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Uso não Prescrito de Metilfenidato entre Estudantes de


uma Faculdade de Medicina do Sul de Minas Gerais
Non-Medical use of Methylphenidate among Students of a Medical
School in the Southern of Minas Gerais State
Ana Clara Mauad Coli1 RESUMO
Marília Pires de Sousa e Silva1 Objetivo: Identificar dentre acadêmicos de uma Faculdade de Medicina
Maria Vilela Pinto Nakasu2 no Sul de Minas Gerais, usuários do metilfenidato, os principais motivos
de utilização deste fármaco, as formas de aquisição e os possíveis efeitos
colaterais. Materiais e Métodos: O estudo é descritivo e transversal e
1. Acadêmica do 4º ano do Curso de para a coleta de dados foi utilizado um questionário fechado, de caráter
Medicina, Faculdade de Medicina de anônimo e de autopreenchimento, aplicado entre os meses de agosto e
Itajubá (FMIt), Minas Gerais, Brasil. dezembro de 2015. Foram incluídos ao acaso 120 alunos dos 6 anos do
2. Psicóloga, Doutora em Filosofia, curso médico. Resultados: Entre os participantes, 70 (58,33%) eram do
Professora da Disciplina de Psicologia
da Faculdade de Medicina de Itajubá sexo feminino e 50 (41,67%) eram do sexo masculino e a média de idade
(FMIt), Minas Gerais, Brasil. foi de 22,27 anos. Foi encontrada uma prevalência de 25% para o uso não
prescrito de metilfenidato, com maior proporção de uso no sexo
masculino. O aumento da concentração em época de provas foi citado
Trabalho realizado na Faculdade de Medicina de
Itajubá
como propósito de uso por 76,67% do total de pessoas que fazem uso
indiscriminado. Além disso, 66,67% afirmaram ter tido o primeiro contato
com a substância na faculdade e 60% obtiveram a droga por meio de
Fonte de auxilio PDIC-FMIt/FAPEMIG doação de amigos. Os principais efeitos colaterais citados foram:
ansiedade, insônia, euforia, taquicardia, redução de apetite, irritabilidade,
cefaleia e tremores. Conclusão: O presente estudo evidencia uma elevada
Autoras declaram não haver conflito de interesse prevalência do uso não prescrito de metilfenidato, por acadêmicos de
Medicina.

Palavras-chave: Metilfenidato, Prevalência, Estudantes de Medicina

ABSTRACT
Objective: Identify among the academic students, users of
Recebido em: agosto de 2016 methylphenidate in a medical school in the southern Minas Gerais, the
Aceito em: setembro de 2016
main reasons for the use, the access and the possible side effects.
Materials and Methods: The study is a cross-sectional, quantitative and
descriptive study among 120 students of six series of the medical school.
The instrument used for gathering data was an anonymous self-filling
questionnaire, applied between August and December 2015. Results:
Among the participants, 70 (58.33%) were female and 50 (41.67%) were
male and the average age was 22, 27 years. A prevalence of 25% for non-
prescribed use of methylphenidate was found, with a higher proportion of
use in males. Among those, 76.67% used it in order to increase their
Correspondência: concentration in exam time. In addition, 66.67% reported having their first
Ana Clara Mauad Coli contact with the substance in college and 60% obtained the drug through
Faculdade de Medicina de Itajubá. donation of friends. The main side effects reported were: anxiety,
Avenida Reno Junior, 368. São Vicente - Itajubá insomnia, euphoria, tachycardia, decreased appetite, irritability, headaches
– MG. CEP: 37502-138 - Tel.: (35) 3629-8700
anaclaramcoli@gmail.com
and tremors. Conclusion: This study shows a high prevalence of non-
prescribed use of methylphenidate by medical students.

Keywords: Methylphenidate, Prevalence, Medical Students

Revista Ciências em Saúde v6, n 3, 2016


INTRODUÇÃO Sistema Nervoso Central, por ser um potente
inibidor da recaptação de dopamina e de
A Sociedade Contemporânea está noradrenalina na fenda sináptica,
inserida no que se chama Terceira aumentando seus níveis extracelulares.
Revolução Industrial, em que a matéria- Sendo assim, o fármaco eleva o nível de
prima é formada pela inovação, alerta e incrementa os mecanismos
conhecimento e criatividade e o maior excitatórios do cérebro, o que resulta em
obstáculo continua sendo o tempo. Nesse uma melhor concentração, coordenação
contexto, o homem feliz e bem-sucedido é motora e controle dos impulsos.5,7
aquele que é capaz de apresentar elevados No Brasil, o uso terapêutico de
níveis de produção em curto prazo, com metilfenidato foi aprovado em 1998
baixo custo e alta qualidade; o que, por (Ritalina) e em 2002 (Concerta) para o
consequência, acaba por gerar expectativas tratamento do Transtorno de Déficit de
elevadas em torno da capacidade do sujeito, Atenção e Hiperatividade (TDAH).1,5 O
afetando a sua saúde mental e autoestima. 1,2 metilfenidato é igualmente indicado para
A civilização vem buscando e tratamento de Narcolepsia.7 Este fármaco
criando estratégias de potencialização da está incluído na Convenção de Substâncias
produtividade humana. Dentre elas está o Psicotrópicas de 1971 da ONU, assim, seu
chamado Aprimoramento Cognitivo uso necessita de controle especial por
Farmacológico, que está relacionado à apresentar risco de abuso e dependência.5
utilização de drogas para “turbinar o O metilfenidato é considerado um
cérebro”, ou seja, são fármacos que surgem dos psicotrópicos mais consumidos no
como alternativas em situações em que as mundo.8,9 Segundo o relatório da
elevadas expectativas de produção não estão Organização das Nações Unidas sobre a
sendo correspondidas. 1,3 produção de psicotrópicos, sua produção
As substâncias psicotrópicas têm mundial alcançou a marca de 71.6 toneladas
sido prescritas legalmente ou utilizadas sem em 2013 e seu consumo global atingiu um
prescrição médica para alcançar esse novo nível recorde de 72 toneladas. Dentre
“melhoramento” da capacidade cerebral nas os maiores consumidores neste mesmo ano
performances escolares e laborais. encontram-se Estados Unidos, Reino Unido,
De acordo com diversos estudos 3,4,5 Canadá Alemanha e Brasil.10
um dos medicamentos mais utilizados para Estudos recentes apontam que, entre
esse fim é o cloridrato de metilfenidato, um os anos de 2003 e 2012, o consumo de
fármaco do grupo dos anfetamínicos, Ritalina aumentou 775% no Brasil.11 Esse
comercialmente conhecido como aumento expressivo pode ser explicado pela
Concerta®, Ritalina® e Ritalina LA®.6 Essa ampliação dos critérios diagnósticos para o
substância atua como um estimulante do Transtorno de Déficit de Atenção e

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Hiperatividade (TDAH), aumentando o fármaco, por meio dos acadêmicos do curso
número de usuários em potencial e médico de uma Faculdade de Medicina do
facilitando o acesso ao fármaco.9,12 Sul de Minas Gerais, quais os principais
Outro fator que contribuiu para o motivos de utilização, as formas de
aumento do consumo de Ritalina é a aquisição e os possíveis efeitos colaterais.
existência de um desvio de padrão de uso,
como acontece com os indivíduos saudáveis MATERIAIS E MÉTODOS
que buscam, por meio do fármaco, aumentar
sua capacidade de concentração e, até Após aprovação de um Comitê de
mesmo, reduzir seu peso corporal por conta Ética em Pesquisa com funcionamento
dos efeitos colaterais, como a diminuição do regular junto ao sistema CEP/CONEP, sob
apetite.13 parecer número 832.895, respeitando a
Estudos recentes revelam que, uma resolução CNS 466/12, realizou-se um
grande parcela dos usuários que não estudo descritivo e transversal, cuja amostra
apresentam indicações clínicas para o uso de foi constituída de acadêmicos do 1º ao 6º
metilfenidato é composta por pessoas que ano, matriculados no curso de medicina em
desejam prestar concursos públicos e uma faculdade do Sul de Minas Gerais.
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vestibulares, e universitários. A Para o dimensionamento amostral
potencialização do desempenho cognitivo foi considerado um estudo observacional,
tem levado universitários ao consumo com Estimativa por Intervalo de Confiança
indiscriminado do fármaco. No Brasil, esta (IC) para Proporções, utilizando-se o
prática tem sido chamada de “uso programa Dimam 1.0 de dimensionamento
instrumental de remédios”, “drogas para amostral. Como condição para o cálculo foi
turbinar o cérebro”, “neurologia cosmética”, utilizada um população finita, um Grau de
“doping cerebral” e “drogas de Confiança: 95 [%]; Score z: 1.96; Proporção
inteligência”. 5
p: 0.083; Proporção q (= 1 - p): 0.917;
Dado o crescimento do consumo do Margem de Erro Absoluta: 5 [%]; Tamanho
fármaco sem finalidade terapêutica, da População: 468 (acadêmicos, do 1º ao 6º
informações sobre seu uso necessitam ser ano, maiores de 18 anos). Como resultado
adquiridas, analisadas e problematizadas a foi encontrado um tamanho da amostra
fim de conscientizar os estudantes sobre os mínimo de 94 casos.
reais riscos que o metilfenidato pode Foi aplicado um questionário
oferecer à saúde. fechado, de caráter anônimo, de
Com o objetivo de auxiliar na autopreenchimento, precedido da assinatura
prevenção do uso indiscriminado de do Termo de Consentimento Livre e
metilfenidato, este trabalho se propõe a Esclarecido. O questionário foi baseado nos
identificar a prevalência de uso deste estudos de Carneiro SM, et al.5 e Babcock e

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Byrne,14 sendo composto de dezoito
perguntas, sendo avaliadas informações RESULTADOS
como: os principais motivos do uso do
metilfenidato, as formas de aquisição e os A coleta de dados foi realizada entre
possíveis efeitos colaterais. O questionário os meses de agosto e dezembro de 2015.
foi aplicado pelas pesquisadoras no período Alunos do 1º ao 6º ano participaram do
de agosto a dezembro de 2015. estudo. Foram sorteados aleatoriamente 20
Os dados coletados foram inseridos alunos de cada sala, totalizando 120
em uma planilha eletrônica e submetidos à participantes.
análise estatística descritiva. Para Entre os participantes, 70 (58,33%)
comparação de duas prevalências, utilizou- eram do sexo feminino e 50 (41,67%) eram
se o teste qui-quadrado e, quando este não do sexo masculino e a média de idade foi de
era aplicável, foi usado o teste exato de 22,27 anos. Na Tabela 1, estão apresentados
Fisher. dados para a caracterização da amostra.
Tabela 1 – Distribuição dos acadêmicos de medicina
(n=120) incluídos no estudo segundo sexo, faixa etária e ano
Tabela 1 – Distribuição dos acadêmicos de medicina (n=120) incluídos no estudo
segundo sexo,acadêmico.
faixa etária e ano acadêmico
Variáveis N %

Sexo

Feminino 70 58,33%
Masculino 50 41,67%

Ano

1º ano 20 16,67%
2 º ano 20 16,67%

3º ano 20 16,67%

4º ano 20 16,67%

5º ano 20 16,67%

6º ano 20 16,67%

Faixa Etária

16 – 20 Anos 31 25,83%
21 – 25 Anos 76 63,33%
26 – 30 Anos 13 10,84%

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Na Tabela 2, estão apresentadas as principais respostas dos estudantes de medicina, da
amostra às perguntas do questionário aplicado, em relação ao conhecimento da substância e do
seu uso.
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Tabela 2 – Principais respostas dos acadêmicos (n = 120) em relação ao conhecimento do
metilfenidato, do uso prescrito e não prescrito e mecanismo de ação.
Perguntas SIM NÃO

Você já ouviu falar do Metilfenidato (Ritalina) 119 (99,17%) 1 (0,83%)


Já fez uso? 35 (29,16%) 85 (70,84%)
Uso prescrito para tratamento de TDAH ou narcolepsia? 5 (4,16 %) 30 (25%)

Conhece o mecanismo de ação? 64 (53,33%) 56 (46,67%)

De acordo com a Tabela 2, do total o tratamento de TDAH. Além disso, é


da amostra analisada, 35 alunos (29,16%) possível notar que o sexo masculino é aquele
relataram que já fizeram uso da droga e que apresenta a maior proporção de uso do
apenas 5 (4,16%) fizeram uso prescrito para metilfenidato nesse estudo. (Gráfico 1)

Gráfico 1: Distribuição do uso de metilfenidato entre


os acadêmicos (n = 120) de acordo com o sexo
80

60

40

20

0
Amostra feminina Amostra Masculina
Já fez uso de Metilfenidato Nunca fez uso de Metilfenidato

Em relação ao uso indiscriminado significativa do uso no ciclo básico (1º ao 4º


do metilfenidato entre a amostra (n = 120) ano) e o uso no internato (p = 17,97%)
distribuída pelos anos de curso, não foi (Gráfico 2).
encontrada estatisticamente diferença

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Gráfico 2: Porcentagem de acadêmicos (n =120) por ano
que fazem uso indiscriminado de Metilfenidato
120%
Porcentagem de Uso

100%
80% Já fez uso de Metilfenidato
60%
Conhece alguém que faça
40% uso
20% Considera uma droga de
abuso
0%
1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano 6º ano

Ano da Faculdade

Ainda, do total de alunos que fazem associação do metilfenidato com outras


uso indiscriminado foram pesquisadas substâncias e o uso de cocaína. Tais dados
variáveis como: o propósito do uso, a estão presentes na Tabela 3.

1
Tabela 3 - Principais respostas dos acadêmicos (n = 120) em relação ao uso do metilfenidato,
indicação, aquisição, eficácia, necessidade de aumentar a dose e associação com outras drogas

Perguntas Opções N (%)


Aumentar concentração em época de
Propósito do uso provas 23 (76,67%)
Aumentar rendimento em aula 2 (6,67%)
Ambos 5 (16,67%)
Associação com outra substância Cafeína 4 (13,34%)
Primeiro contato com a droga Faculdade 20 (66,67%)
Curso pré-vestibular 8 (26,67%)
Outra situação 2 (6,67%)
Quem indicou Amigos 14 (46,67%)
Colegas da faculdade 8 (26,67%)
Familiares 2 (6,67%)
Médicos 2 (6,67%)
Outras pessoas 3 (10,0%)
Amigos, familiares e médicos 1 (3,33%)
Forma de aquisição Doação de amigos 18 (60%)
Drogaria 5 (16,67%)
Drogaria e doação de amigos 2 (6,67%)
Internet 1 (3,33%)
Outra situação 4 (13,33%)
Necessidade de aumentar a dose Não 25 (83,33%)
Sim 5 (16,67%)
Eficácia satisfatória Não 9 (30%)
Sim 21 (70,0%)
Uso de cocaína Não 23 (76,66%)
Sim 7 ( 23,33%)

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No que diz respeito aos efeitos insônia, euforia, taquicardia, redução de
colaterais encontrados a ansiedade foi o mais apetite, irritabilidade, cefaleia e tremores
citado, sendo referida entre 23,33% dos (Gráfico 3).
usuários de metilfenidato, seguida por

Gráfico 3: Efeitos Colaterais mais frequentes em função


do uso de metilfenidato.
Redução de apetite Euforia Insônia
Ansiedade Taquicardia Irritabilidade
Tremores Cefaleia Outros

23,33%
20%
16,67% 16,67%

10,00%
6,67% 6,67% 6,67%
3,33%

DISCUSSÃO médico” do metilfenidato no Brasil. No


entanto, atualmente esse assunto tem sido
A Ritalina, nome comercial do
amplamente discutido no campo da
metilfenidato, tem sido cada vez mais
medicina por conta dos entraves éticos,
produzida e consumida no Brasil. Pesquisas
morais e dos riscos para a saúde dos
apontam que somente entre 2002 e 2006, a
usuários.15
produção brasileira de metilfenidato cresceu
Estudos sobre a qualidade de vida
465%. Esse crescimento vem sendo
dos estudantes de medicina indicam um
justificado pelo maior número de
desgaste psicológico, por conta das
diagnóstico de TDAH. Entretanto, existe um
cobranças de concentração e rendimento,
desvio padrão do uso, relacionado ao uso
diminuição do tempo de sono e lazer,
“não prescrito do fármaco” para alcançar
aumento de situações estressantes, entre
perda de peso, prazer e, principalmente,
outras. Por conseguinte, acredita-se que o
potencializar a capacidade produtiva das
grupo de estudantes de medicina esteja mais
pessoas.2,15
propenso ao uso de metilfenidato para
Até o ano de 2009 não existiam
“turbinar o cérebro”.5,16
estudos publicados sobre o uso “não

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No ano de 1996, Posada, em um Entre os acadêmicos de uma
estudo realizado pelo Ministério da Saúde da Faculdade de Medicina do Sul de Minas
Colômbia, demonstrou que dentre os grupos Gerais houve uma diferença significativa
de risco para uso de metilfenidato (p= 1,87%) de consumo entre os gêneros
selecionados em todo país, os estudantes de masculino e feminino, sendo os homens os
Medicina foram os maiores consumidores. maiores consumidores de metilfenidato. Tal
Enquanto isso no Brasil, em 2012, Pasquini situação também foi observada por Cruz et
apresentou um estudo sobre o uso de al. Já Carneiro et al. e Teter et al., não
metilfenidato por universitários em São observaram diferenças significativas do
Paulo, no qual os alunos de ciências consumo entre os gêneros.5,21,23
biológicas ocuparam o segundo lugar no No estudo realizado por Carneiro
consumo.17,18 Além disso, uma pesquisa SM et al. foi observado que o uso do
anônima administrada em 388 estudantes de metilfenidato teve sua maior distribuição no
medicina nos EUA demonstrou que, mais de último período analisado, ou seja, ocorreu
10% desses estudantes utilizaram um aumento do consumo da substância no
estimulantes para melhora do desempenho decorrer do curso.5 Entretanto, no presente
acadêmico.19 estudo, não foi encontrada diferença
No presente estudo foi avaliado o significativa entre o uso referente ao ciclo
uso não prescrito da droga, por uma básico (1º ao 4º ano) e ao internato (5º e 6º
população específica de universitários: ano).
acadêmicos de medicina de uma Faculdade Do total de pessoas que usam
do Sul de Minas Gerais. Foi encontrada metilfenidato indiscriminadamente, para 23
prevalência de 29,16% do uso de (76,67%) o propósito é o de aumentar a
metilfenidato. Destes, apenas 4,16% concentração na época de provas. Em
relataram uso prescrito para tratamento de revisão, Smith e Farah concluíram que
TDAH, sendo 25% a prevalência de uso do muitos estudantes saudáveis utilizam
metilfenidato sem prescrição médica. Os estimulantes com o objetivo de melhorar sua
valores que mais se aproximaram dessa performance cognitiva, baseando-se na
prevalência foram os encontrados por crença de que tais substâncias melhorem a
Carneiro SM et al., Babcock e Byrne e atenção e a memória.24
DeSantis et al, com prevalências de 23,72%, Lakhan e Kirchgessner demonstram
16% e 34% respectivamente. Já Cruz et al. que, embora estimulantes possam melhorar
apresentaram uma prevalência de 8,6% em performances individuais, quando testados
um estudo realizado na Bahia e McCabe et com tarefas de aprendizado mecânico, eles
al mostraram frequência de 6,9% entre não oferecem muita ajuda para indivíduos
estudantes de diversas faculdades norte- com melhores habilidades intelectuais.19
americanas.5,14,20-22

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Pouco se sabe sobre os efeitos do meio de doação de amigos. DeSantis et al.
uso não prescrito de estimulantes para demonstrou resultado semelhante, onde a
aumento do desempenho cognitivo, forma de aquisição mais comum é por
entretanto, tal prática tem se tornado cada intermédio de amigos ou conhecidos que
vez mais frequentemente entre os possuem prescrição. Smith e Farah
universitários. Não existe uma resposta apontam estudos onde cerca de metade de
unânime na literatura se tais estimulantes estudantes diagnosticados com TDAH
podem ou não atuar como drogas da foram abordados para desviar (vender, trocar
inteligência. É preciso considerar que o uso ou doar) seu medicamento.20,24
dessas substâncias possa gerar um efeito A maioria dos estudos
placebo, alterar a percepção dos estudantes epidemiológicos sobre o uso não prescrito de
acerca de seu rendimento ou até aumentar metilfenidato nos EUA tem foco no abuso de
energia, motivação e diminuir o sono sem, drogas ilícitas e estimulantes, assim não há
19,24
no entanto, elevar a habilidade cognitiva. grande distinção do uso de estimulantes para
O uso de medicamentos para fins de aprimoramento cognitivo farmacológico de
aprimoramento tem sido uma preocupação outros propósitos de uso.24 Observou-se alta
crescente no campo da bioética. Alguns prevalência do uso de cocaína e outras
autores afirmam que essa prática é uma anfetaminas entre os estudantes que fazem
forma de trapaça, não é natural e está uso não prescrito de metilfenidato. Das
relacionada ao abuso de drogas. Em pessoas que fazem ou já fizeram uso
contrapartida, Greely et al. publicou um indiscriminado de metilfenidato, 7 (23,33%)
artigo que contra argumentava as críticas, alegaram já terem feito uso de cocaína ou
defendendo o uso não prescrito de fármacos outras anfetaminas, enquanto 23 (76,66%)
para aprimoramento cognitivo, como uma pessoas não. Com base na totalidade da
nova prática para melhorar o desempenho, amostra, 13 (10,83%) pessoas alegaram uso
colocando-os na mesma posição de de drogas alguma vez. Foi constatada uma
atividades como uso de cafeína e prática de maior prevalência nos usuários de
alimentação saudável. A discussão é válida e metilfenidato.
importante, no entanto, não se deve deixar de
fora os debates acerca dos limites sociais da CONCLUSÃO
exigência, de concorrência sobre humanos
por trás dessa prática.2,15 Por meio desse estudo pode-se
Em relação à forma de obtenção do observar que, a prevalência do uso de
metilfenidato, dos acadêmicos que fazem metilfenidato por estudantes de uma
uso indiscriminado, 20 (66,67%) tiveram Faculdade de Medicina do Sul de Minas
primeiro contato com a substância na Gerais é alta, resultado corroborado por
faculdade e 18 (60%) obtiveram a droga por estudos da mesma temática.

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Os resultados mostraram que na redução de apetite, irritabilidade, cefaleia e
população estudada, os principais motivos tremores.
do uso indiscriminado do metilfenidato Fica evidente a necessidade de mais
foram a busca pelo aumento da concentração estudos para reconhecimento e identificação
em época de provas e aumento do dos fatores preditores do uso não prescrito e
rendimento em aulas. indiscriminado de metilfenidato entre
A forma de aquisição mais citada foi acadêmicos e estudos sobre as possíveis
por meio de doações de amigos e os interferências na saúde e no rendimento
principais efeitos colaterais foram desses, a fim de conhecermos as verdadeiras
ansiedade, insônia, euforia, taquicardia, aplicações e consequências do metilfenidato.

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Correspondência: Ana Clara Mauad Coli. Faculdade de Medicina de Itajubá. Avenida Reno Junior, 368.
São Vicente - Itajubá – MG. CEP: 37502-138 - Tel.: (35) 3629-8700. anaclaramcoli@gmail.com

Revista Ciências em Saúde v6, n 3, 2016

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