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PEQUENA HISTÓRIA DA FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA

Manoel Maurício de Albuquerque - Rio de Janeiro: Edições Graal, 1981.

[Pág. 587] O Estado Novo

A implantação do Estado Novo representava principalmente o resultado da aliança da


grande propriedade agrária com uma burguesia industrial historicamente frágil. De fato, o
desenvolvimento dessa última era recente e resultara sobretudo das transformações
determinadas, nas conjunturas mundial e nacional, pela Guerra de 1914-18 e pela Grande
Depressão. Quando do Golpe e Estado em 1937, estava e curso o surto industrial que alguns
analistas designam como o de substituição de importações. Essa imprecisão realça o papel que
nele desempenharam os investimentos estrangeiros e as limitações por eles sofridas durante a
ditadura de Vargas.

Coube ao Estado Novo acentuar e dirigir o processo de expansão do capitalismo no


campo, de maneira a impedir que nele ocorressem alterações radicais na estrutura da grande
propriedade agrária. Tratava-se, portanto, de uma política para acelerar as transformações
capitalistas a partir de uma iniciativa de cima e sujeita às pressões de uma conjuntura onde ainda
remanesciam os efeitos da Grande Depressão. Essa experiência brasileira de implantação de um
capitalismo em que o Estado assumia o papel de moderador oferece certa semelhança com o
processo de passagem do Feudalismo para o Capitalismo nas Formações Sociais Prussiana e
Japonesa, no século XIX. Embora exista uma tendência a aproximar o Estado Novo das práticas
fascistas contemporâneas, a verdade é que as condições concretas da Formação Social Brasileira
distavam bastante das que organizavam as estruturas sociais alemã e mesmo italiana.

No caso brasileiro, é necessário considerar alguns elementos diferenciadores


historicamente ponderáveis. Em primeiro lugar, a prolongada dominância das relações de
produção escravistas e cujo declínio e extinção legal foram determinantes da queda do Império.
Portanto, diferente dos exemplos prussiano e japonês, o fim da transição para o capitalismo, na
Formação Social Brasileira teve a qualificá-lo uma mudança na estrutura e nas funções do
Estado. Também é necessário levar em conta a existência, desde o século XIX, de uma burguesia
agrária que controlava as rendas de uma produção altamente especializada, ainda que, muitas
vezes carente ao nível técnico. Finalmente, há que analisar os efeitos decorrentes da
subordinação da economia brasileira aos centros dominantes do capitalismo mundial.

Neste contexto, adquirem profundidade e coerência as palavras de Getúlio Vargas


quando afirmava que o imperialismo brasileiro representava-se na interiorização, ao
argumentar em favor da Marcha para o Oeste.

Através de uma mudança dominantemente autoritária, o Estado Novo favoreceu a


transformação de grande parte da antiga classe proprietária em empresariado mais atuante,
ampliando as relações capitalistas no campo. No entanto, nesta recomposição de forças políticas,
continuaram as práticas do financiamento e da destruição de estoques de café, procedimento na
aparência irracional, mas que garantia o suporte político da burguesia cafeicultora.
O dirigismo do Estado também favoreceu o controle da classe proprietária sobre a massa
camponesa produtora direta. Esse controle tornava-se mais eficiente na medida em que os donos
da terra, sob a pressão do Estado, descompromissavam-se das práticas econômicas transicionais
pré-capitalistas. É sintomático que o estado novo não haja estendido ao trabalhador rural a
legislação que impôs ao proletariado urbano.

Dessa forma, ele propiciou ao grande proprietário as condições para acumular e


transferir capitais de maneira a tornar-se, muitas vezes, um empresário industrial e financeiro.
Esse novo tipo de burguesia rural diferenciava-se do coronel, dono dos currais eleitorais, que
tanta importância tivera nos arranjos políticos da Primeira República. Nesta nova conjuntura, a
reorganização do aparelho de Estado diminuiu consideravelmente a autonomia daquela antiga
burguesia rural. Em compensação, o centralismo das funções do poder, assegurou a ela uma
proteção mais eficiente, não apenas contra as crises econômicas, mas sobretudo contra qualquer
modificação radical nas relações sociais no campo. O Estado Novo representou assim um
programa político capaz de prevenir mudanças estruturais. Aos proprietários rurais ele
transmitiu o significado mais profundo da importância que teriam os conflitos sociais latentes,
se conseguissem mobilizar revolucionariamente a parcela quantitativa mais importante da
população brasileira.

Em relação ao campesinato, a sua aparente exclusão do controle do trabalhismo estatal


não significa que o seu potencial de revolta fosse ignorado. Ao contrário, foi o recurso empregado
para impedir a aliança das massas rurais com o proletariado urbano, já enquadrado pela política
governamental. Os dirigentes do Estado Novo sabiam que o banditismo, os movimentos
dominados por uma perspectiva messiânica e outras formas de espontaneísmo podiam ser
contidos pelo fortalecimento do patronato. O recente fracasso da Coluna Prestes, cujo limitado
programa pequeno-burguês não conseguira sensibilizar o campesinato, a quase ausência desse
último nas práticas do Partido Comunista e a reduzida e setorial penetração da propaganda
integralista permitiram ao Estado Novo dedicar a sua inventiva ao controle do proletariado
urbano.

Em lugar de uma aliança revolucionária operário-camponesa, que as limitações do


Partido Comunista não tiveram condições de concretizar, a articulação foi promovida em um
contexto tipicamente patronal-capitalista, pelo Estado. Assim é que, a exemplo do que já havia
ocorrido em outras formações sociais, na etapa de transição para o capitalismo, o Estado Novo
procurou reproduzir e ampliar a massa proletária urbana, cooptando trabalhadores rurais que
emigravam. Esses novos integrantes dos setores industrial e de serviços estavam mais aptos a
assumir, inconscientemente, um compromisso na conservação do trabalhismo oficial. Este
último não só lhes acenava com uma incontestável melhoria nas condições de sobrevivência,
como também rompia a solidariedade coletivista rural impedindo-a, pela dispersão, de retomar,
nos núcleos urbanos, a continuidade dos movimentos de protesto camponeses tradicionais. Esta
obra reacionária foi complementada pelo discurso nacionalista, que opunha obstáculos à entrada
de trabalhadores estrangeiros qualificados, possivelmente pelas condições eventuais de oferecer
resistência à política trabalhista. Essa preocupação, evidentemente, estava afastada pela
proletarização trabalhista de produtores diretos egressos das áreas rurais.
Em relação a esses últimos, a intermediação da burguesia era menos segura do que a que
mantinha controle no campo. O empresariado industrial não possuía a mesma experiência no
exercício do poder e, consequentemente, dos mecanismos de repressão e de controle do
operariado. O seu próprio desenvolvimento, que se acelerou depois de 1930, fora determinado
essencialmente pelo intervencionismo estatal e pelo nacionalismo limitado e pragmático de que
ele se revestiu. Com efeito, faltava a burguesia industrial do Brasil a tradição de uma luta
dominada por uma ideologia anti-imperialista. Desta forma, o programa político do Estado Novo
forneceu ao empresariado industrial o protecionismo de que carecia, aliviou-lhe o ônus dos
investimentos custosos na indústria pesada e garantiu-lhes a docilidade do operariado ao
assumir o papel de árbitro nos conflitos entre o patronato e produtores diretos industriais.

Não resta dúvida de que todas essas práticas estadonovistas asseguraram o apoio da
burguesia industrial como um todo, permanecendo menos expressivos os protestos reduzidos
dos defensores de uma via americana, baseada no fortalecimento da iniciativa privada e no
recurso ao capital estrangeiro como diretriz oficial. A importância do privatismo, inclusive como
arma política contra a ditadura de Vargas, somente cresceu no fim do Estado Novo, passando a
representar uma opção de pese crescente, a partir de 1945.

Na década de 30, a burguesia industrial não tinha ainda as condições de força para
dispensar o protecionismo do Estado e nem mesmo as de controlá-los como setor social
hegemônico. Não podia, portanto, imprimir uma diretriz autônoma à política trabalhista.

O operariado urbano já era portador de uma consciência política mais coerente com os
seus interesses, ainda que dispersa na ação, muitas vezes ainda espontaneísta. No entanto, a sua
importância como agente social crescera a partir do desenvolvimento das atividades industriais
que se seguira à Primeira Guerra Mundial. Essa importância era ampliada pela concentração de
unidades produtoras industriais na Região Centro-Sul, que também coincidia com o centro
dominante das decisões políticas.

O potencial político do proletariado não fora apenas avaliado pelo bloco de classes que
passou a controlar o poder a partir do Golpe de 37. Dele cogitavam expressamente os programas
do Partido Comunista do Brasil, fundado em 1922, e da Ação Integralista Brasileira.

Esta última, organizada em 1932, teve a seu favor vários elementos que lhe permitiram
uma atuação de proselitismo político junto ao operariado, ainda não avaliada corretamente. Até
1938, a ação dos integralistas contou com a tolerância governamental, não somente como contra-
ofensiva ao Partido Comunista como também para a demolição do arcabouço liberal-burguês
que era pretendido pelos construtores do Estado Novo. Além disso, a Ação Integralista, ao
solicitar em sua propaganda o recurso a valores burgueses, tinha o trânsito facilitado na medida
em que a massa operária ainda se auto-reconhecia nesses mesmos valores. Para isso, a
conjuntura internacional também contribuiu, pela exploração dos efeitos da luta de classes na
União Soviética, contrastando-os com as realizações “pacíficas” dos regimes de direita na
Alemanha, na Itália e em Portugal.

Desta forma, na medida em que seu programa não parecia contradizer o interesse
trabalhista revelado pelo Estado, a partir de 1930, a Ação Integralista pôde ser usada como aliada
contra os comunistas, e, malgrado seu, como reforço suplementar na arregimentação de parte
do proletariado urbano.

Por outro lado, o programa da Aliança Nacional Libertadora, que tinha o apoio do Partido
Comunista, estava dominado duplamente pela ideologia nacionalista burguesa. Esta última não
era apenas o recurso tático de que se valiam os opositores ao Estado. Também correspondia à
direção do Partido Comunista que buscava seguir, sem maior autonomia interpretativa, a
orientação cominteriana de formação de amplas alianças táticas antifascistas, consubstanciadas
nas Frentes Populares. Esse direcionamento privilegiava a defesa do Estado Soviético como
tarefa prioritária, a par com um profundo desconhecimento da realidade nacional brasileira.
Basta que nos recordemos da divisão entre o Brasil feudal, representado pelo Nordeste, e o Brasil
capitalista do Centro-Sul, proposta para server de diretriz à ação da Aliança Nacional
Libertadora, quando do levante de 1935.

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