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Não resta dúvida de que todas essas práticas estadonovistas asseguraram o apoio da
burguesia industrial como um todo, permanecendo menos expressivos os protestos reduzidos
dos defensores de uma via americana, baseada no fortalecimento da iniciativa privada e no
recurso ao capital estrangeiro como diretriz oficial. A importância do privatismo, inclusive como
arma política contra a ditadura de Vargas, somente cresceu no fim do Estado Novo, passando a
representar uma opção de pese crescente, a partir de 1945.
Na década de 30, a burguesia industrial não tinha ainda as condições de força para
dispensar o protecionismo do Estado e nem mesmo as de controlá-los como setor social
hegemônico. Não podia, portanto, imprimir uma diretriz autônoma à política trabalhista.
O operariado urbano já era portador de uma consciência política mais coerente com os
seus interesses, ainda que dispersa na ação, muitas vezes ainda espontaneísta. No entanto, a sua
importância como agente social crescera a partir do desenvolvimento das atividades industriais
que se seguira à Primeira Guerra Mundial. Essa importância era ampliada pela concentração de
unidades produtoras industriais na Região Centro-Sul, que também coincidia com o centro
dominante das decisões políticas.
O potencial político do proletariado não fora apenas avaliado pelo bloco de classes que
passou a controlar o poder a partir do Golpe de 37. Dele cogitavam expressamente os programas
do Partido Comunista do Brasil, fundado em 1922, e da Ação Integralista Brasileira.
Esta última, organizada em 1932, teve a seu favor vários elementos que lhe permitiram
uma atuação de proselitismo político junto ao operariado, ainda não avaliada corretamente. Até
1938, a ação dos integralistas contou com a tolerância governamental, não somente como contra-
ofensiva ao Partido Comunista como também para a demolição do arcabouço liberal-burguês
que era pretendido pelos construtores do Estado Novo. Além disso, a Ação Integralista, ao
solicitar em sua propaganda o recurso a valores burgueses, tinha o trânsito facilitado na medida
em que a massa operária ainda se auto-reconhecia nesses mesmos valores. Para isso, a
conjuntura internacional também contribuiu, pela exploração dos efeitos da luta de classes na
União Soviética, contrastando-os com as realizações “pacíficas” dos regimes de direita na
Alemanha, na Itália e em Portugal.
Desta forma, na medida em que seu programa não parecia contradizer o interesse
trabalhista revelado pelo Estado, a partir de 1930, a Ação Integralista pôde ser usada como aliada
contra os comunistas, e, malgrado seu, como reforço suplementar na arregimentação de parte
do proletariado urbano.
Por outro lado, o programa da Aliança Nacional Libertadora, que tinha o apoio do Partido
Comunista, estava dominado duplamente pela ideologia nacionalista burguesa. Esta última não
era apenas o recurso tático de que se valiam os opositores ao Estado. Também correspondia à
direção do Partido Comunista que buscava seguir, sem maior autonomia interpretativa, a
orientação cominteriana de formação de amplas alianças táticas antifascistas, consubstanciadas
nas Frentes Populares. Esse direcionamento privilegiava a defesa do Estado Soviético como
tarefa prioritária, a par com um profundo desconhecimento da realidade nacional brasileira.
Basta que nos recordemos da divisão entre o Brasil feudal, representado pelo Nordeste, e o Brasil
capitalista do Centro-Sul, proposta para server de diretriz à ação da Aliança Nacional
Libertadora, quando do levante de 1935.