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volvimento rural.
Foz do Iguaçu-2016.
Neste artigo, a proposta de Boaventura Souza Santos é de estrema importância para
refletirmos o atual momento em que se passa nossa sociedade, em especial nossa
querida América do Sul. Seu projeto intitulado a “reinvenção da emancipação social’’,
em que estuda alternativas a globalização neoliberal, certamente é um assunto que nós,
de uma região que sofre muita influência dos países mais desenvolvidos, temos que
refletir seriamente. Pois nos é imposta uma realidade ou um papel que compromete
nossa democracia e por se tratar de um projeto hegemônico e uníssono, ele não engloba
as mais diversas realidades, contextos e subjuga diversas culturas, em favor de um
projeto de nação que certamente não é o adequado. Sua proposta de analisar seis países:
Colômbia, Índia, Portugal, África do Sul, Brasil e Moçambique para analisar os
conflitos e resistências a globalização neoliberal hegemônica, se debruçando a analisar
como se dá a globalização contra hegemônica. O autor afirma que nesses países os
conflitos contra o projeto neoliberal são mais intensos e se condensam iniciativas,
movimentos que acirram o conflito: democracia participativa, sistemas de produção
alternativos, economia solidária, multiculturalismo, direitos coletivos, novo
internacionalismo operário, etc... Sua intenção de estudar outros discursos, narrativas
sobre o mundo é de uma importância, de uma riqueza fundamental, pois tentar
compreender o mundo somente por uma ótica me parece um desperdício que impede
compreender realidades e bloqueia e muito alternativas a esse modelo hegemônico.
Temos que ter em mente que a globalização neoliberal não é o único caminho, e refletir
os mecanismos que esse modelo deslegitima as outras visões para não lhe impor
resistência e assim impor seus princípios sem muito esforço.
Sua intenção de conduzir esse projeto fora dos centros hegemônicos de produção da
ciência social tem por objetivo de criar uma comunidade científica independente desses
centros. O projeto também debruçou estudar como o conhecimento tem se relacionado
com as mais diversas culturas e como é a relação do conhecimento científico do não
científico. O projeto analisou lutas, movimentos alternativos de regiões remotas,
isoladas, mas não podemos cair na armadilha de desacreditá-las ou tratá-las como
irrelevantes, ou muito frágeis para responder a uma alternativa ao capitalismo, pois se o
objetivo é alternativa ao capitalismo, essas são regiões propícias, pois se depender de
grandes centros onde impera a visão hegemônica, isso dificilmente se mostra nesse
contexto.
O que me motivou a realizar um ensaio desse artigo foi que, na introdução, Boaventura
afirma que é preciso propor uma outra racionalidade para combater o desperdício da
experiência social, que no final das contas é a própria visão hegemônica que esconde
alternativas ou barra sou ascensão. Desafiadora tarefa, mas ao mesmo tempo de vital
importância para entender esse vazio de alternativas, essa repetição de iniciativas que
vemos em nosso meio, em que ações adotadas para alavancar mudanças ou tidas como
inovadoras, nada mais são que uma repetição do passado. Nesse contexto, o livro o
poder do atraso de José de Souza Martins dialoga perfeitamente. Em que parece que
vivemos em um círculo, sempre com a mesma filosofia, os atores que agora propõem
mudanças são as mesmas figurinhas, que em nosso país geralmente os agentes da
mudança são pessoas que no passado criam uma situação ruim, mas que surgem como
pessoas revolucionárias. Penso que pensar em integração americana, propor novos
projetos e uma verdadeira democracia passa pelo que Boaventura propõe: uma releitura
e reinterpretação da realidade. Caso latente é nosso presidente interino Temer que para
solucionar a crise econômica propõe um projeto estritamente neoliberal, com a cara dos
anos 90, enganando boa parte da sociedade, mas que no fundo faz parte desse projeto
hegemônico. E como o autor cita que as alternativas de experiência social estão a ser
desperdiçadas, por um lado é um alento que há alternativa, mas por outro avaliar porque
não consegue contrapor ao neoliberalismo com maior força. Um enorme desafio para
quem se dedica em pensar um projeto alternativo e duelar com o poderio do sistema.
Na parte em que o autor debruça ao criticar a razão metonímica, vemos que esta é
caracterizada pela ideia de totalidade sobre a forma de ordem. Penso ser demasiado
vaga essa percepção que abarca somente duas visões expostas, essa dicotomia que não
há outra percepção além de dois significados, que por trás esconde as inúmeras outras
formas e padroniza o pensamento, tendo como ideia implícita essa visão hierárquica das
relações e moldar ações e praticas conforme uma visão particular. As consequências
dessa totalidade que a visão coloca é a exclusão da ideia contrária, pois se estabelece a
dicotomia como se nada existisse no meio entre essas definições, em que deslegitima e
exclui formas de pensamento, em especial o não ocidental. Nada muito além de uma
forma de colonização indireta, pois se somente o saber ocidental, em especial dos países
ricos, sua lógica é legitimá-los e continuar impedindo o desenvolvimento dos menos
desenvolvidos. Pois os subdesenvolvidos precisam se libertar do conhecimento que lhe
é imposto e formular outras racionalidades que não a hegemônica, pois certamente sua
situação não será verdadeiramente solucionada pelo neoliberalismo. Por isso, a
compreensão do mundo que a razão metonímica não é apenas parcial, mas estritamente
seletiva. A modernidade ocidental, dominada pela razão metonímica, não só tem uma
visão limitada do mundo, como tem uma visão limitada de si própria. Pois bem, uma
racionalidade tão limitada teve primazia pelos últimos duzentos anos pois é uma
resposta do ocidente apostando na transformação capitalista do mundo, a sua visão
cultural e filosófica imposta ao oriente. Essa visão se afirma e legitimasse
autoritariamente como totalidade ao impor homogeneidade às partes que a compõem.
Dessa forma o ocidente se apropriou produtivamente do mundo e transformou o oriente
em um centro improdutivo e estagnado. Essa razão não se legitima pela argumentação,
pelo convencimento de suas qualidades. Impõe-se pela eficácia de sua imposição. Essa
transformação do mundo não se acompanha pela compreensão do mesmo. Por isso
vemos tantas calamidades, violência, destruição ambiental e silenciamento e alienação
por parte das regiões fora do ocidente. Aqui reside e esclarece a crise da falta de ideias
de progresso, o que fazer para alcança-lo, pois vivemos em uma crise de saídas para
superar a crise cíclica do capitalismo que se expressa por essa visão vaga que não da
resposta a situação que a mesma colocou o mundo com diversos problemas. Por isso a
nobre intenção de questionar essa racionalidade que nos impede de alavancar o
desenvolvimento. Essa versão abreviada do mundo impediu e impede soluções, pois
vivemos presos a uma concepção que devemos superar ou continuaremos a viver os
mesmos problemas que tanto queremos superar. O exemplo do olhar que vê uma pessoa
cultivando a terra com uma enxada que julga a pessoa como pré-moderna, atrasado, se
explica pela razão metonímica pela superioridade da modernidade, pela visão da
hierarquia. Isso se deve a arrogância presente nessa concepção, à arrogância de não
querer ver e muito menos valorizar a experiência que nos cerca, apenas porque esta fora
da razão com que se pode identificar.
Boaventura cita que estamos em uma fase de transição, que apesar da razão
metonímica estar desacreditada, questionada, é ainda a razão que impera. Por isso o
autor explica a importância de fomentar a sociologia das ausências. Pois no mundo há
vários pensadores, filosóficos, ativistas, que tentam mudar as lógicas do neoliberalismo,
sejam mudando sua conduta ou alertando a amigos. Mas a proposta aqui vai além: não
se busca apenas expor as contradições e falhas, mas transformar objetos impossíveis em
possíveis e tornar a sociologia das ausências em presença. Lógica que se enquadra bem
no momento ao qual se chegou o meio rural brasileiro ou até mesmo latino americano:
será que o modelo majoritário, que em grande medida vê o rural somente como fator de
produção, que não analisa as complexidades existentes no meio rural, está sendo uma
boa ideia? Continuar a legitimar esse modelo de exportador de bens agrícolas, que causa
inúmeros prejuízos que bloqueiam o desenvolvimento do país, que reforça o papel a que
nos é imposto pelos países mais industrializados que se beneficiam desse sistema e
travam uma industrialização que alavanque o país, impedindo que se torne um
concorrente a esses países, na medida em que se os países latinos nunca se
especializarem em produtos tecnológicos, esses terão que depender interminavelmente
dos países que chegaram a tal ponto. Será que projeto de desenvolvimento se tem nessas
condições? Tarefa árdua, pois o que aqui proposto, por tentar mudar um padrão
estabelecido há muito tempo, certamente vai exigir muita coordenação e esforços para
promover um justo processo que englobe toda a sociedade.
Sua proposta de retirar, libertar inúmeras práticas sociais como resíduo, como atividade
anacrônica e primitiva, valorizar as experiências, vai permitir um desenvolvimento
autônomo de projetos de vida, sem ter uma visão que subjugue e menospreze o outro.
Tarefa árdua no contexto de capitalismo, que padroniza comportamento e deslegitima o
outro. Nessa perspectiva, o camponês deixa de ser visto como fadado ao
desaparecimento e se torna ator de seu projeto de vida, se retira a visão que o coloca a
margem do sistema e entende e legitima sua lógica. Práticas, rituais do passado também
deixarão de ser classificados como inferiores pela proposta. Chama-me atenção o poder
de convencimento, coesão que a visão impõe aos povos e em grande medida consegue.
Refiro-me ao poder de fazer que a visão hegemônica altere hábitos enraizados em
povos, o inferioriza e faz os praticantes, em alguns casos, até sentirem aversão aos seus
hábitos de tão forte o poderio hegemônico. Por exemplo, em tribos indígenas em que
jovens, em contato com a cultura branca, sentem aversão a seus costumes.
Em sua crítica a lógica produtivista, penso que é a parte que se encaixa perfeitamente
no contexto do curso. Pois nesse domínio, a sociologia das ausências visa recuperar
sistemas alternativos de produção, economia solidária, cooperativas, etc... que a lógica
produtivista ocultou. Perspectiva controversa, pois coloca diretamente em questão o
paradigma de crescimento econômico infinito e a lógica de acumulação que sustenta o
capitalismo. Nessa perspectiva, essas práticas tidas como subalternas ganham a devida
importância e legitimidade. Essa ideia pressupõe que a realidade não pode ser reduzida
ao que existe, mas inclui as praticas que são silenciadas, marginalizadas e tidas pelo
discurso hegemônico como não existente.
Ao decorrer do texto, Boaventura cita que tanto na sociologia das ausências quanto na
sociologia das emergências, há inconformismo perante a realidade. Interessante avaliar
essa insatisfação, essa visão crítica, vislumbrar alternativas ao o que esta dado. Temos
que enfocar como proceder e fomentar esse inconformismo nas novas gerações, pois se
os mais velhos lutam, travam disputas, mais a nova geração não segue os desafios,
certamente uma proposta tão radical na medida que visa mudar todo um sistema, voltará
a estaca zero. Fato a ser pensado é a grande quantidade de jovens apolíticos, alienados
que se tornam agentes passivos. Merece prestar atenção a adotar iniciativas que
despertem visões criticas nessa classe.
Pois bem, nos dias atuais até que ganhou espaço no saber ocidental as virtudes do
multiculturalismo. Em um primeiro momento, pode até parecer que o trabalho de
tradução ou sob outra perspectiva tenha incentivado o advento de um olhar
multicultural. Assim como na questão da alimentação, que grandes empresas se
apropriam de uma imagem que transmite uma melhor impressão, como utilização de
produtos saudáveis e alimentos orgânicos, se tem que prestar atenção se a ótica do
multiculturalismo não foi absorvida pela visão hegemônica para continuar a legitimar a
hierarquização de culturas. Pois habituada a rotina de hegemonia, a visão hegemônica,
disposta a dialogar com outras culturas que antes oprimia, imaginou ou quis passar a
impressão que estas culturas inferiorizadas pela visão hegemônica estariam prontas ao
diálogo. O que poderia ser um bom sinal, no mais serviu para legitimar a hierarquia de
saber, continuar propagando o imperialismo cultural.