acima de tudo,
quando o apóstolo começou a organizar um fundo de socorro à igreja de
Jerusalém, seu grande anseio era que todas as dádivas entregues pelas
igrejas fossem canalizada s para tal fundo; ele sabi a, no entanto, que ainda
assim haveria pessoas que aproveitariam a ocasião como pretexto para
dizerem que o dinheiro arrecadado como ajuda aos pobres estava sendo
desviado para o bolso do próprio Paul o. Sabemos que as igrejas mace-
dônicas haviam feito o máx imo no partil ham ento de seus recursos, a fim
de contribuir para aquele fundo de socorro (2 Coríntios 8:1-5).
Todav ia, a est a altur a o dinheiro dos po bres já havia sido coletado e
enviado a Jerusalém. Durante visita a Jerusalém, ao lado de repre
sentantes das igrejas doadoras, Paulo foi preso. Depois de ter passado
dois anos sob custódia, em Cesaréia, passou a morar numa casa em Roma,
como prisioneiro do miciliar. Mu dara a si tuação do após tolo: seus am igos
de Filipos entenderam que agora, finalmente, era oportuno enviar-lhe
uma oferta, o que fizeram pela mão de Epafrodito.

4:11 / Paulo demonstra grande apreciação pelo interesse dos bondosos


filipenses, mas assegura-lhes que não estava em necessidade daquele
tipo. A redação paulina parece sugerir que havia constrangimento, por
causa do espírito independente e sensível do apóstolo, ao dizer "muito
obrigado", agradecendo uma oferta espontânea da parte de amigos tão

amorosos e amados,
A política os irmãos
financeira daera
de Paulo igreja
nãoem Filipos. às custas de seus conver
viver
tidos. Ele achava que, à semelhança dos outros apóstolos e líderes
cristãos, tinha o dir eito de receber sustento da parte dos con vertidos, mas
Paulo de cidiu não usu fruir desse dir eito (1 C oríntios 9:12; 2 Tessaloni
censes 3:9). A bagage m de Paulo era bem leve; suas posses se limitavam
às roupas do corpo e talvez algumas ferramentas de seu ofício, mais
alguns papiros e pergam inhos menc ionados em 2 Timóteo 4:13. Sabi a
como sobreviver com o mínimo; na verdade, forçara-se a aprender em
como se contentar com pouco. Já aprendi a contentar-me em toda e
qualquer situaç ão, diz Paulo, palavras que John Bunyan expandiria no
cântico do menino pastor:
160 (Filipenses 4:10-13)
Estou contente com o que tenho,
Seja pouco ou seja muito,
E é alegria o que mais almejo, Senhor,
Porque ela indica os que salvaste.

N est a pere gri nação concede-m e


Medida total de alegria:
Provação agora, bênção depois,
Eis a bem-aventurança das gerações.
"Contentando-vos com o que tendes" (Hebreus 13:5) — eis, pelo que
p are ce, o p re ceit o ger al da ig re ja prim itiv a. E sta atitu de opõe-s e de fr en te

pà roambição,
n uncia racontra a nes
m so le qual advert
Jesus ência
(cf. Lucas 12:15)
s, desc e seusa discípulos
re vendo "p ess oa avare nta "
como "idolatra" (Efésios 5:5).
A palavra traduzida por contentar-me (gr. autarkes) era comum no
estoi cismo d enotando o ideal da pessoa t otalmente auto-sufici ente. Paulo
a emprega a fim de expressar sua independência das circunstâncias
externas. Estava sempre consciente de sua total dependência de Deus. O
apóstolo era mais "suficiente em Deus" que auto-suficiente: "a nossa
capacidade vem de Deus" (2 Coríntios 5:5).

4:12 / Paulo acumulava vasta experiência em passar com menos do


que o suficiente, em algumas ocasiões, e ter mais do que o suficiente,
noutras ocasiões. Isso pouca diferença lhe fazia. Já aprendi a conten-
tar-me, diz ele, tomando emprestado um termo do vocabulário das

religiões místicas ("Eu me tornei adepto" é como F. W. Beare o traduz).


Aprendi tanto a ter fart ura, como a t er f om e, t anto a ter abundân cia,
como a padecer necess idade. Só podem os imaginar o que é que Paulo
considerava abundância — tu do qu e estiv ess e acim a do m ín im o neces
sário quanto á alimentação e vestuário, sem dúvida alguma. Sendo um
homem educado em ambiente el evado, sua conversão signif icou a
entrada num novo m odo de vida. Ser cidadão de Tarso sign ificava ser
pess o a d e gra ndes poss es m at eriai s. E ntr eta nto , por a m or de Cristo, Pau lo
havia dado "também por perda todas as coisas" (3:8), inclusive (podemos
ter certeza) sua herança material; o apóstolo aprendeu, dali em diante, a
sobreviver com o que pudesse ganhar mediante seu ofício de meio-ex-
p edie nte , de "fa z e rt e n d a s" (cf. 1 T ess alo n ic ense s 2:9; 2 T ess alo nic ense s
3:8; Atos 18:3; 20:34).
(Filipenses 4:10-13) 161

4 :1 3 / Paulo não coloca a seu crédito o aprendizado da l ição sobre estar


sempre co ntente; é graças àque le que o capac ita que o apóstolo diz: Posso
todas as coisas naquele que me fortalece. N a ver dad e, quando se
tornava mais consciente de sua fraqueza pessoal é que ele mais se
certificava do po der de Crist o que nele residi a. "Portanto, de boa vontade
me gloriarei," diz ele, "nas minhas fraquezas, para que em mim habite o
poder de Cristo. Pe lo qu e sinto p ra zer na s fr aquezas, na s in jú ri as, na s
necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Pois
quan do estou frac o, então é que sou forte " (2 Corín tios 12:9, 10).

Notas Adicionais 30

4:10/ Muito me regozijo: o aoristo echaren ("eu me regozijo") se refere ao


momento em que Paulo recebera a oferta, mas a alegria persistia até aquele
momento.
Finalmente: gr. ede pote. Veja-se J. H. Michael, "The First and Second
Epistles to the Philippians," E x p T 34 (1922-23), pp. 106-9, quanto à opinião de
que Paulo estaria citando as próprias palavras dos filipenses. Consultem-se
tamb ém pp. 15-16 acima.
Renovastes o vosso cuidado a meu favor: gr. anethalete to hyper emou
p h r o n e i n , lit., "florecestes outra vez (intransitivo) com respeito ao vosso cuida
do para comigo" o u "fizest es com que vosso cuidado por mim florescesse outra
vez" (transitivo). Este é o único exemplo no NT de anathallein (ou na verdade
de thallein ou qualquer derivado) .
Mas vos faltava oportunidade: gr. ekaireisthe, imperfeito de akaireisthai
"não ter kairos (oportunidade); esta é a única ocorrência deste raro verbo, na
Bíblia em grego.
4:11 / a contentar-me em toda e qualquer situação: gr. en ho is e imi
au tarkes einai . A ênfase estóica sobr e autarkeia, no sentido de auto-suficiência,
tem raízes em Sócrates; quando alguém lhe perguntou quem era a p essoa mais
rica, Sócrates replicou: "Aquele que está contente co m o pouc o, visto que a
alegria ( autarkeia) é a riqueza da natureza" (Stobaeus, F loril egium 5.43).
Quanto à independência natural de espírito e de perspectivas de Paulo, consul-
te-se C. H. Dodd, "The Mind of Paul, I" em N e w T e s t a m e n t S tu d ie s ,pp. 71-73.
4:12 / Descobri u-se um certo padrão rítmico nos w . 12 e 13, o qual , aqui
pelo menos , não é exp lica do em termo s de cita ção de outra fonte qua lquer.
Em todas as maneiras aprendi: gr. memyemai, "eu me iniciei em" (da raiz
m y , deste verbo myein deriva-se m ysteri on, "mistério").
4:13 / qu e me fort ale ce : lit., "que é meu fortalecedor" (gr. en t o endynam ounti
me), i. é, Cristo. Com este emprego do particípio presente de endynamoun cf. o
aoristo participial em 1 Timóteo 1:12, "dou graças àquele que me fortaleceu (t o
endynam osanti me, 'aquele que me deu poder'), Cristo J esus nosso Sen hor."
135 (Filipenses 3:15-14)
não apenas porque eles lhe enviaram uma oferta mas também porque
esse envio serviu de sinal da graça celestial na vida deles. Usando uma
figura de linguagem, seria um depósito que efetuaram no banco celeste,
que se mu lti plicari a aju ros compostos, para benefício deles mesmos. O
objetivo dos filipenses fora que sua generosidade tivesse Paulo como
alvo, e isso, de fato, aconteceu; todavia, no âmbito espiritual, o lucro
perm anente pertence ao s fi lipense s.

Notas Adicionais 31
4: 14 / fizest es bem: gr. kalos epoiesate, "vós agistes bem." Cf. Atos 10:33,
kal os epoies asparagenom enos, "bem fizeste em vir" ou "agradeço-te o teres
vin do ." Assim como no pretérito kalospoiein transm ite a idéia de "agradeço -te,"
no futuro ex pressa um pedido: "por favor" (como em 3 J oão 6, "bem f arás, kalos
p o i e s e i s . "Se os encaminhares em sua jorna da po r modo digno de Deus, bem
farás").
4:15/0 filipenses: o vocativo P h il ip p e s i o i possui um a form a ba seada no
latim P h il i p p e n s e s , como era bem apropriado a cidadãos de uma colônia
romana. Compare esse vocativo com "ó insensatos gálatas," de Gálatas 3:1 e "ó
corínti os," de 2 Coríntios 6:11, onde a intenção paulina é demonstrar perplexi
dade e exortação, respectivamente. Aqui em Filipenses, todavia, Paulo deseja
exibir gratidão afetuos a.
No princípio do evangelho: M. J. Suggs, "Conceming the Date of Paul's
Macedonian Ministry," N o v T A (1960), pp. 60-70, seguindo o sentido literal do
grego, estabelece a data da evangelização da Macedônia em inícios dos anos
40. Nesse caso, seria bem no começo do ministério apostólico de Paulo;
entretanto, sérios obstáculos impedem que se aceite essa datação.
4 :1 6 /não apenas uma vez, mas d uas : gr. kai hapax kai dis lit., "ambasum a

eL.duas vezes""Ka
Morris, é uma ex kaipressão
i hapax di s"idiomática que6),significa
, N ov T (\95 pp. 203-8. "mais
Eladeocorre
uma vez";
tam bém cf.
em
1 Tessalonicenses 2: 18. Quanto à opinião d e que e ssa frase não faz referência
exclusiva à visita de Paulo a Tessalônica, consulte-se o mesmo artigo de L.
Morris (p. 208) e R. P. Martin, ad loc.
4:17/fruto que aumente o vosso crédito: gr. karpos, "fruto", talvez com o
sentido de "juro s" (se assim for, Paulo prossegue no em prego de jarg ão conta-
bilístic o; o particíp io ac om pa nh an te, p l e o n a z o n t a , "multiplicando", em vez de
crédito, pode sug erir que se trata deju ro s compostos).
32. Reconhecimento de Dádivas Atuais
(Filipenses 4:18-20)

Paulo lhes entrega o recibo da oferta e roga a Deus que os abençoe.

4:18 / Prosseguindo em seu "jargão contabilistico", diz Paulo: m as


bastante tenho recebido. Se ele sabe "tanto a ter fartura, como a ter
fom e, tanto a ter abundân cia, como a padec er necessida de" (v. 12), os
filipenses lhe proporcionaram mais uma vez a oportunidade de ter mais

ainda. Depois
enviado; aqui que recebi
Paulo sentedequEpafrodito o que da vossaJáparte
e est á transbordando. haviame foi ionado
menc
Epafrodito com muita apreciação (2:25-30) como sendo (diz o apóstolo)
"vosso enviado para prover às minhas necessidades"; entregar-lhe a
oferta dos filipenses foi uma das maneiras pelas quais Ep afrod ito o havia
ajudado.
A oferta fora bem recebida por Paulo. Entretanto, o apóstolo estava
engajado na obra de Deus; portanto , a ofe rt a fo ra dedic ada ao pró prio
Deus, tanto qu anto a Paulo, pois foi pelo menos tão bem -vinda para Deus
como para Paulo. Agora o apóstolo deixa de lado a linguagem da
contab ilidade e apela para a s expressões do cult o. A oferta fil ipen se fora
cheiro suave, como sacrifício agradável e aprazível a Deus. A frase
cheiro suave é encontrada repetidamente no AT, a partir da descrição
do sacrifício feito por Noé, de Gênesis 8:21 em diante; é freqüente de
modo especial nas instruções sobre os sacrifícios levíticos (cf. Êxodo
29:18, etc.) No NT é empregada de modo figurado referindo-se ao
auto-sacrifício de Cristo (Efésios 5:2), e expressão semelhante se empre
ga a respeito da auto-entrega que o povo de Deus faz a seu Senhor
(Romanos 12:1; 2 Coríntios 2:14-16; Hebreus 13:16).

4:19 / Os filipenses podem ter certeza, diz Paulo, que o que apresen
taram a Deus será amplamente recompensado pelo Senhor, graças aos
ilimitados recursos de sua gloriosa riqueza. O apóstolo nem sequer
consegue pensar na riqueza de Deus sem relacioná-las a Cristo Jesus:
ele é o Mediador, através de quem todas as bênçãos de Deus passam aos
homens. Paulo fala de meu Deus (cf. 1:3), porq ue havia mu ito temp o
vinha experimentando o poder divino para suprir todas as suas necessi
136 (Filipenses 3:15-18)
dades pessoais, mediante Cristo. Numa ocasião em que estava dolorosa
mente cônscio de sua própria incapacidade, recebeu certeza do Senhor
ressurreto: "a minha graça te basta" (2 Coríntios 12:9), e na verdade, é
essa a certeza que o apóstolo agora infunde em seus amigos.
4:20 / A expressão de agradecimento de Paulo conclui, de modo
apropriado, com uma doxologia, a qual também conclui a carta. J. B.
Ligh tfoot, com entand o a doxologia de Gálatas 1:5, salienta qu e (à
semelhança da doxologia sob análise) não contém verbos, argu
mentando que o verbo acrescentável deveria ser o indicativo presente
"é", e não o imperativo seja. "Trata-se de uma afirmação, e não de um
desejo. Glória é o atri buto essencial de Deus." (Ele se refere à doxo logia

de 1 Pedro 4:11, em que o verbo "pe rtence" ap arece no texto grego, como
aparece o verbo "é" na doxologia que posteriormente seria acrescentada
à oração dominical, em Mateus 6:13, ECA.)

Notas Adicionais 32
4:1 8/ mas bastante tenho rece bido : este é o sentido do gr. apecho depanta
(lit., "e tenho tudo"); há muitas evidências de que apecho tinha o emprego
contemporâneo com significado de "pago totalmente". De modo semelhante,
NI V traduz apechou sin t on m ist hon auton em Mateus 6:2, 5, 16 assim: "já
receberam sua recompensa total"; cf . A. Deissmann, B ib le S tu d ie s , p . 2 2 7 : "e le s
j á p o d e m a s s i n a r o r e c ib o d e s u a r e c o m p e n s ao: direito deles de receber uma
recompensa é reconhecido, precisam ente como se já houvessem passado o
competente recibo."
4:19 / a sua gloriosa riqueza: gr. en doxe, "em glória". É provável que a
frase não se refira à vida futura; poderia ser traduzida (com palavras amplifi-
cantes) "sua abundância gloriosa. " F. W. Be are presume tratar-se de expres são
adverbial com o verbo "suprir" (ECA: suprirá): "meu Deus suprirá totalmente
cada uma de vossas necessidades, de modo glori oso."
Em Cristo Jesus: gr. en C hristo le sou, que J. B. Lightfoot toma como sendo
incorporat ivo: "mediante vossa união com Cristo, vossa incorporação em Je
sus."
33. Saudações Finai s (Filipenses 4: 21 -22 )

A conclusão da carta com toda probabilidade foi redigida pelo próprio


Paulo.
Era comum, na antigüidade, a pessoa que enviava uma carta ditá-la,
em sua maior parte e, depois de havê-lo feito, redigir de próprio punho
uma ou duas sentenças, as últimas. Não era comum a pessoa imprimir
sua assinat ura pessoal, embora Pau lo o faça — talvez por r azões espec iais
— em 1 C oríntios 16:21; C olo ss ense s 4:1 8; 2 T ess alo nic ense s 3:1 7
(veja-se também como o apóstolo "assinou um vale" emFilemom 19a). Era
seu autógrafo, não sua assinatura, que constituía sua marca autenticadora
em "todas as minhas cartas" (2 Tessalonicenses 3:17); assim, ele inicia
a última parte de sua carta aos gálat as com estas palavras: "Vede com
que grandes letras vos escrevi de meu próprio punh o" (Gálatas 6: 11).

4:21 / Paulo saúda a todos os santos em Cristo Jesus (quanto à


desig naçã o, cf . 1:1). Na verdad e, em Cristo Jesu s se poderia t oma r como
"saudações" ("saudai-os em Cristo Jesus" — como irmãos e companhei
ros de Cristo), não fosse a analogia de 1:1, onde "em Cristo Jesus" sem
dúvida liga-se a "todos os santos." Saudai a todos os santos, diz Paulo;
visto que as saudações são extensivas a todos os crentes de Filipos, a
quem se dirige Paulo com o verbo saudai (imperativo plural)? Talvez
aos "presbíteros e diáconos", mencionados de forma especial em 1:1;

cabia a eles cuidar que a carta fosse lida, que as saudações fossem
transmitidas a toda a igreja.
Não é P au lo ap en as qu em en via saud aç õe s; os ir m ãos que est ão co m ig o
vos saúdam. Visto que os irmãos que estão comigo são mencionados em
separa do, não em conjunto com todos os santos, que também "vos s aúdam"
(v. 22), provavelm ente sejam os coo peradores de Paulo.

4:22 / Dentre os "santos" daquele lugar onde está Paulo, todos os quais
vos saúdam, o apóstolo faz menção especial aos da casa de César. A
casa de César incluía não só membros da família imperial, no sentido
mais restrito, mas também grande número de escravos e ex-escravos. O
funciona lismo público que atendi a aos negócios do império com punha-
se principalmente de ex-escravos. Esses eram encontrados nos confins
168 (Filipenses 4:21-22)
das províncias, por todo o império, mas em lugar nenhum havia uma
concentração deles t ão forte como em Rom a — eram em número elevado
ao ponto de incluir uma propo rção significativa de conv ertidos à fé cr ist ã.
Se a presente carta foi enviada d e Roma, e as saudações em Romanos
16:3-16 foram enviadas p a r a Roma (três ou quatro anos antes), poder-
se-ia perguntar se alguns dos santos da casa de César foram incluídos
entre os recebedores das saudações da carta anterior. Menciona Paulo
dois grupos em particular que poderiam muito bem ter pertencido ao
fun cion alism o público na casa de Césa r: "a casa de Aristóbu lo" e "a casa
de Narciso" (Romanos 16:10,11). Muitos comentadores bíblicos, a partir
de João Calvino, têm pensado que a família de Narciso incluiria os
escravos de Tibério Cláudio Narciso, um rico ex-escravo do imperador
Tibério, que exercia grande influência sob Cláudio, mas foi executado
logo após a ascensão de Nero ao poder, em 54 d.C., por instigação da
mãe de Nero, Agripina. Os bens de Narciso teriam sido confiscad os, seus
escravos transformados em propriedade imperial, distinguindo-se dos
demais na casa do im perador pela des ignação N a r c i s s ia n i . A posição da
família de Aristóbulo presta-se a maiores especulações. J. B. Lightfoot
e outros sugeriram que esse Aristóbulo seria o neto de Herodes, o Grande
(também chamado Aristóbulo), de quem se sabe ter morado em Roma
como cidadão comum , e à semelhança de seu i rmão m ais velho Herodes
Agripa I ("rei Hero des" de Atos 12: 1"), gozava da amizad e de Cláudio.
Se, ao morrer, l egou sua propriedade ao im perado r (nã o temos ev idências
expressas de que ele assi m fez, embora isso fosse procedimento comum),
seus escravos teriam sido denominados A r i s t o b u l ia n i . Herodião, a quem

Paulo menciona em Romanos 16:11 entre os A r i s t o b u l i a n i e os N a r c i s 

siani, poderia te r tido ta m bém al gum re la cio nam ento co m a fa m íl ia de


Herodes. Em época anterior, o próprio Herodes Agripa é descrito por
Filo pela mesma frase que Paulo usa aqui, isto é, como membro da casa
de César (Flaccus, 35).

Notas Adicionais 33
4:21 / Quanto às conclusões das cartas de Paulo, veja-se H. Gamble, The
Textual H ist ory ofthe Letter to the Rom ans, pp. 56-9 5, 143, 144, e tam bém
quan to às observ açõe s sobre Filipenses, pp. 88, 94, 145, 146.
Os irmãos que estão comigo: identificam-se com os comp anheiros de Paulo,
ou cooperadores do apóstolo, por J. B. Lightfoot (ad loc.) e E. E. Ellis, "Paul
and his Co-W orkers," ATS 17 (1970-71), p . 446.
(Filipenses 4:21-22) 169
4:22 / casa de César ( K aisaro s oiki a é chamada de domus C aesari s po r
Tácito f H i s t o r i e s 2.92); uma inscrição de 55 d.C. refere-se a p o p u l u s e tf a m í l i a
Caesaris em Quilia, na Península Quersonesa da Trác ia. Associações ( collegia
de "ex-escravos e escravos de nosso Senhor Augusto" foram m encionad as numa
inscrição do segundo século, de Efeso (J. T. Wood, D is c o v e r ie s a t E ph e su s
[Londres: Longmans, 1877], InscriptionsfromTombs, Sarcophagi, etc., NB. 20).
Quanto a algumas possíveis referências em Romanos 16:3-16 a alguns dos
"santos da casa de César" consulte-se J. B. Lightfoot, P h il ip p ia n s , pp. 171-78.
Quanto a Narciso, veja-se Tácito, A n n a l s 13.1.4; Dio Cassius, H i s t o r y 60. 34;
também Juvenal, Sáfí'ral4.329 ( N a r c i s s i a n i), são mencionados em C IL 3.3973;
6.15640). Quanto a Aristóbulo, veja-se Josefo, W ar\. 552\ 2.22 1: A n t. 18.133,
135, etc.
34. Ação de Graças - Bênção (Filipens es 4 :2 3 )

Ações de graças sob o feitio de bênção é a característica mais usual


das conclusões das cartas de Paulo. H á variações de texto mas, no sentido,
elas dizem o mesmo, de modo uniforme. Fora dos escritos de Paulo, o
NT ap re se nta bênçãos e gr aç as em H ebre us 13:25 e A pocalipse 22: 21; a
carta de Clemente de Roma também termina com bênção (1 Clemente
65.2) . Essa forma redacion al pode ria ter sido implantada no uso epistolar,
pro venie nte da bênção pro nuncia da no fi nal do cu lto cristão.

4:23 / seja com o vosso espírito: aqui vosso espírito é apenas um


meio mais enfático de dizer-se "convosco" (equivalente a "com vocês").
Veja-se também 2 Timóteo 4:22.
O texto é idêntico ao de Filemom 25, e semelhante ao de Gálatas 6:18,
em que o adjetivo "nosso" qualifica "Jesus Cristo", havendo um vocati
vo, "irmãos" e um "Amém" conclusivo.
Posfácio

N ão é n ada fá ci l par a nós, no m undo oc id en ta l de hoje , im agin ar o qu e


deveria significar a pessoa pertencer a uma pequena comunidade de
"cidadãos do céu" numa das províncias orientais do império romano, no
pri m eir o sé cul o d.C. Os cri stãos gentílicos via m -s e transp la nta do s co m o
membros de uma nova sociedade que não desfrutava de estima nas
vizinhanças; chegaram a descobrir que tornar-se membros dessa nova
com unidade envolvia, em certos aspectos important es, rompimen to com

a sociedade à qual srcinalmente pertenceram. As muitas atividades


sociais e comerciais relacionadas a este ou aquele culto lhes estavam,
doravante, proibidas.
A nova sociedade dos crentes se organizava em dois ou mais níveis.
N um pri m eiro es tá gio , eles se via m co m o m em bro s de um a ig re ja
doméstica (funcionava numa casa de família), a qual se reunia com
regularidade no lar de um de seus membros; entretanto, em muitas
cidades havia um número tal de igrejas domésticas que viabilizava sua
incorporação numa igreja maior, a igreja da cidade. A percepção cons
ciente de a pessoa ser membro de uma igreja da cidade poderia ser maior
em certas igrejas domésticas, do que em outras, assim como a consciência
de pertencer a uma comunidade de âmbito mundial seria mais forte em
algumas igrejas de cidade, do que em outras.

É provável que em Filipos a consciência de pertencer a uma igreja da


cidade fosse m uito for te. Esta sugestão nos advém pelo fato de que essa
carta é dirigida "a todos os santos em Cristo Jesus, que estão em Filipos,
com os bispos e diáconos" (1:1). Em nen hum a das demais cartas paulinas
(exceto as pastorais) encontramos referências especiais desse tipo, a um
corpo definido de pessoas da igreja, que exercem funções de supervisão
e administração. Os crentes coríntios com toda probabilidade teriam
ficado impacientes com tanta autoridade sobre eles; a igreja de Roma,
por es sa ép oca , ta lv ez est iv ess e m ui to desc entr alizada, nã o te ndo um
colegiado de presbíteros operando por toda a cidade. Pode-se imaginar
que o própri o Pau lo tenha nomea do os presbíteros de Filipos, mas a igreja
filipense sem dúvida estava bem qualificada para elegê-los por s i mesma.
Uma característica da igreja filipense que nos espanta, tanto em Atos
172 Po sfácio
quanto na carta de Paulo, é o papel ativo desempenhado nela pelas
mulheres. Na narrativa de Lucas, Lídia, a vendedora de púrpura de
Tiatira, e suas companheiras, com os membros de suas famílias, tornam-
se o s me mb ros-fundadores da igrej a fi lipense. Na carta, Paulo faz me n
ção especial de Evódia e Síntique, mulheres, diz ele, que labutaram ao
seu lado no ministério evangélico (4:3); Paulo lhes descreve a atuação
em linguagem de atletismo que dá a entender que não desempenharam
mero papel auxiliar. Esse fato não só tem coerência com o que sabemos
sobre a independência e iniciativa das mulheres macedônicas (veja-se p.
28, e a nota n5 18), como tam bém se alinha com a afirmaç ão de Paulo
em Gálatas 3:28, de que "não há macho nem fêmea, pois todos vós sois

um
doisem Cristo
sexos, masJesus."
destróiEsta afirmação
qualquer não elimina
desigualdade entreasambos
distinções
com entre os
respeito
a cargos eclesiásticos.
Conhecemos os principais traços que distinguiam uma comunidade
ju d a ic a , num m eio gen tílico, se para ndo-a de se us viz in hos, m as a m aio ria
dessas características (circuncisão, guarda do sábado, restrições alimen
tíci as) não conseguiam prosseguir numa igrej a do campo m issi onário de
Paulo. Se perguntássemos a Paulo o que é que marcava qualquer uma de
suas igrejas, separando-a de seu ambiente, talvez ele respondesse que a
cruz de Cristo constituía "uma cerca" entre os crentes e o mundo (pode
hav er um indício dist o em G álatas 6:14, onde o apóstolo afirma: "na cruz
de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para
mim, e eu para o mundo"). Todavia, a cruz de Cristo exercia uma

influênc
no ia positiva,
meio da em vez filipenses
qual os crentes de negaviviam
tiva, napoderia
vida dos
ser crentes.
descrita Acomo
sociedad e
"corrupta e depravada," mas os crentes foram elogiados por estarem
b ri lh ando ali "c om o as tros no m undo," ofe re cendo-l he a "p ala vra da
vida" (2:15, 16).
Cada igrej a local pode ser comparada a um jardim plantado num
deserto; mas o interesse da igreja não é tanto impedir que o deserto tome
conta mais e mais do jardim , mas, p rincipalmente, cuidar que o jardim
avance e t ransform e o desert o. N ão se deve edific aru m a mu ralha ao redor
do jardim; as fronteiras desse jardim devem ser flexíveis, capazes de
expandir-se. Mudando-se a figura de linguagem, cada colônia celestial
deve expandir-se, estender seus territórios e incorporar cada vez mais os
territórios circunvizinhos. Cada igreja deveria ter espírito missionário, e
Posfácio 173
a história da expansão do cristianismo primitivo demonstra que muitas
igrejas entenderam e cumpriram essa missão. Dentre as que assim
pro cedera m , a ig re ja de Filip os, à se m elh ança de out ra s ig re ja s m aced ô-
nicas, detém um lugar de grande honra.
Glossário

ANÁTEMA — Como substantivo masculino: maldição, opróbrio,


excomunhão. Como adjetivo: amaldiçoado, maldito, excomungado.
ANTÍTESE — Figura de linguagem pela qual se salienta a oposição
entre duas palavras ou idéias. E x.: "Era o porvir — em frente do passado,
/ A liberdade — em face à escravidão" (Castro Alves).
AORISTO — Tempo da conjugação grega que indica haver a ação
ocorrido em época passada, sem determinar, porém, se está inteiramente

realizada no instante em que se fala.


AP ÓD OS E — A segunda part e de u m período gramatical , em rel ação
à primeira, chamada prótase, de cujo sentido é complemento.
CIRCUNLÓQUIO — Rodeio de palavras, perífrase.
CODA — Seção conclusiva de uma composição (sonata, sinfonia,
etc.) em que há repetições.
COGNATO — Diz-se do vocábulo que tem raiz com outro(s). Ex.:
as palavras belo, beleza e embelezar são cognatas.
DATIVO — Caso gramatical das línguas com declinações (como o
grego, o latim, o alemão), que exprime a relação do objeto indireto.
EQ UA NIM IDA DE — Igualda de de âni mo ta nto na des graç a quant o
na prosperidade; moderação; imparcial idade.
ESC AB EL O — Banco pequeno pa ra des cans o dos p és .

ESCATOLOGIA
história; tratado sobre—
os Doutrina sobre
fins últimos do ahomem.
consumação do tempo e da
ESP ON DA ICO — Adjet ivo : que te m esp onde us.
ESPONDEUS — Diz-se de um pé de verso, grego ou latino, consti
tuído por duas sílabas longas.
ES TO ICIS M O — Design ação comum às dou tr inas dos fil ósofos
gregos Zenão de Cício e seus seguidores, caracterizadas sobretudo pela
consideração do problema moral, constituindo a imperturbabilidade o
ideal do sábio.
ESTÓICO — Partidário do estoicismo; austero, rígido; impassível
ante a dor e a adversidade.
EXEGESE — Comentário ou dissertação para esclarecimento ou
minu ciosa interpretação de um t exto ou de uma palavra. [Aplica-se d e
Glossário 175
modo especial em relação à Bíblia, à gramática e às leis.]
GE N ITIV O — Caso de declinaçã o de cert as lí nguas, que r epresenta,
por via de re gra , com ple m ento poss ess iv o, lim itativo, e alg um as vez es
circunstancial.
GN OS TIC ISM O — Ecleti smo filos ófico- rel igios o sur gido nos pri
meiros séculos da nossa era e diversificado em numerosas seitas, e que
visava a conciliar todas as religiões e a explicar-lhes o sentido mais
pro fu n d o por m ei o da gn ose (s ab edo ria) . [São dogm as do gnostic is m o:
a emanação, a queda, a redenção e a mediação, exercida por inúmeras
potê n cia s ce le st es, en tre a div in dade e os hom en s. R ela cio na-s e o g nos
ticismo com a cabala, o neoplatonismo e as religiões orientais.]
HENDIADIS — Figura de linguagem na qual uma idéia única se
expressa mediante dois termos unidos por um "e". Ex.: com poder e
vigor.
INTERPOLAÇÃO — Alterar, completar ou esclarecer (um texto),
nele intercalando palavras ou frases que não lhe pertencem.
JA M B IC O — V ari ação de i âmbico ou i ambo. Na poesia gr ega e na
latina, pé de verso constituído de uma sílaba breve e outra longa.
PARÁFRASE — Desenvolvimento do texto de um livro ou de um
documento conservando-se as idéias srcinais; tradução livre ou desen
volvida.
PARODIA — Imitação cômica ou burlesca de uma composição
literária; imitar, remedar.
PE DE VERSO — Parte em que se divide o verso metrificado.
PROSELITO — Pagão que abraçou ojudaísmo.
PRÓTASE — No antigo teatro grego, a primeira parte da ação
dramática, na qual o argumento é anunciado e se inicia o seu desenvol
vimento; no sentido gramatical é a primeira parte de uma sentença.
QUIASMO — Figura de linguagem na qual os termos paralelos, em
sentenças ou orações adjac entes, são colocad os em ordem invertida. Ex.:
Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou.
QUINTESSÊNCIA — Variação de quinta-essência. O que há de
pri ncip al, de m elh or ou de m ais pur o; o ess en ci al .
SIMONIA — Venda ilícita de coisas sagradas.
TRIMETRO — Na métrica greco-romana, verso de três pés.
O Novo Comentário Bíblico Contemporâneo oferece o
que há de melhor em erudição contemporânea,
num estilo que beneficia tanto aos leitores em geral
quanto aos estudiosos que almejam aprofundar-se
no conhecimento da Palavra de Deus.
Baseado na ECA, o NCBC apresenta exposições
esmeradas de cada seção e capítulo, dando especial
destaque esclarecedor aos termos e frases mais
importantes, que também aparecem em transliterações
do grego. Cada capítulo encerra-se com uma seção
de notas, onde o leitor encontra mais alguns
comentários textuais e técnicos.
O comentário de Bruce surgiu, de início, na série
Good News Commenta ry ; posteriormente sofreu algumas
revisões de modo que se adaptasse à NIV. Agora, surge
em português, adaptado à ECA.
F. F. Bruce, especialista de prestígio internacional,
compartilha, neste comentário da carta de Paulo à
amada igreja de F ilipos, as riquezas de um a vida toda
devotada ao estudo. Sua exposição teológica e prática
conduz-nos a um a apreci ação ma ior da importância da
sabedoria e confian ça de Paulo quanto à auto-suficiência
do evangelho, e ajuda-nos a participar da alegria do
apóstolo em "conhecer a Cristo".

F. F. Bruce é profes sor em érito da Universidade de

Mancheste r, ee autor
artigos, livros bem conh
comentários ecidoprofundos.
bíblicos de num erosos

1742-6 ISBN 0-8297-1742-0

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