Вы находитесь на странице: 1из 31

O fio vermelho

Primeira Parte

Os quatro pensamentos fundamentais

Uma introdução com exercícios simples

Versão de 13 de Maio de 1999

Ensinamentos do Lama Lhundrub inspirados pelo


"Precioso Ornamento da Libertação", de Gampopa

Namo Guru

Namo Buddha

Namo Dharma

Namo Sangha

O objetivo do ”Fio Vermelho" é servir de fio condutor no caminho


interior para não se perder na diversidade desconcertante da
literatura do Dharma, e vivenciar na prática pessoal aquilo que
foi lido. Esta primeira parte é dirigida às pessoas que estão
abertas aos ensinamentos do Buddha e que buscam um acesso à
prática do Dharma. A seguir, serão explicadas as reflexões e
contemplações que permitirão facilitar tal acesso. Cada reflexão
será aprofundada por exercícios. Eles hão de nos permitir, entre
outras coisas, decidir se nós queremos tomar o caminho budista ou
não. Poderão, igualmente, nos ajudar a reforçar nossa motivação
para a prática.
Tais ensinamentos são baseados nas experiências vividas estudando
os "Quatro pensamentos fundamentais que desviam a mente do
samsara", também chamados "As preliminares comuns". Esta parte nos
leva a compreender as instruções clássicas sobre esses pensamentos
fundamentais, tais como se podem achar no "Precioso Ornamento da
Libertação", de Gampopa, em "O Caminho da Grande Perfeição", de
Patrul Rimpoche, ou "A Tocha da Certeza", de Djamgueun Kongtrul.

Para acompanhar os exercícios, é recomendável ler os capítulos


correspondentes nos livros citados e discuti-los com um Lama da
tradição. Desta forma os exercícios adquirirão pleno poder de
ação. No "Fio Vermelho", a tônica está nos exercícios. No que se
refere ao fundo teórico, é necessário reportar-se às obras
citadas.

Para orientar a mente no Dharma, é aconselhável começar e terminar


cada jornada com as contemplações da forma como são explicadas. A
prática do Dharma é uma viagem de descobertas - cada jornada, cada
situação, cada sessão de meditação são diferentes daquelas já
vividas. Vistos sob este ângulo, os exercícios guardam sempre seu
aspecto novo e atual. Jamais serão esgotados definitivamente e
para sempre.

Se tiver idéias interessantes, traga-as ao nosso conhecimento.


Outras versões substituirão as antigas, as quais rogo sejam
queimadas.

Boa inspiração!

Lama Lhundrup

Pede-se solicitar a autorização de um Lama para copiar este texto. Outros


temas são previstos, mas ainda não estão disponíveis no momento. Todos os
direitos de edição são reservados.
Com freqüência, nossa busca espiritual parte de uma situação de crise.
Mas, nem sempre. Algumas pessoas provam simplesmente o desejo de ter na
sua vida experiências mais profundas ou de poder fazer mais pelos outros.
Em todo caso, num dado momento começamos a nos fazer perguntas sobre a
vida. No início, elas são ainda muito vagas, e uma certa coragem é
necessária para poder fazê-las atingir a consciência. A fim de permitir
uma formulação mais precisa dessas questões, podemos fazer o seguinte
exercício:

1. Interrogar-se sobre sua própria vida

Não ponha de lado as perguntas sobre a sua vida. Ouse exprimi-las de


um modo audível e consciente. Talvez seja útil anotá-las. Tais
perguntas são o início do seu fio vermelho pessoal, o ponto de partida
do seu caminho espiritual. O que o preocupa com respeito à vida e à
morte? Quais são suas perguntas sobre a vida? As perguntas podem mudar
ao longo do seu caminho, podem ganhar profundidade e precisão. O que
dá um sentido à sua vida? O que eu quero fazer desta vida? Parta
destas perguntas mais gerais para perguntas cada vez mais precisas.

***¹
Pode ser que a nossa vida até o presente nos aborreça; pode ser que nossa
vida não seja assim tão má, que talvez tenhamos apenas uma impressão que
ela poderia ser mais útil; pode ser que nós nos achemos em plena crise e
estejamos desesperadamente a procura de uma saída; pode ser que estejamos
doentes e coloquemo-nos a pensar sobre a morte - pouco importa a situação
atual: o caminho começa justamente aqui. Não há nenhuma situação da vida
que não seja adequada para se interrogar profundamente sobre a vida. No
entanto, devemos aprender a nos relaxar um pouco. Isto porque, uma vez
distendidos, estamos mais bem dispostos para abordar este gênero de
questionamento com melhor clareza do que quando estamos pressionados e
tensos. A fim de nos distender, alguns minutos de pausa na vida
quotidiana são suficientes. O seguinte exercício é um primeiro ensaio.
Nós nos ocuparemos dos detalhes mais tarde.

2. Distender-se

Sentemo-nos confortavelmente. Deixemos nossos braços e nossas pernas


completamente relaxados. Sente a sua respiração? Pouco importa que a
sua respiração seja rápida ou lenta. Pousemos nossa mente sobre a
respiração da forma que for possível fazê-lo. Isto é tudo no momento.
Deixemos a respiração simplesmente entrar e sair. Isto se dá por si
só, o que já é um presente. Não há nada mais a fazer do que estar
consciente da respiração. Regozije-se da sua respiração, o presente
deste momento. Seja tomado pela respiração. Não procure intervir;
nossa respiração se acalmará sozinha, assim que nós tomemos ar
suficiente.

***²
Na tradição tibetana tomamos o fio do caminho espiritual através das quatro contemplações que
desviam a mente das ocupações exteriores e a orientam para o essencial da vida:
• Contemplação da preciosa vida humana
• Contemplação da impermanência
• Contemplação das causas e efeitos (karma)
• Contemplação dos três tipos de sofrimento (samsara)

Vamos, em seguida, consacrar-nos a estas quatro comtemplações e, paralelamente, ocuparmo-nos


de todas as questões que surgirão neste contexto.
A contemplação da qualidade preciosa da nossa situação atual
A primeira contemplação é pensar sobre a qualidade preciosa de nossa situação atual. Tornamo-nos
conscientes de tudo aquilo que merece o reconhecimento. O reconhecimento em relação à nossa
situação atual faz desenvolver-se o desejo de querer utilizá-la para as melhores finalidades. Existem
tantas coisas pelas quais podemos ser gratos. Pode ser que sintamos gratidão por uma respiração
profunda, pelo fato de estarmos vivos, de termos comida suficiente, de termos tempo para tais
contemplações, de termos os nossos cinco sentidos em bom estado, de não vivermos em situação de
luta ou guerra, do fato de que alguém nos sorri gentilmente e que as nossas preocupações parecem-
nos menos importantes. Tornar-se consciente de todas as razões pelas quais podemos sentir o
reconhecimento é um bom remédio contra a depressão e nos dá força¹.

3. Desenvolver o reconhecimento
Preparação: Sentemo-nos novamente numa posição confortável. Respiremos inicialmente de
forma consciente durante um certo tempo, sem perseguir qualquer objetivo. Deixemos
nossos pensamentos seguirem livremente, isto é, não os persigamos, mas retornemos sempre
à respiração. Assim, regozijemo-nos simplesmente desse momento.
a) Em seguida, voltemos nossa mente para a pergunta: Por quais razões eu poderia sentir a
alegria e a gratidão neste momento? Muitas respostas podem surgir, pequenos detalhes, que
parecem ser quase sem importância, ou então, podem surgir fatos e condições muito
marcantes, que tornam nossa existência humana possível neste mundo. Tudo, mesmo o
menor detalhe, merece ser levado em consideração. Podemos igualmente - caso facilite
nossa reflexão- anotarmos num bloco de papel.
A almofada sobre a qual estou sentado foi confeccionada por uma pessoa, a casa foi
construída por alguém, os alimentos foram cultivados e preparados. Cada objeto tem sua
história, mesmo os maiores eventos como a guerra e a paz no mundo, as grandes invasões,
as descobertas...
b) A contemplação tradicional começa pela tomada de consciência de todas as condições
desfavoráveis das quais estamos livres. Reflitamos agora sobre a que ponto nossa vida
poderia ser mais difícil. Qual seria nossa situação, se isso ou aquilo não fosse possível?
______________________________
¹ As instruções tradicionais para gerar a gratidão encontran-se nos livros do Dharma, nos capítulos que tratam d « o precioso
corpo humano » ou d «a preciosa existência humana ( por exemplo o capítulo n° 2 de « O Precioso Ornamento da Liberação »
de Gampopa. Nele, primeiramente são explicadas as três liberdades e em seguida as dez condições favoraveis ou riquezas de um
nascimento humano, que representa todas as condições indispensaveis para a prtática do Dharma. E aconselha-vel estudar essas
instruções e integrá-las gradualmente na contemplação do exercício n° 3).
Em seguida, pensemos em todos esses seres que não são assim tão livres como nós.
Examinemos claramente com quais desvantagens ou limitações os outros seres estão
constrangidos a viver, e a que ponto, em tais condições, deve ser difícil para eles avançar no
caminho espiritual. E desejemos que eles possam delas se libertar.
c) Em seguida, desenvolvamos o reconhecimento de podermos gozar das liberdades
interiores e exteriores. Voltemo-nos para todas estas condições favoráveis que estão
reunidas para nos permitir estar agora aqui sentados e orientar nossa mente para o caminho
interior. Isso exige uma grande quantidade de fatores: é essencial estar gozando de boa
saúde e possuir uma mente aberta. Em particular, os ensinamentos sobre o caminho interior,
o Dharma, devem estar disponíveis e nossa situação atual deve estar apropriada à prática
espiritual. Pensemos nos numerosos seres que contribuíram para essa situação em que a
transmissão do Dharma nos é acessível - quanta gente, por exemplo, se empenhou para
salvaguardar os ensinamentos espirituais para as futuras gerações. Eles estudaram,
contemplaram e meditaram sobre o Dharma. Eles ensinaram, copiaram os textos,
traduziram e comentaram. Eles reuniram os discípulos em torno de si, construíram edifícios
e criaram estruturas apropriadas para a transmissão espiritual.

Às vezes, temos a tendência de nos queixar de todas as dificuldades que a vida nos propicia. Esta
contemplação nos ajuda a mudar nossa forma de ver - segundo o pensamento: "meu copo não está
vazio pela metade, mas cheio pela metade - ou então - quase cheio! Logo, finalmente, sou bastante
rico!" Assim, desenvolvemos a gratidão e uma grande alegria. Descobrimos que a nossa existência
humana é alguma coisa de muito preciosa, um presente magnífico, uma oportunidade.
Contudo, em que sentido nossa vida é um presente? Nem mesmo ainda elucidamos completamente
a questão relativa ao objetivo de nossa vida. É aconselhavel respirar profundamente e voltar ao
exercício n° 1, para o aprofundar .
Você está numa viagem de descoberta. Cada vez que fizer este exercício, descobrirá um novo matiz,
um novo plano de significados e experiências. Encontrará igualmente coisas bem conhecidas, mas,
a cada vez um aprofundamento ou um esclarecimento se manifestará. As respostas às suas
perguntas deverão ser descobertas por você através de sua prática pessoal. Por conseguinte, estes
ensinamentos explicarão apenas a maneira de proceder e como utilizar o material do ensinamento
tradicional. É preciso que esta se torne uma viagem de descobertas pessoais, senão faltará ardor,
“eletricidade” à sua prática. Esforce-se para procurar sempre mais longe, para examinar cada vez
mais claramente.

***³
Desenvolver a confiança
Para que esta viagem de descoberta no relaxamento da mente tenha sucesso, não basta reunir todas
as condições sobre as quais refletimos no exercício n° 3. É preciso ainda mais. Segundo Gampopa,
grande mestre do budismo tibetano, uma outra condição primordial é a confiança². Vários tipos de
confiança são necessários para seguir o caminho interior. Porém, antes de ocuparmo-nos desse
assunto mais precisamente, vamos aprofundar por mais tempo a nossa capacidade de relaxamento.
4. Aprofundar a capacidade de se distender através da respiração
Sente-se confortavelmente, se possível com as costas bem retas, mas ao mesmo tempo de
forma relaxada. Relaxe seus ombros e coloque suas mãos no colo. As pernas também devem
estar numa posição confortável, mantenha-se nesta posição sem esforço durante um certo
tempo. Para relaxar as tensões na nuca, recomenda-se fazer leves rotações da cabeça e dos
ombros. Relaxe os membros. Em seguida, fique na sua posição preferida e mantenha-a sem
se mexer - "como uma montanha".
Deixe entrar e sair a respiração. Sinta a respiração no baixo ventre. Seguindo os
movimentos do ventre, fique com o momento presente, tal como se apresenta. A fim de
tornar-se mais sensível aos movimentos de respiração, você pode colocar suas mãos sobre o
ventre. Não há nada a mudar na respiração. Se existem tensões no corpo ou na mente, você
pode usar a expiração para dissolvê-las. A cada respiração existe a possibilidade de se
distender dentro do espaço infinito - deixar-se simplesmente deslizar nessa dimensão vasta.
A inspiração vem automaticamente e, com a expiração nós podemos soltar as tensões. Em
seguida, pousamos nossa consciência no vai-e-vem da respiração, como se nós olhássemos
o vai-e-vem das ondas à beira do mar. Assim que tomarmos consciencia de haver
acompanhado um pensamento, voltamos calma, mas instantaneamente, à respiração.
O "não fazer nada" consciente
Não existem atualmente muitas pessoas capazes de ficarem tranquilamente sentadas durante quinze
minutos, sem conversar, sem ouvir o rádio, olhar a televisão ou ler, sem comer ou beber e sem
dormir. Ficar simplesmente sentados e nada fazer. Isso pode não ser assim tão difícil? Bem,
comecemos com cinco minutos. Cinco minutos sem fazer nada já mudam sua jornada. Esta
atividade de não fazer nada é consciente e voluntária e não prejudica. Ela desperta níveis de
consciência mais profundos, através dos quais retomamos em mãos o fio das nossas verdadeiras
questões. Sobretudo por enquanto, não chamemos a isso de "meditação" - para não fazer algo
considerado exótico ou um exercício altamente espiritual. Trata-se aqui simplesmente de não fazer
nada, livre de toda a distração que venha de fora. Não é necessário chamar a isso de meditação.
A prática de sermos conscientemente não-ativos é estreitamente ligada à confiança. Desenvolvemos
mais confiança em nossa mente, pois aprendemos a melhor conhecê-la e, com o tempo, nos damos
conta que não temos necessidade de abafar ou combater nossos pensamentos e nossas emoções.
Elas vêm e se vão por si sós. Progressivamente, percebemos que existe alguma coisa como uma
saúde natural em nossa mente na qual podemos confiar. Além disso, tomamos consciência de que o
mundo não desaparecerá por que de vez em quando ficamos alguns poucos minutos sem nada a
fazer.
Tente introduzir na corrente do seu dia alguns minutos de uma não-atividade consciente. É
muito refrescante e não pode ser assim tão difícil.
***4
_____________________________
² As instruções tradicionais relativas ao desenvolvimento da confiança encontram-se em « O Precioso Ornamento da Liberação » de
Gampopa nos capítulos n° 1 ( a natureza do Buddha), n° 2 ( os 3 tipos de fé ), n° 3 ( O amigo espiritual ), n° 20 ( a Buddheidade) e n° 21
(a atividade despertada )
Mais complexo é o exercício que vem a seguir. Nós iremos tentar desenvolver mais confiança no
fato de que um caminho espiritual é realmente possível. Para isso precisamos tradicionalmente:
- da confiança na base fundamental, nosso ser profundo (no nosso potencial mental, também
chamado de "a natureza de Buddha")
- da confiança no objetivo de nosso caminho espiritual ( na realização da budeidade)
- da confiança nos métodos e nos assistentes ao longo do caminho ( no Dharma e na Sangha).
Para desenvolver a confiança em nosso ser profundo, tradicionalmente são dadas instruções
relativas à natureza de Buddha, que está presente em cada ser. Este potencial é a base sobre a qual o
caminho interior se estende. A natureza de Buddha é também chamada "a causa" do despertar.
A confiança no objetivo é despertada pelas instruções sobre as qualidades da budeidade, o despertar
último como sendo o resultado do caminho.
A confiança nos métodos e nos assistentes ao longo do caminho a percorrer desenvolve-se
recebendo as instruções do Dharma e aplicando os métodos explicados, como pelo suporte sobre o
caminho dado pelos amigos, a Sangha. Todavia, é sobretudo a pessoa do mestre, nosso amigo
espiritual mais próximo, quem despertará essa confiança. Em resumo, isso corresponde às
indicações tradicionais para desenvolver a confiança.
Desenvolver a confiança na base, a natureza de Buddha
Queremos, agora, aprofundar o primeiro aspecto, a confiança no nosso ser profundo, a natureza de
Buddha.Comecemos com um exercício, no qual nós nos ocupamos diretamente de nossa própria
mente e examinanos o jogo interativo dos pensamentos e do espaço. Este exercício não se faz
apenas uma só vez. Ele nos acompanhará provavelmente durante anos, antes de termos obtido a
certeza relacionada às seguintes perguntas:

5. O que são os pensamentos ?


Para achar a resposta é preciso observar sua mente. Durante esses exercícios, é
indispensável distender-se e encontrar a cada vez uma harmonia em não fazer nada
conscientemente. É a única maneira de voltar a nossa atenção para a corrente de nossos
pensamentos.
Você não considera surpreendente que tenha havido uma tal multidão de pensamentos que
surgem e desaparecem novamente sem deixar traços? Observe bem: o que são esses
pensamentos? Os pensamentos possuem uma substância? Deixam traços ou não? Se sim,
esse traço é constituído do mesmo pensamento ou é um novo pensamento? Se não, para onde
vai o pensamento?
Pratiquemos esta maneira de observar a mente, questionando-nos durante muitos mas curtos
instantes. Deixemos novamente, em seguida, a mente completamente livre, sem nos ocupar
das perguntas. As respostas vêm de maneira mais espontânea, intuitivas se nós não
obstruirmos o caminho com perguntas muito insistentes. Ao distendermo-nos perguntamo-
nos novamente por um instante: de onde vêm os pensamentos? Qual é a dimensão na qual
desfila esse jogo dos pensamentos?
Você não irá resolver essas questões na primeira vez. Você pode também legitimamente perguntar-
se: em que isso se relaciona com a confiança? Ora, a resposta é a seguinte:
Para a maior parte das pessoas, parece ser muito difícil ter confiança nessa mente onde os
pensamentos pululam. Pois não se pode ter confiança que não seja em algo sólido, seguro. Você
também, certamente teve a experiêcia de que a mente é continua e infatigavelmente preenchida de
pensamentos, uma cadeia de pensamentos após outra. O conteúndo da mente parece estar submetido
a uma mudança permanente. Além disso, atribuímos a ela muita importância. A prova é que não é
tão fácil observar simplesmente a corrente de pensamentos sem se deixar seduzir ou levar por seu
contéudo. No momento em que os pensamentos surgem, para o observador desavisado seu conteúdo
parece tão impressionamente, tão importante, que ele se apega; isso tem por conseqüência um
encadeamento de pensamentos, ou seja pensamentos seguindo pensamentos seguindo
pensamentos... Ficamos muito inquietos ou perturbados por todos esses pensamentos, e aspiramos
ter paz, tranqüilidade, férias, longe de toda essa tagarelice.
Este exercício tem por objetivo motivar-lhe, pelo menos por uma vez, a não tomar aquilo que você
pensa, o seu conteúdo, por alguma coisa de tão importante, e sim observar como tudo isso funciona.
Podemos nos livrar do contéudo de nossos pensamentos aceitando-os todos sem julgamento, sem os
seguir. Isso cria espaço para experimentar o vasto relaxamento no qual todos os nossos
pensamentos parecem transparentes como um sonho, uma miragem, imperceptíveis, irreais e ainda
assim bem existentes. É como se estivéssemos mais interessados pela tela e pelo projetor - ou seja,
pelo cenário do filme e pelas forças que o movem - do que pelo próprio filme.
Uma criança é tomada pela ação do filme, mas um adulto tem a possibilidade de recuar e considerar
as condições que formam seu ambiente. Dessa forma, se recuarmos em nosso interior, e se não
prestarmos atenção às condições do ambiente quando os pensamentos surgem na mente, tornamo-
nos conscientes, da qualidade, semelhante a uma ilusão, dos movimentos da mente e notamos que
todos esses pensamentos têm lugar num espaço ilimitado e indefinivel, que parece não mudar. Neste
espaço, há lugar para todos os pensamentos, todos os filmes – ele parece ficar indiferente a todos
esses eventos que têm lugar no seu interior. Nada fazer e observar dessa maneira distendida a
mente, abre-nos, com o tempo, a percepções da extenção infinita da mente e desperta uma primeira
impressão de alguma coisa inalteravel e fundamentalmente boa _algo que existe desde sempre e
para sempre, com o qual podemos contar, que não mudará, mas que não lhe pertence, nem a mim,
nem a quem quer que seja, e que não se deixa definir mais do que isso.
Os pensamentos, os sentimentos, as percepções sensoriais não têm nenhuma influência sobre a
extenção ilimitada da mente, ela continua inalterada por aquilo que é "bom" ou "não bom". O
encontro com esse espaço traz naturalmente uma sensação de segurança. No início, é difícil de se
perceber. Temos medo de nos abrirmos inteiramente a este espaço e ali nos abandonarmos. No
entanto, ja temos uma primeira impressão da bondade e do amor inatos desse espaço. Esta bondade
não está submetida às variações das correntes de pensamentos, ela tem uma qualidade imutável. É
isso que os textos chamam de "a natureza de Buddha". Não é alguma coisa, um objeto que
possamos ver. Nós nem temos necessidade de produzí-la - ela já está presente. Não será através da
vontade, essa barreira ao espiritual, que acharemos o acesso àquela dimensão, apesar de todos os
esforços que possamos fazer. Ela se manifesta com o relaxamento, a confiança e a devoção. Nós a
experimentaremos de maneira direta quando se dissolver a separação entre o sujeito e a experiência
percebida. Porém, agora mesmo, podemos entrever essa dimensão, desde que nós nos tornemos
conscientes do espaço onde ocorre o jogo dos pensamentos.
Esse espaço de consciência, inalterado e desinteressado, é a fonte dos impulsos da bondade e do
amor verdadeiros. É este espaço que nos deixa sentir que há mais na vida do que o egocentrismo.
Aquele que está em contato com esse espaço reconhece que todos os seres tomam parte dessa
dimentsão com todas as suas qualidades, e que esse espaço, chamado a natureza de Buddha, é
idêntico para todos os seres. É dali que vem a certeza de que todos os seres podem alcançar a
budeidade, se apenas ousarem entrar em contato com essa dimensão.
A experiência de não seguir os pensamentos, de deixá-los de lado, de poder deixá-los dissolver-se
dentro da experiência do espaço, conduz ao relaxamento e ao alívio nos quais a relação
autocentrada e o apego se dissolvem. E quanto mais nos familiarizarmos com nossa mente, mais a
confiança se amplifica. O simples fato de termos ouvido falar deste espaço da natureza de Buddha
pode despertar em nós a confiança de que o caminho do derpertar é possivel. Jamais devemos nos
desencorajar e pensar que não temos acesso ao caminho espiritual porque não somos bons o
suficiente, ou somos muito fracos, muito cegos ou inaptos por qualquer motivo. Realmente é assim :
todos os seres fazem parte deste espaço. Cabe a nós liberá-lo. Não existe outro meio de liberá-lo
que não seja a prática pessoal de nada fazer conscientemente ( a meditação) e também a benção e as
instruções de um mestre autêntico.

****5****
Desenvolver a confiança no objetivo, o Despertar Último
Agora, abordemos a confiança no objetivo. No exercício n° 1 vimos o sentido de nossa vida. Desta
feita, trata-se de sua aplicação, isto é, de olhar mais de perto qual direção deve tomar a nossa
prática espiritual, e se o caminho é realmente praticável. É muito importante ter uma concepção
clara do lugar onde queremos ir, da mesma forma que para uma viagem. Se não tivermos um
objetivo claro tornar-nos-emos um briquedo de nossos impulsos, seguindo às vezes numa direção,
às vezes por outra. E quando obstáculos surgirem, nós mudamos de estrada. Por outro lado, ter um
objetivo claro dá força e direção.
Cada um de nós suspeita que não é desejável precipitar-se em aceitar um objetivo espiritual, de
deixar-se submergir simplesmente. Acaso aceitaria, nessa expedição chamada "vida", de tal
importância, objetivos que se colocam diante do seu nariz, simplesmente como uma receita?
Certamente que não. Devemos ser muito claros neste assunto. Porém, os outros podem nos ajudar.

6. Qual é o objetivo do meu caminho?


Comece sempre por alguns minutos de não-atividade. Em seguida, anote todas as qualidades
que lhe parecem realmente ser dignas de esforço - tudo aquilo que poderia ser
eventualmente um objetivo no seu caminho interior. Escreva ou dite espontaneamente tudo
aquilo que lhe vem à mente. Não é necessário selecionar. Deixe sempre um prazo suficiente
para melhor sentir as coisas. Coloque de lado sua caneta.
Pode ser que surjam ídolos , lembranças de pessoas cujas qualidades deixaram uma forte
impressão. Escreva seu nome sobre uma folha. Você queria ser como essas pessoas?
Totalmente ou em parte? Quais são as qualidades dessa pessoa que você almeja? Quais são
as atitudes e os comportamentos que você quer cultivar? Anote-os igualmente. Finalmente,
sublinhe tudo aquilo que lhe parece o mais importante.
Sobre a folha, você tem agora uma lista de qualidades ou de nomes que correspondem às
qualidades. Essas qualidades recobrem, aproximadamente, sua idéia suprema de um ser humano
modelar ou de um comportamento. Pode ser propício comparar essa imagem com os modelos ideais
de outras pessoas ou, decididamente, de religiões ou de filosofias do mundo.
Para determinar nosso objetivo, a via budista tradicional nos dá instruções sobre as qualidades da
budeidade e da atividade de um Buddha1. Além disso, possuímos as biografias do Buddha histórico
e dos grandes realizados2. É verdadeiramente frutuoso estudar estas instruções e as histórias das
vidas. Elas nos inspiram idéias sobre o potencial inato em cada ser humano. O caminho espiritual
do Dharma tem por objetivo despertar completamente este potencial, fazê-lo desabrochar e
desdobrá-lo. Isto tem lugar à medida que tudo que encobre ou vela esse potencial é dissolvido. Eis a
definição tibetana de um Buddha: alguém cujo potencial é inteiramente desdobrado e cujos véus são
completamente purificados.
Os véus, de que aqui tratamos, são aqueles da apreensão egoísta (relação autocentrada). É um outro
termo essencial do Dharma. A apreensão egoísta faz a diferença entre um comportamento ordinário
e uma conduta despertada. Um Buda é sempre, o tempo todo, livre dessa apreensão ou lógica
egocentrada - um ser ordinário não conhece praticamente um só momento de estar liberto da
apreensão egoísta. Quando determinamos nosso objetivo espiritual, é útil olhá-la mais de perto.

1
Cada livro do Dharma é basicamente uma exposição da visão e da conduta despertada. As qualidades de um
Buda ou de um Bodhisattva são explicadas nos capítulos sobre a bodhicitta (capítulo n° 10, 11), sobre as
qualidades liberadoras (as paramitas, capítulo n° 12 a 17) e sobre a budeidade (capítulo 20,21) em "O
Precioso Ornamento da Libertação", de Gampopa
2
. A descrição da vida dos mestres despertados encontra-se, por exemplo, em "Cem Mil Cantos de Vajra", de
Milarepa, e na descrição da vida do Buda Shakyamuni, de Thich Nhat Hanh. ****6****
7. Que lugar ocupa a apreensão egoísta( relação autocentrada) ? 3
Observe novamente a lista das qualidades e das imagens modelares que você anotou. Quais
destes objetivos são egoístas? Assinale-os. Existe, entre as que você anotou, idéias relativas
aos objetivos ou qualidades que não estão ligadas à apreensão egoísta? A mesma qualidade
pode ser egocêntrica e às vezes não-egoísta? O que faz a diferença? Existe alguma vez em
nossa vivência um estado livre da apreensão egoísta? Medite a respeito destas questões.

Você notou? Como pessoa egocentrada parece praticamente impossível experimentar uma só
qualidade completamente isenta da apreensão egoísta ou mesmo pensar em uma vida livre da lógica
egocentrada. Pois, estar livre da apreensão egoísta signfica não apenas estar livre de um interesse
pessoal, mas também não estar sob o domínio desse sentimento do "eu". Mesmo as qualidades tão
supremas como o amor, a sabedoria e a compaixão tomam facilmente uma coloração da tinta da
apreensão egoísta : "eu amo"; "eu, que sou tão sábio"; "eu, que experimento compaixão". É um
verdadeiro dilema que parece difícil de resolver. Estaríamos quase prontos a ceder a esse dilema e
nos acomodarmos à idéia de ficamosr para sempre nas estruturas da apreensão egoísta. Mas, os
caminhos espirituais nos ensinam como sair desse impasse. Sobretudo o Buddha tomou por tarefa
descrever-nos em detalhe os meios de dissolver essa lógica egocentrada.
Porém vamos inicialmente dar um passo atrás. Antes de mais nada, devemos claramente determinar
se é isto que nós queremos realmente - isto é, se a dissolução da apreensão egoísta constitui
verdadeiramente o objetivo de nosso caminho espiritual ou não. Dado que esta é uma questão
crucial, vamos consacrar-lhe um outro exercício.

****7****

3
Com relação à apreensão egoísta, existem mais detalhes em todas as instruções do Lama Guendune Rimpoché.
8. Examinar mais de perto a apreensão egoísta (relação autocentrada)
Afim de que as qualidades desejadas tornem-se verdadeiras qualidades espirituais, é preciso
que elas sejam isentas de toda lógica egocentrada. Você está de acordo com este
comentário?Tome um tempo para meditar a respeito. A lógica egocentrada e a
espiritualidade ficam bem juntas? Quero mesmo dissolver a lógica egocentrada no meu
caminho? Porque é vantajoso estar livre da apreensão egoísta? Em que consistem as cadeias
da apreensão egoísta? A lógica egocentrada é realmente a raiz de todas as emoções e
sofrimentos, como o Dharma pretende?

A lógica egocentrada significa que é o "eu" que está no centro. "Eu quero, eu não quero". O
"eu" reina e cada situação é observada do ponto de vista do "eu": como posso eu tirar
proveito da situação? Do que é preciso que eu me proteja? Tudo, os obejtos como todos os
seres, é examinado pelo "eu". "Isto ou aquilo pode ser-me útil ou proporcionar-me uma
sensação agradável? Existe algum perigo para mim? Isto poderia resultar em qualquer coisa
de desagradável? "Estamos sempre em vias de inspecionar tudo e todo o mundo, tomados
permanentemente em um processo dualista: eu e o meu redor. O "eu" coloca-se
constantemente em relação com alguma coisa que é o "outro". "Essa coisa representa uma
ameaça para o meu território, ou eu posso tirar proveito dela?" Com uma tal atitude
egocentrada estamos continuamente sob tensão. Tal tensão é expressão do apego e da
aversão, bem como a fonte de todas as emoções.

Se você acha que a libertação da apreensão egoísta é verdadeiramente merecedora de esforços para
ser atingida, o caminho do Dharma é seguramente feito para você. Se, na sua lista do exercício n° 6,
você escreveu após cada qualidade que você considera digna de ser adquirida as palavras "livre de
toda apreensão egoísta", estas qualidades tornam-se qualidades de Buddha. Mesmo se
originalmente nós anotamos qualidades mundanas, tais como o poder, a riqueza ou a beleza, elas
tornam-se por tal importante precisão qualidades de um Buddha, qualidades de um ser
completamente despertado, livre de todos os véus da apreensão egoísta. Mesmo a cólera pode
tornar-se uma qualidade de Buddha se estiver livre de toda a apreensão egoísta. Ela mantém seu
poder, mas é impregnada de compaixão.
Mas, voltemos agora à nossa preocupação inicial: despertar a confiança no objetivo do caminho.
Para isso definimos inicialmente, no exercício n° 6, nosso objetivo pessoal, retratado por todas as
qualidades que nós anotamos. Em seguida, servimo-nos de instruções tradicionais e refinamos a
definição do objetivo esclarecendo o papel da apreensão egoísta nos exercícios n° 7 e 8.
Provavelmente, você chegou agora a um ponto onde pode dizer: "é verdade, as qualidades que
anotei não se desenvolverão em toda a sua força se não estiverem livres de toda a apreensão egoísta.
Aceito este complemento."
Afim de estarmos ainda mais seguros de nosso objetivo espiritual, podemos comparar as idéias
formuladas com aquelas de outros caminhos espirituais. Existe alguma coisa de essencial que não
tínhamos ainda levado em consideração? Tenho ainda dúvidas? Se sim, guarde-as na memória a fim
de poder procurar as respostas que você busca.
De todo modo, determinaremos nosso objetivo ainda mais ao longo do caminho, porém nossa
principal orientação pessoal está agora precisa. Nosso intelecto tem agora o direto de repousar, após
este trabalho exigente. Já estabelecemos uma base sólida para nossa confiança ao definirmos nosso
objetivo. Exploramos toda a extensão de nossa consciência e levamos em consideração nossas
dúvidas.Por agora o intelecto não pode ir mais longe.

****8****
Todavia, além da confiança na definição do objetivo é preciso igualmente um pouco de confiança
para acreditar que esse objetivo é acessível. Tal confiança, tão essencial, de que o caminho seja
praticável, surge graças a encontros pessoais com mestres, que - segundo nossa visão - realizaram o
objetivo. A confiança sobrevem espontaneamente assim que nós os encontremos, ou mesmo, se
escutamos falar deles ou lemos textos a seu respeito. A cada encontro, a confiança cresce um pouco
mais: frequentemente temos de início uma atitude crítica, mas os encontros repetidos com um
mestre autêntico fazem desenvolve-se mais e mais a confiança.
Muitas pessoas gostariam de achar um caminho interior e encontrar um mestre autêntico; contudo,
suas experiências anteriores demonstram que elas não podem confiar totalmente nos outros. Mesmo
aqueles que se dizem mestres espirituais revelam-se duvidosos, assim que os olharmos mais de
perto. Entre aqueles que buscam, alguns podem já ter abandonado a esperança de achar um mestre
inteiramente digno de confiança sobre esta terra. Mas eles existem! Poder encontrá-los e constatar
que sua conduta, seu amor e sua sabedoria são realmente equivalentes àquilo que nós definimos
intelectual e intuitivamente como sendo nosso objetivo, dá a confiança no objetivo.

Desenvolver a confiança nos métodos e nos amigos espirituais: o Dharma e a Sangha.

O terceiro tipo de confiança que é mencionado é a confiança nos métodos que nos servirão de
suporte, a fim de percorrer o caminho até o fim. É evidente que esses métodos devem nos parecer
indubitáveis, pelo menos em parte. No entanto, a maneira de desenvolver uma confiança certeira é
aplicá-los e verificar sua eficácia. É indispensável aplicar as instruções do dharma exatamente como
são explicadas. E ao obtermos os resultados de nossos esforços, desenvolvemos a confiança. A
confiança deve ser baseada nas experiências pessoais. Devemos colocar o Dharma à prova de
nossas experiências. A viagem de descoberta do caminho interior tem lugar na nossa própria mente.
Não há outro laboratório para pesquisa dos valores espirituais. Nossa confiança nos métodos cresce
com cada instrução que aplicarmos com sucesso em nós mesmos. Desse jeito, cresce paralelamente
nossa confiança nos amigos espirituais, a Sangha; pois experimentamos que os conselhos ajudam
realmente. Todavia, é preciso munirmo-nos de paciência neste caminho. O que importa é uma
prática contínua.
Após tantas palavras a respeito da base, do caminho e do objetivo é bom mencionar, em segundo
lugar, que nada disso existe finalmente. No momento que praticamos o caminho de maneira
autêntica, a base (a natureza de Buddha), o caminho (o Dharma) e o objetivo (a budeidade) são
indissociadas. Mas, o fato de que é necessário exercitar-se muito para poder praticar
verdadeiramente o Dharma de maneira autêntica, nos permite falar de um caminho com um objetivo
que se apoia sobre uma base.

****9****
Aqui, é preciso advertir que o Dharma não pode ser um simples conhecimento livresco com o qual
se atavia como uma nova roupa. Isso propicia apenas uma aparência de Dharma ,um Dharma-look,
muito chique com muitos conhecimentos teóricos mas sem liberação da apreensão egoísta. No
entanto, o primeiro contato com o Dharma passa, quase que inevitavelmente, pela leitura. Por essa
razão um pequeno exercício:
9. A leitura contemplativa
Cada linha dos textos do Dharma existe para ser tomada de coração e ser aplicado, não em
relação aos outros, mas sim a nós mesmos. Dedique-se, então, a ler atentamente e meditar
sobre o sentido. Uma frase ou um parágrafo é suficiente amplamente, em regra geral. Uma
leitura atenta e contemplativa constitui uma parte improtante da prática espiritual. Existem
duas maneiras de ler desta forma.
a) Escolhamos um livro do Dharma, coloquemo-no aberto diante de nós e leiamos algumas
linhas, no máximo um parágrafo de uma passagem interessante. Paremos, fechemos
eventualmente os olhos um instante e perguntemo-nos: qual é a relação entre essas
linhas e eu, a minha situação atual?Qual é o sentido profundo dessa passagem? O que
devo mudar se admitir as verdades ali exprimidas? Coloque cada passagem, mesmo
aquela mais abstrata, diretamente em relação à sua vida. Assim, você irá tirar o máximo
proveito das instruções.
b) Em outros momentos, não nos sentimos prontos para este estilo intenso de leitura. Então,
lemos simplesmente com o desejo de que o texto tenha sobre nós uma influência benéfica
e que o nosso espírito se acalme e se abra. Lemos sem ativar especialmente nosso
intelecto. Para tanto, os textos que já conhecemos são particularmente adequados.
A leitura dos textos do Dharma deveriam estimular uma mudança pessoal. Uma tal leitura não deve
ficar sem consqüências, pois o Dharma não é um jogo intelectual. O Dharma deve ser aplicado; não
é apenas uma matéria a conhecer. O Dharma é a descoberta da verdade em nós. Não podemos de
fato dizer, como escutamos por vezes, que se trata de "integrar o Dharma". Isso dá a impressão de
que o Dharma seria alguma coisa separada de nós. Trata-se, sim, de aplicá-lo em nós a cada
situação.
O Dharma é o potencial liberado de cada situação, de cada pensamento. Trata-se de descobrí-lo.
Dharma é uma palavra do sânscrito e uma de suas dez definições é "verdade".4 A verdade não é
separada de nós. Ela não é o bem de uma cultura ou de um ser humano. Não podemos nos apropriar
dela.
E isso não se passa assim, que ao reconhecermos a verdade, ela torna-se nosso bem, de uma vez por
todas. Cada situação é novamente um desafio para entrar em contato com o Dharma, que é inato. A
realização da verdade é um processo permanente. Durante esse processo, a leitura dos textos do
Dharma e a troca com os amigos do Dharma e mestres asseguram um suporte considerável. Dessa
maneira aumentamos a compreensão do funcionamento da mente, de nossas emoções, relações
inter-humanas e, paralelamente, do caminho para a liberação. Quando a compreensão cresce, a
confiança na base, o objetivo e o caminho se amplificam.

4
Dharma em sânscrito tem vários significados: lei (direito, justiça), verdade, costume (tradição), dever
(obrigação), virtude, fenômeno (coisa), característica (atributo, particularidade), prática (método), doutrina
(teoria), ensino (caminho religioso)
A contemplação de impermanência
No início, no exercício n° 3, tomamos conhecimento da possibilidade de apreciar mais nossa
situação atual.. Era a contemplação da qualidade preciosa de cada situação. Agora, passaremos à
segunda das quatro contemplações tradicionais, a qual nos familiariza com um outro aspecto de
nossa vida: a impermanência.5

10. Exercício preliminar


Sente-se confortavelmente e endireite as costas. Depois lembre-se, durante alguns instantes,
qual o objetivo de seu caminho - Porque estou aqui? Qual é o objetivo de minha prática? -
oriente sua atenção para a respiração e distenda-se. Estamos simplesmente aqui e
respiramos. Pouco importa quantos pensamentos vêm à mente, nós não os perseguimos e
reconduzimos nossa mente, sempre, mais delicadamente, de novo, para a respiração. Assim,
nós praticamos conscientemente o nada a fazer, durante um certo tempo.
11. A impermanência dos objetos exteriores
Em seguida, começamos pela contemplação da impermanência dos objetos próximos. O
tapete sobre o qual cai o nosso olhar: um dia foi novo e belo, mas suas cores perdem já seu
brilho e o momento virá quando ele tornará ao pó. O mesmo se passa em relação ao
armário, à mesa, à parede - todos foram fabricados num determinado momento e cairão
novamente em pedaços. Se nós olharmos precisamente, descobriremos em cada objeto sinais
de impermanência.
Podemos igualmente olhar para fora. O terreno, as árvores, os arbustos - ainda é inverno,
mas logo teremos flores, que, elas também, murcharão novamente. O que é pequeno torna-se
grande, mas os grandes também chegam um dia ao fim de sua vida. As árvores caem, o
musgo brota e logo eles voltarão a ser terra. Não achamos nada que permaneça na sua
forma atual. Tudo muda. Ha pouco o céu estava encoberto, agora faz sol e logo será noite.
Para onde quer que olhemos, descobrimos a impermanência em toda parte. Seu testemunho
mias fiel é a poeira. Acabamos de limpar e já existem novos grãos de poeira. De onde vêm
eles? Eles anunciam a dissolução de tudo que é composto. As roupas se decompõem, a
matéria orgânica se desagrega, as cadeiras de plástico à frente da casa não passam nem
mesmo dois invernos sem estragos. É a impermanênia exterior. Observe bem à sua
volta.Cada coisa merece ser respeitada na sua instabilidade. Sua precariedade a torna mais
singular e preciosa.

Provavelmente, você agora precisa de uma pausa. Quando você se sentir de novo em forma, poderá
retomar o exercício n° 10 e, em seguida, passar ao exercício n° 12.

*****11*****

5
As instruções a respeito da impermanência são encontradas em quase todos os livros do Dharma. Uma
descrição bem estruturada está no capítulo n° 4 em "O Precioso Ornamento da Liberação".
Quando você se sentir de novo em forma, poderá retomar o exercício n° 10 e, em seguida, passar ao
exercício n° 12. Este exerício levanta um outro aspecto da impermanência:

12. A impermanência das situações


Uma situação não se repete nunca da mesma forma. Os participantes mudam. O quadro
externo muda. O ambiente muda. Nós não podemos parar uma situação ou a congelar e em
seguida a recolocar em movimento. Mesmo os livros que lemos e os filmes quea que
assistimos, nós os vivemos cada vez um pouco diferente. Nosso amigo de ontem torna-se
nosso inimigo de hoje, o inimigo de hoje torna-se o amigo de amanhã. Os companheiros de
nossa vida, que nos são familiares, nos deixam ao morrer. Não podemos fazer nada contra
isso. A vida é um rio. Porque se apegar às coisas impermanentes? Fui bastante estúpido por
me apegar até agora, mas não será melhor parar com isso? Medite sobre isso.
Se necessário, faça de novo uma pausa e retome a prática com o exercício n° 10 a fim de continuar
com o exercício n° 13.

*****12*****
Retome a prática com o exercício n° 10 a fim de continuar com o exercício n° 13.

13. A impermanência do corpo.


Em seguida, observemos nosso corpo com vigilância. Diversos lugares estão quentes, outros
frios, algumas partes estão tensas, outras relaxadas. Dêmo-nos tempo para examinar bem
cada parte do corpo. A respiração não é uma perpétua chamada da impermanência, o
mesmo que a poeira? O batimento do coração, a fome no ventre, os cabelos que nascem, a
vibração de cada célula, as rugas do rosto, as unhas que precisam novamente ser cortadas -
tudo isso não nos recorda constantemente a impermanência? Quem seria tão estúpido para
apegar-se? Ontem éramos recém-nascidos e logo seremos cadáveres. Esforcêmo-nos em nos
revoltarms contra isso? Ou queremos aprender a nos servir de cada momento e a apreciá-lo
em sua particularidade como um presente? Medite sobre isso.

Você precisa de uma pausa? Relaxe um pouco, beba água e continuamos em seguida:

*****13*****
14. A impermanência das experiências mentais.
Mesmo os pensamentos e sensações de nossa mente são todos impermanentes. Chegam e vão
sem cessar. Nada persiste, nem os bons sentimentos, nem as sensações desagradáveis. Eles
não se deixam aprisionar. Quanto mais nós nos distendemos, mais experimentamos o vai-e-
vem dos pensamentos como sendo simultâneos: nascimento e morte no mesmo instante.
Quem irá desgastar-se para reter pensamentos e sensações? Mas, não é examente isso que
fazemos?

A contemplação da impermanência de todas as coisas nos permite largar o nosso apego às coisas
aparentemente concretas. A vida inclui a impermanência e a morte. Se nunca nada mudasse, como a
vida poderia existir? O mundo seria rígido e esclerosado. Para que haja vida é necessário mudar. Se
nos conscientizarmo-nos da impermanência de nossa situação, tentaremos nos servir de cada
situação impermanente da melhor forma. Quem sabe se amanhã a mesma possibilidade de praticar o
Dharma se apresentará ?
Não se aconselha adiar o percurso do caminho interior para amanhã, senão, de repente, a morte se
manifestará e nós não estaremos preparados. A prática do Dharma - e sobretudo a contemplação da
impermanência - vai facilitar encarar a morte. Seria bom viver cada dia consciente que hoje poderia
ser o último dia de nossa vida. Isso não é uma visão pessimista da vida, mas vinda de um realismo
franco, que tem a faculdade de liberar muita energia. Assim, faremos o que nos importa mais e não
desperdiçaremos tempo com coisas insignificantes.
Guardar a morte como nosso perpétuo companheiro na mente, é confirmadamente de uma grande
ajuda no caminho espiritual. Pensar na morte nos ajuda a largar o apego aos amigos, à família, aos
divertimentos e aos bens, mesmo o apego ao nosso corpo e a tudo aquilo com que nos
identificamos. Por que de tudo isso nada subsistirá uma vez que estejamos mortos.

*****14*****
O que é que permanece mesmo na morte? O que é que nos acompanha na próxima vida? Não
sabemos. Evidentemente, a esse respeito, há ensinamentos de mestres despertados. Eles dizem que
restam apenas duas coisas: (a) tudo aquilo que elaboramos em compreensão e em qualidades e (b)
tudo o que edificamos em forças e tendências cármicas.
A contemplação das causas e efeitos, o karma
Para entender o Karma, não é necessário especular sobre as vidas futuras. Podemos atingir a
compreensão do Karma observando, por exemplo, as tendências com as quais as crianças chegam a
este mundo. As crianças são todas diferentes, e isso desde o dia que nascem. Qual é a causa? Pode
ser que isso dependa de sua história anterior? O que é que formou sua mente até aqui? Quais são as
tendências que elas trazem a este mundo? Como nós mesmos nos tornamos tal como somos agora?
Examinemos estas questões olbservando quais são as forças que condicionam nossa situação atual e
quais são as forças que determinarão o porvir. Pelas contemplações precedentes desenvolvemos
uma apreciação da qualidade preciosa e da impermanência de nossa situação. Agora, trata-se de
reconhecer as forças que nos preparam e nos formam. Chamamos a isso tradicionalmente a
contemplação do karma.6
Karma é uma palavra do sânscrito que significa « ação ». Inclui, igualmente, num sentido mais
amplo, a conseqüência dos atos. A palavra Karma, tal como a empregou Budhda, engloba atos
cometidos tanto pelo corpo, como pela palavra e pela mente. Os atos físicos, as palavras e os
pensamentos são, todos os três, « atos » no sentido búdico, pois eles possuem efeitos sobre nós e os
outros. São a força geradora de nosso mundo. O que nós vivemos e a maneira como vivemos são a
conseqüência dos atos do corpo, da palavra e da mente que nós ou outros cometeram. Vamos
examinar isso mais de perto num exercício :

15. A que ponto sou eu o criador de minha situação ?


Inicialmente, sentemo-nos bem distendidos e retos e concentremo-nos. Em seguida, façamo-
nos a pergunta : como fiz para me encontrar nesta situação, estar sentado aqui e refletir
sobre o karma ?
a) Quais pensamentos das últimas horas, dias e anos contribuíram para esta situação ? Que
pensamentos ou atos da mente os precederam ? Quais eram as questões íntimas que me
conduziram aqui ?
b) Quais discussões do passado contribuíram para esta sessão ? O que os outros me
contaram ? Como minhas próprias palavras ajudaram a criar tal situação ?
c) Que atos cometi para me achar nesta situação ? O que fiz fisicamente para isso
acontecer ?
Observemos bem, de qual maneira contribuímos nós mesmos para esta situação – e também,
todas as decisões tomadas que precederam nossos atos exteriores.
Em nossas ações, nós não somos um brinquedo das forças exteriores, temos sempre escolha. Por
exemplo, podemos nos levantar e partir, ou ficar na situação em que estamos, discutir um assunto
ou não. Esta contemplação sobre a nossa participação ativa pode se aplicar a cada situação e
também às condições gerais que comandam a nossa vida, como, por exemplo, a escolha de nossa
profissão, nosso cônjuge, nosso amigo e nossa moradia.
Desta maneira, a forma pela qual todas as experiências são condicionadas pelos três níveis de atos
que cometemos num passado mais ou menos distante torna-se evidente. Pensamos, no início, que as

6
Você encontrará ensinamentos sobre o karma em todos os livros budistas.
ações concretas estão mais à mão. No entanto, a partir do momento em que olhamos mais de perto,
aparece claramente a que ponto os pensamentos são decisivos para nossa orientação espiritual e
nossa motivação.
Cada ação física é antecedida de pensamentos. Elas são todas planejadas e ainda acompanhadas por
pensamentos. Pode-se quase dizer : « os pensamentos criam o mundo». Porém, o Buddha precisou
mais : « as ações criam o mundo». Pois os pensamentos, os atos mentais por si sós, sem atos da
palavra e do corpo, não podem tudo engendrar.
O fato de que uma mesma situação seja vivida de maneira diferente por cada participante e, às
vezes, surpreendentemente diferente, mostra a que ponto os pensamentos são importantes. Isso é
verdadeiro mesmo se todo mundo estiver fazendo a mesma coisa, ou dividindo os mesmos valores e
as mesmas responsabilidades. Mesmo se diferentes pessoas têm a mesma orientação interior, a
mesma motivação e as mesmas prioridades, elas percebem sempre a mesma situação exterior
diferentemente. A que se deve isso ? Deve-se à história prévia de cada um, às forças que agem na
pessoa ; pois nossa percepção de uma situação está impregnada pelos nossos pensamentos, nossas
ações e experiências precedentes. Ela é o reflexo do nosso karma, da nossa atividade anterior e das
tendências que nele resultam.

*****15*****
Até aqui o karma é relativamente fácil de compreender. Mas porquê, por exemplo, « meu karma »
é ficar doente ? Essa pergunta não podemos respondê-la que não seja na medida onde nossa
memória nos permite descobrir relações significativas. Se resfriei-me porque ontem eu saí
insuficientemente agasalhado, parece evidente que colho agora o fruto de minha estupidez. A coriza
é, neste caso, realmente a conseqüência visível de um ato que cometi. A mesma coisa é válida no
caso de um acidente de automóvel, se negliciarmos revisar os freios. O acidente é a conseqüência de
minha própria ação, de andar com um carro que está defeituoso.
Bem mais complicado verifica-se a questão do karma em relação a acontecimentos com os quais,
aparentemente, não contribuimos ; por exemplo, um acidente de avião onde somos apenas um dos
numerosos passageiros ou a morte de um recém-nascido que acaba de vir ao mundo. Aqui há
limites impostos à nossa compreensão. Não vemos as relações. Provavelmente, por que nossas
visões e lembranças são limitadas a esta vida. Se nós pudéssemos ver mais longe veríamos essas
relações. Porém, não temos a visão de um ser despertado. A capacidade limitadade nossa memória e
as experiências desta vida bastam, no entanto, amplamente para compreender os princípios de base
das conseqüências dos atos cometidos.
Nossa experiência pessoal prova-nos que as ações altruístas liberam alegria entre a maioria das
pessoas. Quanto mais cometermos esses atos, mais seremos felizes. Eles mudam nossa mente e
nossa situação. Mesmo que os efeitos não sejam sempre visíveis imediatamente, eles aparecem da
mesma forma, quase sempre, nesta vida. É extremamente raro que alguém só faça coisas positivas,
e só lhe aconteçam coisas desagradáveis.
Da mesma forma, nós experimentamos que as ações egocentradas, ou desprovidas de atenção para
com os outros, estreitam a extenção da mente, a nossa como a daqueles que nos cercam, e provocam
tensões. Quanto mais cometermos esse gênero de atos, mais nos tornamos egoístas e morosos. Tais
atos são diretamente (para os outros) e indiretamente (para nós mesmos) fontes de sofrimento. Eles
têm a faculdade de nos proporcionar satisfação e felicidade por um curto momento, porque nós
satisfizemos um desejo pessoal. Contudo, essa felicidade é efêmera e se transforma freqüentemente
e de forma rápida em descontentamento e negatividade. É extremamente raro que alguém que tenha
realizado apenas coisas negativas venha a provar da felicidade e que esta perdure.
O amadurecimento dos frutos de nossos atos é uma questão de tempo. Os atos egocêntricos
propiciam o sofrimento, os atos altruístas propiciam a felicidade, os atos mistos têm efeitos mistos,
parcialmente agradáveis e parcialmente desagradáveis.
Se seguirmos um pouco essa reflexão, torna-se evidente que o presente é o fruto do passado – e o
porvir será fruto de nossas ações presentes, em relação a todos os atos do passado que ainda não
atingiram a maturidade de suas conseqüências.
− Ao orientar todas as nossas ações para um objetivo altruísta e beneficente, estamos fazendo
crescer a porção das forças aportam felicidade no seio do potencial global de todas as forças
que determinam o porvir.
− E, à medida que nós aceitemos nossas dificuldades e não reagimos com uma atitude negativa
recidivante, a porção das forças aportam o sofrimento diminui.
Se compreendermos isso poderemos forjar nosso destino nós mesmos. Isso exige apenas um pouco
de perseverança na aplicação do que é positivo e de paciência quando é necessário suportar coisas
desagradáveis. Assim nos tornaremos o « forjador de nossa felicidade » ; todavia, nenhuma
felicidade da qual nos glorifiquemos, mas uma felicidade saída da dissolução progressiva da lógica
egocentrada.
Contemple ainda uma vez nesse sentido. Verifique quais são as perguntas que ficaram sem
respostas. Fale, eventualmente, com um lama. Os efeitos interativos do karma não são fáceis de
compreender. Diz-se que só um Buddha seria capaz de reconhecer toda a sua extensão. No entanto,
não temos necessidade de esperar até a budeidade para fazer um inventário de nosso estoque
kármico. Encontramos em nossa vida, em nossa memória, suficientes indicações para reconhecer o
tamanho da carga do karma negativo a ser purificado e daquela relativa ao tesouro sobre o qual
podemos construir :
O inventário de nosso estoque kármico
Para as contemplações seguintes é igualmente requerido que se distenda durante alguns
minutos e os faça preceder por um momento sem fazer nada. Logo após, reflitamos sobre as
perguntas seguintes e voltemos, para isso, até a nossa infância.

16. Os atos cometidos pelo corpo


Reflitamos sobre todas as ações cometidas por nosso corpo. Ainda que possamos talvez não
ter cometido certas ações negativa por nós mesmos, podemos nos perguntar se nós não nos
regozijamos delas e se nós não aprovamos que elas tenham sido cometidas por outros. Para
tal examinemos os três tipos de ações corporais que são citados nos textos :
a) Matei, a começar por insetos, até os animais maiores,e os seres humanos ? Torturei, bati,
violentei, abusei de seres ou lhes proporcionei danos por outras ações corporais ? Ou,
então, protegi suas vidas, aliviei suas dores, apazigüei sua fome, cuidei deles ou os tratei
com respeito ?
b) Roubei, apropriei-me de coisas que não me foram dadas ? Causei dano ao bem de
outrem ? Ou fui generoso e dei aos outros o que lhes faltava?
c) Propriciei o sofrimento por minha conduta sexual, seja por falta de tato, seja por minha
introdução numa relação existente ? Ou pensei no bem de meus parceiros e cuidei e respeitei
as relações existentes ?

*****16*****
17. Os atos cometidos pela palavra

Durante uma outra contemplação, olhemos todas as tendências que se manifestam na nossa
forma de falar. Vamos examinar os quatro tipos de ações ligadas à palavra que são
enunciadas tradicionalmente e inspecionar escrupulosamente de que maneira nós nos
servimos das palavras :
a) Menti ou falei franca e honestamente de coração aberto ?
b) Discuto freqüentemente, insulto os outros com palavras grosseiras e ofensivas ? Denegri
ou difamei outras pessoas, lhes desacreditei abertamente e as envergonhei? Ou pronunciei
palavras reconfortantes e delicadas, reforçei por minhas palavras as qualidades dos outros e
enunciei críticas apropriadas, levando socorro ?
c) Causei intrigas, separei amigos por observações, semeei disputas e falei mal de
terceiros ? Ou tive uma influência harmonisante, fiz cessar disputas tentando suscitar a
compreensão para com terceiros ?
d) Desperdicei tempo em tagarelices inúteis, em mexericos e brincadeiras duvidosas ? Ou
falei de coisas sensatas, respeitei a intimidade de outros e mantive um bom humor ?

*****17*****
18. Os atos cometidos pela mente
A seguir, olhemos nosso mundo de pensamentos e emoções. Quais são os impulsos kármicos
que temos depositados em nossa mente ? Examinemos os três domínios clássicos de
atividades doentias da mente : a maldade, a avidez e as visões errôneas bem como as cinco
emoções : a ignorância, o desejo, o ódio, o orgulho e a inveja.
a) Meus pensamentos são ou foram impregnados de maldade ? Fui ou sou bastante
rancoroso, cheio de cólera e de intenções malévolas ? Sou impaciente, irritadiço, deprimido
e introvertido ? Que pensamentos plenos de ódio tenho tido ? Guardo ressentimentos por
longo tempo ? Ou melhor, tenho uma propensão pela reconciliação, pela clemência e pela
paciência ? Sou afetuoso e compassivo, alegre e aberto ? Posso facilmente perdoar ?
b) Meus pensamentos são ou foram impregnados de avidez ? Sou invejoso do bem dos outros
e de suas qualidades ? Quero tudo para mim ? Tenho ambição e cobiça ? Ou ofereço aos
outros o bem, a felicidade e o sucesso ?Fico sinceramente contente quando os outros fazem
o bem, quando tudo vai bem para eles e que eles estão felizes ? Amo dividir meus bens com
os outros e renuncio com prazer quando eles querem obter qualquer coisa ?
c) Meus pensamentos estão ou foram impregnados de visões errôneas ? Mantenho
obstinadamente dogmas e dou ordens aos outros sobre o que eles tem que pensar ? Sou
arrogante, sempre persuadido de ter razão ? Meu amor próprio é facilmente ferido ? Ou
deixo que me digam coisas e aceito a crítica ? Estou pronto a examinar minhas opiniões e a
mudá-las ? Minha mente é aberta e pronta para adotar novas maneiras de ver ? Sou capaz
de ficar na sombra, de não ser aplaudido e glorificado ?

A lista de perguntas que poderíamos nos fazer é quase inesgotável. Se respondermos


honestamente, nós obteremos uma impressão bastante exata de nossas tendências kármicas e
das forças postas em ação nesta vida. Certamente, não há muitos anjos entre nós... Somos
uma mistura de tendências kármicas « negras » e « brancas ».

*****18*****
Observando mais precisamente, a questão seguinte se coloca :

19. Alguma vez agi livre de toda apreensão egoísta ?


Não contemple essa pergunta antes de uma fase de distensão e relaxamento. A seguir,
tentemos nos lembrar : quantas ações realizadas em nossa vida podemos encontrar que
foram realmente livres de toda lógica egocentrada ? Existem atos que tiveram uma
motivação completamente pura, sem nenhum interesse pessoal ? Não temos freqüentemente
sentido necessidade de reconhecimento e agradecimeto quando levamos ajuda a alguém?
O desejo de reconhecimento e agradecimento é natural, porém é uma expressão de nossa esperança.
Idealmente, com vistas a corresponder realmente à descrição « livre de toda apreensão egoísta » e
de ser interiramente « branca », uma ação positiva deveria ser completamente livre de toda
esperança, por mais compreensivel que ela seja. Pensamos talvez ter realmente cometido uma ação
positiva, no entanto quanto do ego nós descobrimos ao observar mais precisamente ! Quase nunca
fomos livres da apreensão egoísta.

*****19*****
Existe um outro aspecto de nossa revisão kármica, que merece ser levada em conta, que é a
interrogação sobre a negatividade latente em nós. Ocupamo-nos já do potencial positivo em nós, ou
seja, das qualidades da natureza de Buddha que são a expressão espontânea da mente livre da
apreensão egoísta, como a sabedoria, o amor, a compaixão, a devoção, etc. Porém, o que é a
expressão « espontânea » (ou melhor, automática, compulsiva) da mente impregnada da apreensão
egoísta, quando ela é submetida a pressão por circunstâncias específicas?
20. Que atos negativos sou potencialmente capaz de cometer ?
Com tal contemplação, deixemo-nos deslizar num jogo de pensamentos desagradáveis. Por
favor, não se engage a não ser que sinta-se pronto e se compreender bem o sentido da
pergunta.
Imagine as piores situações que poderiam provocar nosso ódio, medo, avidez, orgulho e
inveja. Como agiríamos nós se em uma tal situação nossos pontos emocionais mais sensíveis
fossem tocados ?Podemos nos imaginar batendo em alguém ? Podemos visualizar situações
onde nós pegaríamos em armas ? A que ponto será preciso nos perseguir para que estejamos
prontos para matar ? Talvez, em sonho, já tenhamos matado alguém ? Temos tido já
fantasias de assassinato ou uma cólera quase mortal ? O que será necessário para que nos
levem a roubar, violar, torturar mentir, provocar disputas ou a guerra ?
Provavelmente, a maior parte dessas ações não as cometemos, mas é possível, imaginável, que nós
poderíamos cometer ou que nós cometemos em vidas anteriores. Se cremos nos Buddhas, temos já
um número incalculável de vidas atrás de nós e temos estado implicados em praticamente todas as
situações imagináveis.
Nossa vida atual – as tendências manifestas nos sonhos fazem parte igualmente– é como um
espelho de nossas ações do passado. Esse espelho revela muitas das nossas tendências kármicas,
mas não todas. Diz-se que uma boa parte do nosso potencial kármico fica atualmente impenetrável
para nós, pois as condições, que tornariam sua aparição possível sobre o espelho, não estão reunidas
atualmente.
Nosso « fardo kármico » é constituído de forças que foram postas em ação por nossos atos
egocentrados e nefastos, e nosso « tesouro kármico » é constituído de forças que resultam de nossos
atos altruistas e benfazejos. É aí que se acha a nossa sorte : temos a escolha de reforçar tal ou tal
tendência. Aí está a nossa liberdade. No entanto, as dificuldades encontradas no caminho que
escolhemos demonstram igualmente nossa falta de liberdade, pois somos muito facilmente
arrastados pelas tendências egocêntricas, profundamente enraizadas em nós. É preciso desenvolver
uma força para poder resistir !
O caminho da liberação consiste em cultivar o treinamento da mente, a distensão e a compaixão. É
isso que nos permite realizar mais e mais ações benevolentes. Quando a energia positiva cresce, o
caminho se torna mais fácil. Não somos mais prisioneiros dos esquemas coalhados de reações
emocionais.
Se examinamos a vida através dos últimos exercícios e se nos medimos a que ponto somos
prisioneiros de nossas emoções, a liberdade humana, tão venerada, nos parece uma farsa. Assim que
uma coisa agradável se manifeste na mente nós nos apegamos a ela, e assim que uma coisa
desagradável aparece nós reagimos com aversão. Isso ocorre tão rapidamente que não temos
escolha. Pelo menos, assim parece. Felizmente, entretanto, temos a possibilidade de « fechar a porta
com nossos pés », antes de deixarmo-nos levar ; veremos isso mais tarde, na segunda parte. Antes
porém trata-se de completar ainda a nossa análise da situação presente.

*****20*****
A contemplaçãodos três tipos de sofrimentos no samsara

O Buddha chama esta vida, com suas estruturas coercitivas de reações emocionais, de « samsara » -
o que é geralmente traduzido como « ciclo de existências ». Isso significa : girar perpetuamente em
círculos em diferentes mundos de existência, todos eles marcados por uma falta de liberdade e pelo
sofrimento – vidas após vidas7. Quando o Buddha começou a ensinar, ele abriu de imediato os olhos
de seus auditores a fim de reconhecerem sua situação real – e, em seguida, demonstrou-lhes o
caminho da liberação. Chamou esta análise de base de nossa situação a « verdade do sofrimento » .
Nela, ele via mais longe que os seres ordinários, que legitimamente – mas talvez um pouco mais
rápido, demonstravam que ele tinha igualmente muito prazer e liberdade nesta vida. O Budhda foi
uma pessoa bastante alegre e percebia bem todos os aspectos maravilhosos da vida. Apenas, para
conduzir os seres sobre o caminho da liberação, ele institiu sobre o fato que seus discípulos
deixassem de se iludir, e lhes ensinou os três tipos de sofrimentos que marcam o samsara. O
segundo e o terceiro tipos de sofrimento são igualmente válidos para situações que são
subjetivamente vividas como situações extremamente felizes – um fato difícil de aceitar para muita
gente.
Para uma compreensão do que foi exposto concernente aos três tipos de sofrimento, não é
necessário crer no renascimento ou na existência de outros domínios de existência. Podemos
realizar essa análise búdica durante uma contemplação pessoal. Para fortalecer nossa motivação
sobre o caminho, examinemos nossa vida sob o ângulo dos três tipos de sofrimento : o sofrimento
devido a experiências desagradáveis, o sofrimento devido à mudança das situações agradáveis e o
sofrimento devido à apreensão dualista inerente.

Primeiramente, relaxemo-nos, como no início de cada sessão de prática. Lembremo-nos o


objetivo de nosso caminho : liberar-se de toda apreensão egoísta e fazer qualquer coisa de
profundamente sensato para os outros.

21. O sofrimento devido às experiências desagradáveis


Este « sofrmento do sofrimento », como é chamado nos textos, inclui todas as experiências
mentais e corporais manifestamente desagradáveis, como as doenças, as dores físicas e
emocionais, etc. Perguntemo-nos : estou sofrendo ? Sinto dor em alguma parte ? Minha
almofada incomoda-me ? Tenho fome ou sede, muito calor ou muito frio ? Estou excitado ou
há alguma coisa de desagradável que me vem à mente ? Antes de tudo, deixemo-nos
verdadeiramente sentir a situação atual.
A seguir, lembremo-nos de todos os sofrimentos de nossa vida até o dia de hoje.
Experimentei o sofrimento mental ou corporal no passado ?E extendemos esta contemplação
a todos os seres humanos – e depois, também, a todos os animais. Como as outras pessoas
experimentam o sofrimento do sofrimento ? Qual é o sofrimento dos animais ?

*****21*****

7
Os três tipos de sofrimento são explicados no capítulo n° 5 do « Precioso Ornamento da Libertação ».
Há muito desse sofrimento tangível, mesmo se as situações particulares podem ser liberadas de
sofrimento durante curta duração. Essas situações, aparentemente livres de sofrimento, nós as
chamamos de situações de felicidade. Elas são agradáveis ou, pelo menos, não desagradáveis. No
entanto, elas fazem-nos viver uma forma de sofrimento que chamamos de « sofrimento devido à
mudança ». Isso surge em razão da nossa falta de compreensão da impermanência. Uma
contemplação torna-a mais acessível :

22. O sofrimento devido à mudança


Depois de uma curta fase de preparação, perguntemo-nos : lembro-me de momentos
agradáveis, plenos de felicidade, que acabaram em alguma ocasião por ser menos
agradáveis ? Em certos momentos deliciosos ou situações agradáveis eu estou livre de
querer fazê-los durar por mais tempo ou revivê-los novamente ? Fico triste quando esse
momento acaba ? Tento reviver essa situação ?Fico encolerizado quando alguém destrói
essa felicidade ? Existem situações – antes, durante ou depois – quando estou livre do apego,
da espera e da esperança ?

Sim, efetivamente é pedir muito estarmos completamente livres do apego e das esperanças. Esta é
uma questão retórica. Mesmo aquele que encarou freqüentemente as profundezas do abismo da
impermanência, ainda saboreia as circunstâncias agradáveis e frequentemente digere menos bem as
dificuldades. Isso constitui o segundo tipo de sofrimento, o qual é inato a todas as situações
agradáveis e mutáveis quando estamos apegados a elas. Se formos conscientes da impermanência
da situação, nosso apego diminuirá e, logicamente, também o nosso sofrimento por causa dessa
impermanência indesejada, que lhe é associada.

*****22*****
O terceiro tipo de sofrimento, o sofrimento devido à apreensão dualista inerente, não é percebido
pela maioria das pessoas. O desejo de querer liberar-se desse sofrimento manifesta-se, por vezes,
através do desejo que querer unir-se, fundir-se e experimentar a união total, um estado onde a
separação entre eu e o outro se dissolve. A experiência da separação e seus efeitos representa o
terceiro tipo de sofrimento.
Mesmo o praticante da meditação não consegue discernir de imediato essa separação como um
sofrimento. Nós não nos damos conta imediatamente a que ponto esse dualismo esconde o
sofrimento. O praticante da meditação (aquele que, conscientemente, nada faz) percebe apenas que
em sua mente existe um observador que comenta, julga e tudo examina. Sob diversos pontos de
vista, esse observador é o que poderíamos chamar de nosso ego. Ele é ativo de múltiplas maneiras.
Vamos inspecioná-lo mais de perto :
23. O sofrimento devido à apreensão dualista – o observador
Deixe sua mente repousar até que esteja relativamente calma. Quando ela estiver relaxada e
voce consiguir olhar e escutar seus pensamentos, você tem consciência do observador ?
Nessa turbulência de pensamentos, há aqueles que dizem : « eu medito », outros dizem : « eu
não deveria pensar tanto » ou « eu estou muito excitado », « que calma bonita », etc.
Continue a deixar a mente num estado calmo e distendido, segundo a sua capacidade. Se
você observar mais precisamente, pouco a pouco irá descobrir que essa sensação de um
« eu » representa um estado contínuo de tensão. Tudo é observado, julgado, classificado.
Esse « eu » está sempre à espreita e é constantemente ativo. Nada escapa a esse vigia.

Conhecer de verdade esse repórter-cinegrafista, julgando e classificando, com suas múltiplas


facetas, é um processo que dura anos. Às vezes é praticamente neutro e, por outras vezes, cheio de
preconceitos. Esse vigia é o chefe e todos os outros pensamentos são seus objetos. Dado que se
outorgou a esse chefe a função de ordenar e integrar, chamamo-no também de « eu » ou « ego ». Ao
analisarmos mais precisamente as funções do « eu », podemos diferenciar diversos planos, mas
esses não nos interessam atualmente. Ao examinarmos esse « eu » (e também o terceiro tipo de
sofrimento), constatamos rapidamente que esse « eu » tem visivelmente um medo terrível de perder
o controle. Temos – muitas vezes inconscientemente – um medo colossal do que poderia acontecer
se o observador não nos propiciasse mais o sentimento agradável e reconfortante : « eu penso, logo
existo ». O meditante reconhece gradualmente que restará sempre uma porção de tensão na mente,
enquanto existir o observador diferenciado dos objetos observados. A razão dessa tensão é o medo
fundamental da não-existência, o desaparecimento temido do « eu ».
É essa tensão fundamental – podemos talvez dizer : esse medo existencial, que está ligado à crença
de um « eu » realmente existente – que o Buddha chamou de « sofrimento de todas as existências
condicionadas » ou, em resumo, « sofrimento devido à existência condicionada ». Por existência
condicionada são designados aqui todos os modos de existência, que são baseados em forças
kármicas e são, portanto, condicionados karmicamente. O karma é relativo às ações que foram
cometidas com uma atitude dualista dita egocentrada. O sofrimento ligado ao condicionamento
brota assim da mente que funciona de maneira dualista, que se põe numa relação como um sujeito
com os objetos de sua percepção (incluídos aqui os pensamentos). Para tornar mais claro este
contexto, podemos falar simplesmente do « sofrimento do dualismo ».
O sofrimento do dualismo cessa quando o observador não existe mais e nesse momento eclode a
pura consciência primordial. Assim são igualmente transcendidos o sofrimento da mudança e o
sofrimento do sofrimento, pois todos os dois são ligados à existência de um vigia que toma e julga.
A budeidade significa a dissolução total desses três tipos de sofrimentos, o que permite a alegria
natural , isenta de todas as condições , de se manifestar.
No que se refere à nossa análise do samsara,da nossa situação atual, nossa contemplação nos leva à
constatação prosaica de que todas as experiências dualistas são realmente caracterizadas pelo
sofrimento. Se ainda não tivermos certeza disso, devemos continuar a examinar todas as situações
da vida sob o ângulo dos três tipos de sofrimento. Dessa forma será reforçado o desejo de não
somente querer deixar para trás o sofrimento do sofrimento, mas, igualmente, aquele do dualismo
fundamental e do apego às experiências agradáveis mas impermanentes. Tal contemplação é um
remédio importante contra o apego à uma vida agradável e feliz, atualmente sem dificuldades.
Os problemas são, de um certo ponto de vista, um motor para perseverar. Por essa razão, é
recomendado observar o problema de base nas circunstâncias felizes. Isso não quer dizer que nós
não devemos nos regozijar ; isso representa apenas uma proteção contra um adormecimento
autosuficiente na felicidade.
Chegamos aqui ao fim da primeira parte do « Fio Vermelho ». Para que nosso caminho espiritual
possa continuar a se desenvolver plenamente, é necessária uma prática regular. No caso onde se
verifique que o Dharma, tal como foi ensinado por Buda Shakyamuni e os seres despertados de sua
linhagem, corresponde ao seu desejo de praticar um caminho espiritual, aconselha-se entrar
rapidamente em contato com um mestre do Dharma. Ele lhe dará outras instruções. Trata-se de
tomar refúgio profundamente e se desenvolver a compaixão e a sabedoria. Para isso, uma multidão
de métodos é proposta neste caminho. É costume, ao final de cada sessão de meditação, dedicar
toda a energia positiva acumulada. Isso faz crescer a força positiva e nos protege da identificação na
prática espiritual :
24. Dedicatória
Deixemos a mente descansar e exprimemos em seguida os seguintes desejos
"Possa toda a energia positiva acumulada por esta prática ser benéfica para a felicidade e o
despertar de todos os seres. Possa, graças à força positiva gerada, o sofrimento de todos os
seres diminuir e e as condições favoráveis para sua evolução espiritual se manifestar.
Possam ser dedicados à felicidade e ao despertar de todos os seres, todas as ações
beneficentes que foram cometidas neste universo desde tempos sem princípio. Possa essa
dedicatória realizar-se assim, pela benção dos seres despertados e pela benção da abertura
inicial da mente !"
Em seguida, ficamos alguns instantes num estado de distensão profunda, onde abandonamos
todo o nosso apego e toda nossa identificação.
***

Вам также может понравиться