Curso de Engenharia Civil

Disciplina: Geologia de Engenharia

Professor: João Paulo Souza Silva
Semestre 2013/1

Estudo de caso do rompimento da Barragem de Camará

Marcos André Gomes Duarte da Silva
Millena Marinho de Oliveira
Murillo Lima
Natan Yuri Gomes Vieira
Paula Bernardes
Rafaela Miranda Sousa
Acadêmicos do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Tocantins, UFT-Brasil.

RESUMO: Este trabalho objetiva mostrar as possíveis causas da ruptura da barragem de Camará, na Paraíba em
2004.O rompimento ocorreu por falhas na construção e causou a inundação em vários municípios, deixando
pessoas desabrigadas.O relatório feito por engenheiros da Universidade Federal da Paraíba faz a análise da
barragem da construção até seu rompimento.

Palavras-Chave: barragem de Camará, ruptura, concreto, construção.

1. INTRODUÇÃO: desmatamento, antes de a obra ser entregue já havia

No dia 17 de junho de 2004, na cidade de Alagoa
Nova-PB ocorreu um acidente que chamou a atenção
do país, pela sua tamanha destruição. Levando os
conhecedores da área, a se perguntarem qual seria o
motivo deste desastre. A Barragem de Camará,
localizada no leito do Rio Riachão, se rompeu
levando parte dos municípios de Alagoa Nova, Areia
e os sítios urbanos de Alagoa Grande a inundação.
Depois de onze dias, a parte que restou sobre a
fenda, no qual a barragem foi esvaziada, também
desmoronou.
Um acidente dessa proporção chamou a atenção
de especialistas na área e o Ministério Público
Federal e Estadual abriu uma investigação
convocando um grupo de engenheiros da
Universidade Federal da Paraíba e mais dois
engenheiros de São Paulo.
Algumas análises dos documentos foram feitas e
notou-se que existia um problema geológico que
além de mal interpretado foi corrigido com
insucesso. Além disso,houve uma indefinição de
responsabilidades na fiscalização da obra, falta de
ensaios suficientes, além de uma grande área de
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defeitos.
Não houve acompanhamento do primeiro
enchimento da barragem, quando o nível da água
subiu a barragem não funcionou normalmente,
porém esse fato não foi notado. Com tantos
problemas e com toda a destruição causada por estes,
não foi tão difícil para o grupo de engenheiros
tirarem a conclusão que a construção da Barragem
de Camará não foi feita segundo os bons princípios
da engenharia.
2. GENERALIDADES SOBRE CONSTRUÇÃO
DE UMA BARRAGEM
Para apontarmos e analisarmos os erros
encontrados nas investigações da barragem primeiro
devemos entender como é feita o processo de
construção de uma barragem para depois
compararmos com os processos feitos em Camará.
Em qualquer construção de uma barragem, o
processo se divide em duas partes, a fase de projeto
e a fase de construção.
Dentro da fase de projeto está o estudo
hidrológico, onde são encontradas as características
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do rio como altura da sangria, tamanho necessário
para o vertedouro, além da força que esse rio irá
gerar.
Além desse estudo, temos o estudo da topografia
e da geologia do local que fará uma análise dos solos
encontrados no local da barragem, essas análises são
feitas através de sondagens feitas no local. Além
disso, o estudo das jazidas dos materiais é um passo
importante na fase de projeto, pois trará a
localização dos minérios que serão utilizados na
construção e a forma e volume mais fáceis de
captação.
A elaboração de um projeto básico nos traz
importantes informações da obra e o estudo dos
impactos ambientais mostra todas as consequências
ambientais que essa obra trará.
2.1 O CASO DA BARRAGEM DE BARRA DO
CAMARÁ
Os engenheiros da construção tomaram o projeto
básico e o projeto executivo que possui um maior
detalhamento e quantidade de informações. E
juntamente com a outra fase na qual se baseia nos
cálculos e projetos anteriormente expostos, os
engenheiros começaram a construir.
Depois de um detalhamento e de um novo estudo,
os engenheiros da Holanda Eng. viram a necessidade
de mudar a barragem de terra para uma barragem de
concreto compactado com rolo devido a presença de
material rochoso em decomposição nas ombreiras e
jazidas de areia e ao grande desmatamento que a
barragem de terra iria trazer, além de outras
peculiaridades. Esse projeto em CCR foi feito com o
processo inicial da obra em processo e como não
teve tempo para a construção de um processo
executivo em CCR não houve uma previsão do
orçamento final, utilizando o mesmo da barragem de
terra, porém o custo final chegou a mais de duas
vezes maior que este.
Além disso, houve falha no processo de
fiscalização devido a falta de determinação entre os
envolvidos, e a omissão do Governo que não se
preocupou em determinar um responsável para etapa.
O processo de estudo geológico e hidrológico da
barragem de Camará em CCR foi aproveitado dos
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apresentados pela ATECEL para a barragem de terra
que indicou, através de sondagens que o local
apresentava blocos de rochas com fraturas que
poderiam trazer o desmoronamento da barragem ali
construída, foi solicitada a remoção destes blocos.
Depois do desmoronamento, o estudo mostrou que
foi retirado até uma quantidade maior do que a
pedida através de explosivos, porém os estudos
também mostraram que houve o derramamento do
concreto em cima de blocos praticamente soltos.
Os outros passos da fase de projeto da barragem
de Camará apresentaram bons detalhamentos para a
boa execução da obra, com a exceção do estudo dos
impactos ambientais que foram feitos com a obra já
em processo de construção, contrariando a ordem
normal de construção.
2.2 FASE DE CONSTRUÇÃO E IMPLICAÇÕES
COM O ACIDENTE
Durante a fase de execução da obra, foi detectada
uma fissura no maciço rochoso que dava suporte a
fundação da barragem, a recomendação imediata foi
a retirada de impurezas que ocupava o local da
fissura, além de preencher esse espaço com CCR
( concreto compactado com rolo) afim de condensar
o maciço e assim impermeabiliza-lo. Porém, a
solução encontrada não foi significante, tendo em
vista que as investigações geológicas da fissura não
foram compatíveis com as dimensões reais da falha
geológica.
A ruptura da barragem ocorreu nas proximidades
da ombreira esquerda, na verdade a barragem foi
concebida em cima do maciço falho, na conexão
CCR- Fundação da barragem foi indicado um
concreto de resistência a compressão de 10MPa,
esse concreto é bem menos resistente que a rocha e
apresenta elasticidade bem menor que o material
pétreo, nesse caso o preenchimento do vazio para
proporcionar o contato do concreto com a parte
inferior da rocha não é simples. O assentamento do
concreto fresco e a própria cura do material pode
provocar a separação das superfícies de contato
concreto-rocha na parte inferior dela, ainda mais em
um volume grande como o do caso. Para corrigir isto
foram feitas injeções de consolidação. Se a
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interpretação geológica feita fosse real,
possivelmente a solução proposta teria um efeito
benéfico para a fundação da barragem.
Em uma obra desse porte existe um número variado
de tipos de concretos, devido principalmente ao
grande número de funções e partes de uma barragem,
existe concreto para a fundação, para o vertedouro,
fase montante, fase jusante, galeria de desvio e entre
outras partes da estrutura, essas partes necessitam de
resistências diferentes, para isso é empregado um
tipo específico de concreto em cada área até mesmo
para reduzir custos.
É importante ter em mente que resistência
característica, a especificada no projeto, é a que tem
certa probabilidade de acontecer em um determinado
lote de concreto. Para se atingir a resistência
característica especificada, é necessário que a
resistência média lhe seja superior, pois as
resistências dos corpos de prova de um mesmo
concreto apresentam sempre uma variação. Essa
variação é pequena em concretos bem controlados, e
grande no caso contrário em que a precisão tende a
ser reduzida. Desta forma, a resistência característica
está relacionada à resistência média e ao desvio
padrão da amostra.
Percebe-se que a tecnologia usada na produção
de concreto no início da obra foi obsoleta, uso de
material manipulador inadequado, o que pode levar
a uma dosagem incoerente de concreto. Dessa forma,
pode ocorrer uma perda de resistência do concreto e
deixa-lo com índices abaixo do aceitável para uma
determinada atividade construtiva, mas
posteriormente foram usadas modernas técnicas de
preparo de concreto.
Em várias fases da construção da barragem, foi
empregado um concreto próximo ou inferior ao
valor recomendado, o que pode comprometer o
desempenho das estruturas. No caso da barragem, a
empreiteira afirma não ter dados suficientes para
uma boa análise estatística do comportamento do
concreto. Essa análise é efetuada em diferentes
idades do concreto, pode ser realizada em concretos
de idade de 7 dias, 28 dias, 90 dias. Essa prática é
fundamental para o controle do desempenho da
estrutura.
Durante a investigação dos fatos que podem ter
levado a ruptura da barragem, foi verificado que
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existia até mesmo armadura exposta e quando não
estava exposta verificava- se que em alguns casos
ela estava camuflada com uma camada de argamassa
para esconde-la, verificando assim que seria uma
obra de durabilidade baixa.
2.4 ANÁLISE NUMÉRICA BIDIMENSIONAL DA
BARAGEM DE CAMARÁ
Para a realização de um projeto, as normas
técnicas analisam simultaneamente dois grupos de
condições: Estado Limite Último (ELU) e Estado
Limite de Serviço. Onde a simples ocorrência do
ELU determina a paralisação total ou parcial da obra.
Alguns dos fatores para ocorrência do ELU são:
esgotamento da capacidade resistente da estrutura,
instabilidade mecânica, perda de equilíbrio total ou
parcial da estrutura considerada como corpo rígido e
fadiga. Já o Estado Limite de Serviço é relacionado
às condições de operacionalidade da obra, como
durabilidade, conforto, aparência e boa utilização
funcional da estrutura.
Para a análise numérica realizada pela
Universidade Federal da Paraíba, primeiramente
consideraram algumas especificações do maciço
como ideias (Comportamento elástico e linear,
isótropo, homogêneo para o CCR; Regime
cinemático mações e rotações; Carregamentos
externos de superfície hidrostático) e/ou volumétrico
( gravitacional) pra então utilizarem o Método dos
Elementos Finitos(MEF) através de um software
denominados ANSYS.
Através dessa análise chegaram aos resultados
que indicam que quando a barragem estava vazia no
topo da galeria chegavam a apresentar tensões de 0,6
MPa, mas essa tensões são facilmente absorvidas
pelas vigas pré-moldadas de concreto convencional
de que é constituído o topo da galeria. E no caso da
barragem com 2 metros de sangria aparecem tensões
de tração superiores as admissíveis, a meia altura da
galeria.
Portanto, nas análises numéricas realizadas pela
Universidade Federal da Paraíba, não chegaram a
nenhuma tensão de compressão acima da do valor
admissível de 0,5fck. Portanto a resistência
específica do projeto de 7MPa é suficiente para
suportar as tensões de compressão. Por outro lado,
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as análises numéricas apresentaram valores de
tensões de tração superiores ao limite de resistência
especificado para o CCR nos arredores da galeria.
3. PARECER TÉCNICO SOBRE AS CAUSAS DA
RUPTURA DA BARRAGEM DE CAMARÁ
De acordo com os estudos realizados pela equipe
técnica percebeu-se que não foi somente um único
elemento que causou a ruptura da barragem, mas sim
uma série de fatores que juntos ocasionaram essa
ruptura. De acordo com os elementos que eles
citaram, nota-se que não houve um tipo de
observação ou monitoramento do comportamento da
barragem que, aliás, é de responsabilidade da
Proprietária ou de seus delegados. Outra negligência
notada foi que essa ruptura poderia ter sido evitada
caso em 2004 a represa tivesse sido rebaixada.
Acredita-se que a obra pode ser recuperada, já que o
resto da barragem aparentemente não sofreu nenhum
dano.
A barragem está localizada no Rio Riachão, que
se localiza na divisa dos Municípios de Alagoa Nova
e Areia, a 162km de João Pessoa. Com relação a
geologia do local da construção, é formada de rochas
pré-Cambrianas, do Complexo Migmatítico-
Gnáissico.
Foi analisado o Memorial Descritivo e
Justificativo do projeto original de 1997, para
pesquisar o histórico do tipo de barragem que foi
adotado. Verificou-se que: “As condições
topográficas do local do eixo barrável são favoráveis
à implantação de barragem de terra ou de
enrrocamento, ou mesmo de concreto compactado a
rolo. Os taludes das ombreiras são íngremes e
apresentam blocos soltos, merecendo especial
atenção no que diz respeito à estabilidade, estando
condicionando esta à remoção desses blocos”.
O tipo de barragem escolhida foi de concreto
compactado a rolo (CCR). Essa barragem possui
galeria de inspeção e de drenagem, sendo horizontal
na parte central e inclinada junto às ombreiras.
A construção da barragem foi iniciada no ano de
2001, e foi completada e inaugurada em fevereiro de
2002. Em fevereiro de 2001 ocorreu a visita do
Geólogo Alexandre Sagnori para inspeção das
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fundações e elaboração de procedimentos de
tratamento de falha com preenchimento de solo com
cerca de 30cm de espessura, encontrada na OE. A
falha ocorrida na ombreira esquerda motivou a
realização prévia de 3 sondagens rotativas (SR 01 a
03),pois nas considerações técnicas menciona-se que
a mesma foi também interceptada entre 9,5 e 11m de
profundidade na sondagem SR03 (com perda d‟água
total no ensaio de perda d‟água). Na visita do
geólogo, realizaram 4 perfurações com a perfuratriz
(rock drill) no sentido da extensão lateral do
preenchimento de solo da fratura e foram anotadas
as profundidades máximas de 3m e mínima de 1,6m.
3.1 REGISTROS DE OBSERVAÇÕES APÓS A
CONSTRUÇÃO E DURANTE O ENCHIMENTO
DO RESERVATÓRIO
Logo depois de finalizada a obra, a Holanda
Engenharia, registrou algumas observações em
relatório, ressaltando uma observação a respeito de
um vazamento entre juntas de pré-moldados situada
na elevação 431,50m. Apesar dessa observação ser
uma ocorrência interna, foi feito uma relação com a
falha da ombreira esquerda e não houve relatos que
tenha sido feita as investigações recomendadas .Em
Geologia, a palavra „‟falha‟‟ se refere ao plano de
ruptura natural em que houve o deslocamento de
rocha em relação ao outro lado.
As elevações do reservatório ficaram entre 430m
e 440 m de junho de 2002 até o começo de janeiro
de 2004. As primeiras chuvas nessa região
ocorreram no início de 2004 e assim o aumento no
nível da água, onde aumentou lentamente até
454,50m, elevação encontrada na época da ruptura.
Não houve uma monitoração sistemática do nível de
agua em vários pontos da fundação, os registros
foram esparsos. Depois do enchimento da represa foi
feito observações de alguns fatores, em que se foi
alertado sobre alguns problemas que estavam
ocorrendo na barragem como: carreamento de
material pelos drenos, mancha de umidade no pé na
margem esquerda da bacia de dissipação, drenos
obstruídos e poucos funcionando.
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3.2 CONSIDERAÇÕES E ANÁLISES SOBRE A

RUPTURA DAS FUNDAÇÕES DA BARRAGEM

A Barragem de Camará carrega um histórico

repleto de julgamentos inadequados e deficiência de
ações efetivas que resultaram na ruptura da
barragem.
Esse infortúnio pode ser explicado por várias
causas, que são especificamente: falta de observação
sistemática durante o preenchimento da barragem, a
responsabilidade da observação e comportamento da
barragem não foi assumida devidamente pela
proprietária, não ter feito o rebaixamento da represa
como foi recomendado pela projetista (que poderia
ter evitado a ruptura da barragem), rocha
remanescente na ombreira esquerda a jusante da
barragem apresentava fraturas em larga extensão, o
solo de preenchimento apresentava alto teor de mica
biotita o que diminuiu a resistência ao cisalhamento,
aumento no gradiente hidráulico devido a ruptura da
laje de rocha a jusante que intensificou a erosão
interna (“piping”) e inadequada interpretação
geológica da extensão da falha.
Apesar do dano causado, a obra ainda há uma
possibilidade da obra ser recuperada já que a feição
da zona de cisalhamento foi removida pela ruptura.
Recuperação essa requer um projeto detalhado além
de uma administração mais responsável.
Na ruptura da Barragem de Camará, portanto,
pode se observar variados fatores geotécnicos.
Entretanto, foi a falha humana que desencadeou tais
fatores. De interpretações errôneas a resistência em
assumir responsabilidade, não apenas se observa
lamentável ruptura da barragem como a imprudência
dos profissionais delegados.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KANJI, Milton Assis. PARECER TÉCNICO

SOBRE RUPTURA BARRAGEM CAMARÁ –
MIN. PÚBLICO PARAÍBA. São Paulo, 2004.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA.

Centro de Tecnologia. Barragem de Camará. João
Pessoa, 2004.