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REVISTA Jul/Ago 2017 • Nº 70

O VOO DAS
FINTECHS
Número de startups de tecnologia
do setor financeiro no Brasil cresceu
357% em menos de dois anos; bancos
fortalecem parcerias e turbinam
investimentos com empresas

CONGRESSO DE TI
27O CIAB FEBRABAN
DEBATE TRANSFORMAÇÃO
DIGITAL E BATE
RECORDE DE PÚBLICO
sumário

48 CONSELHO CIAB FEBRABAN 2017

Entrevista com Maurício Minas-Bradesco (presidente), Gustavo


Maurício Minas Fosse – Banco do Brasil (diretor setorial de
Tecnologia e Automação Bancária da FEBRABAN),
Trio de tecnologias Gustavo Roxo – BTG Pactual, Jorge Ramalho –
Itaú-Unibanco, José Paiva – Santander, Naran Peçanha
mudará a indústria Araújo – Caixa

54 COMISSÃO DE CONTEÚDO:

7
Keiji Sakai - BM&FBOVESPA, Adauto Del Favero –
Inovação Bradesco, Thatiane Gomes da Fonseca – Bradesco,
Antonio Lombardi Neto - Rede, Carlos Augusto de
Fórum de tecnologia Bancos em sintonia com Oliveira – Original, Cláudia Haddad – Itaú Unibanco,
27º Ciab FEBRABAN recebe o Vale do Silício Cristiane Mara Nunes – Citi, Ricardo Nery – Citi, Eliane
Grotti Borges – Caixa, Fernando Pellisario de Godoy
21 mil pessoas – Caixa, Gustavo de Souza Fosse – Banco do Brasil,
Hilda Raquel Guiaro Sicuto – Santander, Mateus

18 Aoki – Santander, Jairo Avritchir- UBS, Ana Lucia


Coutinho – UBS, Jorge Krug – Banrisul, Lusmary Ribero
– BTG Pactual, Mario Lopes - Societe Generale, Paulo
Capa Cherberle- Bradesco, Ronei Maranssati – Banco do
A revolução das fintechs Brasil, Wallace Jagiello - Banco Votorantim

32
DIRETORIA DE EVENTOS FEBRABAN:
Nair Macedo (diretora), Marcelo Assumpção,
Élita Cristina Borges Simionato, Anna Carolina
Criador do Uber A. Tapias, Mayra Bazzo Tome, Fernanda Paradizo

60
Para Oscar Salazar, falta Castillo, Ludmila Prado, Leticia Rodrigues, Marília de
Meo Borges, Keti Granzotto Casarri
inovação às fintechs
Cloud REVISTA DO CIAB FEBRABAN
Uso de computação em
DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO:
nuvem avança nos bancos Sergio Leo (diretor), Adriana Mompean, Cleide
Sanchez Rodriguez, Evelin Ribeiro, Anna Carolina

66 Gabiatti, Jessica Magalhães Graça

MARKETING:
Atendimento Roseli Rapouso
Inteligência artificial ajuda
PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO:
a entender clientes Ideia Visual

36 74 Esta é uma publicação da Federação Brasileira de


Bancos – FEBRABAN, Av. Brigadeiro Faria Lima, 1485 –
Debate no Ciab Meios de pagamento 15º andar – Torre Norte – 01452-921 – São Paulo – SP

Inovação tem ciclos de vida Carteiras digitais e dispositivos Copyright 2017 - julho/agosto. Todos os direitos
reservados.
cada vez mais curtos vestíveis se consolidam
Ilustração da capa: Filipe Rocha

40 78 Imagens das páginas 18, 36, 39, 40, 46, 54, 60, 64 e 74: Shutterstock

Revolução digital Caixas eletrônicos


Banco e cliente interagem ATMs inteligentes integram
até dez vezes por dia mundo físico e digital

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editorial

Gustavo Fosse
Diretor Setorial de Tecnologia e
Automação Bancária da FEBRABAN

Ciab FEBRABAN 2017:


uma edição histórica

M
aior congresso de tecnologia da informação Entre os grandes destaques do congresso neste ano,
para o setor financeiro da América Latina, o Ciab tivemos a realização do 1º Hackaton FEBRABAN, além da
FEBRABAN 2017 bateu os recordes de partici- continuidade do Fintech Day, que mostram que os bancos
pantes, palestrantes e patrocinadores da história do evento. continuam investindo muito em tecnologia, estão antenados
Mais de 21 mil pessoas circularam pela exposição, realizada e acompanham o movimento das startups de TI com um
entre os dias 6 e 8 de junho, crescimento de 18% em relação olhar de parceria. Durante o congresso, pudemos presenciar
ao ano passado. Em uma área de mais de 30 mil m² no diversas iniciativas e soluções disruptivas que visam facilitar
Transamerica Expo Center, estiveram 3,74 mil congressistas, ainda mais a vida do cliente bancário.
entre os quais aproximadamente 120 eram estrangeiros de Com estruturas enxutas e forte apoio de novas tecno-
38 diferentes países. logias, as fintechs estão no centro das atenções do mercado
O Ciab FEBRABAN deste ano ainda teve apoio de 43 financeiro por oferecerem produtos e serviços personalizados
patrocinadores, mais que os 40 da edição de 2016. O con- com custos reduzidos. Um relacionamento mútuo entre bancos
teúdo, diversificado, foi apresentado em um número maior e fintechs é extremamente benéfico para o consumidor: en-
de painéis, que passaram de 60 para 73 neste ano. Além disso, quanto as fintechs se beneficiam da base de clientes dos bancos,
280 palestrantes debateram as principais soluções e inovações as instituições financeiras testam e afinam novas tecnologias.
de tecnologia para o setor bancário, 40% a mais que na edição Nossa reportagem de capa explorará o tema e irá revelar
de 2016. Estiveram presentes nomes de peso do segmento, como está atualmente o ecossistema das fintechs no Brasil,
como os presidentes do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli; e que em menos de dois anos cresceram 357% em número,
do Santander, Sergio Rial; e especialistas renomados, como no país. Além de fortalecer parcerias, os bancos também
Oscar Salazar, cofundador do Uber, e o youtuber Zach King. criam fundos de investimentos dirigidos a estas startups,
O fórum de tecnologia promoveu, mais uma vez, de- para identificar oportunidades e garantir que os clientes das
bates relevantes sobre como as inovações tecnológicas têm instituições financeiras se beneficiem dos melhores projetos
transformado os negócios bancários e como poderão facilitar desenvolvidos por elas.
o desenvolvimento de produtos e soluções para novas melho- A edição 70 da revista Ciab FEBRABAN também mos-
rias na experiência dos clientes bancários. Novas formas de trará a cobertura completa do congresso de TI com o debate
atendimento personalizado e o crescente uso de dados indivi- de assuntos importantes para o setor como banco digital,
dualizados para criação de produtos e prestação de serviços são inteligência artificial, internet das coisas, cloud computing e
duas das principais marcas da transformação digital no setor. as novidades do segmento de meios de pagamento.
O congresso também dedicou-se a entender a expe- Prosseguindo com as entrevistas com grandes nomes
riência dos consumidores em produtos e serviços digitais do setor bancário, nesta edição, temos um bate-papo com
desenvolvidos pelos bancos. Além disso, diversos painéis e Maurício Minas, vice-presidente do Bradesco, que destaca as
palestrantes discutiram as metodologias e tecnologias que tecnologias que transformarão a indústria e revolucionarão
simplificam as transações bancárias e deixam serviços e so- modelos de negócios do setor bancário.
luções mais intuitivos e práticos para o cliente. Desejo a todos uma excelente leitura! n

6 revista Ciab FEBRABAN


ciab 2017

Com recorde de público,


Ciab FEBRABAN
debate transformação
digital dos bancos
Por Adriana Mompean

Mais de 21 mil pessoas circularam pelo maior


congresso de tecnologia da informação para
o setor financeiro da América Latina, que debateu
tecnologias disruptivas, experiência do cliente em
produtos e soluções digitais e novas oportunidades
de negócios para as instituições financeiras
FotoAndres
“É PRECISO ATRAIR
E MANTER NOVOS
CLIENTES NO AMBIENTE
DIGITAL, INVESTIR NAS
AGÊNCIAS DIGITAIS E
FICAR MUITO ATENTO
AOS DESAFIOS E
DEMANDAS DESSA
REVOLUÇÃO DIGITAL”
Murilo Portugal,
presidente da FEBRABAN

Luiz Michelini/FEBRABAN
C
om recorde de público, a 27ª edição Na abertura do evento, o presidente da
do Ciab FEBRABAN mostrou que o FEBRABAN, Murilo Portugal, destacou que
debate, no setor bancário, sobre a trans- as contas digitais no Brasil, abertas totalmente
formação vivida nos últimos anos pelos bancos por meio eletrônico, em contato presencial en-
se dá em torno de novos desafios tecnológicos, tre clientes e instituições bancárias, totalizam
administrativos e culturais com a migração do um milhão, com expectativa que o número
cliente para o ambiente digital. Formas com- chegue a 3,3 milhões até o final do ano. “A con-
pletamente novas de prestar serviços, atenção ta 100% digital marca o início do vínculo de
ampliada para a experiência dos clientes em sua muitos clientes com as instituições financeiras
relação com as instituições bancárias e novas e uma exigência de consumidores que pedem
oportunidades de negócios para os bancos, a par- processos mais ágeis, simples e menos buro-
tir da enorme massa de dados de que dispõem, cratizados na relação com os bancos”, afirmou.
foram os destaques do congresso de TI, que Portugal ressaltou que, em meio a desafios
neste ano teve como tema central “Ser Digital”. tecnológicos, administrativos e culturais com
Mais de 21 mil pessoas circularam pela a migração para o ambiente digital, os bancos
exposição, realizada entre os dias 6 e 8 de ju- procuram lidar com a evolução de seus atuais
nho, alta de quase 18% em relação ao ano pas- clientes e com novos consumidores surgidos
sado. Em uma área de mais de 30 mil m² no com demandas específicas e bem mais exigentes.
Transamerica Expo Center estiveram 3,74 mil “É preciso atrair e manter novos clientes
congressistas, entre os quais aproximadamente no ambiente digital, investir nas agências digi-
120 eram estrangeiros (crescimento de 14%). tais e ficar muito atento aos desafios e deman-

revista Ciab FEBRABAN 9


ciab 2017

“É IMPRESSIONANTE A
RAPIDEZ COMO AS COISAS
OCORREM, ESPECIALMENTE
NA ÁREA DA TECNOLOGIA
DA INFORMAÇÃO”
Geraldo Alckmin

das dessa revolução digital.” O presidente da


FEBRABAN relembrou que os investimentos e
despesas com TI feitos pelos bancos brasileiros
totalizaram 18,6 bilhões de reais em 2016, fi-
cando no mesmo patamar dos anos anteriores.
O governador de São Paulo, Geraldo Alck-
min, também participou da abertura do con-
gresso e abordou, em seu discurso, que o setor
financeiro está na vanguarda da inovação. “O
nosso tempo é da mudança e da velocidade da
mudança. É impressionante a rapidez como as
coisas ocorrem, especialmente na área da tecno-
logia da informação”, afirmou. “É uma verdadei-
ra revolução no cotidiano de cada um de nós.”
Em seu discurso, Alckmin ainda destacou
o sistema Detecta, que monitora o Estado de
São Paulo com mais de três mil câmeras inteli-
gentes. O sistema integra bancos de dados das
polícias paulistas, como registros de ocorrên-
cias, Fotocrim (banco de dados de criminosos
com arquivo fotográfico), cadastro de pessoas
procuradas e desaparecidas, dados do Detran
(Departamento Estadual de Trânsito), registro
de veículos furtados, roubados e clonados.
“O trabalho pioneiro de integração das
câmeras do Detecta cria um cinturão de pro-
teção nas cidades e na região metropolitana”,
complementou o governador.
Também estiveram presentes na abertura
do evento o prefeito de São Paulo, João Dória; o
ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Co-
municações, Gilberto Kassab; Adalberto Felinto
da Cruz Júnior, secretário-executivo do Banco
Central; Maurício Machado de Minas, presidente
Luiz Michelini/FEBRABAN

do Conselho do Ciab e vice-presidente do Bra-


desco; e Gustavo Fosse, diretor setorial de Tec-
nologia e Automação Bancária da FEBRABAN.

10 revista Ciab FEBRABAN


ciab 2017

Luiz Michelini/FEBRABAN
Cidade digital Com a publicação digital, a Prefeitura fará Na palestra Cidades
Logo após a abertura, a primeira palestra do uma economia de R$ 10 milhões por ano, Inteligentes, o
congresso de TI, intitulada Cidades Inteligen- segundo o prefeito. prefeito de São
tes, foi proferida por João Doria e mediada Outra iniciativa citada por Doria é o Paulo, João Doria,
listou ações
por Murilo Portugal. O prefeito de São Paulo programa das escolas digitais. O objetivo do de tecnologia
listou ações de tecnologia realizadas pela sua prefeito é equipar os alunos, até o ano que vem, realizadas pela sua
gestão para tornar São Paulo uma “smart city, com tablets e computadores, nas instituições gestão para tornar
uma cidade digital”. “Criamos uma secretaria municipais. “Teremos que fazer a reciclagem e São Paulo uma
específica para isso, que é a Secretaria de Ino- treinamento de professores e gestores de escolas cidade digital:
“CRIAMOS UMA
vação e Tecnologia.” públicas municipais”, afirmou. “É necessário
SECRETARIA
De acordo com Doria, a primeira tarefa que estejam atualizados e saibam ensinar o que ESPECÍFICA PARA
dada para o secretário Daniel Annenberg foi é tecnologia e como a tecnologia pode melho- ISSO, QUE É A
a redução até chegar à eliminação da burocra- rar a qualidade de vida das crianças.” SECRETARIA DE
cia. “Até dezembro do ano que vem, todos os Em sua palestra, Doria afirmou que quer INOVAÇÃO E
processos de nossa cidade serão digitais”, disse. implantar 10 mil câmeras na cidade com o pro- TECNOLOGIA”
“As pessoas, a partir de seu smartphone, de jeto de vigilância eletrônica City Câmeras. No
sua casa, de seu escritório, poderão solicitar evento, ele informou que 1.560 já estavam co-
qualquer tipo de serviço da cidade.” nectadas com o sistema Detecta. Somam-se às
Segundo o prefeito, algumas iniciativas câmeras o monitoramento policial com drones,
já foram postas em prática, como o fim do com cinco unidades em operação que vigiam
Diário Oficial em papel no mês de março. a área central da cidade.

revista Ciab FEBRABAN 11


ciab 2017

Presidentes de bancos
debatem transformação
digital
Por Françoise Terzian
Durante a palestra “O mundo
pós-digital”, Sérgio Rial,
presidente do Santander,
afirmou que na era cognitiva,
os clientes querem menos
produtos e mais serviços
Luiz Michelini/FEBRABAN

“O digital morreu.” Com essa frase, Sér- O desafio está em como lidar com um grau de
gio Rial, presidente do Santander, conseguiu transformação e decisão do consumidor jamais
chacoalhar a plateia que lotou sua apresentação visto na história do país.
na abertura do Ciab FEBRABAN 2017. Com A transformação do digital para o analó-
essa provocação, o executivo detalhou como o gico já aconteceu, comentou Rial, explicando
comportamento da nova era digital não deixou sua provocação no início da palestra: o mundo
opção aos bancos: oferecer um aplicativo é mais mais do que se digitalizou, e o termo digital,
do que obrigação das instituições e não um por si só, perdeu o sentido. O que afeta as so-
diferencial, lembrou. ciedades, hoje, é uma revolução cognitiva, para
Na palestra intitulada “O mundo pós-di- além da tecnologia. Embora o uso de máquinas
gital”, Rial explicou ainda que, nessa “era cog- seja obrigatório, é a interação humana que fará
nitiva”, os clientes querem “menos produtos e a diferença e poderá gerar valor para os bancos.
mais serviços”_ menos pacotes prontos ofereci- Rial não deixou o palco do congresso de TI
dos para adesão e mais soluções que possam ser sem fazer um alerta: “O maior risco da indústria
adaptadas a cada caso individual. Ele lembrou financeira é nos tornarmos uma grande promessa
que os bancos não podem deixar de levar em como foi a telefonia.” Não aceitar a resistência
conta as relações humanas e preservar a inte- do cliente em pagar por mensagens de texto, por
ração pessoal com os clientes, mesmo quando exemplo, não só não era uma solução, como abriu
a comunicação entre correntista e instituição caminho para o surgimento e crescimento de so-
financeira é remota e virtual. luções inovadoras como o WhatsApp, lembrou.
O maior risco da atualidade, discursou, Para o presidente do Santander, é preciso
é o do imobilismo, de se manter na zona de evoluir diante dessa revolução comportamen-
conforto e evitar riscos. Se a preocupação for tal maior que a evolução tecnológica. Para os
apenas a rentabilidade, os bancos não sentiriam bancos, os desafios também são diários, e de-
a urgência de promover mudanças em mais vem ser observados constantemente e com um
curto prazo. Mas aí cabe a diferença entre “ser novo olhar. Daí a sugestão para as instituições
digital e estar digital”, argumenta o executivo. financeiras assumirem o papel de assessoras e
sumário
ciab 2017

Luiz Michelini/FEBRABAN
Paulo Rogério consultoras financeiras em lugar de “vendedo- áreas de TI (Tecnologia da Informação) e da
Caffarelli, ras de produtos”. diretoria criada para este fim. A percepção,
presidente do Banco com o tempo, foi a de que a tecnologia é o
do Brasil, afirma
que “ser digital”
Ser digital meio e não o fim, uma vez que continuará a
atualmente é mais Diante da alta adesão à internet e às tecnologias evoluir e não substituirá o varejo bancário.
do que obrigação, móveis, Paulo Rogério Caffarelli, presidente do A essência das relações interpessoais perma-
e exige um novo Banco do Brasil, tem opinião de que “ser digital” necerá com as agências.
tipo de atenção ao atualmente é mais do que obrigação, e exige um Segundo o executivo, o objetivo do Ban-
usuário dos serviços
novo tipo de atenção ao usuário dos serviços co do Brasil é unir os dois mundos e, para
bancários
bancários. O executivo foi um dos destaques do isso, tem investido em tecnologias de ponta,
último dia do congresso de TI com palestra “A a exemplo da Pulseira Ourocard, o primeiro
conveniência de ser mais que digital”. dispositivo vestível do banco para realização
De acordo com o presidente do BB, os de transações financeiras. Para o BB, as tecno-
investimentos em tecnologia e cultura digital logias importantes são aquelas que aparecem
permitem um melhor olhar e conhecimento somente na hora em que se usa, e de forma
sobre os clientes. É a partir desta análise mais sutil, como é o caso da energia elétrica.
aprofundada que os bancos podem personali- Para chegar nesse estágio, o BB abraçou
zar suas soluções. a tecnologia como uma estratégia importante
Para Caffarelli, a transformação digital para o desenvolvimento de todas as suas áreas,
que se vê hoje vai além da tecnologia. Ela é com olhar focado na experiência do cliente. “O
cultural. Quando o Banco do Brasil começou nome do jogo é gente. Valorizamos o digital,
a falar em digital e a desenvolver soluções que é o que nos dá a ferramenta necessária para
para se relacionar com o cliente, havia a im- atender o cliente pessoalmente. É preciso ter
pressão de que as sugestões deveriam sair das o banco de tijolo e o banco digital”, afirmou.

14 revista Ciab FEBRABAN


ciab 2017

Luiz Michelini/FEBRABAN

O youtuber
Zach King
encerrou o 27º
Ciab FEBRABAN
com a palestra
“O contador de
histórias que
há em nós”

Bancos têm de mudar


relação com os jovens,
aconselha youtuber
Por Adriana Mompean e Evelin Ribeiro

Com 19 milhões de seguidores na rede so- uma demonstração ao vivo com a plateia so-
cial Instagram e outros 1,5 milhão de inscritos bre como produzir uma animação. Para ele,
em seu canal no Youtube, Zach King encerrou alcançar uma vasta audiência significa apelar
o Ciab FEBRABAN 2017 com a palestra “O para temas universais, com ótimos conteú-
contador de histórias que há em nós”, em que dos, capazes de tocar de verdade as pessoas
aconselhou os bancos a mudarem a visão que e as inspirarem.
os jovens têm sobre as instituições financeiras. De acordo com o youtuber, várias boas
De acordo com o youtuber, finanças ideias para o conteúdo de vídeos já surgiram
é um assunto interessante, mas o foco dos quando ele estava tomando banho e até diri-
bancos no estímulo à abertura de contas e gindo. “Nossas ideias também vêm dos medos
à formação de poupança torna o tema mui- que as pessoas têm, a partir de situações do
to formal e institucional. “Como um mille- cotidiano. Hoje, a maior dificuldade [que se
nial (pessoa nascida a partir dos anos 80), tem nas novas mídias] é manter as pessoas
acredito que será preciso fazer um trabalho em contato com você regularmente”, afirmou.
grande na área de marketing para mudar esta “Por isso, ao produzir um conteúdo, sempre
visão”, disse, sugerindo maior empenho dos nos perguntamos: o que nós gostamos de ver?”
bancos no aconselhamento sobre alternativas No final de sua apresentação, o youtuber
financeiras. “Os bancos são muito importan- falou sobre a importância de brincar e diver-
tes para a economia e na vida das pessoas; os tir-se com o trabalho e deu um conselho para
estudantes, os jovens precisam de instituições os profissionais do setor: “Vocês, dos bancos,
que os ajudem a lidar com suas finanças.” não estão muito acostumados a brincar em
King, conhecido por vídeos divertidos seus escritórios”, afirmou. “A criatividade tem
em que cria situações surreais e truques de limite. Ela depende de quanto você brinca,
mágica com a ajuda de sofisticados truques explora suas ideias, de quanto você explora
de edição, falou sobre esse trabalho e até fez sua curiosidade.” n

16 revista Ciab FEBRABAN


startups financeiras

Ecossistema em ebulição
Por Felipe Datt

Em menos de dois anos, número de fintechs


no Brasil cresceu 357%; bancos fortalecem
parcerias e turbinam investimentos

18 revista Ciab FEBRABAN


startups financeiras

O
Radar FintechLab 2017, mapa das -SP). Em 2016, as startups financeiras forma-
fintechs no Brasil feito pela consulto- ram a Associação Brasileira de Fintechs (AB-
ria Clay Innovation, não deixa dúvi- Fintechs) e, desde então, viram a proliferação
das: 2016 foi o ano em que o país Brasil des- de programas corporativos de aceleração e a
pertou, de fato, para negócios inovadores que criação de fundos de investimentos que miram
apostam em tecnologias disruptivas capazes de seus negócios. Também passaram a merecer
transformar a oferta de serviços financeiros. Há uma maior atenção dos órgãos reguladores: o
uma revolução em curso. Em agosto de 2015, Banco Central deverá abrir, em agosto, uma
havia 54 fintechs no Brasil. Em fevereiro de audiência pública para discutir a regulação de
2017, o número chegou a 247, um crescimento fintechs de crédito.
de 357,41% em 18 meses. A tecnologia passou a fazer parte da
Além de aumentar, o ecossistema de fin- vida financeira da população numa época
techs amadurece e se sofistica. O país já conta em que, no país, o número de smartphones
com 41 aceleradoras de negócios nascentes, - que devem chegar a 208 milhões em ou-
conforme a Fundação Getúlio Vargas (FGV- tubro de 2017 - quase empata com o de

“FINTECHS
OCUPAM ESPAÇO
IMPORTANTE
EM AMBIENTES
COLABORATIVOS
PARA A
INOVAÇÃO”
Gabriel Ferreira,
diretor-executivo
de Varejo,
Marketing e
Luiz Michelini/FEBRABAN

Inovação Digital do
Banco Votorantim

revista Ciab FEBRABAN 19


startups financeiras

Luiz Michelini/FEBRABAN
“RELAÇÃO COM AS FINTECHS É UMA ra, com soluções mais eficientes e voltadas ao
OPORTUNIDADE DE FAZER NEGÓCIOS” usuário”, diz Marcelo Bradaschia, sócio da
Cassius Schymura, diretor de CRM & Clay Innovation.
Plataforma Multicanal do Santander Conforme a pesquisa, cerca de 80% das
fintechs no país passaram da fase de validação de
seu modelo de negócio e têm clientes pagantes.
clientes bancários (239 milhões). É natural Com soluções de inteligência artificial, block-
que oportunidades na área financeira como chain, chatbots (ferramenta que simula um ser
pagamentos, empréstimos, negociação de humano em conversa com o usuário), big data
dívidas ou venda de seguros sejam cada vez & analytics – partes integrantes da corrida dos
mais exploradas e justifiquem a multiplica- bancos rumo ao digital - é nítida a mudança de
ção das fintechs. postura das instituições financeiras em relação
No Brasil, as fintechs atuam principal- a esses negócios.
mente em pagamentos (32%), gestão finan- Para Fernando Freitas, superintendente-
ceira (18%) e empréstimos (13%). “As fintechs -executivo de Inovação do Bradesco, as tec-
apostam em áreas em que os bancos trabalha- nologias disruptivas, que permitem derrubar
vam mal, como consultoria e gestão financei- barreiras de adoção com custo baixo, surgem

20 revista Ciab FEBRABAN


O ecossistema de fintechs no Brasil
Número de iniciativas no mercado Onde estão localizadas

Variação: 357,41%

Belo Horizonte
6%
São Paulo
65%
247
Outros Rio de Janeiro
18% 11%

54
2015 2017
(agosto) (fevereiro) Investimentos das
fintechs no Brasil Fonte: “Report 2017”, do FintechLab

(até 2016)
+ de
R$ 1 bilhão Investimentos pelo mundo

Em que áreas atuam Número de fintechs que


receberam aportes em 2016

Câmbio Multiserviços AMÉRICA LATINA


Criptomoedas e DLTs* 4% 2%
5% Fintechs Investimentos
Negociação de Dívidas investidas
US$386
Pagamentos
5%
Seguros
32%
217 milhões
6%

Funding GLOBO
7%
Fintechs Investimentos
investidas
Investimentos US$12,7
8% 836 bilhões

Empréstimos Gestão Financeira


13% 18%
*Distributed Ledger, ou livro-razão distribuído, conhecido pela sigla DLT) Fonte: Consultorias Mckinsey e CB Insights

revista Ciab FEBRABAN 21


startups financeiras

hoje primeiro nessas startups. “Isso leva o banco A prática tem mostrado que a maioria
a deixar de olhar apenas os fornecedores tra- das fintechs não representa concorrência, mas
dicionais de sua cadeia. A própria cadeia está uma operação complementar aos negócios dos
sendo alterada”, diz. bancos. Um exemplo são as fintechs de emprés-
Se em um primeiro momento o sentimen- timos pessoais que captam clientes no mercado
to em relação às fintechs era de desconfiança, e fazem cotações com várias instituições finan-
hoje os bancos passam a enxergar essas empre- ceiras. Outro são startups de recuperação de
sas como fontes de soluções que agregam valor crédito que se “acoplam” às plataformas dos
aos seus negócios. No passado, boa parte das bancos e melhoram a experiência dos usuários.
inovações financeiras era feita dentro dos pró- O diretor de CRM & Plataforma Mul-
prios bancos. “Hoje, há um ambiente mais co- ticanal do Santander, Cassius Schymura, não
laborativo e as fintechs ocupam um importante tem dúvida: a relação com as fintechs é uma
espaço”, diz Gabriel Ferreira, diretor-executivo oportunidade de fazer negócios.
de Varejo, Marketing e Inovação Digital do “As fintechs podem ser agregadas como
Banco Votorantim. parceiras ou podemos adquiri-las também”,

“NINGUÉM
INOVA
SOZINHO”
Marcelo
Bradaschia,
FotoAndres/FEBRABAN

sócio da Clay
Innovation

22 revista Ciab FEBRABAN


FotoAndres/FEBRABAN
startups financeiras

diz. O cenário é replicado em outros bancos, “O DESAFIO É ENCONTRAR BONS EMPREENDEDORES


e a conexão entre bancos e fintechs ganha no- E BONS MODELOS DE NEGÓCIOS. DINHEIRO
vas peças no quebra-cabeça, em três frentes NÃO SERÁ PROBLEMA”
Fernando Freitas, superintendente-executivo
distintas: aquisições, parcerias e investimentos.
de Inovação do Bradesco

“Ninguém inova sozinho”


Os centros de empreendedorismo e inovação
abertos (Cubo, do Itaú, e inovaBra, do Brades- “Através de aquisição ou investimento em par-
co) marcaram o início da aproximação entre ticipação, grandes empresas incorporam solu-
os dois universos. Hoje, a relação ganha novos ções. Ninguém inova sozinho”, diz Bradaschia.
contornos, a começar pelas aquisições. O San- As parcerias também se avolumam.
tander finalizou, no início de 2016, a compra Um dos pilares do Next, o banco digital do
da ContaSuper (do SuperBank), sistema digital Bradesco, foi a Sensedia, fintech que parti-
de pagamentos e cartões pré-pagos. É esperado cipou da primeira turma do inovaBra. “Foi
que esse tipo de movimento decole no futuro. ela quem construiu as APIs (interfaces para

revista Ciab FEBRABAN 23


startups financeiras

FotoAndres/FEBRABAN
Para Franklin Luzes, COO da Microsoft, Conforme o FintechLab, mais de R$ 1
startups de tecnologia terão papel bilhão foram investidos em fintechs no Brasil
fundamental na transformação digital
até 2016, e 72% já receberam aportes. O
de diferentes segmentos da economia
fenômeno é global, como atesta uma pes-
quisa recente do instituto de pesquisas CB
Insights. Em 2016, foram 836 aportes, que
permitir a conexão de aplicativos) para conec- superaram US$ 12,7 bilhões, alta de 408%
tar o Next ao legado do banco”, diz Freitas. em quatro anos. Nos dois últimos anos, além
Em 2015, o BMG fez um acordo com a fintech dos tradicionais fundos de investimento,
alemã Lendico para ter um braço de capta- novos atores passaram a aportar recursos
ção de clientes, no modelo de correspondente nessas empresas, a exemplo de empresas de
bancário. Em outra frente, o banco mineiro tecnologia e instituições financeiras, que es-
montou o BMG Digital Lab, para trabalhar truturam fundos para investir nas fintechs.
com startups no desenvolvimento de produtos É a aposta no modelo de corporate venture
e serviços que tenham conexão com o negó- capital, em que grandes empresas financiam
cio do banco. “O banco já assinou contratos o crescimento de startups e se aproveitam de
de parcerias com oito startups”, diz Eduardo soluções inovadoras que podem ser acopladas
Mazon, diretor-executivo do banco mineiro. ao seu negócio.

24 revista Ciab FEBRABAN


startups financeiras

Cofres abertos Com o objetivo de resolver o último pro-


Em julho de 2014, o Santander lançou o fundo blema, a Microsoft Participações lançou, em
de investimentos Santander InnoVentures, com março de 2014, o BR Startups, um fundo que
foco em fintechs e fôlego para investir US$ 200 atende a uma das principais demandas de inves-
milhões. Entre as investidas estão iZettle (solu- timento, a de empresas que precisam de valores
ções e pagamento), Elliptic (blockchain) e Kab- entre R$ 400 mil e R$ 2 milhões, o chamado
bage (empréstimos). O fundo tem um mandato “vale da morte” das startups. A lógica é simples:
global e pode investir em todos os mercados, com uma cadeia bem estruturada de investido-
inclusive na América Latina. “O fundo identi- res-anjo e de aceleradoras, os investimentos até
fica e apoia as melhores fintechs com o objetivo R$ 400 mil são abundantes no Brasil. O mesmo
de se aproximar da onda de inovação disruptiva ocorre com aportes superiores a R$ 2 milhões,
e garantir que os clientes do banco se beneficiem geralmente feitos por fundos de private equity.
dos últimos projetos”, diz Schymura. Financiar o meio termo é o desafio.
O Bradesco lançou, em novembro de 2016, No modelo de dívida conversível, o fundo
o inovaBra Ventures, apoiado por um Fundo tem prazo de 10 anos. Os investimentos devem
de Investimento em Participações (FIP) com se realizar até 2020, com mais três anos de
capital proprietário, ou seja, que utiliza recur- prazo de desinvestimento – os investidores te-
sos do banco e não está aberto a cotistas. Com rão opção de adquirir participação nas fintechs.
R$ 100 milhões, o fundo já investiu em três Com R$ 27 milhões de capital comprometido
fintechs, que receberam aportes entre R$ 3 mi- e perspectiva de encerrar 2017 com mais de R$
lhões e R$ 10 milhões. As aquisições partem da 50 milhões investidos, o fundo é aberto a gran-
estratégia de que aproximar-se de empresas que des empresas. Investidores-âncora direcionam
usam tecnologia de fronteira poderá alavancar os os aportes para startups de suas áreas, a exemplo
negócios do banco. “O desafio é encontrar bons da Monsanto com as agritechs (agricultura), a
empreendedores, com conhecimento consolida- BB Seguridade com as insurtechs (seguros) e o
do na tecnologia e bons modelos de negócios”, Banco Votorantim com as fintechs.
diz Freitas. “Dinheiro não será problema.” O Banco Votorantim elegeu quatro gran-
Startups de tecnologia terão papel funda- des áreas de interesse ao selecionar as finte-
mental na transformação digital de diferentes chs: pagamentos, empréstimos, negociação
segmentos da economia. Essa é a opinião do de dívidas e funding/investimentos. O banco
COO da Microsoft Participações, Franklin Lu- fez um primeiro aporte, de R$ 3 milhões, já
zes. Assim, fomentar esse ecossistema de ino- investiu em uma fintech (um marketplace de
vação e tornar as soluções mais próximas dos cobrança) e se prepara para investir em uma
grandes atores do mercado é uma necessidade, segunda empresa, da área de investimentos.
além de resolver um problema que muitas das Executivos do banco são mentores das fintechs
fintechs enfrentam: o acesso a financiamento. e ajudam no desenvolvimento das soluções.
“Estima-se que a taxa de mortalidade das “Não é apenas o dinheiro que atrai os em-
empresas de tecnologia é de 22% globalmente; preendedores, mas o know-how do banco”, diz
no Brasil, é de 30%”, diz. As causas mais co- Ferreira. “Vamos testar formatos inovadores
muns são brigas entre sócios, falta de demanda de cobrança em parceria com a primeira em-
e escassez de capital e financiamento. presa investida.”

revista Ciab FEBRABAN 25


startups financeiras

Dataholics, FullFace e Tem


vencem Fintech Day 2017
Um marketplace de negociação de dívidas, de identidade. A empresa desenvolveu um algo-
um aplicativo que captura selfies e assinaturas ritmo próprio de biometria facial, para tablets
digitais, robôs inteligentes que interagem com e smartphones, por exemplo. Com a leitura de
usuários, soluções de inteligência artificial para 1.024 pontos da face e acurácia de 99%, a em-
análise de crédito. Essas foram apenas algumas presa cria um “código” único para cada pessoa.
das soluções apresentadas durante o Fintech Day As soluções tradicionais analisam até 86 pontos
2017, competição que envolveu 21 startups de faciais. “É uma espécie de RG facial”, diz Kabil-
serviços financeiros durante a última edição do jo. A empresa já tem 10 clientes de diferentes
Ciab FEBRABAN, ocorrida entre 6 e 8 de ju- segmentos, entre eles, empresas de segurança
nho. Ao final do dia de apresentações, as vence- pública, farmacêuticas e companhias aéreas.
doras foram Dataholics, FullFace e tem. Já a Tem, fundada em 2014 pelo empreen-
Fundada em 2015 pelo CEO Daniel Men- dedor Tuca Ramos, 38 anos, apostou em um
des, 40 anos, a Dataholics é uma fintech de big cartão-pré-pago exclusivo para serviços de saú-
data. A empresa oferece soluções de marketing de, que permite a pessoas com menor nível de
para empresas por meio do mapeamento das renda o acesso a consultas e exames médicos
informações coletadas dos usuários no Twit- e odontológicos em uma rede credenciada de
ter, Facebook ou na internet, detectando os clínicas particulares, com economia média de
produtos ou serviços mais apropriados a cada 60%. Já foram emitidos 200 mil cartões e a
um. A empresa também oferece um serviço rede credenciada atinge 4,2 mil pontos no País.
de crédito para empresas e instituições finan- Ramos espera faturar R$ 6,6 milhões em 2017.
ceiras, denominado SocialScore, que leva em “Hoje, 75% da população brasileira não possui
consideração o contexto de vida das pessoas: plano de saúde e o tempo médio de espera por
preferências, viagens, hábitos de consumo etc. exames no sistema público é de 180 dias”, diz ele.
“O Score resolve um problema grande para as Para a definição das fintechs vencedoras, o
empresas que é a dependência dos bureaux de time de sete jurados – especialistas do mercado
dados tradicionais, que não refletem a realidade e executivos de instituições financeiras - levou
dinâmica da vida das pessoas”, diz Mendes. em conta fatores como a capacidade de atender a
Sete clientes já têm contratos com a fintech. necessidade do cliente e agregar valor à experiên-
Na FullFace, fundada em 2012 pelo em- cia; a inovação e a simplicidade da tecnologia; a
preendedor Danny Kabiljo, 39 anos, a aposta foi audácia (a capacidade da tecnologia em solucio-
no desenvolvimento de soluções de biometria nar grandes problemas) e a “escalabilidade” – o
na identificação de usuários, para garantir maior potencial da solução para ser aplicada em maior
segurança em controles de acesso e autenticação escala no futuro (Felipe Datt).

26 revista Ciab FEBRABAN


Tuca Ramos, da
Tem; Danny Kabiljo,
da FullFace; e
Daniel Mendes,
da Dataholics:
vencedores do
Fintech Day 2017

Luiz Michelini/FEBRABAN

revista Ciab FEBRABAN 27


Os 21 finalistas do Fintech Day 2017

Fintech: App Renda Fixa Fintech: Moneto


Solução: App permite a pesquisa e consulta Solução: Aplicativo voltado para
de investimentos em renda fixa, em a gestão de cobranças de
diversas corretoras no mercado Microempreendedor Individual (MEI)
ou trabalhador autônomo
Fintech: Dataholics
Solução: Análise de risco e crédito utilizando Fintech: Mutual
dados não estruturados do cliente (encontrados Solução: Marketplace de crédito
em redes sociais como Twitter, Facebook que conecta pessoas e negócios
e outras fontes públicas na internet) em busca de dinheiro e investidores
dispostos a emprestar
Fintech: Flowsense
Solução: App de geolocalização que Fintech: Nexoos
permite acompanhar o deslocamento do Solução: Marketplace de empréstimos
cliente e oferecer produtos e serviços de voltado a pequenas e médias empresas,
forma segmentada que conecta pequenas empresas
a investidores pessoa física
Fintech: FolhaCerta
Solução: Aplicativo para gestão de Fintech: OriginalMy
funcionários e rotinas trabalhistas (banco Solução: Sistema de assinatura
de horas, jornada de trabalho etc) digital, certificação e registro de
documentos (como contratos)
Fintech: FoxBit utilizando tecnologia blockchain
Solução: Plataforma para a compra e
venda de ativos digitais (bitcoins) Fintech: OvermediaCast
Solução: Plataforma para a criação
Fintech: FullFace de robôs (bots) utilizados em vídeos
Solução: Biometria facial para identificação para explicar o funcionamento de
de pessoas com 99% de precisão produtos ou tirar dúvidas dos clientes

28 revista Ciab FEBRABAN


Apresentação durante
o Fintech Day no Ciab
FEBRABAN 2017

FotoAndres/FEBRABAN

Fintech: paySmart Fintech: QueroQuitar


Solução: Personalização remota Solução: Marketplace de negociação
de cartões físicos, pulseiras contactless de débitos que permite ao devedor
e cartões virtuais fazer propostas para quitação de dívidas
com os bancos
Fintech: PhDRisk
Solução: Uso de inteligência Fintech: Simply
artificial em análise de risco Solução: O Aplicativo permite a captura
e crédito, para reduzir inadimplência dos documentos, selfies, assinatura digital,
biometria digital, declaração por voz e
Fintech: Portfy checklist de atividade.
Solução: Marketplace de
portabilidade de crédito que Fintech: Tasken Debt
permite a clientes encontrar Solução: Plataforma de negociação
melhores taxas e transferir dívidas baseada em robôs que oferece
ao devedor a conveniência de negociar
Fintech: Quanto Gastei as dívidas por smartphone
Solução: Plataforma de controle
financeiro pessoal que permite Fintech: Tem
listar receitas e despesas, lembretes Solução: Administradora de cartões que
de pagamento etc atua na intermediação de pagamentos
conectando usuários de baixa renda a
Fintech: Quartilho clínicas de saúde particulares
Solução: Marketplace para
negociação de recebíveis que Fintech: Wizfee
conecta fabricantes, fornecedores Solução: Plataforma que conecta
e financiadores bancos a empresas de pequeno porte
para otimizar o desempenho financeiro
do negócio

revista Ciab FEBRABAN 29


startups financeiras

Programa para
conquistar e reter
clientes mirins
vence 1º Hackaton

Uma solução que permite aos pais ad- de sete anos de idade podem usar a mesada
ministrarem a mesada dos filhos por meio de por meio de um cartão físico ou um cartão
um cartão pré-pago e que, por tabela, possi- pré-pago digital (que pode ser empregado no
bilita aos bancos iniciarem o relacionamento consumo de produtos e serviços comuns para
com clientes que nem chegaram à adolescên- essa faixa etária, como jogos virtuais, por exem-
cia, foi a vencedora do 1º Hackaton realizado plo). Tudo monitorado pelos pais. “Os pais po-
no Ciab FEBRABAN 2017. No total, foram dem estabelecer metas de gastos e conseguem
mais de 400 programadores, desenvolvedores acompanhar o desempenho de poupança dos
e empreendedores inscritos que apresentaram filhos”, explica o desenvolvedor Willian Polis,
soluções tecnológicas disruptivas voltadas ao 32 anos, idealizador do Kibank. Para os ban-
mercado financeiro. Os 83 selecionados forma- cos, a ferramenta abre caminho para que as
ram 16 grupos e participaram de uma maratona crianças se tornem correntistas da instituição
de desenvolvimento que durou 48 horas. ao atingirem a idade adulta.
Batizado Kibank, o projeto vencedor per- O Kibank venceu, em voto popular, ou-
mite aos pais cadastrar os filhos no próprio tros três projetos selecionados no Hackaton,
app do banco. Dessa forma, crianças a partir apresentados dias depois ao público no Ciab

30 revista Ciab FEBRABAN


Luiz Michelini/FEBRABAN

Integrantes da equipe FEBRABAN 2017. Competiram A Play for all


vencedora do 1º Hackaton (integradora de múltiplas plataformas de paga-
Ciab FEBRABAN: batizado mento), UX-Match (ferramenta de validação de
Kibank, projeto permite aos
documentos de identidade) e Plimwallet (uma
pais cadastrar os filhos no
próprio app do banco solução que permite ao usuário cadastrar seus
documentos pessoais de forma digital, que serão
validados e poderão ser acessados pelas empre-
sas). Os desenvolvedores do Kibank foram pre-
miados com três meses de estadia no espaço de
coworking CO.W. e reuniões nas sedes de pelo
menos dois bancos, para apresentarem a solução.
“É um produto com grande apelo e que
pode chamar a atenção de bancos, investido-
res e aceleradores”, diz Marcelo Assumpção,
gerente de Relacionamento de Eventos da
FEBRABAN (Felipe Datt). n

revista Ciab FEBRABAN 31


palestra no ciab

32 revista Ciab FEBRABAN


palestra no ciab

Ainda falta inovação às


fintechs, diz criador do Uber
Por Claudia Rolli

Oscar Salazar, um dos grandes destaques do


Ciab FEBRABAN 2017, acredita que os bancos
devem se tornar plataformas abertas, uma vez que
já fornecem serviços financeiros, têm infraestrutura
e se relacionam com um grande número de clientes

”N
ão vi nada que realmente traga va- os mesmos serviços.” E completa: “Não vi nada
lor aos consumidores.” Assim, de mudando o status quo ainda”.
forma objetiva e categórica, o empre- Salazar, que, além da Uber traz no currí-
sário mexicano Oscar Salazar, um dos criadores culo investimentos e participação em ao me-
do Uber, se referiu às fintechs que atuam no nos 30 empreendimentos de áreas que vão de
setor financeiro, ao ser questionado sobre o lentes de contato descartável ao transporte de
tema durante o Ciab FEBRABAN 2017. carga, coleta de lixo e e-commerce de verduras,
O empresário optou por fazer uma pa- acredita que os bancos têm espaço para ocu-
lestra de curta duração, 15 minutos, e durante par um papel relevante no avanço de novas
uma hora e meia respondeu a questões da tecnologias e serviços. Mas ao mesmo tem-
plateia, uma das mais lotadas da maior feira po ressalta: “Todo mundo precisa de banking
de tecnologia do setor. A declaração chamou (serviços financeiros), mas nem todo mundo
a atenção em um momento em que o merca- precisa dos bancos”.
do avalia essas empresas e startups de outros “Os bancos deveriam se tornar plata-
segmentos como inovadoras, disruptivas e formas abertas, uma vez que já fornecem os
que avançam em segmentos em que tradi- serviços, têm infraestrutura, os dados (data)
cionalmente as grandes empresas andam em e se relacionam com um grande número de
ritmo mais lento. clientes. Deveriam ser plataformas e deixar a
“A maioria das fintechs tem boas interfaces nova geração criar serviços em cima dela”, diz
com o usuário, design interessante, acesso ao o investidor, ao destacar o que a Apple fez ao
mercado, conteúdo, mas continuam provendo criar o App Store. “A Uber não existiria sem

revista Ciab FEBRABAN 33


palestra no ciab

Para Oscar Salazar,


a maioria das
fintechs tem boas
interfaces com
o usuário, design
interessante,
acesso ao mercado,
conteúdo, mas
continuam
provendo os

Luiz Michelini/FEBRABAN
mesmos serviços:
“Não vi nada
mudando o status
quo ainda”

SAIBA MAIS

QUEM É: Oscar Salazar Gaitan, um dos fundadores do Uber


O QUE: empresário, executivo e investidor em diversas empresas na área de tecnologia
COMO: empregou os conhecimentos em telecomunicações e engenharia
na concepção de produtos e sistemas inovadores, redesenhando a arquitetura
do transporte sob demanda no mundo todo
EM QUE ATUA: foi fundador e CEO da Citivox, cofundador da Pager Inc., e
recentemente da Ogon LLC, empresa de consultoria e assessoria estratégica,
técnica e de marketing
DESTAQUE: faz parte do conselho de diversas empresas e ONGs, apoia projetos
filantrópicos nas áreas de educação, combate à pobreza extrema e igualdade de gênero
FORMAÇÃO: é graduado em Telemática pela Universidade de Colima no México,
tem mestrado em Engenharia Elétrica e da Computação pela Universidade de Calgary,
Canadá, e Ph.D. em Telecomunicações pela Paristech, França

34 revista Ciab FEBRABAN


palestra no ciab

a criação do App Store, uma plataforma que Salazar também destacou a importân-
agrega soluções e todos os tipos de serviços.” cia do blockchain: “É a maior inovação dos
Um dos pontos a ser resolvido na imple- últimos dez anos, mas o problema é que as
mentação de tecnologia e parcerias inovadoras aplicações ainda são complexas e abstratas.”
é a falta de sincronia entre as partes envolvidas De acordo com o mexicano, a área de análise
no processo. “Há um problema de sincro- de dados tem potencial para criar novos mo-
nicidade. As grandes instituições se movem delos de negócios que podem transformar as
devagar, e elas devem. As companhias meno- indústrias. “Temos uma quantidade enorme
res (como startups) se movem rapidamente, de dados e somente poucas companhias que
e elas devem.” conseguem potencializar as informações que
Durante o evento, Salazar mencionou coletam. Vejo espaço para oferta de big data
que o Brasil tem tecnologia e aplicativos in- como serviço.”
teressantes no setor financeiro. “O app do Para quem pretende investir, a recomen-
Itaú é um dos melhores que já vi, ao menos dação de Salazar é a mesma que ele levou em
a sua nova versão é bem desenhada. Mas me consideração ao ajudar a criar o Uber, quan-
pergunto, podemos ir para o próximo nível?”, do ocupava o cargo de CTO (Chief Technolo-
disse ao se referir à inovação e afirmar que ela gy Officer, ou diretor de Infraestrutura Tecno-
necessariamente não precisa vir de dentro do lógica) da companhia. “É preciso pensar no
setor – ou seja, dos bancos -, mas pode vir de processo como um todo, construir somente a
fora – de todo um sistema que permite criar tecnologia não é a solução”, afirmou Salazar, ao
novas ideias e soluções. explicar que, em 2009, no processo de criação
O Brasil reúne as condições necessárias, do Uber, foram avaliadas as ineficiências, a falta
além de ser um dos mercados mais preparados, de transparência e de qualidade no que era
para criar empresas e serviços realmente que tra- considerado um dos piores serviços do mundo
gam inovação a diferentes segmentos: profissio- – o de transporte sob demanda.
nais e universidades de engenharia de qualidade, “Se for para criar algo, é preciso criar
acesso a capital e investidores, e um mercado algo que vai mudar a maneira como as coisas
consumidor ávido por novidades tecnológicas. funcionam, imaginar a uma experiência que
“Sei da realidade e que há muitos desafios seja ao menos dez vezes melhor do que a
políticos. Mas sou um otimista e sei que, quan- que já é oferecida”, afirma. Mas também é
to maior o preço, maiores as recompensas”, preciso levar em consideração, diz o inves-
diz. “Quando me perguntam por que investir tidor, que qualquer negócio depende dos
no Brasil, se não sou louco, com tudo que está resultados obtidos.
acontecendo aqui, digo que o mercado está Disrupção, no vocabulário de Salazar,
pronto e as pessoas estão ávidas por mudanças.” é uma palavra para “perdedores”. “A pala-
Sem detalhar o que vem por aí, o empre- vra que amo é inovação. Quando você diz
sário mencionou que se dedica a projetos de disrupção é porque você está do outro lado,
machine learning, uma das tecnologias que, daquele que foi interrompido (do inglês dis-
juntamente com a inteligência artificial, deve rupted). Alguém está comendo o seu bolo
ocupar papel relevante nos próximos anos, prin- (aquele que você criou) e está fazendo você
cipalmente em setores como saúde e educação. pagar por ele”, brincou. n

revista Ciab FEBRABAN 35


cultura digital

Curva de inovação
tem ciclos de vida
cada vez mais curtos
Por André Luís Nery

Gil Giardelli e Tiago Mattos debateram sobre


o futuro do trabalho e das empresas durante
palestras no Ciab FEBRABAN 2017

É
consenso que a inovação é parte vital
para o futuro das empresas. Mas como
se adaptar a um mundo em que as ino-
vações surgem e desaparecem em um espaço
de tempo cada vez mais curto? Por isso, ser
digital é fundamental. Em sua palestra “Em-
presas do Século XX, Pessoas do Século XXI”,
durante o Ciab FEBRABAN 2017, o professor
Gil Giardelli, especialista em cultura digital e
um dos destaques do congresso de TI, alertou:
“Antes, a curva de inovação era algo que de-
morava 100 anos, depois 50 anos, depois 30
anos; agora é ‘barbatana de tubarão’ (conceito
usado para ilustar ciclos de vida curtíssimos
de produtos e serviços)”.
Como exemplo, Giardelli citou que, a
cada ideia que alguém tivesse naquele momen-
to, em média, outras 430 pessoas no mundo
teriam o mesmo objetivo. No entanto, segundo
o professor, apenas três colocariam “essa ideia
para funcionar”.

36 revista Ciab FEBRABAN


Luiz Michelini/FEBRABAN

O conferencista também criticou o baixo Outro destaque do Ciab FEBRABAN Gil Giardelli,
nível de inovação da população. “O brasileiro 2017, o empreendedor e professor Tiago Mattos especialista em
cultura digital, fez
é muito criativo, mas pouco inovador. Ele tem destacou, durante a palestra “O futuro do tra- apresentação com
dezenas de ideias criativas, mas coloca pouco balho e as empresas do século 21”, que uma das o robô Nao no Ciab
dessas ideias para funcionar”, afirma. De acor- características dos inovadores é não ter medo de FEBRABAN 2017;
do com Giardelli, apenas 9% dos executivos arriscar, de errar e saber aprender. “É preciso se para o professor,
brasileiros têm um nível avançado de inovação, tornar um especialista em aprender”, afirma Mat- brasileiro é muito
criativo, mas pouco
contra 33% no mundo. tos, acrescentando que, no futuro, os profissio-
inovador
A falta de inovação pode levar ao desa- nais terão que trocar inúmeras vezes de carreira, o
parecimento da companhia, segundo o espe- que exigirá uma constante reinvenção. “Cada vez
cialista em cultura digital. Na palestra, ele mais as pessoas das novas gerações vão ter várias
lembrou a falência da Blockbuster, maior rede atividades ao longo da vida”, afirmou. “Talvez
de locadoras de filmes e videogames do mun- a gente ache isso estranho, mas existem vários
do, em 2011. “Em dois anos, a Blockbuster estudos que indicam que uma pessoa (que esteja)
saiu de valor de mercado de US$ 5 bilhões atualmente no ensino médio, terá, ao longo de
para a quebra total.” sua vida profissional, cinco carreiras diferentes.”

revista Ciab FEBRABAN 37


cultura digital

O empreendedor
e professor Tiago
Mattos afirma
que no futuro os
profissionais terão,
em média, cinco
carreiras diferentes:
Luiz Michelini/FEBRABAN

“É PRECISO SE
TORNAR UM
ESPECIALISTA EM
APRENDER”

Durante o painel, Mattos ressaltou ainda exemplo, quem trabalha sozinho, ou com um
que “quanto mais único é o jeito de pensar, grupo reduzido, pode estar limitando-se e pre-
mais escassa é a inovação e criatividade”. Um judicando a própria companhia. “Todo mundo
dos problemas, segundo ele, é que “a maioria quer inovação, mas a gente quer inovação na
das empresas está se digitalizando, e não está se outra rua, no outro departamento, na outra
transformando em uma empresa digital”. “Se a área”, enfatiza Giardelli, acrescentando que
gente se inspirar na economia clássica, seremos “nenhum de nós é tão inteligente quanto to-
uma empresa de 1780”, analisa. dos nós juntos”. “Quando você faz isso, muda
Para Mattos, as empresas precisam de um a hierarquia nas empresas”, destaca.
modelo verdadeiramente digital, pois é neste Segundo o especialista, há companhias
meio que terão que competir. “Provavelmente, com faturamento bilionário, como a empresa
a maioria dos profissionais não está observando dona da Cartier, que “estão acabando com
a verdadeira concorrência”, alerta. “A concorrên- o cargo de CEO (executivo-chefe), porque
cia do Santander não é o Itaú, a concorrência acreditam que este tipo de profissional trava
do Itaú não é o Banco do Brasil, a concorrência a inovação”. Para ser empreendedor e ino-
do Banco do Brasil não é o Santander: a con- vador, Mattos afirma que é preciso deixar
corrência desses bancos são coisas que ou não de lado o excesso de planejamento. “Quem
existem ou estão sendo lançadas agora”, afirma. planeja demais não faz nada, porque quem
Na avaliação dos dois especialistas, é ne- planeja, em vez de estar fazendo, está plane-
cessário romper a estrutura tradicional. Por jando”, concluiu. n

38 revista Ciab FEBRABAN


Plenária ISO TC68 2017
é realizada no Rio de Janeiro
Delegações provenientes de 49 países
participaram do evento organizado pela
ABNT e patrocinado pela CIP, ANBIMA e B3

O Brasil sediou a plenária anual do Comitê Técnico ISO mentar o debate e a troca de experiências sobre a utilização
TC68, o fórum global de padronização para a indústria de de blockchain pela indústria de produtos e serviços financei-
produtos e serviços financeiros da ISO – International Or- ros, além de assuntos relacionados à modelagem, sintaxe,
ganization for Standardization. inovação, laboratórios e incubadoras. Por ser um grupo de
O evento foi realizado na cidade do Rio de Janeiro, en- aconselhamento técnico, o FinTechTAG não atuará direta-
tre os dias 15 e 19 de maio. Delegações provenientes de 49 mente no desenvolvimento de novos padrões internacionais.
países participaram das discussões e deliberações no âmbito Além das deliberações no escopo da revisão estratégi-
dos comitês e subcomitês de padronização, reunindo mais ca, os trabalhos de desenvolvimento, harmonização e revisão
de 90 participantes, dentre chefes de delegação, delegados- de padrões internacionais de identificação e classificação
-membros e membros observadores. de ativos financeiros estiveram no centro do debate durante
Diversos assuntos estiveram em pauta durante as reu- toda a semana de reuniões.
niões, com destaque para a revisão estratégica do Comitê Técni- Um dos assuntos discutidos foi a antecipação da re-
co ISO TC68, concluída com a aprovação de uma nova estrutura visão do código ISIN – Internacional Securities Identifica-
para o Comitê, a partir da criação de dois novos Subcomitês: tion Number – submetida por sua Autoridade de Registro,
• SC8 – Reference Data for Financial Services; e a Associação das Agências Numeradoras Nacionais (ANNA
• SC9 – Information Exchange for Financial Services. – Association of National Numbering Agencies). As conver-
Com a criação destes dois novos grupos, a atuação do sas também abordaram a elegibilidade do FIGI – Financial
Comitê Técnico ISO TC68 deixa de ser pautada pela segmen- Instrument Global Indentifier – como um padrão ISO para
tação entre mercados de pagamentos e de capitais, e passa a identificação de instrumentos financeiros, conforme pro-
a ser direcionada ao processo que desenvolve iniciativas de posta submetida pela OMG – Object Management Group.
padronização internacional para a indústria de produtos e Também foram discutidos os processos de revisão e
serviços financeiros. implementação das novas diretrizes regulatórias pela Co-
A reestruturação aprovada determinou ainda o encer- missão Europeia de Valores Mobiliários (ESMA – European
ramento dos trabalhos dos Subcomitês SC4 - Securities and Securities and Markets Authority), que devem entrar em
Related Financial Instruments; e SC7 – Core Banking, de vigor no início do próximo ano.
forma que todos os trabalhos em andamento foram formal- Dada a complexidade do debate, o recém-criado Subco-
mente transferidos para os novos grupos. mitê SC8 optou por aguardar pela implementação dos novos
Ainda como parte da revisão estratégica, foi aprovada requisitos regulatórios pela ESMA, em janeiro de 2018, antes
a criação de um novo grupo de aconselhamento técnico (Te- de considerar a revisão da norma ISO 6166 que trata do có-
chnical Advisory Group – TAG) para fintechs, com o objetivo digo ISIN – Internacional Securities Identification Number.
de promover o engajamento desta comunidade nos traba- A próxima plenária anual do Comitê Técnico ISO TC68
lhos desenvolvidos no âmbito do Comitê Técnico ISO TC68, deverá ocorrer em Zurique, na Suíça, em abril de 2018. n
e garantir a efetividade na utilização e desenvolvimento de
padrões internacionais que atendam e acomodem as neces- Liliane Dutra, economista, especialista em Padronização
sidades deste público. e Integração de Informações, coordenadora da Comissão
Está no escopo de trabalho do FinTechTAG promover Brasileira de Estudo Especial de Serviços Financeiros –
discussões e intercâmbio de informações relacionadas à ABNT/CEE-112 e consultora da CIP para Padronização
implementação de tecnologias emergentes, bem como fo- Internacional de Informações.

revista Ciab FEBRABAN 39


instituições digitais

A revolução dos bancos


Por Françoise Terzian

Ser digital tornou-se uma prioridade para o setor.


Dos gigantes como Bradesco e Itaú aos novatos
Original e Neon, aplicativos pelo celular ganham
maior destaque, representatividade e resultados

40 revista Ciab FEBRABAN


Luiz Michelini/FEBRABAN
instituições digitais

O
ser digital não tem gênero, cor ou volume impensável antes da ascensão da in- Luiz Carlos Trabuco
modelo de crédito. Remotamente, ternet. Até inteligência artificial é usada para Cappi, presidente
do Bradesco,
com um celular nas mãos, qualquer analisar comportamentos e definir próximos
visita estande do
indivíduo hoje está tecnicamente habilitado passos. “Nunca na história do capitalismo ti- Next, plataforma
a resolver a maior parte das questões de sua vemos tanto para focar no consumidor”, diz 100% digital da
vida financeira. Ir ao banco – ou ao caixa Rial, que já tem cerca de um terço dos 37 instituição lançada
eletrônico – é necessário apenas para quem milhões dos correntistas do Santander usando na véspera da
quer sacar. Isso se houver necessidade de di- ativamente os canais digitais para movimentar abertura do Ciab
FEBRABAN
nheiro em papel. “A revolução digital tem a a própria vida financeira.
ver com o novo momento da sociedade e não E o uso do celular, como já era de se
com tecnologia”, afirmou Sergio Rial, CEO imaginar, é uma realidade sem volta, na roti-
do Santander Brasil, um dos keynote speakers na de praticamente todos os bancos. Das 21,9
do Ciab FEBRABAN 2017. bilhões de operações realizadas no passado, o
Ele lembra que, diante do dinamismo des- mobile banking já responde por um terço des-
se movimento, até o Facebook pode se tornar te montante. Levantamento feito pela revis-
obsoleto. “O maior risco hoje não é de crédito, ta Ciab FEBRABAN revelou que já existem
é reputacional”, diz ele. “O caso da United Air- hoje no país quase 1 milhão de contas abertas
lines e do passageiro que foi retirado à força do de forma digital _ ou seja, sem a necessidade
avião expõem o novo momento da sociedade.” de ir a uma agência. Esse número deve chegar
Ou seja: o banco tem sistemas que asseguram se a 3,3 milhões até o final do ano. “Hoje, o
ele receberá ou não, mas um único caso isolado brasileiro pode realizar transações bancárias
é suficiente para acabar com sua reputação. de qualquer lugar, a qualquer hora”, afirmou
Hoje, na média, banco e cliente intera- Murilo Portugal, presidente da FEBRABAN,
gem por volta de sete a dez vezes por dia, um no Ciab 2017.

revista Ciab FEBRABAN 41


instituições digitais

É um processo irreversível e prioritário para O processo de abertura da conta é total-


os bancos, dos jovens e pequenos aos tradicionais mente digital, bastando ao interessado fazer
e robustos. Essa é a realidade do setor na era digi- o download do aplicativo pelo celular (App
tal. Um dos exemplos mais recentes, que pode ser Store ou Google Play) ou site. O envio dos
considerado um divisor de águas entre o passado documentos também é feito pelo smartphone.
bancário e o presente digital de uma instituição, é Depois que a conta é aberta, o cliente tem
o Bradesco, que mergulhou no conceito e lançou cinco meses de gratuidade, sem tarifa de servi-
o Next, sua plataforma 100% digital. ços nem anuidade do cartão de crédito. No dia
A nova plataforma de relacionamento a dia, além de resolver praticamente tudo pelo
Antonio Gustavo com o usuário, que se dá por meio de ferra- celular, o cliente pode usar o cartão de débito
Matos do Vale, do mentas interativas de análise do comporta- e crédito nas máquinas de autoatendimento
BB, diz que banco mento, foi lançada no dia 5 de junho e trans- Bradesco, rede Banco 24Horas e estabeleci-
tem laboratório
formou-se em uma das grandes vedetes do mentos comerciais.
em Palo Alto, na
Califórnia, dentro Ciab FEBRABAN 2017. Nos primeiros cinco O Next tem um objetivo claro: relacionar-
de uma incubadora dias, a adesão foi de mais de 30 mil pessoas -se com os clientes que buscam novas formas
com 100 startups físicas, o foco da plataforma no momento. de gerenciar o dinheiro. Para facilitar seu uso,

Luiz Michelini/FEBRABAN

42 revista Ciab FEBRABAN


instituições digitais

o banco aposta na linguagem direta e em um


sistema inteligente com algoritmos que permi-
tem entender o comportamento dos usuários.
“Ele cumpre o papel de gestor financeiro, ofe-
recendo ferramentas para que a organização do
dinheiro esteja sempre apoiada nos momentos
de vida do usuário”, afirma Mauricio Minas,
vice-presidente do Bradesco.
Por trás do Next, vale contar, rodam ferra-
mentas de big data e analytics com algoritmos
inteligentes, capazes de mapear o comporta-
mento do cliente e sugerir as melhores soluções
para a gestão do dinheiro.
Em setembro do ano passado, o Itaú Uni-
banco anunciou ao mercado a possibilidade
de abertura de conta corrente de forma 100%
digital, por meio do aplicativo abreconta, que
permitia transmitir cópia dos documentos e
de foto do cliente. “O processo de abertura de
contas era o último passo que faltava para o Itaú
oferecer aos clientes a possibilidade de ter 100%
de suas demandas atendidas pelo canal digital”,
diz Rubens Fogli, diretor do Itaú Unibanco.
Em maio deste ano, o Itaú anunciou um
Luiz Michelini/FEBRABAN

novo produto ao mercado, que define como


pioneiro. Trata-se do App Itaú Light, para
pagamentos e transferências. Ele visa engajar
os clientes que ainda estão se familiarizando
com esse universo. Desenvolvido com base poupança, realizar pagamentos e fazer trans- Rubens Fogli, do
em pesquisas com clientes, o aplicativo se ferências - serviços que representam 66% das Itaú Unibanco:
dirige a pessoas que desejam as facilidades transações feitas no banco. conta corrente
100% digital
e a conveniência da relação digital com o No Santander, 7,1 milhões de clientes -
possibilita que
banco, mas têm acesso limitado à internet 34% dos clientes do banco - já vivem na era cliente tenha
ou dificuldade em adaptar-se aos modelos digital. A maioria faz transações pelo celular e totalidade
de celulares mais modernos. tem acesso, pelo smartphone, a praticamen- de demandas
O app é leve (até 5MB), possui baixo te tudo que a instituição oferece, de acionar atendidas pelo
consumo de dados e não exige senha eletrôni- o seguro residencial a realizar uma aplicação canal digital
ca. A navegação é intuitiva e com linguagem ou resgate. “O celular vai assumir um papel
simples e coloquial para facilitar o uso. Por mais relevante”, acredita Cassius Schymura,
meio do aplicativo light, o Itaú conta que é diretor de CRM e Plataforma Multicanal do
possível consultar saldo de conta corrente e Santander Brasil.

revista Ciab FEBRABAN 43


instituições digitais

Não por acaso, desde o final do abril, o plica que é preciso digitar a senha, para abrir
banco oferece acesso gratuito ao seu app, sem o aplicativo, e, em caso de perda, roubo ou
consumir o pacote de dados do cliente. Quem furto do celular, o acesso é bloqueado após
banca o custo do uso com a operadora tele- três tentativas mal sucedidas. “O segredo da
fônica é o Santander e esse processo ocorre segurança é a continuidade do investimento,
de forma automática. Basta abrir o aplicativo. mesmo em tempos de crise”, diz.
Na rua, na agência ou no metrô, o correntista O Banco do Brasil também aposta há
pode recorrer ao banco pela tela do celular, sem tempos nos canais digitais. Hoje, soma uma
gastar nada a mais por isso. grande variedade de aplicativos e até mesmo
Hoje, dentre os canais digitais ofereci- uma pulseira (wearable) para pagamentos nas
dos aos clientes do Santander estão o internet funções débito e crédito, com a tecnologia
banking, app Santander, app Santander Way, Near Field Communication (NFC).
app SuperDigital, entre outros. Foram criadas Para estimular os clientes a integrar o ban-
novas ferramentas para aumentar o conforto co digital à realidade, o BB optou por levar
dos clientes no uso dos serviços da institui- internet sem fio às agências. O objetivo é fazer
ção. Além disso, o banco tem trabalhado com com que os correntistas, ao entrar na agência
algumas tendências atuais, como os wearables em busca de ajuda, possam, caso desejem, sim-
(tecnologia vestível). plesmente sentar, abrir o aplicativo no celular
“O banco tem uma área de inovação na ou no tablet e resolver suas demandas pela tela.
diretoria de CRM & Plataforma Multicanal Se alguma tarefa não for possível pelo celular,
que busca trazer novidades de fora para den- o cliente já estará na agência onde pode pedir
tro, embora a inovação esteja espalhada por ajuda aos funcionários.
toda organização”, conta Schymura. “O banco O BB já tem 850 das 4.800 agências com
embarcou totalmente nesta jornada de trans- internet sem fio. Serão 1.000 até setembro.
formar as relações dos clientes e já tem uma “Tudo o que realizamos é fruto de muita pes-
oferta completa nos canais digitais.” quisa em tecnologia, que é feita a fundo perdi-
O Santander reestruturou o modelo or- do; você perde para ganhar”, afirma Antonio
ganizacional, o que permitiu velocidade na Gustavo Matos do Vale, CIO do Banco do
conclusão dos projetos e na solução de pro- Brasil. “Temos um laboratório em Palo Alto,
blemas e demandas. Para isso, foi criado na na Califórnia, dentro de uma incubadora com
sede Santander o Espaço Geração Digital, 100 startups; isso nos traz um filtro importante
com mesas de trabalho multidisciplinares das tendências.”
e colaborativas, que garantem maior flexi- Até os caixas eletrônicos dos bancos,
bilidade e agilidade. “Hoje temos mais de acredita-se, devem evoluir para atender a nova
mil pessoas trabalhando desta forma; além sociedade digital. A expectativa dos bancos é
disso, trabalhamos com profissionais de que, em um futuro não muito distante, seja
formações diversas, como antropólogos e possível realizar videoconferências na agên-
designers.” cia com um consultor de investimentos que
A segurança, embora seja um desafio estará localizado na central. O canal físico,
constante do setor financeiro, é resolvida com conforme debatido durante a Ciab 2017, con-
muita tecnologia e processos. Schymura ex- tinuará relevante.

44 revista Ciab FEBRABAN


instituições digitais

Eles já nasceram digitais


Enquanto os bancos que nasceram no dispositivos diferentes, após ter aberto sua
mundo físico investem em tecnologia e tam- plataforma para desenvolvedores do mundo
bém na contratação de antropólogos e até todo. Baccala acredita que o mercado financei-
psicólogos para entender esse movimento ro deve entrar na próxima onda de abertura da
transformador da sociedade para o digital, plataforma, o que ele chama de “open bank”.
há a categoria dos bancos 100% virtuais que Desta forma, acredita ele, ir ao banco pelo app
começam a ganhar força e a fazer barulho, a da instituição será coisa do passado.
exemplo do Original e do Neon. “O millennial (geração nascida a partir
“Depois de tirar o cliente do banco, que- do início dos anos 80) não quer sair do Mes-
remos tirar o cliente do aplicativo (o app dos senger ou do Instagram para acessar outro
bancos para uso nos smartphones)”, afirma Wan- aplicativo do banco”, acredita (na contra-
derley Baccala, CIO do Banco Original, plata- mão dos bancos tradicionais, que investem
forma digital lançada há pouco mais de um ano. para tornar seu aplicativo a porta de entra-
Ele dá como modelo de inspiração o Net- da para outros sites da internet, inclusive
flix, que pode ser acessado por mais de 800 as redes sociais). Em seis meses, o Original

46 revista Ciab FEBRABAN


instituições digitais

bateu a meta de conquistar 100 mil clientes,


prevista para um ano.
Outro banco voltado à geração dos mil-
lennials é o Neon, composto por uma equipe
bastante jovem. Ao 26 anos, Alexandre Alva-
res, diretor de Marketing do Neon, costuma
brincar que é mais fácil abrir uma conta pelo
celular do que pedir uma pizza.
Com 130 mil usuários, o Neon permite
que se abra e se acesse a conta a partir do ce-
lular. A autenticação se dá pela senha numéri-
ca, por digital (o aplicativo já faz a leitura do
dedo) ou selfie. Para ter uma conta no Neon é
preciso depositar R$ 100 que fica como fundo.
O cliente tem direito a uma TED, um saque
e uma emissão de boleto gratuitos por mês.
“Agência física não faz e jamais fará parte da
nossa estratégia”, afirma Alvares.
Baseado em pesquisas analisadas pelo
banco, o diretor de Marketing conta que 72%
dos jovens não investem e, entre os que inves-
tem, 58% aportam seus recursos na poupan-
ça, que é considerada uma das opções menos
rentáveis da atualidade. “Lançamos um plano
de investimento com objetivos, que define o
quanto se deseja poupar”, informa.
O Neon nasceu com o discurso do desa-
pego das filas, burocracia e dos papeis. Sob o
comando de Pedro Conrade, 25 anos, o Neon
é uma evolução da Contro.ly, fintech fundada
Luiz Michelini/FEBRABAN

por ele mesmo em 2014, que consistia em uma


empresa de cartões pré-pagos com validação
internacional.
A segurança, tanto nos bancos tradicionais
quanto nos 100% digitais, é uma prioridade. “DEPOIS DE TIRAR O CLIENTE
Os investimentos para garantir a privacidade DO BANCO, QUEREMOS TIRAR
dos usuários e a segurança do capital são su- O CLIENTE DO APLICATIVO”
periores à média do mercado e chegam a cerca Wanderley Baccala,
de 15% de todo orçamento de tecnologia da do Banco Original
informação revertido à questão de segurança,
afirma Alvares (Françoise Terzian). n

revista Ciab FEBRABAN 47


entrevista

Trio de tecnologias
mudará a indústria
Por Adriana Mompean

Para o vice-presidente do Bradesco, soluções com inteligência artificial agora


migram para o modelo chatbox (ferramen-
Maurício Minas, blockchain, inteligência ta que simula um ser humano em conversa
artificial e internet das coisas vão com o usuário). As aplicações de blockchain
ainda estão em desenvolvimento, e a internet
mudar o comportamento do usuário e das coisas, ainda em estágios iniciais, poderá
revolucionar modelos de negócios ser a tecnologia que mais rapidamente trará
novidades para o setor bancário. “Existem
coisas incríveis que podem ser feitas, e há

N
unca tivemos, como hoje, três novos modelos de negócios para bancos a
movimentos tecnológicos simul- partir de internet das coisas.”
tâneos capazes de romper com Na entrevista concedida à revista Ciab
práticas tradicionais, com inovações como FEBRABAN, Minas também falou das ex-
blockchain, inteligência artificial e internet pectativas com o Next, plataforma digital do
das coisas. Esse trio de tecnologias mudará o Bradesco lançada no início de junho, analisou
comportamento das pessoas e transformará o fenômeno das fintechs, e fez um balanço do
indústrias e serviços, disse Maurício Macha- Ciab FEBRABAN 2017. “O 27º Ciab real-
do de Minas, vice-presidente do Bradesco mente encarnou a temática principal, que é
e também presidente do Conselho Ciab ‘ser digital’”, afirmou. “Eu vejo as empresas,
FEBRABAN, em entrevista para a revista os bancos falando do cliente, falando para o
durante o congresso. cliente; esta é uma grande mudança.”
“Nós não podemos apostar em uma só
tendência; precisamos enxergar que isto está O Bradesco lançou no início de junho o
se movendo em paralelo e prever, na medida banco digital Next. Qual é a expectativa
do possível, qual será o comportamento das da instituição para a abertura de contas
pessoas em relação a estas novidades”, afirmou. neste ano?
A partir dessa análise, o desafio será criar inter- Maurício Minas – O modelo de negócios
faces “que sejam boas o suficiente para refletir do Next é de uma plataforma nativa digital.
esta revolução”, avaliou o executivo. Nossa visão é que não faz muito sentido ter
Maurício Minas lembrou que os ban- um business case numa plataforma digital. Se
cos já usam computação cognitiva e que as você olhar os exemplos históricos dos grandes

48 revista Ciab FEBRABAN


entrevista

“NÓS NUNCA TIVEMOS


SIMULTANEAMENTE TRÊS
MOVIMENTOS TECNOLÓGICOS
DISRUPTIVOS, COMO
TEMOS HOJE: BLOCKCHAIN,
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E
INTERNET DAS COISAS”
Luiz Michelini/FEBRABAN

sucessos, o business case estava absolutamente O Next é voltado para um público de al-
subdimensionado e os grandes fracassos esta- guma faixa etária específica? Não há con-
vam absurdamente superdimensionados. En- corrência para este produto no mercado?
tão, preferimos não fazer um business case e sim Maurício Minas – A faixa etária é decorrência
apostar numa visão. E a nossa visão é endereçar da proposta de valor. Nós estamos direcionan-
o Next a um público hiperconectado, onde os do o Next a um público que se comporta como
bancos estão subpenetrados, o Bradesco en- hiperconectado; em geral são jovens, mas não
tre eles. É um público que não se contenta e necessariamente só jovens. Então, se você ti-
não é atraído pela proposta de valor atual dos ver um millenial (geração nascida a partir do
bancos. É nisso que acreditamos, e achamos início dos anos 80) estendido, como a gente
que, com isso, teremos a capacidade de atrair brinca, que se comporte digitalmente, ele é um
muitos clientes e, principalmente, reter estes público-alvo também. Em relação aos outros
clientes ao longo do tempo. Não temos uma bancos: o Bradesco continua com a estratégia
estimativa em números. tradicional de acelerar os canais digitais, com

revista Ciab FEBRABAN 49


entrevista

cada vez mais funcionalidades e usabilidade. acima da média da Pesquisa FEBRABAN de


Tanto o Bradesco celular como o internet ban- Tecnologia Bancária (o levantamento revelou
king, pessoa física e jurídica, continuam evo- que 57% de todas as operações bancárias de
luindo. O que nos propusemos como Next é 2016 foram feitas pelos canais digitais).
uma nova abordagem. Nós não vamos falar de
produtos e serviços financeiros. Nós falamos Com base neste perfil de cliente digital,
aqui de momentos de vidas de pessoas, e isso como o senhor vê as agências bancárias
se traduz em jornadas, e por trás de cada jorna- do futuro? Elas irão se tornar um local de
da existem produtos financeiros. Este público, relacionamento? O senhor acredita que os
de uma maneira geral, não conhece produto clientes irão optar cada vez mais em fazer
financeiro e quer conhecê-lo. Ele se preocupa suas transações com o celular, sem ter que
com aquilo que contrata, tanto no investimen- pisar em uma agência?
to quanto no crédito, e acha que a usabilidade Maurício Minas – As agências se transfor-
dos serviços nas plataformas tradicionais deixa mam, já estão se transformando, serão meno-
muito a desejar, quando comparada com as res, mais focadas em relacionamento com o
mídias sociais, que é o dia a dia dessa geração. cliente; ou seja, se transformam em um ponto
de venda, de aconselhamento financeiro. A
Então é um público totalmente novo para prestação de serviço que ainda se dá na agên-
o banco? cia migra quase integralmente para os canais
Maurício Minas – A gente direciona o Next para digitais. Entretanto, o Bradesco acredita no
um novo público. Eventualmente, vai haver mi- toque humano do servir. O relacionamento
gração de clientes já de bancos mudando para o continua para um percentual relevante de
Next. Mas a abordagem é diferente, ela é voltada nossos clientes, ainda é importante a gestão
a um público que deve somar ao que já temos. da conta, o contato pessoal. O que eu vejo
neste processo todo é que as novas gerações
Como é o perfil do cliente digital do Bra- hiperconectadas irão, ao longo do tempo,
desco? representar mais de 50% da população bra-
Maurício Minas – Nosso público digital não sileira. Hoje é um terço, daqui a cinco anos
tem uma característica dominante, ou seja, serão 55%. Precisamos de uma nova proposta
você não pode defini-lo por renda, por idade e de valor para este novo universo de clientes.
por região. Ele, de fato, está em toda a pirâmide Na minha visão, as agências vão diminuir de
de clientes do banco. Hoje temos 11 milhões tamanho, não necessariamente em número,
de clientes que praticamente usaram os canais e mudarão o seu perfil. Lembrando que o
digitais em suas transações nos últimos 90 dias, Brasil é um país continental, e existem reali-
de um total de 30 milhões que possuem con- dades distintas. Por exemplo, em São Paulo,
ta corrente conosco. Praticamente um terço é de uma maneira geral, você tem à disposição
de clientes digitais. Hoje, no total, 95% das qualquer tipo de infraestrutura, inclusive te-
transações que o Bradesco processa todos os lecomunicações; quando vamos aos rincões
dias com clientes são feitas em canais digitais, do Brasil, este cenário é diferente, então você
incluindo o ATM. Se tirarmos o ATM, fica por tem barreiras de entrada para o mundo digital
volta de 72%, 73%, um número um pouco que não existem nas metrópoles. E nós somos

50 revista Ciab FEBRABAN


entrevista

um banco dos brasileiros, e precisamos en- sistêmica. E isso quem sabe fazer são os bancos.
tender que as ofertas precisam atender a este O investimento e a maturidade em regulação
conjunto de Brasil. são muito altos. Então, portfolio abrangente,
regulação, concessão de crédito - que é uma
Então sempre teremos público para as ciência - não são commodities. Você precisa
agências? entender como o mercado funciona, como o
Maurício Minas – Não diria sempre, mas du- brasileiro se comporta. Isso é uma fortaleza
rante um bom tempo teremos público para as dos bancos incumbentes, além do aspecto do
agências. E outra consideração: um terço de custo de funding, caso a atividade seja atrelada
nossa população ainda não é bancarizada (no a crédito. Estas fortalezas são importantes para
sentido de ter conta em bancos). O sistema quem está entrando. E as fintechs trazem, para
financeiro desenvolveu canais indiretos, que os bancos, a inovação. Elas trazem aos clientes
são os correspondentes bancários, exatamente uma experiência que eles não tinham tradicio-
para atender a este público. Parte da presta- nalmente conosco.
ção de serviços está sendo feita pelos canais
indiretos, mas uma parte importante ainda é Oscar Salazar, cofundador do Uber, disse
feita nas agências. Essa é a característica do em palestra no Ciab FEBRABAN que ainda
Brasil. Somos um país emergente, em desen- não viu nenhuma fintech com um produto
volvimento, e a população se comporta como extremamente disruptivo, que possa vir a
a de um país emergente. ameaçar os bancos. Em sua opinião, as fin-
techs podem ameaçar os bancos?
Como o senhor analisa o fenômeno das Maurício Minas – Eu não vejo assim, não
fintechs? São parceiras, competem com são só as fintechs. Nós estamos num processo
os bancos ou ambas as coisas? de desintermediação financeira. Isso teorica-
Maurício Minas – Há algum tempo atrás, os mente pode ser feito por uma fintech, mas
dois lados se enxergavam como ameaça. Nos elas têm todas as limitações que eu já citei,
últimos dois anos, esta relação é muito mais e a minha visão é que elas vão ter parcerias
de oportunidades. Nós, como bancos, temos com os bancos. E existem outros agentes e
condição de dar às fintechs aquilo de que elas plataformas em outras verticais da economia,
precisam para ter sustentabilidade, entre outras que não são financeiras, que começam a ter
coisas. Acredito que a abrangência de port- uma certa interseção com bancos. Eu vejo esse
fólios de produtos é muito importante para potencial de desintermediação já acontecendo.
quem está aderindo a uma plataforma digital. E existem tecnologias que viabilizam isso e
Não vejo os clientes com meia dúzia de ícones aceleram; por exemplo: o blockchain. Então,
para funções financeiras. Eu vejo sim um hub, cabe aos bancos enxergar qual é o seu papel em
como é o caso do Next, onde, a partir daí, o um novo modelo macroeconômico, onde não
usuário faz tudo. Existe também a questão da há mais uma distinção clara entre indústrias.
regulação. No sistema financeiro, nós mexemos O que importa, de fato, é ter uma proposta
no principal patrimônio das pessoas, que é o boa o suficiente para atrair clientes, e que ela
dinheiro. E isto tem que ser regulado, inclusive seja boa para encantar, para que, ao longo do
em outros aspectos, para garantir a integridade tempo, você retenha esses mesmos clientes. O

revista Ciab FEBRABAN 51


entrevista

banco se transforma, já está se transformando; o Watson [serviço de computação cognitiva


e, daqui a alguns anos, provavelmente, nós criado pela IBM], com experiência de sucesso
vamos ter uma outra cara. de mais de um ano. Superou todas as expec-
tativas. Agora, a inteligência artificial migra
Nós passamos por várias ondas no sistema para um modelo de chatbox (ferramenta que
bancário, entre elas, podemos citar, a cria- simula um ser humano em conversa com o
ção das agências, dos caixas eletrônicos, do usuário). A internet, como ela é hoje, não será
Sistema Brasileiro de Pagamento; e a par- suficiente. As pessoas não querem mais só se-
tir dos anos 90, o surgimento do internet rem informadas, elas querem um motor por
banking; e, mais recentemente, do mobile trás, que, além da informação, passe conclu-
banking. Em sua opinião, qual deverá ser sões. Eu não vejo a internet atual sustentável.
a próxima onda tecnológica que iremos Ela muda com inteligência artificial por trás,
presenciar no segmento? que são os chatbots. O blockchain ainda é o que
Maurício Minas – Vivemos um momento único está em desenvolvimento, as plataformas exis-
da história moderna da civilização. Nós nun- tem, mas as aplicações ainda não. O modelo
ca tivemos simultaneamente três movimentos está correto, que é a formação de consórcios,
tecnológicos disruptivos, como temos hoje: porque o blockchain exige interoperabilidade.
blockchain, inteligência artificial e internet das Aqui no Brasil existem trabalhos importantes,
coisas. Estas três possibilidades, que mudam a coordenados pela FEBRABAN; e nós estamos
forma como as pessoas se comportam e resolvem dando uma cara brasileira e colocando estas
coisas, vão fazer com que todas as indústrias se prioridades em nível global, já que a cadeia de
transformem. Eu acho que os bancos precisam valor e o ecossistema não são exclusivamente
enxergar isso de uma forma um pouco mais nacionais. Por fim, internet das coisas, na curva
holística. Nós não podemos apostar em uma de tempo, é a que está atrás, mas talvez seja
só tendência. Precisamos enxergar que isto está a que mais rapidamente se acelere. Existem
se movendo em paralelo, utilizar positivamen- coisas incríveis que podem ser feitas e há novos
te e prever, na medida do possível, qual será o modelos de negócios para bancos a partir de
comportamento das pessoas em relação a estas internet das coisas.
novidades, e criarmos interfaces que sejam boas
o suficiente para refletir esta revolução. Como o senhor analisa o 27º Ciab FEBRABAN?
Maurício Minas – O 27º Ciab realmente en-
Então podemos esperar em breve soluções carnou a temática principal, que é “ser digi-
e produtos novos com estas tecnologias? tal”. Eu vejo as empresas, os bancos, falando
Maurício Minas – Sem dúvida. Do ponto de do cliente, falando para o cliente. Esta é uma
vista de experiência, o em breve já aconteceu. grande mudança. O Ciab é uma excelente
No nosso caso é o Next. Nós estamos inovan- oportunidade para o Brasil buscar uma agenda
do e aumentando a atratividade da nossa ofer- positiva. Estávamos aqui falando de negócios,
ta. As tecnologias têm maturações distintas. de um país que continua crescendo, de uma
Os bancos já usam inteligência artificial. No economia pujante. Nós tivemos um dos me-
nosso caso, usamos computação cognitiva, e lhores, ou o melhor Ciab dos últimos anos, em
a principal plataforma, que não é a única, é termos de conteúdo e público. n

52 revista Ciab FEBRABAN


inovação

Em sintonia com
o Vale do Silício
Por Guilherme Meirelles

Os principais bancos apresentaram,


durante o Ciab FEBRABAN 2017,
suas estratégias e programas de
apoio às iniciativas de tecnologia
digital; estímulo à participação
dos colaboradores ganha força nas
instituições financeiras

54 revista Ciab FEBRABAN


Luiz Michelini/FEBRABAN
inovação

A
o sul da cidade de São Francisco, na logia digital que ocupam os três mil quilômetros Marco Mastroeni
Califórnia (EUA), a região do Vale do quadrados das cidades que compõem o Vale do diz que equipes
que ficam no
Silício provoca nos empreendedores Silício. No caso do Banco do Brasil, apesar das
Laboratório
digitais fascínio semelhante ao experimentado restrições regulatórias de um banco público, Avançado Banco
por um cinéfilo que põe os pés pela primeira como em caso de contratações diretas, a institui- do Brasil (LABB)
vez em Hollywood. No Ciab FEBRABAN ção abriu uma base em pleno vale californiano – o no Vale do Silício
2017, para medir o interesse das cerca de 300 Laboratório Avançado Banco do Brasil (LABB). retornam com
pessoas presentes no painel “Estratégias de O LABB fica dentro da aceleradora Plug a missão de
transformar os
Inovação no Vale do Silício”, o diretor-execu- and Play. Conta com um executivo expatriado
conhecimentos em
tivo do banco Votorantim, Gabriel Ferreira, e equipes volantes de cinco pessoas, que lá per- negócios
perguntou quantos já haviam visitado o mais manecem por três meses desenvolvendo proje-
famoso polo de inovação do planeta. Com bri- tos a serem aplicados no Brasil. “Nos EUA, eles
lho nos olhos, cerca de 30% da plateia ergueu se tornam empreendedores, não podem usar
as mãos. “Os jovens não sonham mais com tecnologia ou sistemas do banco, apenas as fer-
trabalhar em consultorias, mas em tecnologia ramentas do Vale do Silício”, informa o diretor
e inovação”, constatou Ferreira. de Negócios Digitais do Banco do Brasil, Mar-
Atentos às transformações causadas pelos co Mastroeni. As equipes recebem mentoria,
sistemas e processos de inovação, os principais trocam ideias com startups, assistem palestras
bancos no Brasil têm buscado imitar, aqui, o no Google, Netflix e na Apple. “Retornam com
ambiente propício a geração de conhecimento a missão de transformar os conhecimentos em
encontrado nas mais de 300 empresas de tecno- negócios”, explica Mastroeni.

revista Ciab FEBRABAN 55


inovação

Os projetos levados ao LABB surgem


por meio do programa Pensa, que estimula
a geração de novas ideias pelos funcionários.
“No ano passado, tivemos a participação de
75 mil funcionários e foram catalogadas 5
mil ideias”, diz Mastroeni. Os projetos com
foco em inovação são submetidos a um
hackathon (maratona de programação) e vão
para uma fase de pré-incubação. Após ser
avaliado, cada projeto passa a ter um modelo
de negócio e uma definição da proposta de
valor, passando para a etapa subsequente,
que é a aceleração no Vale do Silício. Nos
próximos meses, o BB pretende ampliar o
sistema no Brasil.
Por não ser possível criar no Brasil um
ecossistema que reúna as principais compa-
nhias de tecnologia, a solução encontrada pelo
Itaú Unibanco foi desenvolver um microcosmo
no qual empreendedores, aceleradoras e inves-
tidores pudessem interagir como se estivessem
em uma colmeia digital conectada 24 horas.
Com esse espírito, desde 2015, funciona o es-
paço de coworking Cubo, uma parceria do Itaú
Unibanco com o fundo de venture capital Re-
dpoint eventures, que hoje conta com o apoio
de 11 empresas, entre as quais a Mastercard,
Microsoft, Rede, Accenture e Cisco.
Em um moderno prédio envidraçado
de 5 mil m², na Vila Olímpia (zona sul de
São Paulo), convivem 56 startups de diversos
ramos (apenas quatro são fintechs). Circulam
Luiz Michelini/FEBRABAN

diariamente pelos seis andares do prédio cerca


de 600 pessoas, das quais 350 participam de
reuniões e workshops, 80% abertos ao públi-
Gustavo Bahia diz que o programa Radar Santander antecipa co. Só que fazer parte deste seleto clube não
mudanças de comportamento, aprimora os processos de gestão, é barato. O custo de um funcionário é de
melhora a relação junto aos clientes e ajuda na comunicação R$ 1 mil (por exemplo, uma startup com 5
com os canais especializados do banco funcionários paga R$ 5 mil de aluguel), o
que não impede que haja permanente fila de
espera por uma vaga.

56 revista Ciab FEBRABAN


inovação

“O primeiro ano do Cubo pagou quase


10 anos do investimento do Itaú Unibanco no
projeto, tanto em imagens [institucional] como
em receitas”, afirma Flávio Pripas, diretor do
Cubo Coworking Itaú. De acordo com pes-
quisa interna do Cubo, o espaço já permitiu
a contratação de 50 projetos entre o Itaú e
startups. Antes do Cubo, tais contratos eram
inviabilizados devido aos processos internos
do banco, que exigiam requisitos impossíveis
de serem cumpridos pelos empreendedores,
como balanço auditado nos últimos três anos.
Também buscando benefícios para o ban-
co e acesso a oportunidades para o empreen-
dedor, o Santander criou seu Radar Santan-
der, em parceria com a Endeavor. Na primeira
edição, o programa registrou 344 inscrições
de startups (com predominância de fintechs)
e selecionou cinco projetos, que deverão ser
integrados aos sistemas e modelos do banco.
“É uma iniciativa que antecipa mudanças de
comportamento, aprimora os processos de ges-
tão, melhora a relação junto aos clientes e ajuda
na comunicação com os canais especializados
do banco”, diz o superintendente executivo de
Desenvolvimento Corporativo do Santander,
Gustavo Bahia.
As cinco selecionadas foram a Moneto
(aplicativo para microempresários), Pipefly
(ferramenta de gestão e controle), Tempest
(cybersegurança), Docway (aplicativo de saú-
de) e a Idwall (validação de documentos).
Luiz Michelini/FEBRABAN

“Com estas soluções, conseguimos entregar


velocidade para os clientes, algo que empresas
tradicionais não conseguem”, afirma Bahia.
No Bradesco, a porta de entrada das star- Flávio Pripas, do Cubo, diz que espaço
tups é pelo programa inovaBra, lançado em já permitiu a contratação de 50 projetos
2015. Além das fintechs, o programa busca solu- entre o Itaú e startups
ções inovadoras para as demais áreas do grupo,
como nos ramos de seguros e saúde. Em sua
terceira edição, o inovaBra selecionou 10 star-

revista Ciab FEBRABAN 57


inovação

Luiz Michelini/FEBRABAN
Antranik tups, que passaram por um processo interno 2 mil m² de área, onde haverá a integração
Haroutiounian, do de “customização” (adaptação aos sistemas da de das áreas de TI, de negócios e grandes
Bradesco, diz que instituição), processo no qual o banco investe fornecedores. “Vamos construir também o
startups aprovadas até R$ 140 mil por empresa. “As aprovadas espaço inovaBra Habitat, para as startups”,
para o programa
são contratadas como prestadoras de serviço e, revela Haroutiounian, sem fornecer detalhes
inovaBra são
contratadas como em alguns casos, o banco faz aporte de capital ou valores de investimento.
prestadoras de pelo fundo inovaBra Ventures”, diz o diretor Em parceria com a organização sem fins
serviço e, em alguns de Pesquisa e Inovação do Bradesco, Antranik lucrativos Artemísia, a Caixa Econômica Fede-
casos, recebem Haroutiounian. ral selecionou cinco startups por meio do pro-
aporte de capital No segundo semestre, o Bradesco irá grama Desafio de Negócios de Impacto Social
ampliar a plataforma inovaBra. Será lança- – Educação Financeira e Serviços Financeiros
do o portal inovaBra Hub, onde empresas Para Todos. As startups eleitas irão receber até
inovadoras estarão interagindo com startups R$ 200 mil cada para desenvolver projetos-
e investidores, para agregar valor e gerar ne- -piloto, com duração de seis meses, com foco
gócios. O banco deverá abrir, em Alphaville nos beneficiários dos programas sociais Minha
(Barueri), o espaço físico inovaBra Lab, com Casa, Minha Vida e Bolsa Família. n

58 revista Ciab FEBRABAN


cloud computing

Uma promessa nublada


Por Felipe Falleti

Uso de computação em nuvem avança nos


bancos, mas velocidade de adoção e benefícios
colhidos pelas instituições financeiras seguem
distantes das promessas feitas há uma década

60 revista Ciab FEBRABAN


FotoAndres/FEBRABAN cloud computing

”A
nuvem é irresistível; é mais simples puting. Apesar disso, as promessas mais ousadas Ítalo Freitas, do
e barata. Nos próximos cinco ou dez de economia de recursos e migração de softwa- Banco do Brasil,
anos, as empresas que não a adotarem res antigos para plataformas em nuvem seguem afirma que a nuvem
permite inovar
cairão na obsolescência.” O prognóstico foi fei- como apenas, bem, apenas promessas.
mais rapidamente,
to pelo celebrado escritor americano Nicholas De acordo com Ítalo Marcus Freitas, mas ressalta que
Carr, em 2008, durante o lançamento de seu gerente executivo de TI do Banco do Brasil, solução nem
livro “The Big Switch”, em que projetava um há muitos custos escondidos em projetos de sempre é a mais
avanço inexorável da computação em nuvem, nuvem, além de restrições legais para a ado- barata
definida por Carr como “a nova eletricidade, que ção dessa alternativa. “Há algumas aplicações
vai dinamizar todos os setores da economia”. financeiras que, por questões de contrato e
Uma década após a previsão do pesquisa- privacidade dos correntistas, não podem ser
dor americano, não é possível afirmar que ele hospedadas em servidores fora do Brasil, o que
tenha errado. Tampouco dizer que acertou. Um impede o uso de nuvem pública internacional”
estudo da consultoria Ovum, feita a pedido da afirmou Freitas, durante o Ciab FEBRABAN
SAP em 2016, indica que 42% dos bancos no 2017. “Há também contas complexas na hora
mundo usam soluções baseadas em nuvem. No de calcular as economias geradas pela solução
Brasil, não há um grande banco que não tenha e os gastos feitos com a adaptação de softwares
projetos importantes sustentados por cloud com- antigos para rodar em nuvem.”

revista Ciab FEBRABAN 61


cloud computing

Apesar das restrições, o BB mantém 7 gar de instalarmos um software processador de


mil servidores virtuais rodando aplicações em texto em nosso computador pessoal, por exem-
nuvem, a maior parte deles para atender o trá- plo, podemos, por meio de nosso navegador,
fego de mobile banking do Banco do Brasil. “É acessar uma aplicação em um servidor remoto
inegável que a nuvem nos permite inovar mais do Google ou da Microsoft, por exemplo.
Daniel Ferreti, do
Santander, afirma rapidamente e, por isso, não podemos ficar de No setor corporativo, essa opção pode ge-
que a adoção fora deste processo. Mas temos a consciência de rar economias gigantescas. Imagine um banco
de nuvem para que, ao contrário das promessas iniciais, nem que deseja lançar um novo app ou serviço co-
algumas aplicações sempre a nuvem é mais barata”, afirma Freitas. nectado. Em vez de comprar uma centena de
permitiu ao banco servidores para hospedar a nova solução, ele
criar formas mais
personalizadas de
Conceito promissor pode “alugar” essa capacidade computacional
fazer marketing e O termo “nuvem” refere-se ao uso de memó- de um provedor de serviços em nuvem, como
dar suporte remoto ria e processamento computacional remotos. Dell, Google ou Amazon e testar a ideia. Se o
ao cliente Serviços populares como o Dropbox, Google serviço for um fracasso, cancela-se o aluguel.
Docs e iCloud são exemplos de nuvem. Em lu- Se for um sucesso, aumenta-se o volume de ca-

Luiz Michelin/FEBRABAN

62 revista Ciab FEBRABAN


cloud computing

pacidade computacional contratada, processo


chamado de “escalabilidade”. Welson Barbosa,
diretor de Negócios para Nuvem da Dell no
Brasil, afirma que a invenção da nuvem acele-
rou a inovação em múltiplos setores da indús-
tria, inclusive financeira, por permitir testes de
novos projetos sem, necessariamente, investir
dinheiro em novas máquinas.
“Não é à toa que muitas fintechs se apoiam
exclusivamente em nuvem, pois elas não gas-
tam recursos com infraestrutura imediata-
mente, têm agilidade para implementar novas
ideias e podem crescer rapidamente, graças à
escalabilidade”, afirma Barbosa.
Entre as características mais elogiadas do
uso da nuvem, além da redução do investi-
mento imediato, está o fato de ela permitir
que dados do cliente e da empresa sejam aces-
sados por múltiplas aplicações, de diferentes
lugares. Daniel Ferreti, superintendente de
Marketing e Canais do Santanter no Brasil
conta que a adoção de nuvem para algumas
aplicações da instituição permitiu ao banco
criar formas mais personalizadas de fazer ma-
rketing, dar suporte remoto ao cliente e mes-
mo dar atendimento especial a correntistas
que movimentam pouco dinheiro. “Com a
nuvem, vêm o big data e mais ferramentas de
analytics (análise de dados coletados do usuá-
rio”, comentou o executivo, durante partici-
pação no Ciab FEBRABAN 2017. “Na ponta,
isto permite conhecer melhor nosso corren-
FotoAndres/FEBRABAN

tista, atendê-lo de forma mais apropriada e,


consequentemente, torná-lo mais fiel.”

Dificuldades limitam expansão


Welson Barbosa, da Dell, diz que a invenção
Se há tantas vantagens em termos de custo e
da nuvem acelerou a inovação em múltiplos
inovação, afinal, por qual motivo a nuvem não setores da indústria, inclusive financeira
se tornou totalmente dominante no setor ban-
cário? Confiabilidade e segurança são dois mo-
tivos comumente apontados por especialistas.

revista Ciab FEBRABAN 63


cloud computing

Diferentemente de uma máquina hospe-


dada no data center do banco, o uso de nu-
vem pública (quando aplicações de terceiros
rodam simultaneamente em máquinas fora
da estrutura do banco) exige confiar que um
provedor independente vá cuidar tão bem dos
dados do cliente quanto o banco cuidaria.
Mais do que isso, é preciso acreditar que o
terceiro manterá o serviço rodando, no ar, o
tempo todo e a salvo de hackers. “Há razões
técnicas e culturais para os bancos verem com
um pé atrás esta situação e, por isso, darem
passos cautelosos em sua direção”, afirma Ítalo
Freitas, do BB.
Softwares antigos, desenvolvidos ao lon-
go das décadas de 80, 90 e mesmo início dos
anos 2000, também não podem ser facilmente
migrados para nuvem. A eles dá-se o nome
técnico de “legado”, ou seja, soluções dese-
nhadas originalmente antes da invenção da
nuvem, que certamente não são o “estado da
arte” da tecnologia, mas funcionam perfeita-
mente, atendendo às exigências de bancos e
correntistas.
Segundo Boris Kuszka, arquiteto de so-
luções da Red Hat, empresas de tecnologia
em todo o mundo têm se esforçado para en-
contrar soluções que permitam aos bancos
desfrutar dos benefícios da nuvem ao mesmo
tempo em que se protegem dos riscos da mi-
gração, como a criação de nuvens híbridas
com cache. Em linguagem não técnica, isto
quer dizer organizar um mix de uso de nuvem
pública (mais barata, porém com mais riscos
associados) com nuvens privadas (um tipo de
nuvem usada por um único cliente e total-
mente sob seu controle, solução mais cara,
porém com menos riscos envolvidos) aliadas
a uma camada adicional de memória (cache),
que copia dados antigos para servidores no-
vos, permitindo que estes sejam acessados
mais velozmente.
“Sempre foi improvável que um setor tão
preocupado com segurança, até por questões
culturais, mergulhasse de cabeça na nuvem

64 revista Ciab FEBRABAN


Luiz Michelin/FEBRABAN
cloud computing

pública, mesmo que esta tenha os critérios instituições de credibilidade, como o Ban- Boris Kuszka, da
mais sólidos de criptografia”, diz Kuszka. Ve- co Central, devem estruturar seus próprios Red Hat, diz que
rificamos com muita força, porém, no uso de centros de processamento, a serem ofereci- empresas de TI têm
se esforçado para
soluções híbridas pelos bancos.” dos para bancos públicos e privados como
achar soluções
Nesse cenário, softwares antigos (le- “transbordo”. A ideia é simples: se a nuvem que permitam aos
gados) dos bancos passam a ser migrados privada do banco A tiver um pico de acessos, bancos desfrutar
gradualmente para uma nuvem privada, ou pode-se usar, temporariamente, a capacidade dos benefícios da
seja, cria-se uma arquitetura de nuvem, po- computacional de uma instituição terceira, nuvem ao mesmo
tempo em que se
rém sob total controle da instituição finan- no modelo nuvem pública.
protegem dos riscos
ceira, com servidores físicos instalados em Ainda que as promessas desenhadas há da migração
sua sede. Este modelo, de nuvem privada, uma década não tenham se realizado comple-
é usado também para armazenar informa- tamente, é consenso entre os executivos dos
ções críticas, como dados dos correntistas, bancos que a nuvem continua irresistível, como
históricos de transações e contratos digitais. previu Nicholas Carr. Se não avançam em velo-
Aplicações não essenciais, como a automa- cidade de cruzeiro, como imaginado, todos os
ção de redes e atividades operacionais da TI fatores apontam para uma brisa leve e constan-
de um banco podem ficar hospedadas em te, espraiando a computação em nuvem para
nuvem pública. Em meio a este processo, cada ponto da TI bancária. n

revista Ciab FEBRABAN 65


machine learning

Bancos aproveitam
inteligência artificial
para entender
melhor clientes
Por André Luís Nery

É um paradoxo: com mais tecnologia,


Palestra bancos humanizam atendimento
sobre machine
learning no Ciab
FEBRABAN 2017

66 revista Ciab FEBRABAN


machine learning

Luiz Michelini/FEBRABAN
D
úvidas de clientes, solicitação de
serviços e variados negócios financei-
ros são, cada vez mais, tratados pelos
bancos brasileiros com tecnologias baseadas
em inteligência artificial, como machine le-
arning (aprendizado de máquina) e compu-
tação cognitiva, para impulsionar negócios.
A análise de dados possibilita atendimento
personalizado por parte das instituições fi-
nanceiras, sofisticando a relação entre bancos
e clientes. O avanço nessa área foi assunto de
debate entre executivos dos grandes bancos
do país e especialistas em tecnologia no Ciab
FEBRABAN 2017.

“AS PESSOAS NÃO TÊM RESISTÊNCIA


DE UTILIZAR UM DISPOSITIVO MÓVEL
Luiz Michelini/FEBRABAN

PARA CONVERSAR COM O BANCO”


Felipe de Melo Rosa, do Banco do Brasil

revista Ciab FEBRABAN 67


machine learning

“A PARTIR DE
Entre as tecnologias mais populares ci- intenção é que a pessoa receba o atendimento
ADVANCED
ANALYTICS, tadas durante o congresso estão os chatbots na linguagem dela, no tempo dela, sem se pre-
ENTENDEMOS (ferramenta que simula um ser humano em ocupar com terminologia bancária.” Segundo
O QUE O CLIENTE conversa com o usuário). Esse tipo de solução Rosa, o cliente está cada vez mais conectado,
PRECISA NAQUELA é usada, por exemplo, pelo Banco do Brasil. independente da classe social. “As pessoas não
HORA E “Nós estamos usando assistentes, os chatbots, têm resistência de utilizar um dispositivo móvel
APRESENTAMOS
para fazer um atendimento mais humanizado”, para conversar com o banco”, diz.
A MELHOR OFERTA
PARA ELE” destacou Felipe de Melo Rosa, gerente de Di- Outro exemplo do uso dessas tecnologias
Jeovânio visão do Banco do Brasil. “É meio paradoxal foi citado pelo gerente de Departamento de
Bitencourte, do BB falar que um robô é mais humanizado, mas a Pesquisa e Inovação do Bradesco, Marcelo Ri-
Luiz Michelini/FEBRABAN

68 revista Ciab FEBRABAN


machine learning

beiro Câmara. Ele destacou a adoção, há mais podem ajudar a melhorar o relacionamento
de um ano, da plataforma de inteligência ar- com os clientes. “A gente pode identificar o
tificial chamada BIA (Bradesco Inteligência que ele quer, o que ele gosta, como prefe-
Artificial), utilizada para tirar dúvidas dos re interagir e oferecer uma experiência mais
funcionários. “Hoje são respondidas mais de personalizada”, afirmou. “Com inteligência
94% de todas as perguntas feitas por nossos artificial e algorítimos, a gente consegue en-
funcionários de agências; são mais de 65 mil tender o perfil de cada cliente.”
usuários diretos”, diz Câmara.
Na avaliação do executivo, as inovações Personalização
na área de inteligência artificial e de dados Segundo o superintendente executivo de
E-commerce do Santander, Max Gutier-
rez, o machine learning faz toda a diferença
quando a inteligência é usada “para enten-
der o indivíduo, entender o consumidor e
construir um banco individual”. Gutierrez
ressalta que as instituições precisam repensar
sua estrutura, que exigia do cliente procu-
rar contato com os bancos por meio das
agências físicas, por telefone ou em caixas
eletrônicos. “Precisamos desconstruir nosso
modelo atual para conseguir evoluir, para
estar onde o cliente precisa.”
O gerente executivo do Banco do Brasil,
Jeovânio João Bitencourte, concorda com a
ideia de fazer com que os bancos usem “inte-
ligência artificial para entender o momento de
vida do cliente”. “A partir do que chamamos
de advanced analytics (análises avançadas), a
gente entende o que o cliente precisa naquela
hora e apresenta a melhor oferta para ele”, dis-
se. “É uma individualização da necessidade do
cliente; é a capacidade que eu tenho de agregar

Plataforma de inteligência
Luiz Michelini/FEBRABAN

artificial é utilizada
para tirar dúvidas dos
funcionários do Bradesco,
afirma Marcelo Câmara

revista Ciab FEBRABAN 69


machine learning

“O MACHINE
LEARNING
FAZ TODA
A DIFERENÇA
QUANDO A
INTELIGÊNCIA
É USADA PARA

FotoAndres/FEBRABAN
ENTENDER
O INDIVÍDUO”
Max Gutierrez,
do Santander

Estevão Carcioffi
Lazanha, do Itaú:
Luiz Michelini/FEBRABAN

tecnologias
permitem
oferecer soluções
individualizadas

70 revista Ciab FEBRABAN


FotoAndres/FEBRABAN

valor para a vida dele e dizer assim: ‘eu consigo do executivo, o mais importante é a capacidade Sérgio Medeiros,
te ajudar nesta hora e neste momento com da companhia em “converter essa informação da Caixa, ressalta
determinada coisa’”, analisa. em algo que faça sentido para o cliente”. a importância
da integração
O diretor de Engenharia de Dados do Para o gerente da área de Desenvolvimen- dos dados:
Itaú Unibanco, Estevão Carcioffi Lazanha, to de TI da Caixa, Sérgio Medeiros, a institui- “OS BANCOS
também acredita que essas tecnologias per- ção financeira tem que começar a “integrar os ACORDARAM
mitem aos bancos entender melhor o consu- dados”. “O banco tem um dado importante PARA O MACHINE
midor e, assim, fornecer soluções individua- que é o geográfico, por onde a pessoa anda, LEARNING”
lizadas. “O primeiro grande movimento é na tem o do cartão de crédito e tem o do extra-
forma de uma compreensão maior do cliente, to bancário. São dados financeiros”, afirma.
entendendo que existe produtos específicos Entretanto, afirma que existem alguns dados
para cada um e para cada um dos momentos difíceis de capturar. “Por exemplo, o cliente
de sua vida”, disse. “Essa compreensão possi- olhou uma televisão. Como você sabe que ele
bilita a criação de soluções individualizadas, quer comprar uma TV?”, questiona o executivo
e não massificadas.” da Caixa. É aí que entra a importância das no-
Lazanha enfatiza ainda que o desafio é vas tecnologias, diz ele. “Os bancos acordaram
“abandonar uma visão de segmentos, grupos, para o machine learning”, garante. “A gente vai
perfis semelhantes, e entender que cada cliente ter grandes surpresas, a própria Caixa Econô-
é um indivíduo com aspirações, medos, incer- mica estará colocando coisas no mercado, nos
tezas e sonhos a realizar. Tudo isso pode ser próximos meses; os softwares vão começar a
visto a partir da análise de dados, mas, na visão ter inteligência reflexiva.”

revista Ciab FEBRABAN 71


machine learning

Painel debate
agência do futuro

Apesar da constante migração do consu-


midor para os canais de atendimento digital,
as agências bancárias continuam desempe-
nhando papel importante no atendimento aos
clientes e deverão passar por um momento
de readequação e redefinição de seu papel.
O tema foi discutido no painel “Futuro das
Agências e Agências do Futuro” durante o
Ciab FEBRABAN 2017.
De acordo com a Pesquisa FEBRABAN
de Tecnologia Bancária, as transações nos ca-
nais digitais representaram 57% do total das
operações no ano passado; só o mobile banking
foi responsável por 34%. Apesar de ter regis-
trado um crescimento de 140% nas transações
com movimentação financeira, 95% das ope-
rações no mobile são de transações sem movi-
mentação financeira, como consultas de saldos.
“Quando você fala da preferência dos
clientes na utilização dos canais, você ainda
vê a importância da agência para a compra
de produtos completos, como financiamento
imobiliário e seguro, ou para resolver proble-
mas”, disse Andréa Fodor, gerente regional de
Vendas da Cisco.
FotoAndrés/FEBRABAN

Na avaliação do gerente executivo da uni-


dade de Canais do Banco do Brasil, Frederico
Queiroz Filho, “não é o ambiente físico ou
o aparato high tech disponível que determina
Frederico Queiroz Filho, do BB, diz que
a tecnologia continuará desenvolvendo a agência do futuro, mas, sim, o papel que a
soluções cada vez mais acessíveis, o que não agência terá no futuro, em um mundo cada
significa a extinção das agências físicas vez mais digital”. O executivo do Banco do

72 revista Ciab FEBRABAN


FotoAndrés/FEBRABAN
machine learning

Brasil ressalta que a tecnologia continuará evo- talmente o atendimento físico. “As pessoas Para Sergio Biagini,
luindo e desenvolvendo soluções cada vez mais procuram os bancos não só para fazer ope- da Deloitte, bancos
acessíveis, o que não significa a extinção das rações, mas por que tem um valor agregado terão que repensar
rede de agências
agências físicas. naquilo”, afirmou. “Elas veem a marca, se e defini-las de
Para Sérgio Medeiros, da Caixa, as agências identificam com os valores e a missão daquela forma estratégica,
físicas terão que se adaptar às mudanças cada vez instituição”, destaca. conectando
mais frequentes. “Pode ser que a agência crie Para Sergio Biagini, especialista em o mundo físico
uma nova forma de interagir com o público”, Serviços Financeiros da Deloitte, os bancos e o digital
disse. “Não vai ser mais esse modelo de agência terão que repensar sua rede. “E repensar
que a gente conhece; cada agência terá que ana- a rede não é fechar agências, é justamente
lisar o público que a visita e se adaptar.” defini-las de uma forma estratégica, conec-
Jeovânio Bitencourte, do BB, acredita tando o mundo físico e o digital.” (André
que é praticamente impossível substituir to- Luís Nery). n

revista Ciab FEBRABAN 73


meios de pagamento

O futuro já chegou
Por Martha Funke

Carteiras digitais e dispositivos vestíveis


começam a se consolidar no país

L
ançamentos baseados em biometria, para o setor financeiro, a Mastercard mostrou
dispositivos vestíveis e internet das coi- solução de pagamento de pedágio com uso de
sas começam a concretizar tendências, vi- cartões, celulares e dispositivos vestíveis, como
rar negócio e a reconfigurar o setor de meios de pulseiras. O produto nasce em parceria com a
pagamento. Mas nem só das novas tecnologias EcoRodovias, administradora do sistema Imi-
vive a inovação no setor. Além da consolida- grantes, da rodovia Ayrton Senna e da ponte
ção de produtos como carteiras digitais, sur- Rio-Niterói, e dona da Sem Parar. O primeiro
gem modelos de negócios diferenciados com emissor é o Santander e, de início, o produto
a evolução dos marcos legais e inspiração das atende motociclistas. Os primeiros testes co-
fintechs, como a plataforma Digio, do banco meçarão em breve, ainda sem data definida.
CBSS, na esteira do Nubank. O Banco do Brasil também apresentou
Novidades que já estão no mercado e ten- pulseira de pagamentos que funciona como
dências de novas soluções e produtos foram espelho do cartão principal, custa R$ 70, sem
apresentadas ao público no Ciab FEBRABAN anuidade, e tem funções débito e crédito. “Em
2017. Durante os três dias do congresso de TI três dias depois do lançamento, em 1º de ju-

74 revista Ciab FEBRABAN


meios de pagamento

nho, tivemos três mil solicitações”, comemo-


rou o diretor de Meios de Pagamento do BB,
Rogério Panca.
A pulseira tem um chip embutido e per-
mitirá pagar compras de até R$ 50 sem con-
tato nem senha: o lojista diz qual é a forma
de pagamento escolhida pelo cliente, débito
ou crédito, digita o valor e solicita ao usuário
que aproxime a sua pulseira da maquininha. O
pagamento é concluído em poucos segundos. A
estimativa é liberar 10 mil unidades até agosto.
O banco criou campanha para divulgar o uso
do smartphone para pagamento por aproxima-
ção com uso da carteira digital.
Apesar da massificação do uso do celular no
Brasil, seu emprego como meio de pagamento
ainda é incipiente. No Itaú Unibanco, respon-
sável por quase 40% do mercado de cartões de
crédito do país em 2016, o celular é usado para
75% dos contatos em canais de relacionamento e
operações, para consulta de extrato ou pagamen-
to de contas. Mas responde por menos de 10%
das operações de aquisição e bens ou serviços, fei-
tas, na grande maioria, por meios de pagamento
como os cartões, dinheiro ou cheques, segundo
o diretor de Produtos e Pagamentos Digitais do
Itaú Unibanco, Rubens Fogli.

O Brasil e a biometria
Luiz Michelini/FEBRABAN

A evolução da biometria foi um dos destaques


do Ciab FEBRABAN 2017. A Visa levou ao
congresso de tecnologia uma máquina de ven-
das com autorização de compra por reconheci-
mento e autenticação facial. A startup Fullface com leitor de impressão digital, cadastrada Visa levou ao
levou a tecnologia de reconhecimento facial no emissor para autenticação no momento da congresso de TI
com algoritmo capaz de checar 1.024 pontos compra. Em 2016, a empresa lançou mundial- máquina de vendas
com autorização
dos rostos e a Saffe apresentou sua tecnologia mente a solução Identity Check Mobile, já em- de compra por
de autenticação por selfie. pregada em 16 países, mas ainda não adotada reconhecimento e
John Sheldon, vice-presidente de Inova- no Brasil, com autenticação digital e facial que autenticação facial
ção do Mastercard Labs, detalhou um teste pode eliminar o uso de senhas. “A biometria
feito na África do Sul com cartão turbinado aumenta a segurança”, defendeu.

revista Ciab FEBRABAN 75


meios de pagamento

Depois de adotar a biometria em cai- O próximo passo é o lançamento da Digio


xas eletrônicos, o Brasil está preparado para Store, aplicativo onde o usuário pode adquirir
inserir a tecnologia no setor de meios de outros apps, serviços e assistência e, em breve,
pagamento. “Basta estender o uso”, disse o contratar empréstimos. Tudo de forma digital.
vice-presidente de Produtos de Risco e Au- O Hipercard, cartão de crédito sem anu-
tenticação da Visa, Mark Nelsen, durante idade do Itaú Unibanco, também busca gerar
palestra no Ciab FEBRABAN. receitas para o banco via crediário, aprovei-
A possibilidade de usar o próprio corpo tando a recente autorização do Banco Central
para realizar pagamentos foi defendida pelo para a cobrança de valores diferenciados nos
CEO do banco CBSS, Carlos Giovane Ne- pagamentos em cartões, explicou o diretor
ves. O uso pode se dar como uma carteira ou executivo de Cartões,Veículos e Financeiras
aplicativo apoiados em biometria e inteligên- Marcos Antonio Vaz de Magalhães.
cia artificial, com funções como reunir dados
e posição financeira de diversas instituições e Regulação
monitorar fluxo de caixa, benefícios e progra- Para o diretor executivo do Bradesco, Rômu-
mas de recompensas de diversos cartões, com lo Dias, a regulação ajuda o setor a enfrentar
parâmetros para tomada de decisão. a queda de rentabilidade provocada pelo au-
mento da concorrência. Mas a recuperação
Novos modelos das margens apoia-se também em redução
Antes de chegar lá, o CBSS atua com outras de despesas, inovação e diversificação. “Por
linhas de inovação. O banco pertence à Elopar, diversificação entenda-se entrar em merca-
holding do Bradesco e do Banco do Brasil. Nas- dos, produtos e geografias pouco explora-
ceu em 2016 e tem 450 mil cartões de crédito dos”, detalha.
ativos, além de produtos como empréstimo Dados da Associação Brasileira das
pessoal e capitalização distribuídos pela pro- Empresas de Cartões de Crédito e Serviços
motora de vendas Ibri e por correspondentes, (Abecs) relativos ao primeiro trimestre deste
como Lojas Americanas, parceira na distribui- ano confirmam os impactos da regulação e
ção de empréstimos. da diversificação no setor. Em dois meses, a
Este ano o banco criou a plataforma di- nova regra para o crédito rotativo implantada
gital Digio, que já conta com 100 mil cartões pelo Banco Central fez a taxa média anual de
gratuitos emitidos. A novidade é a forma como juros despencar. Na quarta semana do mês
o banco é remunerado pelo serviço. O segundo de março, a taxa anual na média dos emis-
produto a ser lançado em breve na plataforma sores estava em 455,4%. Na quarta semana
é o crédito direto ao consumidor (CDC) onli- de maio, chegou a 207,9% entre os maiores
ne, que permitirá pagamento na internet com emissores, uma queda de 54%. A pesquisa
crédito, débito, boleto ou em até 24 parcelas mostrou também oportunidades de reforçar a
apoiado por inteligência artificial que reco- entrada dos produtos em mercados antes pou-
nhece o cliente sem que ele precise preencher co explorados, já que as taxas de crescimento
dados na finalização da compra, identificando, das regiões do interior do país são superiores
por exemplo, se o dispositivo ou o endereço de às das capitais, destacou o presidente da Abecs
entrega já foram usados para transações online. e CEO da Rede, Fernando Chacon.

76 revista Ciab FEBRABAN


meios de pagamento

Mastercard
mostrou
solução de
pagamento de
pedágio com

Luiz Michelini/FEBRABAN
uso de cartões,
celulares e
dispositivos
vestíveis

Para João Pedro Paro Neto, presidente da sustenta a moeda digital bitcoin, está sendo
Mastercard Brasil e Cone Sul, em um cená- testada, em parceria com a startup Chain, na
rio tão diversificado, o caminho é entender o plataforma B2BConnect, para validar paga-
que o consumidor quer usar, e quando. “Ele mentos entre empresas, segundo informou o
[o consumidor] vai determinar o futuro dos country manager Fernando Teles.
pagamentos”, disse. Para conhecer melhor os O pagamento em bitcoins também co-
desejos dos clientes, a Elo, segundo descre- meça a chegar ao mundo físico. A Muxi apre-
veu o diretor de Marketing da empresa, Luis sentou uma plataforma com terminais (POS)
Cassio Oliveira, iniciou estudos etnográficos que aceita a moeda e pagamentos sem conta-
(levantamento da cultura e o comportamento to. O pagamento entre coisas, outro destaque
de determinados grupos sociais), com entre- do Ciab 2017, foi além dos dispositivos vestí-
vistas em todo o país, para detalhar a rotina veis. A Cielo demonstrou o uso da plataforma
dos consumidores. de captura de pagamentos Lio com leitura de
Já a Visa aposta na inovação aberta, in- QRCode, um código de barras bidimensional.
clusive com participação de startups, para tro- A Visa, por sua vez, levou um protótipo de
car a identidade de fornecedora de meios de carro conectado, habilitado a identificar o
pagamento pela de fornecedora de platafor- esvaziamento do tanque, apontar postos de
mas (middleware) sobre as quais são construí- gasolina próximos e fazer o pagamento do
das soluções. Até a tecnologia blockchain, que combustível.

revista Ciab FEBRABAN 77


meios de pagamento

ATMs mais inteligentes


integram o mundo físico
ao digital

Luiz Michelini/FEBRABAN

78 revista Ciab FEBRABAN


meios de pagamento

Serviços e funções bancárias antes restritos de barras dimensional) na tela do terminal,


às agências começam a estar disponíveis tam- que, no celular, transforma-se em recibo da
bém nos caixas eletrônicos, os ATMs. Novida- transação. “Nossas operações visam atingir
des apresentadas no Ciab FEBRABAN 2017, tanto consumidores bancarizados quanto não
como transações por aproximação (NFC), bancarizados”, explica o presidente da empresa,
leitura de QR Code, videoconferência, biome- Givanildo da Luz.
tria facial e reciclagem avançada aumentam a A solução criada para o Banpará emprega
sofisticação dos caixas eletrônicos e permitem o ATM 6750, da Diebold Nixdorf. Além de
maior integração com outros canais de atendi- permitir abertura de contas no dispositivo móvel
mento e operação, como dispositivos móveis. com criação de senha e emissão do cartão pelo
No Pará, até pessoas sem conta bancária terminal, o equipamento tem leitor de NFC
podem remeter dinheiro para centenas de lo- e QRCode para operações sem contato físico.
cais no país, por meio de um serviço da rede “Podemos oferecer todo o serviço de
gaúcha de autoatendimento Saque e Pague, uma agência convencional de maneira 100%
que demonstrou, durante o congresso de TI, digital”, diz Elias da Silva, presidente da Die-
solução em uso no Banco do Estado do Pará bold Nixdorf no país. A marca apresentou no
(Banpará) desde fevereiro, com mais de 40 Ciab FEBRABAN um terminal inédito com
transações, incluindo emissão de cartão de aparência e modo de operação parecidos com
conta corrente, atendimento por videoconfe- um smartphone gigante inserido na parede,
rência, saques e depósitos com uso do celular que eliminou botões e impressora com uso da
e agendamento de transações a serem concluí- tecnologia multitouch (que permite o reconhe-
das no terminal. cimento da presença de dois ou mais pontos de
Um desses novos serviços é o Transfere contato com a superfície), autenticação NFC
Rápido, para remessa de dinheiro entre pessoas e recibo eletrônico.
sem conta bancária para qualquer local e banco
do país ou para contas digitais. O usuário faz Biometria
a movimentação usando um celular e o desti- A biometria multifatorial foi destaque da Oki
natário recebe um SMS com um token infor- Brasil. O modelo de ATM Adattis Recycler
mando quem depositou o dinheiro e como a permite que operações agendadas em smart-
retirada pode ser feita em um terminal Saque phones sejam validadas com biometria facial
e Pague. Outro é o Recibo Eletrônico, para e concluídas no ATM com uso de impressão
emissão de recibo gerado por QR Code (código digital. A solução Face-Tracking realiza auten-
ticação contínua do correntista por biometria
facial durante as operações – caso ele saia do
Oki Brasil apresentou o ATM campo visual do ATM, uma operação em an-
Adattis Compacta Saque, damento pode ser finalizada automaticamente.
que permite autenticação do A empresa também mostrou o ATM Adattis
correntista por biometria facial, Compacta Saque com autenticação do corren-
leitura de impressão digital e ainda
pelo recurso de palm vein
tista por biometria facial e também com leitura
de impressão digital e o recurso de palm vein
(veias da palma da mão).

revista Ciab FEBRABAN 79


meios de pagamento

“A Oki Brasil está pronta para apoiar o em operação no Brasil no ano passado, menos
processo de transformação digital dos ban- de 1% eram recicladores.
cos”, diz o presidente e CEO Wilton Ruas. O apoio ao emprego da biometria foi o
Os equipamentos recicladores podem trabalhar foco de diversos expositores do Ciab. A HID
com diversas moedas ao mesmo tempo e fazer Global, que, no Brasil, apoia cerca de 4 bilhões
câmbio de dólares por euros ou reais, incluindo de operações bancárias ao ano em ATMs espa-
moedas digitais como o bitcoin. Isso graças ao lhadas pelo país, mostrou sensores com tecno-
Terminal de
captura de leitor ótico bidimensional que, além de ler os logia multiespectral e capacidade de detecção
pagamento (POS) códigos de barras das contas, reconhece QR de “dedo vivo” (que impede fraudes com cópias
multifuncional Codes impressos ou em telas de celulares, como de silicone ou outro material) e identificação
Veloh, da Perto, os usados no câmbio de moedas digitais. de usuários mesmo com dedos sujos, engordu-
está acessível Os ATMs também aceitam depósitos em rados, molhados, desgastados ou machucados.
para deficientes
maços de notas, sem envelopes e com crédito A Formalizar e-Signature lançou produtos
visuais, com
teclado em braile em tempo real na conta do correntista. A em- como Assinatura de Analfabeto e Assinatura no
e sistema de voz presa estima que, dos 185 mil caixas eletrônicos Smartphone com base em sua tecnologia de as-

Luiz Michelini/FEBRABAN

80 revista Ciab FEBRABAN


meios de pagamento

Diebold Nixdorf
mostrou terminal com
tecnologia multitouch,
autenticação NFC
e recibo eletrônico

sinatura eletrônica com biometria manuscrita,


que captura fatores comportamentais como
pressão, velocidade, movimento aéreo, ângulo,
aceleração e ritmo.
A Recognition é outra que demonstrou so-
luções para assinatura biométrica, fruto da par-
ceria com a alemã Signotec – a empresa também
levou seus terminais de captura remota (TCR),
para autoatendimento e depósito de cheques
online, sem envelope, com captura de imagem.

Integração de canais
Já a NCR investe no conceito de integração de
canais (omnichannel) e lançou a série de ATMs
SelfServ 80. Multifuncionais e recicladores, os
dispositivos permitem função multitouch e fun-
cionalidades como assinatura direto na tela,
tela de 15 ou 19 polegadas, ofertas promocio-
nais personalizadas, tecnologia sem contato,
áudio incrementado para deficientes visuais e
funções como Picture in Picture (tela dentro da
tela) com capacidade de mostrar o ambiente ao
redor para maior segurança do usuário.
A Perto exibiu o terminal de captura de pa-
gamento (POS) multifuncional Veloh, acessível
para deficientes visuais, com teclado em braile
e sistema de voz. A tecnologia pode ser empre-
gada por correspondentes bancários e, agregada
a câmeras, permite abrir conta, com geração de
imagens de comprovantes de documentos. Tam-
bém dispõe de teclado virtual, leitor de código de
Luiz Michelini/FEBRABAN

barra e QRCode e captura de cheque depositado


com impressão no recibo e envio da imagem para
o banco. (Martha Funke) n

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