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Wilson CANO*
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O Nordeste, depois de atravessar o periodo de fausto do açúcar-século
XVI ã primeira metade do XVII - passou a sofrer violenta concorrência, primei
ro, do açúcar antilhano e mais tarde (século XIX) também como o açucar euro-
peu, de beterraba. Com isto, seu principal produto de exportaç·
ão passou · a se r
marginal no mercado:.internacional, com preços violentamente deprimidos.Seu segu_!!
do principal produto - o algodão - era, até muito recentemente, "cultura de
pobres", feita em bases técnicas e econômicas precárias, sofrendo igualmente
dura concorrência no mercado ·internacional, com o algodão norte americano,com
queda vertiginosa de preço, efeito esse atenuado pela expansão dos mercados
têxteis do Rio e de São Paulo, principalmente.
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de então, por são Paulo.
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da urbanização. Porem, a piora das condições de vida nas periferias mais atra
sadas (Norte, Nordeste e interior de Minas Gerais) ou o agravamento do pr
blema do fracionamento da terra na economia camponesa do sul ampliaram os fa
tores expulsadores de levas humanas regionais em direção as economias urbanas
do Rio e de São Paulo, alem da citada fronteira do Paraná.
Nas paginas seguintes, ã luz das linhas e fatos mais gerais do desen
volvimento sócio-econômico do país posteriores a 1929/33, discuto os princi-
pais problemas atinentes ã questão regional e ã ·urbanização, fenômenos que, c
mo tentarei mostrar, apresentam-se com forte interdependência entre si e
com a questão
agrária.
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ciam as chamadas políticas de desenvolvimento regional. É também o momento em
que o Brasil deixa de ser uma socied ade basicamente rural passando a ser
predominantemente urbana com sua população rural perfazendo ainda cerca de
33% em 1980.
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guns obstáculos que a crise iria eliminar.
Dado que fora em são Paulo que se haviam desenvolvido os dois maio
res e mais modernos segmentos produtivos do país a agricultura e a indús
tria , era natural que tanto os efeitos da crise poderiam ser mais devastado
res do que no resto do país, quanto, pela decisiva ação do Estado, a recupera-
rao iria concentrar maiormente aí, seus principais frutos.
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cessidades do pais, crescendo a taxas acima do crescimento demográfico e supo_
tando em parte a crise cafeeira nas contas do setor externo.
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Cont udo a nova década é t ambém o momento da reflexão critica
face aos problemas que, finalmente, "vêm à tona", ou sej.a, passara para a age
da da ampla discussão polltica nacional que então se processa . Afloram os con
flitos e a disputa de ·interesses: hã agora maior conlito com o capital exter
no; com os baixos salários dos trabalhadores; com o êxodo rural e a não-refor-
ma agrária; com as carências sociais urbanas não atendidas; com o emperramento
do sistema financeiro; com a questão regional, e outros.
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longo período de tempo.
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Modernização e atraso, ambos os fatores foram os grandes responsãveis
pelo considerável aumento dos fluxos migratórios inter-regionais. Tais fluxos,
se tomados os acumulados atê 1950, e em termos líquidos (
entradas-saÍdas) ,apr
sentavam elevadas perdas para as populações do NE (-6, 0%) , MG (-13,8% ), ES
(-4,0%) e RS (-3,97%) e acentuados ganhos para SP (6,1%) , PR (27,8%) e e.o
(16,57.).
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articulação que se deu entre o centro dominante e a periferia, nessa primei_
ra fase de integração do mercado nacional.
2. O Avanço da Urbanização
Pelo ângulo do emprego existem outras questões que merecem ser apo n_
tadas e, par.a algumas sÕ nos resta formular hipóteses, dado que a informação
empírica é bastante insuficiente.
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colossal taxa de crescimento de sua agricultura, houve imigração rural em lar-
ga escala.
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A década de 1949/59 se caracteriza pelo intenso crescimento do setor
de bens intermediários, em todas as regiões, mais avançada tecnologicamente e,
portanto, menos gerador de empregos. O setor de bens de capital e de consumo
durável - concentrado em grande medida em São Paulo - é o que melhor desem
penho direto apresenta em termos de empregos, e e por isso que SP apresenta
excelente desempenho ocupacional.
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Tomado o período 1940-1960, a estrutura ocupacional na periferia pou-
co se alterou: diminui levemente o emprego rural, de mais de 75% para cerca
de 2/3, enquanto o industrial pouco se altera (de 8% para 9%)e o terciário,
de forma um pouco mais pronunciada (de 21% para 26%). No mesmo período, no
Rio, esses mesmos setores passavam de 32% para 14%, de 20 para 21% e de 48%
p ara
&5 % ; em são Paulo, passaram de 59% para 33%, de 16% para 23% e de 25% para 44%.
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II. CRISE, "MILAGRE ECONÔMICO" E DESACELERAÇÃO: 1962-1980
A crise atinge seu ponto mâximo em 1964-65.e, neste Último ano, o go_
verno militar promoveria as principais reformas econômicas e institucionais.Pe
la reforma tributária restaura o poder do gasto público, promovendo inclusive
enorme centralização fiscal e fnanceira junto ao Governo Federal; pela refor
ma bancária e financeira, reordena os instrumentos e instituições do sistema
financeiro nacional, agilizando mais o credito ao consumidor e aos bens de
capital, alem de instituir a correção mónetâria. Pela reforma administrativa,
reordena o complexo aparelho do estado. Altera a legislação trabalhista e im
planta as instituições para promover uma politica habitacional. A partir de
1967, alem de estender ã Amazônia, os incentivos regionais, amplia sobremodo a
"carteira" de investimentos incentivados.,incluindo: turismo,
reflorestamento, pesca, produção aeronáutica estatal, mercado de capitais e
exportações. Tudo ao capital.À classe trabralhadora, sob a "justificativa"
do combate ã inflaçao, deu o maior arrocho salarial até então praticado.
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cionãrias e de bal.anço de pagamentos se fazem presente.
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No bojo desse esforço de "Brasil Grande", o governo passou a . dar
maior ênfase às políticas regionais, tanta de investimentos produtivos quando
de alguns investimentos sociais, notadamente na periferia. t bom lembrar que
os programas regionalizados se ajustavam ao apoio político que o governo auto
ritãrio necessitava, para manter a chamada "abertura lenta e gradual" e evi
tar que o voto repuzesse o país na rota da democracia.
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Esta modernização tem que ser qualitativamente diferenciada, segundo as
regiões e os cultives. Assim, no Sul e em SP,a transformação da estrutura
produtiva com modernização nas culturas do milho, café e algodão, e a
entrada maciça da soja, da cana-de-açúcar (inicio do Pro-álcool), da
laranja, do trigo, etc. impôs acentuada mecanização, quimificação e
introdução de espécies melhoradas . A própria pecuária paulista viu-se compe
lida a promover acentuada divisão do trabalho, ficando com a engorda e deixan-
do a criação para o e.o.
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de do Sul dos 8,9% passava para 90:; e o Maranhão passava tambem a ter perdas
acentuadas . No transcurso da decada 1910-80, três regiões outrora grandes re
ceptoras de migrantes regionais se transformaram em expulsadoras : do Maranhão
saíram 110 mil pessoas, de Goiás 100 mil e do Paraná 1.320 mil. Por outro
lado, o Rio de Janeiro, que entre 1950 e 910 recebera em termos líquidos, i,4
milhão de imigrantes, entre 1970 e 198O inflete essa capacidade - certamente
por seu menor crescimento econômico e pela piora de sua condição de vida ur
bana - recebendo apenas mais 363 mil.
Pior ainda e que em que pesem os altos gastos cóm a abertura da fron
teira agrícola amazônica, com a elevada especulação com suas terras e os des
caminhos no trato de seu meio ambiente, a região recebeu apenas mais 593 mil
pessoas . Ao mesmo tempo, em que pesem as tentativas de "desconcentrar" a in
dÚstria de são Paulo e de tentar vender a ideia de que "São Paulo precisa P_!
rar", este estado recebeu mais z',7 milhÕes de migrantes, ou seja, quatro e
meia vezes mais do que toda a Amazônia!
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trialização em seus espa9os e o segundo, pelo enorme crescimento da sua
agroindústrias.
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ceu ali a implantação de importantes· polo de microeletrônica e informãtica .
Para que se tenha melhor visão do sucedido, basta dizer que enquanto
o estado perdia posição na concentração industrial na Última década,o interior
(estado, exclusive a Grande são Paulo) aumentou-a, aumentando sua participação
na produção industrial paulista, de 29,3% em 1970 para 41,4% em 1980 e 17,17.
do total nacional para 22,9% sendo, depois da Grande são Paulo, a maior con
centração industrial do pais •
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"desequil1brios regionais" e da necessidade de "mais recursos para a regiao",
independentemente do seu uso e do endereço dos beneficiários.
2 - A Urbanização Descontrolada
Contudo, pode-se temer que essa seja uma situação atípica, face ao
intenso crescimento industrial e também pelo fato de que o arrocho salarial g
neralizado vigente no período pode ter alterado as proporcionalidades de· ofer
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ta e demanda no mercado de trabalho, questão de alta complexidade e controvér-
sia.
Em que p.ese esse movimentado emprego urbano• a estrutura ocupacional
mantêm ainda em 1980, apreciável contingente no setor primário: desde as meno
res de ·4% no Rio e 13% em SP, de 23% no NO, em torno de 40% no PR. e e.o., de
52% no NE e de cerca de 32% nas demais regiões, revelando o muito que ainda
pode sair do campo. Somente em SP (39%), SC(31%) e na peculiaridade do NO
(57%, com grande influência da ZF de .Manaus), ê que se encontram altos pesos
de ocupação industrial; RS, RJ, MG e ES, aproximam-se dos 25%, estando os de
mais bem abaixo dessa cifra. Convêm lembrar, ainda assim, que tais cifras de
correm do Censo Demográfico, ocultando apreciável contingente de emprego "in-
formal", mesmo no secundaria.
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os núcleos habitacionais, obrigando o estado a prover a infra-estrutura (tran_!
portes, saúde, educação, saneamento, et!c) a custos crescentes e, de outro,obri_
gando o trabalhador a se distanciar cada vez mais do centro e de seu trabalho.
Por outro lado, ao distanciar o assentamento .. popular, com a infra-estrutura
recebida, valorizava, automática e especulativamente, os terrenos "a meio do
caminho", onde esse capital novamente se valorizava, desta vez atendendo à de
manda mais nobre da classe média .
Não e demais lembrar que nao se pode atribuir essas mazelas, com
exclusividade, ã concentração industrial, nem, por isso.mesmo, pleitear a "des
concentração" para evitar os males da "urbanização saturada" • Compare-se, por
exemplo, a dimensão relativa da indústria e da população das demais regiões
metropolitanas em relação a de são Paulo. A de Fortaleza, que compreende o
·equivalente a doze por cento da população da RMSP, concentra menos·de 3% de·
uma equivalente produção industrial da RMSP; na de Recife, a cifra seria de
18% e 5%; na de Salvador 14% e 6%; na de Curitiba, 17% e aproximadamente 9%.
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çao pública do urbano e com a voragem da especulação mercantil imobiliária.
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A crise externa entre 1979 e 1982 agravara sobremodo nosso serviço
de dÍvida externa, o dêficit público, o balanço de pagamentos e a inflação. Em
1982, dias apos grandes vitorias eleitorais obtidas pela oposição, o governo
autoritário batia ã porta do FMI.
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no momento com o populismo e a ingovernança do poder executivo e com o bloco
conservador na Con·stituinte ("UDR - Centrão - Municipalistas - Regionalista .s -
Microempresãrios")que, nq 19 turno da Carta Magna, alem de dificultar a refor
ma agrária, aprovou a descentralização fiscal sem a das serviços; o aumento de
redistrituição regional da receita, a (
vergonhosa) anistia d·a divida dos peq11
nos e médios empresários, e outras medidas inadequadas . A equipe econ.
ômica do
governo, inclusive renegocia a divida, de forma ortodoxa, j.unto ao FMI, BIRD
e Clube de Paris.
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Essa questão, contudo, se debate com a delicada situação econômica
interna, onde a continuidade do atendimento ao serviço das duas dívidas, a ex
terna e a interna, encurtam a poupança externa e a do governo, ao mesmo tempo
que transformam o setor privado produtivo em banqueeiro da dívida pública.
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tante de recursos alocados para projetos agropecuários foram desperdiçados ou
desviados, face ao grande número de projetos inviáveis aprovados . Além
disso, o programa agravou ainda mais a alta concentração fundiária
principalmente na Amazônia.
Mas ela está presente, agora nao apenas nas grandes aglomerações me
tropolitanas. Está se manifestando tanto nas cidades antes chamadas de médias,
e que passaram a ser grandes, próximas ãs Regiões Metropolitanas quanto tam
bêm nos centros urbanos decorrentes da abertura da fronteira agrícola Amazô:·
nica ou mesmo nos estados de reduzida expansao industrial. Vale dizer : o fe
nomeno da "arrebentação" urbana está presente em todo território nacional in
dependentemente de quais sejam seus determinantes : a industrialização concen
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trada ou nao, a fronteira agrícola, o garimpo, as novas zonas turísticas do
NE, etc.
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A postura otimista nos impele 'para uma .mudança volÍtica profunda,co
dizente e necessária para que peguemos o bonde' da his.tória,para •que no.S 'lllante-.
nhamos_competitivos .internacionalmente •·Mas·nãQ so parte disso .Lembre-nos que essa
guinada política teria, inequivocamente, a necessidade de que sua direção fos
se a da. democracia, não sõ para a retomada do investimento mas também para ', o
resgate da en ·
·re divida social para com a imensa massa de desassistidos.
Requer, por outro lado, um acerto social interno, _que permita nao
apenas enfrentar o curto prazo mas, principalmente, umá profunda reforma fia
cal e financeira para o necessário apoio ao crescimento e ao resgate social.
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