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Resumo: Este artigo tem como objetivo levantar algumas questões sobre o processo de
transformação do riso até a contemporaneidade com foco na literatura brasileira,
sobretudo no romance, tendo como corpus de análise a obra Um copo de cólera (1978),
de Raduan Nassar. Selecionou-se como principal suporte teórico Mikhail Bakhtin
(2008) e Georges Minois (2003), no que diz respeito às transformações do riso ao longo
do tempo.
Introdução
O homem controlou o riso, bem como dominou as
lágrimas.
O riso, mais antigo que o próprio homem, tem um histórico, de certa forma,
misterioso, pois já foi concebido como bom e mau, proibido, manipulado, mas que
acima de tudo, se modificou ao longo do tempo.
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Aluna especial do programa de mestrado da Universidade Estadual de Londrina - UEL. e-mail
jubello16@gmail.com
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Nos séculos XVII e XVIII, a literatura agrega-se ao riso para tornar-se possível
uma compreensão mais realística do mundo, um realismo grotesco. Bebendo na fonte de
gêneros menores como o cômico, principalmente o romance, influencia-se pela cultura
popular e apropria-se de muitas vozes e línguas diversificadas, da experiência,
orientando-se no mundo e no tempo. Assim, o romance, em busca de formas mais
livres, se distância do gênero épico, pois é pelo cômico que se atualiza apresentando
uma nova personagem com linguagem coloquial popular, dando ao gênero livre
representação do mundo. Dessa forma, o romance passa a ter uma roupagem de menor
prestígio, pois “o riso popular e suas formas constituem o campo menos estudado da
criação popular” (BAKHTIN, 2008, p.3).
contradição e do deslocamento, pois a paródia nada mais era que os "ecos do riso dos
carnavais públicos que repercutiam dentro dos muros dos mosteiros, universidades e
colégios" (p.13). Os textos de caráter carnavalizado aglomeravam metamorfose, a
fantasia e o invento que rompiam regras e tabus com o intuito de libertar seus instintos e
desejos.
Bakhtin (2008, p.10) aponta que é preciso se atentar ao fato de que a paródia
carnavalesca está muito distante da paródia moderna puramente negativa e formal; com
efeito, mesmo negando, aquela ressuscita e renova ao mesmo tempo. A negação pura e
simples é quase sempre alheia à cultura popular.
Para o historiador francês Georges Minois (2003), o riso faz parte da sociedade
contemporânea, sendo antídoto infalível de sobrevivência no que diz respeito aos
acontecimentos cotidianos, assim, em conformidade com Bakhtin (1988), o riso é fator
fundamental na compreensão do mundo e do tempo.
O historiador discorre sobre o fato de que o riso está em perigo, pois tornou-se
vítima diante da sociedade que o estampa como forma de camuflagem , um tipo de riso
obrigatório que "não corre o risco de matar o verdadeiro riso, o riso livre" (p.594). Rir
de tudo, nesse sentido, é conformar-se com tudo, assim a sociedade parece caminhar.
Então, é a partir do riso, do cômico que Bakhtin (1988) nos diz que, a forma
romanesca, ao incorporar vários gêneros - sejam altos ou baixos - ainda traduz
elementos do presente, pois pode representar momentos reais da vida no plano do
discurso do personagem e do autor nas suas mútuas relações dialógicas e nas
combinações híbridas.
Sob este ponto de vista, é possível afirmar haver na produção das últimas três
décadas o aspecto da pluralidade de discursos, surgindo com vozes variadas, múltiplas,
dissonantes, que evidenciam uma diversidade, na qual cada escritor busca sua própria
originalidade.
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Outro estudioso que tem se debruçado a tecer análises sobre essas questões é
Karl Erik Schøllhammer (2011), que estabelece, assim como Resende, a insistência do
presente nas produções mais recentes. As formas de narrativas curtas, os minicontos e
estruturas complexas e fragmentadas, por exemplo, são citadas por Schøllhammer como
forma de ilustrar a ponte que tem se criado entre a prosa, o poema e crônica,
demonstrando eficiência estética a ponto de serem capazes de reproduzir uma realidade
concreta, atualizada e híbrida. O que traduz, pois, uma “criação de presença”.
A vida do homem está cada vez mais envolvida com um ritmo frenético, cujo o
tempo e o espaço são descontínuos. Um dos aspectos a serem observados é que, em
meio ao caos da vida, o homem aprendeu a rir de si mesmo e dos outros, principalmente
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Três curtos capítulos seguem-se, num aumento crescente da tensão entre o casal,
até chegar ao capítulo “O esporro”, no qual o clímax é atingido quando ele se depara
com o rombo na sua cerca viva, rombo perpetrado pelas formigas saúvas. A partir daí, a
agressividade é marcada na obra por um riso debochado e irônico que, na maioria das
vezes, parte da mulher afim de se proteger das agressões verbais do homem que também
ri para desmoralizá-la.
A ira surge a partir daí e toma conta do narrador homem que se enfurece, mais
ainda, quando vê a mulher disparando um riso histérico a fim de ironizá-lo quanto à
situação banal em que ele se deparava. O riso toma outras proporções quando torna-se
uma satisfação simbólica, antecipada da pulsão agressiva, como é possível verificar no
trecho:
Minois (2003) aponta que o uso da ironia no humor o torna superficial sem
engajamento, isso porque o “ironista sempre pisa em falso, porque nunca adere
completamente ao presente. Ele toca de leve os problemas, jamais se engaja a fundo,
não corre o risco de desencanto, pois nunca toma como seu valor nenhum” (2003, p.
570), para o autor, o recurso mais utilizado pelo humor contemporâneo é a ironia que
está "próxima da consciência do nada" (2003, 567).
representação" (1988, p.426), por isso esse homem é visto por si e pelos olhos dos
outros, não salvo do olhar cômico. Assim em conformidade com o que diz Minois
(2003) que:
Um Copo de Cólera (1978) mesmo não sendo uma obra que adote os estilos
estéticos e narrativos vigente da época anos 70, em que rege uma literatura de caráter
jornalístico e com finalidade informativa, é possível a partir de um olhar diferenciado
para obra, identificarmos uma metáfora irônica utilizada com os protagonistas para
assim representar o regime político da época, isso é possível se compararmos o homem
representando a ditadura militar com sua postura autoritária e irredutível. A mulher por
sua vez representaria o povo brasileiro com sua postura desafiadora, estaria
representando uma reação visível, de um povo sofrido e cansado que começa a reagir
contra o regime ditatorial estabelecido no país. Assim sendo, fica plausível fazermos
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Nesse sentido, é possível ressaltar que o humor irônico absorvido pela paródia,
chega com um tom de crítica ao passado e também ao presente, inferidos pelo
referencial histórico do qual se apropria. Sendo assim, a metáfora utilizada por Nassar,
no plano da linguagem, pode ser considerada uma paródia desse momento histórico
político.
A novela, em seus intensos diálogos, marca o uso do riso como disfarce, ou seja,
um riso causado pela ironia sempre bem calculada, intelectualizada e refletida. Na trama
a estreita relação do casal é a derrocada de suas fragilidades, angustias, mágoas, pois:
“O mundo deve rir para camuflar a perda de sentido. Ele não sabe para onde caminha,
mas vai rindo. Ri para agarrar-se a alguma continência” (MINOIS 2003, p. 554). Assim,
os personagens ao rirem um do outro, diante de um problema, mesmo sendo algo banal
do cotidiano, vão expondo o fato de que rir de uma situação dá ao homem a impressão
de tê-la dominado.
parece estar por toda parte, mas não é mais que uma máscara. O
virtual mistura-se ao real, e este só é considerado como um cenário.
Nada é verdadeiramente sério nem verdadeiramente cômico. O riso
voluntário dosado e calculado, substitui, cada vez mais, o riso
espontâneo e livre porque é preciso representar bem a comédia. [...]
Mas o verdadeiro riso refugia-se no interior de cada um; torna-se um
fenômeno de consciência que só alguns privilegiados possuem e ao
qual se dá o nome muito desonrado "humor" (MINOIS, 2003, p.627).
Considerações finais
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Epos e romance. Questões de literatura e de estética: a teoria do
romance. Tradução de Aurora Bernardini et al. 4. ed. São Paulo: Editora UNESP, 1988.
BAKHTIN, Mikhail. Introdução. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento:
o contexto de François Rebelais. 6. ed. Tradução de Yara Frateschi Vieira. São
Paulo/Brasília: Hucitec/Editora Universidade de Brasília, 2008.
BAKHTIN, Mikhail. Rabelais e a história do riso. A cultura popular na Idade Média e
no Renascimento: o contexto de François Rabelais. 6. ed. Tradução de Yara Frateschi
Vieira. São Paulo/Brasília: Hucitec/Editora Universidade de Brasília, 2008.