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Ciro Torres
INTRODUÇÃO
A realização de ações de caráter social não é uma prática tão recente no meio
empresarial. Entretanto, foi durante o período que se estendeu do final dos anos 60
parte da Europa que uma atuação mais voltada para o social ganhou destaque,
que levaram para o universo das empresas diversas demandas por transformação na
movimento sindical e estudantil europeu, nas lutas pelos direitos civis norte-americanos
Welfare State ou Estado de bem-
e nas manifestações contra as armas químicas utilizadas na Guerra do Vietnã. Certas
estar social pode ser entendido
denúncias e o boicote às empresas envolvidas de alguma forma com aquele devastador
como o conjunto de práticas e
conflito bélico na Ásia foram determinantes para o início de uma mudança na prática
instituições compensatórias
Guerra Mundial, tendo o Estado Dessa forma, pode-se dizer que uma preocupação com a característica que reveste a
como agente principal na garantia atividade empresarial aparece, de forma inicial e com suas múltiplas conotações, a partir
da universalidade de direitos, bens do final dos anos 60 nos EUA e em parte da Europa.
malefícios causados pelo mercado pela sua capacidade de salvaguardar o emprego valor essencial da socialização na
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provedora de emprego, é também agente de estabilização social (Kirschner, 1998,
p. 20 e 21).
Nesse período, a atuação social por parte dos agentes privados e a própria questão
Cristãos de Empresas do Brasil (ADCE Brasil), que, já nessa época, utilizava o termo
Contudo, foi somente a partir do final dos anos 80 que uma pequena parcela de
1) Como exemplo de instituições que
empresas que atuam no Brasil passou a intensificar e a institucionalizar o discurso em
surgiram nesse período, podemos
em 1989 e formalizada como Por outro lado, o período que vai do final dos anos 80 até o fim dos anos 90 tornou-se
organização em 1995); a Fundação palco do nascimento e da consolidação de importantes fundações, institutos e organizações
de diversas maneiras a ser praticada pelas próprias empresas. Este duplo movimento
doação de alimentos não perecíveis
e pela discussão de questões como: de organizações e fundações, por um lado, e de empresas, por outro intensificou-
direitos de cidadania, participação e se a partir de 1993, sob influência da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria,
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com este relevante aspecto da questão social brasileira: a fome.
No final dos anos 90, o tema ganhou maior visibilidade, quando algumas organiza-
Para entendermos a atuação social das empresas e o seu efetivo papel na sociedade,
torna-se necessário caminharmos até o final do século XIX, quando o discurso ético
desenvolver suas capacidades. Assim, estamos assumindo neste trabalho que parte
2) No livro de Gleuso Duarte e José dos democratas liberais identificava o elemento liberal como a igual liberdade de
Dias, Responsabilidade social: a todos os indivíduos em desenvolver suas capacidades, e não como a liberdade de o
empresa hoje, encontramos, na mais forte poder eliminar o mais fraco, segundo as regras do livre mercado.
heresias socialistas. Essas novas idéias, ou essa nova forma de pensar e agir, foram imediatamente asso-
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ciadas, de forma pejorativa, ao pensamento socialista à época que foi significativa-
mente representativo em parte da Europa no início do século XX. Essas idéias foram
lista mais conservador, hegemônico nos meios acadêmicos durante o período citado.
Observa-se que a chamada responsabilidade social das empresas nos países conside-
tipo de comportamento. Nos anos 20, a idéia de uma atuação social mais efetiva
por parte das empresas privadas reapareceu. Esta porém, continuou não obtendo
maior aceitação pela maioria dos empresários e intelectuais. E o (...) mesmo acon-
teceu às idéias do inglês Oliver Sheldon que, em 1923, defendeu a inclusão entre as
1996, p. 41).
Contudo, somente nos anos 40, em parte da Europa, foi que se registrou o primeiro
Em 1942, a idéia aparecia num manifesto subscrito por 120 industriais ingleses,
Além disso, dar a maior contribuição possível ao bem-estar da nação como um todo
empresários contemporâneos, no
responsável no âmbito das empresas. A resposta ao crescimento dos movimentos
qual, em geral, se confunde de sociais e às lutas pelos direitos civis não tardou a chegar: diversas empresas americanas
forma recorrente e européias iniciaram uma sensível mudança na forma de lidar com a matéria-prima
intencionalmente ou não a idéia utilizada, com os consumidores e fornecedores e também com seus trabalhadores.
de cidadão com a de consumidor. Nos anos 70, algumas empresas perceberam a importância estratégica de dar
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publicidade às ações sociais realizadas. Assim sendo, foi nessa mesma década de 70
Nos EUA, dos anos 20 até o início da década de 50, a questão da responsabilidade
social das empresas não despertou maior interesse, tanto nos empresários quanto na
sociedade como um todo. Todavia, cabe destacar o livro de Howard Bowen, Social
O início dos anos 60 nos EUA registra uma popularização do tema da atuação ética e
responsável por parte das empresas. Essa idéia acabou ganhando terreno na sociedade
de boicote à aquisição dos produtos e das ações na bolsa de valores daquelas empresas
que, de alguma forma, estavam ligadas ao conflito bélico na Ásia. Essas manifestações,
fatores para essa questão: a participação popular, a opinião pública e a cobrança por
entre elas o napalm. A Guerra do Vietnã provocou um grande desgaste político para
Como uma reação, que em parte se devia às pressões de um segmento mais organi-
zado da sociedade norte-americana, que exigia uma postura ética e um novo tipo de
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le país passaram além de verdadeiramente começar a mudar suas práticas e a forma
alguma forma, aos movimentos sociais da década de 60. As lutas pela garantia dos
direitos civis, com a busca de igualdade de direitos e o fim da discriminação racial pelo
movimento negro norte-americano; a luta das mulheres para conquistar seu espaço e
década: a Marcha pela Paz em abril de 1967 nos EUA, com o seu slogan make love,
not war; e o movimento de Maio de 1968 na França, com o seu é proibido proibir.
Porém, foi somente no período que vai do final dos anos 60 até o início dos anos 70
formações de caráter social para dar satisfação à sociedade e tornar públicas as suas ações
Atividades Sociais ou Balanços Sociais. Apesar de essa novidade ter nascido nos EUA,
nunca existiu naquele país uma legislação que obrigasse essas empresas a realizarem anual-
mente esse tipo de relatório. Talvez por isso e pelas características do liberalismo econômi-
co daquela nação, a nomenclatura a respeito seja bastante variada: social audit, social
Bilan Social francês. A partir dos anos 70, principalmente como resultado das pres-
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sões sociais e econômicas daquele período as transformações ocorridas após o mo-
anos 70. Foi a partir dessa idéia e das novas práticas desenvolvidas que em 1971 a
companhia alemã Steag produziu uma espécie de relatório social, um balanço das
suas atividades sociais. Porém, o que pode ser classificado como um balaço social
propriamente dito nos moldes do que se entende por isso atualmente foi o balanço
realizado pela empresa Singer, na França, em 1972. Este pode ser classificado como o
consolidaram a necessidade de uma avaliação mais sistemática e regular por parte das
empresas no âmbito social. Foi assim até 12 de julho de 1977, quando é aprovada a
Lei n 77.769, que tornava obrigatória a realização de balanço social anual para todas
o
cabe citar o caso da empresa inglesa de cosméticos The Body Shop. Com sua primeira
loja criada em 1976 por Anita Roddick, em Brighton, na Inglaterra, esta empresa de
produtos ditos naturais, vem desde o final dos anos 70 atuando de maneira ostensiva
The Body Shop já operava com 1.366 lojas em 64 países, e seus lucros foram de 53
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Dessa forma, pode-se observar que foi a partir dos anos 80 que diversas organizações
empresas e a ter efetiva preocupação com o meio ambiente, tanto nos EUA quanto
4) As informações sobre estas
na Europa. Cabe destacar a atuação de entidades como o Business for Social Respon-
instituições foram recolhidas via
www.cepaa.org,
(CEPAA, SAI atualmente), que atua tanto num continente quanto no outro; e a orga-
A relação completa de denomina Social Accountability International (SAI), merece um destaque especial pelo
endereços dos sites relacionados trabalho realizado durante o fim do anos 90 e por estar iniciando sua atuação também
deixe de visitar e conhecer todos A Social Accountability 8000 (SA 8000), normatização desenvolvida em 1997, certifica
os sites indicados! empresas após um longo processo de auditoria, nos rigorosos moldes da ISO 9000
dos seus funcionários e fornecedores. A SA 8000 estabelece como critério uma série
Internacional do Trabalho (OIT), bem como toda a legislação do país, onde se encontre
que sofreram denúncias por intermédio dos meios de comunicação, recebendo o título
que o seu oposto: RSE, RSC ou Empresa Socialmente Responsável. Essas empresas têm
sido acusadas, entre diversas questões, de destruir o meio ambiente e de utilizar maté-
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relacionadas com algum tipo de violação dos direitos humanos; de se encontrarem
crianças e jovens.
Alguns acontecimentos recentes ilustram muito bem essa questão. Cabe aqui citar
A gigante anglo-holandesa Royal Dutch Shell sofreu um enorme boicote nos EUA, na
segunda metade dos anos 90. Entidades realizaram campanhas para que os motoris-
tas não abastecessem seus veículos nos postos Shell, por esta encontrar-se envolvida e
presa petroleira naquele país africano, conforme amplamente noticiado pela impren-
sa mundial à época.
Outro caso mais recente foi o boicote sofrido pela empresa de material esportivo
Nike, que teve sua marca associada à exploração de mão-de-obra infantil na Ásia,
filmes esta questão sem rodeios: (...) o único presidente de grande corporação foi
Phil Knight, da Nike, que conseguiu ser pego em flagrante por Moore. (...) No filme,
Moore, depois de longa espera, consegue falar com Knight e pergunta a ele, na lata:
Você não tem problema de consciência? Sabe como vivem seus empregados na
Indonésia? Um não é bem assim é a única resposta que Moore consegue receber,
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descalças, fabricando os tênis Nike vendidos em todo o mundo (extraído do jornal
pelas empresas que atuam na Ásia, que, no caso da fabricante de material esportivo
Nike, juntaram-se ao peso das denúncias: (...) Em Nova York, a baixa acentuada do
índice Dow Jones foi causada, em boa parte, pelas expectativas de queda nos lucros
das empresas e bancos com negócios na Ásia. A situação já fez uma vítima: o diretor
financeiro da Nike, Robert Falcone, apresentou ontem sua demissão, depois que os
problemas asiáticos levaram a prejuízos e a uma queda no preço das ações da Nike na
bolsa. A empresa acumula cerca de US$ 1,4 bilhão em estoque de produtos, e está
tendo que vender mais barato para poder escoá-los no mercado... (O Globo,
Economia, em 5/9/98).
Tudo indica que não foi simplesmente por acaso que em 1999 o jogador de futebol
5) Segundo os resultados da A partir desses exemplos, podemos levantar uma questão: qual é o limite entre a
pesquisa Responsabilidade social efetiva mudança de mentalidade e ação em relação à sociedade e ao meio ambiente
Recentes transformações nos hábitos de consumo e de cobrança por parte dos con-
(dois terços) (...) afirmaram que
fabricante que apoiasse uma causa Organização Mundial do Comércio (OMC) e dos organismos internacionais mais com-
em que acreditassem, enquanto um prometidos com os direitos humanos, como, por exemplo, a Organização Internacio-
terço [cerca de 35%] era mais nal do Trabalho (OIT) e o Unicef vêm acontecendo tanto nos EUA quanto na Europa.
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A própria queda do consumo de atum na Europa, a partir do boicote promovido por
entidades ecológicas que preservam os golfinhos para evitar que estes acabem
morrendo nas redes das indústrias pesqueiras , serve como outro caso exemplar. Esse
nas embalagens dos produtos beneficiados por empresas que consideram a preservação
no Brasil já podem ser notados em meados da década de 60. E nesse sentido, a Carta
à ação social empresarial no país mesmo que ainda limitado ao mundo das idéias e
Observem com atenção um trecho da Carta: As crises e tensões do mundo contemporâneo
não ter o setor empresarial tomado consciência plena de suas responsabilidades sociais
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Esta idéia, que começou a ser discutida e difundida ainda nos anos 60 após a criação
6) A ata de fundação da ADCE data metade dos anos 70 para difundir-se amplamente. As principais manifestações estavam
Edicon, 1997.
das empresas e dos empresários diante das questões sociais também foi o tema do
7) Desde o início dos anos 60, a com ênfase num viés mais participativo, como eficientes instrumentos que deveriam
Consultec, empresa formada por ser utilizados pelas empresas no efetivo cumprimento da responsabilidade dessas ante
social nas empresas, que já motivava algumas discussões desde os anos 60, também vai
balanço social para empresas
multinacionais e alguns grupos sofrer com a falta de liberdade e as restrições impostas pela ditadura militar pós-1964 (7).
nacionais, basicamente um
Entre o final dos anos 70 e o início dos anos 80, com a crise do modelo de desenvol-
tica e este recorrente discurso de ação social por parte das empresas está relacio-
todos os cidadãos.
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Cabe aqui um destaque sobre o primeiro tipo de relatório que aborda aspectos sociais
atuam no Brasil. Na década de 70, durante a ditadura militar, foi criada pelo Decreto
obrigatório para todas as empresas e que dava e dá ainda hoje conta das informa-
ções sociais relacionadas aos trabalhadores nas empresas. Compulsório para todos os
Balanço Social francês, as informações contidas na Rais são muito inferiores, tanto
final dos anos 70 no Brasil, durante o período da Abertura Política, que se consolidou
incluindo-se as empresas.
das greves do ABC paulista à promulgação da Carta de 1988: abertura, diretas já,
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ressaltar que o novo e principal fator desse período que acabou influenciando e
Brasil, da editora Paz e Terra. a sociedade como um todo, incluindo-se os empresários e suas corporações. Assim,
pode-se destacar o papel estratégico das ONGs e das OSCs como atores no processo
ambientais realizadas pelas empresas. Para isso, começaram a ser utilizados relatórios
receber a denominação, que se vem tornando cada vez mais usual nos últimos anos:
Balanço Social.
Mas, afinal, em breve e leve abordagem, que é o Balanço Social? De maneira muito
simples um instrumento colocado nas mãos dos empresários para que possa refletir,
medir, sentir como vai a sua empresa, o seu empreendimento, no campo social. Este
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é um tema atual. Este é um tema de desafio. Este é um tema que, queiramos ou não,
irá crescer e implantar-se cada vez mais. Dessa maneira, direta e eficaz, é colocada a
questão pelo professor Ernesto Lima Gonçalves em seu pioneiro livro de 1980.
No ano de 1984, foi publicado o primeiro relatório de cunho social de uma empresa
gar essa denominação. Nesse mesmo período, meados da década de 80, também foi
des sociais do Sistema Telebrás. Decorridos seis anos da realização do balanço pionei-
ro, o Banco do Estado de São Paulo (Banespa) produziu e tornou público um relató-
realizadas. O Banespa realizou seu balanço social em 1992, porém este foi publicado
somente nos primeiros meses de 1993. Nos anos subseqüentes, diversas empresas
social no Brasil
mais ostensiva inclusive nos meios de comunicação um perfil mais responsável e hu-
mano. Foi no início dos anos 90 que a realização anual de relatórios sociais e ambientais
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iniciou um processo de aceitação e disseminação no meio empresarial. Assim, a partir
dessa época, os chamados balanços sociais anuais passaram a fazer parte da realidade
diálogo com representantes dos trabalhadores. Esses novos empresários dos anos 90
estão cada vez mais atentos aos problemas ambientais e sociais. Eles passaram a levar
São Paulo ao final dos anos 80, que uma parcela do empresariado paulista, preocu-
pada mais intensamente com a inserção de suas empresas no universo das ações
sociais ainda que com um enfoque mais filantrópico , criou o Grupo de Institutos,
uma associação e instituiu-se como pessoa jurídica. Em 1999, ou seja, dez anos depois
te toda a década de 90, uma das instituições de maior destaque e atuação em relação
Deve-se ressaltar aqui a importância do Gife para o desenvolvimento das ações sociais
realizadas no âmbito empresarial brasileiro, cabendo também igual destaque aos even-
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Fides, que na década de 80 possuía o nome de Instituto de Desenvolvimento Empresa-
rial IDE); o Pensamento Nacional das Bases Empresariais (Pnbe); o próprio Gife, acima
citado; a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança (criada e mantida pela Associação
e Econômicas (e a luta contra a Aids, no início dos anos 90; a campanha da Ação da
Cidadania, em 93/94 e 95, e depois o projeto Balanço Social das Empresas, a partir de
1997); e o mais novo integrante dessa lista que possui porém uma das mais importan-
Dessa forma, pode-se afirmar que foi a partir do início dos anos 90 que algumas
estratégia empresarial. Investindo e atuando de maneira cada vez mais intensa nesse
Assim, podemos inferir que todo esse processo se deu por uma conjunção de interesses
nacionais e globais.
Nesse sentido, os anos 90 aparecem como palco da disputa por novos modelos de
visão estratégica de longo prazo, não podemos esquecer o lado ético e humano que
desenvolver.
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Portanto, não é sem motivo que ocorre nesse período um grande fortalecimento e
e dos seus correlatos: empresa socialmente responsável, ética nas empresas, balanço
social das empresas, filantropia empresarial, empresa cidadã, etc. Ao mesmo tempo
em que surgem, entre outras, idéias e expressões como: Fazer o bem faz bem;
de vida.
nizações brasileiras. Entre eles merecem destaque: a pressão por parte das agências
C&A, a Coca-Cola, o McDonalds, entre outras; e, por último, mas não menos impor-
cabe registrar o fato de que uma
considerável parcela do grande tante, a atuação, nos últimos anos, de empresas nacionais como: Banco do Brasil,
empresariado nacional se Usiminas, Inepar, Petrobras, Natura, Azaléia e O Boticário, por exemplo (9).
partidos de direita, o partido de anualmente o Balanço Social. Como exemplo podem ser citadas algumas empresas
fato chamado centrão. que, já em meados de 1997, realizaram seus BSs por conta da campanha iniciada por
146
Betinho: Inepar, Usiminas, Cia. Energética de Brasília, Light, Mills, entre outras, conforme
10) Utilizamos aqui o ano de 1997 Desde o final dos anos 80, o sociólogo Herbert de Souza começou a ter contato com
como marco, pois foi a partir do alguns empresários dispostos a fazer doações e a apoiar campanhas como a luta
concretas, tanto diretas quanto A partir de 1993, a Campanha contra a Fome e a Miséria, criada por Betinho e desen-
seminário nacional, promovido pela As primeiras organizações empresariais privadas a aproximarem-se de maneira
Abamec em novembro de 97; o institucional, apoiando a Campanha contra a Fome que desde o seu início contou com
projeto de lei na Câmara Federal, da uma ampla participação de empresas públicas e estatais como Petrobras, Banco do
deputada Marta Suplicy. Logo em Brasil, Furnas e Caixa Econômica Federal, organizadas a partir de 1994 no Comitê das
seguida nasce uma nova OSC para Empresas Públicas no Combate à Fome (Coep) , foram a Fundação Abrinq e o Pensamento
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Dessa forma, a questão da responsabilidade social das empresas e da publicação anual
do balanço social ganhou destaque na mídia e uma intensa visibilidade nacional quando
11) O amplo debate pelos jornais: o sociólogo Herbert de Souza escreveu o artigo Empresa pública e cidadã, em março
no dia 29/3/97, o empresário de 1997. Esse artigo desencadeou um amplo debate, durante aquele e outros períodos,
mesma Folha de S. Paulo, meiro passo para uma empresa tornar-se uma verdadeira empresa cidadã (12).
respondendo a Ricardo Young. O lançamento da campanha pela publicação do Balanço Social deu-se no Centro
Ioschpe (FSP, 1/4/97); Luís Nassif Brasil, Banco do Brasil, Grupo Gerdau, Banco do Nordeste, Glaxo Wellcome, Light e
(FSP, 16/5/97); Marta Suplicy (FSP, Usiminas, entre outras e de algumas instituições de representação empresarial, como,
como objetivo principal (...) chamar à atenção dos empresários e de toda a socieda-
Esse modelo tem algumas particularidades que valem a pena ser destacadas: a) foi
12) Cabe registrar que, como visto
criado a partir da iniciativa de uma ONG, cobrando transparência e efetividade nas
anteriormente, a idéia original do
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Contudo, o grande mérito do d) ser for corretamente preenchido, pode permitir a comparação entre diferentes
Herbert de Souza foi a de criar um modelo básico, mínimo e inicial, construído à base
recomendação da CVM, por meio de uma instrução normativa nunca publicada, que
indicava que as empresas de capital aberto deveriam realizar balanço social anualmente.
Outro apoio decisivo, ainda que indireto, foi o da Agência Nacional de Energia Elétrica
Social nesse mesmo modelo. Dessa forma, torna-se claro o motivo pelo qual a relação
das empresas que realizam balanço social anualmente ser composta, na sua maioria,
Foram esses diversos eventos e artigos relacionados ao tema, realizados durante 1997,
que motivaram a então deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT) do
Estado de São Paulo, Marta Suplicy, a apresentar na Câmara dos Deputados, em maio
do mesmo ano, o Projeto de Lei n 3.116/97 que versava sobre balanço social e
o
responsabilidade social das empresas no Brasil. Esse projeto visava a tornar obrigatória,
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para todas as empresas com mais de cem funcionários, a divulgação anual de Balanço
Social, conforme diversos critérios especificados no texto e tomando por base o modelo
Resolução n
o
005/98 Cria o Dia e o A justificativa apresentada no projeto acrescenta que: Elaborar o Balanço Social é
Selo da Empresa Cidadã às um estímulo à reflexão sobre as ações das empresas no campo social. O Balanço
empresas que apresentarem Social estimulará o controle social sobre o uso dos incentivos fiscais e outros mecanismos
cidade de São Paulo. No município Esse projeto foi assinado por outras duas deputadas federais: Sandra Starling, do PT
de Santo André/SP, o Projeto de Lei de Minas Gerais, e Maria da Conceição Tavares, do PT do Estado do Rio de Janeiro,
004/97 tornou-se a Lei n 7.672, de que, assim como a deputada Marta Suplicy, por motivos diversos, não retornaram à
o
Balanço Social e dá outras anteriormente, sendo até mesmo citado como referência principal. Até o momento
Esta lei foi sancionada em 5/1/98 e Paraíba; e em Uberlândia/MG. Porém, de todos os projetos apresentados, o que merece
publicada, em 9/1/98, no Diário maior destaque foi o realizado na Cidade de São Paulo pela vereadora Aldaíza Sposati.
Oficial. No município de João E isso se dá não só pela importância que a capital paulista apresenta, mas também
150
(...) institui o Selo Herbert de Souza Aprovado em 23 de outubro de 1998, o Projeto n.º 39/97, que cria o dia e o Selo
às empresas que apresentarem Empresa Cidadã do Município de São Paulo, transformou-se na Resolução n
o
05/98,
site do Balanço Social: Em 2001, esse número cresceu para 32 corporações que atuam na cidade de São
de empresas, do poder público, de As declarações aqui incluídas servem, ao mesmo tempo, para ilustrar algumas questões
sindicatos e de organizações da levantadas anteriormente e para complementar nossas aulas e debates durante essa
suas obrigações legais, razão pela qual as Empresas Odebrecht, desde a sua fundação,
151
Essas declarações, que demonstram a visão de um significativo representante do
papel social de gerar empregos, bens e serviços para a sociedade e ao mesmo tempo
empresa é a busca do lucro. Porém, segundo ela: Observa-se que a busca do lucro
comportamento, no que diz respeito aos mais diferentes públicos. Entretanto, este
relevantes e integrados a esta sociedade, têm sido peça fundamental deste esforço,
como pode ser constatado através dos balanços sociais, que já se tornaram usuais no
O empresário Oded Grajew, que se destacou nos últimos anos dentro do universo de
humanos, o que fazer com o lucro da empresa; qualquer decisão deve ser pautada
por estes valores (Revista Você S.A., ano II, n 15, setembro de 1999).
o
Segundo o diretor do Great Place to Work Institute no Brasil, José Tolovi Jr.,
responsabilidade social das empresas (...) é uma questão de estratégia, que não se resume
apenas a dar dinheiro a quem precisa. Responsabilidade social é a soma das ações
152
internas e externas de uma companhia, o produto daquilo que faz dentro e fora dos
portões. Do lado de fora, as empresas hoje colaboram com escolas, creches e até
ser traduzida pelo cuidado que se tem com os funcionários. Uma empresa socialmente
confiança são tão fundamentais que se tornam um meio para o desenvolvimento dos
negócios (Revista Exame/As Melhores Empresas Para Você Trabalhar, ano 33, n 17,
o
em que, obviamente, se pode ler lucro, imagem, produtividade, vendas, etc. aparece
Brasil, David Pirret. Para ele: A responsabilidade social corporativa está intrinsecamente
qualidade aos seus consumidores (Revista Brasil Sempre, ano I, n 2, fevereiro de 2000,
o
página 16).
José Roberto Marinho, a responsabilidade social das empresas (...) deve ser entendida
Mercantil, André Beer, a responsabilidade social corporativa resume-se a uma (...) conduta
ética e legalmente correta em relação a todos os elementos sociais com os quais ela
melhoria de produtividade; lidar com pressões e demandas globais; equilibrar a ética com
153
à competitividade, à qualidade e à produtividade em última instância, o lucro e a
Por outro lado, a realização de ações que visam de alguma forma a compensar a ausência
e o lucro das empresas, como, por exemplo: falta de segurança, mão-de-obra des-
cipais fatores motivadores dessa nova postura socialmente responsável. E, sem dúvida,
Sendo assim, cabe ressaltar que os anos 90 marcaram a consolidação dessa mudança
ações sociais e ambientais realizadas pelo setor privado, bem como o surgimento e o
empresarial. Contudo, devemos observar que nem tudo são flores: muitos interesses
hasteada por muitos, porém com diferentes intenções, díspares relações de poder
http://www.balancosocial.org.br
http://www.ibase.br
http://www.fides.org.br
http://www.gife.org.br
http://www.ethos.org.br
http://www.sa-intl.org
http://www.bsr.org
http://www.empresacidada.org
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DUARTE, Gleuso D.; DIAS, José M. Responsabilidade social: a empresa hoje. Rio de
EXAME. As melhores empresas para você trabalhar. São Paulo: Ed. Abril, Ano 33,
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Zahar, 1978.
Cidadania.
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26 mar.1997.
STEPAN, Alfred (Org.). Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
de São Paulo.
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