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MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Procuradoria do Trabalho no Município de SÃO JOSÉ DOS CAMPOS


Mais prevenção no trabalho, mais vida! Por um Brasil sem acidentes e doenças no trabalho

IC 000353.2018.15.002/0
INQUIRIDO: BOEING BRASIL SERVICOS TECNICOS AERONAUT , EMBRAER
EMPRESA BRASILEIRA DE AERONÁUTICA S/A, UNIÃO FEDERAL

DESPACHO

O Ministério Público do Trabalho requisitou às empresas inquiridas, nestes autos, a


apresentação de cópia integral do Memorando de Entendimentos assinado entre
elas.

Em petição datada de 11/07/2018, a Embraer negou-se a cumprir a requisição,


alegando "o caráter sigiloso do referido documento e as regras da CVM".

Reiterada a requisição, e alertado o inquirido para as consequências do


descumprimento injustificável, a Embraer apresentou, em 13/07, cópia do
Memorando (original de inglês, e uma livre tradução em português). Na petição
alega que apresentava o documento "em caráter estritamente confidencial", eis que
o documento "contém informações sigilosas relativas às companhias e à operação
em curso".

Em nenhuma das duas petições a inquirida apontou qualquer fundamento legal a


autorizar a manutenção de sigilo, e não explicou em que consistiria o suposto sigilo.
A única menção feita foi a supostas "regras da CVM".

Por cautela, não obstante a completa ausência de fundamentação legal do pedido, o


MPT manteve até agora, para buscar o melhor esclarecimento do assunto, o sigilo
pedido, e oficiou à CVM, em 10/08, nos seguintes termos: "informe se há sigilo legal
do Memorando de Entendimentos firmado pelas referidas empresas e, em caso
positivo, qual dispositivo legal prevê referido sigilo".

Em resposta, a CVM apresentou o ofício n. 220/2018/CVM/SRE/GER-1, afirmando


que: "caso o referido Memorando venha ser requisitado pela CVM, as companhias
envolvidas podem solicitar o tratamento sigiloso de tal documento, com base no § 2º
do art. 5º do Decreto n. 7.724/2012".

O Decreto mencionado, a propósito, diz respeito, na verdade, à regulamentação da


Lei de Acesso à Informação, ou seja, acesso pelos cidadãos a informações que
estão em poder de órgãos públicos, e menciona "vantagem competitiva a outros
agentes econômicos".

Ou seja, a teor da resposta, não existe qualquer sigilo legal já reconhecido, mesmo
no âmbito da CVM, com relação ao documento. Ademais, considerando que o
Memorando diz respeito à forma societária que as empresas pretendem dar à futura
nova companhia que irão criar, não tratando de quaisquer estratégias industriais ou
comerciais, resta evidente que não há qualquer "vantagem" a ser obtida por Airbus
ou Bombardier, por exemplo, concorrentes dos inquiridos. Lembrando, ainda, que a
Embraer, ao pedir "confidencialidade" nestes autos, não alegou, sequer, a existência
de suposta "vantagem competitiva" a seus concorrentes.

Pois bem, o MPT tomou conhecimento, no dia de hoje, através de notícias


divulgadas pelos meios de comunicação, de decisão liminar proferida pela Justiça
Federal na ação popular n. 5017611-59.2018.4.03.6100, que também discute
aspectos da operação envolvendo Boeing e Embraer.

Chamou a atenção do MPT a seguinte afirmação do Magistrado, contida na decisão


(a qual foi proferida, vale destacar, após apresentação de manifestação pela
Embraer):

"Outra meia verdade é de a União federal conservar poder sobre a Joint Venture a
ser criada, por permanecer detendo a Golden Share da EMBRAER. Acontece que
compondo a EMBRAER capital minoritário nesta nova empresa, correspondente a
20% do mesmo, teria o poder de minoritário nas decisões desta nova empresa cujo
capital majoritário de 80% estaria em poder da Boeing".

A teor de tal afirmação, constata-se que o Magistrado não teve acesso à íntegra do
Memorando, pois se este documento constasse nos autos da ação popular, saberia
que, na verdade, o que as empresas estão prevendo não é a manutenção de "poder
de minoritário nas decisões desta nova empresa", mas participação nenhuma da
Embraer nos atos decisórios e de gestão.

De fato, no Memorando a Boeing e Embraer afirmam que:

“Boeing teria o controle total operacional administrativo de NewCo

NewCo teria um conselho de administração, cujos membros seriam indicados por


Boeing, e seria administrada por uma diretoria indicada pelo conselho de
administração; Embraer indicaria um membro para atuar como observador junto ao
conselho de administração, sendo que o “observador” não teria direito a voto

O principal objetivo de Embraer em deter a participação societária em NewCo seria


o de receber dividendos declarados por NewCo; Embraer não teria controle da
NewCo ou de suas operações ou negócios”.

Ou seja, constata-se que Embraer conseguiu, com acentuada má-fé, induzir em


erro o Juiz Federal, e as demais partes da ação popular, sem dúvida ao manter em
segredo a íntegra do Memorando, ocultando o fato de que ela não terá, sequer,
"poder de minoritário nas decisões", mas será, isto sim, mera observadora,
limitando-se a receber os dividendos que os 20% de participação no capital social
lhe proporcionarão (se e quando houver tal distribuição, o que dependerá, apenas,
de decisão da controladora Boeing).

Constata-se que a manutenção de sigilo do documento, nos autos deste inquérito


civil, a despeito da ausência de fundamento legal para tanto, e a despeito do
documento não se referir a segredos industriais ou comerciais, mas a arranjos
societários, está a permitir aos inquiridos ludibriar até o Poder Judiciário,
apresentando a magistrados versão distorcida dos fatos e contrariada pelo
Memorando, o que não pode ser admitido.

Frise-se que a Constituição Federal estabelece, em seu artigo 5º, inc. LX, que: "a lei
só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem".

Já o art. 7º da Resolução n. 69 do CSMPT prevê: "Aplica-se ao inquérito civil o


princípio da publicidade dos atos, com exceção das hipóteses de sigilo legal ou em
que a publicidade possa acarretar prejuízo às investigações, casos em que a
decretação do sigilo legal deverá ser motivada".

A regra, portanto, inclusive no âmbito do inquérito civil, é a publicidade, sendo


admitidas como exceções apenas as hipóteses de sigilo legal ou prejuízo às
investigações. No caso, não há qualquer lei estabelecendo algum sigilo, e o
interesse social recomenda a publicidade, e não o segredo, já que, a toda evidência,
os inquiridos estão a se aproveitar do sigilo para iludir a sociedade, e o próprio Poder
Judiciário, sobre os reais contornos do negócio por elas planejado.

Cabe mencionar, por fim, que não há, seja nos autos da ação civil pública já
proposta pelo MPT, em face da União, seja nos autos do mandado de segurança
impetrado, relacionado à tal ação, qualquer decisão judicial decretando o sigilo do
documento em questão.

Diante do exposto, após discussão no âmbito do GEAF responsável pela condução


do presente inquérito, decide-se remover o sigilo do Memorando apresentado, e de
todos os documentos subsequentes a ele relacionados.

Assim sendo, determino:


1 - Retire-se o sigilo do Memorando de Entendimentos e de todos os documentos
posteriores a tal juntada, a ele relacionados, inseridos como sigilosos por fazerem
menção a tal Memorando (como despachos e ofícios expedidos e recebidos).

2 - Encaminhe-se cópia integral do Memorando (versões em inglês e português),


acompanhada de cópia deste despacho, ao membro do MPF que atuar como
custos legis na ação popular n. 5017611-59.2018.4.03.6100, que tramita em São
Paulo, a fim de que considere sua juntada aos autos judiciais, eis que o documento
esclarece matéria de grande relevância sobre a qual já se debruçou o Juízo, sem o
integral conhecimento dos fatos.

ARARAQUARA, 11 de setembro de 2018

RAFAEL DE ARAUJO GOMES


PROCURADOR DO TRABALHO

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