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Introdução
O setor de alimentos e bebidas se configura como um dos mais relevantes para a economia do
Brasil (LINS; OUCHI, 2007). Entretanto, devido à forma que o setor interage com o meio
ambiente, destacando-se a sua dependência dos recursos naturais, existem importantes
questões ambientais a serem consideradas no processo de gestão. Isso vale também para os
demais países da América Latina que vivem em uma região abundante em recursos naturais e
grande biodiversidade.
A organização GRI foi criada em 1997 através da união da CERES (Coalition for
Environmentally Responsible) e PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente) tendo por objetivo melhorar a qualidade, o rigor e a aplicabilidade dos relatórios
de sustentabilidade das empresas (GRI, 2015). Ela surge com o objetivo de elevar as práticas
no reporte da sustentabilidade a um nível de qualidade tal como apresentado pelos relatórios
financeiros. As diretrizes contidas no modelo GRI (atualmente em sua versão G4) ajudam na
identificação dos impactos das atividades das empresas sobre o meio ambiente, economia e
sociedade. Segundo Campos et al. (2013, p. 5), “essas diretrizes consistem em princípios para
a definição do conteúdo do relatório, em orientações para garantir a qualidade das
informações relatadas e indicadores de desempenho com o mesmo peso e importância”.
O modelo da GRI, atualmente em sua quarta geração, apresenta cada vez mais importância
pois permite o estabelecimento de princípios essenciais sobre o desempenho ambiental, social
e de governança das empresas (BASSETTO, 2010). Além disso, segundo Leite Filho, Prates e
Guimarães (2009), ele também permite a padronização na divulgação das informações de
sustentabilidade, importantes para comparações de desempenho, além de facilitar a
implementação de um processo de melhoria contínua na empresa.
3. Metodologia
3.1 Amostra
O foco do trabalho é o desempenho ambiental tal como relatado pelas empresas consideradas
e, dessa forma, apenas aspectos (temas) e indicadores referentes à categoria ambiental do
relatório serão analisados. Os indicadores relacionados à categoria ambiental do modelo de
relatório da GRI foram resumidos no Quadro 1.
Os índices GAPIE referentes a cada uma das empresas consideradas na pesquisa foram
submetidos a análises gráficas e estatísticas para responder às principais questões propostas na
pesquisa.
Os índices foram analisados segundo recomendam Castro, Siqueira e Macedo (2011), que
propõem níveis de classificação de acordo com o índice GAPIE calculado (Quadro 3).
4. Resultados e discussão
Dessa forma, considerando o índice GAPIE, é possível notar que, com relação à aderência aos
indicadores da categoria ambiental, o Brasil obtém os melhores resultados dentre as empresas
de mesmo setor consideradas no âmbito da América Latina. Levando em conta apenas os 10
melhores resultados, o Brasil aparece com três empresas (BRF, Nestlé e JBS), seguido pela
Argentina e Chile, ambos com duas empresas.
Por outro lado, considerando as médias das empresas em cada um dos países, o Brasil fica
atrás da Argentina, com uma média de 0,3970 contra 0,4608, porém, superior à média latino-
americana que é de 0,37. Os resultados gerais se encontram na Figura 3.
Muitas empresas não reportaram um grande número de indicadores ou, quando o fizeram, o
indicador apresentado não trazia todas as informações necessárias, fato que vai de encontro às
recomendações da organização. Além disso, embora a GRI permita a omissão de indicadores,
desde que fundamentado, esse recurso foi pouco utilizado pelas empresas, destacando-se o
grande número de indicadores omitidos sem qualquer tipo de justificativa como se
simplesmente não existissem. Isso, de certa maneira, se reflete nos resultados obtidos –
apenas quatro das empresas analisadas atingiram o nível de classificação “alto”.
5. Considerações finais
No presente estudo, teve-se como objetivo verificar, por parte de empresas do setor de
alimentos e bebidas da América Latina, a aderência aos indicadores de desempenho ambiental
disponibilizados em seus relatórios de sustentabilidade divulgados no ano de 2016 seguindo o
modelo da GRI. O trabalho limitou-se aos indicadores de desempenho ambiental das
diretrizes da GRI por conta da sensibilidade ligada a questões ambientais na região e também
no próprio setor e sua relação para com o meio ambiente.
Os resultados obtidos mostram que o Brasil se encontra em uma ótima posição no que se
refere ao atual cenário de relatórios de sustentabilidade no setor quando comparado a países
da mesma região, tanto na questão da quantidade de relatórios disponibilizados por ano, em
relação ao total da região, quanto dos graus de evidenciação da categoria ambiental tal como
representados pelo índice GAPIE. Além disso, a partir da análise do índice GAPIE foi
possível perceber que apenas quatro das empresas apresentaram um nível de aderência
considerado alto, enquanto que a maioria foi classificada com um grau médio ou baixo.
Também ficou claro que, embora as empresas consideradas façam parte do mesmo setor e da
mesma região, elas não se encontram em um mesmo nível ou estágio no que se refere à
aderência aos indicadores da GRI, resultados semelhantes aos encontrados por Dias (2006).
Também chegaram a conclusões parecidas Castro, Siqueira e Macedo (2011), Helou (2015),
Nascimento et al. (2011) e Travassos et al. (2014).
Por fim, é possível perceber que as empresas do setor de alimentos e bebidas da América
Latina ainda tem um caminho a percorrer na questão dos relatórios de sustentabilidade,
principalmente considerando aquelas que seguem as diretrizes da GRI para a elaboração e
divulgação de relatórios sobre desempenho ambiental. Dessa maneira, é esperado que seja
possível disponibilizar aos stakeholders relatórios com melhor abrangência, transparência, de
maneira padronizada e imparcial.
Como recomendações para pesquisas futuras, são sugeridos trabalhos que procurem investigar
a influência do envolvimento de diferentes grupos de stakeholders sobre a qualidade e nível
de evidenciação apresentados pelos relatórios de sustentabilidade no setor, e também a
percepção dos principais grupos acerca os relatórios de sustentabilidade com uma avaliação
sob sua ótica, relacionando atributos como confiabilidade, transparência, integridade e
abrangência.
REFERÊNCIAS
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APÊNDICE A – Índice GAPIE para empresas da América Latina do setor de alimentos
e bebidas (ano 2016)