O texto de Sueli Carneiro comenta a temática do feminismo negro, a
situação da mulher não-branca na América Latina. Iniciando-se numa perspectiva histórica de colonização, o artigo mostra as raízes dessa cicatriz até os dias de hoje com as empregadas domesticas. Aqueles homens ali dizem que as mulheres precisam de ajuda para subir em carruagens, e devem ser carregadas para atravessar valas, e que merecem o melhor lugar onde quer que estejam. Ninguém jamais me ajudou a subir em carruagens, ou a saltar sobre poças de lama, e nunca me ofereceram melhor lugar algum! E não sou uma mulher? Olhem para mim? Olhem para meus braços! Eu arei e plantei, e juntei a colheita nos celeiros, e homem algum poderia estar à minha frente. E não sou uma mulher? Eu poderia trabalhar tanto e comer tanto quanto qualquer homem – desde que eu tivesse oportunidade para isso – e suportar o açoite também! E não sou uma mulher? Eu pari cinco filhos e vi a maioria deles ser vendida para a escravidão, e quando eu clamei com a minha dor de mãe, ninguém a não ser Jesus me ouviu! E não sou uma mulher? (Truth, 1851, Women’s Rights Convention em Akron)
Essa citação emocionante de Sojourner Truth traz exatamente ao ponto que
Sueli Carneiro quer nos mostrar em seu artigo, que mulheres são essas tão frágeis, tão delicadas? Pois a mulher negra sempre esteve trabalhando, esteve nas ruas, nas quitandas, nas lavouras, nos prostíbulos, a ela não foram oferecidos casacos para pisar em poças da água, na verdade, nem a água lhe foi oferecido. O feminismo negro nasce dentro do próprio seio do feminismo, escancarando a falsa simetria das mulheres brancas e negras. Ou seja, para essas mulheres, foi lhes dado um papel de não-mulher, uma tentativa de interiorizar o sentimento de inferioridade, que até hoje, por ser negra, tem mais chances de contrair AIDS e usar drogas, que não se encaixa no estado mercantil racista no qual insiste na frase: "exige-se boa aparência". Me perguntei, por muito tempo, aonde escondiam os negros já que 53,6% da população se declara negro, segundo o IBGE de 2014, porém, haviam pouquíssimos na escola ou na universidade, descobri que escondiam, a grande parcela, nas cozinhas, nas portarias, nos banheiros ou nas casas, como domésticas, e mesmo os que tiveram ascensão social, que hoje são médicas/os, dentistas/os, empresárias/os, advogadas/os, continuam sendo estigmatizadas/os pela cor da pele. O texto ainda trata da Conferência de Beijing, que se ocupava da necessidade de debate das relações de gênero, e tantas outras conquistas, destacando-se a posição do Brasil, que chegou a obstruir uma reunião do G-77, grupo de paises em desenvolvimento, por não concordar com a subtração do artigo 32 da declaração de Beijing que prevê "“intensificar esforços para garantir o desfrute, em condições de igualdade, de todos os direitos humanos e liberdades Campus POA Izadora Dias de Souza Resenha – Enegrecer o feminismo
fundamentais a todas as mulheres e meninas que enfrentam múltiplas barreiras
para seu desenvolvimento e seu avanço devido a fatores como raça, idade, origem étnica, cultura, religião...”. Em suma, que ser mulher negra seja uma essência e não uma sentença. Além disso, que não exista uma "guerra" de importâncias sobre quem sofre mais, se é a etnia, o gênero ou a classe, como é citado por Patricia Collins, que é também mencionada no texto, e na mesma linha de raciocino de Angela Davis, todas essas formas são de uma natureza interconectada, pois um sujeito completo não é só a sua etnia, ou só seu gênero, ou só sua classe, em vez disso, ele é um produto de todas essas forças atuantes, captado muito bem por Sueli Carneiro na qual procura desmistificar a visão romântica da mulher frágil e indefesa, que na verdade, sempre se tratou de uma mulher não-negra que tem cor e endereço.