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Orientacao_C4_8o_Ano_Historia_TONY_2017 22/08/17 08:10 Página I

Orientacao_C4_8o_Ano_Historia_TONY_2017 22/08/17 08:10 Página II

Autores:
Ana Maria de Fátima Santos Marino
Caio Guilherme Soares Fernandes
Ricardo Felipe Di Carlo
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Caderno do Professor
Unidade 4 – A Primeira República (1889-1930)
A Unidade 4 é composta de apenas um módulo, que tem como objetivo abordar as questões políticas,
econômicas e sociais desse período de ruptura com a Monarquia, mas de forte permanência da hegemonia
oligárquica após um curto período de poder militar. Para isso, propomos diferentes estratégias de ensino.

Módulo 7 – A formação da República no Brasil: o controle militar e oligárquico


(1889-1930)
Para atingir o objetivo proposto, o módulo foi organizado em cinco tópicos. O primeiro dá conta dos
diferentes projetos políticos que estiveram na origem da República e da elaboração da Constituição. O
segundo e o terceiro dedicam-se à permanência do poder oligárquico dos grandes proprietários rurais, que
se consolidou por meio de estruturas políticas bastante definidas (coronelismo, política dos governadores,
sistema eleitoral, política do café com leite), tratadas no segundo tópico, as quais foram acompanhadas por
conflitos profundos no meio rural, abordados no terceiro tópico. Em meio à hegemonia das oligarquias rurais,
o Brasil conheceu transformações provocadas pela industrialização e pela urbanização, tratadas nos dois
tópicos finais – o quarto e o quinto: A economia na República Oligárquia; e Resistências urbanas.

Estratégias de ensino
A ciência da História fundamenta-se nos princípios da compreensibilidade dos documentos e
interpretações, uma vez que não há possibilidade de experiências que reproduzam fatos passados. Estes
são únicos, situados no tempo e no espaço, e irreprodutíveis. Por esse motivo, todas as estratégias de ensino
estão pautadas na leitura e na interpretação de textos de natureza variada.
A apresentação dos conteúdos do Caderno de Atividades contém textos de maior extensão para manter
a coerência narrativa, incluindo detalhes sobre eventos e conceitos estudados, que servem como material
de pesquisa e estudo. Esses textos foram pensados para que o professor possa estimular a habilidade de
busca de informações pelos alunos e habituá-los a se deparar com diferentes interpretações sem reduzir
essas diferenças a uma perspectiva maniqueísta. Ao contrário, deve-se mostrar que essas leituras de
diferentes pontos de vista se complementam na construção da compreensão dos alunos.
A leitura dos textos não substitui a aula dada e planejada pelo professor, a qual também não se restringe
a ser uma reprodução dos textos do material didático. Caberá ao professor, como protagonista das ações de
ensino, analisar os textos disponíveis no material didático e decidir quais deles serão lidos em sala, total ou
parcialmente, ou trabalhados como atividades de leitura para casa, com a finalidade de enriquecer o debate
em sala de aula.

III
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Leituras
Oferecemos textos de historiadores diversos e reconhecidos academicamente, textos legais, imagens
produzidas pela imprensa da época tratada – charges e outras –, organogramas, gráficos, tabelas, mapas,
fotografias.

Interpretação
As atividades de interpretação por parte dos alunos estão presentes, neste caderno de atividades, na
elaboração e na complementação de mapas mentais, na elaboração de charges, nas discussões, nas
produções coletivas, na análise de imagens, textos, mapas e gráficos.

Sequência didática
Cada um dos tópicos do módulo é organizado por uma sequência narrativa entremeada por atividades
diferenciadas. Algumas estimulam momentos de diálogo entre o conteúdo apresentado e as experiências
prévias dos alunos (Suas experiências); outras propiciam momentos de exploração orientada de textos e
documentos (Exploração e descoberta); e os textos informativos têm o propósito de complementar as
atividades práticas (Ampliação dos saberes). Há também uma atividade de criação com a História, na qual o
aluno constrói criativamente uma síntese do que foi estudado (neste caderno, construirá uma charge da
República).

Orientações didáticas
Página 5
 1 – Ao fazer seu planejamento, o professor deve observar se realizará a leitura do texto com os alunos ou
se trabalhará usando um mapa mental como suporte para uma aula expositiva. Caso opte por fazer o mapa
mental, pode usar o espaço da Produção Coletiva para que seus alunos registrem a síntese sobre o texto.
Tempo estimado: 10 minutos.

Página 7
 2 – Entender as mudanças constitucionais é importante para compreender como o sistema político mudou
entre a Monarquia e a República. Por meio dos exercícios, busca-se ajudar nessa reflexão, tomando o poder
moderador como um elemento de destaque. A atividade não deve consumir mais do que 5 minutos.
Ao professores lembramos que, na coleção do 8.° ano, no Caderno 2, página 23, temos trechos da Constituição
de 1824, que podem ser úteis.

TÍTULO 5.o
Do Imperador
Capítulo I
Do Poder Moderador

Art. 101. O Imperador exerce o Poder Moderador:


I. Nomeando os Senadores [...].
II. Convocando a Assembleia Geral extraordinariamente nos intervalos das Sessões, quando assim o
pede o bem do Império.
III. Sancionando os Decretos, e Resoluções da Assembleia Geral, para que tenham força de Lei: Art. 62.

IV
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IV. Aprovando, e suspendendo interinamente as Resoluções dos Conselhos Provinciais: Arts. 86, e 87.
V. Prorrogando, ou adiando a Assembleia Geral, e dissolvendo a Câmara dos Deputados, nos casos, em
que o exigir a salvação do Estado; convocando imediatamente outra, que a substitua.
VI. Nomeando, e demitindo livremente os Ministros de Estado.
VII. Suspendendo os Magistrados nos casos do Art. 154.

Página 7
 3 – A Constituição de um país é construída a partir do debate, de acordos e pressões. Nesse sentido, carrega
características dos vários grupos de poder presentes no seu processo de elaboração. É interessante que os
alunos se acostumem à leitura desse tipo de documento e consigam identificar as várias concepções presentes
nele. Tempo estimado para a atividade: 10 minutos.

Página 10
 4 – O texto A República da Espada narra acontecimentos relevantes para a transição entre os presidentes
militares e civis. Dentro de seu planejamento, o professor deve avaliar se lerá o texto com os alunos ou se
desenvolverá seus conteúdos de forma expositiva. Tempo estimado para a atividade: 5 minutos.

Página 11
 5 – Três conceitos são essenciais para a compreensão das estruturas políticas da República Oligárquica:
política do café com leite, política dos governadores e coronelismo. No entanto, esses conceitos devem ser
explorados de forma crítica, sem cair em simplificações. Apesar de estabilizarem o sistema político, eles não
anularam totalmente os conflitos e oposições. Recomenda-se atenção especial à leitura do texto Política do
café com leite.

Página 17
 6 – Pela leitura do texto Leis x costumes, bem como pela Produção Coletiva que o acompanha, pretende-se
estimular a discussão sobre o voto feminino e como a conquista de cidadania pelas mulheres esbarrou em
costumes seculares do país. Ao longo da discussão, o professor pode destacar que as mulheres conquistaram
o direito ao voto a partir do Código Eleitoral de 1932, dentro do governo provisório de Getúlio Vargas. Tempo
estimado: 10 minutos.

Página 20
 7 – Sob a orientação do professor, a classe deverá discutir as duas questões na perspectiva de movimentos
sociais que combinaram a questão agrária e a luta pela posse da terra, com traços fortemente religiosos.

Página 23
 8 – Sob a mediação do professor, a classe deve retomar a discussão sobre banditismo social, à página 18,
e reportá-lo às práticas dos grupos cangaceiros no sertão do nordeste.

Página 24
 9 – O professor deverá orientar seus alunos a desenvolverem a Sua Criação com a História “Cidadania na
República Velha” de forma que eles criem argumentos historicamente corretos e significativos sobre o tema.
Segue uma sugestão de roteiro para a atividade:
a) A atividade pode ser individual ou em grupo (4 pessoas no máximo).
b) O(s) aluno(s) deve(m) usar o caderno de atividades para revisitar as principais características e
acontecimentos da República Velha, refletindo sobre como eles se opõem à ideia de cidadania.
c) Após a discussão, um desses aspectos deve ser escolhido para ser problematizado na forma de uma
charge.
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d) A charge deve ser realizada de forma que fique claro qual característica/acontecimento da República Velha
é criticado e o motivo dessa crítica.
e) Um texto de conclusão vai acompanhar a charge, explicando como o assunto tratado prejudicava a
consolidação da ideia de cidadania no país.

Página 25
 10 – Professor, é muito importante explicar com clareza os termos econômicos que se seguem. É
significativo o aluno aprender aqui o significado de flutuações, de inflação, de déficit, de câmbio etc. Todos
esses conceitos precisam ser elencados por meio de exemplos claros para que os alunos possam fazer
associações. Por exemplo, ao explicar o encilhamento, deixe claro que a pura emissão de moeda sem lastro
gera inflação.

Página 33
 11 – O professor, dentro de seu planejamento, pode optar entre ler o texto A Revolta da Vacina com seus
alunos ou trabalhá-lo de forma expositiva. Tempo estimado: 5 minutos.

Página 35
 12 – Por meio da discussão, com tempo sugerido em 10 minutos, a sala deverá construir argumentos a
respeito da proposta da produção coletiva.

Textos e atividades complementares


Os textos e as atividades complementares estarão disponíveis em <www.objetivo.br>, na área para
Educadores, como material complementar.

Texto complementar 1
O cerco final a Canudos
Depois de inúmeras tentativas frustradas, em que ocorreram sérios riscos de serem destruídas antes de chegar ao Arraial
rebelde, as tropas finalmente conseguiram cercá-lo, submetendo-o ao mais intenso assédio, sob fogo cerrado de armas de
repetição e artilharia.
Como quem fosse feito prisioneiro pelos soldados era imediatamente degolado, os sobreviventes resistiram até o fim.
Na incapacidade de impor uma vitória militar, os oficiais decidiram verter barris de querosene sobre os casebres de pau
e palha, queimando vivos os moradores remanescentes e os últimos combatentes, reduzindo o Arraial de Canudos a cinzas.
O assalto final se deu com as tropas investindo contra uma única trincheira, onde dois homens e uma criança lutaram
até a morte.
(Nicolau Sevcenko. História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. v. 3. República: Da Belle Époque à Era do Rádio.)

Texto complementar 2
A urbanização do Brasil

A industrialização e a vinda de imigrantes estavam ligadas ao grande boom da urbanização no Brasil. As cidades
cresceram assustadoramente nas primeiras décadas da República. Isso porque o setor industrial se tornava um mercado
de serviços, como os dos artesãos, dos comerciantes de rua, ou dos profissionais liberais. E tudo isso estava ligado,
inegavelmente, à riqueza do café e ao setor bancário dele proveniente.
São Paulo e Rio de Janeiro
Na capital paulista, o crescimento se deu em torno das regiões industriais que acompanhavam as vias férreas,
como o Brás, o Belenzinho, o Tatuapé (com a linha Central do Brasil), ou do Brás, Mooca, Ipiranga (acompanhando a
linha Santos-Jundiaí).

VI
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Crescimento da cidade de São Paulo,


em números aproximados
Ano População
1890 65.000
1900 240.000
1905 300.000
1910 375.000
1915 472.000
1919 526.000
1922 637.000
1930 1.000.000
(Boris Fausto. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013, p. 286; e Pasquale Petrone. A cidade de São Paulo no
século XX. Revista de História da Universidade de São Paulo. v. 10, n.° 21-22, 1955, p. 142 e 167.)

Não é a toa que os estrangeiros ficavam maravilhados com o crescimento paulista: “São Paulo é a Chicago da
América do Sul” ou “Uma espécie de Chicago tropical” (Apud: Pasquale Petrone. A cidade de São Paulo no século
XX. Revista de História da Universidade de São Paulo. v. 10, n.° 21-22, 1955, p. 156). No entanto, a capital paulista
ainda estava longe, em números totais, da capital do país:

População das grandes capitais, em números aproximados


Ano São Paulo Rio de Janeiro Salvador Recife Belém
1872 31.500 275.000 129.000 117.000 62.000
1890 65.000 523.000 174.000 111.500 50.000
1900 240.000 811.000 206.000 113.000 96.500
1920 579.000 1.158.000 283.000 239.000 236.500
(IBGE. Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=6&uf=00>. Acesso em: 25 jun. 2017.)

Foi assim que surgiu um projeto amplo de reurbanização do Rio de Janeiro, como símbolo da modernização
republicana e da formação do maior cartão postal do país.

Atividade complementar 1
Caso tenha tempo ao longo do bimestre, o professor pode usar o texto e as questões a seguir para a
continuidade da discussão sobre o saneamento econômico brasileiro após o funding loan.

Saneamento financeiro

Além disso, foi proposto o saneamento financeiro. Para isso, o ministro da Fazenda Joaquim Murtinho pretendia
fazer frente às crises do café, aos gastos militares para contenção de revoltas, ao Estado deficitário e ao pagamento dos
empréstimos externos, tudo gerando uma forte inflação. A partir do governo Campos Sales (1898-1902), propôs-se
um equilíbrio financeiro. Seu plano era controlar o crédito, o aumento da taxa de juros (justamente para desestimular
empréstimos), a valorização da moeda e o equilíbrio orçamentário, a fim de reorganizar as finanças do país. No entanto,
toda política de austeridade econômica (termo utilizado, em economia, para quando o governo estabelece o controle
de seus gastos) gera recessão econômica (ou seja, falta de crescimento), pois desestimula a indústria, produz
congelamento de salários e pode resultar também no aumento do desemprego. No Brasil, o saneamento financeiro
fracassou porque, como vimos, logo a seguir o governo passou a adotar o Convênio de Taubaté, em 1906.

VII
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1. O que podemos compreender sobre saneamento financeiro?


É uma política do governo caracterizada por cortes de gastos a fim de equilibrar o orçamento e permitir que o Estado arque com suas
despesas.

2. Quais são seus aspectos positivos e negativos?


Os aspectos positivos estão ligados, diretamente, à garantia do pagamento das contas públicas, dos funcionários e da manutenção dos
serviços que precisam ser constantemente garantidos.
Os aspectos negativos são a recessão econômica (falta de crescimento), o desestímulo à indústria, o congelamento de salários e o
desemprego.

3. Por que o projeto de saneamento financeiro fracassou na Primeira República?


Porque logo que o governo começou a equilibrar seu orçamento houve uma mudança para uma política de valorização do café que passou
a afetar diretamente os gastos do governo.

Atividade complementar 2
A imagem ilustra o amplo processo de desenvolvimento urbano do Brasil nas primeiras décadas da
República. Veja com atenção:

(Carlos da Silva Prado. Operários. Gravura, P.A., 33cmx21cm, coleção particular, s/d.)
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1. Quais são os fatores que propiciaram o desenvolvimento industrial e urbano do país?


A aplicação dos excedentes de capital propiciados pelo café, a facilidade para obtenção de energia elétrica, o crescimento do mercado
consumidor interno, o afluxo de capitais e a chegada dos imigrantes (mão de obra especializada).

2. Quais são os elementos existentes na imagem?


Os operários enfileirados e, ao fundo, os bairros operários e as fábricas.

3. Quais são as possíveis interpretações para o quadro?


Os operários estão intimamente ligados ao seu local de trabalho e moradia – sem espaço para nada além disso. A fila, por sua vez, traduz
a ordem e a disciplina, obrigações constantes nas fábricas.

Referências Bibliográficas
BATALHA, Cláudio. O movimento operário na Primeira República. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
CAMPOS, Flávio de; DOLHNIKOFF, Miriam. Atlas: História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1993.
COIN, Cristina. A guerra de Canudos. São Paulo: Scipione, 1977.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000.
FAUSTO, Boris (Org.) História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Republicano: estrutura de poder e
economia. São Paulo: Difel, 1977.
JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco (Org.). Coletânea de documentos históricos para o 1.o grau:
5.a a 8.a séries. São Paulo: Secretaria do Estado da Educação, 1985.
LIMA, Herman. História da caricatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1963.
LUSTOSA, Isabel. De olho em Lampião: violência e esperteza. São Paulo: Claro Enigma, 2011.
NAZARIO, Diva Nolf. Voto feminino e feminismo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2009.
PETRONE, Pasquale. A cidade de São Paulo no século XX. Revista de História da Universidade de São
Paulo. v. 10, n.° 21-22, 1955.
PONTES, José Alfredo Vidigal. A política do café com leite: mito ou história? São Paulo: Imprensa Oficial,
2013.
SEVCENKO, Nicolau. História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. v. 3.
República: Da Belle Époque à Era do Rádio.
SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras,
2015.

Sites
<http://memoria.bn.br/pdf/332747/per332747_1891_00615.pdf>. Acesso em: 5 jul. 2017.
<http://memoria.bn.br/pdf/332747/per332747_1891_00618.pdf>. Acesso em: 5 jul. 2017.
<https://www2.olimpiadadehistoria.com.br/7-olimpiada/documentos/documento/112>. Acesso em: 5 jul.
2017.
<http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/careta/careta_1927/careta_1927_974.pdf>. Acesso
em: 5 jul. 2017.
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm>. Acesso em: 5 jul. 2017.
<http://memoria.bn.br/pdf/332747/per332747_1890_00610.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2017.

IX
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Número de aulas sugeridas


História – 8.o ano – 4.o Bimestre

Caderno Módulo Semana Aulas Programa

47 Proclamação da República, projetos políticos e Constituição


24
48 Proclamação da República, projetos políticos e Constituição

49 As estruturas políticas da República Oligárquica (1894-1930)


25
50 As estruturas políticas da República Oligárquica (1894-1930)

51 Resistências rurais: movimentos sociais no campo


26
52 Resistências rurais: movimentos sociais no campo
4 7
A economia na República Oligárquica: agricultura, finanças, indústria e
53
extrativismo
27
A economia na República Oligárquica: agricultura, finanças, indústria e
54
extrativismo

55 Resistências urbanas: tensões nas cidades


28
56 Resistências urbanas: tensões nas cidades

57 Ajuste
29
58 Ajuste

X
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Anotações

XI
Orientacao_C4_8o_Ano_Historia_TONY_2017 22/08/17 08:10 Página XII

XII
C4_8o_Ano_Historia_TONY_2017_PROF 25/08/17 15:18 Página 1
C4_8o_Ano_Historia_TONY_2017_PROF 25/08/17 15:18 Página 2

Sumário

Unidade 4 – Primeira República (1889-1930)


Módulo 7 – A formação da República no Brasil: o controle militar e
oligárquico (1889-1930) ......................................................................... 3
7.1. Proclamação da República, projetos políticos e Constituição ............ 3
7.2. As estruturas políticas da República Oligárquica (1894-1930)........... 11
7.3. Resistências rurais: movimentos sociais no campo ............................ 18
7.4. A economia na República Oligárquica: agricultura, finanças,
indústria e extrativismo.................................................................... 25
7.5. Resistências urbanas: tensões nas cidades ........................................ 31
Tarefas .................................................................................................... 40

Autores:
Ana Maria de Fátima Santos Marino
Caio Guilherme Soares Fernandes
Ricardo Felipe Di Carlo
C4_8o_Ano_Historia_TONY_2017_PROF 25/08/17 15:18 Página 3

Módulo
A formação da República no Brasil:
5
7 o controle militar e oligárquico (1889-1930)
A 47 e 48
A Monarquia brasileira aproximou-se do final do século XIX desgastada. Proprietários do Vale do
Paraíba, que se sentiam prejudicados com o fim da escravidão, e a Igreja distanciaram-se dela. Na cidade
do Rio de Janeiro, profissionais liberais e jornalistas aderiram a um republicanismo popular. A burguesia
cafeeira de São Paulo criou o Partido Republicano Paulista (PRP), defensor de um republicanismo mais
conservador. E o Exército, envolvido em disputas com a elite civil imperial, aproximou-se de um
republicanismo autoritário de influência positivista.
A repentina “Proclamação da República”, em 15 de novembro de 1889, abriu espaço para a disputa,
entre esses grupos, sobre quem lideraria a construção do novo regime.
No módulo 7, você estudará a transição entre Monarquia e República, as crises da República da
Espada e a estabilização política, baseada em acordos políticos e fraudes, na chamada República
Oligárquica. Além disso, conhecerá as estratégias de resistência de populações urbanas e rurais a um
Estado que lhes negava a cidadania.

7.1. Proclamação da República, projetos políticos e Constituição

Apesar de republicanos discutirem já há alguns anos o fim da Monarquia, o episódio que mudou o
regime foi breve. Seguidas punições da Monarquia contra militares (que se expressassem politicamente)
levou ao desentendimento entre o líder do ministério, visconde de Ouro Preto, e o presidente do Clube
Militar, marechal Deodoro da Fonseca – que era amigo do rei.
Boatos de que Deodoro e aliados seriam presos fizeram com que o marechal se movimentasse contra
o ministério Ouro Preto e desencadeasse o fim da Monarquia. Acompanhe o relato que as historiadoras
Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling fazem do processo:

A Proclamação da República
Com a pressão paulista e a liderança de setores descontentes do Exército, o movimento em favor da República se
alastrou e os acontecimentos se precipitaram. O marechal Deodoro [...] acabou entrando a cavalo no quartel-general e,
apesar do lapso de dar “vivas a sua Majestade o imperador, à família Imperial e ao Exército”, foi em frente: obrigou Ouro
Preto a se demitir, declarando que levaria pessoalmente a formação do novo governo ao imperador. Essa passagem é
objeto de controvérsia. Ao que tudo indica, Deodoro e Constant encontravam-se no quartel-general do Exército e
lideraram um contingente rebelde de cerca de mil homens, que logo aglutinou a Marinha. Contudo, o clima era ainda
incerto e, pelo visto, a República não se proclamou abertamente, nem deu Deodoro um grito homólogo ao também
suspeito grito do Ipiranga.
Deixando um pouco de lado os detalhes, o que se sabe é que entre a demissão de Ouro Preto e a Proclamação da
República houve um hiato. O imperador ficara esperando no Paço uma visita de Deodoro, a qual jamais ocorreria, pois,
ao que parece, o marechal evitava encarar o velho monarca. O tom titubeante da movimentação era notável, mas o
anúncio da República foi feito, finalmente, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro [...]. Faltava, porém, avisar o imperador.
[...]
Ainda em Petrópolis, antes de descer à corte, ao ouvir a imperatriz repetir que tudo estava perdido, o monarca teria
dito: “Qual, senhora, chegando lá isso acaba!”. Mas a confiança de d. Pedro seria logo abalada. No comunicado, o
Governo Provisório dava o prazo de 24 horas para que a família real deixasse o Brasil.
(Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling. Brasil: uma biografia.
3
São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 315. Adaptado.)
C4_8o_Ano_Historia_TONY_2017_PROF 25/08/17 15:18 Página 4

1. Com base na narrativa das historiadoras, que dá ênfase especial à participação de Deodoro da
Fonseca no processo:
a) Explique a participação política do marechal Deodoro na Proclamação da República.
As historiadoras indicam que a movimentação inicial do marechal Deodoro foi contra o ministério liderado pelo visconde de Ouro Preto e

pela formação de um novo governo. No entanto, após a deposição de Ouro Preto, Deodoro e seus aliados optaram pela adoção do regime

republicano e pelo exílio da família real.

b) Avalie a participação política de Deodoro e grife trechos do texto que colocam em dúvida o seu
republicanismo.
Pela narração das historiadoras, é possível perceber que Deodoro não foi inicialmente movido por adesão plena ao republicanismo. Sua

posição política era muito presa aos princípios da Monarquia, apesar do resultado prático de suas ações.

Entre os trechos que merecem destaque estão:

“vivas a sua Majestade o imperador, à família Imperial e ao Exército”, foi em frente: obrigou Ouro Preto a se demitir, declarando que levaria

pessoalmente a formação do novo governo ao imperador.

a República não se proclamou abertamente, nem deu Deodoro um grito homólogo ao também suspeito grito do Ipiranga.

2. D. Pedro tinha noção do impacto político dessas ações? Justifique com elementos do texto.
O texto permite concluir que D. Pedro não tinha a dimensão do impacto político e respondeu com certa descrença à possibilidade de queda

da Monarquia.

Um trecho que pode justificar a resposta é: o monarca teria dito: “Qual, senhora, chegando lá isso acaba!”.

4
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Apesar de sua grande importância, o episódio da Proclamação da República ficou marcado pela pouca participação popular.
O quadro de Benedito Calixto, por sua vez, traz uma versão em que o protagonismo militar no processo é ressaltado.
(Benedito Calixto (1853-1927). A Proclamação da República.
Óleo sobre tela. Pinacoteca Municipal de São Paulo, 1893).

Agora que você já discutiu sobre o episódio da proclamação da República, observe o relato do
historiador Boris Fausto sobre os vários republicanismos.
 1 – Vide orientações didáticas (página IV).
Republicanismos
Alguns membros do movimento republicano que nasceu em 1870 no Rio de Janeiro [...] eram defensores de uma
revolução popular para se chegar à República. Mas a grande maioria seguia a opinião de Quintino Bocaiúva, partidário
de uma transição pacífica de um regime para o outro, aguardando-se, se possível, a morte de dom Pedro II.
A base social do republicanismo nas cidades era constituída principalmente de profissionais liberais e jornalistas [...].
Os republicanos do Rio de Janeiro associavam a República à maior representação dos cidadãos, aos direitos e garantias
individuais, à federação, ao fim do regime escravista.
A novidade da década de 1870 foi o surgimento de um movimento republicano conservador nas províncias, tendo
como maior expressão o Partido Republicano Paulista (PRP), fundado em 1873. Os quadros do PRP provinham
majoritariamente da burguesia cafeeira. O ponto fundamental do programa do partido consistia na defesa da federação,
ou seja, de um modelo de organização política do país em que as unidades básicas são as províncias.
[...]
Os republicanos de São Paulo convenceram-se de que o Império seria incompatível com a autonomia provincial. Entre
outras coisas, a autonomia significaria o controle pelas províncias da política bancária e da imigração, assim como a
descentralização das rendas.
O republicanismo paulista se diferenciava do existente no Rio de Janeiro pela maior ênfase dada à ideia de federação,
pelo menor interesse na defesa das liberdades civis e políticas [...].
Nos meios militares brasileiros, a influência do positivismo só raramente se deu pela aceitação ortodoxa de seus
princípios. Em geral, os oficiais do Exército, assim como muitos estudantes e professores, absorveram aqueles aspectos
mais afinados com suas percepções. A ditadura republicana assumiu a forma da defesa de um Executivo forte e
intervencionista, capaz de modernizar o país, ou simplesmente a da ditadura militar.
Outro elemento de atração do positivismo eram a separação da Igreja e do estado e a clara preferência da doutrina
pela formação técnica, pela ciência e pelo desenvolvimento industrial. Em resumo, o positivismo, com sua ênfase na ação
do estado e na neutralização dos políticos tradicionais, continha uma fórmula de modernização conservadora do país,
que era muito atraente para os militares.
(Boris Fausto. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000, p. 195-199. Adaptado.)

5
C4_8o_Ano_Historia_TONY_2017_PROF 25/08/17 15:18 Página 6

De forma coletiva, a sala organizará as principais características das concepções


republicanas listadas pelo historiador Boris Fausto na forma de um mapa mental. As
características sobre as concepções que não podem faltar no mapa mental são: grupos que
defendiam esse pensamento, o papel do Estado e sua relação com os direitos individuais/cidadania.
Na construção dos mapas mentais é válido que o professor destaque os pontos de aproximação e distanciamento entre as diferentes concepções
estudadas. Além disso, vale destacar que a forma ditatorial, prevista na concepção militar, parte do princípio de limitação aos direitos e garantias
individuais. Segue uma sugestão de mapa mental para ser explorado pelo professor.

A instauração do novo regime levou à aprovação de uma nova Constituição para o Brasil em 1891.
Entre as mudanças realizadas nessa Constituição, estavam a separação entre as funções de Estado e de
Igreja, com o Estado assumindo a responsabilidade sobre os registros de nascimento e morte, o fim da
vitaliciedade do Senado e a possibilidade de eleição direta para presidente estadual (atual cargo de
governador).
Além disso, o Brasil adotou o regime republicano, presidencialista e federativo. Ponto importante
dessa nova Constituição foi a extinção do Poder Moderador, instituído na Constituição do Império de
1824.

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO
(www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST8F401
6
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 2 – Vide orientações didáticas (página IV).

Registre aqui o que sua classe recorda sobre o Poder Moderador, suas funções e quem o
exercia.
Pela constituição de 1824, o Poder Moderador era pessoal e exclusivo do Imperador. Por meio dele, o Imperador poderia intervir no sistema

político, modificando a composição dos outros 3 poderes.

Em seguida, a sala discutirá sobre a extinção do Poder Moderador e cada um deverá registrar qual foi o
impacto disso na organização da política brasileira no início da República.
Após discutir o que o Poder Moderador fazia, é importante que os alunos registrem uma tentativa de aumentar a harmonia e a independência

dos poderes no regime republicano.

 3 – Vide orientações didáticas (página V).


Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (24 de fevereiro de 1891)
TÍTULO I
Da Organização Federal
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1.º – A Nação brasileira adota como forma de Governo, sob o regime representativo, a República Federativa, proclamada a
15 de novembro de 1889, e constitui-se, por união perpétua e indissolúvel das suas antigas Províncias, em Estados Unidos do Brasil.
[…]
Art. 6.º – O Governo federal não poderá intervir em negócios peculiares aos Estados, salvo:
§ 1.º – para repelir invasão estrangeira, ou de um Estado em outro;
§ 2.º – para manter a forma republicana federativa;
§ 3.º – para restabelecer a ordem e a tranquilidade nos Estados, à requisição dos respectivos Governos;
Art. 7.º – É da competência exclusiva da União decretar:
§ 1.º – impostos sobre a importação de procedência estrangeira;
[…]
Art. 9.º – É da competência exclusiva dos Estados decretar impostos:
§ 1.º – sobre a exportação de mercadorias de sua própria produção;
[…]
Art. 15 – São órgãos da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo e o Judiciário, harmônicos e independentes entre si.
SEÇÃO I
Do Poder Legislativo
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art. 16 – O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República.
§ 1º – O Congresso Nacional compõe-se de dois ramos: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal.
[…]
SEÇÃO II
Do Poder Executivo
CAPÍTULO I
Do Presidente e do Vice-Presidente
Art. 41 – Exerce o Poder Executivo o Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, como chefe eletivo da Nação.
§ 1.º – Substitui o Presidente, no caso de impedimento, e sucede-lhe no de falta o Vice-Presidente, eleito
7
simultaneamente com ele.
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Art. 42 – Se no caso de vaga, por qualquer causa, da Presidência ou Vice-Presidência, não houverem ainda decorrido
dois anos do período presidencial, proceder-se-á a nova eleição.
[…]
SEÇÃO III
Do Poder Judiciário
Art. 55 – O Poder Judiciário, da União terá por órgãos um Supremo Tribunal Federal, com sede na Capital da República
e tantos Juízes e Tribunais Federais, distribuídos pelo País, quantos o Congresso criar.
[…]
Art. 57 – Os Juízes federais são vitalícios e perderão o cargo unicamente por sentença judicial.
[…]
SEÇÃO II
Declaração de Direitos
Art. 72 – A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes
à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:
§ 1.º – Ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
§ 2.º – Todos são iguais perante a lei.
A República não admite privilégios de nascimento, desconhece foros de nobreza e extingue as ordens honoríficas
existentes e todas as suas prerrogativas e regalias, bem como os títulos nobiliárquicos e de conselho.
§ 3.º – Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer pública e livremente o seu culto, associando-se para
esse fim e adquirindo bens, observadas as disposições do direito comum.
§ 4.º – A República só reconhece o casamento civil, cuja celebração será gratuita.
[…]
§ 6.º – Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos.
[…]
§ 8.º – A todos é lícito associarem-se e reunirem-se livremente e sem armas; não podendo intervir a polícia senão para
manter a ordem pública.
(Seleção de artigos da Constituição de 1891. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm>. Acesso em: 5 jul. 2017.)

Após a discussão a respeito das várias concepções sobre republicanismo, observe a Constituição
elaborada em 1891. Grife trechos do texto constitucional que exemplifiquem essas concepções.
Entre os trechos que os alunos poderão selecionar e relacionar com as concepções estudadas, destacamos:

Republicanismo autoritário: “[Art. 6.°, § 3.°) – para restabelecer a ordem e a tranquilidade nos Estados, à requisição dos respectivos Governos;”

- Embora o Art. 6.° limite as intervenções, seu complemento indica que a “ordem” e a “tranquilidade” são justificativas válidas para que o

Governo Federal intervenha na política estadual. Isso abre brecha para que o Governo Federal intervenha quando seu dirigente achar

necessário, já que “ordem e tranquilidade” são critérios subjetivos.

Republicanismo conservador: “Art. 9.° – É da competência exclusiva dos Estados decretar impostos: § 1.° – sobre a exportação de mercadorias

de sua própria produção;” – O Art. 9.° atende aos interesses do republicanismo paulista ao garantir o controle da elite sobre as rendas

provenientes das exportações estaduais, o que asseguraria fonte de renda independente da administração federal ao Estado.

Republicanismo popular (Rio de Janeiro): “Art. 72 – A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:”. Liberdades civis e garantias individuais

também fazem parte do corpo constitucional, atendendo em parte aos interesses das camadas médias urbanas.

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A adoção do federalismo foi a principal pauta do republicanismo surgido no período e satisfazia,


principalmente, ao interesse das elites estaduais, que poderiam administrar as rendas, formular as leis
(desde que não contrariassem a Constituição) e criar as polícias de seus estados. Isso garantiria, na visão
dos defensores do republicanismo mais conservador, a autonomia estadual e maior poder de atuação
para as elites que o controlassem.
A vertente do republicanismo popular foi contemplada pela menção às liberdades e garantias
individuais na carta constitucional. O problema é que na prática esses conceitos nem sempre foram
respeitados por governantes, levando a conflitos que você estudará no final do módulo. Outro ponto
importante a destacar é que o republicanismo de raiz popular acreditava no federalismo como uma
forma de maior representação dos cidadãos e realidades regionais. A utilização que as elites estaduais
fariam dessa organização não corresponderia aos interesses das camadas populares.
Por fim, nota-se que a Constituição, apesar de ter ênfase no federalismo, deixou aberta brechas
para que o republicanismo autoritário de parte do Exército agisse. Assim, à União caberia o poder de
intervir nos Estados em casos excepcionais, interferindo nos conflitos e nos interesses das elites regionais.
Dessa forma, nota-se que a Constituição de 1891 não encerrou os debates políticos entre os grupos
republicanos que existiam no Brasil da época. Essa luta política se estendeu ao longo da República Velha.

República da Espada: crises e revoltas


Entre 1889 e 1930, o Brasil viveu o período político conhecido como República Velha, termo criado
pelos seus opositores, que a dissolveram na Revolução de 1930. Esse período é dividido pelos
historiadores em República da Espada (1889-1894) e República Oligárquica (1894-1930).
A República da Espada recebeu esse nome porque militares ocuparam o cargo de Presidente. Chefe
do governo provisório, o marechal Deodoro foi eleito presidente de forma indireta (pela Assembleia
Constituinte) e governou até novembro de 1891. Seu vice-presidente, marechal Floriano Peixoto, o
sucedeu no cargo e, apesar de muito questionado, governou até o fim do mandato, em 1894.

Biblioteca Nacional

Na imagem podemos observar Floriano Peixoto, vice-presidente, e Deodoro da Fonseca, presidente,


em charge que retrata sua eleição indireta pelo Congresso.
(Charge de Pereira Neto publicada na Revista Illustrada n.° 615, 1891, p. 4 e 5.)
9
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Observe no texto a seguir, as principais questões da República da Espada.

 4 – Vide orientações didáticas (página V).

A República da Espada

O marechal Deodoro da Fonseca chefiou o poder

Biblioteca Nacional
Executivo de forma provisória até a elaboração de
uma nova Constituição para o Brasil. Isto feito, ele foi
eleito de forma indireta pela Assembleia e empossado
em fevereiro de 1891, tendo o oposicionista marechal
Floriano Peixoto como vice-presidente.
Seu governo constitucional teve curta duração,
devido à combinação entre crise econômica
(chamada Crise do Encilhamento; veja na página 27
deste caderno) e política. Ao nomear um monarquista
para liderar seu ministério, o presidente Deodoro
passou a ser visto com desconfiança pelo Congresso.
Em novembro de 1891, quando o Legislativo
tentou criar regras que impusessem mais limites aos
poderes do presidente, Deodoro ordenou o
fechamento do Congresso, alegando que realizaria
uma revisão da Constituição para aumentar a força
do poder do Executivo da União. A pressão de aliados
de Floriano Peixoto e de civis descontentes, somada
com a Revolta da Marinha no Rio de Janeiro (na A nomeação do barão de Lucena, outrora monarquista, enfraqueceu
chamada Primeira Revolta da Armada, liderada pelo ainda mais o governo de Deodoro da Fonseca. (Revista Illustrada n.°
almirante Custódio de Melo), levou à renúncia do 618, 1891.)
marechal Deodoro em 23 de novembro de 1891.
Popular entre os moradores do Rio de Janeiro, Floriano Peixoto contou também com maior diálogo com parte do
Congresso, especialmente com os membros do PRP. Seu governo ficou marcado por polêmicas sobre sua adequação
à Constituição ou não. Oposicionistas argumentavam que Floriano deveria convocar novas eleições, conforme previsto
no Art. 42 da Constituição de 1891. Seus apoiadores diziam que este artigo não era válido, pois a primeira presidência
fora escolhida de forma indireta.
Essa polêmica resultou em uma Segunda Revolta da Armada (1893-1894), liderada por Custódio de Melo,
interessado em concorrer ao cargo de presidente, e pelo monarquista Saldanha da Gama. Os revoltosos bombardearam
os fortes do Exército no litoral tentando pressionar o presidente, a renunciar. O apoio do Exército, das classes populares
e dos Congressistas dos principais Estados brasileiros foi essencial para que Floriano derrotasse o movimento em 1894.
Remanescentes dessa Revolta da Armada ainda participaram de uma guerra civil dentro do estado do Rio Grande
do Sul. Iniciada em 1893, a Revolta Federalista caracterizou-se pela disputa entre o Partido Republicano Rio-grandense,
liderado pelo governador do estado Júlio de Castilhos (muito influente entre os congressistas de seu estado), e o
Partido Federalista, liderado por Silveira Martins. Os federalistas (também chamados de maragatos) defendiam a queda
de Castilhos, a substituição da constituição positivista do Rio Grande do Sul e a instauração do Parlamentarismo.
Floriano Peixoto, apesar de Castilhos ter sido aliado de Deodoro da Fonseca, apoiou os legalistas (apelidados de
pica-paus) contra os federalistas e remanescentes da Revolta da Armada. O violento conflito só se encerrou em 1894,
quando o novo presidente, o civil Prudente de Morais, anistiou os revoltosos.
Floriano Peixoto, ao conseguir controlar as oposições e revoltas contra o seu governo, ficou conhecido na história
brasileira como Marechal de Ferro e Consolidador da República.

Ao concluir o item anterior,


você já pode realizar, em casa, a
Tarefa 23 “República da Espada”.
10
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A 49 e 50
7.2. As estruturas políticas da República Oligárquica (1894-1930)

 5 – Vide orientações didáticas (página V).


Passados os cinco primeiros anos da República, associados diretamente aos militares e ao autorita-
rismo, como vimos, foi eleito um presidente civil, Prudente de Morais (1894-98).
O sistema político caracterizou-se pelo controle de pequenos grupos ligados ao latifúndio. Por isso,
essa fase da República brasileira é conhecida como República Oligárquica (oligos = poucos e
arquia = poder).
Acompanhe no texto a seguir as principais estruturas de controle desses grupos, que atuavam desde
os munícipios até a esfera federal.

Política do café com leite

Na esfera federal, tradicionalmente chamamos de “política do café com leite” a união de São Paulo e Minas
Gerais para dominar a política nacional. Esse nome viria pelo fato de São Paulo ser o grande produtor de café, e Minas
Gerais, por sua vez, o grande produtor de leite. Alguns autores, inclusive, tratam de um revezamento de poder entre
ambos. No entanto, esse tipo de análise é hoje contestado. A primeira questão é que Minas era o segundo grande
produtor de café, e sua economia estava muito mais ligada a esse produto, pois o café representava mais da metade
das exportações desse estado. Ou seja, teríamos assim uma política do “café com café”. Outra crítica importante é
que em apenas dois momentos – na sucessão de Rodrigues Alves por Afonso Pena e na de Artur Bernardes por
Washington Luís – houve uma sucessão política de um paulista por mineiro, ou mineiro por paulista.
Como explica o historiador José Alfredo Vidigal Pontes:
Portanto, a bem da verdade, o chavão tão impropriamente repetido da alternância “café
com leite” nunca se cumpriu com regularidade: Nilo Peçanha (1909-1910) era fluminense,
Hermes da Fonseca (1910-1914) era gaúcho e Epitácio Pessoa (1918-22), o mais destacado
defensor do setor cafeeiro entre todos os presidentes, era paraibano. No período compreendido
entre 1889-1930, o Brasil teve 13 ocupantes da Presidência da República. Desses, apenas três
eram paulistas e quatro nascidos em Minas Gerais. Mesmo se considerando o fluminense
Washington Luís como paulista, por ter desenvolvido sua carreira política em São Paulo, a soma
de paulistas e mineiros representaria 62% de todos os presidentes na Primeira República.
(José Alfredo Vidigal Pontes. A política do café com leite: mito ou história?
São Paulo: Imprensa Oficial, 2013, p. 71-72.)

São Paulo e Minas Gerais, na prática, criaram um sistema que garantia a força do café e sua hegemonia. Eram os
estados mais ricos e populosos. No entanto, não governavam sozinhos, pois precisavam do apoio dos poderes
considerados intermediários. Havia também a grande força populacional e militar do Rio Grande do Sul. Estados
médios, como Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, também tinham certa influência, de acordo com o momento
político do país. O funcionamento do governo federal dependia, em grande medida, das interações e articulações
com os Estados. A união de São Paulo e Minas Gerais dava-se muito mais pela junção de interesses no nome de um
mesmo candidato que mantivesse a política oligárquica e os interesses dos grandes fazendeiros do café.

A partir da leitura do texto, responda ao exercício a seguir:


1. Como podemos explicar o conceito de “política do café com leite”?
União de São Paulo e Minas Gerais para dominar a política nacional.

11
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2. Quais são as críticas quanto a esse conceito?


Primeiro, que Minas Gerais não tinha como principal produto econômico o leite e, segundo, que não havia um revezamento claro entre os

estados de São Paulo e Minas Gerais.

Analise a charge e responda às questões a seguir:

Biblioteca Nacional

(Storni, Revista Careta, 1925.)

Transcrição da legenda: “A fórmula democrática:


Os detentores – Tenham paciência, mas aqui não sobe mais ninguém!”

1. Quais são os elementos da charge?


A charge demonstra a representação dos diversos estados do país tentando alcançar o poder federal, representado pela cadeira em destaque

e dominado por São Paulo e Minas Gerais. Há um segundo destaque interessante que são os tipos de roupas utilizados por todos os estados,

o que sugere um país exclusivamente agrário.

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2. Essa charge condiz com as críticas hoje estabelecidas ao “café com leite”?
Não condiz, pois hoje é evidente que São Paulo e Minas não dominavam exclusivamente o poder federal.

3. A partir da exposição e da análise do que era a “política do café com leite”, apresentada no texto,
podemos dizer que o conhecimento histórico está sempre em transformação?
Sim. Porque a história, assim como qualquer outra ciência, tem como base a análise interpretativa e porque o objeto de estudo da história

(o homem no tempo) não pode ser reconstituído plenamente (já que não conseguimos voltar no tempo), utilizamos a leitura e a crítica dos

documentos para produzir o conhecimento histórico. Desse modo, a interpretação da história se transforma tanto do ponto de vista e dos

questionamentos dos historiadores de cada época quanto do acesso a documentos em cada investigação feita.

Para viabilizar a relação entre o governo federal e os estados, foi criada, no governo de Campos
Sales (1898-1902), a política dos governadores. Ela buscava evitar os conflitos que caracterizaram o
início da República. Observe no texto a seguir como essa política funcionava:

Política de governadores

Figura – Mídia Objetivo


Era um acordo de apoio total ao governo federal
em troca de autonomia para os estados. Ou seja, era
uma troca de favores. Com isso, neutralizava-se a
oposição e garantia-se a força de oligarquias estaduais.
A perspectiva da autonomia estadual estava bastante
vinculada ao federalismo estabelecido pela
Constituição de 1891. Os estados passaram a ter
autonomia para contratar empréstimos diretamente
com os bancos e controlavam a maior parte de sua
receita, além do poder armado local e as eleições.

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO
(www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST8F402 13
C4_8o_Ano_Historia_TONY_2017_PROF 25/08/17 15:18 Página 14

O sistema político oligárquico era composto pela “política do café com leite”, pela “política dos
governadores” e, também, pelo coronelismo. Acompanhe a seguir:

O coronelismo

O título de coronel foi dado aos latifundiários na formação da Guarda Nacional, em 1831, para conter as revoltas
populares no período regencial. Com a profissionalização do Exército, o título militar foi perdido, mas o prestígio dos
latifundiários não.
Como explicam as historiadoras Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling:
daí em diante, o coronelismo passou a significar um complexo sistema de negociação entre
esses chefes locais e os governadores de estados, e destes com o presidente da República.
O coronel seria um dos elementos formadores da estrutura oligárquica tradicional baseada
em poderes personalizados e nucleados, geralmente, nas grandes fazendas e latifúndios
brasileiros.
(Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling. Brasil: uma biografia.
São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 322.)

A força dos coronéis, advinda do latifúndio, garantia votos para a oligarquia do seu estado, que, em troca,
mantinha suas ações livres de qualquer processo judicial, além de conceder-lhes os cargos públicos, como professores
ou mesmo delegados. Na prática, o coronel mantinha a população ao redor de sua área de influência sob rígido
controle devido à dependência econômica. Como o coronel era dono do latifúndio, ele conservava o trabalho das
famílias da fazenda em troca do voto.
Na fazenda, o coronel era o grande garantidor de um futuro aos filhos de seus empregados, pois poderia trazer
um médico ou comprar remédios em caso de alguma doença, ou mesmo dar emprego e ajuda em qualquer outro
momento da vida. Portanto, poderia ser estabelecido um laço afetivo a partir da força econômica estabelecida na
fazenda. Se fosse necessário, o coronel poderia impor seu poder pela força coercitiva. Ou seja, poderia utilizar algum
dos seus agregados na fazenda como exemplo do que aconteceria caso alguém o desobedecesse – eram expressões
da época “arrancar o couro” ou “esfolar vivo”.

Ao concluir o item anterior,


você já pode realizar, em casa, a
Tarefa 24 “Voto e coronelismo no século XXI”.

O voto aberto e as fraudes davam força à estrutura oligárquica de dominação política. Acompanhe
a seguir como esse sistema funcionava:

A fraude eleitoral

Aos parlamentares favoráveis ao voto aberto, ele


valorizaria um eleitor de estilo “heroico”, ou seja, capaz
de sustentar suas convicções políticas, sem se esconder
no voto secreto. Na prática, no entanto, garantia-se um
voto guiado pelo coronel, que transformava sua fazenda
em um verdadeiro “curral eleitoral” – local formado por
uma grande barraca onde os eleitores ficavam até votar
(voto este que já era entregue num envelope fechado),
ou seja, quando o coronel anunciava qual candidato ia
apoiar, imediatamente já se sabia quantos votos estavam
garantidos, pois nenhum dos “seus homens” se oporia As eleições. O presidente (A. Azeredo) apurando – Epitácio
à decisão. Era o “voto de cabresto”. Pessoa! J. Carlos. Careta (12 abr. 1919).
Cabresto: instrumento utilizado no cavalo para guiar
(J. Carlos. José Carlos de Brito e Cunha (1884-1950))
o animal de acordo com a vontade de quem cavalga.

14
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Além das fraudes descritas e propiciadas pelo voto aberto no contexto do coronelismo, ainda havia outras. Para
aumentar o número de votos, caso necessário em uma eleição considerada potencialmente apertada, poderia ser
feito uso do “voto fantasma” (aumento do número de votantes por meio da inserção de nomes de mortos) ou do
“voto bico de pena” (aumento do número de votantes por meio da invenção de nomes de pessoas inexistentes). Por
fim, caso um candidato opositor viesse a obter votos suficientes, havia a possibilidade da “degola política”. Isso era
possível porque o candidato deveria ser aprovado pela Comissão de Verificação da Câmara dos Deputados, que
operava de acordo com as oligarquias já dominantes.

Biblioteca Nacional

Os dois mais legítimos representantes da moderna


Soberania Nacional, os únicos, talvez, a quem será
permitido hoje o exercício do sagrado Direito do Voto.
K. Lixto. Fon-Fon! (30 jan. 1909). De Profundis. Seth. O Gato (3 fev. 1912).

(Herman Lima. História da caricatura no Brasil. Rio de (Herman Lima. História da caricatura no Brasil. Rio
Janeiro: José Olympio, 1963, p. 187.) de Janeiro: José Olympio, 1963, p. 189.)

Observe atentamente o documento a seguir:


Biblioteca Nacional

(Storni. Careta, ano 20,


n.o 974, 19 fev. 1927.)

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1. Qual a caricatura criada pelo autor para o eleitor?


O eleitor é tratado como um burro.

2. Por que a charge chama as eleições de “cabresto”?


Porque o votante é guiado ao voto pelo político.

3. Por que a “soberania” aparece na imagem?


Uma possível interpretação é destacar, de forma irônica, que o eleitor não possui nada de “soberania” ao estabelecer seu voto. Ou seja, a

figura é retratada para mostrar que, na prática, no Brasil Oligárquico, não havia liberdade de voto.

As regras da Constituição de 1891 sobre o voto eram bastante rígidas e excludentes:

Art. 70 – São eleitores os cidadãos maiores de 21 anos que se alistarem na forma da lei.
§ 1.º – Não podem alistar-se eleitores para as eleições federais ou para as dos Estados:
1.º) os mendigos;
2.º) os analfabetos;
3.º) as praças de pré, excetuados os alunos das escolas militares de ensino superior;
4.º) os religiosos de ordens monásticas, companhias, congregações ou comunidades de
qualquer denominação, sujeitas a voto de obediência, regra ou estatuto que importe
a renúncia da liberdade Individual.

(Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm>. Acesso em: 18 jun. 2017.)

A exigência da alfabetização para a cidadania política reduzia bastante o número das pessoas que
podiam votar, limitado entre 2% e 5% da população brasileira.

(Flávio de Campos e Miriam Dolhnikoff. Atlas História do Brasil.


São Paulo: Scipione, p. 42.)
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Ao excluir os analfabetos do sistema político, a lei perpetuava mecanismos de exclusão, já que não
havia escolas públicas ou qualquer outra iniciativa do Estado para promover de modo suficiente o ensino
em massa. Além disso, um dos temas mais significativos dessa constituição é justamente que a lei não
deixava claro a não participação das mulheres como eleitoras.

Acompanhe a seguir um relato sobre a luta feminina em busca do voto:


 6 – Vide orientações didáticas (página V).
Leis x costumes no Brasil

Na luta por direito ao voto feminino, algumas mulheres lançaram processos no governo garantindo serem maiores de
21 anos e alfabetizadas. Um grande exemplo, nesse sentido, foi a estudante de direito Diva Nolf Nazario. Eis o seu
depoimento:

“Em junho de 1922, lembrando-me de várias leituras feitas, principalmente após ter assistido a certas preleções de meus
distintos e sábios mestres na Faculdade de Direito, e tendo presentes os artigos da nossa Constituição, convenci-me de que
posso ser eleitora em minha pátria, à semelhança de outras mulheres em sua pátria.
Como se aproximasse uma eleição e o alistamento eleitoral se achasse em andamento, por solicitação minha, meu pai
dirigiu-se ao secretário de um chefe político, perguntando-lhe se poderia incumbir-se de alistar um eleitor. […]
No dia marcado, quando meu pai me apresentou como sendo o candidato, notei o grande espanto daquele senhor que
logo resignou toda interferência no andamento do meu processo eleitoral. […] Mostrava-se convencido da faculdade que
a lei me conferia, mas impotente e cético em encaminhar com sucesso meus documentos: ‘A senhora me desculpe, mas
aqui não arranja nada, é melhor indagar direito primeiro’.
Aí também o senhor escrivão manifestou surpresa e não quis registrar diretamente o meu pedido sem consultar o Dr.
Juiz.
Eis o despacho:
‘Não se reconhece ainda, no Brasil, a capacidade social da mulher para o exercício do voto. As restrições que se lhe
impõem na ordem civil têm um reflexo na ordem política. É certo que não existe em nossas leis uma exclusão expressa a
esse respeito. Mas também o é que várias tentativas surgiram, na discussão do nosso pacto fundamental, para precisamente
tornar expresso o direito do voto feminino sem que lograsse aprovação qualquer das emendas apresentadas. […] Mas o
legislador, quando estabelece as normas sobre a capacidade, não se deixa influenciar de preferência pelo conhecimento dos
casos de exceção. A verdade é que prevalecem ainda, entre nós, considerações tradicionais ao lembrarem que a missão da
mulher é mais doméstica do que pública, mais moral do que política’.”

(Diva Nolf Nazario. Voto feminino e feminismo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2009, p. 37-38.)

Em conjunto, a sala deve criar um parágrafo explicando como o caso de Diva Nazário
provocou um choque entre as leis e os costumes.
Diva Nazário usou a Constituição para argumentar que ela preenchia os requisitos para ser eleitora e não havia qualquer impedimento

legal para ela votar, mesmo sendo mulher. No entanto, em seu despacho o juiz estabeleceu que ela não poderia votar por causa dos costumes

e da moral.

Espera-se que os alunos compreendam a distinção tratada no despacho do juiz, ao argumentar que a mulher tem como ”missão”, de acordo

com os padrões impostos na época, a vida doméstica, o que revela o uso e o costume (na sua decisão) acima do direito legal.

17
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A 51 e 52
7.3. Resistências rurais: movimentos sociais no campo

O Brasil passava por um processo de transformações econômicas e sociais desde a segunda metade
do século XIX. Como você estudou anteriormente, a economia cafeeira trouxe consigo o crescimento
das cidades, impulsionando as atividades comerciais e a indústria. Essas transformações, entretanto, não
atingiram o país como um todo. Restringiam-se aos centros urbanos de algumas regiões, especialmente
no sudeste.
Havia um Brasil rural, que não era contemplado por esse conjunto de modernizações em que os
camponeses continuavam a viver em situação de miséria. A concentração da propriedade em mãos de
uma minoria mantinha a maior parte da população rural em situação de miséria absoluta, isto é, um
estado de pobreza extrema em que as pessoas não dispõem de recursos sequer para adquirir uma
quantidade mínima de alimentos e outras coisas essenciais à mera sobrevivência. Sem terras para cultivar,
buscavam trabalho nas grandes fazendas. Ganhavam pouco e, muitas vezes, eram submetidas a um
regime de trabalho de semiescravidão. Os coronéis, grandes proprietários de terra, controlavam o poder
político local. A impossibilidade de ter acesso à terra e de participar efetivamente da vida política produzia
a marginalização social do campesinato.
Nessas condições de profundas desigualdades sociais e necessidade de se obter acesso à terra,
surgiram tensões e conflitos sociais no Brasil rural, nos primeiros tempos da República. Podemos observar
movimentos de inspiração messiânica e até mesmo ações de banditismo social, como veremos adiante.

Para saber mais


Movimento messiânico: movimento de caráter religioso, em que se acredita na intervenção de forças sobrenaturais
para a salvação de grupos que se encontram em situação de vulnerabilidade ou de extrema dificuldade.
Banditismo social: o historiador inglês Eric Hobsbawn define como ação de banditismo social o conjunto de práticas
que não podem ser consideradas como atos de delinquência ou fora da lei. São práticas que, geralmente, envolvem um
líder capaz de incitar movimentos ou luta armada contra o poder estabelecido e contra injustiças sociais.

Revolta de Canudos: tensão no sertão da Bahia


Figura – Mídia Objetivo

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o
assunto, acesse o PORTAL
OBJETIVO (www.objetivo.br) e, em
“localizar”, digite HIST8F403

18
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O governo do presidente Prudente de Morais (1894-1898) foi abalado por um acontecimento muito
distante da capital federal. Uma revolta ligada à posse de terra eclodiu no interior da Bahia: o movimento
de Canudos.

Acompanhe a seguir os principais acontecimentos dessa revolta:

A Revolta

No início do ano de 1893 formara-se às margens do rio Vaza-Barris, na Bahia, uma comunidade de sertanejos
pobres. Seu líder – um beato (devoto religioso que faz pregações e profecias), apelidado de Antônio Conselheiro –
denominou a comunidade de Belo Monte, mas, devido à abundância de um tipo de vegetação chamada de
canudo-de-pito, o local ficou conhecido como Arraial de Canudos.
Praticando uma economia de subsistência, aos poucos o Arraial de Canudos atraiu um número cada vez maior
de camponeses, que para lá se dirigiam em busca de melhores condições de vida. A comunidade chegou a ter uma
população aproximada de vinte mil pessoas, que viviam segundo regras próprias. As terras e a produção eram coletivas.
Todos trabalhavam. Vivia-se de forma austera, as bebidas eram proibidas e toda a comunidade fazia orações ao
entardecer na igreja de Santo Antônio, construída pelos conselheiristas no arraial.
A liderança de Antônio Conselheiro atraía um número crescente de camponeses sem-terra. Seus discursos
religiosos, pregando a salvação divina, eram palavras de esperança para aquela parcela da população que não via o
governo como porta-voz de seus interesses e necessidades
Antônio Conselheiro pregava abertamente contra a República, que em sua visão traria o final dos tempos. O
arraial era considerado um lugar santificado, uma verdadeira “terra prometida”. Quanto mais crescia o povoado, mais
aumentava a preocupação da Igreja, do governo e dos coronéis, que viam seus poderes ameaçados.
A reação do governo republicano não demorou a acontecer. Os grandes proprietários de terra pressionaram o
poder local e o poder central, pois estavam perdendo mão de obra. Três expedições foram organizadas para destruir
o arraial. Todas fracassaram.
A reação dos conselheiristas foi feita em táticas de emboscada: de repente saíam da mata fechada aos gritos,
dando vivas ao Bom Jesus e a Antônio Conselheiro. Simultaneamente atacavam as tropas inimigas munidos de
espingardas, facas, facões e varapaus (madeira grande e pesada). As emboscadas eram facilitadas pelo conhecimento
que os sertanejos tinham da vegetação emaranhada e espinhosa da caatinga.
A vitória dos conselheiristas contra três expedições fez com que o presidente Prudente de Morais ordenasse a
formação de uma nova expedição, com mais de sete mil soldados, comandados pelo general Artur Oscar de Andrade
Guimarães.
O cerco a Canudos durou três meses. Em 1.º de outubro de 1897, o exército federal desfechou o ataque final,
fazendo uso de canhões e dinamites. Quatro dias depois, o arraial tinha sido completamente arrasado. Casas foram
incendiadas e sua população massacrada.

Para saber mais


Antônio Vicente Mendes Maciel, o beato Antônio Conselheiro, nasceu em Quixeramobim, no Ceará, em 1830, tendo
vivido muitos anos como um pacato comerciante. Casado, morou em várias cidades de sua região. Para alguns autores,
sua vida de beato e suas pregações começaram após ter sido abandonado por sua mulher, que fugiu com um policial.
Testemunhos da época o descrevem, em sua fase messiânica, como um homem moreno, de baixa estatura, com barba
e cabelos longos. Vestia normalmente um grande camisolão azul e caminhava com auxílio de um cajado (uma espécie
de bengala). Hábil orador, fazia pregações inflamadas anunciando o fim do mundo e defendia uma vida austera a todos
os seus seguidores. Colocando-se ao lado dos pobres, combatia os ricos e poderosos. O líder do movimento de Canudos
foi morto em 22 de setembro de 1897, alguns dias antes de o arraial ser completamente destruído.

19
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Museu da República

Museu da República
Corpo de Antônio Conselheiro, em imagem feita por
Flávio de Barros, fotógrafo da 4.ª expedição contra
Canudos.

Museu da República
Igreja de Santo Antônio, Igreja Velha. Fotografia de Flávio de Barros mostrando prisioneiras,
mulheres e crianças de Canudos.
(Fotografia de Flávio de Barros, 1897. In Lilia M. Schwarcz e
Heloisa M. Starling. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia (Cristina Coin. A Guerra de Canudos.
das Letras, 2015, encarte iconográfico, sem paginação.) São Paulo: Scipione, 1977.)

 7 – Vide orientações didáticas (página V).

1. Quais as motivações mais importantes do movimento de Canudos?


O movimento de Canudos revela o universo do Brasil rural, onde milhares de pessoas tentavam sobreviver a um estado de extrema miséria

e ignorância: um grande contingente de despossuídos lutando pela posse da terra.

2. Por que a repressão a esse movimento foi tão violenta?


A jovem República sentiu-se ameaçada pelo movimento. Com a derrota sofrida nas três primeiras tentativas de destruir o Arraial de Canudos,

o presidente Prudente de Morais autorizou uma quarta expedição, composta de duas divisões completas do Exército, que partiram do Rio

de Janeiro com o mais concentrado poder destrutivo reunido desde a Guerra do Paraguai.

20
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3. Explique a relação entre essa repressão e o poder dos coronéis e da Igreja Católica.
Há que se considerar também o fato de que o projeto do Arraial de Canudos ameaçava os grandes fazendeiros baianos, que perdiam sua

mão de obra em função da grande saída de camponeses em direção ao Arraial de Canudos. Quanto à Igreja Católica, havia um esforço para

tentar manter sua força e preponderância em um contexto de formação do Estado laico.

Ao concluir o item anterior,


você já pode realizar, em casa, a
Tarefa 25 “Do outro lado residem os ‘outros’”.

Uma onda de violência e saques no sertão: o cangaço


Além da precariedade da vida no Brasil rural devido à estrutura social, na passagem do século XIX
para o século XX a população sertaneja enfrentou um período agudo de secas, levando grandes
contingentes a viverem abaixo da linha da pobreza. Em um intenso movimento migratório, milhares de
camponeses vagavam em busca de emprego e melhores condições de vida.
Naquele momento histórico, bandos de homens armados, denominados cangaceiros, também
circulavam pelos sertões, saqueando propriedades, trens, vilas e armazéns. Virgulino Ferreira da Silva,
de apelido Lampião (1898-1938), liderou o bando mais famoso de que se tem registro.
Sobre os bandos de cangaceiros há muita controvérsia entre os historiadores. Há quem considere
que tiveram sua origem na situação de extrema miséria da população sertaneja. Menciona-se que
chegavam a roubar dos ricos e distribuir parte dos saques entre os pobres. Outros historiadores
consideram a ação dos cangaceiros
uma manifestação de pura violência,
sem nenhuma preocupação social. De
qualquer forma, sem sombra de
dúvida, eles expressam um duro
cotidiano de violência e marginalidade
social, característicos do período no
sertão nordestino.

Benjamin Abrahão fotografou e


filmou Lampião e seu bando, que
viviam na clandestinidade. Procure na
internet duas imagens, uma referente a
um dos cangaceiros e outra mostrando
todo o bando. Cole-as nos espaços
indicados nas páginas 21 e 22.

Ilustração 1.
21
C4_8o_Ano_Historia_TONY_2017_PROF 25/08/17 15:18 Página 22

Sob o signo da violência


Alguns personagens do mundo do crime, graças aos seus feitos ousados, à fama de invencíveis e ao poder que
adquirem em uma longa trajetória, alcançam tal notoriedade que acabam por fascinar os contemporâneos, obscurecendo
a seus olhos o lado mais perverso de sua personalidade e de seus atos.
Foi assim com Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião. Durante sua extensa carreira, que teve início em 1919,
no interior de Pernambuco, encerrando-se em combate, em 1938, no interior de Alagoas, ele criou tão vasta lenda em
torno de seu nome que, ainda em vida, foi tema de livros, poesias e inúmeras matérias de jornal. Sua história, seus feitos
e sua figura marcaram seu tempo e enriqueceram o imaginário do país, contribuindo para fortalecer a aura mítica criada
pela literatura regional em torno dos sertões brasileiros.
(...) Quem entrava no bando recebia logo um apelido dado por Lampião, que preferia nomes tirados de lugares,
pássaros, animais e forças da natureza, como Quixadá, Sabiá, Jararaca, Corisco. Era fácil fazer amizade com ele, pois,
fora das situações em que adotava uma atitude de grande pompa e seriedade, como nas entrevistas, gostava de festas
e de dançar ao som da sanfona. Entre uma ação e outra, o bando descansava, caçava e jogava cartas. Seu modo de
comandar fazia do cangaço um ambiente amigável e tornava o bando um grupo leal e coeso. No acampamento,
alimentados à base da modesta dieta de carne-seca ou cabrito assado, farinha e rapadura, a bebida era farta e o clima
animado. Sempre que possível havia música e, na falta de mulheres, que só passaram a integrar o bando em 1930, os
homens dançavam uns com os outros.
Os assaltos e visitas às cidades, quando bem-sucedidos, eram seguidos de grandes farras em que os membros do
grupo que tinham algum talento cantavam e tocavam, fazendo os típicos desafios da tradição cultural sertaneja. Lampião
também fazia seus versos e consta que seriam de sua autoria muitos que circularam no sertão relativos às suas aventuras.
Seria ele o autor da popularíssima canção “Mulher Rendeira”, verdadeiro hino de guerra do bando, que costumava
cantá-lo quando invadia cidades.
Embora Lampião tivesse pouca cultura e usasse um linguajar rude, falava bem, sem se perturbar, ouvia atentamente
e era cortês. Tinha plena consciência da própria importância e ficava francamente lisonjeado com a admiração que
despertava no povo. Gostava de ler ou de ouvir alguém ler jornais e revistas do Rio de Janeiro e de São Paulo,
principalmente para saber da repercussão de suas façanhas. Inteligente, articulado, organizado, astuto, hábil nos trabalhos
manuais, tendendo para a discrição e os hábitos elegantes, em outras circunstâncias talvez Lampião tivesse usado suas
grandes capacidades para fazer algo de útil à sociedade. Mas no mundo do sertão as opções para um jovem de família
modesta como a dele não eram muito variadas e as possibilidades de ascensão social remotíssimas. Então, de alguma
forma, pode-se dizer que ele foi um produto do seu meio. E que meio era esse?

(Isabel Lustosa. De olho em Lampião: violência e esperteza. São Paulo: Claro Enigma, 2011, p.11-13. Adaptado.)

22 Ilustração 2.
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 8 – Vide orientações didáticas (página V).


1. O professor deverá mediar a seguinte discussão: as ações do cangaceiro Lampião, no
sertão do nordeste, podem ser caracterizadas como banditismo social?
Os alunos poderão considerar que sim, posto que as ações de saques e roubos a armazéns, vilas e fazendas se constituem em práticas

que, segundo a ótica do historiador Eric Hobsbawn, devem ser entendidas na perspectiva de uma reação às arbitrariedades e injustiças

sociais ligadas à questão da posse da terra.

2. Sob a orientação do professor, a classe deverá responder à questão final do texto, proposta pela
autora Isabel Lustosa.
Em sua discussão, os alunos devem apontar que Lampião vivia em um meio de miséria e exclusão social, sem acesso à terra e ao trabalho,

oprimidos pelos coronéis latifundiários.

3. Em seguida, os alunos deverão argumentar se concordam ou não com a afirmação da autora no


sentido de Lampião ser fruto do seu meio social.
O professor deverá organizar um quadro na lousa: quantos alunos concordam e quantos não concordam com a afirmação da autora. A

classe também organizará esse registro, bem como as argumentações contra ou a favor da colocação da autora.

O fenômeno do messianismo e os conflitos sociais no campo não ficaram restritos a só uma região
do Brasil, demonstrando a resistência rural ao sistema político da época.
Acompanhe a seguir como se desenvolveu a Revolta do Contestado:

Contestado

Entre os estados do Paraná e de Santa Catarina, ocorreu uma rebelião envolvendo um líder messiânico, à
semelhança de Canudos. A região na qual os conflitos se desenrolaram era conhecida como Contestado, devido a
uma questão de disputa de limites que vinha ocorrendo entre os dois estados desde a época do Império.
A tensão se agravou no local devido à expulsão de posseiros e pequenos madeireiros, feita para facilitar a
construção de uma ferrovia ligando São Paulo ao Rio A região do Contestado
Grande do Sul que envolvia a participação de empresas
Figura – Mídia Objetivo

norte-americanas. Essas empresas também tinham


interesses na exploração da madeira. Centenas de
famílias foram desalojadas, passando a perambular em
busca de trabalho. Muitos seguiram José Maria, um líder
messiânico que pregava na região.
Entre 1912 e 1916, as vilas dos adeptos de José
Maria foram violentamente atacadas por tropas gover-
namentais. Foram derrotadas por um batalhão de sete
mil homens, comandado pelo general Setembrino de
Carvalho. Para se defender, contavam apenas com um
armamento precário, que incluía o uso de foices,
enxadas e facões. O saldo de mortes desses anos de luta
alcançou, segundo as fontes da época, cerca de dez mil
homens.
23
C4_8o_Ano_Historia_TONY_2017_PROF 25/08/17 15:18 Página 24

Em algumas ocasiões, as tensões sociais misturavam-se aos conflitos entre as elites regionais e o
poder federal. Acompanhe a seguir como esses conflitos se desenvolveram no Ceará:

Tensões no interior do Ceará

Rômulo Dawid / Fotoarena


A revolta no campo atingiu também o Vale do Cariri, interior do Ceará.
Ali os despossuídos encontraram uma promessa de esperança na figura de um
religioso. O padre Cícero Romão Batista, atuando entre a população miserável,
tornou-se famoso como profeta e fazedor de milagres. O “padim Ciço”, como
ele era chamado, trazia palavras de conforto e aconselhava a população
sertaneja de Juazeiro. Exercia forte liderança na região, envolveu-se na política,
tendo sido prefeito. Colaborou com líderes locais que, com auxílio de jagunços
armados, lutaram contra intenções do presidente Hermes da Fonseca de
combater o poder dos coronéis. Com essa intenção, o governador do Ceará,
que representava os interesses oligárquicos, havia sido destituído. De 1913 a
1914, o Ceará foi palco de lutas que acabaram por reconduzir ao poder as
oligarquias regionais.

Estátua de Padre Cícero.

Ao concluir o item anterior,


você já pode realizar, em casa, a
Tarefa 26 “Tensões sociais no campo”.

 9 – Vide orientações didáticas (página V).

Sua criação com a História

Elaboração de charge

Os primeiros anos da República no Brasil foram caracterizados por conflitos políticos, crises
econômicas e tensões sociais.
Oligarquias tentavam manter o controle tanto sobre seus estados quanto sobre o governo federal
e usavam a pressão econômica, a fraude eleitoral, a violência e acordos políticos para conquistar seus
objetivos. Controlar a política permitia que pequenos grupos usassem o aparelho do Estado e os recursos
públicos para seus objetivos privados.
Ainda assim, ocorriam contestações e revoltas contra as condições de vida, trabalho e exercício
político no Brasil.
Compreender as estruturas e os conflitos no momento inicial da República é importante para o
estudo da ideia de cidadania no Brasil.
Anote na página 39 as orientações de seu professor para a realização desta atividade de criação
com a História e a reflexão sobre esse assunto.

24
C4_8o_Ano_Historia_TONY_2017_PROF 25/08/17 15:18 Página 25

7.4. A economia na República Oligárquica: agricultura, finanças, indústria e


extrativismo A 53 e 54  10 – Vide orientações didáticas (página VI).

O Brasil, na formação da República, continuou dependente do latifúndio exportador, ligado


diretamente ao café. Isso criou, inclusive, mecanismos de proteção ao produto-rei. No entanto, não
impediu tentativas de industrialização, ainda que algumas fracassadas, ou mesmo a reorganização das
atividades financeiras do governo. Portanto, foi um período de grande efervescência econômica, o qual,
ao mesmo tempo, propiciou significativas mudanças, com a expansão do cenário urbano e a vinda de
milhares de imigrantes.

A hegemonia do café

O império trouxe como herança direta para a República a preponderância econômica do café. E isso se manteve
durante todo o período. A produção de café se beneficiou da facilidade de crédito internacional e da boa evolução
dos preços no mercado externo no início da República. O princípio do século XX foi um momento econômico marcado
pelo otimismo e pelo crescimento, em escala mundial. Isso imediatamente refletiu no crescimento da produção: era
de 6 milhões de sacas em 1886/96, passou para 9,3 milhões em 1896/97, chegou a 11,2 milhões em 1897/98 e
explodiu em 16 milhões em 1901-02. Em 1905, era esperada uma safra de 20 milhões de sacas. Isso se tornou um
problema porque o mercado mundial comprava 16 milhões de sacas, sendo que o Caribe produzia 4 milhões. O
resultado direto foi o decréscimo do preço naquele ano. Como vimos, toda a política nacional se estruturou em torno
do café. A melhoria das técnicas tornava evidente o crescimento da produção. Portanto, era necessário formular
mecanismos capazes de proteger, de alguma forma, o líder econômico do país.

A defesa do café: o Convênio de Taubaté


A dependência direta do mercado externo e o fato de o café não ser um gênero de primeira necessidade (ou
seja, qualquer pequena oscilação econômica – também conhecida como flutuação econômica – gerava uma imediata
diminuição da exportação) resultavam em problemas constantes para as oligarquias do país. Com isso, para tentar
acabar com tais balanços, os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro (os três maiores produtores) se
reuniram na cidade de Taubaté, em 1906, de onde saiu o “Convênio de Taubaté”.
Apoiados por bancos estrangeiros, esses estados comprariam o excedente de café em anos em que os preços
diminuíssem, com o objetivo de estabilizar os preços. Essa quantidade adquirida seria estocada e só colocada de volta
ao mercado em momento de aumento dos preços, garantindo assim o pagamento dos empréstimos concedidos para
a compra. Por fim, seriam desestimulados novos produtores – caso contrário, a produção ia ter aumento e mais café
seria necessário comprar. Essa política foi logo aceita para ser desempenhada pelo governo federal com o presidente
Afonso Pena (1906-09). No entanto, o grande problema de tal política era que o controle da oferta do produto para
o mercado externo (nos momentos de crise) acabava resultando na abertura de mercado para os concorrentes, como
o Caribe, ou a Colômbia (por meio de investimento dos Estados Unidos).

A defesa do café: socialização das perdas


A defesa do grande produto do país não parou com o Convênio de Taubaté. Os economistas ainda estabeleceram
um segundo mecanismo: a socialização das perdas. Em momentos de queda do preço do café, o governo brasileiro
manejava o câmbio, ou seja, aumentava a desvalorização da nossa moeda (os réis) em comparação com as libras.
Com isso, os cafeicultores continuavam a ganhar (na moeda local) valores muito próximos, mas o restante da
população, em um mercado brasileiro bastante dependente das importações, sofria com os constantes aumentos de
preços resultantes da dependência de produtos do mercado externo) e com o câmbio mais elevado. Portanto, na
prática era um sistema perverso para a maior parte do país, na medida em que era extremamente prejudicada, para
o benefício de poucos – justamente os que dominavam o poder.

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A partir do que você aprendeu, resolva o que se pede nos exercícios a seguir.

1. Quais foram os fatores que geraram a superprodução do café?


O café, como grande produto econômico do país, atraía um constante crescimento de produtores. Além disso, podemos citar a melhoria

das técnicas de produção.

2. Por que havia oscilações do preço do café?


Porque o café era um produto dependente do mercado externo e não era um gênero de primeira necessidade.

3. O que foi o Convênio de Taubaté?


Política de valorização do café promovida pelos maiores estados produtores (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), a qual logo foi

adotada pelo governo federal.

4. Por que o Convênio de Taubaté gerou problemas na

Ingimage / Fotoarena
economia do café?
Porque, ao controlar o preço do produto a partir da produção brasileira,

abria espaço para que os concorrentes aumentassem sua fatia no mercado.

5. O que era a socialização das perdas?


Era um mecanismo criado pelo governo que consistia na desvalorização

da moeda nacional para aumentar o lucro dos exportadores, o que

resultava no aumento do valor dos produtos importados, afetando a

população do país.

Ao concluir o item anterior,


você já pode realizar, em casa, a
Tarefa 27 “A defesa do café”.

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO
26 (www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST8F404
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A cafeicultura, apoiada pelo Convênio de Taubaté e pela socialização das perdas, manteve-se
extremamente atuante no Brasil até a crise mundial de 1929. Devido a esse enorme colapso, que teve
repercussões imediatas em quase todo o mundo, o preço do café despencou. No início de outubro de
1929, o “café de Santos 4” custava 22,4 cents de dólar por libra-peso; passou para 15,2 em dezembro;
e chegou a 10,5 em 1930.
Antes da grande crise, no entanto, houve espaço para tentativas de estabelecimento do
desenvolvimento industrial e de outras atividades, ainda que essas tentativas não representassem uma
política sistemática e duradoura. Um exemplo foi o encilhamento

O encilhamento

Apesar de toda a força associada ao café, logo no início da República, em nome da modernização do país, no
governo de Deodoro da Fonseca, o ministro da Fazenda, Rui Barbosa, procurou criar uma política de desenvolvimento
industrial. Sua ideia era a emissão de moeda sem lastro (ou seja, sem um padrão de valor real, como o ouro), a fim
de aumentar o meio circulante e promover a industrialização. Assim, o Estado entraria como parceiro no financiamento
de novas indústrias e promoveria a facilidade de pagamento dos trabalhadores, já que a escravidão havia acabado.
Como dizia Rui Barbosa:

A República se consolidará entre nós em bases seguras, quando o seu funcionamento repousar sobre
a democracia do trabalho industrial, peça necessária no mecanismo do sistema, que trará o equilíbrio
conveniente para o seu regular funcionamento.
(Apud Fausto Boris (Org.). História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Republicano:
estrutura de poder e economia. São Paulo: Difel, 1977, p. 33.)

No entanto, essa enorme quantidade de dinheiro gerada no mercado não resultou em produção. Muito pelo
contrário. Os empréstimos foram concedidos, mas as empresas não apareciam (eram as empresas fantasmas). Isso
fez o dinheiro nacional perder valor muito rápido. Apesar de certa euforia em 1891, houve um pânico generalizado,
uma verdadeira crise com especulação financeira. Muitas empresas faliram, e a inflação (ou seja, quando ocorre o
aumento dos preços) saiu do controle. Era o encilhamento (nome dado ao momento em que os cavalos são preparados
para a corrida, já na linha de largada, e as últimas apostas são feitas – para ilustrar a corrida à bolsa que foi feita com
a especulação de valores promovida por Rui Barbosa).

Analise a charge abaixo:


Biblioteca Nacional

(Pereira Neto.
Encilhamento.
Revista Illustrada, dez.
1890, n.° 610, p. 4.)

27
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1. Quais são os elementos existentes na charge?


O público expectador, o homem das ações e um grupo de homens que controlam o corredor.

2. Como a cena retratada na charge representa a política de emissão de moeda do ministro Rui
Barbosa?
É possível entender que a charge procura analisar a corrida com o dinheiro emitido no mercado pelo ministro Rui Barbosa, que produziu

certa euforia, mas que logo levaria as empresas à falência.

Durante a República Oligárquica, o governo brasileiro tentou reorganizar as contas públicas,


principalmente após o fracasso do encilhamento. Para isso, estabeleceu o “Funding Loan” (Fundo de
Empréstimos), em junho de 1898, no governo de Prudente de Morais, com o apoio do futuro presidente
Campos Sales, que seria eleito em novembro do mesmo ano. Como o próprio nome indica, foi uma
renegociação da dívida externa. Com muitas dívidas e sofrendo com a crescente inflação após o
encilhamento, o governo brasileiro decidiu pedir ajuda à Inglaterra, seu maior credor. O acordo garantia
uma moratória de 13 anos – ou seja, o governo deixaria de pagar a dívida por esse período. Nos três
primeiros anos, não pagaria nada. Nos 10 anos seguintes, pagaria pequenas parcelas referentes aos
juros. Receberia ainda mais 10 milhões de libras para quitar as contas em aberto. Por fim, o governo
brasileiro assumia novos compromissos: o primeiro era não emitir mais moeda (para evitar aumentar a
inflação); o segundo era não se comprometer com novos empréstimos. A garantia do empréstimo seria
toda a renda da alfândega do Rio de Janeiro e, caso necessário, das demais alfândegas do país, ou ainda
do serviço de abastecimento de água do Rio de Janeiro, ou da estrada de Ferro Central do Brasil.
Fica evidente, portanto, que, de um lado, o Brasil tentou no início da República certo investimento
industrial, mas que logo fracassou – foi a política do encilhamento. A partir daí passou a tentar
reorganizar as contas públicas, o que não durou muito tempo. Logo a seguir, de outro lado, o governo
passou a manter uma política de valorização do café, que gerava constantes pagamentos aos
financiadores internacionais. Apesar disso, ainda houve certo crescimento industrial, além do ciclo da
borracha.

Industrialização e imigração na Primeira República

O Brasil nunca passou por um processo de revolução industrial, ou seja, não houve uma mudança abrupta de
concepção econômica que rapidamente mudou o país de rural para industrial. Ainda assim, parte da economia do
país se dedicaria ao meio industrial, principalmente a partir da aplicação dos excedentes de capital propiciados pelo
café. Além disso, a facilidade para obtenção de energia elétrica, o crescimento do mercado consumidor interno, o
afluxo de capitais (principalmente estrangeiro) e ainda a chegada dos imigrantes (mão de obra especializada) podem
ser apontados como fatores importantes desse processo. Em 1907, o Rio de Janeiro, como Distrito Federal (a cidade
do Rio de Janeiro sozinha), era a região com maior desenvolvimento industrial: representava 33,2%. São Paulo possuía
16,6% e o Rio Grande do Sul detinha 14,9%. De 1920 em diante, o quadro mudou: São Paulo passou a ser o maior
centro industrial do país.

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O fator marcante naquele período para certa efervescência industrial foi a Primeira Guerra Mundial (1914-18).
Por causa do conflito, os países europeus deixaram de produzir para exportar, concentrando suas forças econômicas
no confronto. Assim, o Brasil, como outros países importadores de produtos industrializados, passaram a produzir
aqui o que antes compravam de fora – é a industrialização por substituição de importações. É importante destacar
que o maquinário, ou seja, os instrumentos de produção, era importado. A produção é que passou a ser feita por
aqui. Veja os dados a seguir:

Sumário de censos industriais, 1907-1919

Valor da
Número de Trabalhadores Cavalos de Capital
Censo produção
fábricas empregados força (000 mil-réis)
(000 mil-réis)

1907 2.988 136.420 114.555 668.843 580.691

1919 13.336 275.512 310.424 2.989.176 1.815.156


(Apud Boris Fausto (Org.). História geral da civilização brasileira. O Brasil Republicano:
estrutura de poder e economia. São Paulo: Difel, 1977, p. 258.)

Na década de 1920, o país já tinha uma grande lista de produtos aqui confeccionados, como itens de alumínio,
de esmalte, de porcelana ou de vidro, dentifrícios (pastas de dentes), baterias, lâminas de barbear, pentes, papel
fotográfico, fogões, objetos de escritório, baterias, ou mesmo discos de vitrolas. Até algumas máquinas começaram
a serem produzidas no país, depois da Grande Guerra, como para pesagem, para fazer cimento ou aço, ou ainda
motores elétricos, máquinas de locomotivas ou têxteis. Muito desse processo foi devido à iniciativa de grandes
industriais imigrantes que passaram a operar no país. Alguns deles vieram com capitais; outros fizeram fortuna no
Brasil.

As atividades industriais estavam ligadas ao crescimento do número de imigrantes no país. Entre


1884 e 1940, chegaram ao Brasil mais de 4 milhões de imigrantes, sendo que, entre 1887 e 1906,
1,2 milhão foi o número dos que chegaram ao estado de São Paulo. Alguns vieram para serem donos
das empresas; outros, no entanto, formaram o grupo de operários (e outros tantos, a maior parte do
grupo, foram trabalhar no café). A vinda dos imigrantes estava ligada, diretamente, ao interesse de
“fazer a América”, ou seja, garantir melhores condições de vida fora de uma Europa cada vez mais
industrializada e sem capacidade de absorver toda a mão de obra ali existente. Ao mesmo tempo, o
“Novo Mundo” era propagado como uma terra de enormes oportunidades, em que todos que
desejassem trabalhar arduamente receberiam ótimas recompensas econômicas. Nas fábricas de São
Paulo, os imigrantes chegaram a ser 70% dos trabalhadores, em 1893. Já no Rio de Janeiro, 39%, em
1890.
A enorme preponderância dos imigrantes que chegaram ao Brasil durante o início da República era
de europeus, dentro do projeto das elites de “embranquecimento do país”. Em 1908, apesar disso,
chegaram os primeiros imigrantes japoneses, no navio Kasato Maru, em Santos; vieram inicialmente
para trabalhar no café, mas, aos poucos, passaram a se fixar no campo como pequenos proprietários.
No geral, os italianos foram a maioria: 35,5% do total; depois os portugueses (29%); e os espanhóis
(14,6%).
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Você conhece alguém que seja um imigrante/migrante? Quem é e quais foram as motivações para a
saída dessa pessoa de sua região de origem?
É interessante o aluno percorrer seu grupo de convívio pessoal para encontrar alguém que, por motivos econômicos, políticos, sociais ou

religiosos, tenha entendido ser necessário sair de sua terra natal.

Apesar do café, da política de controle econômico e do crescimento industrial, o Brasil seria


surpreendido por um interesse internacional extremamente significativo, de um produto da região
amazônica: a borracha extraída do látex. Observe a seguir como se desenvolveu o boom da borracha no
país:

Boom da borracha

Durante o final do século XIX e o início do século XX, a Europa passou a viver um intenso clima de otimismo e de
várias mudanças ligadas ao desenvolvimento técnico e tecnológico, chamada de “belle époque”. Naquele momento,
o látex passou a ser procurado, com grande desejo, pela indústria. Para sua extração, era necessário explorar a planta,
nativa da floresta Amazônica. Então, houve ali um notável desenvolvimento. Muitos trabalhadores do Nordeste foram
para a Região Norte em busca de melhores condições de vida, como os provenientes do Ceará, depois da enorme
seca de 1877/78 e seus efeitos – além de outras secas menores subsequentes.
Graças à borracha, cidades como Belém e Manaus viveram a efervescência da “belle époque”. Em Manaus,
surgiu um fantástico teatro, além linhas de bonde e de telefone, água encanada e mesmo iluminação elétrica. Muito
dessa riqueza estava relacionada, diretamente, à manifestação do coronelismo na região; eram os chamados “coronéis
da borracha”, que ostentavam suas fortunas.
Leo Francini / Alamy / Fotoarena

Foi nesse contexto que o Brasil negociou


com a Bolívia a aquisição do Acre. Após um
período de embates militares na região, onde
os brasileiros chegaram até a criar o Estado
Independente do Acre (1902), o Barão de Rio
Branco conseguiu um acordo que satisfazia
ambas as partes. Pelo tratado de Petrópolis,
em 1903, o Brasil recebia o Acre (cerca de
152.000 km2) mediante uma indenização de
2 milhões de libras, mais um território em
Mato Grosso (3.200 km2) e a promessa da
construção da Estrada de Ferro Madeira-Ma-
moré, que garantiria uma rota de escoamento
da produção boliviana através do Rio
Amazonas.
Teatro Amazonas.
No entanto, o desenvolvimento da
borracha não foi duradouro. A concorrência com as colônias inglesas e holandesas na Ásia acabou dominando o
mercado. Ali a exploração gerava um preço menor e, em contrapartida, era cada vez mais caro avançar para o interior
da Amazônia em busca do látex.

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O quadro econômico do Brasil, na prática, manteve o domínio dos grupos econômicos dominantes
associados ao café, mesmo com certo crescimento industrial. Os trabalhadores, por sua vez, sofriam
com a forte exploração perpetuada tanto no campo quanto na cidade. Mesmo quando aquele novo
produto surgiu, a borracha, as relações continuaram a ser opressoras. Não foi à toa que movimentos de
resistência surgiram.

A 55 e 56
7.5. Resistências urbanas: tensões nas cidades
Você estudou movimentos sociais no campo que ocorreram no início do século XX. As cidades foram
também palco e cenário de tensões que abalaram a jovem República e exigiram a intervenção dos
primeiros presidentes republicanos. Como você estudou anteriormente, a maior parte dos investimentos
governamentais era destinado à agricultura, fortalecendo as oligarquias regionais, especialmente a
oligarquia cafeeira. Nesse sentido, destacam-se os efeitos da riqueza acumulada pelo café e pela borracha
na estruturação de cidades como São Paulo, Campinas, Belém, além da própria capital federal, o Rio de
Janeiro, que tanto se beneficiaram desse movimento de urbanização.

Revolta da Vacina: a cidade do Rio de Janeiro em “pé de guerra”


A cidade do Rio de Janeiro, capital da República e centro cultural do país, enfrentava problemas no
início do século XX. O crescimento da população e a falta de moradias levaram ao aumento do número
de cortiços, casas sem estrutura e compartilhadas por grande quantidade de pessoas.
Com a sujeira e a falta de saneamento, as epidemias de varíola – doença infecciosa aguda que
apresenta manifestações de pústulas (bexigas) que ao estourar deixam cicatrizes – e de febre amarela
eram frequentes, sendo as principais causas de morte entre a população.
O porto exigia reparos e a tripulação de muitos navios temia atracar na cidade por causa das
epidemias, fato grave para uma capital federal e importante centro de exportação.
A necessidade de reforma urbana da cidade se impunha, sendo defendida por médicos-higienistas,
engenheiros e políticos. Estes acreditavam que sua realização traria benefícios também para o regime
político republicano, que buscava sua identificação com o progresso e a civilização. Pretendia-se que o
Rio de Janeiro se tornasse um verdadeiro “cartão-postal” do novo regime. O exemplo a ser seguido era
Paris, capital europeia que anos antes havia sido palco de uma ampla remodelação urbana, com abertura
de largas avenidas e a transformação do centro urbano em local de desfrute da burguesia.
Durante a administração do prefeito Pereira Passos (1902-1906), assistiu-se a um verdadeiro “bota
abaixo”. A cidade do Rio de Janeiro passou por reformas que levaram à destruição de antigos edifícios,
ainda do período colonial, e à construção de outros, ditos “modernos”. Para facilitar a circulação no
centro e torná-lo mais elegante, abriram-se avenidas como a Central e a Beira-Mar. Para tanto, foram
destruídos vários cortiços. Com isso, os preços dos aluguéis e dos terrenos na região subiram muito. A
solução para os desalojados e pobres foi passar a viver nos morros ou em locais distantes. Nesse contexto,
surgiu a primeira favela no Rio de Janeiro, no Morro da Providência.

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Para debelar uma epidemia


Entendo que o foco de epidemia exista nessas casas chamadas cortiços. Propus a disseminação forçada dos
indivíduos que aí vivem, respirando um ar insuficientíssimo, como o único meio possível de debelar, senão totalmente,
ao menos em grande parte, a epidemia que parece tomar grandes proporções. [...]
Ao propor essa medida não tive em vista entrar por essas casas e expulsar os moradores, dando-lhes as ruas por
moradas, porém reduzir os habitantes dos cortiços ao número rigorosamente comportável a essas casas. Se em um
quarto o ar é somente suficiente para duas pessoas, deve-se remover as 18 ou 20 para as quais o ar existente torna-se
confinado, e que entretanto aí vivem.
(Ataliba de Bomensoro. Pronunciamento de 30 de janeiro de 1873 na Academia Imperial de Medicina do Rio de Janeiro. In Annaes
Brasiliensis de Medicina 1873. Apud Maria de Lourdes Mônaco Janotti (Org.). Coletânea de documentos históricos para o 1.º grau:
5.ª a 8.ª séries. São Paulo: Secretaria do Estado da Educação, 1985, p. 38. Adaptado.)

(Fotografia de Augusto Malta. Av. Central vista do Teatro


Municipal, 1905, no Rio de Janeiro. Revista História Viva,
n.o 4, fev. 2014.)

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A proposta do autor do documento histórico desrespeita a população dos cortiços? Por quê?
Os alunos podem considerar em sua resposta que o autor associa as doenças e a presença de ratos no Rio de Janeiro com a pobreza,

notadamente dos descendentes de escravos agora libertos. O poder público passa a adotar medidas de expulsão dessas pessoas para as

áreas mais distantes, como os morros cariocas.

A reforma urbana e a obrigatoriedade da vacinação levaram a um conflito entre a população do


Rio de Janeiro e as autoridades da cidade. Acompanhe a seguir como se desenvolveu a Revolta da Vacina:
11 – Vide orientações didáticas (página VI).

A Revolta da Vacina

Durante o processo de reurbanização do Rio de


Janeiro, o governo agiu de forma autoritária. Parte da
população teve suas moradias demolidas. Houve também
uma intensa campanha de limpeza e desinfecção da
cidade, que teve apoio do médico sanitarista Osvaldo Cruz.
Funcionários do serviço sanitário entravam nas moradias
das pessoas pobres e, com apoio até mesmo de tropas
policiais, desinfetavam à força residências e vacinavam a
população contra a varíola.
A varíola assustava a população da cidade, causando
muitas mortes. Na época, a ciência médica vinha
conseguindo desenvolver as primeiras vacinas. Muitos
desconfiavam dessa novidade, temendo que, ao invés de
se proteger, pudessem contrair a doença. No final de
outubro de 1904, o governo decretou a vacinação
obrigatória contra a varíola. A população da capital federal
se revoltou contra o que entendeu ser mais uma atitude
autoritária do governo da jovem República e, durante uma
semana, as ruas da cidade foram ocupadas por
manifestações e agitações populares. Houve destruição de
prédios públicos, tombamento de bondes e saques, aos
quais o governo reagiu duramente, ocasionando a morte
de várias pessoas. Para controlar a revolta, foram utilizados
navios de guerra que chegaram a bombardear a Praia
Vermelha. Após reassumir o controle da cidade, o
presidente Rodrigues Alves decretou que a vacinação não Osvaldo Cruz e o saneamento do Rio de Janeiro, em caricatura
seria mais obrigatória, mas sim opcional. francesa de 1911.
(H. Frantz. Revista Chanteclair, 1911.)

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Biblioteca Nacional
Bonde virado na Praça da República durante a (Charge de Leonidas Freire (1882-1943).
Revolta da Vacina, em novembro de 1904, O Malho, n.º 111, 29 out. 1904.)
na cidade do Rio de Janeiro-RJ.
(A Revista da Semana, publicada
Ao concluir o item anterior,
em: 27 nov. 1904.)
você já pode realizar, em casa, a
Tarefa 28 “A Revolta da Vacina”.

Marinheiros revoltam-se contra castigos físicos: Revolta da Chibata


A Marinha Brasileira, ao longo de sua história, sempre se considerou a elite das Forças Armadas.
Fazia parte de sua cultura a aplicação de castigos físicos toda vez que os marinheiros cometiam alguma
falta. Após a proclamação da República, a Marinha aboliu essa prática. Um ano depois, porém, foram
novamente estabelecidos os castigos físicos.
Os marinheiros viviam em estado de constante tensão, pois rotineiramente um deles era castigado.
Em 1910, a situação explodiu numa rebelião, que ficou conhecida como Revolta da Chibata.

A Revolta da Chibata

Photo12 Collection / Alamy / Fotoarena


No dia 22 de novembro de 1910, um marujo foi punido com 250
chibatadas, na presença de toda a tropa e ao som de tambores. O motivo: o
marujo havia agredido um marinheiro com uma navalha.
À noite, os marinheiros, liderados pelo marujo João Cândido – que passou
a ser conhecido como Almirante Negro –, tomaram os dois mais importantes
navios da Marinha, os encouraçados Minas Gerais e São Paulo. Expulsaram os
oficiais, e aqueles que demonstraram resistência foram mortos. Os revoltosos
exigiam o fim dos castigos físicos, melhoria no tratamento dispensado aos
marinheiros e anistia (perdão) aos rebelados. O líder João Cândido ameaçou
bombardear a cidade do Rio de Janeiro caso suas reivindicações não fossem
atendidas.
O marechal Hermes da Fonseca, presidente da República, assinou o decreto
que abolia os castigos físicos na Marinha e concedeu anistia aos marinheiros
rebelados. Mas, dois dias depois, o presidente não cumpriu o prometido: os
revoltosos foram expulsos da Marinha. Observe a dimensão das punições:
• 25 marinheiros foram mortos;
• 16 marinheiros morreram de sede e calor no presídio da Ilha das Cobras; João Cândido,
• 105 marinheiros foram expulsos para a região Amazônica; durante a líder da
viagem, 9 foram fuzilados. Revolta da
Chibata.
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João Cândido conseguiu sobreviver à prisão na Ilha das Cobras. Em 1911, foi internado, como louco
e indigente, no Hospital Nacional de Alienados. Em 1912, todos os participantes da Revolta da Chibata
foram absolvidos. O Almirante Negro faleceu em 1969, aos 89 anos, pobre e esquecido.
 12 – Vide orientações didáticas (página VI).
A abolição da escravatura deu-se em 1888; e a Revolta da Chibata ocorreu em 1910. A
maioria dos marinheiros rebelados era afrodescendente; e o líder João Cândido era filho
de escravos. Pode-se estabelecer uma relação histórica entre esses fatos?
Certamente os grupos podem responder que sim, pelo fato de a Marinha, que se considerava elite dentro das Forças Armadas, julgar-se

legitimada a cometer violências físicas contra negros, mulatos e pobres. A chibatada reporta-se ao tronco, onde os escravos eram

chicoteados por seus feitores e senhores.

Os trabalhadores se organizam em torno de greves e manifestações operárias


O início da jovem República acompanha o processo de implantação do capitalismo industrial no
Brasil, momento histórico em que ocorreram mudanças significativas na sociedade de nosso país.
Costuma-se situar entre 1880 e 1920 o início da formação da classe operária brasileira. Paralelamente,
assiste-se também ao surgimento da burguesia industrial como um setor diferenciado da elite
agroexportadora de café. Até 1920 a maior parte do operariado brasileiro era formada por imigrantes.
Os italianos eram a maioria, seguidos de portugueses e espanhóis. Muitos italianos tinham vindo para a
lavoura de café, mas se dirigiram depois para as cidades. Outros, que haviam chegado mais tarde, já
tinham se fixado diretamente nos centros urbanos.

A mão de obra nas primeiras indústrias


Os imigrantes foram amplamente majoritários em São Paulo (há quem chegue a afirmar que, em 1901, nove de
cada dez trabalhadores eram estrangeiros) e em certas áreas industriais do sul do país. Também na capital federal e em
algumas cidades mineiras tiveram um peso considerável. Já no Norte e no Nordeste o impacto da imigração foi menos
significativo. Ainda em 1920, passada a grande onda imigratória, os estrangeiros representavam 51% dos trabalhadores
industriais em São Paulo e 35% no Rio de Janeiro.
No município de São Paulo, segundo os dados do censo populacional de 1920, as mulheres representavam 29% do
total de trabalhadores empregados em todos os ramos da indústria, mas no setor têxtil essa participação saltava para
58%. Já no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, a participação das mulheres entre os trabalhadores era ligeiramente
inferior à de São Paulo, 27%, mas no setor têxtil era de apenas 39%.

(Cláudio Batalha. O movimento operário na Primeira República. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000, p.10-12. Adaptado.)

Ao concluir o item anterior,


você já pode realizar, em casa, a
Tarefa 29 “População e trabalho nas indústrias”.

No Portal Objetivo
Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO
(www.objetivo.br) e, em “localizar”, digite HIST8F405
35
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Saiba como era a vida desses operários dentro e fora das fábricas:

O operário e a fábrica

Como não havia legislação social ou trabalhista que regulamentasse a atividade operária, a maioria das fábricas
obrigava seus funcionários a cumprir jornadas de trabalho que variavam entre 10 e 16 horas. Não havia descanso semanal
remunerado ou férias, e era comum o trabalho de mulheres e crianças, conforme mostra o relato histórico publicado no
jornal A Plebe.
Na Fábrica Mariângela, como aliás em quase todos os ergástulos industriais, continuam as crianças a
ser vítimas da ganância do conde que ainda há pouco esbanjou somas enormes em provocadora ostentação
de grandezas.
Na seção de fiação, principalmente, a situação dos obreiros é insustentável, pois se chega a ganhar
salários mensais de 60$000 e 70$000. Ali o pessoal é composto em sua maioria de menores, sujeitos às
brutalidades do mestre, um tipo inconstante e prepotente, que vive a se espojar aos pés dos direitos da
fábrica, tratando, ao mesmo tempo, os operários assim com atitudes de quem pretende ter o rei na barriga.
(A Plebe, 20 mar. 1920.)

Dentro das fábricas, os operários estavam sujeitos a rígidos códigos disciplinares, com castigos físicos e multas no
caso de erros ou falhas. Nem mesmo as crianças escapavam, levando surras e castigos violentos. Não se podia ir ao
banheiro sem autorização, ou lá se demorar, participar de sindicatos ou greves, conversar ou brincar. Em qualquer desses
casos podia-se levar uma punição. O relato histórico a seguir, tambem publicado no jornal A Plebe, ilustra bem o problema:

O crime na Fábrica Penteado


Damiano Cacciolito, em idade escolar, encostou para descansar na fábrica porque sentia dores de dente.
Foi devorado por cães a mando da fábrica. Morreu. No enterro ocorreu um protesto, com trabalhadores de
ambos os sexos.
(A Plebe, 4 nov. 1917. Adaptado.)

A vida dos operários fora das fábricas também era muito difícil. Morava-se precariamente, muitas vezes em cortiços
e quase sempre em bairros afastados. Os bairros operários que surgiram nessa época situavam-se, frequentemente, nas
áreas mais insalubres das cidades. Comia-se mal e vivia-se com dificuldades, sem recursos para a educação ou para o lazer.
Deve-se ressaltar que a classe operária havia se constituído como grupo diferenciado na Primeira República no interior
da cultura urbana. Jornais e associações operárias, clubes recreativos, teatro, música, bandas e grupos de ação cultural
compunham algumas das manifestações dessa classe.
A mobilização da classe operária em defesa de seus direitos e em busca de melhores condições de vida foi intensa du-
rante a Primeira República. As reivindicações visavam a aumentos salariais e à fixação de uma jornada de trabalho de 8
horas.
As greves ocorreram no país desde o início do século XX, especialmente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
Atingiram algumas categorias profissionais isoladamente, como gráficos, vidreiros e ferroviários, entre outras.
Os trabalhadores urbanos, operários e artesãos haviam-se organizado, desde o século XIX, em associações de auxílio
mútuo, que prestavam socorro aos seus associados em caso de doença, viuvez ou outras necessidades. Na jovem
República, surgiram os primeiros sindicatos, que se definiam por defender os interesses dos trabalhadores. O movimento
trabalhista levou à criação de associações operárias, como a Confederação Operária Brasileira (COB), em 1908.
Os sindicatos lutaram pela melhoria das condições de vida e de trabalho da classe operária. Tinham também ideais
políticos de transformação social. Muitos dos imigrantes que vieram para o Brasil conheciam as ideias socialistas que
circulavam na Europa e passaram a difundi-las.
Ainda que houvesse outras correntes políticas entre os operários, a tendência predominante, até meados dos anos
1920, foi o anarco-sindicalismo.

Vocabulário
Anarco-sindicalismo: é um desdobramento do anarquismo, que você estudou anteriormente. Sua base ideológica
considera o sindicato como o principal órgão de luta e de organização da classe operária. Entende que somente a ação
direta nas fábricas e a greve geral seriam os mecanismos de transformação radical da sociedade capitalista.

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O movimento operário foi especialmente ativo nos últimos anos da década de 1910, havendo a
ocorrência de diversas greves. Em 1917, a partir de uma manifestação que começou em São Paulo entre
os trabalhadores da indústria de tecidos Crespi, teve início uma das mais memoráveis greves da história
do movimento sindical brasileiro. No dia 9 de julho de 1917, a polícia paulista matou o jovem sapateiro
espanhol José Martinez, em uma manifestação grevista de apoio aos trabalhadores daquela tecelagem,
que tinha um grande número de mulheres e crianças entre seus funcionários.

Greve geral de 1917


em São Paulo. Enterro
do sapateiro José
Martinez. Sua morte
pela polícia eletrizou o
movimento grevista.
Observe a presença de
bandeiras negras,
símbolo do anarco-sin-
dicalismo.

(Boris Fausto. História


do Brasil. São Paulo:
Editora da Universidade
de São Paulo, 2000,
p. 301.)

Saiba mais sobre esse assunto lendo o trecho abaixo:

Greve geral de 1917


O movimento grevista abrangeu praticamente toda a classe trabalhadora da cidade, em um total de 50 mil pessoas.
Durante alguns dias, os bairros operários do Brás, da Mooca e do Ipiranga estiveram em mãos dos grevistas. O governo
mobilizou tropas, e a Marinha mandou dois navios de guerra para Santos. Afinal, chegou-se a um acordo com os
industriais e o governo pela mediação de um Comitê de Jornalistas. Houve um aumento de salários, aliás logo corroído
pela inflação, e vagas promessas de se atender às demais reivindicações.
A onda grevista arrefeceu a partir de 1920, seja pela dificuldade de alcançar êxitos, seja pela repressão. Esta se abateu
principalmente sobre os dirigentes operários estrangeiros que tinham papel importante como organizadores. Muitos
deles foram expulsos do país. Em janeiro de 1921, o Congresso aprovou duas leis que dotaram o governo de instrumentos
repressivos. Uma delas previa a expulsão de estrangeiros cuja conduta fosse considerada nociva à ordem pública ou à
segurança nacional. A outra regulou o combate ao anarquismo, considerando crime não só a prática de atos violentos
como “fazer a apologia dos delitos praticados contra a organização da sociedade”. Por aí se atingia o direito de expressão.

(Boris Fausto. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2000, p. 301-302.)

Após a leitura atenta do trecho do historiador brasileiro Boris Fausto, registre no espaço abaixo três
palavras-chave que sintetizem o texto.
Os alunos poderão considerar em sua resposta: greve, repressão, direito de expressão, entre outras palavras-chave.

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Greve geral em São Paulo, 1917. Multidão de grevistas descendo a ladeira do Carmo.
(Boris Fausto. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000, p. 301.)

Trabalhadores cruzam os braços em uma fábrica em São Paulo.


(Arquivo Agência Estado, jun. 1917.)

Ao longo deste caderno, você estudou as estruturas políticas, econômicas e sociais da chamada
República Velha. A predominante oligarquia cafeicultora marcou as tentativas de modernização de cunho
conservador (industrialização e reformas urbanas). No entanto, a hegemonia oligárquica foi enfrentada
por resistência de diversos grupos sociais.
Como as estruturas da República foram substituídas por novos projetos de nação é o que você
estudará no próximo ano.

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Sua criação com a História

Anote as orientações de seu professor e desenvolva em grupo a seguinte proposta:

Charge

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TAREFA 23 República da Espada

Nome: Data: ____/____/____ Sala:

A seguir você encontrará alguns exercícios sobre a República da Espada. Resolva-os com atenção,
verifique os resultados e busque seu professor em caso de dúvidas.

1. Observe as afirmações sobre a transição da Monarquia para a República e julgue sua validade:
I. Não existia um consenso sobre o modelo de República que seria aplicado no Brasil.
II. Apesar de proclamada por militares, a República era de interesse de vários grupos da sociedade.
III. A “Proclamação da República” ficou marcada pela forte resistência por parte de dom Pedro II.
IV. Apesar de surgir em um episódio sem grandes conflitos, a fase inicial da República ficou
caracterizada por uma série de revoltas.
V. A Monarquia teve dificuldades de se adaptar ao contexto final do século XIX, por isso perdeu o
apoio de vários grupos sociais.
a) Apenas as afirmações I e II estão corretas.
b) Apenas a afirmação III está correta.
c) As afirmações I, II, IV e V estão corretas.
d) As afirmações I, III, IV e V estão corretas.
e) Apenas as afirmações IV e V estão corretas.
Resolução: C

2. Sobre a Constituição de 1891, podemos afirmar que:


a) deu ao governo federal controle total sobre as rendas do país.
b) proibia toda e qualquer intervenção do governo federal sobre os Estados.
c) manteve a hierarquia social do Império e, dessa forma, o Brasil continuou a ter uma nobreza nomeada
pelo Estado.
d) extinguiu o Poder Moderador, optando pela harmonia e pela independência entre os poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário.
e) não previa situações de substituição do Presidente.
Resolução: D

3. Sobre a República, assinale V para as afirmações verdadeiras e F para as falsas. Em seguida, indique
a alternativa correta:
( ) Entre 1889 e 1930, o Brasil viveu o período da República Velha.
( ) O termo República da Espada surgiu devido ao excesso de guerras no período.
( ) Apesar de ter surgido de uma guerra civil, a República Velha não sofreu com revoltas e oposições.
( ) O presidente e seu vice eram militares, por isso o uso do termo República da Espada.

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( ) Por ter proclamado a República, o marechal Deodoro contou com grande apoio durante todo o
seu governo.
a) V – F – F – V – F
b) F – V – F – V – V
c) V – F – F – V – V
d) F – V – V – F – F
e) V – F – V – V – F
Resolução: A

4. Sobre os governos da República da Espada, observe o banco de palavras e selecione as opções que
completem os textos de forma historicamente correta:

Deodoro da Fonseca – Caxias – Segunda Revolta da Armada – Floriano Peixoto –


Primeira Revolta da Armada – Revolução Federalista – Custódio de Melo – Balaiada –
Revolução de 1830 – Revolta dos Malês

O primeiro presidente brasileiro foi o marechal ______________________,


Deodoro da Fonseca eleito de forma indireta.
Seu vice, ____________________________,
Floriano Peixoto assumiu o governo em novembro de 1891, depois da
____________________________,
Primeira Revolta da Armada que se opunha à tentativa presidencial de fechar o Congresso.
O segundo presidente da República ficou conhecido como “Consolidador da República” e
“Marechal de Ferro” ao combater a _____________________________
Segunda Revolta da Armada e a _________________________,
Revolução Federalista

que ameaçavam a manutenção da República e a integridade nacional.

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TAREFA 24 Voto e coronelismo no século XXI

Nome: Data: ____/____/____ Sala:

Nesta parte do módulo, você estudou a respeito do voto no Brasil da República Oligárquica. Sobre
esse tema (o voto), pesquise em jornais, revistas ou portais da internet se ainda hoje no Brasil existem
relações de controle e domínio sobre o voto, como um “coronelismo do século XXI”.
Procure duas reportagens que tratem do tema (controle e domínio sobre o voto) e explique de que
forma elas estão relacionadas com o conteúdo estudado até aqui. Lembre-se de registrar corretamente
a fonte da notícia.
A compra ou o domínio sobre o voto é um problema que ainda não foi totalmente solucionado no Brasil. Dessa forma, surgem notícias

sobre o tema cotidianamente, fato que facilita a execução da tarefa.

O professor deve instruir o seu aluno sobre como realizar a pesquisa e como lidar com o material jornalístico. Ao estudante, cabe saber

interpretar a notícia e relacioná-la com o tema estudado: o controle sobre o voto no coronelismo.

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TAREFA 25 Do outro lado residem os “outros”

Nome: Data: ____/____/____ Sala:

Do outro lado residem os “outros”


A República procurou converter Canudos num grande exemplo: um exemplo da barbárie
contra a civilização; do atraso contra a modernidade. O corpo de Antônio Conselheiro também
fez parte da performance. Seu crânio foi levado ao Rio de Janeiro, para que o médico Nina
Rodrigues e a ciência dessem a última palavra sobre a loucura e a mestiçagem. Havia mesmo
um abismo entre as diferentes partes do país, e era premente o alerta para que as elites
intelectuais e políticas olhassem para seu interior. Talvez a melhor expressão desse descompasso
esteja no desabafo de Euclides da Cunha, no final de Os Sertões: “Fechemos esse livro, esta
página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante
e sem brilhos. Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma
perspectiva maior, a vertigem”.
Mais do que analisar cada movimento – e foram muitos –, o importante é destacar como,
por trás de cada um deles, está a questão da posse da terra, o desejo de justiça, o encontro Euclides da Cunha, que
retratou Canudos no obra
entre a revolta e a mística. [...] Desafiando os modelos de cidadania e da igualdade jurídica, aí Os Sertões.
estavam os sertões bravios, com seus personagens inesperados, mas essenciais para entender a
jovem República brasileira.

(Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 334.)

Com base na leitura atenta do texto Do outro lado residem os “outros”, responda adequadamente às
questões:

1. As autoras do texto também deram o título ao texto. Como você entende e justifica esse título?
Os alunos podem considerar em sua resposta que, da perspectiva do jovem governo republicano, no início do século XX, os “outros” seriam

os sertanejos do nordeste, sempre tão distantes e desconhecidos da cidade do Rio de Janeiro. Muitos autores consideram que o movimento

de Canudos colocou no mapa do Brasil o sertão da Bahia.

2. Você observa alguma manifestação racista no texto?


Sim, quando as autoras narram que o crânio de Antônio Conselheiro foi levado ao Rio de Janeiro para que o médico Nina Rodrigues o

estudasse sob a ótica da mestiçagem e da loucura.

3. O texto menciona o escritor Euclides da Cunha. De que maneira ele se relaciona ao cerco a Canudos?
Euclides da Cunha era repórter do jornal O Estado de S. Paulo e realizou a cobertura jornalística da quarta expedição e da consequente

destruição do Arraial de Canudos. Em sua obra-prima, o livro Os Sertões, ele narra a destruição de Canudos e a derrota dos conselheiristas.

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TAREFA 26 Tensões sociais no campo

Nome: Data: ____/____/____ Sala:

Assinale a alternativa correta nos itens a seguir.

1. Qual alternativa contempla movimento(s) messiânico(s) no Brasil rural no início da República?


a) Cangaço. b) Canudos. c) Contestado.
d) Canudos e Contestado. e) Cangaço e Contestado.
Resolução: D

2. Leia os versos da literatura de cordel e associe-os a um movimento social no campo:

Minha mãe me dê dinheiro


Prá comprar um cinturão
Que a vida melhor do mundo
É andar pelo sertão
[...]
Se o cabra não tem coragem
Que mude de profissão
Vá para o cabo da enxada
Plantar fava e algodão.

a) Cangaço. b) Canudos. c) Contestado. d) Padre Cícero. e) Chibata.


Resolução: A

3. Por muitos historiadores é chamado de “Coronel de batina”. Colaborou com líderes locais que, com
o auxílio de jagunços armados, lutaram contra intenções do presidente Hermes da Fonseca de combater
o poder dos coronéis. De quem estamos falando?
a) “Monge” José Maria. b) Padre Cícero Romão Batista. c) Virgulino Ferreira da Silva.
d) Antônio Conselheiro. e) Lampião.
Resolução: B

4. O arraial vivia segundo regras próprias. As terras e a produção eram coletivas. Todos trabalhavam.
Vivia-se uma vida austera, as bebidas eram proibidas e orações eram feitas diariamente ao cair da tarde.
Essas eram propostas do líder:
a) Antônio Conselheiro. b) Lampião. c) Padre Cícero.
d) “Monge” José Maria. e) João Cândido.
Resolução: A

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TAREFA 27 A defesa do café

Nome: Data: ____/____/____ Sala:

Veja a mensagem do presidente Epitácio Pessoa ao Congresso defendendo o café, em 17 de outubro


de 1921.

A defesa do café

O café representa a principal parcela do valor global da nossa exportação, sendo o produto que mais ouro fornece
à solução dos nossos compromissos no estrangeiro. [...] Além do mais, a longa experiência tem demonstrado que da
situação do café depende a segurança de nossa economia e que a defesa do valor do café constitui o problema nacional
cuja solução se impõe à boa política financeira e econômica do Brasil. [...]
É mister não esquecer que o Brasil produz de 70 a 75% do café que se consome no mundo. Tem ele assim, em
suas próprias mãos, os elementos decisivos para fiscalizar e regular os mercados desse artigo. [...]
As causas que perturbam a oferta do café são, principal e incontestavelmente, de uma parte, a desigualdade das
colheitas, que chegam a variar de dois, três e quatro milhões de sacas de um ano agrícola para outro, e, de outra parte,
a falta de um aparelhamento bancário apropriado para custear o armazenamento e a retenção da mercadoria à espera
de melhores preços.

(Apud José Alfredo Vidigal Pontes. A política do café com leite: mito ou história?
São Paulo: Imprensa Oficial, 2013, p. 141.)

Com base na análise do documento histórico:

1. Destaque um trecho do texto que demonstra a importância do café na economia do país.


O principal trecho que o aluno pode destacar: “O café representa a principal parcela do valor global da nossa exportação, sendo o produto

que mais ouro fornece à solução dos nossos compromissos no estrangeiro”.

2. Destaque um trecho do texto que demonstra a importância do café brasileiro na economia mundial.
O principal trecho que o aluno pode destacar: “É mister não esquecer que o Brasil produz de 70 a 75% do café que se consome no mundo.

Tem ele assim, em suas próprias mãos, os elementos decisivos para fiscalizar e regular os mercados desse artigo. [...]”.

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TAREFA 28 A Revolta da Vacina

Nome: Data: ____/____/____ Sala:

Com base em todas as discussões feitas em sala de aula, responda às seguintes questões:

1. O jovem governo republicano, no início do século XX, encarava a pobreza como fonte de males
sociais e procurou combater seus efeitos com uma política de “higienização” do espaço urbano. Qual
sua opinião sobre isso?
Com base nas discussões feitas em sala de aula e na leitura do texto informativo, o aluno deverá escrever um pequeno texto opinativo

sobre o assunto.

2. Quais os pontos positivos e negativos da política de saneamento e reurbanização efetuada no início


do período republicano?
O aluno poderá considerar em sua análise:

• aspectos positivos: combate às doenças e epidemias, saneamento do espaço urbano;

• aspectos negativos: a população pobre foi desalojada do centro urbano e, cada vez mais, afastada para os morros ou locais distantes.

3. Por que a população da cidade do Rio de Janeiro se revoltou contra a vacinação da varíola? Isso
poderia ter sido evitado pelo governo? Como?
A população revoltou-se contra o caráter de obrigatoriedade imposto à vacinação contra a varíola. Talvez isso pudesse ter sido evitado

com campanhas de conscientização e esclarecimento popular sobre a importância da vacina para a prevenção de doenças,

tranquilizando-a quanto à ausência de riscos para a saúde.

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TAREFA 29 População e trabalho nas indústrias

Nome: Data: ____/____/____ Sala:


Esta tarefa será destacada.

Com base em seus estudos, responda ao que se pede na seguinte questão:

A Abolição da Escravatura deu-se em 1888. Grandes contingentes de negros libertos das fazendas
buscaram novas oportunidades de vida nas cidades. Por que razão essas pessoas não foram aproveitadas
no trabalho da nascente indústria?
Em suas respostas, os alunos precisam considerar que o projeto imigrantista brasileiro, estudado no módulo anterior, previa uma política

de “embranquecimento” dentro do país. Os negros não foram absorvidos como mão de obra nas primeiras indústrias e, em sua grande

maioria, passaram a viver à margem da sociedade brasileira.

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Anotações

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