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Nas páginas a seguir você encontrará um breve roteiro de orientação para o semestre.
Ele consiste numa descrição sumária dos objetivos, metodologia, formas de avaliação e
cronograma das atividades da disciplina.
E que significa essa intransitividade? Em última instância, ela carrega consigo o antigo
ideal de formação: ninguém nos forma; nem tampouco somos formados para alguma
coisa – nós nos formamos no interior do processo educativo. Formar-se significa,
assim, tornarmo-nos nós mesmos, a partir de nós mesmos, para nós mesmos.
Esse não é um simples jogo de palavras, muito menos uma tentativa de docilizá-los
para o que há de vir. Na aparente simplicidade das palavras reside o seu segredo
profundo. Nossa língua, assim, nos presenteia, pois o “formar-se” já nos deixa claro
que é a partir de um movimento interno que a formação se inicia. Nesse movimento,
nós nos tornamos nós mesmos quando assumimos a consciência e o controle do nosso
processo cognitivo: servir-se do próprio saber, esse antigo e já bastante esquecido
lema guarda consigo uma verdade atemporal, a de que o conhecimento é
desenvolvimento de si mesmo. Nós nos servimos do próprio saber quando recusamos
toda determinação dogmática, toda relação imediata, não reflexiva, com o mundo ao
nosso redor. Nós nos formamos quando aprendemos a dizer não: não aos
preconceitos não justificados, não às experiências alheias que se passam por objetivas,
às pressões de todo tipo, com as quais outros buscam determinar, de fora, o que deve
ser importante para nós, não ao apelo imediato do que se passa por “simples fato”,
não à ignorância de achar que nossa opinião não precisa ser aperfeiçoada,
fundamentada, transformada em conhecimento.
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Por simples que pareça, contudo, dizer “não” é hoje o que há de mais difícil e de mais
cansativo. Somos constantemente empurrados em direção àquilo que facilmente
convence, e apenas o faz porque apela ao “sim” embutido em toda determinação
injustificada.
Dizemos “sim” todas as vezes em que por preguiça ou comodidade nos refugiamos
naquele conjunto de crenças que carregamos conosco há muito tempo, sem nunca
questionar, e que aperfeiçoamos nas horas desperdiçadas em redes sociais nas quais
só falamos com quem já concorda conosco; quando fazemos deste conjunto de
crenças e valores um ídolo de pedra e aço impenetrável, que por ter funcionado algum
dia, deve funcionar sempre. As nossas opiniões prévias são certamente importantes,
mas necessitam de constante revisão, de fundamentação discursiva, do trabalho do
pensar, de juízo crítico – ou nos tornamos vítima do número, da massa de gente
anônima que grita e esperneia, e que confunde a racionalidade de alguma coisa com a
quantidade de pessoas que “concordam” ou “aceitam” aquilo (o “sim” às opiniões da
maioria).
Dizemos “sim”, portanto, todas as vezes em que nos deixamos levar pelo canto da
sereia do imediato, daquilo que se apresenta como válido sem se deixar questionar.
Daquilo que busca nos falar sobre algo dizendo, antes, o que esse algo deve ser, e não
o que ele é. É um círculo vicioso. Pois quanto mais aceitamos sem questionar o mundo
a nossa volta (seja ele a nossa cidade, o planeta, a religião, ou um texto da disciplina),
mais difícil se torna questionar nossa própria aceitação. E, assim, somos levados
acreditando que somos livres e senhores dos nossos destinos, enquanto continuamos
acorrentados: aos preconceitos, às experiências que tentam nos impor, às pressões
alheias, à realidade mascarada pelo imediato do factual, às opiniões da massa.
Dizer não é jogar a luz da possibilidade sobre as estruturas opacas da realidade à nossa
volta, sobre nós mesmos. É por meio dessa operação simples, mas extremamente
difícil, que nos tornamos livres, que nos formamos. Formar-se é libertar-se.
Nada disso é fácil, pelo contrário. É o que há de mais difícil! Quando simplesmente
aprendemos algo novo (mexer pela primeira vez em um computador, nadar, andar de
bicicleta, falar, escrever...), vamos simplesmente adicionando conhecimento, etapa
por etapa, e, sem saber, adquirimos também uma enorme quantidade de elementos
sobre aquilo – para que serve, qual seu valor (financeiro, estético, ético), como os
outros o percebem ou o valoram. Carregamos todas essas noções conosco e, na maior
parte do tempo, sequer notamos o quanto elas possuem poder sobre nós, o quanto
elas atuam nos guiando diante das experiências do dia a dia.
Juntos, tentaremos superar essa dificuldade. A escolha que se coloca diante de cada
um de vocês, portanto, é a de se abrir à essa possibilidade. Ela está aí, aberta para
todas. É preciso conquistar a si mesmo: para isso, é preciso renunciar a algumas (ou
muitas!) das certezas, dos hábitos irrefletidos, das noções preconcebidas, das
expectativas alheias, do poder do imediato. Somente assim podemos nos colocar no
caminho do formar-se, do libertar-se, do pensar.
É essa a tarefa do semestre que agora se inicia. Não é uma tarefa fácil – mas está longe
de ser algo impossível, ou doloroso, ou mesmo sacrificante. É uma tarefa que exige
esforço, dedicação e, principalmente, coragem. Coragem para olhar para dentro de si e
admitir, no silêncio da consciência, que ainda não sabemos tudo que achamos saber;
que estamos aqui para aprender e isso muitas vezes envolve lidar com decepções e
quebras de expectativas. Coragem para dizer a si mesmo, e a quem quer que seja, que
resultados importam pouco diante da nobreza da decisão de se colocar no caminho do
formar-se.
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Ora, como podemos atingir esse objetivo? Ou, dito de outra forma, como nossa
disciplina se desenvolverá para atingir os objetivos propostos?
A outra postura vigente é a que entende a aula como o fim, como o término do
processo: o estudante chega já munido do texto e, em sala de aula, ele confirma ou
retifica as opiniões prévias que tinha a partir da exposição do professor. Ainda que seja
menos prejudicial que a primeira, tal postura também é problemática. Isso porque o
papel do docente, aqui, é servir como espécie de glossário, de dicionário a partir do
qual a(o) estudante tenta se adequar ao conteúdo dos textos. Nesse ponto, verifica-se
como as duas posturas se encontram, pois também nesta situação o professor é a
medida de correção do entendimento do aluno acerca do texto: também a
objetividade daquilo que se estuda fica dependente do parecer do especialista e o
espaço de reflexão-aprendizagem passa a ser determinado unicamente por um
processo a posteriori de adequação – vale dizer, de um ajustamento, pelo aluno, do
que aprendeu após verificar qual o veredito do professor sobre o problema.
Se tais posições prévias a partir das quais compreendemos a aula expositiva parecem
abarcar todos os modos possíveis de ensino, isso só demonstra a dificuldade de pensar
o processo de aprendizagem por via delas, para além das fronteiras nas quais hoje ele
é concebido. Como, então, podemos encará-las?
Para nós, a sala de aula não é nem início, nem fim: mas o medium, o meio no qual a
reflexão-aprendizagem pode tomar lugar. Isso implica, portanto, uma postura do
professor que fique aquém de ditar o caráter da reflexão, mas que vá além de ser um
mero tirador de dúvidas ou facilitador da aprendizagem. Na sala de aula, portanto,
tentaremos desdobrar os argumentos dos textos, esclarecê-los, criticá-los, em suma:
pensar a partir deles. Por um lado, facilitar o acesso à linguagem do texto trabalhado e,
por outro, abrir o texto para que uma reflexão sempre original e fecunda possa tomar
lugar na e por meio da sala de aula.
Isso também traz desafios às alunas e aos alunos da disciplina. Em primeiro lugar, uma
reflexão qualquer precisa estar ancorada em alguma medida, em algum solo a partir
do qual ela pode ser desenvolvida de forma adequada. Essa medida e esse solo são os
textos da disciplina. É necessário se confrontar com o texto. Mas o que isso quer
dizer?
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Por exemplo: a placa diz “Não estacione”. É preciso orientar-se por ela se quero saber
como agir em respeito ao que me é imediatamente exigido enquanto, dirigindo,
preciso de um lugar para estacionar. Eu vejo a placa e entendo o que ela diz e ajo de
acordo com o que ela diz, sem maiores questionamentos acerca das noções de
estacionamento, ou proibição etc.
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Estudar é algo diverso, pois envolve a noção de um esforço aplicado, de dirigir nossas
energias a algo que nos confronta – este é, aliás, o sentido original do verbo latino
studeo/studere, de onde vem a palavra portuguesa. Estudar é esse confronto, pois o
texto não nos traz nada de óbvio, nem tampouco pode ser objeto de um simples ver
imediato. É preciso que o texto revele a estranheza, o não-familiar, o inabitual da
experiência cotidiana: é apenas na descoberta desse espanto que a reflexão pode
surgir, pois o que não me desperta um estado distinto daquele em que me encontro
cotidianamente não pode se fazer objeto da reflexão. Mas a estranheza não pode
ocorrer quando eu não me abro a ela, vale dizer, quando apenas leio um texto; quando
não aceito (por pressa, preguiça ou por inação) deixar vir ao meu encontro a
experiência do diferente que o texto pode me abrir.
O outro desafio que tal metodologia traz aos estudantes diz respeito à sala de aula, ao
momento da própria aula expositiva. Pois não basta apenas estar ancorado no solo do
texto, é preciso tentar edificar algo a partir dele! Ora, qualquer construção exige o
trabalho do construir: a atenção, o esforço, a dedicação durante a construção. Nós,
que tratamos dos fundamentos (das fundações) do conhecimento, estamos em uma
posição ainda mais delicada: pois da mesma forma que uma casa erguida
apressadamente sobre um solo inadequado corre o risco de desabar por suas próprias
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Assim é que a busca pelo que faz o tempo passar mais rápido diante do entediante, a
constituição do passatempo, traz o efeito contrário, pois anula a disposição para o
esforço de construir a reflexão. Não lida com o imediatamente entediante, mas se
esquiva dele e aguarda o momento propício para retornar. Só que esse retorno nunca
acontece! Se não resguardamos de antemão a disposição para o enfrentamento, o
estado de ânimo da reflexão, enquanto um espantar-se diante de, nunca se abrirá para
nós. Pois não é o objeto que, por si, desperta nosso espanto diante dele; somos nós
que nos abrimos previamente ao espanto, que aceitamos trilhar o caminho da reflexão
transformando o cotidiano em espantoso, o habitual em inabitual, o corriqueiro em
algo digno de questão.
Portanto, é nisso que constitui o nosso caminho, o nosso método. Encarar as aulas
como o lugar de constituição das questões corretas – de conquista do espaço do não-
familiar. Aprender a formular as questões é, assim, conquistar a paciência e a coragem
para fazê-las. Se conseguimos conquistar tal lugar, o espaço do entediante não
desaparecerá, mas estaremos muito mais aptos a enfrentá-lo, juntos, em uma sala de
aula que se constitui como um laboratório: um espaço de testes, da busca pelas
questões corretas e das respostas adequadas, ainda que saibamo-las provisórias.
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De acordo com isso teremos uma avaliação contínua na forma de fichamentos sobre
os textos da disciplina. Serão 10 (dez) ao todo, totalizando 25 pontos, e deverão ser
entregues nas datas estipuladas pelo cronograma. Atenção: não se tratam de 10
avaliações, mas uma única avaliação continuada e distendida ao longo do semestre.
Por fim, a atividade de fichamento traz uma vantagem performativa: escrevendo sobre
o texto, identificando seus aspectos centrais, seus problemas, sua forma de
argumentação, enfim, aprendo eu mesmo a escrever, a interpretar textos, a construir
problemas e a trabalhar argumentativamente. Por meio do exercício diligente, sério e
constante que o fichamento proporciona, é-me possibilitado aprender muito mais do
que aquilo que o texto diz. Quando tomo para mim a tarefa de elaborar algo mais do
que um simples resumo feito para a disciplina, e encaro o encargo como uma
estratégia de aprendizado, desenvolvo gradativamente minha capacidade de pensar e
de exprimir o pensamento de forma cada vez mais clara e coerente.
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Além dos fichamentos, a estudante deverá redigir três ensaios ao longo do semestre –
cada um no valor de 25 (vinte e cinco) pontos. O tema do ensaio é livre, devendo
dialogar com quaisquer das temáticas desenvolvidas em cada uma das unidades. O
ensaio é um texto curto, de no mínimo 3 (três) e no máximo 5 (cinco) páginas de
texto2, com configuração padrão (Fonte: Times New Roman, tamanho 12,
espaçamento entre parágrafos de 1,5).
Um ensaio não é um artigo científico: ele não exige a formalidade e a rigidez conceitual
dos trabalhos científicos. Nem tampouco é uma simples opinião escrita, como uma
postagem de blog ou no facebook. É entre estes dois formatos que ele transita. Em um
ensaio, somos mais livres para desenvolvermos a nossa ideia a partir do tema dado.
Seu critério de avaliação é interno: como você escolhe falar daquilo que escolheu falar.
Sua razão de ser como avaliação consiste em averiguar o quão adequadamente você
consegue efetivamente expor aquilo que você quer dizer.
Dentro do amplo tema de cada unidade, e a partir dos textos trabalhados, cabe à
estudante achar sua própria forma de escrita – o que inclui alguns desafios. Delimitar o
tema, desenvolver os próprios argumentos de forma coerente e encadeada,
demonstrar através da escrita a capacidade de compreender os problemas acerca dos
quais versam os textos e, mais importante, saber o próprio limite; ter claro para si
mesmo o ponto máximo em que o nosso estágio atual de desenvolvimento acadêmico
nos permite chegar.
2
Isso quer dizer que elementos não textuais, como capa, bibliografia e outros não são
computados para averiguação do mínimo ou máximo de páginas.