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CEP.

Centro de Estudos Psicanalíticos

O Édipo e o Conceito de Falo em Freud e Lacan

Mariana Cristina da Silveira


1° semestre 2013
Ciclo III, Terça-feira, noite
É véspera de dia das mães. Em meio aos preparativos para o almoço de amanhã eu me ponho a pensar o que
tenho a dizer para minha mãe. Como a psicanálise anda impregnada em minha vida atualmente, imaginei
começar dizendo que os estudos de Freud falam sobre uma grande história de amor. Uma história de amor
que tem início com essa figura emblemática que é a Mãe, história essa em que somos envolvidos antes
mesmo de podermos nos defender e da qual nunca mais vamos sair.
Na carta à minha mãe eu diria o quanto eu passei a entendê-la melhor depois que a minha própria filha, hoje
com três anos, nasceu. Falaria o quanto ela como mãe influencia a minha própria forma de ser mãe, por mais
que inúmeras vezes eu lute contra isso. Dentre esses pensamentos a minha carta de dia das mães vai para o
papel tomando corpo de algo mais, passo a refletir sobre o Édipo e o conceito de falo em Freud e Lacan.
Não posso negar que o chamado Complexo de Édipo é tema que sempre me intrigou mesmo antes de
começar a estudar Psicanálise. A partir do início do curso de formação no CEP Passei a entender a importância
desse momento no desenvolvimento infantil e que a forma que o individuo atravessaria essa fase seria
essencial no desenvolvimento de sua personalidade. Entretanto eu tinha dificuldades com relação à forma
interacionista com que Freud trata o assunto. Foi apenas ao passar a considerar as diferenças entre o Édipo em
Freud e em Lacan que passei a não só compreender melhor o conceito, mas também a me identificar com ele.
Em Freud o Édipo trata três pessoas que interagem. A criança, o pai e a mãe formando um triângulo. O
primeiro objeto de amor da criança é a mãe, pois essa, através de seus cuidados também erotiza o bebê.
Entretanto com o tempo a criança passa a perceber que sua mãe precisa ocupar-se de outras questões que não
ela mesma. Essa fase é atravessada por investigações, indagações e teorias que embora nem sempre reais,
farão com que a criança perceba que o pai também é objeto de atenção da mãe e que existe algo na relação
destes dois (pai e mãe) de que ela (criança) não participa.
Freud fala do conceito de falo e como este está articulado à crença infantil de que todos possuem um pênis e a
posterior constatação de que nem todos têm. Esses estudos desencadeiam na Angustia de Castração
estabelecendo uma diferença essencial na maneira em que o menino e a menina enfrentarão o Édipo.
O menino, possuidor do pênis, abdicará do desejo libidinal por sua mãe sob a ameaça de ser castrado,
justamente por conta de tal desejo. Pode-se dizer que sob a ameaça de castração o menino “sai” do Édipo. A
menina por outro lado, uma vez que constata sua castração, irá atribuir à mãe a culpa por esta falta. Passará a
buscar no pai o que não lhe foi dado pela mãe. Pode-se dizer que a castração “empurra” a menina para o Édipo.
Por outro lado a contribuição de Lacan sobre o Édipo é poder interpretá-lo de maneira mais subjetiva. Pai e
mãe não são pessoas, mas sim funções (Pai e Mãe) que podem ser organizadas e desempenhadas por
diferentes pessoas e até instituições. Essa abordagem subjetiva é rica, pois não está centrada na criança e seu
impulso sexual, mas sim no falo e no narcisismo.
Me explico. Lacan aborda o Édipo a partir da relação Mãe e filho e a suposta plenitude que existe neste
relacionamento. A Mãe (subjetivamente) propõe uma sociedade ao filho onde os dois se completam
plenamente numa imagem fálica. Em Lacan o falo não é o pênis, mas um significante de falta ou desejo.
Nesse relacionamento Mãe e filho, o filho é o falo que completa plenamente a Mãe. Filho e Mãe sentem-se
únicos, cheios, completos e onipotentes. Se no Édipo para Freud a mãe é objeto de desejo do filho, para Lacan
o filho é produto do desejo da Mãe.
Entretanto esse relacionamento fracassa, essencialmente porque a Mãe precisa ocupar-se de outras questões
que não o filho. Todas essas questões com que a Mãe se preocupa que não o filho exercem a função Pai, seja o
trabalho, um amante, outros filhos e etc. A criança então percebe que não é o falo da Mãe, mas passa a pensar
que alguém (ou algo) o é. A criança sofre um “colapso narcisista” vivendo com grande decepção o
entendimento da imperfeição dessa sociedade proposta pela Mãe.
É apenas na castração simbólica, no entendimento de que nunca mais seremos completos, que não voltaremos
à esse estágio ideal de plenitude narcísica que o individuo “sai” do Édipo. O falo adquire função de valor, não
é pessoal, mas sim um conceito subjetivo que está inserido na cultura. A cada momento existirão diferentes
significantes para este falo. Hora será o diploma na academia, hora o casamento, hora o filho ou os mais
diferentes significantes que cada contexto cultural possa encontrar. O fato é que por maior que seja o
entendimento da castração, esse falo sempre será buscado ignorando-se seus efeitos fugazes. Sempre haverá o
sonho, a fantasia de retornar novamente aquele estágio de plenitude narcísica inicialmente proposto pela Mãe.
Conforme colocado pelo psicanalista Antonio Carlos Farjani no encerramento da aula inicial do semestre “A
mãe em Freud é um bibelô do pai ou do filho, é um troféu, mas em Lacan ela é artífice da trama Edípica.”
Não pude deixar de me identificar com a visão de Lacan sobre o Édipo tanto pela força do meu próprio
relacionamento com minha mãe, mas também no fato de eu mesma ser mãe. Se no primeiro ano de curso no
CEP frases como “o filho é o falo da mãe” ou “uma mãe castrada” não tinham qualquer sentido para mim,
com o entendimento do conceito de falo em Lacan elas se tornam claras e reais.
Talvez por isso apenas recentemente eu finalmente tenha conseguido “escutar” e não mais ouvir o sucesso da
Motown “For Once in My Life” eternizado na voz de Stevie Wonder e interpretado por tantos outros. Segue
aqui a letra da canção e uma tradução livre.

For Once In My Life


Ron Miller & Orlando Murden
For Once In My Life Finalmente

For once in my life I have someone who needs me Finalmente eu tenho alguém que precisa de mim
Someone I've needed so long Alguém que eu sempre precisei
For once, unafraid, I can go where life leads me
And somehow I know I'll be strong Finalmente, destemido, eu posso ir aonde a vida me levar
E de alguma maneira que sei que serei forte
For once I can touch what my heart used to dream of
Long before I knew Finalmente eu posso tocar o que meu coração ousou sonhar
Someone warm like you
Would make my dreams come true Muito antes que eu soubesse
Alguém carinhoso como você
For once in my life I won't let sorrow hurt me Que faria meus sonhos se tornarem realidade
Not like it hurt me before
For once, I have something I know won't desert me
Finalmente eu não deixarei a tristeza me ferir
I'm not alone anymore
Não como me feriu antes
For once, I can say, this is mine, you can't take it Finalmente eu tenho alguém que sei que não irá me
As long as I know I have love, I can make it abandonar
For once in my life, I have someone who needs me
E eu não estou mais sozinho

Finalmente eu posso dizer, isto é meu, ninguém pode tirar


de mim
Enquanto eu souber que tenho amor, eu consigo
Finalmente, eu tenho alguém que precisa de mim.

Finalmente eu tenho alguém que precisa de mim! Com esse alguém eu posso tudo e eu sou
tudo. Sou completa, sou plena. Tenho novamente um Ego Ideal e dessa vez ninguém vai me
tirar isso.
A letra acima, escrita por dois homens, sintetiza perfeitamente o sentimento da Mãe fálica
com seu bebê. É como se essa Mãe dissesse “Ok, eu perdi essa plenitude com minha própria
mãe, mas agora eu vou construí-la com meu filho!”. É exatamente como eu me sinto como
filha e também como mãe.
É curioso que essa letra não tenha me chamado atenção antes. Sem pensa-la como uma
história de amor entre Mãe e filho era apenas um apanhado de palavras sem muito sentido.
Entretanto ao ouvi-la no rádio logo após uma aula sobre o Édipo em Lacan ela ganhou outro
significado.
A primeira e ultima estrofes da canção mencionarem uma relação de total dependência.
Exatamente como o bebê é dependente de seu cuidador em seus primeiros anos de vida. Ela
também fala de um sentimento de onipotência que acomete o sujeito da canção. Faz-me
lembrar das palavras de um amigo alto executivo do mercado financeiro logo depois do
nascimento de sua primeira filha:
“As coisas mudaram. Se precisar eu vou limpar o chão da rodoviária… e vou limpar
feliz…”
Também me faz lembrar eu mesma cuidando da minha filha em seus primeiros meses de vida. A fase
de total enamoramento em que eu passava o dia inteiro me dividindo entre amamentar, cuidá-la,
cantar para ela. Como o simples fato de olhar para ela quando ela ainda nem conseguia abrir os olhos
fazia com que eu me sentisse plena e absoluta. Entretanto com o passar dos meses passei a sentir falta
de voltar ao trabalho, de estudar, de estar com meu marido e com isso as necessidades da vida, o
cotidiano e seus afazeres, o Pai, atravessaram esse relacionamento mãe/filha. Sinto-me exatamente a
Mãe em Lacan que propõe ao filho a sociedade perfeita que se mostra insustentável. Ainda assim,
embora eu me sinta muito feliz cumprindo as diferentes funções de minha vida, até hoje o momento
de colocar minha filha para dormir, momento esse em que estamos sozinhas, que cantamos juntas e
que me relembra aquele mesmo aconchego dos tempos em que ela era bebezinha, é sem duvida a
melhor parte do meu dia.

Outro ponto que me chama a atenção na canção é o fato de haver nela uma falta anterior que
dominava o sujeito da canção há muito tempo. Fico com uma impressão de espera longa e agoniante e
que talvez por isso tenha me levado a traduzir “For once in my life” como “Finalmente”. Talvez como
se sentiu esse sujeito quando no seu colapso narcisista. Talvez como eu mesma me senti quando vi
que apesar de gigante a minha própria mãe não era onipotente e que eu não era tudo para ela.

Por fim acho perfeita a fala da canção “Finalmente tenho alguém que não vai me abandonar, eu não
estou mais sozinho”. Me passa uma ideia de história de amor eterna que é inalcançável mesmo no
mais longevo relacionamento conjugal. É uma história de amor que só pode mesmo acontecer entre
Mãe e filho. Não porque o filho seja tudo para a mãe e vice versa. Como já falamos num
relacionamento são esse romance está sujeito à falência. O individuo precisa passar pelo Édipo ate a
sua dissolução. A eternidade está no fato de que ainda que essa história de amor vá terminar, ainda
que a sociedade proposta pela Mãe no Edipo esteja sujeita à falência, a influência dessa primeira
história de amor vai nos marcar de forma tão tácita, que mesmo depois do Édipo não se afastará de
nós, pelo contrário vai permear todos os relacionamentos futuros que virão a partir daí.

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