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ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.353-11415-1-LE.

0203200814

Lima BI, Bastos LO. Power conflicts among health professionals.

INFORMATIONAL ARTICLE
POWER CONFLICTS AMONG HEALTH PROFESSIONALS
CONFLITOS DE PODER ENTRE PROFISSIONAIS DA SAÚDE
CONFLICTOS DE PODER ENTRE LOS PROFESION ALES DE LA S ALUD
Iana Bezerra Lima, Luís Othon Bastos
ABSTRACT
This study to aim carry through a theoretical analysis on the power conflicts in the human relations, in the organizations
and, particularly its implications in the relations among health professionals, stimulat ing the revision of attitudes on the
profession exercise, aiming at patient’s satisfaction with the professional and better quality of the interaction
profissional/patient. Relationship models profissional/patient was emphasized and the trend of humanization of the
service given in the health units. Amongst others analyses, we showed the conflict is a fact in any interp ersonal
relationship and, in the work place, it is a natural and expected phenomenon that, when administered constructively, can
strengthen the relations. The work environment without the creativity and the progress resulting from the conflicts is
boring. The ignored conflict has a tendency to aggravate. Soon, it is suggested they take steps and when the positive
confrontation is used, be administed. D escriptors: conflicts; power; health; professional; patient; hospital.

RESUMO
Foi objetivo desse estudo realizar u ma análise teórica sobre os conflitos de poder nas relações humanas, nas organizações
e, particularmente, suas implicações nas relações entre profissionais de saúde, estimulando a revisão de atitudes durante
o exercício da profissão, visando à satisfação do paciente com o profissional e melhor qualidade da interação
profissional/paciente. Enfatizou-se modelos de relacionamento profissional/paciente e a tendência de humanização do
serviço prestado em unidades de saúde. Percebeu-se que o conflito é um fato em qualquer relação interpessoal e, no local
de trabalho, é um fenômeno natural e esperado que, quando administrado construtivamente, pode fortalecer as relações
interpessoais. O ambiente de trabalho sem a criatividade e o progresso decorrentes dos conflitos é entediante e pouco
criativo. Logo, sugere-se que medidas sejam tomadas e a confrontação positiva, seja ad ministrada. D escritores: conflitos;
poder; profissionais; saúde; paciente; hospital.

RESUMEN
El objetivo de este estudio fue realizar un análisis teórico sobre los conflictos de poder en las relaciones humanas en las
organizaciones, y particularmente sus implicancias en las relaciones entre los profesionales de salud; estimulando una
revisión de actitudes durante el ejercicio de la profesión , teniendo como objetivo la satisfacción del paciente con el
profesional y mejor calidad de interacción profesional/paciente. Se enfatizaron modelos de relacionamiento
profesional/paciente y la tendencia de humanización del servicio prestado en las unidade s de salud. Se encontró que el
conflicto es un hecho en cualquier relación interpersonal y en el lugar de trabajo, es un fenómeno natural y esperado que,
cuando es administrado de manera constructiva, puede fortalecer las relaciones. El ambiente del trabajo sin la
creatividad y e l transcurrir de los conflictos es tedioso y poco creativo. Sugiriéndose que medidas sean tomadas y la
confrontación positiva sea administrada. D escriptores: conflictos; poder; profesional; salud; paciente; hospital.
Psicóloga. Especia lista em Gestão Hospitalar . Pós-gr aduada em Ter apia de Família pela Univer sidade Feder al de Per nambuco, Recife, Br asil. Consultor a de
empr esas. E-mail: r aio_soll@hotmail.com; 2Engenheir o. Administrador . Mestr e em Administração de Empr esas. Consultor de empr esas. Pr ofessor da
Gr aduação e Pós-gr aduação da Universidade de Per nambuco e das Faculdades Integr adas do Recife, Re cife , Br asil. E-mail: othonbastos@hotmail.com

Ar tigo elabor ado a par tir da monogr afia << Con fli tos de poder n a relação profi ssi on ai s de saú de sob a ópti ca do paci en te >>. Cur so de Especialização
Lato Sensu em Gestão Hospitalar da Universidade Feder al de Per nambuco, 2006 .

Rev enferm UFPE on line. 2008 jul./set.; 2(3):314-26 314


ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.353-11415-1-LE.0203200814

Lima BI, Bastos LO. Power conflicts among health professionals.

Diante do exposto, justifica-se o nosso


INTRODUÇÃO interesse pelo tema em questão, que
despertou na vida profissional motivação para
Há escassez de estudos envolvendo
se buscar maiores informações sobre essas
conflitos de poder na relação de profissionais
reações, devido à oportunidade de um dos
de saúde sob o ponto de vista do paciente,
autores desse estudo vivenciar no cotidiano de
apesar de sua relevância. A lacuna existente
um Hospital Escola Federal, para o qual se
no meio científico merece maior atenção
trabalha desde fevereiro de 2005. Por outro
devido à crescente importância, valor e
lado, este estudo poderá contribuir para que
contribuição para o seu entendimento.
se possa conduzir o paciente ao centro da
Nos últimos 20 anos este tema tornou-se relação com os serviços de saúde, superando a
particularmente importante, quando os visão tradicional da relação equipe de
dirigentes de hospitais passaram a observar saúde/paciente, partindo para uma relação
com empenho o quanto os conflitos estavam efetiva entre sujeitos, onde se tem que
dificultando a relação do profissional da conhecê-lo melhor, respeitá-lo e permitir
saúde/profissional da saúde/paciente, pondo adaptações da prática profissional.
em risco a qualidade do tratamento oferecido
Nesse estudo o objetivo foi realizar uma
aos pacientes. Este processo conflituoso gera
análise sobre os conflitos de poder na relação
mal-estar entre os profissionais e nos
entre profissionais de saúde esperando gerar
pacientes em relação aos profissionais. Deste
reflexões, individuais e coletivas, que
modo torna-se mister a busca de soluções
estimulem a revisão de atitudes durante o
para que se possa minimizá-los, com o
exercício da profissão, visando a promover
propósito de se obter melhor convivência na satisfação do paciente com o profissional;
relação entre profissionais e pacientes. 1,2
também, melhorar a qualidade da interação
Resgatar a cultura para o centro das profissional/paciente e ainda promover a
relações estabelecidas entre indivíduos é um reflexão crítica — o questionamento ético —
esforço que desencadeia uma série de acerca das informações apresentadas
conflitos na maneira como esse evidenciando a importância da qualidade das
relacionamento será concretizado. Na esteira interações que devem se desenvolvem no
desse fenômeno, vem ganhando notoriedade a processo dos diversos cenários do cotidiano de
proposta de serviços de saúde que sejam trabalho.
culturalmente sensíveis, no sentido de
 Conflitos nas organizações
qualificar profissionais de saúde e instituições
voltadas para satisfazer as necessidades dos O conceito de conflitos é definido como
pacientes. Os serviços se preparam para uma forma de interação entre indivíduos,
melhor acolher os pacientes que apresentam grupos, organizações e coletividades que
demandas de saúde. 1,2 indica choques para o acesso e a distribuição
de recursos escassos. 3 Nos sistemas sociais
Por sua vez não se deve perder a
específicos, observa-se que o conflito surge
perspectiva da contribuição que se pode dar à
“quando há uma dependência assimétrica ou
sociedade ao oferecer atenção aos serviços de
desequilibrada entre as unidades com o
saúde de alta qualidade. É importante
respeito a uma tarefa”4:109, situando-o,
minimizar a supervalorização da posição dos
portanto no âmbito do trabalho na
cargos exercidos nas instituições, os conflitos
organização. Por outro lado, há de se ver que
de relacionamentos, tentando focar a
a base dos conflitos pode se situar na
integridade e humanização do cuidado com a
estrutura de recompensas financeiras e de
saúde. É preciso ouvir o paciente, perceber as
status social.
diferenças culturais e adaptar a prática
cotidiana. Isto também significa qualidade. 1,2 Alguns tipos de conflitos apresentam
características comuns: a dimensão,
Embora a idéia não seja nova, requer
entendida como número de participantes do
atenção especial, pois o mundo oferece
conflito; a intensidade, avaliada pelos graus
maiores desafios, tanto pela diversidade
de envolvimento dos indivíduos; e os objetivos
cultural como pela complexidade dos conflitos
que podem envolver mudanças no e do
de poder nas relações interpessoais. 1,2 Assim,
sistema, e que somente podem ser analisados
faz-se necessário que os profissionais da saúde
na base do conhecimento mais profundo da
tenham não apenas competência técnica, mas
sociedade concreta em que vários conflitos
sejam igualmente competentes para
emergem e se manifestam.
reconhecer as diferenças internas em cada
subgrupo que compõe a sociedade. Entre outras correntes sobre o pensamento
da visão conflitual da vida social, duas se

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destacam: a corrente marxista que coloca no prioridade de aparatos estruturais, os


centro de suas atenções a luta de classes desentendimentos, as hostilidades e as
considerando este conflito o cerne e a origem atitudes negativas, na explicação da natureza
de todas as demais e defendendo desta forma, do conflito intergrupal, “o conflito entre os
que é na base econômica da sociedade que grupos ocorre quando as atividades de um
estão às raízes do conflito social; e a corrente grupo colidem com as atividades de outro
liberal e algumas revisões marxistas, que grupo”6:86. Sob esta concepção, a competição
põem em relevo a instância superestruturada, por recursos escassos, os obstáculos à
onde ocorrem as bases do conflito. 3 autodeterminação do grupo e diferenças nas
concepções básicas, são as fontes das
As diferenças entre as pessoas não podem
atividades geradoras do conflito. As
ser consideradas inerentes, boas ou más.
necessidades ou interesses semelhantes entre
Algumas vezes, trazem benefícios ao grupo e
grupos funcionam como razões para o
ao indivíduo, produzindo eficiência, outras
desencadeamento dos conflitos nas
vezes, prejuízos, reproduzindo a ineficiência.
organizações.
Visto por um prisma mais amplo, as diferenças
podem ser consideradas intrinsecamente [...] alguns conflitos são principalmente
desejáveis e valiosas, pois propiciam riqueza psicológicos, os membros do grupo tem
de possibilidades com opções de reagir a sentimentos negativos, freqüentemente
qualquer situação/problema. 3 infundados a respeito dos adversários e
agem em função do que seus rivais fariam.
A evolução capitalista, e sua forma Outros conflitos são manifestamente ação
predominante de organização ― a burocrática de enfrentamento. Uns são breves, outros
— mostra que a propriedade e o controle dos longos. Uns são destrutivos, outros, fontes
meios de produção não são indissociáveis, e de desejáveis mudanças. [...]. 6:87
que, ao contrário do que imaginava Marx, o Esta forma de perceber a realidade
segundo é um fator mais ligado ao poder, e organizacional concebe as organizações como
muito mais dominante e essencial ao conflito sistemas fechados em que se contabiliza a
de classes. Weber enfatizou a estrutura priori um quantum de poder ou ganhos,
burocrática como forma de dominação, o que definidos e estáticos.
veremos mais adiante em detalhes quando
Em grupos de trabalho nas organizações, as
estudarmos as relações de poder. 3
diferenças individuais trazem naturalmente
Ao serem explicados, os conflitos na diferenças de opiniões, expressas em
sociedade, nega-se que sua origem seja de discordância quanto a aspectos de percepção
predomínio psicológico, fruto de desejo, da tarefa, metas, meios ou procedimentos.
emoções e vontades. Por outro lado, existe Essas discordâncias podem conduzir a
uma fonte permanente de conflito na discussões, tensões, insatisfações e conflito
sociedade que são as chamadas fontes aberto, ativando sentimentos e emoções mais
estruturais dos conflitos sociais (diferente do ou menos intensos, que afetam a
que pensava Marx), não é a propriedade dos objetividade, reduzindo-a ao mínimo e
meios de produção, mas a distribuição transformando o clima emocional do grupo. 7
desigual da autoridade que, mais do que
desigualmente repartida entre as pessoas e os  Tensão e conflito interpessoal —
grupos  por meio de cargos ocupados na vantagens e desvantagens
sociedade. 3 Partindo das divergências de percepção e
O conflito tem uma visão pluralista, onde idéias, as pessoas se colocam em posições
os elementos participantes da organização diferentes, caracterizando assim, uma
procuram satisfazer seus diversos interesses, situação conflitante. O conflito em si, não é
originando, deste modo, o conflito, que passa patológico nem destrutivo; pode apresentar
a ser considerado um fenômeno intrínseco à conseqüências funcionais e disfuncionais, a
própria vida organizacional. O conflito depender de sua evolução, intensidade,
organizacional em três níveis: pessoal, contexto e forma como é tratado. 7
interpessoal e grupal. Refere-se, também às Os conflitos têm funções positivas,
fontes geradoras de conflitos nas prevenindo a estagnação decorrente do
organizações: a estrutura organizacional, em equilíbrio constante da concordância,
particular na diferenciação vertical e de estimula o interesse e a curiosidade pelo
tarefas, os papéis organizacionais, as atitudes, desafio da oposição, descobre problemas e
os estereótipos e os recursos escassos.5 demanda sua evolução. 7 Antes de pensar numa
Em sintonia com a concepção sobre grupos maneira de lidar com os conflitos, é
de interesses nas organizações, onde não há importante e conveniente procurar
compreender a dinâmica do conflito e suas

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variáveis para alcançar um diagnóstico resultados de um ato de poder que pode


razoável de situação. originar dentre outros fenômenos a obediência
ou conflitos.
As divergências interpessoais geralmente
passam por cinco etapas, que apresentam Tendo as relações de poder maior
dificuldades crescentes para a sua resolução: relevância entre os indivíduos, emerge uma
antecipação, conscientização, discussão, questão importante para a investigação dessas
disputa aberta e conflito aberto. A última próprias relações: o papel do receptor. O
etapa indica uma orientação de ganha-perde receptor é o indivíduo sobre o qual o poder é
ou de acomodação por negociação de exercido e que é determinado na identificação
barganha. Cada pessoa tenazmente defende e do tipo e da forma de ocorrência do ato de
aplica seus argumentos e poder. 7 poder.
A repressão, no entanto sempre custa As diversas concepções de poder divergem
alguma coisa em termos psicológicos, apesar ainda quanto à identificação dos elementos e
das diferenças serem importantes para as fatores que provocam o acontecimento de um
pessoas envolvidas. Os sentimentos podem fenômeno de poder. Assim, a maioria dos
tornar-se intensos e se não forem expressos, e autores concorda sobre a divisão entre uma
acabam sendo canalizados indiretamente para categoria simétrica de poder, que ressalta o
alvos seguros, que recebem toda a carga de caráter benigno e comunal deste, e em que se
frustrações e hostilidade, perturbando acredita na capacidade do homem de
igualmente a produtividade do grupo ou das realização coletiva e harmoniosa perseguindo
pessoas envolvidas na situação conflitante. 7 objetivos consensualmente determinados, e
uma categoria assimétrica de poder, que
Diferenças do ponto de vista dos
pressupõe relações sociais, políticas que
sentimentos não desaparecem simplesmente
apresentam sinais de resistência e conflito. 3
por serem reprimidos ou ignorados por
outrem. Continuam sob a superfície, onde o A categoria simétrica de poder 
conteúdo da discussão não é tão importante acreditaram Platão e Aristóteles que em sua
quanto à forma ou processo de discussão, isto idéia de Polis  imputavam à comunidade a
é, as idéias são combatidas, não pelo seu detenção do poder político. A categoria
mérito e sim por quem apresentou ou assimétrica de poder é adotada por grande
defendeu. Os conflitos latentes, resultantes parte dos cientistas sociais e abrange três
de repressão, não estão resolvidos, ficam enfoques: a obtenção de aquiescência ou
afastados sob pressão e, por isso, continuam controle, a relação de dependência e a
presentes como teor energético, que cresce desigualdade. 3
até emergir, indireta ou diretamente, em
O poder interpretado sob o enfoque da
ocasiões inoportunas, sem controle, trazendo
desigualdade encerra uma noção que focaliza
sérios riscos a pessoas, ao grupo e a
as capacidades diferenciais dos atores no
organização. 7
sistema para assegurar as vantagens e os
Os riscos de incrementar diferenças para valiosos atores, porém escassos. 8 Nesta
eclosão do conflito são grandes e os custos perspectiva, não é necessário que o receptor
potenciais psicológicos também são elevados. do ato de poder seja dependente ou aquiesça
O conflito atrai energia das pessoas envolvidas para que o poder se exerça.
e pode danificar sua eficácia futura. No calor
O poder interpretado sob o enfoque da
das discussões, palavras são ditas, que deixam
relação de dependência é aquele que
cicatrizes douradoras e profundas ou nublam
potencializa as relações de dependência entre
suas relações para sempre. 7
os atores sociais. Enfatizam na análise os tipos
 Relações de poder e as formas como obtém e sustentam as
relações de dependência entre o sujeito e o
O poder é concebido como a capacidade de
objeto do ato de poder.
agir do indivíduo, mas como a capacidade de
determinar o comportamento de outro O poder interpretado sob o enfoque da
indivíduo. É o exercício do poder do homem aquiescência ou controle, enfatiza o
sobre o homem. 3 predomínio da vontade de uns sobre a vontade
do outro. O poder implica inevitavelmente em
Posteriormente, o conceito de poder foi
resistência e conflito, sendo fundamental e
ampliado não só para interpretar as ações,
sua análise o grau no qual a existência do
mas para também considerar o papel dos
poder se faz sentir.
agentes coletivos capazes de exercer poder
sobre os indivíduos ou os grupos. “O poder é O poder representa a probabilidade de que
um ato”4:45 e abordando-o desta forma, a um ator em uma relação social possa realizar
análise pode deter-se a investigar os sua própria vontade apesar da resistência,

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independentemente da base na qual essa econômico; e a organização (burocracia),


probabilidade repousa. 9 fonte de maior potencial na sociedade para
que um indivíduo ou grupo alcance e exercite
A classificação Weberiana de poder é
seu poder. 10
estabelecida em estreita relação com o
conceito de autoridade. Para Weber, Pode-se considerar outra fonte de poder
enquanto poder exige o emprego da força, a organizacional: a autoridade formal, o
autoridade representa uma forma de poder controle de recursos escassos, o uso da
que não implica no uso da mesma. estrutura organizacional, por meio de normas
e regulamentos, o controle do poder
A influência da contribuição Weberiana ao
decisório, do conhecimento e da informação,
estudo do poder nos aproximará da
de fronteiras e de tecnologia, a habilidade
perspectiva do conflito que pressupõe a
para lidar com a incerteza, as alianças
multiplicidade de objetivos dos indivíduos
interpessoais e o controle de contra-
nem sempre convergentes com os objetivos da
organizações são, fontes privilegiadas para
organização. Esta linha de raciocínio nos
auferir poder nas organizações. 5
levaria posteriormente a discutir a
importância dos estresses dos indivíduos e dos Burocracia é um tipo de poder, um sistema
grupos e a geração das situações de conflito, racional em que a divisão do trabalho se dá
como algo inerente às organizações.3,10 relacionalmente com vista a um fim. A ação
racional burocrática é a coerência da relação
Além dos processos organizacionais,
de meios e fins visados. 11
compõem a estrutura das organizações os
elementos formais, tais como a divisão A ação racional tendente afins realiza-se na
hierárquica de trabalho e os níveis de dominação burocrática-legal. A pretendida
autoridade e controle. autonomia da técnica-racionalidade formal
não representa nada mais do que a autonomia
Na divisão do trabalho nas organizações, as
da organização social e da produção em
relações de poder geralmente investigadas,
relação aos agentes da produção (capitalistas
são aquelas que se estabelecem na
ou trabalhadores) em função de sua submissão
diferenciação vertical. Contudo devemos
ao capital. Neste contexto, a maior eficiência,
relevar as relações de poder que acontecem
racionalidade, tecnologia possível e progresso,
no plano de diferenciação horizontal. Neste,
encobrem a produção e reprodução de mais-
os conflitos que surgem entre os grupos ou
valia que, por sua vez, aparece opacamente
departamentos favorecem o recrudescimento
como lucro. A organização da produção e a
das normas de controle, em grupos de
utilização dos meios tecnológicos decorrentes
desigualdades, dependência e aquiescência. 4
são inseparáveis num sistema de dominação.
Uma tipologia com base em quatro Daí, a organização ser a burocrática e esta a
aspectos cruciais que representam as fontes organização por excelência. 11
de poder nas organizações:
A burocracia baseia-se na crença da
1 — O cargo ou a posição na estrutura da legalidade, na obediência às normas
organização. estabelecidas e preceitos jurídicos. As
2 — Características pessoais determinantes, relações entre dominante e dominado se
como o carisma. assentam em um estatuto positivo, cuja
legalidade acredita-se, isto é o que lhe
3 — A especialização (fonte e base de confere um caráter legítimo.
poder, que os indivíduos trazem com ele para
a organização por meio da formação Na obra Weberiana, a burocratização é a
profissional). face mais saliente do processo de
racionalização; é uma das linhas mestras de
4 — Oportunidade ou combinação de sua visão de mundo e constituiu um
fatores que oferece ao individuo importante elemento para seu entendimento
oportunidades de utilizar suas bases de
das transformações ocorridas no ocidente. 10 A
poder. 4:96 crença de Weber na indispensabilidade da
As fontes de poder são valorizadas, como burocracia, como um instrumento de
aquilo que torna possível seu exercício. Outra adequação dos meios com vista a um
tipologia é proposta, fundamentada em determinado fim, estava estreitamente
fatores como à personalidade (carisma), vinculada às necessidades que ele via para o
marcadamente uma característica pessoal que desenvolvimento do capitalismo no início do
facilita o acesso e o exercício do poder; a século XX:
propriedade ou riqueza (tradição), que [...] A razão decisiva para o progresso da
facilita a submissão de outrem pelo poder organização burocrática foi a sua

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superioridade técnica sobre qualquer o utra todos os tipos de autoridade no campo do


forma de organização. O mecanismo poder. 13
burocrático plenamente desenvolvido
compara-se as outras organizações Ter poder e exercer autoridade em
exatamente da mesma forma pela qual a qualquer tipo de relação, onde podemos
máquina se compara aos modos não- incluir alianças e parcerias, é exercer
mecânicos de produção. Precisão, controle. O controle é uma manifestação de
velocidade, clareza, continuidade, poder e tanto os mecanismos de controles
descrição, unidade, subordinação rigorosa, verticais quanto os horizontais coexistem de
relação dos custos de material e de pessoal forma tensa e não resolvida nas mais diversas
são levados ao ponto ótimo na
organizações, como veremos no item a seguir.
administração rigorosamente burocrática
[...]12:248-9  Controle e as organizações
Para Weber a administração burocrática O controle organizacional torna-se uma
apresenta como notas dominantes a importante área de estudo porque ele
especialização, o fato de constituir-se em apresenta uma grande associação com outros
profissão e não em honraria; a separação do aspectos funcionais da organização, tais como
administrador dos meios da administração, a estrutura de autoridade e distribuição de
fidelidade impessoal ao cargo, a remuneração poder. 14
em dinheiro. A nomeação burocrática é
A definição de controle mais utilizada pela
sempre feita por autoridade superior a ele, e
literatura especifica é a que consiste em
sua atividade constitui carreira que finda com
“qualquer processo, no qual uma pessoa,
sua aposentadoria do serviço. 11
grupo de pessoas ou organização de pessoas,
A autoridade formal é a fonte mais óbvia intencionalmente afeta o comportamento de
de poder organizacional, principalmente nas outra pessoa, grupo ou organização” 15:25. Este
modernas organizações burocráticas, na conceito reflete os interesses daqueles que
medida em que a autoridade é traduzida em exercem o controle. Percebe-se nas alianças a
poder, devido à anuência daqueles que ficam possibilidade do poder ser sentido por meio
abaixo no padrão de comando. A estrutura de das estruturas de controle existentes. 15
autoridade é também uma estrutura de
A importância dada ao controle, como
poder. 5
variável analítica central, na sociologia das
Uma filosofia da ação, em que o ponto organizações, tem suas origens na concepção
principal é a relação, de mão dupla, entre weberiana da burocracia e de seu papel
estruturas objetivas (campos sociais) e as hegemônico como modelo organizacional na
estruturas incorporadas (hábito), são sociedade. O papel que desempenham o
apresentadas. É a articulação dialética entre poder, a autoridade e o controle nas
estruturas mentais e sociais, que só podem ser organizações é o eixo do arcabouço estrutural
compreendidas pela identificação do princípio da burocracia como forma de organização
gerador que funda essas diferenças na social, onde se dá a dominação exercida sobre
objetividade, a estrutura de distribuição de o individuo e os demais elementos do processo
formas de poder eficiente no universo social de trabalho. 9
considerado e que variam, de acordo com
A teoria Weberiana da burocracia
lugares e momentos. 13
representa uma reflexão sobre as origens da
Estes princípios delimitam um espaço dominação e do controle nas organizações e
socialmente estruturado em alguns agentes suas relações com modelos de dominação
que lutam, dependendo das posições que social que prevalecem em cada momento da
atuam no campo, seja para mudar, ou para história. Três modelos de dominação social
preservar seus limites e forma. Duas foram identificados: carismática, tradicional e
propriedades são principais a esta dimensão 13: racional-legal; onde a cada uma
1) Um campo é um sistema padronizado de corresponderiam formas específicas de
forças objetivas, uma configuração relacional organização, autoridade, poder, dominação e
dotada de uma gravidade especifica que é legitimidade. 9
imposta a todos os objetos e a gentes que Na carismática o poder é concebido pelo
entram nele. carisma, pertence a um líder que exerce o
2) Um campo é um espaço de conflitos e controle sobre seus subordinados de forma
competição, um campo de batalha em que os direta e personalista. Na tradicional, o poder
participantes visam ter monopólio sobre os é concebido pelos hábitos e costumes ditados
tipos de capital efetivos e o poder de decretar pela tradição; o controle passa pela
hierarquias e uma taxa de conversão entre observação dos rituais herdados dos
antepassados. Na racional-legal, as normas e

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regulamentos, as leis e os procedimentos expressam poder e prestígio “são espaços


trazem legalidade ao exercício do poder. O sociais por natureza conflituosa” e que nas
controle é exercido através da estrutura da instituições hospitalares, a heterogeneidade
organização burocrática formal. 10 das categorias profissionais, aliada à
distribuição do poder, típica de organizações
O poder, na condição de controle, traz sua
especialistas, tornam mais complexo o serviço
importância para a análise organizacional em
da coordenação. 17
que, nas organizações burocráticas, o controle
é feito por meio de regulamentos, normas e Para gerir organizações de saúde a
comunicação formal, e se alinha como comunicação e a negociação são instrumentos
elemento chave da estrutura de poder. Na decisivos na gestão contemporânea,
perspectiva do poder, as lutas pelo controle considerando a necessidade do gestor em
das estruturas e das práticas reproduzem as manter a posição centrada diante dos
tensões e contradições que sucedem na contextos organizacionais complexos. 18
sociedade, e assim, permitem que mantenham
Constrói-se uma idéia sobre as organizações
os objetivos do lucro e acumulação do
de saúde visualizando-as como uma malha
sistema.
intricada e variável de uma ampla gama de
Para interesse deste trabalho, enfocam-se serviços e de categorias profissionais,
as organizações de prestação de serviço de vinculados a processo em permanente
saúde, onde se pesquisou os conflitos de diversificação. Nesta malha deverão estar
poder existentes nas relações entre presentes o corporativismo, os mecanismos
profissionais e, entre profissionais e coletivos de definição de responsabilidades e
pacientes, sob a óptica deste último grupo. de avaliação de resultados e o caráter
interativo do trabalho. Estes elementos
 Conflitos de interesses na saúde
contribuem para a compreensão da
A abordagem das situações onde pode administração contemporânea como um lugar
ocorrer conflito de interesses tem merecido onde estão colocados os interesses individuais
uma atenção crescente na atualidade, e grupais, em que se disputam hegemonias. 18
especialmente quanto aos seus aspectos éticos
O poder nas organizações de saúde é
e bioéticos. Conflito de interesse é um
compartilhado pelos vários núcleos
conjunto de condições nas quais o julgamento
profissionais, que reforçam a necessidade de
de um profissional a respeito de um interesse
aprimoramento da comunicação e da
primário tende a ser influenciado
capacidade de negociação dos gerentes.
indevidamente por um interesse secundário.
Quando a negociação é cooperativa e os
De modo geral, as pessoas tendem a
interesses são distintos, mas o objetivo é
identificar conflito de interesses apenas como
comum, acarretam aos profissionais uma
as situações que envolvem aspectos
16 disputa positiva de poder. Quando os
econômicos.
interesses são opostos, em geral a negociação
Além dos econômicos outros importantes é conflitiva e o resultado nulo. E por fim,
aspectos também podem ser lembrados, tais quando a negociação é do tipo misto, é
como: interesses pessoais, científicos, baseada em interesses combinados,
assistenciais, educacionais, religiosos e produzindo resultados mesclados.
sociais. O conflito de interesses pode ocorrer
 Conflitos nas relações pessoais e
entre um profissional e uma instituição com a
qual se relaciona ou entre um profissional e grupais com a equipe de saúde
outra pessoa. Na área da saúde, os interesses Um dos pontos a serem avaliados nesse
de um profissional ou de seu paciente podem estudo são as locuções que as equipes de
não ser coincidentes, assim como entre saúde demonstram como causas de conflito as
professor e alunos, ou ainda, entre dificuldades nas relações pessoais,
pesquisador e sujeitos da pesquisa. Quanto insatisfação, comportamento inadequado do
melhor for o vínculo entre os indivíduos que funcionário, presença de pessoas de difícil
estão se relacionando, maior o conhecimento relacionamento e rejeição por parte de alguns
de suas expectativas e valores. Esta interação funcionários diante de situações novas. No
pode reduzir a possibilidade de ocorrência de contexto, não ficam claras quais as atitudes
um conflito de interesses. 16 que estas pessoas têm para serem
consideradas como causadoras de conflitos,
 Conflitos de poder nas organizações de
pois a insatisfação, dificuldades e resistências
saúde
são dados subjetivos.
Alguns padrões de conflitos são inerentes
Atitudes “complicadas” podem ser
às organizações de saúde, uma vez que
entendidas quando se refere que profissionais

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de saúde executam papéis “estabelecidos pelo hospital público leva a um tipo de


costume”, onde prevalece o pensamento de relacionamento onde o profissional de saúde
“eu sempre fiz assim, não há por qual razão não tem colegas de trabalho; as pessoas com
fazer diferente”. Esquecendo-se de que o quem trabalha são ocupantes de cargos
trabalho em equipe e a integralidade das hierarquizados. Observamos que a falta de
ações de saúde têm sido algumas das cooperação pode estar associada ao cansaço e
propostas da reforma sanitária brasileira, ao acúmulo de tarefas, já que a maioria dos
tendo como foco principal a melhor qualidade profissionais de saúde faz jornadas duplas ou
dos serviços prestados. 19 são estudantes. Diante dessa situação,
chamamos atenção para os problemas sociais,
As mudanças como um desafio de
que poderão induzir ao individualismo,
interesses, e afirma que:
chegando à acomodação ocasionada pelo
[...] Aqueles que se tornam príncipes pelo cansaço e, possivelmente, caracterizado como
seu valor conquistam domínios com falta de coleguismo e de cooperação.
dificuldades, mas os mantêm facilmente; a
dificuldade se origina em parte nas A gestão contemporânea ou co-gestão são
inovações que são obrigadas a introduzir propostas de democratização da vida
para organizar seu governo com segurança. organizacional, sendo assim, o cotidiano
Vale lembrar que não há nada mais difícil de acaba revelando as contradições entre os
executar e perigoso de manejar (e o êxito interesses dos trabalhadores e a
mais duvidoso) do que a instituição de uma
missão/objetivos organizacionais, implicando,
nova ordem de coisas. Quem toma tal
muitas vezes, em contra-estratégias de
iniciativa suscita a inimizade de todos os
que são beneficiados pela ordem antiga, e é
resistências, principalmente quando a
defendido tibiamente por todos os que proposta emerge da administração superior.21
seriam beneficiados pela nova ordem – falta O barulho, a acústica e o silêncio são
de calor que explica em parte pelo medo
dispositivos de resistência. Quando as
dos adversários, que têm as leis do seu lado,
resistências são visíveis, torna-se possível
e em parte pela incredulidade dos homens.
negociar. Os espaços formais e informais de
Estes com efeito, não acreditam nas coisas
novas até que as experimentam; portanto,
negociação servem para dar transparência aos
os adversários todas as vezes que podem fatos, às disputas de interesses e para
atacá-las, o fazem com empenho, e os que negociar poder, sendo formados em momentos
as defendem defendem-nas tepidamente, de tensos de conflitos que se finalizam com
modo que a seu lado se tem pouca consensos mínimos ou com rachaduras do
segurança [...]. 20:51 grupo.
O conflito deve ser visto como um fato Como podemos observar no trabalho de
desafiador que levará a mudanças freqüentes gestão contemporânea, há maior
onde todos possam ganhar. As intervenções de entrosamento e colaboração por parte da
mudança devem identificar interesses equipe de saúde mediante a descentralização
comuns, procurar soluções possíveis e de poder, onde as tomadas de decisões
negociar suas dimensões aceitáveis e, deverão ser realizadas juntamente com as
posteriormente, avançar em busca de formas pessoas envolvidas nas atividades (equipe
mais permanentes de colaboração criando multiprofissional de saúde). Isso leva as
espaços ou situações onde as diferenças pessoas a tornarem-se mais comprometidas
possam ser compartilhadas e confrontadas, com a prestação de serviços ao paciente,
buscando convergências e integração. 19 podendo assim, adquirirem o sentimento de
Na década de 30, com o Movimento das afiliação, ou melhor, o sentimento de
Relações Humanas, pesquisas realizadas por pertencer ao grupo. 21
Mayo discutem o papel da integração grupal  Relação profissional de saúde —
fundamental para o bem estar psicológico e paciente
emocional do trabalhador (equipe de saúde);
para que possam executar bem suas atividades As diferentes possibilidades da relação
profissionais repercutindo numa boa qualidade profissional/paciente podem ser objetivadas
assistencial ao paciente. Nesta perspectiva, por meio de modelos, tomando-se como base
criam-se estratégias objetivando tornar o o tipo de doença, sua fase de evolução e as
ambiente de trabalho estimulante e motivador correspondentes condições psicológicas do
com base em atividades não repetitivas, no paciente. A respeito desses modelos de
reconhecimento do trabalho e participação relação profissional/paciente, três deles,
nas decisões. constituem ângulos diferentes do mesmo
fenômeno: 22
A despersonificação criada pela gestão
burocrática, característica marcante no  O grau de atividade-passividade.

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 A distância psicológica. aproximar-se, ainda não o considera como


objeto de estudo.
 O grau de contato pessoal.
Na fase de afastamento ou de objetivação,
 O modelo de atividade-passividade que corresponde a do exame chamado
distingue três tipos básicos científico, o profissional já não considera o
 Atividade-passividade (protótipo: relação enfermo como uma pessoa, senão como um
mãe-lactente). objeto de estudo; as relações afetivas passam
ao segundo plano.
 Direção-cooperação (protótipo: relação
pais-filhos). Uma vez estabelecidos o diagnóstico e o
plano terapêutico, tem início a fase de
 Participação mútua e recíproca (protótipo: personalização, quando o profissional pode
relação adulto-adulto). aproximar-se de seu paciente e considerá-lo
No primeiro tipo de relação há atividade do não só como um caso, mas como uma pessoa
profissional e passividade do paciente. É o que sofre, com uma enfermidade
tipo de relação que se encontra nas urgências, determinada, havendo então a integração dos
estados de coma e cirurgias, em que o elementos das fases, isto é, dos aspectos
profissional deve fazer algo por um paciente científicos e humanos.
que permanece passivo. O protótipo é o da O estancamento do profissional na fase de
relação mãe-lactente, isto é, a atividade distanciamento ou objetivação constitui o
obrigatória da mãe frente a um estado de núcleo da denominada caracteropatia
passividade e de dependência do lactente. profissional (frieza afetiva no trato com os
No segundo tipo de relação, há direção pacientes, negação da própria fragilidade,
pelo profissional e cooperação do paciente. ausência de atividades pessoais de lazer). 23
Em todas as situações em que o paciente é Outros mecanismos que podem surgir são: a
capaz de fazer algo, o profissional pede-lhe construção de uma couraça impermeável às
esta cooperação (enfermidade aguda, emoções e sentimentos, afastamento
infecciosa, acidentes). Este modelo genético emocional, esquivamento de refletir sobre as
corresponde a uma fase do desenvolvimento limitações do exercício profissional.
posterior à do lactante: a fase que vai da  O modelo de contato pessoal aborda
infância até a adolescência.
dois esquemas de relação
No terceiro tipo de relação, há
1) Esquema da relação interpessoal, no
participação mútua e recíproca do profissional
qual a relação entre o profissional e seu
e do paciente. Este tipo de relação é típico
paciente é direta e se realiza nos níveis
das enfermidades crônicas, das readaptações
intelectual, afetivo consciente e inconsciente
e de todos os estados em que o paciente pode
e também utiliza o mundo imaginário, o das
cuidar de si e assumir o tratamento. O
fantasias.
protótipo é o tipo de relação que existe entre
dois adultos que chegaram a certo grau de 2) Esquema da prestação de serviço, que
maturidade. considera a tarefa assistencial como um setor
de serviço ou, mais especificamente, de
Nenhum desses três tipos de relação é
serviço de reparação. O cliente se dirige a um
melhor que o outro; simplesmente
especialista para reparar um objeto. A relação
correspondem a situações diversas e
do especialista com o cliente é pautada pelo
caracterizam pacientes que se encontram em
ritual social da tomada de contato com
contextos psicológicos distintos.
explicações sobre o defeito do objeto e sobre
O modelo que enfoca a distância a reparação necessária.
psicológica distingue três fases na relação que
No campo da Saúde, há a utilização desses
se estabelece entre profissional e paciente:
dois esquemas referenciais (relação
 A do apelo humano, de angústia. interpessoal — prestação de serviço). O
especialista, por um lado, isola o objeto (o
 A do afastamento e da objetividade, que é
sintoma) e trata de repará-lo; por outro lado,
o período do diagnóstico.
interage com uma pessoa, que está
 A de personalização da relação, uma vez indissoluvelmente ligada ao objeto.
realizado o diagnóstico e estabelecida à
 Transferência e contra-transferência
terapêutica.
Na fase de apelo humano o profissional A ênfase à "aliança terapêutica" que deve
responde à demanda do enfermo, satisfazendo existir no vínculo profissional-paciente, como
suas necessidades. Não o frustra. Ao propulsora de um bom atendimento. A

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técnica, por mais aprimorada que seja, ira ou a raiva. A transferência negativa do
tenderá a ser ou inócua ou alienante, se não paciente pode então se apresentar sob a
for veiculada por uma boa relação forma de reserva geral, escassez de
profissional/paciente. Para que haja essa boa informações ou pouca disposição de cooperar
relação, é necessária atenção aos elementos durante o exame e o tratamento. Ela também
que a compõem. 24 se pode expressar por meio de sintomas que
se tornam acentuados e mais sérios após o
A relação profissional/paciente contém
paciente haver começado o tratamento, ou
elementos ao mesmo tempo racionais e
mediante complicações inesperadas e atraso
irracionais, realísticos e irrealísticos, maduros
na recuperação.
e infantis, conscientes e inconscientes.
A contratransferência designa os
Transferência é o processo pelo qual são
movimentos afetivos do profissional como
trazidos para o relacionamento atual
reação aos de seu paciente e em relação à sua
sentimentos e conflitos originários de
própria vivência infantil. A
relacionamentos com pessoas importantes no
contratransferência pode também ser positiva
início da vida. Esse fenômeno pode resultar
ou negativa e depende de inúmeros fatores,
em ligações afetivas intensas, irracionais, que
advindos tanto do paciente (idade, sexo,
não podem ser explicadas com base em
situação social, apresentação e
situações da vida atual.
comportamento) como do próprio profissional
Na maioria dos pacientes, as atitudes (estado de cansaço, irritação, situação
transferenciais são, predominantemente, conjugal, social e de trabalho).
positivas, e contêm o tipo de expectativas e
A contratransferência, quando negativa,
sentimentos que foram um dia dirigido para <<
pode se manifestar por atitudes que ocultam
bons pais >>, que eram, ao mesmo tempo,
rejeição ou agressividade inconsciente, como
sentidos e percebidos como a principal fonte
por exemplo:
de força e segurança. Os pacientes têm uma
tendência a investir no profissional de saúde  Recusa de ouvir o paciente, por motivo de
com propriedades poderosas e onipotentes, pressa ou falta de tempo.
semelhantes às que as crianças acham que os
 Atos falhos, como por exemplo,
pais possuem, quando ainda responsáveis por
esquecimento do horário de atendimento.
elas e por seu cuidado. O paciente sente-se
pequeno, desamparado e à mercê do  "Ameaça" de consulta psiquiátrica ou de
profissional; a crença no poder do profissional hospitalização.
permite-lhe sentir-se seguro na situação de
A relação profissional/paciente é uma
perigo.
relação de expectativas e esperanças mútuas;
Dentro de limites razoáveis, a transferência o doente espera alívio e, se possível, cura; o
positiva, embora envolva expectativas terapeuta espera reconhecimento de seu
irrealistas, constitui um dos ingredientes do paciente, verificação de seu poder de
relacionamento profissional-paciente que tem reparação ou da adequação de seus pontos de
um efeito em grande parte benéfico sobre o vista. A expectativa pode ser de tal ordem,
exame, a terapia e a cura. Em alguns casos, em cada um, que há o risco de as relações de
porém, o estresse advindo da doença é troca serem transformadas em relações de
somado à regressão, produzindo uma situação força.
em que os sentimentos e as expectativas da
O primeiro contato do profissional com o
transferência, dirigidos para o profissional, paciente ocorre, na maioria dos casos, quando
assumem formas de expressão regressivas e
este está sob o efeito de determinada tensão
geralmente tempestuosas. Elas podem fazer
ou crise aguda. Por conseguinte, é provável
submergir complemente, na mente do
que suas ansiedades se intensifiquem e que
paciente, o aspecto realista e adulto do
ele apareça estar mais perturbado ou na
relacionamento médico/paciente. Típicos defensiva do que em outros momentos. Se o
desse tipo de transferência são aqueles
profissional pode conter o excesso de
pacientes que se tornam excessivamente
ansiedade que o paciente não pode enfrentar
dependentes e apegados.
nesse momento, proporcionará alívio e dará
Os sentimentos transferenciais do paciente oportunidade a que surjam os aspectos mais
para com o profissional também podem ser maduros do paciente e que este recobre a
negativos. Neste caso, a atitude do paciente capacidade de compreender, elaborar e
se tinge de algum matiz da escala negativa de finalmente integrar a situação dolorosa.
sentimentos, tais como a desconfiança, a
Todas as atitudes do profissional
inveja, o desprezo, a irritação ou até mesmo a
repercutem sobre o paciente e terão

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significado terapêutico ou antiterapêutico possíveis ou, ao contrário, uma inadequada


segundo as vivências que despertarão no adaptação, com efeitos indesejáveis tanto no
paciente e nele, profissional. A "psicoterapia plano profissional como no pessoal.
implícita" que existe no relacionamento
O contato direto com seres humanos coloca
profissional/paciente são as atitudes do
o profissional diante de sua própria vida,
profissional no seu relacionamento com o
saúde ou doença, dos próprios conflitos e
doente, dirigidas a um fim terapêutico,
frustrações. Se não tomar contato com esses
qualquer que seja a natureza das medidas de
fenômenos, correrá o risco de desenvolver
ordem técnica.
mecanismos rígidos de defesa, que podem
 Humanização da assistência prejudicá-lo tanto no âmbito profissional
quanto no pessoal. Os profissionais da saúde,
Frente ao acelerado processo de
por se submeterem, em sua atividade, a
desenvolvimento tecnológico na área da
tensões provenientes de várias fontes,
saúde, a singularidade do paciente —
precisam também receber cuidados.
emoções, crenças e valores — ficou em
segundo plano; sua doença passou a ser objeto A humanização é um processo amplo,
do saber reconhecido cientificamente e a demorado e complexo, ao qual se oferecem
assistência se desumanizou. 25 resistências, pois envolve mudanças de
comportamento, que sempre despertam
A formação do profissional de Saúde, cada
receio e medo. Os padrões conhecidos
vez mais especializada, e suas difíceis
parecem mais seguros; além disso, os novos
condições de trabalho, restringem sua
padrões não estão prontos nem em decretos
disponibilidade tanto para o contato com o
nem em livros, não tendo características
paciente quanto para a busca de formação
generalizáveis, pois cada profissional, cada
mais abrangente.
equipe, cada instituição terá seu processo
Por outro lado, sabe-se que muitos singular de humanização. 25
problemas dos pacientes podem ser resolvidos
 Implicações dos conflitos nas relações
ou atenuados quando eles se sentem
compreendidos e respeitados pelos entre profissionais e pacientes
profissionais. A falta de acolhimento e de Um sistema de prestação de serviços à
continência aos seus aspectos emocionais saúde possui dois aspectos inter-relacionados:
pode conduzir ao abandono ou à rejeição ao o cultural, que inclui conceitos básicos,
tratamento e favorecer a busca de caminhos teorias e práticas normativas e o social, com
sociais alternativos, que ofereçam maior papéis característicos, tais como equipe de
receptividade e compreensão. A relação saúde e paciente, além de ambientes
profissional/paciente tem especial específicos, consultórios e hospitais.
importância no processo de adesão ao
Para entender o sistema de saúde, faz-se
tratamento.
necessário analisá-lo à luz do contexto de
A atividade assistencial se constitui, para valores básicos, ideologias, organizações
os profissionais de saúde, em fonte de políticas e sistema econômico da sociedade
gratificação e de estresse. São fatores em que foi criado. Algumas categorias de
gratificantes: diagnosticar e tratar profissionais formam um grupo à parte com
corretamente; curar; prevenir; ensinar; valores próprios, conceitos, teorias sobre
aconselhar; educar; sentir-se competente; doenças e regras de comportamento, além da
receber reconhecimento. São fatores organização hierárquica, mais ou menos
estressantes: o contato freqüente com dor e valorizada.
sofrimento; lidar com as expectativas dos
A relação profissional com pacientes de
pacientes e familiares; atender pacientes
classes populares aponta que eles têm aguda
“difíceis” (não aderentes ao tratamento,
consciência da distância social que os separa
hostis, agressivos, depressivos,
do profissional e a pressentem,
autodestrutivos), lidar com as limitações do
principalmente, quando o profissional adota
conhecimento científico.25
um comportamento diferente, visando a
O complexo processo adaptativo frente aos equiparar-se ao nível socioeconômico de seu
fatores estressantes inerentes à prática paciente.
profissional pode tomar diferentes caminhos.
Uma questão central no atendimento ao
O resultado final da exposição à radiação
paciente e em sua prática satisfatória é a
psicológica estressante depende do indivíduo
maneira pela quais os impulsos agressivos do
e de seus mecanismos e recursos subjetivos.
profissional de saúde se relacionam com o
Assim, poderá haver tanto uma adequada
exercício da profissão. Da mesma forma que
adaptação do profissional dentro dos limites

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os conflitos, a agressividade pode impulsionar 2. Hamilton J. Multicultural health care


para a atividade, iniciativa, coragem na requires adjustments by doctors and
tomada de decisões. Os impulsos agressivos pacientes. Can Med Assoc J. 1996; 155(5):585-
podem achar-se ligados a conflitos 587.
inconscientes, buscando seu alvo no paciente
3. Carvalho CA. Poder. Conflito e controle nas
e emergindo sob forma de mau tratamento
organizações modernas. Maceió:
físico e psicológico, direto ou indireto,
EDUFAL;1998.
irritação, explosões diretas ou indiretas de
raiva com o paciente, desconsiderando os 4. Hall R. Organizações, estrutura e
limites do comportamento profissional. processos. Rio de Janeiro: Pretice  Hall do
Brasil;1984.
Os hospitais, sempre com excesso de
pacientes, profissionais estressados por carga 5. Morgan G. Imagens da organização. São
enorme de trabalho, acúmulo de empregos, Paulo: Atlas; 1996.
expectativas diferentes, podem impedir uma 6. Zander A. Marketing groups effective. São
confiança mútua e entendimento profissional Francisco: Jossey-Bass;1987.
na equipe.
7. Moscovici F. Desenvolvimento interpessoal:
CONSIDERAÇÕES FINAIS leituras e exercícios de treinamento em
grupo. Rio de Janeiro: Livros técnicos e
O conflito é um fato da vida em qualquer científicos; 1975.
relação interpessoal e, no local de trabalho, é 8. Lukes S. Poder e autoridade. In Bottomore
um fenômeno natural e esperado que, quando T, Nisbei R (Org.). História da análise
administrado construtivamente, pode sociológica. Rio de janeiro: Zahar; 1980.
fortalecer as relações. O ambiente de
trabalho sem a criatividade e o progresso 9. Weber M. Economia e sociedade. Madri:
decorrentes dos conflitos é entediante e Fundo de cultura econômica;1993.
maçante. O conflito ignorado tende a se 10. Alves S. Racionalidade, carisma e tradição
agravar. Logo, sugere-se que medidas sejam nas organizações empresariais
tomadas e utilizando-se a confrontação contemporâneas. Recife: Ed. Universitária da
positiva, seja administrando. UFPE;2003.
Para trabalhar com o conflito, a equipe 11. Tragtenberg M. Burocracia e ideologia.
deve identificar o problema, analisar sua São Paulo: Atlas;1980.
origem e prevenir complicações. Diante das
12. Weber M. Ensaios de sociologia. 3ª ed.
freqüentes mudanças nos sistemas de
Rio de Janeiro: Zahar;1974.
cuidados em saúde, a equipe
multiprofissional, em alguns casos, é forçada 13. Bourdieu P. Razões práticas: sobre teoria
a assumir novos papéis, exercer funções de e ação. Campinas: Papirus; 1996.
outras categorias. 14. Das TK. Organizational control: an
Sob pressão cotidiana as pessoas, muitas evolutionary perspective. J of Management
vezes, não conseguem manter o controle Studies. 1989;26(25):459-475.
emocional, manifestando agressividade 15. Tannimbaum AS. O controle nas
causada por estresse, problemas pessoais ou organizações. Petrópolis: Vozes; 1975.
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dificultam o relacionamento. Dentre os 16. Goldim JR. Conflitos de interesses na área
motivos que interferem no relacionamento de saúde. [online] [acesso em: 2006 jan 06].
interpessoal, destacam-se a atitude Disponível em:
individualista acompanhada de www.bioetica.ufrgs.br/negocia.htm.
comportamentos egoístas e competitivos, 17. Farias LO, Vaitsman J. Interação e
problemas pessoais, diferenças individuais, a conflito entre categorias profissionais em
falta de confiança, comunicação e as relações organizações hospitalares públicas. Cad de
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Preto. [Dissertação]. Ribeirão Preto (SP):
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Universidade de São Paulo; 2005. [aceso em
14 dez 2005]. Disponível em:
www.teses.usp/disponiveis/22/22132/tde-
03082005-15129/publico/agostine_r.pdf
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practica médica. Buenos Aires: Paidos; 1974.
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1988.
25. Martins MCFN. Humanização da
assistência e formação do profissional de
saúde. [online] [acesso em: 2006 jan 20].
Disponível em:
www.polbr.med.br/arquivo/artigo0503_1.htm

Sources of funding: No
Conflict of interest: No
Date of first submission: 2008/03/14
Last received: 2008/04/08
Accepted: 2008/04/10
Publishing: 2008/07/01
Address for correspondence
Luís Othon Bastos
Rua Xavantes, 226  Casa Amarela
CEP: 52070-180 — Recife (PE), Brasil

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