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CDD: 111.

CONTINGÊNCIA E INFINITO

CARLOS ALBERTO RIBEIRO DE MOURA

Departamento de Filosofia
Universidade de São Paulo
Caixa Postal 8105
SÃO PAULO, SP
calberto@usp.br

Resumo: O objetivo deste artigo é examinar o papel do infinito matemático na constituição da


doutrina leibniziana da contingência. Procura-se mostrar em que sentido o infinito matemático é
essencial para a elaboração de uma noção de contingência que decorra da própria natureza geral
da verdade.

Palavras-chave: contingência; infinito; verdade; demonstração.

Abstract: The purpose of this paper is to discuss the role of mathematical infinity in the
constitution of Leibniz`s doctrine of contingency. We try to show the sense in which
mathematical infinity is essential for the elaboration of a notion of contingency that derives from
the very general nature of the truth.

Key-words: contingency; infinity; truth; demonstration.

I
Dos três constituintes da noção leibniziana de liberdade – a inteligência, a
espontaneidade e a contingência 1 – foi quase sempre sobre este último que
recaiu a suspeita dos intérpretes. Afinal, se a “substância livre” é o único

1LEIBNIZ, Essais de Théodicée, III, par. 288; 1969, p. 290: “...a liberdade, tal como a

exigem nas escolas teológicas, consiste na inteligência, que envolve um conhecimento


distinto do objeto da deliberação; na espontaneidade, com a qual nós nos determinamos; e
na contingência, quer dizer, na exclusão da necessidade lógica ou metafísica. A inteligência
é como a alma da liberdade, e o resto é como seu corpo e sua base”.

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exemplo, entre os seres criados, de algo que por uma espécie de “milagre
privado” não tem o seu comportamento previsível a partir de nenhuma “lei
subalterna da natureza” 2 , se o agente humano é capaz de atos voluntários e
pode determinar-se a agir após uma deliberação apoiada no entendimento,
compreende-se mal como este privilégio do espírito frente às outras substâncias
seja compatível com a doutrina da noção individual completa. Era esta
compatibilidade, justamente, que Arnauld obstinava-se em não entender – no
que ele era, feitas as contas, desculpável. Afinal, a “noção completa” só pode
suscitar a imagem de um mundo habitado por uma necessidade “mais do que
fatal”. Como falar em liberdade, em espontaneidade e em escolha, se já estava
inscrito em minha noção individual que as paixões iriam sobrepor-se ao meu
entendimento, que eu iria pecar e certamente ficar mal falado? Da mesma
maneira, com que direito lamentar o fatum mahumetanum e apresenta-lo como
uma fatalidade absurda e insuportável quando se reconhece, singelamente, que
“tudo é produzido por um destino fixo” e que “é tão infalível o que ocorrerá,
antes que ocorra, como é infalível o que ocorreu, depois de ocorrido” 3 ? Agora,
recomendar que na ação nós sigamos a nossa razão já que, se o futuro é
determinado, não sabemos como ele o é nem conhecemos o que está previsto e
resolvido, pode significar simplesmente o reconhecimento de que a liberdade
não passa de uma ficção oriunda da ignorância e que a última palavra, nessa
questão, já fora dada por Espinosa.
Mas, a bem da verdade, o que vale essa objeção? A impressão de
fatalismo e o mal-estar de Arnauld só ganham sentido sob o horizonte da
“liberdade cartesiana”. É apenas quando se admite, antecipadamente, a
existência de uma região da experiência onde a indeterminação seria de direito,
que a compatibilidade entre noção completa e liberdade torna-se não só
enigmática como trivialmente impossível. Sendo assim, o que não se consegue
entender, no fundo, é como pode haver, ao mesmo tempo, liberdade e
determinação, e desde então tenta-se harmonizar, absurdamente, a liberdade de

2LEIBNIZ, “Verdades necessárias e verdades contingentes”; 1998, p. 344.


3LEIBNIZ, “Do destino”; 1990, p. 13.

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indiferença com a universalização máxima do princípio de razão. É agora que a


doutrina da noção completa torna-se escandalosa: quando se imagina conciliar a
determinação integral da substância com uma suposta indeterminação originária
da vontade humana.
Todavia, é certo também que ao se entender que a liberdade não exclui a
determinação, não se compreendeu ainda como ela deixaria de ser uma figura
da necessidade. Vá lá que o mundo criado, sendo um dos mundos possíveis,
não seja metafisicamente necessário, mas apenas necessário ex hypothesi ou “por
acidente” 4 . Entretanto, resta saber como, uma vez criado, este mundo
“contingente” não seria habitado por uma necessidade “mais do que fatal”.
Assim, se é verdade que o modelo de Espinosa é afastado e que não é mais
contraditório que César se detenha diante do Rubicão, é verdade também que
este seria um outro César, habitante de um outro mundo possível 5 . Desde então,
o que vale esta liberdade e o que César ganha com a mudança de teoria? Por
isso, a distinção leibniziana entre o certo e o necessário 6 parecerá inevitavelmente
sofística enquanto não se compreender como a noção completa pode incluir
todos os predicados de um sujeito, sem que a proposição enunciando qualquer
um deles se torne uma verdade necessária. Era para resolver este “enigma” que
Leibniz evocava uma “luz nova e inesperada”, vinda de “considerações
matemáticas sobre a natureza do infinito” 7 . Mas sabe-se também que essa
solução não deixou de ser considerada estranha, obscura – e de resultado
incerto 8 . Todavia, antes de julga-la “dogmaticamente”, talvez valha a pena

4LEIBNIZ, Discours de métaphysique, par. XIII; 1972, p. 171.


5LEIBNIZ, “Leibniz a Arnauld”; 1978, p. 51.
6Cf. LEIBNIZ, Discours de métaphysique, par. XIII; 1972, p. 171. Cf. também,

“Leibniz a Arnauld”; 1978, p. 52: “...a conexão dos acontecimentos, se bem que ela seja
certa, não é necessária, e sou livre para fazer ou não fazer esta viagem; pois se bem que
esteja incluído em minha noção que eu a farei, também está incluído ali que eu a farei
livremente”.
7LEIBNIZ, “Sobre a liberdade”; 1998, p. 331.
8Cf. ROSS, 1989; CARRIERO, 1993 e 1995. Tendo obtido a sua “luz” nas

Investigações gerais de 1686, Leibniz não deixa de confessar, contudo, em um texto datado

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verificar como ela adquire seu sentido no interior do leibnizianismo, e que papel
ela desempenha na arquitetônica do “sistema”. E para isso é preciso voltar por
um momento à doutrina da noção completa, avaliar por que ela não representa
uma exigência descabida e recensear, sobretudo, as condições em que ela recebe
a sua cidadania filosófica, visto ser ali que se desdobra o cenário onde se
locomove a questão da contingência.

II
A doutrina da noção completa seria o resultado do entrelaçamento entre
a “natureza geral da verdade” – como inclusão do predicado no sujeito – e a
universalização máxima do princípio de razão? Essa interpretação é correta, mas
ela certamente permanece parcial e abstrata enquanto se deixa de relembrar que
não há determinação completa de uma substância isolada, mas apenas de uma
essência inserida em um “mundo” que ela exprime de seu “ponto de vista” e,
assim, se diferencia integralmente das outras substâncias. Era exatamente este
um dos tópicos que Leibniz insistia em frisar a Arnauld 9 . O que significa dizer
que a “noção completa” não se refere ao domínio do simples possível, mas ao
domínio do compossível. A noção completa será até mesmo um conceito
essencial à compossibilidade. Sem uma noção “perfeita” que envolva todos os
predicados passados, presentes e futuros de cada substância, seria impossível
para Deus decidir em função de um saber totalmente determinante: as
substâncias viriam à existência isoladamente e colocar-se-ia o problema de sua
“ligação” post festum. Por isso, é a mesma coisa afirmar que toda substância tem
sua noção completa e que Deus cria um conjunto de compossíveis. Se Deus

de 1699 ou de 1703, que a sua “solução” mereceria algumas palavras a mais. Cf.
LEIBNIZ, “Conversações sobre a liberdade e o destino”; 1990, p. 30:
“Definitivamente, existe um admirável segredo da natureza, que representa a fonte da
contingência, aquilo que os escolásticos procuravam outrora ao tratar de radice
contingentiae e que eu espero poder explicar claramente algum dia”.
9LEIBNIZ, “Leibniz a Arnauld”; 1978, p. 41 : “Pois cada substância individual

deste universo exprime em sua noção o universo no qual ela entra”.

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elegeu entre infinitos indivíduos possíveis aqueles que melhor convêm aos seus
desígnios supremos, não se deve dizer que ele decidiu que Pedro renegaria ou
que Judas seria traidor; ele apenas decretou, em relação aos outros possíveis, que
viriam à existência Pedro que renegaria e Judas que trairia. Sem noção perfeita, a
compossibilidade não significaria nada, e sem compossibilidade o “mundo”
daria lugar a uma soma de decretos caprichosos. E é isso que não
compreendem aqueles que vão protestar contra o “fatalismo”.
Mas se é assim só há substância, estritamente falando, ali onde existe
exclusão de toda indeterminação. Por isso Arnauld erra ao contentar-se com
uma noção geral para circunscrever a essência de um indivíduo, supondo que
basta uma referência ao “pensamento” para concluir que “eu sou eu”. Não
ocorre aqui como na noção específica de esfera, onde distinguimos as
propriedades essenciais (a eqüidistância do centro) e as propriedades acidentais
(o tamanho do diâmetro). É de maneira muito rápida que se exclui de minha
noção individual a viagem que eu farei, quer dizer, que se aplica ao indivíduo os
critérios que valem para a noção específica. Certamente, não é tão fácil ser
profeta quanto ser geômetra. Mas por que não reconhecer que a indeterminação
é apenas de fato, ao invés de insistir em declarar que ela seria de direito? Essa
insistência redundaria em relegar a singularidade no acidental, – ela significaria,
portanto, declarar que a singularidade deste mundo é indeterminável. Se existe
unidade do mundo e logo determinação universal, por que a noção incompleta
seria a única de direito determinável? Abaixo de qual patamar seria preciso
conceder a existência do indecidível? Só se conserva o nome do indivíduo
quando se admite que ele não é o integralmente determinável. Ou ainda: o
integralmente diferenciável. Caso contrário, o mundo seria aquele do
determinismo: um horizonte de inteligibilidade incompleta que nos permite
pensar, até certo ponto, a unidade das leis, mas não a solidariedade das séries
singulares.
É por isso que é preciso repensar a noção de substância. Nos Novos
Ensaios, Leibniz relembrará que não é nem um pouco surpreendente que não se
possa dizer o que é o puro sujeito em geral, uma vez que se separou dele todos

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os atributos, “se excluiu todo detalhe” 10 . Aqueles que professam a doutrina


tradicional da substância e afirmam que ela suporta os acidentes enquanto nada
a suporta, sem dúvida têm razão. Mas ficar nisso é fazer o jogo do nominalista:
“Isto não basta ainda para nos dar uma noção distinta desses suportes”. Basta
apenas para reconhecer o substancial, mas não para ter dele uma idéia distinta,
uma idéia que envolve as condições e os requisitos da coisa 11 . Portanto, o mero
apelo à “independência” é insuficiente para caracterizar a substância. Ainda é
necessário precisar em que este subjectum ultimatum é último em relação aos seus
predicados.
Nos textos anteriores a 1679, essa passagem da determinação negativa à
determinação positiva só existe em germe, e é o critério da independência que
prevalece 12 . Nesse momento, já está assegurada a distinção entre acidentes e
predicados essenciais, entre os atributos cuja noção não inclui tudo aquilo que
se pode atribuir ao sujeito (“rei” para Alexandre) e aqueles sem os quais o
sujeito não seria aquilo que ele é. Mas ainda é impossível dizer em que este
sujeito permanece sempre idem subjectum. Existe por um lado a essência, que
assegura uma identidade grosso modo, por outro lado o “detalhe”, relegado ainda
nas “denominações extrínsecas”. Essa aparente insuficiência se traduz em um
embaraço relativo àqueles conteúdos que certamente são sempre sujeitos e
singulares. Este embaraço vem do fato de que o “sujeito último” continua a ter
sentido só por oposição às propriedades mutantes, como “subsistente” ou
“perdurável”. Fala-se então de um idem subjectum, mas na maior parte dos casos
essa identidade é postulada ou presumida; ela não é tal que não importa qual
dessas propriedades seja reconhecida como pertencente a este sujeito e o
distingua de não importa qual outro. Sob que condição, portanto, pode-se

10LEIBNIZ, Nouveaux essais sur l’entendement humain, II, 23; 1966, p. 186.
11LEIBNIZ, Discours de métaphysique, par. 8; 1972, p. 167: “É verdade que quando
vários predicados se atribuem a um mesmo sujeito, e este sujeito não se atribui a
nenhum outro, nós o chamamos de substância individual; mas isso não é suficiente e
uma tal explicação é apenas nominal”.
12Cf. MERCER e SLEIGH, 1995, p. 94.

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conceber um sujeito como certamente independente e certamente idêntico?


Apenas sob a condição de que a relação dos “existentialia” ao sujeito cesse de
representar um problema, quer dizer, sob a condição de que o sujeito seja
conseqüentemente definido não mais como um núcleo essencial incompleto,
mas como um “ens” envolvendo de direito todos os seus predicados. Ora, é
apenas a noção completa que determina o que é a independência. Se não fosse
possível obter um conceito tal que todos os seus predicados pertencessem a este
sujeito, e não a um outro, nunca estaríamos seguros de lidar com um sujeito
último, que não requer nada de outro para dar a razão de suas propriedades 13 .
Assim como é apenas a noção completa que garante a identidade a si de cada
substância. Uma noção que fosse indeterminada quanto ao menor “detalhe”
sempre poderia ser comum a dois indivíduos distintos 14 , e por isso mesmo na
falta de uma noção completa nunca poderíamos estar seguros de salvaguardar a
identidade a si de qualquer ser, portanto de lidar com um indivíduo
propriamente dito. De direito, a circunscrição do sujeito seria sempre revogável,
visto que a palavra “sujeito” não seria sinônima nem do supremamente
independente nem do supremamente diferenciado. Ora, seria absurdo que o

13Cf. LEIBNIZ, “Da natureza da verdade”; 1982, p. 348: “Se uma noção é

completa, isto é, tal que se possa a partir dela dar razão de todos os predicados do
próprio sujeito ao qual essa noção é atribuída, ela será a noção de uma substância
individual. Pois a substância individual é um sujeito que não inere a outro sujeito,
enquanto outros inerem a ela, de forma que todos os predicados de um mesmo sujeito
são todos os predicados da mesma substância individual; pode-se, portanto, dar sua
razão a partir da noção da substância individual, e somente a partir dela”.
14Cf. LEIBNIZ, “Sobre a liberdade, o destino e a graça de Deus”; 1990, p. 85:

“Nesta noção completa de Pedro... estão contidas não apenas os aspectos essenciais ou
necessários, que decorrem das noções incompletas ou específicas e são demonstradas a
partir dos termos, de modo que o seu contrário implica em contradição, mas também
os aspectos existenciais, por assim dizer, ou contingentes, visto que só há noção
perfeita ou completa da natureza da substância individual, e porque ela contém todas as
circunstancias individuais, mesmo contingentes, até as mais pequenas e porque de outra
maneira ela não seria última nem seria distinguida de não importa qual outra... pois a
noção que permanecesse indeterminada na menor circunstancia não seria ultima mas
poderia ser comum a dois indivíduos distintos”.

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sistema da determinação universal fizesse abstração do individual e o exilasse no


indeterminável. Isso só pode ser admitido por um sistema que se contenta em
determinar o fato (que um corpo, em circunstancias iguais, caia assim e não de
outra maneira), não por um sistema que pretende determinar todo acontecimento e
atribui-lo com certeza ao sujeito do qual ele depende 15 . O substancialismo de
Leibniz é sobretudo essa exigência de determinação, supérflua para nosso
determinismo, mas sem a qual de direito nunca se poderia distribuir, com
certeza, não importa qual acontecimento.
Mas é preciso falar apenas de um sistema de distribuição universal dos
acontecimentos, de forma alguma de uma absorção da existência na necessidade
geométrica. Longe de se tratar de abolir ou de minimizar a contingência, trata-se
de instaurar um sistema de decisão que opere até mesmo para os
acontecimentos contingentes. O que do ponto de vista do determinismo parece
uma exigência exorbitante, é ao contrário exigência mínima para uma
determinação geográfica das propriedades, sejam elas contingentes ou
necessárias. Por que temos dificuldade em compreender isso? Porque
admitimos relações externas, acidentes dos quais não nos preocupamos em
enunciar a qual sujeito eles pertencem, ou porque os deixamos em suspenso
entre dois sujeitos 16 . E admitimos isso porque para a ciência basta determinar
em um campo universal – que não tem mais nada a ver com um mundo.
Com efeito, o conceito de “noção completa” permanece paradoxal
enquanto não nos reportamos ao ideal de conexão mundana entre as
substâncias. É o que Leibniz indica em Sobre a liberdade. Eu via muito bem –
assegura ele – o envolvimento do predicado no sujeito em toda proposição
verdadeira afirmativa, “mas exatamente isso parecia aumentar a dificuldade”: se

15Cf. LEIBNIZ, “Leibniz a Arnauld”; 1978, p. 46: ”Eu não entendo de forma

alguma outra conexão do sujeito e do predicado do que aquela que existe nas verdades
as mais contingentes, quer dizer, que há sempre algo a se conceber no sujeito que serve
para dar razão de porque este predicado ou acontecimento lhe pertence ou porque
aquilo aconteceu antes que não”.
16Cf. LEIBNIZ, “Quinto escrito a Clarke”; 1978, p. 418-9.

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minha análise mostra que um predicado está compreendido em um sujeito em


determinado momento do tempo, “como em outro momento o sujeito pode
estar privado de seu predicado e conservar a sua noção?” Com efeito, o que é a
natureza do sujeito se ela comporta elementos que não lhe pertencem de modo
permanente? Não haveria nenhum sentido em se falar em uma noção essencial,
que compreende tanto os “essentialia” quanto os “contingentia”, se não
houvesse omni-expressão, – se não se soubesse que “cada substância individual
... inclui em sua noção completa (tal como esta existe no entendimento de
Deus) todo o universo, tudo aquilo que é, foi ou será” 17 . Sem omni-expressão,
a noção completa se arruina. Todavia, afirmar que a determinação “vencedor na
Farsália” desde sempre estava contida na noção de César não é fazer uma
postulação fatalista? Ora, para Leibniz é apenas em sentido lato que se dirá que
a determinação “Farsália” está compreendida na noção “Cesar” “assim como as
propriedades o estão na definição do círculo”: enquanto Deus faz passar à
existência as propriedades de espécie “círculo” isolada, uma determinação
existencial “supõe a seqüência das coisas que Deus escolheu livremente”, e essa
suposição de todo o resto basta para exclui-la da necessidade que governa uma
essência constituída isoladamente. A noção completa é a reflexão, na essência,
do infinito de um mundo escolhido livremente, – ela é a presença deste mundo
contingente e não apenas a anulação da incerteza que vem do tempo. Pode-se
pensar a contingência fora da incerteza: que Cesar tenha uma noção completa
significa que ele existe no mundo e que aquilo que lhe acontecerá é portanto
infalível. Mas significa também que ele é habitante deste mundo, e que só está
destinado a ser morto por Brutus mundanamente, e não por “essência”. A
noção completa é o relato já redigido dos faits divers, mas existe uma infinidade
de outros relatos possíveis.
Todavia, dir-se-á, basta que a noção completa se ajuste ao sistema para
receber direito de cidadania? Não se trataria de um conceito forjado? Não
faltam textos que podem sugerir esta suspeita. É assim quando Leibniz afirma

17LEIBNIZ, “Sobre a liberdade”; 1998, p. 331.

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que “nós supomos que é da natureza de uma tal noção perfeita compreender tudo,
afim de que o predicado esteja ali incluído” 18 . Na correspondência com
Arnauld, a desenvoltura parece ir mais longe: “eu suponho que essa noção é
expressamente fabricada, de modo que dela se possa deduzir tudo aquilo que me
acontece” 19 . Mas com que direito fazer essa “suposição”? A resposta a Arnauld
é simples: “eu dei uma razão decisiva que, em minha opinião, faz as vezes de
demonstração; é que sempre, em toda proposição afirmativa verdadeira,
necessária ou contingente, universal ou singular, a noção do predicado está
compreendida de alguma maneira na noção do sujeito” 20 . Se a conexão indicada
pela noção completa é uma exigência mínima – e não exorbitante – é porque
não se pede mais ligação aqui “do que aquela que se encontra a parte rei entre os
termos de uma proposição verdadeira” 21 . É notável que Arnauld confesse ter
ficado “impressionado sobretudo” com essa razão, para a comemoração de
Leibniz: o Sr. Arnauld “rendeu-se” à verdadeira noção de substância. Mas vale a
pena verificar como se produziu esta súbita conversão.
Arnauld defende a indeterminação contra aquilo que lhe parece ser um
sistema necessitarista. Como confunde determinado e necessário, ele recusa-se a
colocar no mesmo plano aquilo que pertence invariavelmente à minha essência
e os predicados variáveis. Para Leibniz não é essa a questão: simplesmente, deve
haver uma razão a priori pela qual é a mim, de direito, que cabe esse predicado.
Ninguém pode se contentar com o “sentimento interno” de que é o mesmo em
diferentes momentos do tempo, o mesmo que fez esta viagem. É preciso que
meus predicado sucessivos sejam predicados de um mesmo sujeito 22 . A tese
parece ser metafisicamente perigosa? Trata-se de sustentar que todos os
acontecimentos são univocamente distribuíveis, de direito, sem condição de
tempo, e universalmente determináveis: por que, a este sujeito, este

18LEIBNIZ, Discours de métaphysique, 13; 1972, p. 172 (grifo meu).


19LEIBNIZ, “Leibniz a Arnauld”; 1978, p. 46 (grifo meu).
20 LEIBNIZ, “Leibniz a Arnauld”; 1978, p. 56.
21LEIBNIZ, “Leibniz a Arnauld”; 1978, p. 56.
22LEIBNIZ, “Leibniz a Arnauld”; 1978, p. 43.

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acontecimento e não um outro? Arnauld fala ainda de fatalismo? Leibniz não


quer sugerir outra coisa “senão aquilo que todos os filósofos entendem ao dizer
praedicatum inesse sujecto verae propositionis” 23 . Se Arnauld nega isso ele será
reduzido ao absurdo, ou então ninguém sabe o que é a verdade. Em suma,
Leibniz reconduz a tese da determinação completa universal à questão da
decidibilidade universal de “César é vencedor na Farsália”. Se de direito, do
ponto de vista da onisciência divina, essa proposição é sempre verdadeira, dado
que sua verdade consiste na não exclusão do predicado pelo sujeito, então é
preciso que a parte rei essa conexão tenha estado sempre presente. Esta
conclusão se impõe, se o verdadeiro é a inclusão do predicado no sujeito: se a
verdade de uma proposição é independente do tempo e do lugar, a condição da
verdade também o é.
Ora, essa “conclusão” poderia parecer o tipo mesmo da extrapolação
dogmática, no sentido kantiano da palavra: transferir para as coisas aquilo que
vale apenas para as proposições 24 . Mas para Leibniz só haveria extrapolação se
a natureza das coisas estivesse submetida a um outro código de verdade que as
proposições. Ora, a verdade é una, logo, o seu comentário é único:
possibilidade de reconduzir os termos da predicação a uma proposição idêntica.
A partir do momento em que demonstrar é reduzir a idênticos, não pode haver
diferença de natureza entre as proposições verdadeiras. E a razão suficiente não
é senão a afirmação dessa legislação unitária do campo da verdade. Donde os
diversos textos de Leibniz onde a afirmação de que “nada é sem razão” é
apresentada como corolário da inclusão do predicado no sujeito 25 , onde o
princípio de razão suficiente entra em cena apenas como explicitação do

23LEIBNIZ, “Leibniz a Arnauld”; 1978, p. 43.


24Sobre o dogmatismo como transformação sistemática de uma legislação dos
conceitos em legislação das coisas, cf. LEBRUN, 1970, cap. II.
25Por exemplo, “Leibniz a Arnauld”, 1978, p. 56: “...sempre é preciso que haja

algum fundamento da conexão dos termos de uma proposição, que deve se encontrar
em suas noções. Este é o meu grande princípio, sobre o qual acredito que todos os
filósofos devem permanecer de acordo, e do qual um dos corolários é este axioma
vulgar de que nada acontece sem razão...”.

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princípio de não contradição, e onde só há uma diferença de grau entre


proposições idênticas e não idênticas: enquanto nas primeiras o predicado e o
sujeito coincidem, nas outras nós podemos sempre remontar, por uma
explicação distinta, à conexão necessária entre os termos 26 . Das verdades
necessárias às contingentes, a diferença na natureza da conexão dos termos é
dada apenas pela distancia entre expresso e o implícito. Logo, não há nenhuma
diferença de natureza entre os dois princípios enquanto eles estão incluídos na
definição do verdadeiro e do falso.
Ora, no momento em que o princípio de razão adquire a sua
originalidade, quando se coloca em primeiro plano os domínios sobre os quais
versam as proposições, as verdades de razão ou as verdades intramundanas, ele
permite instalar universalmente, em todos os domínios, a definição do
verdadeiro, e mostra a restrição do princípio de identidade ao domínio
exclusivo da matemática. 27 . De uma reabsorção de todos os domínios naquele
da Mathesis, aparentemente passamos agora a uma delimitação da Mathesis como
caso extremo da conexão necessária ou Razão. Assim, enquanto o princípio inest
subjecto no sentido estrito determina o campo da necessidade rigorosa, o
princípio de razão suficiente, se bem que ele seja a sua extrapolação determina,
além disso, o campo da decidibilidade mínima: graças a ele estamos seguros
sempre, em todas as partes, qualquer que seja o domínio sobre o qual verse a
proposição, de que existe no sujeito uma razão da existência de qualquer
predicado. É portanto apenas em seu nível que se obtém a extensão completa
da correspondência entre legislação da verdade e legislação das coisas 28 .
Mas a validade do princípio é agora mínima e até mesmo negativa: ele
nos assegura apenas que é impossível que uma razão não tenha determinado
este acontecimento. E o seu modelo é desde então a balança: se tudo é igual de

26LEIBNIZ, “Da natureza da verdade”; 1982; p. 346.


27Cf.
LEIBNIZ, “Monadologia”, 33/36; 1972, p. 401.
28Cf. LEIBNIZ, Nouveaux essais sur l’entendement humaine, IV, 17; 1966, p. 422: “...a

causa nas coisas corresponde à razão nas verdades. É por isso que freqüentemente a
causa é chamada de razão...”.

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um lado e do outro, e se pesos iguais são postos em ambos os lados, “não há


nenhuma razão para que um lado desça antes que o outro” 29 . Será esta a
estratégia da Teodicéia: “eu não tomarei de forma alguma livre e indiferente por uma
mesma coisa, e não oporei de forma alguma livre e determinado” 30 . A palavra
indiferença é lícita enquanto ela permanece sinônima de contingência, mas sob a
condição de que ela não signifique “que se seja absolutamente e igualmente
indiferente pelos dois partidos opostos”, ou ainda, que liberdade seja sinônimo
de indeterminação 31 . E isso, simplesmente porque é impossível que uma
determinação provenha de uma “causa indeterminada” 32 , que o seu advento
não seja acompanhado de uma exclusão dos outros casos possíveis. E que o
nouveau philosophe Bayle não venha dizer que é suficiente, para que haja causa
determinante, que eu simplesmente queira fazer uso de minha liberdade:
“Querer simplesmente fazer uso de sua liberdade não tem nada de especificante
ou que nos determine à escolha de um partido ou do outro”. Por que este rigor
que parece desembocar no fatalismo? Porque se não há nada de determinante,
“eis algo que aparece e existe sem preparação, sem que nada se disponha a isso
.... é sair de nada” 33 . Se Deus deve ver ou poder mostrar como uma coisa existe,
é porque a resposta a essa pergunta não é de forma alguma supérflua: admitir
que algo surja da indiferenciação é faze-lo sair de nada. Se o ens é o
diferenciável, a indiferença é o não-ser: “...o Nada, que é o mais imperfeito e o
mais distanciado de Deus, é também o mais indiferente e o menos
determinado” 34 . A impossibilidade de dar o porque e o como seria equivalente à
impossibilidade de situar uma determinação em relação aos possíveis que não
vieram à existência em seu lugar, quer dizer, seria faze-la apagar-se.

29LEIBNIZ, “Segundo escrito a Clarke”; 1978, p. 356.


30LEIBNIZ, Essais de Théodicée, par. 132; 1969, p. 186.
31LEIBNIZ, Essais de Théodicée, par. 302 e 365; 1969, p. 298-332.
32LEIBNIZ, Essais de Théodicée, par. 305; 1969, p. 299.
33LEIBNIZ, Essais de Théodicée, par. 320; 1969, p. 307: “Querer que uma

determinação provenha de uma plena indiferença absolutamente indeterminada é


querer que ela provenha naturalmente de nada”.
34LEIBNIZ, “Definição da liberdade”; 1990, p. 209.

Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 10, n. 1, p. 31-53, jan.-jun. 2000.
44 Carlos Alberto Ribeiro de Moura

Mas se a liberdade não representa uma exceção à determinação, seria


preciso então fazer dela um caso da Necessidade – que seria unívoca desde as
verdades de razão até as verdades de fato? Ora, que haja “prevalência da
inclinação” e que Deus saiba que o efeito seguirá essa inclinação não significa
de forma alguma que era absolutamente inevitável que eu me determinasse
assim. “Essas ações voluntárias não ocorrerão o que quer que se faça, ou quer
as queiramos ou não, mas porque faremos e porque desejaremos fazer o que
conduz a isso” 35 . Logo, a determinação universal não é sinônima de
necessidade absoluta. Uma coisa é sustentar que o contingente é determinável,
portanto que as proposições que o concernem já estão decididas, outra coisa é
abolir a contingência. A doutrina aristotélica dos futuros contingentes é
recusada, mas a própria expressão não é banida. É o que Leibniz tenta fazer
Arnauld entender: os futuros contingentes são previstos em si mesmos e por
suas razões, mas permanecem contingentes 36 . Se essa tese permanece paradoxal,
é porque se dá um sentido muito forte à exigência de razão suficiente: imagina-
se que não apenas todo predicado é determinável a priori, mas que ele é
determinável por exclusão absoluta de todos os seus substitutos possíveis, quer
dizer, pensa-se que ele não tinha substitutos possíveis. Raciocina-se então que
se tudo é determinado, era em si mesmo impossível que César se detivesse no
Rubicão. Donde o apelo de Leibniz à imaginação dos adversários: isso é
possível, pois pode-se muito bem concebê-lo... Se se recusa a admiti-lo, é
porque se exige de um “compossível” aquilo que só é exigível de um “possível
absoluto”, é porque não se diferencia entre a exclusão de outras ocorrências do
mesmo caso em função deste mundo e a exclusão do contraditório. É ou uma
coisa ou outra: ou fora da necessidade geométrica só há o indeterminável, ou a
simples determinação é posta no mesmo plano que a necessidade geométrica.
Ou não há demonstração possível de nenhum predicado de César, ou então
essa demonstração deve ser “tão absoluta” quanto aquela dos números ou da

35LEIBNIZ, Essais de Théodicée, Resumo da controvérsia; 1969, p. 367.


36LEIBNIZ, Discours de métaphysique, XIII; 1972, p. 171; Correspondência com
Arnauld; 1978, p. 52.

Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 10, n. 1, p. 31-53, jan.-jun. 2000.
Contingência e Infinito 45

geometria 37 . Assim, para que a determinação fosse perfeita e completa, seria


preciso que nenhum outro sistema de determinações fosse imaginável e que o
sistema dado tivesse sido o único possível. É a este preço que, para escapar ao
necessitarismo, refugia-se na indeterminação e na loucura da “indiferença
quimérica”.
Mas é preciso distinguir o plano da compossibilidade e o plano dos
possíveis absolutos 38 . Assim, tudo é determinado sem falhas, visto que intra-
mundano e porque todas as proposições que versam sobre este mundo são em
si decidíveis, – mas em contrapartida, como trata-se apenas deste mundo, tenho
direito de pensar em algo determinado de outra maneira. Extensão máxima do
praedicatum inest sujecto, o princípio de razão suficiente abranda portanto a
legislação do princípio de identidade, do qual o princípio do inest era todavia o
comentário. Ora, é neste contexto que as “reflexões matemáticas sobre a
natureza do infinito” revelam o seu sentido e a sua função arquitetônica: sem a
“consideração do infinito”, sem a oposição entre a análise finita dos necessários,
que se termina nas noções primitivas, e a análise dos contingentes, que vai ao
infinito, não haveria como escapar à alternativa ou necessidade absoluta, ou o
acidental puro e simples. Donde a importância dos textos onde Leibniz insiste
em que a oposição entre os dois modelos de análise não é relativa à nossa
finitude, e que nem mesmo Deus poderia demonstrar uma verdade

37LEIBNIZ, “Leibniz a Arnauld”; 1978, p. 52.


38Cf. LEIBNIZ, “Leibniz a Bourguet”; 1978, p. 572-3: “Não concordo que para
conhecer se o Romance de Astréia é possível, seja preciso conhecer sua conexão com o
resto do universo. Isso seria necessário para saber se ele é compossível com este e, por
conseguinte, se esse Romance é, foi ou será em algum canto do universo. Pois sem
isso, seguramente não haverá aqui lugar para ele. E é muito verdadeiro que aquilo que
não é, não foi e não será, não é possível, se possível é tomado por compossível ... Mas
é outra coisa saber se Astréia é possível absolutamente. E eu digo que sim, porque ela
não implica em nenhuma contradição. Mas para que ela existisse efetivamente, seria
preciso que o resto do universo também fosse inteiramente diferente do que é, e é
possível que ele seja diferente”.

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46 Carlos Alberto Ribeiro de Moura

contingente 39 , corrigindo aqueles outros que poderiam sugerir uma


inexasustibilidade de fato, devida ao nosso estatuto de mens creata 40 . Se a
impossibilidade de terminar a análise só dependesse da impotência do espírito
criado, em si o campo da verdade voltaria a ser rigorosamente homogêneo, mas
a contingência perderia qualquer sentido. Donde a necessidade de se dizer em
que consiste, exatamente, esta incapacidade de analisar completamente.
Ora, se toda proposição verdadeira pode ser provada, enquanto as
proposições necessárias podem ser provadas por “redução aos idênticos” ou
por redução de seu oposto à contradição, uma “proposição verdadeira
contingente não pode ser reduzida aos idênticos, mas nós a provamos contudo
mostrando que, se a resolução é prosseguida cada vez mais, ela se aproxima
perpetuamente dos idênticos, e todavia nunca chega a eles inteiramente. Cabe
portanto somente a Deus, cujo espírito envolve todo o infinito, possuir uma
certeza a respeito de todas as verdades contingentes” 41 . Tudo que o
entendimento finito poderá fazer é mostrar que, da regra que ele segue na
resolução continuada, “não procederá jamais nenhuma contradição” 42 .
Portanto, não se deverá dizer que somos incapazes de analisar os contingentes
por não poder reduzi-los aos idênticos, pois em si não é assim que se analisa as
verdades contingentes, mas como só podemos provar reduzindo aos idênticos,
nós só podemos provar proposições relativas a noções incompletas, e nunca

39Cf. LEIBNIZ, “Sobre a liberdade”; 1998, p. 332-3: “No caso das verdades

contingentes ... se bem que o predicado esteja no sujeito, todavia ele nunca pode ser
demonstrado a partir deste, e nunca se chega a reconduzir a proposição a uma equação,
quer dizer, a uma identidade: sua resolução, ao contrário, se prolonga ao infinito.
Apenas Deus vê, não, bem entendido, o fim da resolução, que não existe, mas pelo
menos a ligação dos termos, que dizer, o envolvimento do predicado no sujeito, pois
ele ve tudo o que está na série”.
40Cf. LEIBNIZ, “Sobre a característica e a ciência”; 1998, p. 162: “...assim como no

caso das proporções irracionais, o processo de resolução vai ao infinito..., da mesma


maneira um processo idêntico faz com que as verdades contingentes reclamem
igualmente uma análise infinita que só Deus pode percorrer”.
41LEIBNIZ, 1998, p. 277.
42LEIBNIZ, 1998, p. 243.

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Contingência e Infinito 47

quando elas concernem a noções individuais completas, que “envolvem o


infinito”. Agora a demonstração completa nunca é alcançada, mesmo se nos
aproximamos cada vez mais dela , “de tal forma que a diferença seja menor que
qualquer diferença dada” 43 .
Sendo assim, a raiz da contingência é o infinito 44 . Por que essa tese
pareceu “estranha”? É preferível circunscrever assim a “raiz da contingência “
do que localiza-la no ininteligível, como a matéria primeira aristotélica, ou
simplesmente situa-la na liberdade da vontade divina, como Duns Scotus 45 . A
uma tese filosófica arbitrária, Leibniz opõe uma contingência que decorre da
própria natureza da verdade. Não há outra raiz da contingência do que aquela
que provém da natureza da proposição, a saber, que existe a
indemonstrabilidade 46 . Donde a importância de que a indemonstrabilidade seja
uma das variantes do praedicatum inest subjecto, e não uma exceção à sua
jurisdição. Visto que há um estatuto das verdades concernentes ao infinito, o
inanalisável não é por isso o irracional. E é justamente essa diferença intrínseca
entre o necessário e o contingente que impede o entendimento criado de
analisa-lo perfeitamente, ou mesmo Deus de poder demonstra-lo, como se para
ele só houvesse analise perfeita enquanto análise terminável.. Portanto, não é

43LEIBNIZ, 1998, p. 251.


44 Cf. “Origem das verdades contingentes...”; 1998, p. 337.
45 Estabelecendo que a “raiz da contingência” está fora das coisas contingentes e

localizando-a na “liberdade da vontade divina”, Duns Scotus não deixava de sublinhar


que essa concepção da “causa primeira” era oriunda da “fé católica” e extravasava, por
isso mesmo, o campo da razão natural: não há justificação puramente metafísica da
contingência. Cf. GILSON, 1952, cap. IV.
46Cf. LEIBNIZ, “Sobre a liberdade, a contingência e a providência”; 1990, p. 105:

“Com efeito, se admitimos a noção de Necessidade que todo mundo admite, segundo a
qual são necessárias aquelas coisas cujo contrário implica em contradição, se depreende
facilmente da natureza da demonstração e da consideração da análise, que podem
existir verdades irredutíveis, por meio de alguma análise, à identidade ou ao princípio
de contradição, mas que precisam de uma série infinita de razões, conhecida a fundo
apenas por Deus; e essa é a natureza de todas as coisas que se chamam livres ou
contingentes”.

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porque não conseguimos terminar a análise que não podemos demonstrar as


verdades contingentes, mas porque elas são por natureza intermináveis,
portanto, para nós não domináveis. Sobretudo, que não se acredite que nossa
finitude nos dissimula que todas as proposições são necessárias e que em si a
contingência se reabsorva na necessidade.
Se o princípio do inest parece acarretar o necessitarismo, como parecia ao
próprio Leibniz antes da “luz” obtida nas Investigações gerais, de fato ele só o
acarreta quando nós o confundimos com apenas um de seus modelos de
verificação: a redução finita aos idênticos. Que se alargue ao contrário a sua
verificabilidade, e sua omni-validade será compatível, ao mesmo tempo, com o
reconhecimento e com a aclimatação da contingência. Sem a noção de
resolução de direito infinita, seria preciso ou que todas as verdades fossem
resolúveis por um processo finito, o que nos condenaria ao necessitarismo, ou
que as verdades não fossem finitamente resolúveis, o que faria então com que
em si houvesse o acidental puro e simples. Através disso aparecem duas das
funções complementares do infinito matemático. Em primeiro lugar, dar um
estatuto irredutível à contingência. Em segundo lugar, salvaguardar a unidade de
campo do princípio do inest: a contingência está incluída no sistema da
determinação 47 . Portanto, é a integração do infinito na legislação da verdade

47Visto que a determinação é a certeza objetiva, quer dizer, uma verdade que pode

ser conhecida (Teod. I, 36), Deus regula a equivalência entre a determinação e a certeza,
mas de forma alguma a equivalência entre a determinação e a necessidade. “A
preciência em si mesma não torna a verdade mais determinada; ela é prevista porque
ela é determinada, porque ela é verdadeira; mas ela não é verdadeira porque é
prevista”(Teod. I, 38). “Essa determinação vem da própria natureza da verdade, e não
poderia prejudicar a liberdade” (Teod., I, 37). Melhor ainda: mesmo se os futuros
contingentes não dependessem dos decretos de Deus, ainda assim haveria, para ele,
“meios de prevê-los”: ele os veria tais como eles são na região dos possíveis (Teod., I,
42). No campo da verdade tudo é determinado, quer dizer, de direito previsível. Mas só
se poderia falar em necessidade se fossem imagináveis apenas os possíveis pertencentes
ao sistema de compossíveis que foi escolhido. Se não houvesse outro mundo, o
determinado seria o necessário. Como a preciência vige de direito em todas as partes,
ela não poderia incidir sobre os compossíveis deste mundo e transformá-los em

Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 10, n. 1, p. 31-53, jan.-jun. 2000.
Contingência e Infinito 49

que, ao mesmo tempo em que preserva a sua homogeneidade, salva a


originalidade do indivíduo 48 , faz da noção completa outra coisa que uma
essência matemática, e faz da contingência outra coisa que uma conexão
necessária dissimulada. Outra coisa, mas de tal maneira, todavia, que Deus pode
decidir tanto aqui quanto ali sobre a verdade das proposições. Portanto, não
apenas a noção completa integral de minhas verdades contingentes não faz de
minha história uma fatalidade, como ela também restitui as verdades necessárias
ao seu justo lugar, verdades necessárias que nós temos tendência a tomar por
únicos modelos da determinação. Certamente, à diferença das verdades
contingentes, as necessárias valem em todos os mundos possíveis, mas elas só
concernem a “seres incompletos”, e devem ser situadas do lado dos contínuos
ideais, inferiores aos atuais 49 . Assim, longe dos singulares serem anexados ao
reino da “necessidade bruta”, é a Mathesis, enquanto sistema de determinação,

inelutáveis. O erro é ligar decidibilidade a necessidade metafísica. É nessa via que se


confirma a diferença de natureza entre determinação e necessidade: a determinação não
é uma necessidade mais frouxa e, na expressão “necessidade moral”, a palavra
“necessidade” é apenas metafórica: “esse modo de necessidade, que não destrói a
possibilidade do contrário, só tem esse nome por analogia; ela se torna efetiva não pela
exclusiva essência das coisas, mas por aquilo que está fora delas e acima delas, a saber,
pela vontade de Deus. Essa necessidade é chamada de moral porque, junto ao sábio,
necessário e devido são coisas equivalentes”(Teod., Abrégé, 8). Certamente, “pode-se dizer,
em certo sentido, que é necessário que os danados pequem, que Deus escolha o
melhor”(Teod. I, 282), mas deve-se relembrar, sobretudo, que essa necessidade não é
“essencial e absoluta”, isto é, que ela diz respeito a este agrupamento de compossíveis,
não está inscrita em uma essência, de modo que a encontraríamos em todos os mundos
possíveis.
48Cf. LEIBNIZ, “Leibniz a Arnauld”; 1978, p. 38-9: “É preciso filosofar de outra

maneira sobre a noção de uma substância individual e sobre a noção específica de


esfera”.
49Cf. LEIBNIZ, “Leibniz a Sofia”; 1978, p. 562-4: “Nos ideais ou nos possíveis que

compreendem não apenas este universo mas ainda todos os outros que possam ser
concebidos, o todo indeterminado é anterior às divisões... A continuidade
unitariamente regrada, se bem que ela só seja suposição e abstração, forma a base das
verdades eternas e das ciências necessárias”.

Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 10, n. 1, p. 31-53, jan.-jun. 2000.
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que deixa de ser confundida com a necessidade geométrica. É esta a outra


função da “consideração do infinito”: ao mesmo tempo em que permite que se
inscreva o contingente na Mathesis, ela proíbe que esta se reduza à
verificabilidade por idênticos. Se a indeterminação é expulsa do mundo, é
porque só existem indivíduos a todo momento discerníveis. Se é em si
impossível reduzir as proposições contingentes a identidades, não se deve ver
nisso um caso limite do princípio do inest que, bem ou mal, reataria com este
para ali integrar – e edulcorar – o contingente: ao contrário, é de pleno direito
que existe irredutibilidade ao idêntico.
Ora, é a “consideração do infinito” que, no mesmo gesto em que proíbe
a redução aos idênticos, sanciona por isso mesmo um princípio de variedade e nos
dá a certeza de que a diversidade é original. O império da verdade é o mesmo
em todas as partes, mas essa uniformidade não acarreta a homogeneidade das
regiões metafísicas. Visto que é o Mesmo que ecoa em todas as partes, como
estamos sempre diante de variações, por que não reconhecer a diversidade
infinita? Ela não é mais obstáculo à inteligibilidade, e a prodigalidade da
existência só suscita a ilusão do caos em razão de uma concepção muito pobre e
muito grosseira da essência, a dispersão infinita dos pontos de discernibilidade
só pode parecer desordem para quem tem uma idéia unívoca da ordem. E se de
fato “é impossível para nós ter o conhecimento dos indivíduos e encontrar
meio de determinar exatamente a individualidade de alguma coisa” 50 , visto que
ela “envolve o infinito”, essa constatação de finitude nunca poderá ser um
lamento: sem esse infinito não haveria em si determinação sempre possível,
portanto não haveria indivíduos em si sempre distintos. Sem dúvida, para nós
seria mais cômodo se existissem os “átomos de Demócrito”, princípios
indiferentes e homogêneos. Mas “também não haveria então diferença entre dois
indivíduos diferentes de mesma figura e mesma grandeza” 51 , em última instância
haveria uma repetição pura e simples de idênticos, um alinhamento sem razão
dos indiferentes, logo, haveria a indeterminação. Ora, isso é impossível, se bem

50LEIBNIZ, Nouveaux essais sur l’entendement humaine, III, 3, par. 6-7; 1966, p. 248-9.
51LEIBNIZ, Nouveaux essais sur l’entendement humaine, III, 3, par. 6-7; 1966, p. 248-9.

Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 10, n. 1, p. 31-53, jan.-jun. 2000.
Contingência e Infinito 51

que pudesse ser mais confortável para nosso conhecimento finito: a diversidade
é sempre variedade, nunca simples dispersão, a pluralidade de essências não é
justaposição de idênticos porque cada uma delas é afetada, desde o início, de
uma intensidade que lhe é própria, e em função da qual existe o melhor
conjunto de compossíveis 52 . Se a pluralidade não fosse infalivelmente signo de
diferença qualitativa ou de diferença de intensidade dos componentes, só haveria
superlativo quantitativo e não determinação a melhor. Haveria coleção de possíveis
arbitrariamente feita, mas o “combate dos possíveis” seria sem razão. Apenas essa
hipótese da intensidade das essências, quer dizer, da diversidade qualitativa inicial, é
compatível com a aplicação do princípio de razão suficiente 53 . Mas ao mesmo
tempo ela acarreta a admissão de uma instância de escolha: só haverá saída racional
para o desfecho do combate se houver diversidade qualitativa universal, mas essa
arbitragem não pode ocorrer sem uma balança. A finalidade decorre do postulado
da heterogeneidade qualitativa: sem a discriminação inicial dos “graus de essência”,
se a existência não fosse julgada a mais harmoniosa, se ela não significasse “agradar a
Deus”, a possibilidade de sempre poder determinar não estaria garantida. Se
determinar não consiste em circunscrever os limites de regularidade de um
funcionamento, mas em recolocar cada coisa no lugar que a torna distinta das
outras, no centro da rede infinita de suas diferenças, então Deus, por sua escolha, é
o fiador dessa determinação completa.
Mas se é assim, a regulação do universo não significa o desdobramento de
um destino morno. Tivéssemos alcançado o “ponto de perspectiva” a partir do
qual a ordem se manifesta, sua extrema variedade ainda fascinaria, as surpresas nos
esperariam. Surpresas, mas não o irracional nem o imprevisível. E se isso nos causa
estranheza, é porque temos o hábito de localizar a necessidade ali, a contingência
aqui, como se não fosse a mesma verdade, a mesma legislação que regesse os dois
domínios, como se fora das leis só houvesse a indeterminação, logo, como se a
cientificidade supusesse a anulação ou a colocação entre parênteses da variedade, e

52LEIBNIZ, “De l’origine radicale des choses”; 1972, p. 341: “A possibilidade é o

princípio da essência; da mesma maneira, a perfeição ou o grau de essência (pelo qual


há um máximo de compossíveis) é o princípio da existência”.
53Cf. LEIBNIZ, “Sobre as verdades primeiras”; 1998, p. 447.

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52 Carlos Alberto Ribeiro de Moura

que em contrapartida o reconhecimento desta variedade – um pouco depois


batizada de “concreto” – proibisse a cientificidade. Dizer que o mundo é “bem
regulado” é dizer que ele é perfeito, isto é, que não apenas os perfis de regularidade
que nele delimitamos são codificados, mas também todas as figuras da variação. E
de fato, por que restringir a inteligibilidade ao invariante? Por que o conhecimento
suporia a uniformidade? “Eu preferiria a variedade nas curiosidades do que grandes
pedaços de ouro onde tudo se assemelha”54 .
Mas “perfeição” não significa apenas que a profusão do individual não
representa um obstáculo à inteligibilidade. É não apenas malgrado ela, mas
sobretudo através dela que transparece a consonância. Não nos esqueçamos de que
o infinito, se ele proíbe a demonstração das proposições contingentes, é também
aquilo que legaliza a contingência; nem de que a omni-expressão, se ela nos
condena às “pequenas percepções”, também nos integra nas expressões da mesma
série. Aquilo que à primeira vista parece marca da finitude sempre se revela,
olhando melhor, inserção na ordem. A perfeição não apenas concilia ordem e
variedade como também as faz passar uma na outra 55 . Que haja conformidade,
mas não a ponto de que ela exclua o inesperado. Que haja o inesperado, mas não a
ponto de que ele nos incline a desesperar de encontrar uma regra: em qualquer
bosque do parque, cada concerto tem seu sabor próprio, mas eu devo poder
imaginar o que são os outros concertos e nunca ficar tão fascinado pelo que se
passa aqui, a ponto de esquecer a lição do Arlequim: “ali é exatamente como aqui ” 56 .
Em outros termos, a diversidade é onipresente, mas ela só acarreta rupturas da

54Cf. LEIBNIZ, Essais de Théodicée. II, 213; 1969, p. 247: A bondade e a beleza não

consistem “em algo de absoluto e de uniforme, como a extensão, a matéria, o ouro...”.


55Cf. LEIBNIZ, “Monadologia”, 58, I; 1972, p. 403-4: “E este é o meio de obter

tanta variedade quanto é possível, mas com a maior ordem que se possa, quer dizer,
este é o meio de obter tanta perfeição quanto se pode”.
56Cf. LEIBNIZ, “Leibniz a Sofia Carlota”; 1978, p. 348: “...toda a minha filosofia...

é fundada em dois ditos tão comuns quanto aquele do teatro italiano, de que ali é
exatamente como aqui, e este outro, de Tasso: che per variar natura è bella, que parecem se
contrariar, mas que é preciso conciliar entendendo um do fundo das coisas, o outro das
maneiras e aparências”.

Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 10, n. 1, p. 31-53, jan.-jun. 2000.
Contingência e Infinito 53

ordem na superfície, nos “fenômenos”. A “estranha” consideração sobre o infinito


era imprescindível não só para aclimatar a contingência como também para
legitimar a diversidade máxima e compreende-la como um conjunto de variações
sobre o mesmo tema.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Studia Leibnitiana, Bd XXV/1 (1993) e Bd. XXVII/1 (1995).
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Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 10, n. 1, p. 31-53, jan.-jun. 2000.

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