Ficha catalográEca elaborada por Solange Ap.

Ferreira, CRB 911141,

Kohl, Manfred Waldemar; Barro, Antonio Carlos. fNDICE

Ministério Pastoral Transformador I Manfred W Kohl, Antonio Carlos
Barro. Londrina : Descoberta, 2006.
278p. INTRODUÇÃO
ISBN- 85-871-4407-3
1. Ministério 2. Ministério Pastoral I. Título. MANFRED w KOHL
CDD 253 .ANTONIO CARLOS BARRO 07
CDD253.2
Índice para catálogo sistemático:
CAPÍTULO 1
1. Ministério - 253 NOVOS DESAFIOS DA LEITURA BÍBLICA NO PASTORADO
2. Ministério Pastoral - 253.2
CONTEMPORÂNEO

júLIO PAULO TAVARES ZABATIERO 11

CAPÍTULO 2
1a edição: março I 2006
A PASTORAL EM PERSPECTIVA LATINO-AMERICANA:
UM ENSAIO A TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE

Coordenação de produção: Antonio Carlos Barro ]ORCE HENRIQUE BARRO 33

Assistente de produção :]onathan Menezes
Capa: Eduardo Pellissier CAPÍTULO 3
Diagr ação: Louis Marcel
Tradução: César Marques Lopes e Ênio Caldeira Pinto 0 CUlDADOR E O FENÔMENO:
Revisão\ Selma Almeida Rosa PERSPECTIVAS DA PRÁTICA PASTORAL HOJE
Fotolitos: Capa e Miolo -Êxodo Fotolitos Ltda
Impressão: GráficaBetânia
ALEK SANDRO SILVA DE ANDRADE
LYNDON DE ARAújO SANTOS 51
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G_ -:::: .- ; - · - CAPÍTULO 4
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f=o,.. ,, c::. I') ' Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
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. -· Descoberta Editora Ltda: POR UM MINISTÉRIO TRANSFORMADOR :
I I <• ,o Rua Líbero Badaró, 142- Nova Londres ' EFETMDADE E LOGEVIDADE PASTORAL
I /a·/ ':>íwl ;I-t:--,'
;;::- 'I Cl. Londrina/PR 86015-570,
I , . rf\ (J\ I IS'> , l Tel!fax: (43) 3343 0077 G. LESLIE SoMERS 79
Ir-·-I!---r_;,-=--1--.c- .) j _,+-' 2c, J
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Endereço eletrônico: editora@descoberta .com.br
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Editora filiada à 0 PAPEL DO PASTOR NA TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDAD E
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ASEC- Ass ociação de Editores Cristãos
32

em sua comunidade. Você já pensou em como preparar o

sermão com a participação dos membros da igreja?
Participação ativa, e não só a passiva participação tradicional,
do tipo "é para a igreja que eu me preparo"? Imagine e aja. CAPfTULO
Imaginação é chave para a renovação, e sem a Bíblia não há
verdadeira renovação pessoal, ministerial ou eclesial.

NoTAS
1 PETERSON, E. "Introdução. CaveatLector", in DYCK, E. (ED.) Ouvindo
a Deus. Uma abordagem multidisciplinar da leitura bíblica. São Paulo: Shedd
2
Publicações, 2001, p. 7.
2 PROENÇA, W. de L. A Magia Comunicacional da Leitura no

Neopentecostalismo Brasileiro. Comunicação inédita, apresentada no VIII

Encontro Regional de História, promovido pelaANPUH-PR, em 2.003.
3 0 número 3 do Boletim Teológico da FTL-Brasil (1988) é inteiram ente

dedicado à interpretação bíblica, assim como quase todo o número 29 (1997).

4 Citado por STAM, J. A Bíblia, o leitor e seu contexto histórico, Boletim Teológico,
A PASTORAL EM PERSPECTIVA
n. 3, conforme edição em CD-ROM, Belo Horizonte: Visão Mundial, 2004,
P· 92. LATINO-AMERICANA:
5 /dem, p. 93
6 CARMONA, HS. Hacia una espiritualidad evangélica comprometida. Buenos UM ENSAIO À TRANSFORMAÇÃO
Aires: Kairós, 2002, p . 15 e 21.
7 SOUSA, R. B. de O caminho do coração. Ensaios sobre a trindade e a
DA REALIDADE
espiritualidad e cristã. Curitiba: Encontro, 2002, p. 18.
8 Ver artigos publicados na revista Práxis Evangélica, nos. 1 a 5, Editora

Descoberta e Faculdade Teológica Sul Americana, Londrina, 2003 e 2004.

9 SARACOO, N. ''As opções libertadoras de Jesus", Boletim Teológico, n. 1O, op.

cit., p. 26.
10 "Masculino-feminino: em busca de saúde e obediência", Documento de

consulta promovida pela FTL-Brasil, publicada no Boletim Teológico, n. 17,

1992, op. cit ., p. 60.
11 "Os cristãos frente à divida externa e à dependência econômica", Consulta

realizada pela FTL, Documento publicado no Boletim Teológico, n. 13, 1990,

op. cit., p. 57.
12 N OUWEN, Henri. O Perfil do Líder Cristão do século XXI. Belo Horizonte:

Editora Atos, 2002, p. 57.

JORGE HENRIQUE BARRO
INTRODUÇÃO

A Reforma protestante foi e continua sendo um

marco histórico e divisório na história da Igreja Cristã. Suas
conseqüências até hoje podem ser percebidas e reconhecidas
na igreja. Urna das questões que a Reforma Protestante não
conseguiu trabalhar com mais profundidade e abrangência
foi a eclesiologia e, conseqüentente, a missão pastoral da igreja.
É comum ouvir o comentário de que a doutrina do
sacerdócio universal de jodos os crentes não conseguiu sair do
papel, ao passo que a igreja manteve, até os dias atuais, urna
exagerada ênfase no clero em detrimento do laicato 1 • Ao
longo da história, notam-se ministérios e ordens que surgiram
fora da igreja, ou seja, fora da estrutura de poder, sendo
movimentos que surgiram na periferia . Paul Pierson, em uma
de suas teses, defendeu "que renovação e expansão são
freqüentemente vistos como tendo início na periferia das
estruturas eclesiásticas dos dias atuais" 2 • A própria Reforma
e as atitudes dos reformadores não surgiram do centro para
a periferia, mas da periferia para o centro, constituindo-se
como uma busca por revitalização (e não cisma) da igreja, o
que envolvia questões teológicas profundas e complexas.
Do lado Católico, muitas ordens e ministérios são
conseqüências de movimentos que vieram da periferia . Um
exemplo mui to claro são os Jesuítas. Ignácio de Loyola
aspirava por um avivamento espiritual em sua vida, e seus
conflitos interiores produziram uma busca tão incessante
que ele acabou confinado em um lugar isolado, num
Mosteiro Beneditino. Começou, assim, a desenvolver os
chamados Exercícios Espirituais, que se tornaram
extremamente conhecidos inclusive nos dias atuais. Voltou-
se para os pobres, com o anseio de pregar o evangelho para
Educação Teológica Transformadora I! A pastoral em perspectiva latino-americana : um ensaio a transfonnaçi(o da realidade
Manfred Kohl e Antonio Carlos Barro (Org.) Jorge Henrique ·Barro 37
4

comentários de Julio de S,ant'Ana ao afirmar que "esta

eles. Como conseqüência, foi silenciado por Roma (o centro
compreensão do térmo 'pastoral' não se · encontra no
do poder) por um período de três anos. Em Paris, m 1534,
protestantismo. Para o pensamento das igrejas que surgiram
ele formou a Sociedade de Jesus. Esse movimento só recebeu
a partir da Reforma Protestante do século XVI, falar de
.apoio papal em 1540, seis anos depois de seu surgimento,
pastoral tem significado, principalmente, referir-se à função
sendo uma prova clara de que foi um movimento iniciado
do pastor" 4 . A problemática sobre a "pastoral" não é
es.sencialmente na periferi;L
simplesmente uma questão de terminologia, como podem
1 - Ü CONCEITO DE I'ASTORAL NA REFORMA PROTESTANTE pensar algumas pessoas, mas é essencialmente uma questão
eclesiológica, com conseqüências missiológicas e
Para os reformadores, a pasto'ral estava relacionada praxiológicas . Isso porque toda missiologia deve ter
com a pessoa do pastor e não com a missão da igreja. Isso implicações praxiológicas.
fica claro nas palavras de Calvino ao concluir que Orlando Costas, teólogo e pastor, trabalhou a questão
...o oficio do pastor compreende estas duas coisas: pregar da pastoral de forma incansável. Ele escreve que
o evangelho e administrar os sacramentos, e ainda não é
faz falta uma reflexão pastoral que tome a sério a tradição
meu papel enumerar aqui todas as virtudes de um bom
da Reforma do século XVI e o ethos sócio-cultural do
pastor, senão unicamente expor brevemente qual é a
povo evangélico latino americano. Uma reflexão critica
profissão dos que se chamam pastores, e por tais querem
que incorpore os valores dessa tradição e questiona seus
ser tidos, a saber, presidir a igreja de forma que sua
desajustes; que se planteie com toda seriedade o
dignidade não permaneça ociosa, que instruam ao povo
problema psico-sócio-cultural, teológico e missional:
na doutrina cristã, que administrem os sacramentos, e
problema de identidade do povo evangélico latino
que, mediante oportunas admoestações, corrijam as
americano; tensão entre as5 ideologias e a fé em um
faltas, usando a disciplina paternal que Jesus Cristo tem contexto evangélico eclesial
ordenado 3 •
•

Lembremos que essa era a tríplice visão da igreja na

Reforma : saçramento, disciplina e instrução. O que isso 2 - UMA BREVE DEFINIÇÃO DE PASTORAL
demostra .? Que a visão que temos da igreja,
Qual é o conceito de pastoral entendido na América
conseqüentemente, influenciará a nossa ·visão sobre a
Latina? Em uma simples declaração, "pastoral é a ação da
pastoral. A igreja não pode estar a serviço da pastoral, mas a
igreja no mundo" 6 . Em minha opinião, é necessário
pastoral deve ser conseqüência da missão da igreja. Isso é o
acrescentar mais um elemento na definição de Libânio, que
mesmo que dizer que a pastoral é co-sujeita na missão da
é a missão. Reformulando a assertiva desse autor, diria que a
igreja. Se a eclesiologia é fraca e distorcida, conseqüentemente
pastora l é a ação da igreja no mundo para cumprir a missío
também o será a pastoral . E neste aspecto, a Reforma teve
Dei (missão de Deus) .
problemas. Muito significativo e esclarecedor são os
·
j

'
'
 Educação Teológica Transformadora
38 Manfred Kohl e Antonio Carlos Barro (Org.)
Neste capítulo, ao falarmos de pastoral, portanto,
estamos falando basicamente da missão da igreja em
perspectiva pastoral. José Miguez Bonino disse que "sem
pastoral, a teologia se trunca" 7 . O teólogo alemão Karl
Rahner argumenta que "toda teologia deve ser pastoral e
toda pastoral deve ser teológicà' 8• Concordo plenamente
com ambos e acrescentaria que sem pastoral, não só a
teologia, como também a missiologia se trunca; A pastoral
é, port;m o, missão como um todo e não exclusivamente a
tarefa do pastor. Pode até incluí-la, mas vai muito além dela,
sendo uma tarefa de todo o povo, para todas as pessoas.
Podemos, desse modo, entender a pastoral como
sendo a práxis dos cristãos. Se, por um lado, pastoral não é
exclusividade do pastor (a), também não é propriedade de
uma única instituição, é tarefa do povo de Deus em missão. É
importante afirmar isso porque muitos seminários,
especialmente os que servem as denominações, agem como
se fossem proprietários da tarefa pastoral . Essa não é uma
generalização, porque a maioria dos seminários tem como
preocupação básica "formar pastores" (e raramente pastoras)
para a própria denominação . Poucos são os que têm como
prioridade e meta formar agentes de pastorais para todos os
ministérios da igreja e às necessidades da sociedade . São raros,
mas existem .
Os seminários surgiram com a tarefa básica de
aprimorar o dom de pastor. Eles estão certos naquilo que
incluem, mas reducionistas por aquilo que excluem . Às vezes,
penso que é um desperdício para o Reino de Deus gastar
tanto tempo e dinheiro para suprir apenas um dom: o de
pastor. E quanto aos demais? Isso é, a meu ver, uma grave
denúncia contra a nossa eclesiologia.
A pastoral em perspectiva latino-americana: um ensaio a transformação da realidade
•,:.._. ,, ·Jro rgenr.renrz·que Barro 39
Faz-se importante perguntar: quem serve quem? E
ainda, quem está a serviço de quem? Se os seminários
estivessem realmente a serviço da missão da igreja, então
cada vez mais encontraríamos neles pessoas se preparando,
não somente para serem pastores (as), missionários (as),
evangelistas e educadores (as), mas também pessoas com os
outros dons mencionados na Bíblia. Quão radical e diferente
se ia o envolvimento da igreja na sociedade, seja para ser luz
(a esperança da salvação) ou sal (a esperança que transforma),
se a nossa visão fosse que "todos" os crentes são àgentes de
pastoral na sociedade.
Quem é o agente de pastoral hoje? O próprio pastor,
pois ele é o "senhor das atividades", isto é, prega, instrui,
exorta, aconselha, visita e evangeliza. Quanto mais
ministérios remu_nerados tivermos na igreja, isso não será
prova do sucesso financeiro da mesma, mas constatação de
que nela existem muitos que fazem pouco (os membros) e
poucos que fazem muito (os pastores). Na verdade, essa falta
de aparição do crente como agente depastoral é conseqüência
de uma visão distorcida da eclesiologia e fruto da alta
visibilidade dos ministros e ministérios "profissionais".
Resultado: igreja altamente clerical. Neste sentido, José R
Jardilino fala da teologia como sendo "um exercício para
orientar a prática e uma prática visando corrigir a teorià' 9 .
Jt Prosseguindo com as definições, quero apresentar
quatro elementos cruciais da pastoral: a ação, a igreja, o mundo
e a missão.
a) Pastoral é a ação
.,
;·
.J, A práxis é a presença ativa dos cristãos e da igreja na
1 história através da fé desenvolvida em seus contextos de vida .
;r
Nesse sentido, a práxis ocupa um lugar central na teologia
i!
 Educação Teológica Transformadora
40
Manfred Kohl e Antonio Carlos Barro (Oro".)
latino -americana em oposição à centralidade do
conhecimento abstrato, uma abordagem epistemológica na
teologia tradicional. Fé e Pa lavra são inseparáveis para a
práxis da teologia latino-americana.
A fé no Deus que ama e nos chama ao dom da
comunhão plena com Ele e à fraternidade entre os seres
humanos, não deve ser estranha à transformação do mundo,
mas necessariamente conduzir -nos à construção dessa
fraternidade e comunhão na história 10•
O conceito que postula a verdade como sendo
descoberta através da práxis foi revolucionário na teologia
latino-americana . Para a teologia conservadora a verdade é
metafísica, como um conceito abstrato. Em outras palavras,
a verdade é sempre verdade e o contexto não tem nada a
ver com ela. Para a Teologia Latino-americana, a práxis vem
primeiro, e a teologia é o "segundo ato". Conforme Ray
Anderson: "Práxis ... é uma ação na qual a verdade é
descoberta através da ação, não meramente aplicada ou
praticada ... Na práxis a verdade de Deus é revelada através
das estruturas de realidades pelas quais as ações e presença
de Deus são desveladas a nós através das nossas próprias
ações" 11
h) Pastoral é a ação da igreja
É a ação de todo o povo de Deus, sendo agentes da
missão de Deus no mundo. Não é somente a ação do pastor,
é a ação de cada crente. Esse conceito é importante, nesse
sentido, para descentralizar as ações das mãos do clero. O
pastor, como um líder da igreja, tem a incumbênci a de
mobilizar, treinar e coordenar o povo de Deus. Quem faz a
missão? É a igreja. Aquele que faz a missão, em muitos casos
! , A pastoral em perspectiva latino-americana: um ensaio a transformação da realidade
1' i r nnq· ue Barro
Jrorge nre 41
nas 1gre;as tradicionais (reformadas ) , é o pastor e/ ou o
missionário.
c) Pastoral é a ação da igreja no mundo
Quando falamos sobre pastoral enquanto a ação da
igrej a no mundo, estamos falando sobre o contexto. Há
diferentes modelos para diferentes contextos e situações. A
bíblia nos dá princípios. O contexto nos dá a arena onde a
pastoral será desenvolvida. Essencialmente , a ação pastoral
na bíblia é contextual. Orlando E. Costas afirma que a
pastoral "deve ser orientada a situações concretas" 12• Pastoral
não é um fim em si mesmo . É uma maneira de desenvolver
a missão e prioridades de Deus. É um serviço para realizar o
amor redentor de Deus no mundo. É contextual porque
depende do momento específico quando as necessidades
são supridas. Se a atividade pastoral tem a mesma forma e
modelo em cada lugar, então ela é repetitiva e imitativa.
Pastoral deve ser autóctone 13 , pois é uma resposta ao
seu próprio contexto. Isso é o que acontece no Antigo
Testamen to. Por exemplo, quando José estava no Egito
desenvolveu uma pastoral com um estilo administrativo.
Quando o povo de Deus estava vivendo como escravo no
Egito, Moisés teve que desenvolver uma pastoral libertadora.
Ester desenvolveu uma pastoral em busca de conquista,
• promoção e defesa dos direitos civis. Ezequiel teve que
desenvolver uma pastoral polí tica em tempos de crise
(situação contextual). Esses exemplos mostram-nos a
necessidade e a importância de desenvolver uma pastoral
relevante. A pastoral será relevante, criativa e efetiva se for
contextual.
 Educação Teológica Transformado;a
421
Manfred Kohl e Antonio Carlos Barro (Org.)
d) Pastoral é a ação da igreja no mundo para cumprir
a missão de Deus
Observ que a pastoral se torna uma resposta. É uma
resposta porque Deus age primeiro. Nesse sentido, a pastoral
está no caminho - em movimento, em ação, seguindo a
atuação de Deus .
A ação missionária, parafraseando Paul Hilbert, é "o
primeiro e o mais destacado trabalho do próprio Deus".
Deus é o pastor que está liderando o seu próprio povo. Se
Ele envia o seu povo ao Egito, ao deserto, ao cativeiro
babilônico ou a cada lugar, a ação pastoral deve ser uma
resposta responsável à ação e controle de Deus. Ela significa
submissão à sua vontade e autoridade. Deus é o primeiro'
que está interessado em salvar o mundo. Primeiro, é a missão
dele e, por causa disso, deu-nos o seu único Filho para
morrer na cruz. A pastoral, como uma resposta, é uma
parceria com a missão de Deus. Na história de Israel
podemos ver diferentes abordagens e estilos chamados por
Deus para realizar sua própria missão .. Por exemplo, Deus
usa o sistema patriarcal, a monarqu ia, o movimento profético
e diferentes abordagens para realizar a mesma missão. ·
A pastoral e a missão não podem estar separadas. É
hora de desenvolvermos a missão com uma perspectiva
pastoral e a pastoral com uma perspectiva missiológica. Por
um lado, cada ação pastoral deve levar em consideração as
perspectivas missiológicas. Por outro, cada ação da missão
deve levar em consideração perspectivas pastorais. A teologia
da missão sem a práxis pastoral é uma reflexão estéril. A
práxis pastoral sem a teologia da missão é um ativismo
improdutivo. A missão é o elo entre a ação, a igreja e o mundo.
• Rejeitavam os necessitados na porta (5. 12)
--JI! _, :,4 pastoral em perspectiva latino-americana: um ensaio a transformação da realidade
I . . 43
.. Jorge Henrique Barro
3 - CARACTERÍSTICAS DA PASTORAL NA AMÉRICA LATINA
Faz-se necessária uma distinção, porque ela existe,
sobre a pastoral latino-americana. Com certeza a América
. Latina é um dos continentes onde mais se fala de pastoral na
perspectiva da missão integral da igreja. Na Europa e
América do Norte, a pastoral está relacionada à tarefa do
pastor. Um dos eventos mais significativos para uma nova
dimensão pastoral na América Latina foi o Concílio Vaticano
II, realizado em Med llin (Colômbia), em agosto de 1969.
Julio de Sant'Ana afirma que
o Concílio Vaticano II sublinhou a importância do
conceito através de um de seus textos mais famosos: a
declaração pastoral Gaudium et Spes, de onde se examina
a função da igreja no mundo moderno. A partir de então,
a reflexão sobre o tema adquire aspectos mais amplos:
agora também se fala de pastoral popular, pastoral latino
americana, pastoral obreira, pastoral de periferias urbanas,
pastoral indígena, pastoral da terra etd 4 .
A Conferência de Medellín foi um fato histórico na
vida da Igreja Católica, com profundas consequências nos
teólogos evangélicos latino-americanos . Podemo s afirmar
que, assim como a Conferência de Lausanne {Suíça, 1974)
foi uma das mais distintas marcas para a Igreja Latino -
Americana, a de Medellín o foi para a Igreja Católica . Do
ponto de vista eclesiólogico, essa Conferência propôs uma
nova pastoral diante de uma sociedade em processos de
industrialização, urbanização, desintegração e democratização.
A questão era: o que significa ser igreja diante destas questões
modernas ? Para isso, era necessá rio trabalhar a questão da
pastoral como resposta a esses desafios. Galilea, referindo-se
a essa Conferência, conclui que "a pastoral, então, deve
 Educação Teológica Transformadora , . ,,
44 Manfred Koh! e Antonio Carlos Barro (Or<T) • 1
o -':' -,.,;
formar cristãos e comunidades comprometidas e recuperar
para a igreja sua característica de testemunho original de
salvação na sociedade latino-americana. Em suma, uma igreja
com mais qualidade (e menos quantidade?), mais intensa e
menos extensa'' 15 . Alguns pontos sublinhados na Conferência
de Medellin são:
1. Uma convocação para que a igreja assuma uma
encarnação pastoral. Isso significa dizer que já não é mais o
tempo de "adaptar" modelos e propostas de fora, mas é tempo
para "assumir" uma pastoral que seja eminentemente voltada
para o ser latino-americano . Nesse sentido, carecemos de
uma pastoral que encarne a América Latina, sua realidade e
seus processos históricos.
2. Uma busca por uma pastoral pluralística.
Compreende -se que a América Latina é um continente
plural, múltiplo, composto por diversas culturas e contextos.
Por isso era preciso desenvolver uma pastoral que atendesse
essa multiplicidade de situações. Fala-se, portanto, de uma
pastoral pluralística, ou seja, pastoral juvenil, pastoral
universitária, pastoral popular, pastoral da terra, e assim por
diante. Na verdade, "é necessário sublinhar, também, numa
pastoral latino americana, as exigências do pluralismo ... A
catequese deve adpatar -se à diversidade de línguas e de
mentalida des e à variedade de situações e culturas humanas.
É impossível , diante disso, querer impor moldes fixos e
universais. Com um sincero intercâmbio de colaborações,
devemos guardar a unidade da fé em uma diversidade de
formas" (Doc. VIII, 5; 6,8) .
3. Por último, a Conferência de Medellín buscou
uma pastoral libertadora. A igreja fala não de pastoral social
(ação social), que estava reduzida a manter os serviços sociais
existen tes, mas procura -se uma pastoral libertadora, com
A pastoral em perspectiva latino-americana: um ensaio a transformação da realidade
45
Jrorge enrzque Barro
n
u ·
caráter profético, em busca da libertação dos povos latino-
americanos, implicando em desenvolvimento integral .
Vejamos como o teólogo Orlando Costas caracteriza
a pastoral latino-americana. Em 1973, na Segunda Consulta
de Ética Social Evangélica, em Quito (Equador), Costas
apresentou uma palestra intitulada "Hacia una Pastoral
Evangélica para el Hombre Latino -Americano" 16 • Nela, o
autor caracterizou a pastoral latino-americana de três
maneiras: 1. Uma pastoral de repetição; 2. Uma pastoral
profissional; 3. Uma pastora l eclesiocêntrica.
Ao falar de uma pastora l de repetição, Costas
basicamente salienta o fato de que a pastoral latino-
americana foi construída nos moldes e conceitos da América
do Norte e Europa, sendo a primeira pragmática e a segunda
mais teológica e clássica. Como já dito, pastoral, para a
maioria das pessoas, é o trabalho do pastor. Quando se fala
de pastoral, pensa -se em pregação, batismo, celebrações
sacramentais, ofício fúnebre, visitação, e uma específica
palavra a alguém ou à igreja. É comum ouvirmos o seguinte:
"hoje o pastor nos deu uma pastoral" (sinônimo de
exortação). Esse caráter de pastoral de repetição ainda se
encontra de maneira muito forte na América Latina. Sobre
isso, Jardilino comenta:
Reconhecemos com pesar que a nossa visão de pastoral
ainda está muito firmada no modelo anglo-saxão do
protestantismo de missão. Acreditamos poder afirmar
que a pastoral protestante ainda não saiu da fase
missionária, não consegu iu superar a dependência dos
modelos da Igreja-Mãe 17 .
A idéia de Costas é que essa pastor al de repetição
não só impede o diálogo, porque não pode haver diálogo
quando a reflexão é de uma só via, como também "impede
 Educação Teológica Transformadora
46
Man.fed Kohl e Antonio Carlos Barro (Org.)
a autoctonia na reflexão pastoral evangélica e perpetua o
espírito de dependência, espírito de subdesenvolvimento
teológico -pastoral. Tudo isso segue aumentando a crise
pastoral do protestantismo latino-americano" 18 • A única
maneira de romper com essa dependência, a fim de que
deixe de ser uma pastoral de repetição, é desenvolver uma
pastoral autóctone e contextual para a realidade latino-
americana . A pastoral não pode ser de repetição, mas de
transformação da realidade.
O segundo aspecto dessa pastoral é que ela é uma
pastoral profissional. O que isso significa?
A questão central aqui é o monopólio do clericalismo.
Para muitos, a pastoral é sinônimo de trabalho ordenado-
remunerado, cuja ênfase está no indivíduo, em detrimento
do coletivo. Pessoalmente, acredito que esta é uma herança
da Reforma , a qual enfatizava a pastoral como sendo o
trabalho do pastor e nunca como o ministério da igreja.
Orlando Costas nos ajuda a entender esse assunto,
quando observa que:
Está faltando uma reflexão pastoral que leve a sério a
tradição da Reforma do século XVI e o ethos sócio-
cultural do povo evangélico latino-americano. Uma
reflexão crítica que incorpore os valores dessa tradição e
questione seus mal-ajustamentos; que leve seriamente
em consideração o problema de identidade psico-sócio-
cultural, teológica e missional do povo latino-americano;
as tensões entre as ideologias e fé no contexto evangélico
eclesial, estilo e características do fazer teologia latino-
americana; a práxis missiológica dos evangélicos na
América Latina; o culto e a indigenização, a ética e a
evangelização dos evangélicos no meio de situações
críticas que a América Latina vive hoje 19 .
., 'i A pastoral em perspectiva latino-americana : um ensaio a transformação da realidade
I' ' ' ·=- Jorge Renrz·que Barro 47
Um terceiro e último aspecto da pastoral latino-
americana é que ela é uma pastoral eclesiocêntrica.
Esta característica da pastoral na América latina é
uma conseqüência clara da anterior. Se a pastoral é altamente
profissional, então o foco será colocar o profissional no lugar
em que desenvolverá o trabalho, isto é, na igreja. A pastoral,
neste caso, estará dentro dos muros (intra), apenas pela causa
da igreja e não para o mundo, como enfatizei nesse estudo.
Sendo edesiocêntrica, a pastoral será muito burocrática e
institucional, com a finalidade de cumprir e realizar o desejo
da estrutura que sustenta. Em outras palavras, é uma pastoral
que busca a manutenção em vez da obediência ao chamado
para a missio Dei no mundo .
CoNSIDERAÇõEs FINAIS
Depois de delinear algumas das características
negativas da pastoral na América Latina, conforme a
elaboração de Costas, passo, já em uma parte conclusiva
deste capítulo, a apontar três aspectos positivos para uma
pastoral que seja transformadora tanto para igreja latino-
americana como para o contexto no qual está arraigada. Ela
tem de ser:
a) Uma pastoral autóctone
Uma das maneiras, provavelmente a mais importante,
para mudar a pastoral repetitiva é desenvolver uma pastoral
autóctone. Autóctone significa n ativo, local, original,
indígena, doméstico e primitivo. Como a pastoral está ligada
ao contexto, então é indispensável que sua ação deva ser um
resultado das necessidades· do contexto nativo , local e
indígena . É a pastoral no caminho, que será sempre desafiada
' a responder a um lugar e tempo específico. Sua identidade
481 "m"-t""" ·""""ó"""" ····••"JV' ,,... "-
não é de imitar ou copiar o modelo precedente ou importar
modelos, ao contrário, ela criará seu próprio caminho -
autóctone - para abordar adequadamente o seu contexto.
b) Uma pastoral evangelical
Esse aspecto desafia a pastoral profissional, pois seu
cerne não está no clero, mas no povo de Deus. A pastoral
evangelical significa que o foco e o centro não é o pastor,
mas o povo de Deus, como agente pastoral-missional do
Reino de Deus. Também é evangelical porque Jesus é o
arquétipo da nossa pastoral. Numa linguagem mais teológica,
pode -se dize r que não pode haver uma eclesiologia
transformadora sem uma cristologia equilibrada . Isso implica
que não podem os inverter essa relação. Se invertermos, e já
podemos vê-la em muitos casos e exemplos pastorais, então
isso explica porque temos uma pastoral eclesiocêntrica
mesmo hoje. A pastoral evangelical está centrada em Jesus e
em seu ministério como paradigma para nossa ação no
mundo.
c) Uma p astoral missional
Finalmente, o último propósito da pastoral é a missão.
Onde está a razão de nossa pastoral sem a missão? Sem missão
a pastoral será clerical, instituci onal, pessoal, individual e de
mente estreita . Para esse tipo de pastoral a palavra
manutenção tem um perfeito encaixe. A coisa mais
importante, nesse caso, é manter o status quo e os valores
canônicos das instituições Ela nos lembra do que se
preocupavam os líderes das sinagogas nos tempos de Jesus e
dos apóstolos . Cristo morreu fora dos portões. Sua missão
não esteve confinada à Israel somente, mas aos confins da
terra. A pastoral missional desafia a igreja a levar sua missão
. '· •Apastoral em perspectiva latino-americana: um ensaio a transformação da realidade
- '· · · Jorge Henrique Barro 49
não apenas para dentro dos muros eclesiais, mas também
'para aqueles que estão na periferia da vida, para os que não
, . têm esperança no mundo.
Podemos concluir afirmando que a pastoral é a práxis
· de cada cristão - "a pastoral não é nada mais do que a missão
da igreja, e a razão de ser da igreja é a missão" 20 • A pastoral,
portanto, é a ação da igreja no mundo para cumprir a missão
de Deus.
NoTAS
1 Pessoalmente não gosto de usar a palavra 'laicato". Uso pela deficiência de
não termos uma outra palavra que ao mesmo tempo seja abrangente e não
discriminatória. Talvez uma sugestão fosse substitui-la por "corpo de Cristo".
2 PIERSON, Paul E. História do Desenvolvimento do Movimento Cristão.
MH520/620, class syllabus. Pasadena, CA: Fuller Theological Seminary,
School ofWorldMission, 1996, p. 15.
3 CALVINO, Juan . Instituición de la Religion Cristiana. Buenos Aires, Nueva
Creacion, 1988, Livro IV; Cap. III, p. 841.
4 SANTANA, Julio. Por las Sendas de! Mundo Caminando hacia e! Reino .
Conferência de Medellín. DEI, 1984, p. 24. VoL 8(4), Ano XXIII, Setembro,
1984, no 36, p. 24.
5 COSTAS, Orlando E. E/Protestantismo enAmerica Latina Hoy: Ensayos del
Camino (1972-1974). SanJosé, Costa Rica: Publicaciones INDEF, 1975, p.
81.
6
LIBÂNIO, João Batista. Teologia da Libertação. Roteiro didático para um
estudo . São Paulo: Loyola, 1982, p. 11.
7
BONINO, José Miguez . Nuevas Perspectivas Teológicas. Palestra proferida em
Huampaní, Perú, 1971, p . 9, (mimeografada) .
8
Apud. HQCH, Carlos L O Lugar da Teologia Prdtica como Disciplina Teológica.
Revista Simpósio: ASTE, VoL 8(4), Ano XXIII, Setembro, 1993, no 36, p.
14.
9 JARDILINO, José Rubens . Pastoral: Perspectiva Histórica e Desafios Atuais.
Revista Simpósio, ASTE, 1993, p. 21.
10
GUTIÉRREZ, Gustavo. Teologia da Libertação . 6• Edição. Petrópolis: Vozes,
1986, p. 22.
11
In: Revista Simpósio :ASTE, VoL 8(4), Ano XXIII, Setembro, 1993, no 36,
p. 27, 29 .
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12 COSTAS, idem, p. 100.

13 A
"
palavra "autóctone" significa "indígena", nativo, originário da própria
terra. Por exemplo, os aborígines .
14 SANTANA, idem, p. 23.
15 GALILEA, Segundo. A Donde vala Pastoral . Bogotá, Colômbia : Ediciónes

Paulinas, 1974, p. 16..

16 Essa temática desenvolvida por Costas foi de certa forma uma

conseqüência
de unia palestra proferida por Emílio C stro em 1971, na Cátedra Strachan,
no Seini ario Bíblico Latinoamericano, SanJosé (Costa Rica) . Costas fica tão
impressionado com essa palestra de Castro que, em 1973, desenvolve essa
mesma temática, acrescentado "evangélica para o homem" latino americano.
7 JARDILINO, idem, p. 30.
18
COSTAS, Orlando . El Protesta ntismo enAmerica Latina Hoy: Ensayos del
Camino (1972-1974) . San José, Costa Rica: Publicaciones INDEF, 1975, p.
81.
19 Ibid.
20
GALILEA, idem, p . 45.
CAPfTULO

3
0 CUIDADOR E O FENOMENO:
PERSPECTIVAS DA PRÁTICA
PASTORAL HOJE

LYNDON DE ARAújO SANTOS ALEK

SANDRO SILVA DE A NDRADE