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NEUROCIRURGIA
BÁSICA
Sebastião Gusmão
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CAPÍTULO 1
SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA
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1. ANAMNESE
A anamnese é de fundamental importância na avaliação do paciente com lesão do
sistema nervoso. Assim, a reconhecida relevância do exame físico não deve de modo algum
diminuir esse caráter fundamental da anamnese. O mesmo deve ser dito em relação aos
desenvolvimentos tecnológicos que a cada dia chegam em auxilio complementar ao
diagnóstico do paciente portador de doença neurológica.
O diagnóstico resulta da consistência entre a anamnese, o exame físico e os
exames complementares. Em muitos casos, a anamnese bem feita possibilita a formulação
do diagnóstico provável, antes mesmo do início do exame físico. Quando associada a um
exame físico preciso, permitirá, na maioria dos casos, o diagnóstico correto.
A anamnese nunca deverá ser procedimento burocrático, mas processo ativo
durante o qual as hipóteses sobre lesões e disfunções são formuladas e reformuladas. Na
coleta de informações não há pormenor de maior ou menor relevância. Nas três dimensões
do espaço diagnóstico - o paciente, a doença e as circunstâncias epidemiológicas - cada
indício deve concorrer e ser aproveitado para o raciocínio clínico. Neste aproveitamento
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permitem o uso da própria avaliação do paciente. Isto é realizado por meio da escala
analógica, que consiste de uma linha de 10 cm de comprimento em cujo lado esquerdo está
escrito: “Eu não sinto dor alguma” e, no lado direito “Minha dor não poderia ser pior”. Esta
escala é apresentada ao paciente, solicitando que faça uma marca na linha no ponto que
representa o nível da dor no momento da pergunta. A distância da marca a partir do lado
esquerdo da linha é medida em milímetros e denominadas de escore de dor. As medidas
podem ser repetidas várias vezes ao dia ou durante um período de tratamento de dor. Isto
permite medir a evolução temporal da intensidade da dor.
Crises epilépticas
Na epilepsia, a história da moléstia atual adquire especial importância, pois para o
diagnóstico correto dos tipos das crises, as maiores informações são obtidas na anamnese.
As observações feitas pelos pais ou familiares são necessárias e indispensáveis, já que o
diagnóstico do tipo de crise convulsiva será feito baseado nestas informações, desde que, de
maneira geral, o médico não presencia a crise. A colheita dos dados da anamnese e
especialmente das crises epilépticas deverá ser o mais completo possível e adota-se um
esquema que dará, após a sua análise, informação pormenorizada sobre as crises:
pródromos, precipitantes, aura, descrição da crise, duração, fenômeno pós-comiciais,
frequência e medicamentos.
Os pródromos não ocorrem em todos os pacientes porém, existem certos
pacientes que, algumas horas ou dias que antecedem a crise, tornam-se angustiados,
apresentando nítida mudança de comportamento. Ocasionalmente, quando se trata de
crianças, estas procuram as mães apresentando, por vezes, reações de medo, indisposição,
cefaléia ou outros sintomas.
As crises poderão ocorrer espontaneamente ou ser precipitadas por uma série de
fatores, seja de natureza emocional, seja de natureza tóxica, metabólica ou sensorial, ou por
retirada ou mudança brusca de medicamentos anticonvulsivantes. Cabe lembrar que os
precipitantes de natureza sensorial podem ocorrer nas chamadas “epilepsias reflexas” e,
dentre estas, as epilepsias provocadas por estimulação luminosa intermitente são as mais
freqüentemente encontradas.
A aura é um dos elementos mais importantes da crise epiléptica. Quando ocorre,
fornece, em muitos casos, elementos valiosos quanto à provável área de localização
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cerebral, pois nada mais representa que o início da crise, ainda sem propagação cerebral
difusa. A aura é especialmente de valor localizatório nos casos de alucinações auditivas,
visuais, olfativas ou gustativas; nas afasias, parrestesias e fenômenos motores numa parte
do corpo.
A descrição do tipo da crise e os acontecimentos desde seu início até o término
deverão ser anotados com precisão. É importante anotar nas epilepsias parciais motoras, por
exemplo, qual o membro que apresentou inicialmente movimentos convulsivos e a
propagação deste para outras regiões do corpo (crises jacksonianas), a seqüência das fases
tônicas ou clônicas, a presença ou não de incontinência urinária ou fecal, a presença ou não
de distúrbios da consciência.
A duração de cada crise deverá ser anotada, pois crises generalizadas ou parciais
de longa duração podem levar a coma pós-comicial mais prolongado ou mesmo produzir
paralisias prolongadas naqueles membros que apresentarem convulsões (paralisia de Todd).
Os fenômenos pós-comiciais são variáveis e podem incluir desde o coma de
duração variável até quadro de cefaléia, vômitos, dores generalizadas, confusão mental e
paralisias.
Deverão ser anotados a freqüência das crises ou intervalos máximo e mínimo das
mesmas. A data da primeira e da última crise. As crises podem ser, quanto à freqüência,
isoladas, como convulsões na infância, associadas a hipertermia ou podem ser repetidas,
quer espontaneamente ou como crises cíclicas, como por exemplo, no ciclo menstrual, no
ciclo da vigília, sono e gravidez. As crises podem ainda ser repetidas e prolongadas, dando
origem ao status epilepticus.
O paciente ou acompanhante deve ser interrogado sobre os medicamentos
administrados e as doses. Grande número de crises são decorrentes da brusca interrupção
do anticonvulsivante, ou de doses inadequadas ou de mudança rápida de anticonvulsivante.
Distúrbios Motores
Nos distúrbios motores, como paralisias, paresias, atrofia ou ataxia, devem ser
determinado o tempo e modo de início, a localização, a intensidade, o tipo e a progressão ou
regressão. Nas manifestações hipercinéticas determinam-se o tipo, a localização, modo de
início, duração, amplitude, frequência e fatores desencadeantes.
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Parestesias
São sensações desagradáveis descritas como formigamento, picada,
adormecimento e queimação. Traduzem geralmente irritação de nervos periféricos sensitivos
ou de raízes posteriores. As parestesias devem ser caracterizadas quanto à localização,
irradiação, tipo, modo de início, intensidade, freqüência, periodicidade e fatores agravantes
ou atenuantes.
Vertigem
É a perda da percepção normal de relação com o espaço circundante. Pode
manifestar-se unicamente como sensação subjetiva ou sob a forma de deslocamento
anormal e ilusório dos objetos. As manifestações de desequilíbrio podem consistir
unicamente numa sensação subjetiva de insegurança ou de queda, ou corresponder a
sensação objetiva de deslocamento linear ou rotatório do mundo circundante. É importante
diferenciar as manifestações bem sistematizadas do quadro de vertigem com a chamada
vertigem psicogênica, na qual ocorre um conjunto de sensações cinestésicas derivadas de
estado de ansiedade. Na vertigem orgânica é importante determinar a natureza, modo de
início, duração, freqüência, intensidade, direção e relação com a postura e mudança de
posição. As vertigens geralmente traduzem fenômenos subjetivos de disfunção vestibular.
Distúrbios Visuais
Quanto aos distúrbios visuais, o paciente pode queixar-se de diminuição da
acuidade visual, alterações do campo visual (escotomas, hemianopsias, quadrantopsias),
diplopia e alucinações visuais. A diminuição da acuidade visual poderá ser uni ou bilateral, de
instalação súbita ou progressiva (neurites ópticas, atrofias ópticas primárias, edema de
papila). Amaurose unilateral, de instalação súbita, pode indicar embolia da artéria central da
retina, insuficiência do território carotidiano homolateral ou crise enxaquecosa. As alterações
do campo visual indicam lesão da via visual em seu trajeto da retina ao córtex occipital. No
caso de diplopia, que traduz paralisia oculomotora, o paciente pode apresentar-se ao exame
fechando voluntariamente um olho com o objetivo de eliminar a imagem dupla. As
alucinações visuais podem manifestar-se como aura epiléptica, indicando foco occipital.
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Distúrbios auditivos
Manifestam-se por zumbidos, diminuição da acuidade auditiva e alucinações
auditivas. Zumbidos são ruídos percebidos pelo ouvido e que não correspondem a nenhum
fenômeno objetivo.
Distúrbios de outros nervos cranianos
As manifestações dos demais nervos cranianos incluem: distúrbios do olfato e do
paladar, salivação e lacrimejamento; paralisia da face; disartria; disfagia e regurgitação.
Alterações da linguagem
As anormalidades da linguagem podem manifestar-se por distúrbios da
compreensão e da expressão da linguagem falada e escrita. Afasia é a perda da linguagem
por lesão cerebral. Afonia é a perda ou diminuição da voz por lesão do órgão da fonação.
Disartria é a dificuldade de articulação das palavras.
Alterações da consciência
No paciente em coma (perda da consciência com preservação das funções
vegetativas) é fundamental determinar o modo de início da depressão do estado de
consciência: se a instalação do coma foi súbita (acidente vascular cerebral, epilepsia),
relativamente rápida (intoxicação exógena) ou gradual (lesões expansivas intracranianas,
distúrbios metabólicos).
Sintomas viscerais
Os principais sintomas viscerais conseqüentes à disfunção do sistema nervoso
autônomo são: alterações da ingestão de líquido e de alimentos, vômitos, retenção e
incontinência urinária e fecal, alterações da potência sexual e da libido, sudorese e distúrbios
vasomotores.
Sintomas mentais
Os sintomas mentais são devidos a alterações das seguintes funções: orientação,
consciência, atenção, memória, pensamento, senso-percepção e inteligência.
Orientação é a capacidade de estar orientado quanto à própria pessoa e quanto
ao tempo e ao espaço. A desorientação ocorre em quadros demenciais e nas confusões
mentais.
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podendo ser determinada por várias enfermidades que ocasionam lesão difusa do córtex
cerebral.
face ventral do bulbo (pirâmide bulbar). No bulbo, algumas fibras do feixe córtico-espinhal
dirigem-se ao funículo anterior homolateral da medula (feixe piramidal direto ou córtico-
espinhal ventral) e a grande maioria cruza a decussação das pirâmides, indo localizar-se no
lado oposto para formar o feixe piramidal cruzado ou córtico-espinhal lateral, localizado no
funículo lateral, o único importante do ponto de vista semiológico. A lesão da via motora junto
ao tronco cerebral geralmente determina hemiplegia alterna, isto é, hemiplegia contralateral
à lesão, acompanhada de sintomas e sinais homolaterais do acometimento de um ou mais
nervos cranianos; e) medula: o feixe piramidal lateral apresenta-se como via agrupada e
compacta na metade posterior do funículo lateral, já tendo cruzado a linha mediana. O déficit
tipo medular unilateral é a paralisia homolateral, global e proporcional abaixo da lesão. O
déficit tipo medular bilateral é a paralisia bilateral global e proporcional, abaixo da lesão; f)
término: no ápice dos cornos ventrais da medula (início da via final comum de Sherrington).
O segmento periférico da via motora voluntária (motoneurônio periférico ou
inferior) apresenta o seguinte trajeto: a) origem: nos cornos ventrais da medula; b) as raízes
ventrais estendem-se conforme os miótomos embrionários, portanto, com distribuição
topográfica e não funcional. O déficit radicular ou segmentar é homolateral, localizado em
determinados músculos pertencentes ao mesmo miótomo. Em razão de os músculos
apresentarem inervação pluri-radicular, o déficit radicular é sempre incompleto. As principais
raízes inervam os seguintes grupos musculares dos membros, enumeradas
esquematicamente:
C6 — músculos da região anterior do braço;
C7 — músculos das regiões posteriores do braço e antebraço;
C8 — músculos da região anterior do antebraço e lateral da mão;
L5 — músculos da região anterolateral da perna;
S1 — músculos da região posterior da perna.
c) Os plexos reagrupam os motoneurônios das raízes ventrais em troncos
nervosos periféricos, diferenciados funcionalmente. Assim, o déficit troncular atinge músculos
que têm a mesma função, sendo, portanto, de distribuição funcional e não topográfica. Cada
músculo recebe inervação de um só tronco e, portanto, o déficit troncular é sempre completo.
d) Os nervos, de forma esquemática, respondem pelas seguintes funções:
Axilar - abdução do braço;
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encontra-se abolido nas lesões segmentares da medula (T6-T12) e nas lesões piramidais
acima de T6.
Reflexo cutâneo-plantar (S1; Nervos ciático e tibial)
É pesquisado por meio da estimulação, com instrumento semipontiagudo, do
bordo externo da planta do pé, no sentido póstero-anterior. A resposta consiste na contração
dos músculos flexores dos pododáctilos. Este reflexo pode estar abolido (lesão da via
aferente e na fase aguda da síndrome piramidal) ou manifestar-se por inversão na resposta
(sinal de Babinski). O sinal de Babinski consiste na flexão dorsal (extensão) lenta do hálux,
provocada pela estimulação da planta do pé, com exceção da face plantar do próprio hálux.
O reflexo cutâneo-plantar em extensão indica disfunção piramidal, mas nas crianças pode
estar presente até o início da marcha. O sinal de Babinski deve ser referido como estando
presente ou ausente e não positivo ou negativo.
Reflexo anal (S3-5)
A estimulação, com um alfinete, da pele da região anal, determina a contração do
esfíncter externo do ânus.
Reflexo cremastérico (L1-2)
É pesquisado com o paciente em decúbito dorsal e com os membros inferiores em
extensão e abdução. Realiza-se a estimulação da face interna da coxa no seu terço superior.
A resposta consiste na contração do músculo cremáster e conseqüente elevação do testículo
homolateral.
O tono é avaliado por:
Palpação: verificação da consistência muscular;
Percussão: produção do fenômeno miotônico;
Movimentação passiva: avaliação da extensibilidade e da passividade;
Balanço passivo das articulações.
Anátomo-fisiologia
O reflexo miotático inicia-se nas terminações anulospirais das fibras intrafusais,
sensíveis ao estiramento. Os impulsos oriundos destes receptores são conduzidos pelas
fibras aferentes Ia, que fazem sinapse direta com os motoneurônios alfa (no corno anterior
da medula) e vão inervar o mesmo músculo estimulado. Assim, o estiramento do músculo
determina sua contração reflexa.
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Anátomo-fisiologia
A organização geral do equilíbrio é realizada a partir de informações vestibulares e
proprioceptivas periarticulares. As impressões visuais não são indispensáveis, mas são
capazes de compensar parcialmente um déficit das vias vestibulares ou proprioceptivas.
O aparelho vestibular ou labirinto é um órgão proprioceptivo e tem papel
fundamental na orientação espacial e na programação de percepção dos movimentos a
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serem realizados. Ele é excitado pela força da gravidade e pelas acelerações angular e
linear. Os estímulos vestibulares iniciam-se no labirinto e são dirigidos pelo nervo vestibular
para os núcleos vestibulares. Dos núcleos vestibulares partem ordens motoras reflexas que
são enviadas aos núcleos dos nervos oculomotores (fascículo longitudinal medial) e aos
neurônios motores da medula (trato vestíbulo-espinhal), com a finalidade de regular os
movimentos oculares reflexos e o tono postural, para a manutenção do equilíbrio. Através
deste sistema de integração, a posição dos olhos é controlada pelos estímulos vestibulares
(reflexo de movimentação dos olhos por estímulos vestibulares ou reflexo óculo-cefálico),
com a finalidade de manter a fixação do olhar em um objeto determinado durante a
movimentação do corpo ou da cabeça.
Quando ocorre desequilíbrio na estimulação dos labirintos (como, por exemplo,
girando o paciente na cadeira de Barany e irrigando o conduto auditivo externo com água
quente ou fria), os olhos desviam-se para um lado e voltam-se rapidamente à posição
anterior (nistagmo) para logo iniciarem novo desvio. Além de horizontal, o nistagmo pode ser
vertical ou rotatório. Pode ser desencadeado por lesões do labirinto, nervo vestibular,
cerebelo e tronco encefálico.
As alterações do equilíbrio devidas à lesão do labirinto ou nervo vestibular
(síndrome vestibular periférica) caracterizam-se por: alargamento do polígono de
sustentação, desvio lateral da cabeça e do corpo para o lado da lesão, nistagmo com o
componente lento dirigido para o labirinto lesado, sinal de Romberg com tendência a queda
para o lado lesado e tendência durante a marcha a desvio para o lado da lesão.
topográfico, interessando toda a parte do corpo situada abaixo da lesão da via (déficit
sensitivo sublesional).
O déficit sensitivo tipo medular pode comprometer todos os tipos de sensibilidade,
como no caso das lesões medulares completas, ou pode apresentar-se dissociado. O déficit
sensitivo cordonal posterior é do tipo lemniscal (sensibilidade discriminativa: tato epicrítico,
cinético-postural, vibratória), homolateral e sublesional global. Na lesão do funículo posterior,
além dos distúrbios sensitivos, ocorre também alteração da motricidade, caracterizada por
ataxia sensitiva. O sinal de Romberg encontra-se presente. Na ataxia sensitiva os distúrbios
motores acentuam-se quando o paciente fecha os olhos, pois o controle visual permite
corrigir parcialmente os distúrbios motores. O déficit sensitivo cordonal lateral é do tipo
extralemniscal espino-talâmico (temperatura e dor), cruzado e sublesional global .
O déficit sensitivo do tronco encefálico é dissociado, sublesional, global e cruzado.
O déficit sensitivo medial ou lemniscal faz parte das síndromes alternas mediais, que são
caracterizadas por: hemiplegia cruzada, déficit sensitivo cruzado tipo lemniscal e paralisia de
um ou mais nervos cranianos.
O déficit sensitivo tipo talâmico é completo e cruzado, comprometendo
principalmente a sensibilidade lemniscal, mas também a extralemniscal. As lesões
localizadas no segmento posterior da cápsula interna comprometem as projeções tálamo-
corticais, determinando hemianestesia associada a hemiplegia. O déficit sensitivo do tipo
cortical parietal (giro pós-central) é cruzado e dissociado, comprometendo principalmente a
sensibilidade lemniscal discriminativa. Pode acompanhar-se de asterognosia ou agnosia tátil
e agrafestesia (incapacidade de conhecer letras ou números escritos na pele).
que dá a noção de posição da cabeça no espaço, já foi estudada juntamente com a função
do equilíbrio. As funções sensoriais são representadas pela olfação, visão, audição e
gustação.
4.1. Oculomotricidade
Motricidade extrínseca dos olhos
Compreende o exame do movimento de cada globo ocular nas várias direções e
da elevação da pálpebra superior.
Motricidade extrínseca conjugada dos olhos
Exame do movimento conjugado dos olhos nas várias direções.
Motricidade intrínseca ou pupilar
diâmetro pupilar;
reflexo fotomotor;
reflexo de acomodação-convergência.
Anátomo-fisiologia
Os músculos extrínsecos oculares são inervados pelos nervos
oculomotor: reto medial (adução do globo), reto superior e oblíquo inferior
(elevação do globo), reto inferior (abaixamento do globo) e elevador da pálpebra
superior; troclear: oblíquo superior (abaixamento com adução e rotação interna do
globo); e abducente: reto lateral (abdução do globo).
A paralisia do nervo oculomotor manifesta-se por: ptose palpebral e desvio do
globo ocular para fora, por causa do predomínio do músculo reto lateral (estrabismo
divergente); o paciente não consegue elevar o globo ocular ou a pálpebra e nem desviar o
olho para dentro. Pelo acometimento das fibras parassimpáticas, a pupila encontra-se
dilatada (midríase paralítica) e o reflexo fotomotor abolido. A paralisia do nervo abducente
determina paralisia do músculo reto lateral do mesmo lado. O olho apresenta-se desviado
para dentro (estrabismo convergente) e o paciente não consegue desviar o globo ocular
comprometido para fora. A paralisia do nervo troclear determina paralisia do músculo
oblíquo superior; o olho acometido fica desviado para cima e para dentro.
O movimento voluntário dos dois olhos na mesma direção (movimento conjugado
do olhar) é comando pela área oculógira frontal (área 8 no giro frontal médio). Sua lesão
causa desvio do olhar para o hemisfério lesado (o doente olha sua lesão).
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4.3. Mímica
No exame da mímica facial avalia-se:
Simetria facial em repouso
Contração dos músculos faciais - frontal: enrugar a fronte; orbicular das
pálpebras: fechar os olhos; orbicular dos lábios: fechar os lábios e assoviar; bucinador: retrair
os cantos da boca, como no riso; platisma: contrair os cantos da boca e a musculatura
cervical superficial.
Reflexo do orbicular das pálpebras: a percussão da região fronto-temporal,
especialmente na glabela (reflexo glabelar), na raiz do nariz (reflexo naso-palpebral) e na
região supra-orbitária (reflexo de Mac Carthy) determina a oclusão palpebral bilateral.
Reflexo do piscamento: quando se faz rápido movimento como se fosse tocar o
olho do paciente com a mão, ocorre oclusão palpebral.
Reflexo do orbicular dos lábios ou oro-orbicular: a percussão do lábio superior
determina a contração da musculatura perioral com a protrusão dos lábios.
Anátomo-fisiologia
A mímica é produzida pelos músculos cutâneos da face, inervada pelo nervo
facial. A lesão deste nervo traduz-se pela paralisia de todos os músculos da face (paralisia
facial periférica), ao passo que lesão apenas córtico-nuclear determina paralisia somente dos
dois terços inferiores da face (paralisia facial central). A conservação da motricidade do terço
superior da face resulta do fato de serem poupadas as fibras homolaterais (que vão para o
subnúcleo facial superior).
4.4. Motricidade lingual
O exame consiste, inicialmente, em inspeção estática (desvios, atrofias, fibrilações
ou fasciculações), seguida de exteriorização da língua e execução dos diversos movimentos.
Anátomo-fisiologia
O músculo genioglosso, inervado pelo hipoglosso (XII), age impulsionando a
língua para a frente e desviando-a para o lado oposto. Na lesão do nervo hipoglosso,
observa-se, em repouso, hemiatrofia da língua, com desvio para o lado normal, pela
prevalência dos músculos opostos não paralisados. Na protrusão da língua, ocorre desvio
para o lado paralisado, pela contração do genioglosso contralateral não paralisado.
4.5 Deglutição
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a lateralmente para o mesmo lado, ao mesmo tempo que gira a face para o lado oposto. Na
lesão do nervo espinhal, observa-se déficit na elevação do ombro (trapézio) e na rotação da
cabeça para o lado oposto à lesão (esternocleidomastóideo); a face fica desviada para o lado
paralisado.
4.8. Sensibilidade exteroceptiva
Exploram-se:
Tato
Dor
Temperatura
Reflexo corneano: piscamento quando se toca a borda da córnea com mecha de
algodão.
Anátomo-fisiologia
A sensibilidade da face e fronte provém do nervo trigêmeo, cujos neurônios estão
localizados no gânglio de Gasser. Os prolongamentos centrais destes neurônios chegam ao
tronco encefálico pela face lateral da ponte no ângulo ponto-cerebelar. Os prolongamentos
periféricos distribuem-se pelos três ramos terminais: oftálmico, maxilar e mandibular. Os
núcleos sensitivos do trigêmeo emitem fibras que vão incorporar-se ao lemnisco medial e ao
feixe espinotalâmico dorsal.
A lesão do nervo trigêmeo determina déficit sensitivo limitado ao território sensitivo
da raiz acometida. A estimulação da córnea é transmitida pelo nervo trigêmeo até o núcleo
do mesmo. Fibras cruzadas e não cruzadas originadas neste núcleo conduzem os impulsos
aos núcleos do facial, dos dois lados, de tal modo que a resposta motora se faz pelos dois
olhos (reflexo corneano).
4.9. Gustação
Explora-se colocando sobre a língua algodões embebidos em substância com
cada um dos quatro sabores clássicos: amargo, azedo, doce e salgado.
Anátomo-fisiologia
O segmento periférico da via gustativa é constituído pelo facial (dois terços
anteriores da língua), glossofaríngeo (terço posterior da língua) e vago (faringe), cujas fibras
vão terminar no núcleo do trato solitário. A ageusia unilateral pode ser produzida por lesão do
facial ou do nervo da corda do tímpano.
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4.10. Olfação
Estando o paciente com as pálpebras cerradas, ele deve aspirar, em cada narina
em separado, substâncias aromáticas como pó de café e tabaco. O paciente deverá
identificar os odores das substâncias apresentadas.
Anátomo-fisiologia
No epitélio da mucosa olfatória encontram-se as células olfatórias, que dão origem
aos axônios do nervo olfatório. Suas fibras atravessam a lâmina crivosa do osso etmóide,
fazendo sinapse com as células mitrais do bulbo olfatório, localizado sob o lobo frontal. O
bulbo olfatório comunica-se posteriormente com o trato olfatório que, em sua extremidade
posterior, divide-se em estria olfatória medial e lateral. As fibras destinadas ao córtex olfatório
seguem pela estria olfatória lateral, terminando na parte anterior do uncus e do giro para-
hipocampal.
Lesões da via olfatória (nervo, bulbo e trato olfatório) determinam a diminuição ou
a perda do olfato homolateral (hiposmia e anosmia).
4.11. Audição
Os testes auditivos usuais são:
Teste da voz falada e sussurrada. Permite avaliar a condução aérea e a acuidade
auditiva. O examinador coloca-se ao lado do paciente e sussurra palavras que o mesmo
deverá repetir. O paciente deverá ocluir com o dedo o canal auditivo externo do ouvido
oposto.
Teste do roçar dos dedos. Após o paciente ocluir o ouvido contralateral ao testado,
o examinador executa o roçar dos dedos polegar e indicador em frente ao ouvido testado.
Este teste permite também a avaliação da condução aérea e da acuidade auditiva.
Teste do “tic-tac” do relógio. Permite a avaliação da condução aérea em altas
freqüências. Alguns pacientes portadores de perdas auditivas de alta freqüência, percebem o
déficit quando não conseguem ouvir seus relógios. O relógio é aproximado lentamente do
ouvido testado e determina-se a distância a partir da qual o paciente começa a ouvir o “tic-
tac” do relógio.
Teste do diapasão. É utilizado para testar tanto a condução aérea quanto a óssea.
É usado um diapasão com freqüência igual ou superior a 256 Hz. Com o diapasão realiza-se
os testes de Rinne, Weber e Schwabach. No teste de Rinne, o diapasão é aplicado à apófise
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mastóide (condução óssea) e, quando o som deixa de ser percebido, o diapasão é colocado
próximo ao conduto auditivo externo (audição aérea). A resposta normal é ouvir o diapasão
adjacente ao pavilhão auditivo (condução aérea) após o mesmo não ser mais audível sobre a
mastóide. A duração da percepção é duas ou três vezes maior para a condução aérea em
relação a condução óssea. No teste de Weber, coloca-se o diapasão vibrando no vértice do
crânio. Normalmente a vibração é percebida com a mesma intensidade dos dois lados, sem
lateralização. No teste de Schwabach, coloca-se o diapasão em vibração em sua própria
mastóide e, a seguir, na do paciente.
Anátomo-fisiologia
Na cóclea encontra-se o órgão de Corti, estrutura de células auditivas receptoras.
Os corpos celulares dos neurônios aferentes que fazem sinapse com as células receptoras
estão localizados no gânglio espiral. Seus axônios formam o nervo coclear, que passa pelo
conduto auditivo interno, chega ao ângulo pontocerebelar, e termina nos núcleos cocleares.
Fibras cócleo-coliculares homo- e contralaterais ascendem pelo lemnisco lateral e fazem
sinapse com fibras colículo-geniculadas. Os neurônios genículo-corticais projetam-se nas
áreas 41 e 42 do giro temporal superior.
A lesão do nervo coclear determina a surdez de percepção. Nas lesões do
aparelho de transmissão (hipoacusia de condução), a prova de Weber está lateralizada para
o lado do ouvido atingido, porque o efeito mascarador do ruído ambiente está ausente no
lado enfermo; nas lesões das vias auditivas (hipoacusia de percepção), a lateralização é para
o lado do ouvido não lesado. Na prova de Rinne, a duração da percepção óssea e aérea
guardam razão de 1 para 2. Na hipoacusia de condução, a duração da percepção óssea está
normal e a aérea diminuída ou inexistente, ocorrendo alteração da proporção acima
mencionada. Na hipoacusia de percepção, a audição por via aérea é melhor que por via
óssea, porém, ambas estão diminuídas ( prova de Rinne positiva encurtada); a razão se
mantém, mas os tempos se acham diminuídos nas duas fases da prova.
4.12. Visão
A avaliação da função visual consiste no exame da acuidade visual, dos campos
visuais e do fundo do olho.
Acuidade visual: é testada em escalas com caracteres de dimensão variável. Para
cada olho, verifica-se a acuidade visual para longe, que será expressa em fração, ao lado
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das diversas seqüências de caracteres. Estas escalas dão a acuidade visual desde um ou
20/20 (normal) até 1/10 ou 20/200. O paciente deve ser colocado a seis metros da escala,
para que não ocorra acomodação.
Campos visuais: o campo visual de cada olho é testado separadamente, pelo
método da confrontação, onde o examinador e o paciente se colocam um em frente ao outro,
fixando os respectivos olhos (olho esquerdo do examinador no olho direito do paciente e
vice-versa). O campo visual do examinador é, então, confrontado com o do paciente,
usando-se os dedos do examinador em movimentos nas extremidades do campo visual.
Exame oftalmoscópico: é o exame do fundo do olho, por meio de aparelho, para
observarem-se cor, forma, depressão fisiológica da papila, bordas do disco papilar, vasos e
pulso venoso, mácula e retina. Ao exame oftalmoscópico a papila óptica apresenta-se como
mancha rosa pálida, de forma arredondada, com a metade temporal ligeiramente mais pálida
que a metade nasal. Apresenta bordas nítidas, especialmente do lado temporal, e de seu
centro emergem os vasos retinianos. A papila é vista ligeiramente elevada, com a depressão
em seu centro. A artéria central da retina emerge do centro da papila óptica e divide-se em
arteríolas. As artérias são finas, de calibre menor que as veias, e apresentam trajeto
aproximadamente retilíneo. Têm aspecto brilhante. As veias são mais espessas, de trajeto
mais tortuoso e de intensa cor avermelhada. Lateralmente à papila, observa-se a mácula
lútea, pequena mancha de cor ligeiramente escura e desprovida de grandes vasos. A retina é
de cor vermelha e percorrida pelas artérias e veias.
Anátomo-fisiologia
A via óptica é formada pela retina, nervo óptico, quiasma óptico, trato óptico, corpo
geniculado lateral, trato genículo-calcarino (radiação óptica) e córtex visual.
A lesão do nervo óptico provoca cegueira do olho correspondente. A lesão da
parte mediana do quiasma óptico resulta em hemianopsia bitemporal, como conseqüência da
interrupção das fibras provenientes das retinas nasais, que se cruzam aí. A lesão
retroquiasmática unilateral (trato óptico, radiação óptica e córtex occipital) provoca
interrupção das fibras da retina temporal de um olho e nasal do outro olho, resultando em
hemianopsia homônima, com perda do campo visual contralateral à lesão.
A atrofia óptica resulta da degeneração das fibras visuais pré-geniculadas. O
nervo óptico é envolvido pelas meninges e banhado pelo líquor, o que explica o fato de as
34
5. FUNÇÕES SUPERIORES
As funções superiores, integradas no córtex cerebral, representam o conjunto das
atividades ligadas aos vários processos mentais: linguagem, memória, praxia, gnosia.
5.1. Linguagem
A linguagem é a capacidade de exprimir e comunicar o pensamento por meio de
sinais vocais, que eventualmente podem ser transcritos. Assim, a linguagem refere-se à
etapa psíquica da elaboração do pensamento, enquanto a fala é processo puramente
mecânico, constituindo um dos veículos de expressão ideativa. Examinam-se as duas
vertentes da linguagem oral, a expressão e a compreensão:
Expressão
Linguagem espontânea: nome, profissão, história da doença
Repetição de palavras e frases
Denominação de objetos e imagens
Descrição de determinada imagem complexa
Compreensão
Designação de objetos e imagens
Execução de ordens simples: abrir os olhos, fechar a boca etc.
Execução de ordens complexas.
Anátomo-fisiologia
Quando a palavra é ouvida, o som é percebido no córtex auditivo primário (giro
temporal transverso de Herschl) e transmitido à área de Wernicke (porção posterior da
primeira circunvolução temporal do hemisfério dominante). Aí a informação auditiva é
processada, interpretada e transferida, através do fascículo arqueado, para a área de Broca
(parte opercular da terceira circunvolução frontal do hemisfério dominante), onde evoca
coordenado programa de vocalização. Este programa é transmitido para o córtex motor que,
através do feixe córtico-nuclear e nervos cranianos, estimula os músculos da fonação.
35
IDENTIFICAÇÃO, ANAMNESE
TRONCO E MEMBROS
1- Força muscular
Marcha
Força muscular segmentar
Manobras deficitárias:
Braços estendidos
Mingazzini
Barré
Manter-se sobre a ponta do pé
Manter-se sobre o calcanhar
3- Coordenação
Prova índex-nariz
Prova dos movimentos alternados de pronação e supinação da mão
Prova da oposição do polegar com os demais dedos
Prova do rechaço (Stewart-Holmes)
Prova da marcha
4- Equilíbrio
Marcha
Sinal de Romberg
Prova dos braços estendidos
5- Tono
Inspeção
Palpação
40
Movimentação passiva
6- Reflexos musculares
Bicipital (C5-6; n. musculocutâneo)
Tricipital (C7; n. radial)
Braquiorradial (C5-6; n. radial)
Flexores dos dedos (C8-T1; n. mediano e ulnar)
Quadríceps ou patelar (L2-4; n. femoral)
Tríceps sural ou aquileu (S1; n. ciático e tibial)
7- Reflexos cutâneos
Cutâneo-abdominal (T6-12)
Cutâneo-plantar (S1; n. ciático e tibial)
Anal (S3-5)
Cremastérico (L1-2)
8- Sensibilidade
Superficial: tato, temperatura, dor
Profunda: cinético-postural, vibratória
De integração cortical: estereognosia, grafestesia
1- Motricidade
Globo ocular
extrínseca (III, IV, VI):movimentos sob comandos; nistagmo
intrínseca:diâmetro pupilar (III parassimpático, simpático cervical)
Mímica
contração dos músculos da face e fronte e oclusão palpebral (VII)
abertura palpebral (III)
Mastigação: movimentos da mandíbula (V)
Língua (XII)
Deglutição (IX-X)
véu do palato e parede posterior da faringe
deglutição de sólidos e líquidos
Fonação (X): timbre da voz
Rotação da cabeça e elevação dos ombros(XI)
2- Reflexos
Fotomotor direto e consensual (II-III parassimpático)
Orbicular das pálpebras : glabelar e supraorbitário (V-VII)
Corneano ou córneo-palpebral (V-VII)
Orbicular dos lábios ou focinho (V-VII)
Palmo-mentoniano
Massetérico ou mandibular (V)
Faríngeo ou do vômito (IX-X)
3- Sensibilidade
Face, fronte e córnea (V)
Concha do pavilhão auricular (VII)
4- Funções sensoriais
Olfação (I)
Gustação (VII)
42
Audição (VIII)
Teste da voz falada
Teste do roçar dos dedos
Teste do “tic tac” do relógio
Teste do diapasão: Weber, Rinne
Visão (II)
Acuidade visual
Campos visuais
Fundo do olho
DIAGNOSTICO
Funcional
Topográfico
Etiológico
43
CAPÍTULO 2
SÍNDROMES NEUROLÓGICAS
44
Funcionais
Neurônio motor inferior
Neurônio motor superior ou piramidal
Extrapiramidal
Vestibular
Confusão mental
Demência
Anatômicas ou topográficas
Sistema nervoso periférico: raízes, plexos, nervos.
Sistema nervoso central: medula, tronco encefálico, cerebelo, cérebro
Difusas
Hipertensão Intracraniana
Meníngea
SÍNDROME EXTRAPIRAMIDAL
Os núcleos da base desempenham importante papel no controle da postura e
do movimento. A lesão dos mesmos determinam alterações do tono muscular e
movimentos involuntários de vários tipos. São os seguintes os principais sinais da
síndrome extrapiramidal:
Hipercinesia ou bradicinesia
Hipo ou hipertonia (rigidez)
Distonia (alteração de postura)
Reflexos musculares normais
SÍNDROME VESTIBULAR
O aparelho vestibular ou labirinto tem papel fundamental na orientação espacial
e na programação e percepção dos movimentos a serem realizados, regulando o
equilíbrio do corpo e a posição e a movimentação dos globos oculares. A síndrome
vestibular manifesta-se por:
Vertigem, náusea e vômito
Desvio da cabeça e do corpo
Nistagmo
Sinal de Romberg
Desvio da marcha
SÍNDROME DEMENCIAL
A demência (lat. demens, estar fora da própria mente) traduz-se por
deterioração das funções intelectuais de instalação progressiva e irreversível. O acesso à
representação simbólica e à organização programada do comportamento depende do
neocórtex, especialmente da áreas de associação temporais, parietais e frontais. A
demência manifesta a dissolução deste nível de organização com regressão das
capacidades intelectuais e a consequente perturbação das funções cognitivas por perda
neuronal.
Demência refere-se a síndrome clínica e não a entidade patológica específica.
É determinada por um grupo de doenças cerebrais, cujo aspecto primordial é a perda
48
Alterações de linguagem
1) dor em queimação na mão, ocorrendo com maior intensidade durante a noite; 2) atrofia
da eminência tenar, com paresia do abdutor curto do polegar e oponente do polegar; 3)
déficit sensitivo na parte lateral da palma da mão, na face palmar dos três primeiros dedos
e metade do quarto dedo e na face dorsal das falanges distais destes mesmos dedos; 4)
sensibilidade aumentada das fibras nervosas à compressão mecânica, sendo que a
percussão sobre o nervo, no túnel do carpo, pode determinar sensação parestésica na
distribuição do nervo mediano (sinal de Gilliat e Wilson) e a flexão ou hiperextensão do
punho pode causar o aparecimento ou intensificação da dor (sinal de Phalen).
N. Ulnar (C7-T1)
A lesão do nervo ulnar no braço e no cotovelo determina paresia ou paralisia
da flexão da mão, da flexão da terceira falange dos dedos anular e mínimo, da adução e
abdução dos dedos, da adução do polegar e dos movimentos de flexão, adução e
oposição do dedo mínimo. Os dedos anular e mínimo apresentam-se com a primeira
falange em extensão e as demais em flexão, configurando a mão em garra. O déficit
sensitivo localiza-se na metade medial da mão, no dedo mínimo e metade interna do dedo
anular.
A lesão do ulnar no antebraço e no punho determina o mesmo quadro anterior,
exceto por poupar o flexor ulnar do carpo e o flexor profundo dos dedos.
N. Femoral (L2-L4)
Sua lesão manifesta-se por: atrofia da face anterior da coxa; paresia ou
paralisia da flexão da coxa sobre a bacia (iliopsoas) e da extensão da perna (quadríceps
femoral); parestesias e hipoestesia na face anterior da coxa e face na medial do joelho, da
perna e do pé; e abolição ou diminuição do reflexo patelar.
N. Ciatico (L4-S3)
Na lesão do tronco do nervo ciático, ocorre paralisia dos músculos da face
posterior da coxa (flexão da perna), inervados pelos ramos colaterais, e dos músculos da
perna, do pé e dos artelhos (flexão e extensão do pé e dos artelhos; rotação do pé),
inervados pelos ramos terminais (tibial e fibular). O reflexo aquileu é abolido. Ocorre
déficit sensitivo na face ântero-lateral da perna e do dorso do pé (nervo fibular) e na
planta do pé e dos pododáctilos (nervo tibial).
N. Tibial (S1)
51
SÍNDROMES RADICULARES
O princípio da localização das lesões radiculares consiste na distribuição
segmengtar das alterações da força muscular, da sensibilidade e dos reflexos. O exato
nível da lesão pode ser determinado através do exame da motricidade, da sensibilidade e
dos reflexos. Os músculos e os territórios sensitivos radiculares têm uma inervação
pluriradicular, razão pela qual a lesão de uma única raiz leva apenas a moderado déficit
motor (paresia) e sensitivo (hipoestesia). Fenômenos dolorosos e parestésicos são
comuns nas síndromes radiculares.
A seguir, descrevemos o quadro clínico (músculos e reflexos comprometidos e
área de déficit sensitivo) da lesão das principais raízes medulares.
C5
C6
SÍNDROMES MEDULARES
Síndrome centromedular
A lesão da substância cinzenta central leva à interrupção das fibras que vão
formar o trato espino-talâmico, quando elas cruzam ventralmente o canal central. Ocorre,
portanto, a perda da sensibilidade térmica e dolorosa (dissociação siringomiélica da
sensibilidade) bilateralmente, nos dermátomos relacionados com as fibras lesadas. Em
decorrência da sistematização das fibras no trato espino-talâmico (sensibilidade das
raízes cervicais em posição dorsomedial e das sacrais em posição ventrolateral), a
sensibilidade das raízes sacras (períneo) pode estar preservada nas lesões centrais da
medula. A siringomielia e os tumores intramedulares representam as principais causas da
síndrome centromedular.
A lesão das vias dos nervos cranianos pode ocorrer no segmento periférico ou
no central. Na lesão periférica (núcleo e tronco do nervo), os sintomas e sinais
observados são decorrentes da disposição anatômica do nervo. A sua origem e término
no encéfalo explicam a ocorrência de síndromes alternas que associam o
comprometimento cruzado das vias longas do tronco cerebral à paralisia homolateral do
nervo craniano. A proximidade do trajeto intracraniano de alguns nervos e a emergência
da base do crânio, através de orifícios comuns, explicam as lesões associadas dos nervos
cranianos. Nas paralisias centrais (supranucleares), estão sempre associados sinais de
lesão de estruturas do encéfalo e o comprometimento das motricidades voluntária e
automática pode estar associado.
Nervo olfatório (N. I)
As lesões que causam anosmia podem estar localizadas na mucosa olfativa,
nos filetes olfatórios, no bulbo, no trato ou nas estrias. As causas mais comuns são o
trauma crânioencefálico e os tumores da base do lobo frontal. Admite-se que as lesões do
córtex olfatório podem provocar parosmia (perversão do olfato), cacosmia (odores
desagradáveis) e alucinações olfativas.
Nervo óptico (N. II) e vias visuais
Retina
SÍNDROME CEREBELAR
Ataxia axial
Nistagmo
Síndrome hemisférica ou lateral
SÍNDROMES CEREBRAIS
O lobo frontal pode ser dividido em duas regiões. A região frontal posterior (pré-
rolândica ou pré-central), formada pela circunvolução frontal ascendente ou giro pré-
central, é o centro motor cortical (área somato-motora). A parte anterior do lobo frontal
não apresenta nenhum centro primário e sua lesão unilateral determina alterações
mínimas. Somente quando a lesão é bilateral é que ocorrem alterações do
comportamento, da personalidade e do humor.
As alterações decorrentes da lesão frontal são: 1)Hemiplegia espástica
contralateral; 2) Alterações do comportamento motor; 3) Alterações da marcha: são
variáveis, podendo ocorrer marcha em pequenos passos, alterações do equilíbrio e
retropulsão. Pode ocorrer a apraxia de marcha, em que o paciente parece estar colado ao
solo e apresenta dificuldade para elevar cada pé para dar o próximo passo; 4) Alterações
reflexas: As lesões frontais podem acompanhar-se do reaparecimento de certos reflexos,
denominados arcaicos: reflexo de preensão (“grasping reflex”), “prout reflex” ou reflexo do
focinho; reflexo palmo-mentoniano exaltado; 5) Alteração da oculomotricidade com
redução ou abolição da motricidade ocular voluntária para o lado oposto à lesão (lesão da
área oculomotora frontal); 6) alteração da articulação da palavra por perturbação da
programação da musculatura vocal (afasia motora de Broca) por lesão do giro frontal
inferior do hemisfério dominante; 7) Alterações da personalidade, do humor e do
comportamento social.
Apesar de a semiologia da síndrome frontal ser bastante complexa, é possível
realizar, de forma esquemática, a classificação topográfica dos sinais e sintomas.
Lesão frontal posterior ou motora (giro pré-central):
Área da face (porção inferior): paresia facial central
Área do membro superior (joelho médio): paresia braquial
Área do membro inferior (porção paramediana): paresia crural.
Lesão do lobo frontal anterior (pré-frontal):
F1: incontinência urinária e reflexos primitivos
F2: paralisia do olhar conjugado
62
Fisiopatologia
liquóricas com reduções das cisternas e colapso dos forames dos ventrículos. Quando
novas reduções do volume de líquido cefalorraquiano ou do sangue não sejam possíveis,
ocorre herniação do tecido cerebral provocada por gradientes de pressão de um
compartimento em relação a outro, com compressão e encarceramento tecidual a nível da
foice do cérebro, da tenda do cerebelo ou do forame magno.
A HIC altera a função neurológica através da diminuição do fluxo sangüíneo
cerebral e das hérnias cerebrais.
O fluxo sangüíneo cerebral (FSC) é igual à relação entre a pressão de
perfusão cerebral (PPC) e a resistência vascular cerebral (RVC). O fluxo sangüíneo
cerebral é mantido estável `as custas de adaptações da RVC, que é modificada por
mecanismos de auto-regulação. A pressão de perfusão cerebral pode ser definida como a
diferença entre a pressão arterial média (PAM) e a pressão venosa. Para efeitos práticos
a pressão no interior das veias cerebrais é igual à PIC. Por isso, a pressão de perfusão
cerebral tem valor aproximado da diferença entre a pressão arterial e a intracraniana.
Estas relações podem ser sistematizadas na seguinte equação:
FSC = PPC / RVC = (PAM - PIC) / RVC
Em um líquido, as variações locais de pressão são transmitidas em todos os
pontos do mesmo (princípio de Pascal), enquanto que as forças externas que atuam
sobre um corpo sólido são transmitidas de forma direcional, originando um estresse
interno com deslocamento em massa do corpo sólido. O parênquima cerebral será,
portanto, submetido a um estresse, enquanto que o LCR e o sistema circulatório
transmitirão pressões.
Devido às características físicas do encéfalo e à inextensibilidade da caixa
craniana, uma lesão expansiva intracraniana causa estresse e deslocamento do tecido
cerebral de um compartimento para outro (hérnia cerebral interna) desde que se
estabeleça um gradiente de pressão.
Nas lesões expansivas unilaterais, as estruturas da linha média são desviadas
para o lado oposto. O septo interventricular e o terceiro ventrículo são desviados e o giro
do cíngulo se projeta sob a borda livre da foice do cérebro (hérnia supracalosa ou
subfalciforme ou do giro do cíngulo). Nos casos mais intensos, a hérnia subfalciforme
65
pode comprimir uma ou ambas as artérias pericalosas, com conseqüente infarto nos
respectivos territórios de irrigação.
A hérnia tentorial ou cone de pressão tentorial apresenta-se sob duas
formas : a hérnia tentorial lateral (ou hérnia do uncus) e a hérnia tentorial central do
tronco encefálico. A hérnia tentorial lateral ou uncal consiste na passagem parcial do
uncus e da porção medial do giro parahipocampal entre a borda livre da tenda e o
mesencéfalo. Em conseqüência, o mesencéfalo é comprimido no sentido lateral,
ocorrendo o alongamento de seu diâmetro ântero-posterior. Poderá ocorrer também a
compressão do nervo oculomotor e da artéria cerebral posterior.
Na hérnia transtentorial central ocorre deslocamento para baixo de
todo o tronco encefálico através do buraco de Pacchioni. É causada principalmente por
lesões expansivas de localização frontal ou parietal ou por lesões expansivas bilaterais.
Durante este processo, ocorre o estiramento das artérias perfurantes do tronco encefálico
oriundas da artéria basilar, em virtude de o tronco encefálico deslocar-se para baixo,
enquanto a artéria basilar mantém-se relativamente fixa. O estiramento produz isquemia e
hemorragia nas proximidades da linha média do tronco encefálico, denominada de
hemorragia de Duret.
Se a compressão supratentorial prossegue e a pressão intraventricular
excede de aproximadamente 10 mmHg a pressão subaracnóidea cervical, o quadro de
hérnia tentorial é seguido pelo de hérnia das tonsilas ou amigdalas cerebelares. As
tonsilas cerebelares se insinuam, então, através do forame magno, obliterando a cisterna
magna e comprimindo o bulbo.
Quadro clínico
SÍNDROME MENINGEA
por mm3. A taxa de coretos é de, aproximadamente, 700 mg/100 ml, a de glicose de 60
mg/100 ml, e a de proteínas totais de até 40 mg/100 ml no LCR lombar.
O LCR hemorrágico é encontrado em processos hemorrágicos
intracraniorraqueanos. Nas meningites agudas a vírus o LCR pode apresentar-se
hipertenso e turvo e com pleocitose por linfomononucleares. Nas meningites agudas
bacterianas o LCR apresenta-se fortemente turvo, podendo ser purulento. A pleocitose
por polimorfonucleares neutrófilos é intensa. A taxa de proteínas totais é geralmente muito
alta. Na cisticercose do sistema nervoso central são comuns pleocitose,
hiperproteinorraquia e presença de anticorpos específicos. Na esquistossomose, o LCR
pode ser normal ou apresentar pleocitose discreta, presença de células eosinófilas,
hiperproteinorraquia e positividade da reação de fixação do complemento para
esquistossomose.
Sinais e sintomas da síndrome meníngea
Hemiplegia contralateral
Hemianestesia superficial e profunda contralateral
Comprometimento de nervos cranianos homolateral
S. CEREBELAR
Dismetria
Decomposição dos movimentos
Disdiadococinesia
Tremor durante a realização de movimentos
Marcha atáxica
Hipotonia
S. DO LOBO FRONTAL POSTERIOR OU MOTORA (GIRO PRÉ-
CENTRAL)
Área da face : paresia facial central
Área membro superior : paresia braquial
Área membro inferior : paresia crural
S. DO LOBO FRONTAL ANTERIOR (PRÉ-FRONTAL)
F1 :incontinÍncia urinária
reflexos primitivos
F2: paralisia do olhar conjugado
F3: afasia de Broca
Pólo frontal: alterações afetivas, da personalidade e do comportamento
social
S. LOBO OCCIPITAL
Hemianopsia homônima contralateral
S. LOBO PARIETAL
Déficit da sensibilidade discriminativa (cortical) contralateral
Negligência do espaço contralateral
Negligência e agnosia de partes do corpo contralateral
Apraxia construtiva e de vestimenta
Quadrantopsia inferior contralateral
S. LOBO TEMPORAL
Afasia de Wernicke
Quadrantopsia superior contralateral
Crises parciais complexas ou psicomotoras
S. HIPERTENSÃO INTRACRANIANA
Cefaléia
Vômito
Papiledema
S. MENINGEA
Cefaléia, vômitos, fotofobia
Rigidez de nuca
Sinais de Kernig e Brudzinski
70
CAPÍTULO 3
A ) - Bases anátomo-funcionais
Os nervos periféricos são feixes de fibras nervosas encerradas em
um invólucro glio-conjuntival. Estas fibras representam os prolongamentos axonais
dos neurônios cujos corpos celulares estão situados no corno anterior da medula,
no caso dos motoneurônios, no gânglio raquiano, no caso dos nervos sensitivos, e
nos gânglios para-vertebrais, no caso das fibras autonômicas.
A unidade funcional do nervo periférico é a fibra nervosa, que é
constituída por um prolongamento do neurônio (axônio ou dendrito), recoberto por
uma delicada bainha denominada neurolema ou bainha de Schwann. Entre o
axônio e o neurolema forma-se a bainha de mielina. Esta bainha origina-se a partir
do envolvimento do axônio por prolongamentos das células de Schwann, que
começam a enrolar-se várias vezes em torno dele e, a medida que isto vai
ocorrendo, a membrana da célula de Schwann de um lado entra em contato com a
do lado oposto e se unem. Neste processo, o citoplasma da célula de Schwann é
comprimido em direção ao corpo celular e as membranas dos prolongamentos das
células de Schwamm que giram sobre o axônio formam uma capa de várias
camadas lamelares denominada bainha de mielina, que é constituída
fundamentalmente por um lipídio, a esfingomielina. Esta bainha não é contínua e
apresenta constrições denominadas de nodos de Ranvier. Nas fibras não
mielinizadas a bainha de mielina é constituída por apenas uma camada de células
de Schwann e nas fibras mielinizadas ela é formada por múltiplas camadas
lamelares. Admite-se que, nas fibras mielinizadas, uma célula de Schwann envolve
apenas um axônio e que nas fibras não mielinizadas, uma célula envolve várias
fibras. O tronco do nervo é formado por fibras nervosas (axônios mielinizados
envoltos pela célula de Schwann) protegidas por algumas bainhas conjuntivas.
Assim, de forma esquemática, a estrutura interna do nervo apresenta a seguinte
organização:
-Endoneuro: membrana conjuntiva frouxa que forma pequenas
lojas dentro das quais caminham os axônios.
72
B) - TRAUMATISMO
O traumatismo constitui a causa mágna das mononeuropatias.
Dependendo da energia do agente traumático, a lesão do nervo pode ser
completa, parcial ou simplesmente irritativa. A injúria traumática pode ser direta,
seccionando, comprimindo ou distendendo o nervo, ou indireta, através de
hematoma, calo ósseo ou cicatriz.
• Fisiopatologia
73
radial não tem uma zona autônoma definida mas, quando há perda sensitiva, ela
ocorre na tabaqueira anatômica. As zonas autônomas do nervo tibial incluem o
calcanhar e uma parte da planta do pé, enquanto o nervo peroneiro apresenta
uma zona autônoma menos consistente sobre o dorso do pé. O retorno da
sensibilidade a uma área autônoma é posterior ao retorno do primeiro sinal de
motricidade após uma sutura. A avaliação da recuperação da sensibilidade é mais
difícil que a motora. Pode ser avaliada por meio da escala proposta pelo British
Medical Research Council:
S4 Recuperação completa
S3+ Alguma recuperação da discriminação de dois pontos na
área autônoma.
S3 Retorno das sensibilidades superficial tátil e dolorosa na área
autônoma e desaparecimento de alguma reação de
hipersensibilidade prévia.
S2 Retorno de algum grau da sensibilidade superficial tátil e
dolorosa na área autônoma do nervo.
S1 Recuperação da sensibilidade cutânea profunda na área
autônoma do nervo.
S0 Ausência de sensibilidade na área autônoma.
O sinal de Tinel é obtido percutindo algum ponto no trajeto do
nervo; o paciente refere parestesias que cursam distalmente ao ponto de
percussão através da lesão até o sistema nervoso central. A presença deste sinal
indica que existe continuidade entre fibras sensitivas desde o ponto de percussão
através da lesão até o sistema nervoso central. Se a resposta move distalmente
com o tempo indica regeneração de fibras sensitivas em direção ao coto distal. O
sinal de Tinel não obtido no local no local da lesão após quatro a seis semanas
(tempo necessário para regeneração de fibras sensitivas finas), é forte evidência
contra regeneração. O sinal de Tinel, portanto, é comparável ao achado de
parestesias no trajeto distal do nervo à estimulação elétrica. A ausência de
resposta distal sensorial sugere fortemente interrupção neural total.
83
• Tratamento cirúrgico
A cirurgia dos nervos periféricos evolui significativamente com a
introdução das técnicas microcirúrgicas por Jacobson, em 1963, e Smith, em 1964.
Três técnicas cirúrgicas básicas são utilizadas no tratamento da
lesão traumática aguda do nervo periférico: neurólise, sutura direta e enxerto de
nervo.
A neurólise consiste na ressecção de tecido cicatricial do tronco
nervoso. Pode ser externa, quando a ressecção é efetuada em torno do epineuro,
liberando-o de aderências aos tecidos vizinhos, e interna ou fascicular, quando o
epineuro é aberto e a ressecção de tecido cicatricial é efetuada entre os fascículos,
com o objetivo de descomprimir o tronco nervoso e os fascículos. A neurólise é
indicada nas lesões com continuidade do arcabouço conjuntivo do nervo, como na
fibrose.
A sutura direta do nervo tem por objetivo a aproximação dos
condutos de endoneuro para possibilitar a passagem das fibras em regeneração
através da lesão em que houve solução de continuidade do arcabouço conjuntivo.
Nos nervos monofasciculares (como os troncos do plexo braquial) ou com poucos
fascículos, a sutura perineural permite a anastomose com boa coaptação. Nos
nervos multifasciculares, uma melhor coaptação é obtida através da aproximação
individual de fascículos, com sutura realizada no perineuro ou no epineuro /
perineuro. A sutura direta é efetuada quando a aproximação direta dos cotos for
possível. É fundamental evitar-se a tensão na zona de sutura para prevenir a
fibrose e a isquemia.
O enxerto interfascicular permite de resolver o problema da tensão
em caso de perda de substância. É indicado quando não é possível a aproximação
85
CAPÍTULO 4
RADICULALGIAS
92
RADICULAGIAS:LOMBOCIÁTICA E CERVICOBRAQUIALGIA
CAPÍTULO 5
LESÃO MEDULAR
98
LESÃO MEDULAR
A) - COMPRESSÃO MEDULAR
Sob esse título descreve-se essencialmente as compressões
medulares por processos neoplásicos extradurais e intradurais extramedulares.
• Quadro clínico
1- Síndrome lesional - Os sinais lesionais indicam o segmento
medular lesado. Traduzem-se por distúrbios motores (paralisia flácida) e sensitivos
(anestesia ou dor), de topografia radicular, e reflexos (hipo ou arreflexia). A
radiculalgia é o sintoma dominante.
2- Síndrome sublesional – Os sinais sublesionais, consequentes à
separação da medula, situada abaixo da lesão, dos centros encefálicos.
Manifestam-se por paralisia e anestesia abaixo do nível da lesão e fenômenos de
liberação medular (hiperreflexia). As alterações esfincterianas, classicamente
tardios, limitam-se a perturbações da micção: polaciura, micções imperiosas e
episódios de retenção urinária.
3- Síndrome raquiana – Manifesta-se por contratura muscular
paravertebral, retificação segmentar da coluna, dor provocada pela compressão de
um processo espinhoso. Na criança é frequente encontrar-se escoliose ou xifose.
4- Síndrome liquórica – Os exames de imagem diminuíram muito a
importância da punção lombar. Na compressão medular o líquor encontra-se de
99
C) - TUMORES INTRAMEDULARES
Os tumores intramedulares representam 5% dos tumores
primitivos do sistema nervoso central e 30% dos tumores intraraquianos
intradurais. Trata-se geralmente de tumores gliais primitivos: astrocitoma e
ependimoma.
O astrocitoma ocorre principalmente na medula cérvico-dorsal
(80%). Podem ser de baixo grau (tipo papilar) ou de alto grau. Os ependimomas
ocorrem também de forma preferencial na medula cérvico-dorsal (90%). São
geralmente tumores benignos, sendo o aspecto histológico de tipo papilar.
Os sintomas iniciais não são específicos e têm uma evolução
lentamente progressiva. Dor ocorre em mais da metade dos casos, sendo
incaracterística ou do tipo radicular ou cordonal. O comprometimento medular
manifesta-se por déficit motor, déficit sensitivo objetivo e parestesias e alterações
esfincterianas.
A tomografia computadorizada evidencia uma medula alargada. A
ressonância magnética é o exame ideal. A sequência em T1 mostra um tumor
intramedular, estando a medula aumentada de volume em um ou vários
segmentos; o tumor apresenta um sinal hipo-intenso em relação à medula. Na
sequência de T2 ocorre geralmente um hipersinal. A injeção de gadolíneo mostra
na maioria dos casos uma fixação de contraste de homogeinidade variável,
permitindo uma delimitação do tumor, da medula e dos cistos.
O tratamento dos astrocitomas e ependimomas intramedulares é
cirúrgico. Os ependimomas são bem delimitados em relação à medula, tornando a
exérese mais fácil. Os astrocitomas apresentam maior dificuldade técnica em
consequência do caráter infiltrativo; as recidivas são frequentes.
104
105
CAPÍTULO 6
HIPERTENSÃO INTRACRANIANA
1 ) – CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A hipertensão intracraniana (HIC) é o denominador comum de
várias condições neurológicas e constitui uma emergência médica. O aumento da
pressão no interior do crânio pode ser conseqüente a várias doenças que afetam o
encéfalo, como lesões vascular, tóxica, inflamatória, parasitária, neoplásica e
traumática. É especialmente freqüente no trauma cranioencefálico, onde é causada
pela tumefação cerebral e pelos hematomas intracranianos (ADAMS, 1992;
PITTELLA, GUSMÃO, 1993).
2 ) - FISIOPATOLOGIA
A) - Pressão intracraniana
A pressão intracraniana (PIC) depende da anatomia do espaço
craniorraquiano, das propriedades físicas do tecido cerebral, da dinâmica da
circulação sanguínea e liquórica e das reações desses fatores às alterações
patológicas (GAAB, HEISSLER, 1984). O sistema nervoso central encontra-se no
recinto cérebro-espinhal, que, no adulto, é um reservatório inextensível de volume
constante. Três elementos ocupam esta cavidade: O parênquima cerebral, sistema
vascular e o líquido cefalorraquidiano (LCR), sendo que estes dois últimos
componentes correspondem aproximadamente a 10% do conteúdo intracraniano.
O parênquima cerebral tem um volume constante e, do ponto de
vista mecânico, pode ser interpretado como uma esponja submicroscópica,
formada de material visco-elástico. Dentro deste parênquima, dois compartimentos
ou cavidades podem ser isolados : o compartimento venoso e o líquido
extracelular. Eles representam a compressibilidade do parênquima cerebral por
estarem ligados ao sistema venoso extracraniano exposto à pressão atmosférica. O
107
tecido cerebral por si mesmo não é compressível, mas sua deformação elástica é
possível, graças à presença dos compartimentos de líquidos, semelhantes ao que
ocorre com uma esponja. Assim, a elasticidade do cérebro é devida a uma
propriedade de seus tecidos e a sua compressibilidade à possibilidade de contração
dos sistema de líquidos.
O sistema vascular intracraniano está em comunicação com o
sistema vascular extracraniano. O sistema venoso intracraniano pode, portanto,
durante um aumento da pressão venosa devida a um aumento da PIC, reajustar
sua distribuição de pressão, expulsando uma parte do volume sanguíneo para o
sistema venoso extracraniano, comportando-se como um elemento elástico e
amortizador das variações da PIC.
O LCR é produzido essencialmente ao nível do plexo coróide e
retorna à circulação sanguínea através das vilosidades aracnóideas situadas ao
nível do seio longitudinal superior. As granulações de Pacchioni representam os
aspectos morfológicos das vilosidades aracnóideas. A secreção do LCR proveniente
do plexo coróide flui dos ventrículos laterais aos corpúsculos ou granulações de
Pacchioni, passando por diferentes forames, aquedutos e espaços subaracnóideos
cisternais, até drenar-se no sistema venoso. A pressão do LCR, ou seja, a PIC
origina-se da diferença entre a formação e a reabsorção de um certo débito (D) de
LCR, porque esta reabsorção ocorre contra uma certa resistência ao escoamento
(R). Isto pode ser expresso pela equação : PIC = D. R . Em condições normais de
formação e resistência à absorção, a pressão hidrostática do LCR, com o indivíduo
em decúbito lateral, oscila entre 50 e 200 mm de água e é a mesma ao nível dos
ventrículos, cisterna magna e fundo de saco lombar (lei de Pascal). Quando o
paciente se encontra de pé, a pressão intraventricular normal ao nível do forame
de Monro é, em média, de 70 mm negativos de água, o que corresponde à
distância entre o orifício de Monro e a grande cisterna, onde a pressão é próxima
de zero.
A monitorização da PIC é importante pelo fato de que a HIC
geralmente precede a deterioração clínica. Lundberg introduziu a medida contínua
108
B) - Relação pressão-volume
Os três compartimentos intracranianos - o parênquima cerebral, o
compartimento vascular e o compartimento líquido extracelular - estão ligados
entre si por uma relação volumétrica expressa, depois de 1738, pela lei de Monro-
Kellie-Burrows : a soma dos volumes dos três compartimentos é constante, igual
ao volume do recinto ósseo-dural que os contém. Esta lei pode ser também
expressa pela forma : a soma algébrica das variações de volume dos três setores é
nula, ou seja, qualquer alteração volumétrica em um dos componentes
intracranianos (cérebro, LCR e sangue) é imediatamente compensada por uma
alteração oposta no volume dos demais componentes. O aumento de volume de
um dos componentes da cavidade intracraniana (hidrocefalia ou tumefação
cerebral) ou a presença de uma lesão expansiva provoca o deslocamento destes
componentes. Para que a PIC se mantenha inalterada é necessário que saia da
109
D ) - Hérnias cerebrais
Em um líquido, as variações locais de pressão são transmitidas em
todos os pontos do mesmo (princípio de Pascal), enquanto que as forças externas
que atuam sobre um corpo sólido são transmitidas de forma direcional, originando
um estresse interno com deslocamento em massa do corpo sólido. O parênquima
cerebral será, portanto, submetido a um estresse, enquanto que o LCR e o sistema
circulatório transmitirão pressões.
Devido às características físicas do encéfalo e à inextensibilidade
da caixa craniana, uma lesão expansiva intracraniana termina por provocar um
estresse e deslocamento do tecido cerebral de um compartimento para outro
(hérnia cerebral interna) desde que se estabeleça um gradiente de pressão. A
gravidade de uma hérnia cerebral ou cone de pressão está na dependência do
comprometimento secundário do tronco encefálico ao nível da incisura da tenda e
do buraco occipital.
Para se compreender as hérnias através dos compartimentos
intracranianos é fundamental o conhecimento da anatomia da foice do cérebro e
da tenda do cerebelo que dividem a cavidade intracraniana em compartimentos.
A foice do cérebro é um prolongamento vertical e mediano da
dura-máter, situado na cisura inter-hemisférica, que separa os dois hemisférios
cerebrais. Apresenta uma base que insere-se perpendicularmente sobre a parte
mediana da tenda do cerebelo, que ela eleva e mantém tensa. Sua borda superior
113
ocupa a linha mediana da crista galli até a protuberância occipital interna. A borda
inferior corresponde à face superior do corpo caloso; mas ela repousa diretamente
sobre ele somente na sua porção posterior (esplênio); anteriormente ela afasta-se
progressivamente desta estrutura. Forma-se, portanto, a este nível, entre o corpo
caloso e a borda inferior da foice do cérebro, um espaço triangular de ângulo
posterior, na área do qual os dois hemisférios estão diretamente em contato,
podendo ocorrer uma hérnia subfalciforme em caso de compressão de um
hemisfério cerebral.
A tenda do cerebelo é uma membrana transversal, situada na
parte posterior da cavidade craniana, entre os lobos occipitais, que estão acima, e
o cerebelo, que encontra-se abaixo. Ela é acentuadamente inclinada de cima para
baixo e da frente para trás, formando uma cobertura de duas vertentes laterais
(como uma tenda). Apresenta a forma de um croissant ou de lua crescente com
abertura anterior, apresentando portanto duas faces, duas circunferências e duas
extremidades.
A face superior, mais elevada na parte média que nas laterais,
está em contato com a face inferior dos lobos occipitais que repousam sobre ela. A
face inferior, em forma de abóbada, recobre a face superior dos hemisférios
cerebelares.
A circunferência posterior ou borda externa, de forma convexa vai
de uma apófise clinóide posterior à outra. Insere-se sucessivamente sobre :
protuberância occipital interna, porção horizontal do sulco transverso, borda
superior do rochedo e clinóide posterior.
A circunferência anterior ou borda livre ou borda interna, de
forma parabólica ou côncava, estende-se por cima da goteira basilar e forma, com
a extremidade desta, um orifício alongado da frente para trás - é o forame oval de
Pacchioni ou hiato tentorial ou incisura tentorial. O hiato tentorial é o orifício que
comunica as cavidades supra e infratentoriais, sendo limitado na porção anterior
pelos processos clinóideos posteriores e dorso da sela, na lateral, pela borda livre
da tenda e ligamento petroclinóideo e, na posterior, pela confluência da tenda e da
114
3) - MANIFESTACÕES CLÍNICAS
A tríade sintomática básica da HIC consiste de cefaléia, vômito e
edema de papila. Além destes podem ocorrer também os seguintes sintomas e
sinais : alterações do nível de consciência, crises convulsivas, tonturas,
117
4) - TRATAMENTO
O objetivo do tratamento é de reduzir a PIC, o que pode ser
conseguido através da redução do conteúdo intracraniano.
1- Redução do volume do LCR
Pode ser obtido através da punção lombar nas hemorragias
subaracnóideas, nas meningites e nas hidrocefalias comunicantes. Mas este
procedimento está contra-indicado nos casos de HIC secundárias a processos
expansivos unilaterais. Nas hidrocefalias crônicas o tratamento preferencial é a
derivação do LCR da cavidade ventricular para a cavidade peritoneal ou para o
átrio direito. A fim de evitar o colapso completo do sistema ventricular usa-se uma
válvula com certo grau de resistência interposta no sistema de drenagem
ventricular.
A redução do volume do LCR pode ser feita através de drenagem
liquórica por cateter ventricular. Nos casos em que o cateter está no ventrículo
contralateral à lesão, e se há importante desvio do plano mediano, corre-se o risco
120
CAPÍTULO 7
HIDROCEFALIA
123
HIDROCEFALIA
1 )( - FISIOPATOLOGIA
A hidrocefalia é definida do ponto de vista morfológico como o
aumento do tamanho dos ventrículos. Sua fisiopatologia está ligada à circulação e
reabsorção do líquor.
A pressão intracraniana (PIC) depende da anatomia do espaço
craniorraquiano, das propriedades físicas do tecido cerebral, da dinâmica da
circulação sanguínea e liquórica e das reações desses fatores às alterações
patológicas. O sistema nervoso central encontra-se no recinto cérebro-espinhal,
que, no adulto, é um reservatório inextensível de volume constante. Três
elementos ocupam esta cavidade: O parênquima cerebral, sistema vascular e o
líquido cefalorraquidiano (LCR), sendo que estes dois últimos componentes
correspondem aproximadamente a 10% do conteúdo intracraniano.
O parênquima cerebral tem um volume constante e, do ponto de
vista mecânico, pode ser interpretado como uma esponja submicroscópica,
formada de material visco-elástico. Dentro deste parênquima, dois compartimentos
ou cavidades podem ser isolados : o compartimento venoso e o líquido
extracelular. Eles representam a compressibilidade do parênquima cerebral por
estarem ligados ao sistema venoso extracraniano exposto à pressão atmosférica. O
tecido cerebral por si mesmo não é compressível, mas sua deformação elástica é
possível, graças à presença dos compartimentos de líquidos, semelhantes ao que
ocorre com uma esponja. Assim, a elasticidade do cérebro é devida a uma
propriedade de seus tecidos e a sua compressibilidade à possibilidade de contração
dos sistema de líquidos.
O sistema vascular intracraniano está em comunicação com o
sistema vascular extracraniano. O sistema venoso intracraniano pode, portanto,
124
bloqueio das vias de escoamento, isto irá ocasionar um estresse adicional com
deformação do parênquima cerebral, deslocamento de líquidos para fora da
“esponja cerebral” e aumento do tamanho dos ventrículos. Essa fase inicial da
hidrocefalia desenvolve rapidamente e é reversível, podendo o parênquima
cerebral retornar à sua condição anterior, se a pressão retornar aos valores
normais. O grau de expansão ventricular será moderado no adulto, onde o
cérebro, já completamento desenvolvido, cede pouco à compressão dentro de uma
caixa craniana de volume fixo, enquanto que será considerável nos lactentes que
apresentam o crânio aberto e o cérebro imaturo que opõe menor resistência. Se o
aumento da pressão efetiva do líquor se mantém durante algumas semanas ou
meses, vai ocorrer uma diminuição do leito sanguíneo cerebral com isquemia
secundária. Esta isquemia determina atrofia cerebral.
O aumento da superfície ventricular determina uma reabsorção
transependimária. Um novo estado de equilíbrio vai instaurar-se: a formação do
líquor continua pouco ou nada alterada, enquanto que a resistência ao escoamento
diminui progressivamente. À fase de hipertensão inicial da hidrocefalia segue-se
uma fase de compensação, com a pressão do líquor retornando aos valores
normais. Esta situação é classicamente denominada de hidrocefalia de pressão
normal: os ventrículos continuam dilatados e o estado clinico do paciente
permanece alterado, apesar da pressão efetiva do líquor ser normal.
Esta situação aparentemente paradoxal foi explicada por Hakim
em 1965. A incapacidade dos ventrículos de retornarem ao tamanho normal e a
persistência da sintomatologia clínica são devidas à persistência de um estresse
anormal sobre o parênquima cerebral. Existe um certo equilíbrio entre o
parênquima cerebral e o sistema liqórico, equilíbrio este realizado através de um
sistema de forças. A força efetiva de distensão ventricular é o resultado da
pressão exercida sobre a superfície ventricular (F=P x A; onde F é a força, P a
pressão e A a área). A diferença entre essa força sobre a superfície ventricular e a
força oposta da pressão venosa determina o aumento ou a diminuição do tamanho
dos ventrículos. Na hidrocefalia com pressão normal, as duas forças que agem
127
CAPÍTULO 9
2) CIRCULAÇÃO CEREBRAL
FSC = PPC / R = PA - PIC / R
O fluxo sanguíneo cerebral (FSC) depende da pressão de perfusão
cerbral (PPC) e da resistência vascular cerebral (R). A PP pode ser obtida pela
diferença entre a pressão arterial (PA) e a presão intracraniana (PIC). A circulação
cerebral apresenta a propriedade de autoregulação, ou seja, a capacidade de
manter um FSC constante durante as variações do pressão arterial por meio da
alteração da resistência vascular. O cérebro é altamente vulnerável à falta de dois
substratos energéticos: oxigênio e glicose. Os mesmos são levados ao neurônio
através do fluxo sanguíneo cerebral.
A principal função do oxigênio no SNC é manter níveis adequados
de formação de ATP por meio do metabolismo oxidativo da glicose. A maior parte
da energia derivada deste metabolismo é consumida na manutenção dos
potenciais de membrana e dos gradientes eletroquímicos dos neurônios e na
transmissão sináptica. Durante a isquemia cerebral, seja por trombose ou embolia,
a interrupção focal e abrúpta do fluxo sanguíneo, se não for reversível e se tornar
133
3) – TIPOS DE AVC
3.1 – AVC Isquêmico
A diminuição do fluxo sanguíneo cerebral (isquemia), resultante da
queda da pressão arterial, do aumento da pressão intracraniana ou do aumento da
resistência vascular cerebral, determinará a diminuição do consumo cerebral de
oxigênio, com consequente infarto ou amolecimento cerebral (necrose) e bloqueio
da produção de ATP. A queda de ATPase Na / K-dependente altera o transporte
ativo de íons através das membranas, com acúmulo de Na no compartimento
intracelular, aumento da osmolaridade e entrada de água na célula, resultando em
edema celular. A interrupção da circulação cerebral rapidamente determina perda
da função neuronal, podendo causar lesão irreversível.
O AVC isquêmico é consequente à uma redução crítica do FSC em
aval à oclusão parcial ou total de uma artéria cerebral. Distingue-se
esquematicamente dois tipos de AVC : 1-o infarto cerebral, ou seja o AVC durável;
2-o ataque isquêmico transitório, cujos deficit regridem em menos de 24 horas.
O infarto cerebral é a necrose de parte do encéfalo consequente à
redução acentuada ou interrupção do FSC por oclusão arterial (trombose e
embolia). As alterações macroscópicas do infarto consistem de tumefação e
diminuição da consistência (amolecimento cerebral). Ao redor da área de necrose,
134
HEMORRAGIA CEREBRAL
As hemorragias intracerebrais espontâneas podem ocorrer em
qualquer parte do encéfalo (hemisférios cerebrais e cerebelares e tronco
encefálico) e levam à formação de um hematoma intracerebral espontâneo,
relacionado ou não à hipertensão arterial. Sob o termo de hematoma intracerebral
primitivo é reagrupado os hematomas intracerebrais relacionados a uma
hipertensão arterial e os hematomas sem causa evidente. Eles acometem mais
frequentemente o sexo masculino e após os 40 anos de idade. Em metade dos
casos está associada uma hipertensão arterial.
• Patogenia
136
HEMORRAGIA SUBARACNOIDEA
Por definição, hemorragia subaracnóidea ou meningea significa
sangramento na cavidade craniana, que ocorre primariamente no espaço
subaracnóideo. O espaço subaracnóideo situa-se entre a aracnóide e a pia-máter.
Este espaço contem líquor e é atravessado, na base do crânio, pelos vasos que
vão irrigar o encéfalo. Isto explica porque a maioria dos aneurismas intracranianos
produzem hemorragia subaracnóidea quando se rompem, pois eles se localizam
na base do crânio, formando o polígono de Willis, contido no espaço
subaracnóideo.
• Etiologia
A hemorragia subaracnóidea espontânea é geralmente
consequente a aneurismas saculares, que são dilatações localizadas da parede de
uma artéria cerebral. Os aneurismas saculares de origem degenerativa ou
malformativa representam 97% dos aneurismas intracranianos. Aneurismas de
origem infecciosa ou traumática são raros. Mais raramente os aneurismas
intracranianos são fusiformes, sendo que nesses casos localizam-se
preferencialmente no tronco basilar e da artéria cerebral média. São encontrados
em 6% das necrópsias de adultos. São múltiplos em 20% dos casos. A sede mais
comum é o polígono de Willis (mais particularmente na sua parte anterior),
localizando-se sempre em bifurcações arteriais. A parede de uma artéria
140
- coma.
Certas circunstâncias parecem favorecer a ruptura do aneurisma
em razão de uma possível elevação fisiológica da pressão arterial, como por
exemplo:
- uma modificação de postura
- uma situação de esforço
- uma situação de emoção intensa.
Exames complementares
A confirmação da ruptura do aneurisma pode ser feita por meio da
tomografia computadorizada ou de uma punção lombar.
A tomografia computadorizada, realizado no dia da hemorragia,
detecta a presença de sangue intracraniano em 95% dos casos, localiza a ruptura
do aneurisma em 45% e mostra o aneurisma em 5%. Por tal motivo a tomografia
computadorizada deve ser realizada o mais rápido possível nos pacientes com
quadro clínico de hemorragia subaracnóidea e antes da punção lombar; quando
positivo exclui a necessidade de punção lombar. A positividade da tomografia decai
rápido com o tempo em consequência da lavagem do sangue pelo líquor e da
queda da densidade do sangue pela degradação da hemoglobina. Assim, no
terceiro dia após a hemorragia a tomografia computadorizada apresenta apenas
75% de possibilidade de evidenciar a hemorragia subaracnóidea. A acumulação
localizada de sangue em uma determinada cisterna pode indicar a ruptura do
aneurisma de um vaso próximo. Assim, quando a hemorragia concentra-se
predominantemente anterior ao terceiro ventrículo ou dentro do sulco inter-
hemisférico a possibilidade maior é de uma aneurisma da artéria comunicante
anterior. Quando localizada na fissura silviana indica ruptura de aneurisma da
divisão da artéria cerebral média.
A punção lombar só é realizada quando a tomografia
computadorizada é normal ou não pode ser realizada. Ela é contra-indicada nos
pacientes em coma ou com déficit neurológico. A retirada de líquor diminui a
pressão que é aplicada sobre a parede externa do aneurisma, favorecendo uma
143
♦ Tratamento
O objetivo do tratamento do aneurisma intracraniano é
realizar sua exclusão da circulação arterial respeitando a
permeabilidade do vaso portador do aneurisma e de seus ramos. Essa
exclusão é geralmente feita por meio da colocação de um clipe
metálico no colo do aneurisma por via cirúrgica. Os aneurismas
situados na parte anterior do polígono de Willis (comunicante anterior,
cerebral média, carótida interna e comunicante posterior) são
operados por via fronto-têmporo-esfenoidal (pterional). Os aneurismas
do topo da artéria basilar são abordados preferencialmente através da
craniotomia fronto-órbito-zigomática. Os aneurismas da artéria
vertebral são abordados abordados por craniectomia suboccipital
lateral. Mais recentemente tem evoluído progressivamente a técnica da
oclusão por via endovascular do aneurisma por meio de fio metálico ou
balão destacável.
Em razão do risco de resangramento o aneurisma
rompido deve ser tratado precocemente, antes do terceiro dia após a
hemorragia. Entretanto isso não é possível em todos os casos. Uma
cirurgia tardia, após a primeira semana, apresenta menos riscos mais
146
CAPÍTULO 10
TUMORES INTRACRANIANOS
149
TUMORES INTRACRANIANOS
♦ CLASSIFICAÇÃO
A classificação dos tumores intracranianos baseia-se
essencialmente no tecido que deu origem ao tumor.
1-Tumores do tecido neuroepitelial
1.1-Tumores astrocitários
Astrocitoma
Astrocitoma anaplásico (maligno)
Glioblastoma
1.2-Tumores oligodendrogliais
Oligodendroglioma
1.3-Tumores ependimários
Ependimoma
1.4-Tumores do plexo coróide
150
♦ INCIDENCIA
A incidência é de 1 : 5.000 habitantes / ano. Os tumores
intracranianos representam 9% dos tumores primitivos. Os primitivos representam
o principal grupo (65%) dos tumores intracranianos e as metástases 20%. Aqui
serão abordados apenas os tumores intracranianos mais frequentes.
Astrocitomas 40%
Metástases 20%
Meningioma 15%
Schwanoma 8%
151
Ependimoma 7%
Adenoma hipofisário 7%
Oligodendroglioma 5%
ASTROCITOMA
Os astrocitomas são constituídos por astrócitos da glia. Podem
apresentar todos os graus de malignidade de I a IV : grau I - astrocitoma
pilocítico do cerebelo; grau II - astrocitoma propriamente dito; grau III -
astrocitoma anaplásico; grau IV - gliobastoma.
O astrocitoma propriamente dito ou astrocitoma grau II é
constituído por astrócitos fibrosos e, menos comumente, por astrócitos
protoplasmáticos e gemistocíticos. O astrocitoma fibrilar localiza-se
preferencialmente nos hemisférios cerebrais, onde ocupa o segundo lugar em
frequência, após o glioblastoma. Em crianças pode localizar-se no tronco
encefálico. Tem crescimento infiltrativo difuso, com limites imprecisos. O tumor é
róseo-acinzentado. Histologicamente, é constituído por astrócitos bem
diferenciados, com produção de grande quantidade de fibras gliais, o que lhe
confere consistência firme; não ocorrem mitoses, necrose ou hemorragia. A
sintomatologia se inicia e progride lentamente. A aceleração dos sintomas indicam
152
GLIOBLASTOMA
Corresponde ao astrocitoma grau IV, sendo o glioma mais comum
(55%). É a mais frequente neoplasia do SNC do adulto (40-50%) e perfaz 25%
dos tumores cerebrais. Incide entre os 45-65 anos. O termo glioblastoma
multiforme, frequentemente usado, refere-se ao aspecto multiforme e variado dos
cortes desse tumor, caracterizado pela presença de áreas de hemorragia e de
necrose. É um tumor tipicamente supratentorial, ocorrendo mais frequentemente
nos lobos frontais, seguindo-se os temporais e parietais, acometendo mais a
metade anterior dos hemisférios. O tumor é friável, granuloso, acinzentado, com
focos hemorrágicos e de necrose. Invade com freqüência o corpo caloso e o
hemisfério oposto, apresentando, num corte frontal, imagem semelhante a uma
borboleta (“glioma em borboleta’). Histologicamente apresenta hipercelularidade,
com proliferação de células imaturas, pequenas, arredondadas ao lado de células
fusiformes e células polimorfas e atípicas. As mitoses são frequentes. Ocorre
presença constante de necrose e proliferação de vasos de parede malformada. As
áreas de necrose podem se tornar císticas. Devido ao crescimento rápido, à
153
ASTROCITOMA PILOCÍTICO
É formado por astrócitos alongados, fusiformes, ricos em fibras
gliais. Ocorre em crianças, na região hipotalâmica, no quiasma e nervos ópticos e
no cerebelo. Cresce muito lentamente, sendo designado como astrocitoma grau I.
Apresenta bordas bem definidas que permitem a excisão total e a cura em muitos
casos.
O astrocitoma cerebelar é o tumor da fossa posterior em crianças
mais frequente após o meduloblastoma. É formado geralmente por um cisto com
um nódulo mural. Manifesta-se geralmente por um quadro cerebelar lateralizado,
mas pode ser axial. A TC mostra a lesão cística com o nódulo mural. O tratamento
é cirúrgico, com bom prognóstico.
154
OLIGODENDROGLIOMA
É um tumor benigno, de crescimento lento, formado por
oligodendrócitos da glia cerebral. Representa 5% dos tumores intracranianos do
adulto. Localiza-se mais frequentemente nos lobos frontal, temporal e parietal
(metade anterior dos hemisférios). É um tumor sólido, de limites nítidos, róseo, de
pouca consistência. Apresenta com frequência áreas de calcificação.
Histologicamente observa-se oligodendrócitos, células ovóides ou arredondadas,
com membrana celular nítida, citoplasma ocupado por único vacúolo, em cujo
centro se localiza o núcleo, arredondado e hipercromático. Não há mitoses. O
tumor tem crescimento lento. O diagnóstico e a conduta terapêutica são
semelhantes ao astrocitoma.
EPENDIMOMA
Tumor benigno, derivado da célula ependimária que reveste os
ventrículos, de localização mais frequente no III e IV ventrículos. Representa 7% e
12% dos tumores intracranianos no adulto e na criança, respectivamente. É
também o glioma mais comum (63%) da medula espinhal. Trata-se de tumor
sólido, firme, acinzentado, de aspecto granuloso e limites nítidos. Histologicamente
é formado de células ependimárias : são cilíndricas, com citoplasma claro,
155
MEDULOBLASTOMA
Faz parte do grupos dos tumores neuroectodérmicos primitivos,
sendo também conhecido como PNET cerebelar. E um tumor maligno, de
crescimento rápido. Representa 19% dos tumores intracranianos da infância e
44% dos gliomas intracranianos da infância, sendo superado apenas pelo
astrocitoma. É o mais frequente tumor da fossa posterior em crianças (36%). Na
criança localiza-se habitualmente no verme e ocupa o quarto ventrículo, dilatando-
o. O tumor é bem delimitado, mole, róseo-acinzentado. A histologia mostra
hipercelularidade com células pequenas, redondas ou ovóides, com citoplasma
escasso; o núcleo é hipercromático e apresenta mitoses frequentes. Ao comprimir
o quarto ventrículo, bloqueando a circulação liquórica, provoca hidrocefalia. O
quadro clínico manifesta-se por cefaléia, vômitos e ataxia axial; a rigidez de nuca é
comum. Na TC sem contraste, o meduloblastoma costuma aparecer como área
relativamente regular, pouco hiperdensa, ocupando o quarto ventrículo.
Geralmente o tumor retém contraste de maneira homogênea. É tratado por meio
da ressecção cirúrgica completada por radioterapia e quimioterapia.
MENINGEOMA
Representam 15% dos tumores intracranianos no adulto,
acometendo mais o sexo feminino. Originam-se das células da aracnóide e atingem
preferencialmente áreas ricas em granulações da aracnóide. Em 50% dos casos
situam-se ao lado do seio sagital superior, especialmente no seu terço médio, zona
de maior concentração das granulações aracnóideas. Os restantes localizam-se nas
imediações do sulco lateral, nas eminências parietais, nos seios laterais, na base
do crânio (crista esfenoidal, tubérculo da sela, região paraselar e sulco olfatório),
ângulo pontocerebelar e sistema ventricular. Ocorrem com maior frequência a
partir da quarta década de vida, com nítido predomínio em mulheres. Apresentam-
se como massas nodulares solitárias, de consistência firme. Deslocam e deformam
o encéfalo sem invadi-lo. Possuem cápsula, que deriva da leptomeninge. O aspecto
histológico do meningioma é muito variado, sendo diferenciado em meningotelial,
fibroso, transicional, psamatoso e angiomatoso. A imagem tomográfica dos
meningeomas caracteriza-se por massa bem circunscritas e habitualmente de
aspecto homogêneo. Pode ocorrer edema cerebral circunjacente. Nos exames sem
contraste, os meningeomas aparecem isodensos em relação à substância cerebral
ou com densidade discretamente elevada. Após a administração de contraste,
usualmente, há opacificação homogênea, com aumento da densidade. O
tratamento é cirúrgico.
157
ADENOMA HIPOFISÁRIO
São tumores benignos que derivam dos diferentes tipos de células
do lobo anterior da hipófise. Representam 7% dos tumores intracranianos. São
classicamente classificados em cromófobos, eosinófilos e basófilos. Atualmente
usa-se a classificação funcional dos adenomas, dividindo-os em duas categorias :
funcionantes e não-funcionantes.
1-Adenoma cromófobo não-funcionante - representa cerca de 80%
dos adenomas hipofisários. É mole, branco-acinzentado, róseo, com zonas de
hemorragias e degeneração cística. É formado por células pequenas, com
citoplasma escasso e núcleo central, esferóide, rico em cromatina. Cresce
lentamente, dilata a sela túrcica e provoca erosão de seu assoalho. Leva a
destruição do tecido hipofisário e à insuficiência endócrina do lobo anterior. Se
rompe o diafragma da sela, cresce no espaço supra-selar, comprimindo o quiasma
óptico, estirando os vasos do polígono de Willis e fazendo saliência no III
ventrículo. A compressão do quiasma óptico determina hemianopsia bitemporal.
2-Adenomas funcionantes - são classificados nos seguintes tipos :
a)adenoma secretante GH, que determina gigantismo e acromegalia; b)adenoma
secretante prolactina, responsável pela síndrome de galactorréia e amenorréia;
c)adenoma secretante ACTH, que causa a síndrome (ou doença) de Cushing.
As manifestações clínicas dos adenomas hipofisários são traduzidas
por alterações visuais, quando existe compressão do quiasma óptico; por
hipofunção endócrina, se há compressão da hipófise, ou hiperfunção, quando
existe uma secreção hormonal autônoma desses tumores. Ocasionalmente, como
ocorre nos grandes adenomas, instala-se uma hidrocefalia por obstrução dos
forames de Monro. O diagnóstico baseia-se no exame endocrinológico, no exame
dos campos visuais, na radiografia de crânio e na TC. A radiografia de crânio pode
evidenciar uma dilatação da sela túrcica. A TC mostra o adenoma principalmente
na incidência coronariana. A bromocriptina é indicada nos adenomas produtores de
prolactina. O tratamento cirúrgico pode ser por via transcraniana (acesso
158
CRANIOFARINGIOMA
Representa 3% dos tumores intracranianos e acomete
principalmente a infância e a adolescência. Pode apresentar crescimento intra ou
supra-selar. É uma neoplasia benigna, bem circunscrita, cística; contém líquido
espesso, acastanhado, rico em cristais de colesterol. Em seu interior encontram-se
focos de calcificação. À microscopia encontra-se áreas constituídas por células
cubóides ou colunares delimitando cistos e separadas por células estreladas que se
anastomosam frouxamente entre si; outras áreas são formadas por células
escamosas com acentuada tendência à corneificação. O tumor, embora dotado de
cápsula fibrosa, quando entra em contato com o tecido nervoso provoca gliose
reacional, que torna difícil sua enucleação. Tem crescimento lento, mas, devido à
sua localização, provoca sinais e sintomas neurológicos e endócrinos
precocemente. Os craniofaringeomas situam-se, mais frequentemente, logo acima
do diafragma da sela e crescem em direção ao assoalho do terceiro ventrículo.
Nesse trajeto, o quiasma óptico é elevado ou comprimido, o mesmo acontecendo
com os núcleos hipotalâmicos. O quadro clínico pode ser agrupado em três
síndromes : síndrome neuroftalmológica, síndrome de hipertensão intracraniana e
síndrome neuroendócrina. A compressão do quiasma óptico determina
hemianopsia bitemporal. Os tumores que se dirigem para cima podem alcançar o
terceiro ventrículo e comprimir os forames de Monro, determinando obstrução do
sistema ventricular com consequente hipertensão intracraniana que se manifesta
pela tríade clássica : cefaléia, vômitos e edema de papila. A localização do
craniofaringeoma interrompendo o eixo hipotalâmico-hipofisário é responsável por
um conjunto de alterações endócrinas. As manifestações mais típicas são as que
surgem em crianças e correspondem a um hipopituitarismos anterior. Quando a
expansão supra-selar atinge o hipotálamo, a manifestação mais frequente é o
diabete insípido que é caracterizado pela eliminação de volume urinário crescente
159
NEOPLASIAS METASTÁTICAS
As metástases podem ocorrer por continuidade (carcinomas da
faringe e das fossas nasais e sarcomas) eu pela via hemática. Representam 20%
dos tumores intracranianos no adulto e 10% dos tumores intracranianos
operados.. Os tumores malignos extracranianos produzem metástases em 15%
dos casos. As origens mais frequentes são : carcinoma broncopulmonar (52,3%) e
carcinoma de mama (9,9%). Apresentam-se como nódulos esferoidais, bem
delimitados do tecido nervoso circunvizinho, que fica edemaciado. Pode ser
observado áreas de necrose, hemorragia e degeneração cística. Os nódulos
metastáticos são geralmente múltiplos. A sede principal das metástases é na
junção do córtex com a substância branca subcortical dos hemisférios cerebrais,
sendo mais afetados os lobos occipital, parietal e frontal (região de irrigação da
artéria cerebral média). O cerebelo é também frequentemente sede de
metástases. Os sintomas mais comuns são a cefaléia e as crises convulsivas. A TC
das metástases se caracteriza pelo aparecimento de três sinais principais : uma
grande área de edema; presença de nódulo tumoral de localização superficial
(cortical ou subcortical); maior opacificação da camada externa do nódulo, com
área de menor captação no seu interior (necrose central). A extirpação cirúrgica é
realizada na metástase cerebral solitária.
♦ CORRELAÇÕES ANÁTOMO-CLINICAS
Os tumores intracranianos podem determinar sinais e sintomas
gerais e focais (de localização)
1-Sinais e sintomas gerais
Decorrem da hipertensão intracraniana e são representados por :
cefaléia, vertigens, vômitos, distúrbios psíquicos, convulsões generalizadas,
papiledema e alterações dos sinais vitais. A cefaléia resulta da tração sobre as
artérias, seios durais e alguns nervos cranianos (V, IX e X). A vertigem é causada
pelo edema do labirinto. Os vômitos são causados pela hipertensão intracraniana,
ou diretamente por tumores sobre o centro do vômito, na fossa posterior. Os
distúrbios psíquicos derivam principalmente de disfunção dos lobos frontais. O
edema de papila (papiledema) é causado pela compressão da veia central da
retina pelo líquor hipertenso que envolve a bainha do nervo óptico; quando de
longa duração provoca atrofia secundária do nervo óptico. Os sinais vitais são
consequentes ao sofrimento do tronco encefálico e consistem em bradicardia,
hipertensão arterial e alteração do rítmo respiratório.
S. nervos cranianos
1- Seio cavernoso : III, IV, VI, V1
2- Angulo ponto-cerebelar : VII, VIII e sinais cerebelares e
pontinos
3- Forame jugular : IX, X, XI
S. paraselar
disfunções endócrinas : diabetes insipidus, hipopituitarismo
deficit visual por comprometimento do n. óptico e quiasma
sinais hipotalâmicos : alterações do sono, do apetite e da
regulação térmica
hipertensão intracraniana por obstrução do III ventrículo.
S. tronco encefálico
Hemiplegia contralateral
Hemianestesia superficial e profunda contralateral
Comprometimento de nervos cranianos homolateral
S. cerebelar
Dismetria
Decomposição dos movimentos
Disdiadococinesia
Tremor durante a realização de movimentos
Marcha atáxica
Hipotonia
S. do lobo frontal posterior ou motora (giro pré-central)
Area da face : paresia facial central
Área do membro superior : paresia braquial
Area membro inferior : paresia crural
S. do lobo frontal anterior (pré-central)
F1 : incontinência urinária
reflexos primitivos
F2: paralisia do olhar conjugado
163
F3 : afasia de Broca
Pólo frontal :
alterações afetivas
alterações da personalidade
alterações do comportamento social
S. lobo occipital
Hemianopsia homônima contralateral
S. lobo parietal
Deficit da sensibilidade discriminativa (cortical) contralateral
Negligência do espaço contralateral
Negligência e agnosia de partes do corpo contralateral
Apraxia construtiva e de vestimenta
Quadrantopsia inferior contralateral
S. lobo temporal
Afasia de Wernicke
Quadrantopsia superior contralateral
Crises parciais complexas ou psicomotoras
164
165
CAPÍTULO 11
TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO(TCE)
1 - Introdução
Os acidentes acompanhados de trauma crânio encefálico são uma causa
significante e crescente de morte e morbidade em crianças e adultos jovens. As
complicações e sequelas dos traumatismos crânio-encefálicos trazem muitos
problemas quanto à conduta a ser tomada, algumas das quais podem requerer
supervisão médica constante. (1,2)
2- Definição
O traumatismo crânio-encefálico pode ser definido como qualquer lesão que
envolva não somente o encéfalo, como inicialmente se imagina, mas que acometa
a calota craniana e o SNC. É importante ainda, na definição desta entidade, saber
diferenciar concussão de contusão, que são termos utilizados com frequência, no
vocabulário médico, como se tivessem o mesmo significado.
A palavra concussão implica em violento movimento do encéfalo resultando em
acometimento transitório das funções neurológicas, ou seja, é definido como uma
paralisia traumática reversível das funções nervosas. Já o termo contusão é
empregado, quando seguido do trauma, observa-se hemorragias no parênquima,
com ou sem alterações na consciênica, podendo ou não obter reversibilidade das
funções nervosas inicialmente acometidas.(1,2)
167
3 - Epidemiologia:
O traumatismo craniano é a maior causa de morte, especialmente entre adultos
jovens. Quase 10% de todas as mortes nos EUA são causadas por trauma, e cerca
de metade destas lesões traumáticas envolvem o cérebro. Nos Estados Unidos, o
trauma craniano ocorre a cada 7 segundos, com morte, em decorrência deste, a
cada 5 minutos.(2)
Dos pacientes admitidos em hospitais nos Estados Unidos, 5% são classificados
como possuidores de um traumatismo grave e se mostram em coma(Glasgow<8).
Cerca de 5 a 10% apresentam trauma craniano moderado, com o escore de
Glasgow entre 9 e 12. A maioria, cerca de 85 a 90% são admitidos com
traumatismo craniano leve, sendo que podem não evidenciar nenhuma ou
pequenas alterações na consciências, com Glasgow de 13-15. (1) As fraturas são
frequentes no trauma do crânio e guardam relação com a gravidade do mesmo.
(2)
Os custos do trauma craniano para a sociedade são difíceis de serem
calculados, mas com certeza são elevados, a ver pelo número de admissões que
podem chegar a 400.000 por ano e 70.000 mortes anuais( dados referentes ao
ano de 1984) . (1.2)
4 - Incidência :
O trauma crânio - encefálico ocorre em todas as idades, mas o pico de maior
incidência se dá em adultos jovens, com idades entre 15 a 24 anos. Os homens
são mais frequentemente acometidos que as mulheres, cerca de 3 a 4 vezes.(1,2)
5 - Classificação :
O TCE pode ser inicialmente classificado em três grupos de acordo com a
natureza do trauma. O primeiro grupo é aquele nos quais as lesões cranianas
decorrentes do trauma são fechadas, o segundo abrange os pacientes que
mostram ao exame fraturas deprimidas do crânio e por fim o grupo das fraturas
168
6- Sintomas e sinais
6.1- Gerais :
169
cefaléia por mais de dois meses após TCE é denominada cefaléia pós-traumática
crônica.
A severidade da cefaléia pós-traumática não pode ser relacionada à severidade
do trauma, usando parâmetros como a amnésia, coma, elevação da pressão
intracraniana ou alterações eletroencefalográficas. Muitas cefaléias pós-traumáticas
intensas ocorrem após lesões triviais.
Uma cefaléia do tipo tensão muscular pode persitir nestes casos após o trauma.
Os nervos sensitivos no couro cabeludo podem causar neuralgias, com dores e
hipersenssibilidade do crânio. Cefaléias enxaquecosas também podem ser
provocadas por trauma.
8.1.1 - RX de crânio :
O valor da radiografia do crânio na identificação de lesões intracranianas não
tem sido satisfatoriamente definida.
Para melhor avaliarmos a importância do RX de crânio podemos dividir os
pacientes vítimas de TCE em três grandes grupos, os de alto risco de lesão
intracraniana, os de baixo risco e os de risco moderado.
O grupo de alto risco consiste de pacientes com fraturas compostas ou fechadas
da cabeça, com quadro clínico exacerbado e óbvio. Estes pacientes podem ser
diretamente levados a realização de uma TC do encéfalo. O grupo de baixo risco
incluiria aqueles pacientes assintomáticos, ou oligossintomáticos, com queixas de
cefaléia, zumbido, sem alterações de consciência, ou náuses ou vômitos. A
imagem radiográfica não é recomendada para este grupo, tendo em vista a pouca
174
chance de acometimento grave que estes pacientes possam apresentar. Por fim no
grupo de pacientes com risco moderado, ou seja aqueles pacientes sintomáticos,
cefaléia, zumbido, náuseas, vômitos, hematomas no couro cabeludo, sinais de
distúrbios da cosnciência e outros, a radiografia é sempre importante como
método de triagem de lesões mais graves, já que estes pacientes tem chance
maior de apresentar fraturas.
Esta divisão dos pacientes em três grupos foi proposta em um trabalho que
analisou 7035 casos de TCE, observando que o número de RX de crânios pedidos
era extremamente elevado e desnecessário .O objetivo era do de propor, através
desta separação em grupos, uma redução do número de RX pedidos e ao mesmo
tempo dar mais segurança ao médico para não pedí-los.
Considerações técnicas :
O protocolo de TC para a avaliação de vítimas de TCE incluem de 10 a 15 cortes
axiais sem contraste feitos paralelos à base do crânio ou na linha órbito-meatal.
Os cortes são realizados geralmente com 5mm de distância na fossa posterior e
10mm na região supratentorial. O tempo de revelação pode variar de 1 a
8segundo de acordo com o aparelho tomográfico utilizado. A resolução das
imagens também está na dependência do equipamento utilizado.
As alterações tomográficas decorrentes do TCE são muitas e podem
inicialmente serem divididas em dois grandes grupos, os de processos extra-axiais
e os de processos intra-axiais.
Os riscos associados com a radiação ionizante e uso de material para realização do
contraste são algumas das desvantagens que poderiam ser mencionadas quando
usamos a TC como método diagnóstico .
Processos extra-axiais :
1 - Hematoma epidural :
O hematoma epidural ocorre no espaço existente entre a tábua óssea interna e
a dura. Coleções sanguíneas neste espaço assumem conformação lenticular, ora
biconvexa.
O sangramento é arterial na maioria das vezes, sendo a artéria meníngea média
a maior responsável por tais sangramentos. Apesar de pouco frequente existem
casos em que o hematoma epidural tem origem de sangramentos venosos,
principalmente do seio sagital superior.
Em uma série de estudos em 80 pacientes realizado por Tapero et al em 1984,
observou-se que o hematoma epidural em cerca de 68% dos casos se acompanha
de outras anormalidades intracranianas. As fraturas estão presentes em cerca de
82% dos pacientes, mas as fraturas deprimidas e compostas são menos
frequentes, quando presentes se situam principalmente nas regiões parietal,
temporal e occipital.
Os hematomas epidurais em sua fase aguda são, com grande frequência,
uniformemente hiperdensos, mas existem casos em que podemos encontrar
176
bolhas, estas que se originam do aumento dos gazes liberados pelas membranas,
ou então em decorrência da fratura que pode estar contígua à lesão.
2 - Hematoma subdural:
O hematoma subdural desenvolve-se no espaço subdural, entre a dura e a
membrana aracnóide.
Os hematomas subdurais tem localização mais comum nas convexidades do
cérebro, com maior frequência do mesmo lado do trauma, mas cerca de 33% dos
hematomas podem se mostrar presentes contralateralmente ao trauma.
Normalmente o hematoma subdural tem o sangramento de origem venosa, mas
raramente, em casos de traumas mais graves, uma artéria do parênquima
contíguo à lesão pode se romper e promover um hematoma subdural. Mesmo os
hematomas subdurais pequenos se associam a efeitos de massa sobre os
ventrículos, em um estudo observou-se que cerca de 95% dos hematomas
subdurais promovem efeito de massa. A mortalidade dos hematomas subdurais é
extremamente alta quando não submetido à cirurgia em tempo hábil.
O hematoma subdural pode ser classificado tomograficamente em três fases,
aguda, subaguda e crônica. A fase aguda compreende um período inferior à uma
semana do trauma, nesta a imagem se mostra hiperdensa. A fase subaguda pode
ainda ser subdividida em duas outras fases que seriam a subaguda recente e a
tardia. A subaguda recente seria aquela situada num intervalo de tempo de 1
semana a 2 semanas, já a tardia compreenderia os traumas ocorridos num
período de 2 semanas a 1 mês. Tanto na fase subaguda recente quanto tardia, o
hematoma tenderá a ficar mais isodenso. Por fim a fase crônica, é a que
envolveria os hematomas subdurais com mais de um mês de evolução, a imagem
se mostraria hipodensa à tomografia.
Em estudo retrospectivo de 28 pacientes, observou-se que 10 pacientes
apresentavam imagem tomográfica muito semelhante à um hematoma epidural, o
que dificultaria o diagnóstico, sendo que todos estes 10 pacientes tiveram suas
tomografias realizadas em um período inferior a 6 horas após o trauma. Este
177
3 - Hemorragia subaracnóide:
A causa mais comum de hemorragia subaracnóide é o trauma craniocerebral. A
porção intradural da carótida interna e os componentes vasculares do polígono de
Willis são os mais frequentemente envolvidos.
Processos intra-axiais:
1 - Edema e efeito de massa :
Por definição, o diagnóstico de edema relaciona-se com um aumento de água
no cérebro. O efeito de massa poderia ser decorrente a um edema presente em
um hemisfério ou circundando por exemplo um hematoma intraparenquimatoso,
ou contusões.
Tomografiacamente o cérebro edemaciado é hipodenso e perde-se um pouco
ou totalmente a capacidade de se diferenciar a substância branca da cinzenta.
2 - Contusões:
Patologicamente, as contusões cerebrais são lacerações no parênquima com
hemorragias no local do impacto ou contralateralmente, em decorrência do
contragolpe. Frequentemente esta área de sangramento é irregular e associada a
parênquima necrosado, o que confere um aspecto de imagem hiperdensa com
pequans porções hipodensas de parênquima necrosado associado.
3 - Hematoma intraparenquimatoso:
178
9 - Sequelas do TCE :
9.1 - Infecções :
9.2- Fístulas :
9.3 - Pneumocele :
Alterações das funções dos nervos cranianos é uma frequente complicação após
um TCE com fratura de base de crânio. As alterações dos nervos cranianos podem
ser identificadas com frequência rapidamente ou tão logo ocorra recuperação do
nível de consciência do paciente. Alguns nervos acometidos são o facial e o
olfatório, este último que pode sofrer alterações decorrentes apenas do movimento
do encéfalo.
9.5 - Epilepsia :
cerebral grave, causam um terço das mortes por TCE e representam a origem mais
freqüente de incapacidade neurológica persistente.
1 - CONTUSÃO CEREBRAL
Nos estádios iniciais (contusões recentes) são caracterizadas por
hemorragias perivasculares puntiformes na superfície cortical (cúpulas dos giros).
Em casos de maior intensidade, a hemorragia pode estender-se para dentro da
substância branca. Quando em grande número e intensos, os extravasamentos de
sangue podem unir-se, tornando difícil a distinção entre a contusão e o hematoma
intracerebral. Os neurônios do córtex adjacente à hemorragia desenvolvem
necrose isquêmica. A área contusa torna-se tumefeita e a contusão aguda e
hemorrágica evolui para cicatriz cuneiforme glial, de cor castanho-ferruginosa
produzida pela hemossiderina.
Classicamente distingue-se a contusão da laceração. Na contusão
a integridade da pia-máter e da aracnóide é mantida, e não há solução de
continuidade do tecido nervoso. Na laceração ocorre ruptura da pia-máter, da
aracnóide e do tecido nervoso subjacente. Entretanto, os dois termos geralmente
são usados como sinônimos.
Por ser facilmente observável ao exame anatomopatológico, a
contusão cerebral foi considerada como a lesão fundamental do TCE. As evidências
clínicas e experimentais, no entanto, vieram a indicar que a contusão cerebral,
mesmo extensa, pode estar associada ao pleno estado de consciência e à evolução
clínica favorável, desde que não ocorram complicações e que não haja associação
com a LAD. A contusão é lesão essencialmente focal que acomete áreas não vitais
do cérebro. Clinicamente sobressaem as contusões dos pólos frontal e temporal,
pois no período imediato após o trauma, apresentam propensão ao sangramento
ou à tumefação , comportando-se, assim, como lesões expansivas intracranianas.
Independente do local do impacto sobre o crânio, as contusões
apresentam localização típica. Distribuem-se principalmente junto aos pólos
184
frontais, à superfície orbital dos lobos frontais, aos pólos temporais, às superfícies
lateral e inferior dos lobos temporais e ao córtex próximo ao sulco lateral.
Geralmente são múltiplas e bilaterais, porém assimétrica.
As contusões subjacentes ao local do impacto (contusões por
golpe) resultam da deformação provocada pela depressão óssea com conseqüente
lesão da superfície cortical e dos vasos da pia-máter. A teoria da aceleração
do encéfalo (HOLBOURN, 1943, 1945) é a mais aceita atualmente para explicar a
patogenia da contusão distantes da área de impacto (por contragolpe). No
momento do impacto com a cabeça em movimento, a aceleração do crânio é
interrompida de modo abrupto, mas o encéfalo continua em movimento em
virtude de sua maior inércia em relação ao crânio. Assim, opõe maior resistência à
parada do movimento, por causa de
sua maior massa. Em conseqüência deste movimento diferencial entre crânio e
encéfalo, ocorre maior atrito quando o deslizamento do encéfalo é retardado,
especialmente pela base irregular do crânio, onde a superfície do cérebro colide
com relevos ósseos, como a asa menor do osso esfenóide e o teto da órbita. Assim
se explica a maior freqüência das contusões junto à base do lobo frontal, ao pólo
temporal e às bordas do sulco lateral.
2 - HEMORRAGIA INTRACRANIANA
4 - TUMEFAÇÃO CEREBRAL
O aumento da massa cerebral decorre de diferentes lesões, sendo
conseqüente a dois mecanismos: a) congestão causada por aumento do volume
sangüíneo dos vasos cerebrais e b) edema conseqüente a aumento do teor de
água no tecido cerebral.
190
EPILEPSIA
194
Incidência e prevalência
Diagnóstico
É necessário definir, a partir de anamnese detalhada, a natureza
epiléptica dos eventos. O diagnóstico depende da descrição pormenorizada das
crises por parentes e testemunhas. Devem ser interrogados fatores
precipitantes, ocorrência de aura ou aviso, área do corpo inicialmente afetada,
progressão do episódio, duração da crise, momento de ocorrência no dia.
Também devem ser observados movimentos involuntários,
automatismos, como mastigação ou estalar de lábios, alteração da consciência,
liberação de esfíncter, confusão mental, mordedura da língua e, após a crise,
distúrbios de linguagem, de humor, cefaléia, apatia.
O exame neurológico convencional é geralmente normal em
pacientes com epilepsia. A presença de anormalidades sugere que as crises são
secundárias a doença cerebral orgânica. O exame físico geral deve ser dirigido
para sinais de doenças específicas ou malformações que causam epilepsia,
como a presença de manchas café com leite na neurofibromatose, manchas
hipocrômicas e adenomas sebáceos faciais na esclerose tuberosa, etc.
Assimetrias em face ou extremidades também podem sugerir lesões
lateralizadas.
196
• Crises atônicas
3. Crises inclassificáveis (informações incompletas ou inadequadas).
Diagnóstico diferencial
Certos distúrbios paroxísticos podem simular crises epilépticas,
como:
1. Enxaqueca – aura visual pode ser semelhante a CPS, há dor após os
eventos. Mas raramente na enxaqueca há alteração da consciência,
automatismos. O EEG costuma ser normal. Na enxaqueca vertebrobasilar
há cefaléia não lateralizada, vertigem, ataxia, distúrbios visuais bilaterais e
de nervos cranianos.
2. Pseudocrises –observa-se no caso que não há mudança com a medicação,
que em geral não há trauma decorrente, nem incontinência esfincteriana,
raramene têm ocorrência noturna ou levam a confusão pós-ictal, apatia,
sonolência ou mordedura da língua. Em geral não são completamente
estereotipados e aumentam com o stress. A presença de choro durante a
crise também fala a favor de pseudocrise
3. Síncope – frequentemente existem fatores precipitantes. É raro haver
sintomas motores, o EEG costuma ser normal e só há grau leve de confusão
mental, quando ocorre.
4. Perda de fôlego – ocorre em crianças de 6 meses a 4 anos, geralmente
frustradas ou enraivecidas. Há apnéia e cianose, após o choro, e precedendo
a alteração de consciência.
5. Distúrbios de sono – parassonias, como terror noturno, sonambulismo,
pesadelos, narcolepsia podem se assemelhar a crises epilépticas
201
Etiologia
Até há alguns anos cerca de 70% das epilepsias eram idiopáticas
ou criptogênicas. Com o advento de modernas técnicas de neuroimagem o
número de epilepsias sintomáticas tem crescido substancialmente.
Quase todas doenças que atingem substância cinzenta e algumas
patologias da substância branca (ex. doenças metabólicas) e inúmeras doenças
sistêmicas podem estar envolvidas.
Entre as causas de epilepsia podemos citar fatores genéticos e
perinatais, distúrbios do desenvolvimento, doenças infecciosas, fatores tóxicos,
trauma, distúrbios vasculares, metabólicos e nutricionais, doenças
degenerativas e hereditárias.
Em nosso meio é frequente o achado de formas inativas
(calcificações) ou ativas (cistos) em adolescentes e adultos. Mas a relação
causal dessas patologias frequentes às vezes pode ser difícil.
Diagnóstico
O diagnóstico deve ser feito com exames laboratoriais,
neurofisiológicos e de neuroimagem. O EEG é exame funcional insubstituível.
Importante para ajudar a estabelecer o diagnóstico, ajudar na diferenciação de
síndromes focais e generalizadas, revelar padrões característicos de
determinada síndrome. Mas o diagnóstico é essencialmente clínico. O EEG
deve ser interpretado por especialista experiente e familiarizado com variantes
normais.
202
Tratamento
O tratamento é sintomático. Visa primariamente o controle das
crises. A seleção da droga antiepiléptica é baseada primariamente em sua
eficácia para tipos específicos de crises e epilepsias. Mas outros aspectos
devem ser levados em conta, como efeitos colaterais, idade do paciente,
interações com outras drogas e custo do tratamento.
Deve-se tentar preferencialmente monoterapia, por ser mais
efetivo, mais simples, com menor toxicidade, menos potencial para interações
e menor custo. Excecões são feitas em casos de epilepsias muito graves,
múltiplos tipos de crise e certos tipos de crise e síndrome.
Não há droga antiepiléptica ideal, que garanta controle completo,
seja efetiva para todos os tipos de crise, não leve a efeitos colaterais, seja de
fácil monitorização, possa ser administrada uma ou duas vezes ao dia e seja
barata.
Um resumo das principais drogas antiepiléptica está apresentado a
seguir.
DROGA APRESENT. DOSE ÈFEITOS INDICAÇÃO
COLATERAIS
Carbamazepina Comp. 200 e 10-20MG/KG Rash, CPS, CPC,
400 mg Dose média depressão CTCG
Tegretol – adultos:800 medula óssea, primária ou
Tegretard mg/dia hiponatremia, secundária
203
nistagmo,
sedação, ataxia
Fenitoína Comp 100 mg 4-7 mg/kg Rash, CPS, CPC,
Susp. Dose média depressão CGTC,
5m/100mg adultos: 300 medula óssea, primária e
Amp. mg pseudolinfoma, secundária
250mg/5ml ataixa,
Epelin, hipertrofia
Hidantal gengival, acne,
hirsutismo,
neuropatia
periférica
Fenobarbital Comp 50 e 100 Em crianças, Sedação, rash, CPS, CPC,
mg.Amp 200 3-4 mg/kg. Em ataxia, alt. CGTC
mg Gardenal adultos, dose comportament
média de 100- o,dist.
150 mg Cognitivos e
da potência
sexual
Ác. Valpróico Cáp.250 mg 20-60 mg/kg. Pancreatite, Crises de
Comp. 300 e Dose média de insuficiência ausência,
500 mg adultos :1 a 3 g hepática, mioclônicas,
Susp. 5m/250 depressão TCG, etc.
mg – 1 medula óssea,
ml/200mg efeitos
Depakene, gastrointestinai
Valpakine, s, ganho ou
Epilenil perda de peso