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O VOO DAS
FINTECHS
Número de startups de tecnologia
do setor financeiro no Brasil cresceu
357% em menos de dois anos; bancos
fortalecem parcerias e turbinam
investimentos com empresas
CONGRESSO DE TI
27O CIAB FEBRABAN
DEBATE TRANSFORMAÇÃO
DIGITAL E BATE
RECORDE DE PÚBLICO
sumário
54 COMISSÃO DE CONTEÚDO:
7
Keiji Sakai - BM&FBOVESPA, Adauto Del Favero –
Inovação Bradesco, Thatiane Gomes da Fonseca – Bradesco,
Antonio Lombardi Neto - Rede, Carlos Augusto de
Fórum de tecnologia Bancos em sintonia com Oliveira – Original, Cláudia Haddad – Itaú Unibanco,
27º Ciab FEBRABAN recebe o Vale do Silício Cristiane Mara Nunes – Citi, Ricardo Nery – Citi, Eliane
Grotti Borges – Caixa, Fernando Pellisario de Godoy
21 mil pessoas – Caixa, Gustavo de Souza Fosse – Banco do Brasil,
Hilda Raquel Guiaro Sicuto – Santander, Mateus
32
DIRETORIA DE EVENTOS FEBRABAN:
Nair Macedo (diretora), Marcelo Assumpção,
Élita Cristina Borges Simionato, Anna Carolina
Criador do Uber A. Tapias, Mayra Bazzo Tome, Fernanda Paradizo
60
Para Oscar Salazar, falta Castillo, Ludmila Prado, Leticia Rodrigues, Marília de
Meo Borges, Keti Granzotto Casarri
inovação às fintechs
Cloud REVISTA DO CIAB FEBRABAN
Uso de computação em
DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO:
nuvem avança nos bancos Sergio Leo (diretor), Adriana Mompean, Cleide
Sanchez Rodriguez, Evelin Ribeiro, Anna Carolina
MARKETING:
Atendimento Roseli Rapouso
Inteligência artificial ajuda
PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO:
a entender clientes Ideia Visual
Inovação tem ciclos de vida Carteiras digitais e dispositivos Copyright 2017 - julho/agosto. Todos os direitos
reservados.
cada vez mais curtos vestíveis se consolidam
Ilustração da capa: Filipe Rocha
40 78 Imagens das páginas 18, 36, 39, 40, 46, 54, 60, 64 e 74: Shutterstock
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editorial
Gustavo Fosse
Diretor Setorial de Tecnologia e
Automação Bancária da FEBRABAN
M
aior congresso de tecnologia da informação Entre os grandes destaques do congresso neste ano,
para o setor financeiro da América Latina, o Ciab tivemos a realização do 1º Hackaton FEBRABAN, além da
FEBRABAN 2017 bateu os recordes de partici- continuidade do Fintech Day, que mostram que os bancos
pantes, palestrantes e patrocinadores da história do evento. continuam investindo muito em tecnologia, estão antenados
Mais de 21 mil pessoas circularam pela exposição, realizada e acompanham o movimento das startups de TI com um
entre os dias 6 e 8 de junho, crescimento de 18% em relação olhar de parceria. Durante o congresso, pudemos presenciar
ao ano passado. Em uma área de mais de 30 mil m² no diversas iniciativas e soluções disruptivas que visam facilitar
Transamerica Expo Center, estiveram 3,74 mil congressistas, ainda mais a vida do cliente bancário.
entre os quais aproximadamente 120 eram estrangeiros de Com estruturas enxutas e forte apoio de novas tecno-
38 diferentes países. logias, as fintechs estão no centro das atenções do mercado
O Ciab FEBRABAN deste ano ainda teve apoio de 43 financeiro por oferecerem produtos e serviços personalizados
patrocinadores, mais que os 40 da edição de 2016. O con- com custos reduzidos. Um relacionamento mútuo entre bancos
teúdo, diversificado, foi apresentado em um número maior e fintechs é extremamente benéfico para o consumidor: en-
de painéis, que passaram de 60 para 73 neste ano. Além disso, quanto as fintechs se beneficiam da base de clientes dos bancos,
280 palestrantes debateram as principais soluções e inovações as instituições financeiras testam e afinam novas tecnologias.
de tecnologia para o setor bancário, 40% a mais que na edição Nossa reportagem de capa explorará o tema e irá revelar
de 2016. Estiveram presentes nomes de peso do segmento, como está atualmente o ecossistema das fintechs no Brasil,
como os presidentes do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli; e que em menos de dois anos cresceram 357% em número,
do Santander, Sergio Rial; e especialistas renomados, como no país. Além de fortalecer parcerias, os bancos também
Oscar Salazar, cofundador do Uber, e o youtuber Zach King. criam fundos de investimentos dirigidos a estas startups,
O fórum de tecnologia promoveu, mais uma vez, de- para identificar oportunidades e garantir que os clientes das
bates relevantes sobre como as inovações tecnológicas têm instituições financeiras se beneficiem dos melhores projetos
transformado os negócios bancários e como poderão facilitar desenvolvidos por elas.
o desenvolvimento de produtos e soluções para novas melho- A edição 70 da revista Ciab FEBRABAN também mos-
rias na experiência dos clientes bancários. Novas formas de trará a cobertura completa do congresso de TI com o debate
atendimento personalizado e o crescente uso de dados indivi- de assuntos importantes para o setor como banco digital,
dualizados para criação de produtos e prestação de serviços são inteligência artificial, internet das coisas, cloud computing e
duas das principais marcas da transformação digital no setor. as novidades do segmento de meios de pagamento.
O congresso também dedicou-se a entender a expe- Prosseguindo com as entrevistas com grandes nomes
riência dos consumidores em produtos e serviços digitais do setor bancário, nesta edição, temos um bate-papo com
desenvolvidos pelos bancos. Além disso, diversos painéis e Maurício Minas, vice-presidente do Bradesco, que destaca as
palestrantes discutiram as metodologias e tecnologias que tecnologias que transformarão a indústria e revolucionarão
simplificam as transações bancárias e deixam serviços e so- modelos de negócios do setor bancário.
luções mais intuitivos e práticos para o cliente. Desejo a todos uma excelente leitura! n
Luiz Michelini/FEBRABAN
C
om recorde de público, a 27ª edição Na abertura do evento, o presidente da
do Ciab FEBRABAN mostrou que o FEBRABAN, Murilo Portugal, destacou que
debate, no setor bancário, sobre a trans- as contas digitais no Brasil, abertas totalmente
formação vivida nos últimos anos pelos bancos por meio eletrônico, em contato presencial en-
se dá em torno de novos desafios tecnológicos, tre clientes e instituições bancárias, totalizam
administrativos e culturais com a migração do um milhão, com expectativa que o número
cliente para o ambiente digital. Formas com- chegue a 3,3 milhões até o final do ano. “A con-
pletamente novas de prestar serviços, atenção ta 100% digital marca o início do vínculo de
ampliada para a experiência dos clientes em sua muitos clientes com as instituições financeiras
relação com as instituições bancárias e novas e uma exigência de consumidores que pedem
oportunidades de negócios para os bancos, a par- processos mais ágeis, simples e menos buro-
tir da enorme massa de dados de que dispõem, cratizados na relação com os bancos”, afirmou.
foram os destaques do congresso de TI, que Portugal ressaltou que, em meio a desafios
neste ano teve como tema central “Ser Digital”. tecnológicos, administrativos e culturais com
Mais de 21 mil pessoas circularam pela a migração para o ambiente digital, os bancos
exposição, realizada entre os dias 6 e 8 de ju- procuram lidar com a evolução de seus atuais
nho, alta de quase 18% em relação ao ano pas- clientes e com novos consumidores surgidos
sado. Em uma área de mais de 30 mil m² no com demandas específicas e bem mais exigentes.
Transamerica Expo Center estiveram 3,74 mil “É preciso atrair e manter novos clientes
congressistas, entre os quais aproximadamente no ambiente digital, investir nas agências digi-
120 eram estrangeiros (crescimento de 14%). tais e ficar muito atento aos desafios e deman-
“É IMPRESSIONANTE A
RAPIDEZ COMO AS COISAS
OCORREM, ESPECIALMENTE
NA ÁREA DA TECNOLOGIA
DA INFORMAÇÃO”
Geraldo Alckmin
Luiz Michelini/FEBRABAN
Cidade digital Com a publicação digital, a Prefeitura fará Na palestra Cidades
Logo após a abertura, a primeira palestra do uma economia de R$ 10 milhões por ano, Inteligentes, o
congresso de TI, intitulada Cidades Inteligen- segundo o prefeito. prefeito de São
tes, foi proferida por João Doria e mediada Outra iniciativa citada por Doria é o Paulo, João Doria,
listou ações
por Murilo Portugal. O prefeito de São Paulo programa das escolas digitais. O objetivo do de tecnologia
listou ações de tecnologia realizadas pela sua prefeito é equipar os alunos, até o ano que vem, realizadas pela sua
gestão para tornar São Paulo uma “smart city, com tablets e computadores, nas instituições gestão para tornar
uma cidade digital”. “Criamos uma secretaria municipais. “Teremos que fazer a reciclagem e São Paulo uma
específica para isso, que é a Secretaria de Ino- treinamento de professores e gestores de escolas cidade digital:
“CRIAMOS UMA
vação e Tecnologia.” públicas municipais”, afirmou. “É necessário
SECRETARIA
De acordo com Doria, a primeira tarefa que estejam atualizados e saibam ensinar o que ESPECÍFICA PARA
dada para o secretário Daniel Annenberg foi é tecnologia e como a tecnologia pode melho- ISSO, QUE É A
a redução até chegar à eliminação da burocra- rar a qualidade de vida das crianças.” SECRETARIA DE
cia. “Até dezembro do ano que vem, todos os Em sua palestra, Doria afirmou que quer INOVAÇÃO E
processos de nossa cidade serão digitais”, disse. implantar 10 mil câmeras na cidade com o pro- TECNOLOGIA”
“As pessoas, a partir de seu smartphone, de jeto de vigilância eletrônica City Câmeras. No
sua casa, de seu escritório, poderão solicitar evento, ele informou que 1.560 já estavam co-
qualquer tipo de serviço da cidade.” nectadas com o sistema Detecta. Somam-se às
Segundo o prefeito, algumas iniciativas câmeras o monitoramento policial com drones,
já foram postas em prática, como o fim do com cinco unidades em operação que vigiam
Diário Oficial em papel no mês de março. a área central da cidade.
Presidentes de bancos
debatem transformação
digital
Por Françoise Terzian
Durante a palestra “O mundo
pós-digital”, Sérgio Rial,
presidente do Santander,
afirmou que na era cognitiva,
os clientes querem menos
produtos e mais serviços
Luiz Michelini/FEBRABAN
“O digital morreu.” Com essa frase, Sér- O desafio está em como lidar com um grau de
gio Rial, presidente do Santander, conseguiu transformação e decisão do consumidor jamais
chacoalhar a plateia que lotou sua apresentação visto na história do país.
na abertura do Ciab FEBRABAN 2017. Com A transformação do digital para o analó-
essa provocação, o executivo detalhou como o gico já aconteceu, comentou Rial, explicando
comportamento da nova era digital não deixou sua provocação no início da palestra: o mundo
opção aos bancos: oferecer um aplicativo é mais mais do que se digitalizou, e o termo digital,
do que obrigação das instituições e não um por si só, perdeu o sentido. O que afeta as so-
diferencial, lembrou. ciedades, hoje, é uma revolução cognitiva, para
Na palestra intitulada “O mundo pós-di- além da tecnologia. Embora o uso de máquinas
gital”, Rial explicou ainda que, nessa “era cog- seja obrigatório, é a interação humana que fará
nitiva”, os clientes querem “menos produtos e a diferença e poderá gerar valor para os bancos.
mais serviços”_ menos pacotes prontos ofereci- Rial não deixou o palco do congresso de TI
dos para adesão e mais soluções que possam ser sem fazer um alerta: “O maior risco da indústria
adaptadas a cada caso individual. Ele lembrou financeira é nos tornarmos uma grande promessa
que os bancos não podem deixar de levar em como foi a telefonia.” Não aceitar a resistência
conta as relações humanas e preservar a inte- do cliente em pagar por mensagens de texto, por
ração pessoal com os clientes, mesmo quando exemplo, não só não era uma solução, como abriu
a comunicação entre correntista e instituição caminho para o surgimento e crescimento de so-
financeira é remota e virtual. luções inovadoras como o WhatsApp, lembrou.
O maior risco da atualidade, discursou, Para o presidente do Santander, é preciso
é o do imobilismo, de se manter na zona de evoluir diante dessa revolução comportamen-
conforto e evitar riscos. Se a preocupação for tal maior que a evolução tecnológica. Para os
apenas a rentabilidade, os bancos não sentiriam bancos, os desafios também são diários, e de-
a urgência de promover mudanças em mais vem ser observados constantemente e com um
curto prazo. Mas aí cabe a diferença entre “ser novo olhar. Daí a sugestão para as instituições
digital e estar digital”, argumenta o executivo. financeiras assumirem o papel de assessoras e
sumário
ciab 2017
Luiz Michelini/FEBRABAN
Paulo Rogério consultoras financeiras em lugar de “vendedo- áreas de TI (Tecnologia da Informação) e da
Caffarelli, ras de produtos”. diretoria criada para este fim. A percepção,
presidente do Banco com o tempo, foi a de que a tecnologia é o
do Brasil, afirma
que “ser digital”
Ser digital meio e não o fim, uma vez que continuará a
atualmente é mais Diante da alta adesão à internet e às tecnologias evoluir e não substituirá o varejo bancário.
do que obrigação, móveis, Paulo Rogério Caffarelli, presidente do A essência das relações interpessoais perma-
e exige um novo Banco do Brasil, tem opinião de que “ser digital” necerá com as agências.
tipo de atenção ao atualmente é mais do que obrigação, e exige um Segundo o executivo, o objetivo do Ban-
usuário dos serviços
novo tipo de atenção ao usuário dos serviços co do Brasil é unir os dois mundos e, para
bancários
bancários. O executivo foi um dos destaques do isso, tem investido em tecnologias de ponta,
último dia do congresso de TI com palestra “A a exemplo da Pulseira Ourocard, o primeiro
conveniência de ser mais que digital”. dispositivo vestível do banco para realização
De acordo com o presidente do BB, os de transações financeiras. Para o BB, as tecno-
investimentos em tecnologia e cultura digital logias importantes são aquelas que aparecem
permitem um melhor olhar e conhecimento somente na hora em que se usa, e de forma
sobre os clientes. É a partir desta análise mais sutil, como é o caso da energia elétrica.
aprofundada que os bancos podem personali- Para chegar nesse estágio, o BB abraçou
zar suas soluções. a tecnologia como uma estratégia importante
Para Caffarelli, a transformação digital para o desenvolvimento de todas as suas áreas,
que se vê hoje vai além da tecnologia. Ela é com olhar focado na experiência do cliente. “O
cultural. Quando o Banco do Brasil começou nome do jogo é gente. Valorizamos o digital,
a falar em digital e a desenvolver soluções que é o que nos dá a ferramenta necessária para
para se relacionar com o cliente, havia a im- atender o cliente pessoalmente. É preciso ter
pressão de que as sugestões deveriam sair das o banco de tijolo e o banco digital”, afirmou.
Luiz Michelini/FEBRABAN
O youtuber
Zach King
encerrou o 27º
Ciab FEBRABAN
com a palestra
“O contador de
histórias que
há em nós”
Com 19 milhões de seguidores na rede so- uma demonstração ao vivo com a plateia so-
cial Instagram e outros 1,5 milhão de inscritos bre como produzir uma animação. Para ele,
em seu canal no Youtube, Zach King encerrou alcançar uma vasta audiência significa apelar
o Ciab FEBRABAN 2017 com a palestra “O para temas universais, com ótimos conteú-
contador de histórias que há em nós”, em que dos, capazes de tocar de verdade as pessoas
aconselhou os bancos a mudarem a visão que e as inspirarem.
os jovens têm sobre as instituições financeiras. De acordo com o youtuber, várias boas
De acordo com o youtuber, finanças ideias para o conteúdo de vídeos já surgiram
é um assunto interessante, mas o foco dos quando ele estava tomando banho e até diri-
bancos no estímulo à abertura de contas e gindo. “Nossas ideias também vêm dos medos
à formação de poupança torna o tema mui- que as pessoas têm, a partir de situações do
to formal e institucional. “Como um mille- cotidiano. Hoje, a maior dificuldade [que se
nial (pessoa nascida a partir dos anos 80), tem nas novas mídias] é manter as pessoas
acredito que será preciso fazer um trabalho em contato com você regularmente”, afirmou.
grande na área de marketing para mudar esta “Por isso, ao produzir um conteúdo, sempre
visão”, disse, sugerindo maior empenho dos nos perguntamos: o que nós gostamos de ver?”
bancos no aconselhamento sobre alternativas No final de sua apresentação, o youtuber
financeiras. “Os bancos são muito importan- falou sobre a importância de brincar e diver-
tes para a economia e na vida das pessoas; os tir-se com o trabalho e deu um conselho para
estudantes, os jovens precisam de instituições os profissionais do setor: “Vocês, dos bancos,
que os ajudem a lidar com suas finanças.” não estão muito acostumados a brincar em
King, conhecido por vídeos divertidos seus escritórios”, afirmou. “A criatividade tem
em que cria situações surreais e truques de limite. Ela depende de quanto você brinca,
mágica com a ajuda de sofisticados truques explora suas ideias, de quanto você explora
de edição, falou sobre esse trabalho e até fez sua curiosidade.” n
Ecossistema em ebulição
Por Felipe Datt
O
Radar FintechLab 2017, mapa das -SP). Em 2016, as startups financeiras forma-
fintechs no Brasil feito pela consulto- ram a Associação Brasileira de Fintechs (AB-
ria Clay Innovation, não deixa dúvi- Fintechs) e, desde então, viram a proliferação
das: 2016 foi o ano em que o país Brasil des- de programas corporativos de aceleração e a
pertou, de fato, para negócios inovadores que criação de fundos de investimentos que miram
apostam em tecnologias disruptivas capazes de seus negócios. Também passaram a merecer
transformar a oferta de serviços financeiros. Há uma maior atenção dos órgãos reguladores: o
uma revolução em curso. Em agosto de 2015, Banco Central deverá abrir, em agosto, uma
havia 54 fintechs no Brasil. Em fevereiro de audiência pública para discutir a regulação de
2017, o número chegou a 247, um crescimento fintechs de crédito.
de 357,41% em 18 meses. A tecnologia passou a fazer parte da
Além de aumentar, o ecossistema de fin- vida financeira da população numa época
techs amadurece e se sofistica. O país já conta em que, no país, o número de smartphones
com 41 aceleradoras de negócios nascentes, - que devem chegar a 208 milhões em ou-
conforme a Fundação Getúlio Vargas (FGV- tubro de 2017 - quase empata com o de
“FINTECHS
OCUPAM ESPAÇO
IMPORTANTE
EM AMBIENTES
COLABORATIVOS
PARA A
INOVAÇÃO”
Gabriel Ferreira,
diretor-executivo
de Varejo,
Marketing e
Luiz Michelini/FEBRABAN
Inovação Digital do
Banco Votorantim
Luiz Michelini/FEBRABAN
“RELAÇÃO COM AS FINTECHS É UMA ra, com soluções mais eficientes e voltadas ao
OPORTUNIDADE DE FAZER NEGÓCIOS” usuário”, diz Marcelo Bradaschia, sócio da
Cassius Schymura, diretor de CRM & Clay Innovation.
Plataforma Multicanal do Santander Conforme a pesquisa, cerca de 80% das
fintechs no país passaram da fase de validação de
seu modelo de negócio e têm clientes pagantes.
clientes bancários (239 milhões). É natural Com soluções de inteligência artificial, block-
que oportunidades na área financeira como chain, chatbots (ferramenta que simula um ser
pagamentos, empréstimos, negociação de humano em conversa com o usuário), big data
dívidas ou venda de seguros sejam cada vez & analytics – partes integrantes da corrida dos
mais exploradas e justifiquem a multiplica- bancos rumo ao digital - é nítida a mudança de
ção das fintechs. postura das instituições financeiras em relação
No Brasil, as fintechs atuam principal- a esses negócios.
mente em pagamentos (32%), gestão finan- Para Fernando Freitas, superintendente-
ceira (18%) e empréstimos (13%). “As fintechs -executivo de Inovação do Bradesco, as tec-
apostam em áreas em que os bancos trabalha- nologias disruptivas, que permitem derrubar
vam mal, como consultoria e gestão financei- barreiras de adoção com custo baixo, surgem
Variação: 357,41%
Belo Horizonte
6%
São Paulo
65%
247
Outros Rio de Janeiro
18% 11%
54
2015 2017
(agosto) (fevereiro) Investimentos das
fintechs no Brasil Fonte: “Report 2017”, do FintechLab
(até 2016)
+ de
R$ 1 bilhão Investimentos pelo mundo
Funding GLOBO
7%
Fintechs Investimentos
investidas
Investimentos US$12,7
8% 836 bilhões
hoje primeiro nessas startups. “Isso leva o banco A prática tem mostrado que a maioria
a deixar de olhar apenas os fornecedores tra- das fintechs não representa concorrência, mas
dicionais de sua cadeia. A própria cadeia está uma operação complementar aos negócios dos
sendo alterada”, diz. bancos. Um exemplo são as fintechs de emprés-
Se em um primeiro momento o sentimen- timos pessoais que captam clientes no mercado
to em relação às fintechs era de desconfiança, e fazem cotações com várias instituições finan-
hoje os bancos passam a enxergar essas empre- ceiras. Outro são startups de recuperação de
sas como fontes de soluções que agregam valor crédito que se “acoplam” às plataformas dos
aos seus negócios. No passado, boa parte das bancos e melhoram a experiência dos usuários.
inovações financeiras era feita dentro dos pró- O diretor de CRM & Plataforma Mul-
prios bancos. “Hoje, há um ambiente mais co- ticanal do Santander, Cassius Schymura, não
laborativo e as fintechs ocupam um importante tem dúvida: a relação com as fintechs é uma
espaço”, diz Gabriel Ferreira, diretor-executivo oportunidade de fazer negócios.
de Varejo, Marketing e Inovação Digital do “As fintechs podem ser agregadas como
Banco Votorantim. parceiras ou podemos adquiri-las também”,
“NINGUÉM
INOVA
SOZINHO”
Marcelo
Bradaschia,
FotoAndres/FEBRABAN
sócio da Clay
Innovation
FotoAndres/FEBRABAN
Para Franklin Luzes, COO da Microsoft, Conforme o FintechLab, mais de R$ 1
startups de tecnologia terão papel bilhão foram investidos em fintechs no Brasil
fundamental na transformação digital
até 2016, e 72% já receberam aportes. O
de diferentes segmentos da economia
fenômeno é global, como atesta uma pes-
quisa recente do instituto de pesquisas CB
Insights. Em 2016, foram 836 aportes, que
permitir a conexão de aplicativos) para conec- superaram US$ 12,7 bilhões, alta de 408%
tar o Next ao legado do banco”, diz Freitas. em quatro anos. Nos dois últimos anos, além
Em 2015, o BMG fez um acordo com a fintech dos tradicionais fundos de investimento,
alemã Lendico para ter um braço de capta- novos atores passaram a aportar recursos
ção de clientes, no modelo de correspondente nessas empresas, a exemplo de empresas de
bancário. Em outra frente, o banco mineiro tecnologia e instituições financeiras, que es-
montou o BMG Digital Lab, para trabalhar truturam fundos para investir nas fintechs.
com startups no desenvolvimento de produtos É a aposta no modelo de corporate venture
e serviços que tenham conexão com o negó- capital, em que grandes empresas financiam
cio do banco. “O banco já assinou contratos o crescimento de startups e se aproveitam de
de parcerias com oito startups”, diz Eduardo soluções inovadoras que podem ser acopladas
Mazon, diretor-executivo do banco mineiro. ao seu negócio.
Luiz Michelini/FEBRABAN
FotoAndres/FEBRABAN
Programa para
conquistar e reter
clientes mirins
vence 1º Hackaton
Uma solução que permite aos pais ad- de sete anos de idade podem usar a mesada
ministrarem a mesada dos filhos por meio de por meio de um cartão físico ou um cartão
um cartão pré-pago e que, por tabela, possi- pré-pago digital (que pode ser empregado no
bilita aos bancos iniciarem o relacionamento consumo de produtos e serviços comuns para
com clientes que nem chegaram à adolescên- essa faixa etária, como jogos virtuais, por exem-
cia, foi a vencedora do 1º Hackaton realizado plo). Tudo monitorado pelos pais. “Os pais po-
no Ciab FEBRABAN 2017. No total, foram dem estabelecer metas de gastos e conseguem
mais de 400 programadores, desenvolvedores acompanhar o desempenho de poupança dos
e empreendedores inscritos que apresentaram filhos”, explica o desenvolvedor Willian Polis,
soluções tecnológicas disruptivas voltadas ao 32 anos, idealizador do Kibank. Para os ban-
mercado financeiro. Os 83 selecionados forma- cos, a ferramenta abre caminho para que as
ram 16 grupos e participaram de uma maratona crianças se tornem correntistas da instituição
de desenvolvimento que durou 48 horas. ao atingirem a idade adulta.
Batizado Kibank, o projeto vencedor per- O Kibank venceu, em voto popular, ou-
mite aos pais cadastrar os filhos no próprio tros três projetos selecionados no Hackaton,
app do banco. Dessa forma, crianças a partir apresentados dias depois ao público no Ciab
”N
ão vi nada que realmente traga va- os mesmos serviços.” E completa: “Não vi nada
lor aos consumidores.” Assim, de mudando o status quo ainda”.
forma objetiva e categórica, o empre- Salazar, que, além da Uber traz no currí-
sário mexicano Oscar Salazar, um dos criadores culo investimentos e participação em ao me-
do Uber, se referiu às fintechs que atuam no nos 30 empreendimentos de áreas que vão de
setor financeiro, ao ser questionado sobre o lentes de contato descartável ao transporte de
tema durante o Ciab FEBRABAN 2017. carga, coleta de lixo e e-commerce de verduras,
O empresário optou por fazer uma pa- acredita que os bancos têm espaço para ocu-
lestra de curta duração, 15 minutos, e durante par um papel relevante no avanço de novas
uma hora e meia respondeu a questões da tecnologias e serviços. Mas ao mesmo tem-
plateia, uma das mais lotadas da maior feira po ressalta: “Todo mundo precisa de banking
de tecnologia do setor. A declaração chamou (serviços financeiros), mas nem todo mundo
a atenção em um momento em que o merca- precisa dos bancos”.
do avalia essas empresas e startups de outros “Os bancos deveriam se tornar plata-
segmentos como inovadoras, disruptivas e formas abertas, uma vez que já fornecem os
que avançam em segmentos em que tradi- serviços, têm infraestrutura, os dados (data)
cionalmente as grandes empresas andam em e se relacionam com um grande número de
ritmo mais lento. clientes. Deveriam ser plataformas e deixar a
“A maioria das fintechs tem boas interfaces nova geração criar serviços em cima dela”, diz
com o usuário, design interessante, acesso ao o investidor, ao destacar o que a Apple fez ao
mercado, conteúdo, mas continuam provendo criar o App Store. “A Uber não existiria sem
Luiz Michelini/FEBRABAN
mesmos serviços:
“Não vi nada
mudando o status
quo ainda”
SAIBA MAIS
a criação do App Store, uma plataforma que Salazar também destacou a importân-
agrega soluções e todos os tipos de serviços.” cia do blockchain: “É a maior inovação dos
Um dos pontos a ser resolvido na imple- últimos dez anos, mas o problema é que as
mentação de tecnologia e parcerias inovadoras aplicações ainda são complexas e abstratas.”
é a falta de sincronia entre as partes envolvidas De acordo com o mexicano, a área de análise
no processo. “Há um problema de sincro- de dados tem potencial para criar novos mo-
nicidade. As grandes instituições se movem delos de negócios que podem transformar as
devagar, e elas devem. As companhias meno- indústrias. “Temos uma quantidade enorme
res (como startups) se movem rapidamente, de dados e somente poucas companhias que
e elas devem.” conseguem potencializar as informações que
Durante o evento, Salazar mencionou coletam. Vejo espaço para oferta de big data
que o Brasil tem tecnologia e aplicativos in- como serviço.”
teressantes no setor financeiro. “O app do Para quem pretende investir, a recomen-
Itaú é um dos melhores que já vi, ao menos dação de Salazar é a mesma que ele levou em
a sua nova versão é bem desenhada. Mas me consideração ao ajudar a criar o Uber, quan-
pergunto, podemos ir para o próximo nível?”, do ocupava o cargo de CTO (Chief Technolo-
disse ao se referir à inovação e afirmar que ela gy Officer, ou diretor de Infraestrutura Tecno-
necessariamente não precisa vir de dentro do lógica) da companhia. “É preciso pensar no
setor – ou seja, dos bancos -, mas pode vir de processo como um todo, construir somente a
fora – de todo um sistema que permite criar tecnologia não é a solução”, afirmou Salazar, ao
novas ideias e soluções. explicar que, em 2009, no processo de criação
O Brasil reúne as condições necessárias, do Uber, foram avaliadas as ineficiências, a falta
além de ser um dos mercados mais preparados, de transparência e de qualidade no que era
para criar empresas e serviços realmente que tra- considerado um dos piores serviços do mundo
gam inovação a diferentes segmentos: profissio- – o de transporte sob demanda.
nais e universidades de engenharia de qualidade, “Se for para criar algo, é preciso criar
acesso a capital e investidores, e um mercado algo que vai mudar a maneira como as coisas
consumidor ávido por novidades tecnológicas. funcionam, imaginar a uma experiência que
“Sei da realidade e que há muitos desafios seja ao menos dez vezes melhor do que a
políticos. Mas sou um otimista e sei que, quan- que já é oferecida”, afirma. Mas também é
to maior o preço, maiores as recompensas”, preciso levar em consideração, diz o inves-
diz. “Quando me perguntam por que investir tidor, que qualquer negócio depende dos
no Brasil, se não sou louco, com tudo que está resultados obtidos.
acontecendo aqui, digo que o mercado está Disrupção, no vocabulário de Salazar,
pronto e as pessoas estão ávidas por mudanças.” é uma palavra para “perdedores”. “A pala-
Sem detalhar o que vem por aí, o empre- vra que amo é inovação. Quando você diz
sário mencionou que se dedica a projetos de disrupção é porque você está do outro lado,
machine learning, uma das tecnologias que, daquele que foi interrompido (do inglês dis-
juntamente com a inteligência artificial, deve rupted). Alguém está comendo o seu bolo
ocupar papel relevante nos próximos anos, prin- (aquele que você criou) e está fazendo você
cipalmente em setores como saúde e educação. pagar por ele”, brincou. n
Curva de inovação
tem ciclos de vida
cada vez mais curtos
Por André Luís Nery
É
consenso que a inovação é parte vital
para o futuro das empresas. Mas como
se adaptar a um mundo em que as ino-
vações surgem e desaparecem em um espaço
de tempo cada vez mais curto? Por isso, ser
digital é fundamental. Em sua palestra “Em-
presas do Século XX, Pessoas do Século XXI”,
durante o Ciab FEBRABAN 2017, o professor
Gil Giardelli, especialista em cultura digital e
um dos destaques do congresso de TI, alertou:
“Antes, a curva de inovação era algo que de-
morava 100 anos, depois 50 anos, depois 30
anos; agora é ‘barbatana de tubarão’ (conceito
usado para ilustar ciclos de vida curtíssimos
de produtos e serviços)”.
Como exemplo, Giardelli citou que, a
cada ideia que alguém tivesse naquele momen-
to, em média, outras 430 pessoas no mundo
teriam o mesmo objetivo. No entanto, segundo
o professor, apenas três colocariam “essa ideia
para funcionar”.
O conferencista também criticou o baixo Outro destaque do Ciab FEBRABAN Gil Giardelli,
nível de inovação da população. “O brasileiro 2017, o empreendedor e professor Tiago Mattos especialista em
cultura digital, fez
é muito criativo, mas pouco inovador. Ele tem destacou, durante a palestra “O futuro do tra- apresentação com
dezenas de ideias criativas, mas coloca pouco balho e as empresas do século 21”, que uma das o robô Nao no Ciab
dessas ideias para funcionar”, afirma. De acor- características dos inovadores é não ter medo de FEBRABAN 2017;
do com Giardelli, apenas 9% dos executivos arriscar, de errar e saber aprender. “É preciso se para o professor,
brasileiros têm um nível avançado de inovação, tornar um especialista em aprender”, afirma Mat- brasileiro é muito
criativo, mas pouco
contra 33% no mundo. tos, acrescentando que, no futuro, os profissio-
inovador
A falta de inovação pode levar ao desa- nais terão que trocar inúmeras vezes de carreira, o
parecimento da companhia, segundo o espe- que exigirá uma constante reinvenção. “Cada vez
cialista em cultura digital. Na palestra, ele mais as pessoas das novas gerações vão ter várias
lembrou a falência da Blockbuster, maior rede atividades ao longo da vida”, afirmou. “Talvez
de locadoras de filmes e videogames do mun- a gente ache isso estranho, mas existem vários
do, em 2011. “Em dois anos, a Blockbuster estudos que indicam que uma pessoa (que esteja)
saiu de valor de mercado de US$ 5 bilhões atualmente no ensino médio, terá, ao longo de
para a quebra total.” sua vida profissional, cinco carreiras diferentes.”
O empreendedor
e professor Tiago
Mattos afirma
que no futuro os
profissionais terão,
em média, cinco
carreiras diferentes:
Luiz Michelini/FEBRABAN
“É PRECISO SE
TORNAR UM
ESPECIALISTA EM
APRENDER”
Durante o painel, Mattos ressaltou ainda exemplo, quem trabalha sozinho, ou com um
que “quanto mais único é o jeito de pensar, grupo reduzido, pode estar limitando-se e pre-
mais escassa é a inovação e criatividade”. Um judicando a própria companhia. “Todo mundo
dos problemas, segundo ele, é que “a maioria quer inovação, mas a gente quer inovação na
das empresas está se digitalizando, e não está se outra rua, no outro departamento, na outra
transformando em uma empresa digital”. “Se a área”, enfatiza Giardelli, acrescentando que
gente se inspirar na economia clássica, seremos “nenhum de nós é tão inteligente quanto to-
uma empresa de 1780”, analisa. dos nós juntos”. “Quando você faz isso, muda
Para Mattos, as empresas precisam de um a hierarquia nas empresas”, destaca.
modelo verdadeiramente digital, pois é neste Segundo o especialista, há companhias
meio que terão que competir. “Provavelmente, com faturamento bilionário, como a empresa
a maioria dos profissionais não está observando dona da Cartier, que “estão acabando com
a verdadeira concorrência”, alerta. “A concorrên- o cargo de CEO (executivo-chefe), porque
cia do Santander não é o Itaú, a concorrência acreditam que este tipo de profissional trava
do Itaú não é o Banco do Brasil, a concorrência a inovação”. Para ser empreendedor e ino-
do Banco do Brasil não é o Santander: a con- vador, Mattos afirma que é preciso deixar
corrência desses bancos são coisas que ou não de lado o excesso de planejamento. “Quem
existem ou estão sendo lançadas agora”, afirma. planeja demais não faz nada, porque quem
Na avaliação dos dois especialistas, é ne- planeja, em vez de estar fazendo, está plane-
cessário romper a estrutura tradicional. Por jando”, concluiu. n
O Brasil sediou a plenária anual do Comitê Técnico ISO mentar o debate e a troca de experiências sobre a utilização
TC68, o fórum global de padronização para a indústria de de blockchain pela indústria de produtos e serviços financei-
produtos e serviços financeiros da ISO – International Or- ros, além de assuntos relacionados à modelagem, sintaxe,
ganization for Standardization. inovação, laboratórios e incubadoras. Por ser um grupo de
O evento foi realizado na cidade do Rio de Janeiro, en- aconselhamento técnico, o FinTechTAG não atuará direta-
tre os dias 15 e 19 de maio. Delegações provenientes de 49 mente no desenvolvimento de novos padrões internacionais.
países participaram das discussões e deliberações no âmbito Além das deliberações no escopo da revisão estratégi-
dos comitês e subcomitês de padronização, reunindo mais ca, os trabalhos de desenvolvimento, harmonização e revisão
de 90 participantes, dentre chefes de delegação, delegados- de padrões internacionais de identificação e classificação
-membros e membros observadores. de ativos financeiros estiveram no centro do debate durante
Diversos assuntos estiveram em pauta durante as reu- toda a semana de reuniões.
niões, com destaque para a revisão estratégica do Comitê Técni- Um dos assuntos discutidos foi a antecipação da re-
co ISO TC68, concluída com a aprovação de uma nova estrutura visão do código ISIN – Internacional Securities Identifica-
para o Comitê, a partir da criação de dois novos Subcomitês: tion Number – submetida por sua Autoridade de Registro,
• SC8 – Reference Data for Financial Services; e a Associação das Agências Numeradoras Nacionais (ANNA
• SC9 – Information Exchange for Financial Services. – Association of National Numbering Agencies). As conver-
Com a criação destes dois novos grupos, a atuação do sas também abordaram a elegibilidade do FIGI – Financial
Comitê Técnico ISO TC68 deixa de ser pautada pela segmen- Instrument Global Indentifier – como um padrão ISO para
tação entre mercados de pagamentos e de capitais, e passa a identificação de instrumentos financeiros, conforme pro-
a ser direcionada ao processo que desenvolve iniciativas de posta submetida pela OMG – Object Management Group.
padronização internacional para a indústria de produtos e Também foram discutidos os processos de revisão e
serviços financeiros. implementação das novas diretrizes regulatórias pela Co-
A reestruturação aprovada determinou ainda o encer- missão Europeia de Valores Mobiliários (ESMA – European
ramento dos trabalhos dos Subcomitês SC4 - Securities and Securities and Markets Authority), que devem entrar em
Related Financial Instruments; e SC7 – Core Banking, de vigor no início do próximo ano.
forma que todos os trabalhos em andamento foram formal- Dada a complexidade do debate, o recém-criado Subco-
mente transferidos para os novos grupos. mitê SC8 optou por aguardar pela implementação dos novos
Ainda como parte da revisão estratégica, foi aprovada requisitos regulatórios pela ESMA, em janeiro de 2018, antes
a criação de um novo grupo de aconselhamento técnico (Te- de considerar a revisão da norma ISO 6166 que trata do có-
chnical Advisory Group – TAG) para fintechs, com o objetivo digo ISIN – Internacional Securities Identification Number.
de promover o engajamento desta comunidade nos traba- A próxima plenária anual do Comitê Técnico ISO TC68
lhos desenvolvidos no âmbito do Comitê Técnico ISO TC68, deverá ocorrer em Zurique, na Suíça, em abril de 2018. n
e garantir a efetividade na utilização e desenvolvimento de
padrões internacionais que atendam e acomodem as neces- Liliane Dutra, economista, especialista em Padronização
sidades deste público. e Integração de Informações, coordenadora da Comissão
Está no escopo de trabalho do FinTechTAG promover Brasileira de Estudo Especial de Serviços Financeiros –
discussões e intercâmbio de informações relacionadas à ABNT/CEE-112 e consultora da CIP para Padronização
implementação de tecnologias emergentes, bem como fo- Internacional de Informações.
O
ser digital não tem gênero, cor ou volume impensável antes da ascensão da in- Luiz Carlos Trabuco
modelo de crédito. Remotamente, ternet. Até inteligência artificial é usada para Cappi, presidente
do Bradesco,
com um celular nas mãos, qualquer analisar comportamentos e definir próximos
visita estande do
indivíduo hoje está tecnicamente habilitado passos. “Nunca na história do capitalismo ti- Next, plataforma
a resolver a maior parte das questões de sua vemos tanto para focar no consumidor”, diz 100% digital da
vida financeira. Ir ao banco – ou ao caixa Rial, que já tem cerca de um terço dos 37 instituição lançada
eletrônico – é necessário apenas para quem milhões dos correntistas do Santander usando na véspera da
quer sacar. Isso se houver necessidade de di- ativamente os canais digitais para movimentar abertura do Ciab
FEBRABAN
nheiro em papel. “A revolução digital tem a a própria vida financeira.
ver com o novo momento da sociedade e não E o uso do celular, como já era de se
com tecnologia”, afirmou Sergio Rial, CEO imaginar, é uma realidade sem volta, na roti-
do Santander Brasil, um dos keynote speakers na de praticamente todos os bancos. Das 21,9
do Ciab FEBRABAN 2017. bilhões de operações realizadas no passado, o
Ele lembra que, diante do dinamismo des- mobile banking já responde por um terço des-
se movimento, até o Facebook pode se tornar te montante. Levantamento feito pela revis-
obsoleto. “O maior risco hoje não é de crédito, ta Ciab FEBRABAN revelou que já existem
é reputacional”, diz ele. “O caso da United Air- hoje no país quase 1 milhão de contas abertas
lines e do passageiro que foi retirado à força do de forma digital _ ou seja, sem a necessidade
avião expõem o novo momento da sociedade.” de ir a uma agência. Esse número deve chegar
Ou seja: o banco tem sistemas que asseguram se a 3,3 milhões até o final do ano. “Hoje, o
ele receberá ou não, mas um único caso isolado brasileiro pode realizar transações bancárias
é suficiente para acabar com sua reputação. de qualquer lugar, a qualquer hora”, afirmou
Hoje, na média, banco e cliente intera- Murilo Portugal, presidente da FEBRABAN,
gem por volta de sete a dez vezes por dia, um no Ciab 2017.
Luiz Michelini/FEBRABAN
Não por acaso, desde o final do abril, o plica que é preciso digitar a senha, para abrir
banco oferece acesso gratuito ao seu app, sem o aplicativo, e, em caso de perda, roubo ou
consumir o pacote de dados do cliente. Quem furto do celular, o acesso é bloqueado após
banca o custo do uso com a operadora tele- três tentativas mal sucedidas. “O segredo da
fônica é o Santander e esse processo ocorre segurança é a continuidade do investimento,
de forma automática. Basta abrir o aplicativo. mesmo em tempos de crise”, diz.
Na rua, na agência ou no metrô, o correntista O Banco do Brasil também aposta há
pode recorrer ao banco pela tela do celular, sem tempos nos canais digitais. Hoje, soma uma
gastar nada a mais por isso. grande variedade de aplicativos e até mesmo
Hoje, dentre os canais digitais ofereci- uma pulseira (wearable) para pagamentos nas
dos aos clientes do Santander estão o internet funções débito e crédito, com a tecnologia
banking, app Santander, app Santander Way, Near Field Communication (NFC).
app SuperDigital, entre outros. Foram criadas Para estimular os clientes a integrar o ban-
novas ferramentas para aumentar o conforto co digital à realidade, o BB optou por levar
dos clientes no uso dos serviços da institui- internet sem fio às agências. O objetivo é fazer
ção. Além disso, o banco tem trabalhado com com que os correntistas, ao entrar na agência
algumas tendências atuais, como os wearables em busca de ajuda, possam, caso desejem, sim-
(tecnologia vestível). plesmente sentar, abrir o aplicativo no celular
“O banco tem uma área de inovação na ou no tablet e resolver suas demandas pela tela.
diretoria de CRM & Plataforma Multicanal Se alguma tarefa não for possível pelo celular,
que busca trazer novidades de fora para den- o cliente já estará na agência onde pode pedir
tro, embora a inovação esteja espalhada por ajuda aos funcionários.
toda organização”, conta Schymura. “O banco O BB já tem 850 das 4.800 agências com
embarcou totalmente nesta jornada de trans- internet sem fio. Serão 1.000 até setembro.
formar as relações dos clientes e já tem uma “Tudo o que realizamos é fruto de muita pes-
oferta completa nos canais digitais.” quisa em tecnologia, que é feita a fundo perdi-
O Santander reestruturou o modelo or- do; você perde para ganhar”, afirma Antonio
ganizacional, o que permitiu velocidade na Gustavo Matos do Vale, CIO do Banco do
conclusão dos projetos e na solução de pro- Brasil. “Temos um laboratório em Palo Alto,
blemas e demandas. Para isso, foi criado na na Califórnia, dentro de uma incubadora com
sede Santander o Espaço Geração Digital, 100 startups; isso nos traz um filtro importante
com mesas de trabalho multidisciplinares das tendências.”
e colaborativas, que garantem maior flexi- Até os caixas eletrônicos dos bancos,
bilidade e agilidade. “Hoje temos mais de acredita-se, devem evoluir para atender a nova
mil pessoas trabalhando desta forma; além sociedade digital. A expectativa dos bancos é
disso, trabalhamos com profissionais de que, em um futuro não muito distante, seja
formações diversas, como antropólogos e possível realizar videoconferências na agên-
designers.” cia com um consultor de investimentos que
A segurança, embora seja um desafio estará localizado na central. O canal físico,
constante do setor financeiro, é resolvida com conforme debatido durante a Ciab 2017, con-
muita tecnologia e processos. Schymura ex- tinuará relevante.
Trio de tecnologias
mudará a indústria
Por Adriana Mompean
N
unca tivemos, como hoje, três novos modelos de negócios para bancos a
movimentos tecnológicos simul- partir de internet das coisas.”
tâneos capazes de romper com Na entrevista concedida à revista Ciab
práticas tradicionais, com inovações como FEBRABAN, Minas também falou das ex-
blockchain, inteligência artificial e internet pectativas com o Next, plataforma digital do
das coisas. Esse trio de tecnologias mudará o Bradesco lançada no início de junho, analisou
comportamento das pessoas e transformará o fenômeno das fintechs, e fez um balanço do
indústrias e serviços, disse Maurício Macha- Ciab FEBRABAN 2017. “O 27º Ciab real-
do de Minas, vice-presidente do Bradesco mente encarnou a temática principal, que é
e também presidente do Conselho Ciab ‘ser digital’”, afirmou. “Eu vejo as empresas,
FEBRABAN, em entrevista para a revista os bancos falando do cliente, falando para o
durante o congresso. cliente; esta é uma grande mudança.”
“Nós não podemos apostar em uma só
tendência; precisamos enxergar que isto está O Bradesco lançou no início de junho o
se movendo em paralelo e prever, na medida banco digital Next. Qual é a expectativa
do possível, qual será o comportamento das da instituição para a abertura de contas
pessoas em relação a estas novidades”, afirmou. neste ano?
A partir dessa análise, o desafio será criar inter- Maurício Minas – O modelo de negócios
faces “que sejam boas o suficiente para refletir do Next é de uma plataforma nativa digital.
esta revolução”, avaliou o executivo. Nossa visão é que não faz muito sentido ter
Maurício Minas lembrou que os ban- um business case numa plataforma digital. Se
cos já usam computação cognitiva e que as você olhar os exemplos históricos dos grandes
sucessos, o business case estava absolutamente O Next é voltado para um público de al-
subdimensionado e os grandes fracassos esta- guma faixa etária específica? Não há con-
vam absurdamente superdimensionados. En- corrência para este produto no mercado?
tão, preferimos não fazer um business case e sim Maurício Minas – A faixa etária é decorrência
apostar numa visão. E a nossa visão é endereçar da proposta de valor. Nós estamos direcionan-
o Next a um público hiperconectado, onde os do o Next a um público que se comporta como
bancos estão subpenetrados, o Bradesco en- hiperconectado; em geral são jovens, mas não
tre eles. É um público que não se contenta e necessariamente só jovens. Então, se você ti-
não é atraído pela proposta de valor atual dos ver um millenial (geração nascida a partir do
bancos. É nisso que acreditamos, e achamos início dos anos 80) estendido, como a gente
que, com isso, teremos a capacidade de atrair brinca, que se comporte digitalmente, ele é um
muitos clientes e, principalmente, reter estes público-alvo também. Em relação aos outros
clientes ao longo do tempo. Não temos uma bancos: o Bradesco continua com a estratégia
estimativa em números. tradicional de acelerar os canais digitais, com
um banco dos brasileiros, e precisamos en- sistêmica. E isso quem sabe fazer são os bancos.
tender que as ofertas precisam atender a este O investimento e a maturidade em regulação
conjunto de Brasil. são muito altos. Então, portfolio abrangente,
regulação, concessão de crédito - que é uma
Então sempre teremos público para as ciência - não são commodities. Você precisa
agências? entender como o mercado funciona, como o
Maurício Minas – Não diria sempre, mas du- brasileiro se comporta. Isso é uma fortaleza
rante um bom tempo teremos público para as dos bancos incumbentes, além do aspecto do
agências. E outra consideração: um terço de custo de funding, caso a atividade seja atrelada
nossa população ainda não é bancarizada (no a crédito. Estas fortalezas são importantes para
sentido de ter conta em bancos). O sistema quem está entrando. E as fintechs trazem, para
financeiro desenvolveu canais indiretos, que os bancos, a inovação. Elas trazem aos clientes
são os correspondentes bancários, exatamente uma experiência que eles não tinham tradicio-
para atender a este público. Parte da presta- nalmente conosco.
ção de serviços está sendo feita pelos canais
indiretos, mas uma parte importante ainda é Oscar Salazar, cofundador do Uber, disse
feita nas agências. Essa é a característica do em palestra no Ciab FEBRABAN que ainda
Brasil. Somos um país emergente, em desen- não viu nenhuma fintech com um produto
volvimento, e a população se comporta como extremamente disruptivo, que possa vir a
a de um país emergente. ameaçar os bancos. Em sua opinião, as fin-
techs podem ameaçar os bancos?
Como o senhor analisa o fenômeno das Maurício Minas – Eu não vejo assim, não
fintechs? São parceiras, competem com são só as fintechs. Nós estamos num processo
os bancos ou ambas as coisas? de desintermediação financeira. Isso teorica-
Maurício Minas – Há algum tempo atrás, os mente pode ser feito por uma fintech, mas
dois lados se enxergavam como ameaça. Nos elas têm todas as limitações que eu já citei,
últimos dois anos, esta relação é muito mais e a minha visão é que elas vão ter parcerias
de oportunidades. Nós, como bancos, temos com os bancos. E existem outros agentes e
condição de dar às fintechs aquilo de que elas plataformas em outras verticais da economia,
precisam para ter sustentabilidade, entre outras que não são financeiras, que começam a ter
coisas. Acredito que a abrangência de port- uma certa interseção com bancos. Eu vejo esse
fólios de produtos é muito importante para potencial de desintermediação já acontecendo.
quem está aderindo a uma plataforma digital. E existem tecnologias que viabilizam isso e
Não vejo os clientes com meia dúzia de ícones aceleram; por exemplo: o blockchain. Então,
para funções financeiras. Eu vejo sim um hub, cabe aos bancos enxergar qual é o seu papel em
como é o caso do Next, onde, a partir daí, o um novo modelo macroeconômico, onde não
usuário faz tudo. Existe também a questão da há mais uma distinção clara entre indústrias.
regulação. No sistema financeiro, nós mexemos O que importa, de fato, é ter uma proposta
no principal patrimônio das pessoas, que é o boa o suficiente para atrair clientes, e que ela
dinheiro. E isto tem que ser regulado, inclusive seja boa para encantar, para que, ao longo do
em outros aspectos, para garantir a integridade tempo, você retenha esses mesmos clientes. O
Em sintonia com
o Vale do Silício
Por Guilherme Meirelles
A
o sul da cidade de São Francisco, na logia digital que ocupam os três mil quilômetros Marco Mastroeni
Califórnia (EUA), a região do Vale do quadrados das cidades que compõem o Vale do diz que equipes
que ficam no
Silício provoca nos empreendedores Silício. No caso do Banco do Brasil, apesar das
Laboratório
digitais fascínio semelhante ao experimentado restrições regulatórias de um banco público, Avançado Banco
por um cinéfilo que põe os pés pela primeira como em caso de contratações diretas, a institui- do Brasil (LABB)
vez em Hollywood. No Ciab FEBRABAN ção abriu uma base em pleno vale californiano – o no Vale do Silício
2017, para medir o interesse das cerca de 300 Laboratório Avançado Banco do Brasil (LABB). retornam com
pessoas presentes no painel “Estratégias de O LABB fica dentro da aceleradora Plug a missão de
transformar os
Inovação no Vale do Silício”, o diretor-execu- and Play. Conta com um executivo expatriado
conhecimentos em
tivo do banco Votorantim, Gabriel Ferreira, e equipes volantes de cinco pessoas, que lá per- negócios
perguntou quantos já haviam visitado o mais manecem por três meses desenvolvendo proje-
famoso polo de inovação do planeta. Com bri- tos a serem aplicados no Brasil. “Nos EUA, eles
lho nos olhos, cerca de 30% da plateia ergueu se tornam empreendedores, não podem usar
as mãos. “Os jovens não sonham mais com tecnologia ou sistemas do banco, apenas as fer-
trabalhar em consultorias, mas em tecnologia ramentas do Vale do Silício”, informa o diretor
e inovação”, constatou Ferreira. de Negócios Digitais do Banco do Brasil, Mar-
Atentos às transformações causadas pelos co Mastroeni. As equipes recebem mentoria,
sistemas e processos de inovação, os principais trocam ideias com startups, assistem palestras
bancos no Brasil têm buscado imitar, aqui, o no Google, Netflix e na Apple. “Retornam com
ambiente propício a geração de conhecimento a missão de transformar os conhecimentos em
encontrado nas mais de 300 empresas de tecno- negócios”, explica Mastroeni.
Luiz Michelini/FEBRABAN
Antranik tups, que passaram por um processo interno 2 mil m² de área, onde haverá a integração
Haroutiounian, do de “customização” (adaptação aos sistemas da de das áreas de TI, de negócios e grandes
Bradesco, diz que instituição), processo no qual o banco investe fornecedores. “Vamos construir também o
startups aprovadas até R$ 140 mil por empresa. “As aprovadas espaço inovaBra Habitat, para as startups”,
para o programa
são contratadas como prestadoras de serviço e, revela Haroutiounian, sem fornecer detalhes
inovaBra são
contratadas como em alguns casos, o banco faz aporte de capital ou valores de investimento.
prestadoras de pelo fundo inovaBra Ventures”, diz o diretor Em parceria com a organização sem fins
serviço e, em alguns de Pesquisa e Inovação do Bradesco, Antranik lucrativos Artemísia, a Caixa Econômica Fede-
casos, recebem Haroutiounian. ral selecionou cinco startups por meio do pro-
aporte de capital No segundo semestre, o Bradesco irá grama Desafio de Negócios de Impacto Social
ampliar a plataforma inovaBra. Será lança- – Educação Financeira e Serviços Financeiros
do o portal inovaBra Hub, onde empresas Para Todos. As startups eleitas irão receber até
inovadoras estarão interagindo com startups R$ 200 mil cada para desenvolver projetos-
e investidores, para agregar valor e gerar ne- -piloto, com duração de seis meses, com foco
gócios. O banco deverá abrir, em Alphaville nos beneficiários dos programas sociais Minha
(Barueri), o espaço físico inovaBra Lab, com Casa, Minha Vida e Bolsa Família. n
”A
nuvem é irresistível; é mais simples puting. Apesar disso, as promessas mais ousadas Ítalo Freitas, do
e barata. Nos próximos cinco ou dez de economia de recursos e migração de softwa- Banco do Brasil,
anos, as empresas que não a adotarem res antigos para plataformas em nuvem seguem afirma que a nuvem
permite inovar
cairão na obsolescência.” O prognóstico foi fei- como apenas, bem, apenas promessas.
mais rapidamente,
to pelo celebrado escritor americano Nicholas De acordo com Ítalo Marcus Freitas, mas ressalta que
Carr, em 2008, durante o lançamento de seu gerente executivo de TI do Banco do Brasil, solução nem
livro “The Big Switch”, em que projetava um há muitos custos escondidos em projetos de sempre é a mais
avanço inexorável da computação em nuvem, nuvem, além de restrições legais para a ado- barata
definida por Carr como “a nova eletricidade, que ção dessa alternativa. “Há algumas aplicações
vai dinamizar todos os setores da economia”. financeiras que, por questões de contrato e
Uma década após a previsão do pesquisa- privacidade dos correntistas, não podem ser
dor americano, não é possível afirmar que ele hospedadas em servidores fora do Brasil, o que
tenha errado. Tampouco dizer que acertou. Um impede o uso de nuvem pública internacional”
estudo da consultoria Ovum, feita a pedido da afirmou Freitas, durante o Ciab FEBRABAN
SAP em 2016, indica que 42% dos bancos no 2017. “Há também contas complexas na hora
mundo usam soluções baseadas em nuvem. No de calcular as economias geradas pela solução
Brasil, não há um grande banco que não tenha e os gastos feitos com a adaptação de softwares
projetos importantes sustentados por cloud com- antigos para rodar em nuvem.”
Luiz Michelin/FEBRABAN
pública, mesmo que esta tenha os critérios instituições de credibilidade, como o Ban- Boris Kuszka, da
mais sólidos de criptografia”, diz Kuszka. Ve- co Central, devem estruturar seus próprios Red Hat, diz que
rificamos com muita força, porém, no uso de centros de processamento, a serem ofereci- empresas de TI têm
se esforçado para
soluções híbridas pelos bancos.” dos para bancos públicos e privados como
achar soluções
Nesse cenário, softwares antigos (le- “transbordo”. A ideia é simples: se a nuvem que permitam aos
gados) dos bancos passam a ser migrados privada do banco A tiver um pico de acessos, bancos desfrutar
gradualmente para uma nuvem privada, ou pode-se usar, temporariamente, a capacidade dos benefícios da
seja, cria-se uma arquitetura de nuvem, po- computacional de uma instituição terceira, nuvem ao mesmo
tempo em que se
rém sob total controle da instituição finan- no modelo nuvem pública.
protegem dos riscos
ceira, com servidores físicos instalados em Ainda que as promessas desenhadas há da migração
sua sede. Este modelo, de nuvem privada, uma década não tenham se realizado comple-
é usado também para armazenar informa- tamente, é consenso entre os executivos dos
ções críticas, como dados dos correntistas, bancos que a nuvem continua irresistível, como
históricos de transações e contratos digitais. previu Nicholas Carr. Se não avançam em velo-
Aplicações não essenciais, como a automa- cidade de cruzeiro, como imaginado, todos os
ção de redes e atividades operacionais da TI fatores apontam para uma brisa leve e constan-
de um banco podem ficar hospedadas em te, espraiando a computação em nuvem para
nuvem pública. Em meio a este processo, cada ponto da TI bancária. n
Bancos aproveitam
inteligência artificial
para entender
melhor clientes
Por André Luís Nery
Luiz Michelini/FEBRABAN
D
úvidas de clientes, solicitação de
serviços e variados negócios financei-
ros são, cada vez mais, tratados pelos
bancos brasileiros com tecnologias baseadas
em inteligência artificial, como machine le-
arning (aprendizado de máquina) e compu-
tação cognitiva, para impulsionar negócios.
A análise de dados possibilita atendimento
personalizado por parte das instituições fi-
nanceiras, sofisticando a relação entre bancos
e clientes. O avanço nessa área foi assunto de
debate entre executivos dos grandes bancos
do país e especialistas em tecnologia no Ciab
FEBRABAN 2017.
“A PARTIR DE
Entre as tecnologias mais populares ci- intenção é que a pessoa receba o atendimento
ADVANCED
ANALYTICS, tadas durante o congresso estão os chatbots na linguagem dela, no tempo dela, sem se pre-
ENTENDEMOS (ferramenta que simula um ser humano em ocupar com terminologia bancária.” Segundo
O QUE O CLIENTE conversa com o usuário). Esse tipo de solução Rosa, o cliente está cada vez mais conectado,
PRECISA NAQUELA é usada, por exemplo, pelo Banco do Brasil. independente da classe social. “As pessoas não
HORA E “Nós estamos usando assistentes, os chatbots, têm resistência de utilizar um dispositivo móvel
APRESENTAMOS
para fazer um atendimento mais humanizado”, para conversar com o banco”, diz.
A MELHOR OFERTA
PARA ELE” destacou Felipe de Melo Rosa, gerente de Di- Outro exemplo do uso dessas tecnologias
Jeovânio visão do Banco do Brasil. “É meio paradoxal foi citado pelo gerente de Departamento de
Bitencourte, do BB falar que um robô é mais humanizado, mas a Pesquisa e Inovação do Bradesco, Marcelo Ri-
Luiz Michelini/FEBRABAN
beiro Câmara. Ele destacou a adoção, há mais podem ajudar a melhorar o relacionamento
de um ano, da plataforma de inteligência ar- com os clientes. “A gente pode identificar o
tificial chamada BIA (Bradesco Inteligência que ele quer, o que ele gosta, como prefe-
Artificial), utilizada para tirar dúvidas dos re interagir e oferecer uma experiência mais
funcionários. “Hoje são respondidas mais de personalizada”, afirmou. “Com inteligência
94% de todas as perguntas feitas por nossos artificial e algorítimos, a gente consegue en-
funcionários de agências; são mais de 65 mil tender o perfil de cada cliente.”
usuários diretos”, diz Câmara.
Na avaliação do executivo, as inovações Personalização
na área de inteligência artificial e de dados Segundo o superintendente executivo de
E-commerce do Santander, Max Gutier-
rez, o machine learning faz toda a diferença
quando a inteligência é usada “para enten-
der o indivíduo, entender o consumidor e
construir um banco individual”. Gutierrez
ressalta que as instituições precisam repensar
sua estrutura, que exigia do cliente procu-
rar contato com os bancos por meio das
agências físicas, por telefone ou em caixas
eletrônicos. “Precisamos desconstruir nosso
modelo atual para conseguir evoluir, para
estar onde o cliente precisa.”
O gerente executivo do Banco do Brasil,
Jeovânio João Bitencourte, concorda com a
ideia de fazer com que os bancos usem “inte-
ligência artificial para entender o momento de
vida do cliente”. “A partir do que chamamos
de advanced analytics (análises avançadas), a
gente entende o que o cliente precisa naquela
hora e apresenta a melhor oferta para ele”, dis-
se. “É uma individualização da necessidade do
cliente; é a capacidade que eu tenho de agregar
Plataforma de inteligência
Luiz Michelini/FEBRABAN
artificial é utilizada
para tirar dúvidas dos
funcionários do Bradesco,
afirma Marcelo Câmara
“O MACHINE
LEARNING
FAZ TODA
A DIFERENÇA
QUANDO A
INTELIGÊNCIA
É USADA PARA
FotoAndres/FEBRABAN
ENTENDER
O INDIVÍDUO”
Max Gutierrez,
do Santander
Estevão Carcioffi
Lazanha, do Itaú:
Luiz Michelini/FEBRABAN
tecnologias
permitem
oferecer soluções
individualizadas
valor para a vida dele e dizer assim: ‘eu consigo do executivo, o mais importante é a capacidade Sérgio Medeiros,
te ajudar nesta hora e neste momento com da companhia em “converter essa informação da Caixa, ressalta
determinada coisa’”, analisa. em algo que faça sentido para o cliente”. a importância
da integração
O diretor de Engenharia de Dados do Para o gerente da área de Desenvolvimen- dos dados:
Itaú Unibanco, Estevão Carcioffi Lazanha, to de TI da Caixa, Sérgio Medeiros, a institui- “OS BANCOS
também acredita que essas tecnologias per- ção financeira tem que começar a “integrar os ACORDARAM
mitem aos bancos entender melhor o consu- dados”. “O banco tem um dado importante PARA O MACHINE
midor e, assim, fornecer soluções individua- que é o geográfico, por onde a pessoa anda, LEARNING”
lizadas. “O primeiro grande movimento é na tem o do cartão de crédito e tem o do extra-
forma de uma compreensão maior do cliente, to bancário. São dados financeiros”, afirma.
entendendo que existe produtos específicos Entretanto, afirma que existem alguns dados
para cada um e para cada um dos momentos difíceis de capturar. “Por exemplo, o cliente
de sua vida”, disse. “Essa compreensão possi- olhou uma televisão. Como você sabe que ele
bilita a criação de soluções individualizadas, quer comprar uma TV?”, questiona o executivo
e não massificadas.” da Caixa. É aí que entra a importância das no-
Lazanha enfatiza ainda que o desafio é vas tecnologias, diz ele. “Os bancos acordaram
“abandonar uma visão de segmentos, grupos, para o machine learning”, garante. “A gente vai
perfis semelhantes, e entender que cada cliente ter grandes surpresas, a própria Caixa Econô-
é um indivíduo com aspirações, medos, incer- mica estará colocando coisas no mercado, nos
tezas e sonhos a realizar. Tudo isso pode ser próximos meses; os softwares vão começar a
visto a partir da análise de dados, mas, na visão ter inteligência reflexiva.”
Painel debate
agência do futuro
Brasil ressalta que a tecnologia continuará evo- talmente o atendimento físico. “As pessoas Para Sergio Biagini,
luindo e desenvolvendo soluções cada vez mais procuram os bancos não só para fazer ope- da Deloitte, bancos
acessíveis, o que não significa a extinção das rações, mas por que tem um valor agregado terão que repensar
rede de agências
agências físicas. naquilo”, afirmou. “Elas veem a marca, se e defini-las de
Para Sérgio Medeiros, da Caixa, as agências identificam com os valores e a missão daquela forma estratégica,
físicas terão que se adaptar às mudanças cada vez instituição”, destaca. conectando
mais frequentes. “Pode ser que a agência crie Para Sergio Biagini, especialista em o mundo físico
uma nova forma de interagir com o público”, Serviços Financeiros da Deloitte, os bancos e o digital
disse. “Não vai ser mais esse modelo de agência terão que repensar sua rede. “E repensar
que a gente conhece; cada agência terá que ana- a rede não é fechar agências, é justamente
lisar o público que a visita e se adaptar.” defini-las de uma forma estratégica, conec-
Jeovânio Bitencourte, do BB, acredita tando o mundo físico e o digital.” (André
que é praticamente impossível substituir to- Luís Nery). n
O futuro já chegou
Por Martha Funke
L
ançamentos baseados em biometria, para o setor financeiro, a Mastercard mostrou
dispositivos vestíveis e internet das coi- solução de pagamento de pedágio com uso de
sas começam a concretizar tendências, vi- cartões, celulares e dispositivos vestíveis, como
rar negócio e a reconfigurar o setor de meios de pulseiras. O produto nasce em parceria com a
pagamento. Mas nem só das novas tecnologias EcoRodovias, administradora do sistema Imi-
vive a inovação no setor. Além da consolida- grantes, da rodovia Ayrton Senna e da ponte
ção de produtos como carteiras digitais, sur- Rio-Niterói, e dona da Sem Parar. O primeiro
gem modelos de negócios diferenciados com emissor é o Santander e, de início, o produto
a evolução dos marcos legais e inspiração das atende motociclistas. Os primeiros testes co-
fintechs, como a plataforma Digio, do banco meçarão em breve, ainda sem data definida.
CBSS, na esteira do Nubank. O Banco do Brasil também apresentou
Novidades que já estão no mercado e ten- pulseira de pagamentos que funciona como
dências de novas soluções e produtos foram espelho do cartão principal, custa R$ 70, sem
apresentadas ao público no Ciab FEBRABAN anuidade, e tem funções débito e crédito. “Em
2017. Durante os três dias do congresso de TI três dias depois do lançamento, em 1º de ju-
O Brasil e a biometria
Luiz Michelini/FEBRABAN
Mastercard
mostrou
solução de
pagamento de
pedágio com
Luiz Michelini/FEBRABAN
uso de cartões,
celulares e
dispositivos
vestíveis
Para João Pedro Paro Neto, presidente da sustenta a moeda digital bitcoin, está sendo
Mastercard Brasil e Cone Sul, em um cená- testada, em parceria com a startup Chain, na
rio tão diversificado, o caminho é entender o plataforma B2BConnect, para validar paga-
que o consumidor quer usar, e quando. “Ele mentos entre empresas, segundo informou o
[o consumidor] vai determinar o futuro dos country manager Fernando Teles.
pagamentos”, disse. Para conhecer melhor os O pagamento em bitcoins também co-
desejos dos clientes, a Elo, segundo descre- meça a chegar ao mundo físico. A Muxi apre-
veu o diretor de Marketing da empresa, Luis sentou uma plataforma com terminais (POS)
Cassio Oliveira, iniciou estudos etnográficos que aceita a moeda e pagamentos sem conta-
(levantamento da cultura e o comportamento to. O pagamento entre coisas, outro destaque
de determinados grupos sociais), com entre- do Ciab 2017, foi além dos dispositivos vestí-
vistas em todo o país, para detalhar a rotina veis. A Cielo demonstrou o uso da plataforma
dos consumidores. de captura de pagamentos Lio com leitura de
Já a Visa aposta na inovação aberta, in- QRCode, um código de barras bidimensional.
clusive com participação de startups, para tro- A Visa, por sua vez, levou um protótipo de
car a identidade de fornecedora de meios de carro conectado, habilitado a identificar o
pagamento pela de fornecedora de platafor- esvaziamento do tanque, apontar postos de
mas (middleware) sobre as quais são construí- gasolina próximos e fazer o pagamento do
das soluções. Até a tecnologia blockchain, que combustível.
Luiz Michelini/FEBRABAN
“A Oki Brasil está pronta para apoiar o em operação no Brasil no ano passado, menos
processo de transformação digital dos ban- de 1% eram recicladores.
cos”, diz o presidente e CEO Wilton Ruas. O apoio ao emprego da biometria foi o
Os equipamentos recicladores podem trabalhar foco de diversos expositores do Ciab. A HID
com diversas moedas ao mesmo tempo e fazer Global, que, no Brasil, apoia cerca de 4 bilhões
câmbio de dólares por euros ou reais, incluindo de operações bancárias ao ano em ATMs espa-
moedas digitais como o bitcoin. Isso graças ao lhadas pelo país, mostrou sensores com tecno-
Terminal de
captura de leitor ótico bidimensional que, além de ler os logia multiespectral e capacidade de detecção
pagamento (POS) códigos de barras das contas, reconhece QR de “dedo vivo” (que impede fraudes com cópias
multifuncional Codes impressos ou em telas de celulares, como de silicone ou outro material) e identificação
Veloh, da Perto, os usados no câmbio de moedas digitais. de usuários mesmo com dedos sujos, engordu-
está acessível Os ATMs também aceitam depósitos em rados, molhados, desgastados ou machucados.
para deficientes
maços de notas, sem envelopes e com crédito A Formalizar e-Signature lançou produtos
visuais, com
teclado em braile em tempo real na conta do correntista. A em- como Assinatura de Analfabeto e Assinatura no
e sistema de voz presa estima que, dos 185 mil caixas eletrônicos Smartphone com base em sua tecnologia de as-
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Diebold Nixdorf
mostrou terminal com
tecnologia multitouch,
autenticação NFC
e recibo eletrônico
Integração de canais
Já a NCR investe no conceito de integração de
canais (omnichannel) e lançou a série de ATMs
SelfServ 80. Multifuncionais e recicladores, os
dispositivos permitem função multitouch e fun-
cionalidades como assinatura direto na tela,
tela de 15 ou 19 polegadas, ofertas promocio-
nais personalizadas, tecnologia sem contato,
áudio incrementado para deficientes visuais e
funções como Picture in Picture (tela dentro da
tela) com capacidade de mostrar o ambiente ao
redor para maior segurança do usuário.
A Perto exibiu o terminal de captura de pa-
gamento (POS) multifuncional Veloh, acessível
para deficientes visuais, com teclado em braile
e sistema de voz. A tecnologia pode ser empre-
gada por correspondentes bancários e, agregada
a câmeras, permite abrir conta, com geração de
imagens de comprovantes de documentos. Tam-
bém dispõe de teclado virtual, leitor de código de
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