Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
como enfrentar a
crise das cidades?
erminia maricato humberto miranda
Apresentação ....................................................................................06
Eduardo Fagnani
Professor do Instituto de
Economia da UNICAMP
Dadas as suas múltiplas interfaces, o enfrentamento dessas questões deve ser pensado na
perspectiva de um projeto nacional de desenvolvimento. Nos últimos anos o debate sobre
o tema voltou a ser objeto da reflexão de círculos de economistas. A chamada corrente
“social-desenvolvimentista” procura articular a estratégia macroeconômica com inclusão
social e distribuição da renda. Essas pistas são promissoras, mas ainda não dão conta da
dimensão social do desenvolvimento em suas múltiplas vertentes. O enfrentamento desse
desafio metodológico requer maior articulação da reflexão acadêmica entre economistas
e especialistas em políticas sociais.
Com o objetivo de fomentar esse debate, em maio de 2013 o Centro de Gestão de Estu-
dos Estratégicos (CGEE), o Instituto de Economia da Unicamp, a rede Plataforma Políti-
ca Social e a Rede Desenvolvimentista organizaram o Seminário “Desafios e Oportuni-
dades do Desenvolvimento Brasileiro”, integrado por dois módulos (aspectos econômicos
e aspectos sociais).
Os vídeos completos das 12 mesas
temáticas estão disponibilizados no site
da rede Plataforma Política Social
(www.politicasocial.net.br)
Após a sua realização foi solicitado aos membros da rede Plataforma Política Social que
escrevessem artigos voltados para avançar na perspectiva apontada pelo seminário. Esses
esforços, que resultaram em dezenas de contribuições, motivaram a criação da Revista
Política Social.
Esta edição inaugural reúne dois artigos sobre a questão urbana. O primeiro, escrito
por Ermínia Maricato, sustenta que sem reforma urbana (leia-se reforma fundiária e
imobiliária) não haverá desenvolvimento e sim “crescimento periférico predatório”, com
reprodução da forte desigualdade social e grave deterioração ambiental. Para a autora,
distribuição de renda é importante, mas insuficiente: “também é preciso distribuição de
cidade”, ou seja, ampliar o direito à cidade. O que está em questão é a apropriação das
rendas de localização urbana, afirma Maricato.
Nas próximas edições serão disponibilizadas as demais contribuições temáticas dos espe-
cialistas que integram a Plataforma Política Social.
Boa leitura!
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
Problemática
urbana brasileira:
Doutor em
Um balanço de 60 anos
Desenvolvimento Econômico,
Professor do Instituto de
Economia e Pesquisador
do Centro de Estudos de
Desenvolvimento Econômico
Por Humberto Miranda
(CEDE / UNICAMP)
8
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
9
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
como se pode constatar no QUADRO 01. da população total em 2010, que são um
conjunto de cidades intermediárias entre
Observa-se, de forma bem geral, que o o menor nível hierárquico e as cidades
nível hierárquico superior da rede urba- médias, sendo este um conjunto de ci-
na brasileira, no que tange aos municí- dades menos estudado e chamado ainda
pios com mais de um milhão de habitan- genericamente de cidade média, mas, na
tes, chega a concentrar 37,8 milhões de verdade, não conhecemos bem sua hie-
habitantes, cerca de 20% da população rarquia. O fato é que existem 607 muni-
total do país, em 12 cidades em 2010. Po- cípios, de um total de 5.565 — ou, apro-
rém, o nível hierárquico inferior (até 100 ximadamente, 11% municípios —, que
mil habitantes) concentra 95% do nú- concentram 127,8 milhões de habitantes.
mero de municípios e 45% da população O quadro regional permite especificar a
total. Como, aproximadamente, 35% da problemática como algo que caracteriza a
população brasileira estão concentradas urbanização subdesenvolvida, que recla-
em 270 municípios com mais de 100 mil ma soluções próprias.
e menos de um milhão de habitantes até
2010, se somarmos o nível metropolitano Através do gráfico 01 pode-se verificar
e o nível intermediário, veremos que 55% que no segundo período houve um incre-
da população brasileira estão concentra- mento de população urbana nas regiões
das em 282 municípios. Adicionalmente, Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Cada
temos 325 municípios com população região tem uma participação na distri-
entre 50 e 100 mil habitantes ou 11,7% buição dos incrementos populacionais
10
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
das suas cidades que reflete a importân- de acumulação do capital, mas também
cia de sua população no conjunto do país. “os pobres resultados do neoliberalismo”
neste continente após os anos de 1990,
A abertura externa da economia brasilei- especialmente por aumentar o nível de
ra nos anos de 1990 forjou novos deter- desigualdade e heterogeneidade territo-
minantes para o urbano, reiterando a ex- rial (urbano-regional). Este pesquisador
pansão da fronteira agrícola/mineral, que é bastante claro no que diz respeito ao de-
não estaria voltada para atender exclusi- safio à nossa cultura científica e política:
vamente aos objetivos de expansão inter-
na do produto industrial, mas também e
principalmente para atender aos impera- “... debemos construir nuestra propia
tivos do mercado mundial de commodi-
ties, com mais países consumidores (asi- cultura científica y política para expli-
áticos) e com a prática de melhores níveis car nuestra realidad particular y con-
de preços. Nesse ínterim, os anos de 1990
e 2000 mostram, de um lado, os grandes
frontarla críticamente con la venida
centros urbanos se saturando (de gente de fuera, del norte en particular; debe-
e atividades) e as cidades médias cres- mos construir las políticas territoriales
cendo vigorosamente e, de outro, novas
centralidades urbanas voltando a ocorrer para transformar nuestra realidad y
e pequenas cidades continuando a surgir resolver sus contradicciones, a partir
intermitentemente nas áreas de expansão
da fronteira agrícola. Em grande medida, de su explicación científica, los instru-
são importantes áreas das regiões Centro mentos disponibles, los intereses que
-Oeste, das franjas da região Nordeste e
dos fragmentos de área da região Norte
defendemos y nuestras posiciones en el
que alimentam esse incremento urbano abanico político-ideológico.”
no segundo período (1980-2010). Uma (COBOS, 2010:19)
urbanização que é explicada mais pela
relação com diversas atividades econô-
micas que por suposta dicotomia campo-
cidade. Deste ponto de vista, pode-se perceber
o mesmo caráter de ocupação do espaço
O caso brasileiro pode ser entendido urbano na América Latina, em que pe-
dentro do caráter mais amplo de ocupa- sem as especificidades de cada formação
ção territorial do capital em outros países nacional, que trazem a mesma problemá-
latino-americanos. Cobos (1989 e 2008) tica, a do subdesenvolvimento urbano,
discute a relação entre o agro e a urba- especialmente nas análises sobre as áre-
nização na América Latina, seu cresci- as metropolitanas. Contudo, seguindo o
mento urbano anárquico e as mudanças conselho de Cobos, precisamos entender
nos processos territoriais na nova fase as particularidades da urbanização sub-
11
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
12
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
desvalorização cambial de 1999; a redu- diversas regiões, pois estas são diferente-
ção lenta e contínua das taxas de juros no- mente alcançadas pela expansão da fron-
minais a um patamar inferior aos 26,5% teira agrícola e pelas migrações inter-re-
de 2003; o crescimento contínuo do PIB gionais.” (SANTOS, 2009, p. 34)
agropecuário no período pós-desvalo-
rização cambial (1999-2004), conforme São “cidades agrícolas” aquelas que sur-
aponta Balsadi (2008); o chamado “efeito gem dotadas de um fato urbano próprio
China”, devido as suas altas e sucessivas e sob o efeito do alcance do processo de
taxas de crescimento econômico. Foram expansão da fronteira agropecuária e das
priorizadas as iniciativas de desenvolvi- migrações entre regiões, transferindo
mento local com maior inserção externa contingentes social e culturalmente di-
das regiões rurais, principalmente nos ferenciados de populações para subespa-
anos 2000, explicitando uma forte contra- ços regionais que se caracterizam como
dição entre a expansão da fronteira agro- verdadeiras plataformas exportadoras de
pecuária e a exploração extensiva (espa- grãos ou carne bovina ou como retaguar-
cialmente) e intensiva (ecologicamente) das territoriais para realização da produ-
da base de recursos naturais, já que não ção agropecuária. São cidades agrícolas
resulta de ganhos de produtividade por no sentido de abrigarem no interior do
hectare cultivado, mas da facilidade em município ou da hinterlândia modalida-
manter a itinerância territorial (consultar des de produção agropecuária, e o fato
CANO, 2002; e MIRANDA, 2012) como urbano se manifesta de modo uniforme,
solução de conjunto para o crescimento como um “implante urbano”, para favo-
da agricultura brasileira. recer a logística de escoamento dessa
produção. O espaço rural do município,
O geógrafo Milton Santos, no livro “A todavia, perde características naturais e
urbanização brasileira”, de 1993, já ha- singularidades.
via chamado a atenção para as diferenças
entre população urbana, rural e agrícola, Em síntese: o que parecia para muitos
mostrando que a queda relativa da po- uma dualidade ou contraste gerado pela
pulação rural era mais acentuada que o especificidade do processo de desen-
da população agrícola no Brasil. Santos volvimento brasileiro, crescimento das
(2009) aponta dois elementos para expli- cidades e “esvaziamento” do rural, hoje
car o fenômeno, um deles é a expansão da pode parecer uma regularidade da for-
fronteira agrícola e o outro as migrações ma de inserção da economia brasileira
inter-regionais. no mundo globalizado, embora esta não
seja necessariamente decorrente de um
“O fenômeno não se dá de maneira homo- “esvaziamento” do rural. O que parecia
gênea, uma vez que são diferentes os graus contraste torna-se complementaridade;
de desenvolvimento e ocupação prévia das o que era dualidade torna-se possibilida-
13
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
14
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
processo de periferização nas cidades em que se está dando ou que se dará à ques-
praticamente todos os níveis hierárqui- tão urbana. Mais que em qualquer outro
cos, levando à generalização do fenô- período da economia nacional, o projeto
meno da segregação socioespacial, não nacional de desenvolvimento reclama a
se pode negar que o enfrentamento dos centralidade da dimensão urbana.
problemas socioeconômicos nacionais
passa necessariamente pelo tratamento
Bibliografia
Cidades no Brasil:
Neo desenvolvimentismo ou
crescimento periférico predatório1
Professora da Pós
Graduação da Faculdade de
Arquitetura da USP e
Professora Visitante do
Instituto de Economia da Por Erminia Maricato
UNICAMP
16
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
do Brasil” tanto que destacou a herança nal para superar as condições atrasadas
colonial portuguesa, a escravidão resis- dos países latino-americanos em relação
tente, a desigualdade persistente, o papel à condição dos países centrais do capi-
ambíguo dos homens brancos na socie- talismo e se essa saída deveria seguir os
dade escravocrata, a dominância da mo- passos daquela industrialização. Trata-se
nocultura de exportação, como heranças de reafirmar a heterogeneidade estrutu-
que contribuíram para o travamento do ral que nos separa (e que nos une). Longe
desenvolvimento do país. Mas em cada de desaparecer, essa relação se mantém e
uma dessas características específicas
Caio Prado via também a predominância
da presença internacional (PRADO JR,
1972).
“A nova fase de internacio-
Essas lembranças pretendem apenas tra-
nalização dos capitais e dos
zer para o começo desse texto alguns con-
ceitos que a globalização sufocou durante
mercados ganhou o glamou-
um certo período. Estamos nos referindo roso nome de globalização
às teorias sobre desenvolvimento/subde-
senvolvimento que se seguiram ao esfor- e acompanhando a tendên-
ço da CEPAL- Comissão Econômica para
América Latina e Caribe, para explicar o cia algumas cidades foram
atraso econômico das sociedades latino
americanas, em meados do século XX, e cunhadas como globais”
que hoje voltam a ocupar os estudiosos
no Brasil5. Apesar de criticada em sua
visão dualista a CEPAL constituiu, nes- até se aprofunda, especialmente nas cida-
se período, um momento de produção des, com a globalização como vamos ver.
teórica inovador e independente sobre a Percebemos uma certa dificuldade em
condição dos países latino americanos na usar as classificações desenvolvido e sub-
divisão do poder mundial. desenvolvido, já que não somos nem um
nem outro, mas recusamos a concepção
Constatada a situação do subdesenvolvi- etapista presente no conceito “em desen-
mento, ocuparam-se, os formuladores da volvimento”. Vamos reafirmar a manu-
CEPAL, em traçar estratégias de desen- tenção da leitura dialética entre setores
volvimento as quais geraram as propostas desenvolvidos (ou neo-desenvolvidos) e
de industrialização (tardia) por substitui- setores atrasados (ou neo atrasados) para
ção de importações, política conhecida explicar a realidade interna e externa de
por desenvolvimentismo. países como o Brasil no contexto mun-
dial revolucionado pelo avanço tecnoló-
Não se trata, neste texto sobre cidades, gico das comunicações e pela mudança
de discutir se existiria uma saída nacio- geopolítica.
17
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
19
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
A terra urbana (assim como a terra rural) Evidentemente para esse capitalismo
ocupa um lugar central nessa socieda- “funcionar” como parte da divisão inter-
de. O poder social, econômico e político nacional do trabalho, os trabalhadores
sempre esteve associado à detenção de urbanos integrados ao processo produ-
patrimônio seja sob a forma de escravos tivo, mas excluídos de grande parte dos
(até 1850) seja sob a forma de terras ou benefícios que o mercado de consumo
imóveis (de 1850 em diante). Essa marca assegura e especialmente excluídos da
– patrimonialismo - se refere também à cidade, são submetidos a uma poderosa
privatização do aparelho de Estado tra- máquina ideológica quando não pode ser
tado como coisa pessoal. O patrimonia- simplesmente repressora. Além da pode-
lismo está ligado à desigualdade social rosa máquina midiática a generalização
histórica, notável e persistente que marca do débito político, o favor como media-
cada poro da vida no Brasil. E essas ca- ção universal, são relações que explicam
racterísticas, por outro lado, estão ligadas muito a cidade e uma sui generis forma
ao processo de exportação da riqueza ex- de cidadania no Brasil: Direitos para al-
cedente para os países centrais do capi- guns, modernização para alguns, cidade
talismo. Celso Furtado mencionou várias para alguns ... (CASTRO e SILVA, 1997)9.
vezes em seus trabalhos o convívio da ex-
portação da riqueza excedente com uma Não sendo o caso de desenvolver aqui
estreita elite nacional consumidora de essas ideias, vamos resumir as caracterís-
produtos de luxo. Esse quadro forneceria ticas históricas da metrópole no capitalis-
as características de um mercado, por as- mo periférico da seguinte forma10:
sim dizer, travado (FURTADO, 2008).
1) A persistente ilegalidade fundiá-
Recente relatório da ONU - HABITAT ria e imobiliária forma a periferia urbana
“Estado de las Ciudades de América La- que frequentemente se configura como
tina y el Caribe 2012” mostra que o Bra- um depósito de pessoas em áreas não
sil, a sexta economia do mundo, mantém servidas ou precariamente servidas pela
uma das piores distribuições de renda no infraestrutura urbana e que não conta
continente mesmo após os avanços, nes- também com equipamentos sociais pú-
se sentido, verificados nos governos do blicos e privados. Em algumas capitais
Presidente Lula. São mais desiguais do de Estados, os domicílios ilegais são mais
que o Brasil, na América Latina, apenas numerosos do que os domicílios legais
os países Guatemala, Honduras e Colôm- revelando que a “exceção é mais regra do
20
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
21
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
22
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
Vamos tratar dos impactos trazidos pela xa renda e do boom do mercado imobili-
globalização a essa cidade no contexto es- ário residencial, os padrões periféricos de
pecífico da sociedade brasileira que para urbanização se reproduzem (incluindo a
alguns está vivendo um neo-desenvolvi- nova ocorrência do loteamento fechado),
mentismo, para outros um desenvolvi- agravando o presente e comprometendo
mentismo de esquerda ou social desen- o futuro da cidade global periférica.
volvimentismo. Apesar do aumento da
capacidade de consumo nas faixas de bai-
23
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
24
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
FIGURA 1 E 2 - Extraído da apresentação “Globalização e Território: Debate mundial e leitura a partir do Brasil”
de Tania Bacelar. São Paulo, maio 2008
25
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
26
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
média de assassinatos no país era de 13,9 transformou numa das principais marcas
mortes para cada 100 mil habitantes, em das cidades brasileiras.
2010 passou para 49,917.
Nem todos os indicadores sociais são ne-
Certamente essa ocorrência não se deveu gativos no processo de urbanização con-
apenas a esses fatores e nem se limita às comitante ao processo de industrialização
cidades brasileiras. Não é possível abor- que se deu no decorrer do século XX e
dar um assunto tão estudado em poucas mais exatamente a partir de 1930. A mor-
palavras. Mas não há dúvida de que ela talidade infantil, a expectativa de vida, o
compõe o quadro de abandono do Esta- nível de escolaridade, o acesso à água tra-
do provedor. Ainda que tratemos do pro- tada, a coleta do lixo a taxa de fertilidade
vedor na periferia capitalista onde a pre- feminina, apresentam uma evolução po-
vidência não era universal assim como a sitiva a partir de 1940 até nossos dias exa-
saúde ou a habitação. O tema da violência tamente devido à mudança de vida com a
cujas origens estão na sociedade escravis- urbanização. (IBGE, 2008).
ta que formalmente resistiu até 1888, se
72,8 150,0
70,4
62,5 124,0
48,0
40,7 82,8
29,6
23,3
1940 1960 1980 2000 2008 1940 1960 1980 2000 2008
Literacy Rate (ages 15 and above)- Fertility Rate (births per woman)-
44,1
2,4
1,9
1940 1960 1980 2000 2008 1940 1960 1980 2000 2008
27
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
No entanto o estudo de cada caso revela ABC e a de Barueri), uma delas construí-
as mesmas contradições que encontra- da há mais de 20 anos. É de conhecimen-
mos na macro-escala. to geral que as obras relativas às redes de
esgotos não têm visibilidade e, portanto
Apenas para dar um exemplo da lógica não interessa aos governos providenci-
que orienta esses serviços, lembremos á-las.
que aproximadamente 20% dos domicí- NAS DÉCADAS PERDIDAS:
lios não estão ligados à rede de esgotos LUTA SOCIAL PELA CIDADE
na Região Metropolitana de São Paulo. DEMOCRÁTICA
Boa parte dos esgotos produzidos é lan-
çada pelas redes nos rios que cortam a Após um longo período de crescimento,
metrópole. No entanto há duas estações sem distribuição de renda, (1940 a 1980)
de tratamento de efluentes com capacida- a economia brasileira entra em declínio
de ociosa na Região Metropolitana (a do pressionada pela crise fiscal.
28
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
29
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
30
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
31
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
Conjunto COPROMO-Osasco, Mutirão com projeto da Assessoria Usina, 1996 (Acervo João S. Whitaker)
32
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
presas foi o caminho usado por jovens produção, controlar a qualidade do que
arquitetos, engenheiros e advogados que era produzido e aprofundar a organiza-
não queriam trabalhar para o mercado ção social28.
de luxo ou mercado formal da moradia
em São Paulo e demais capitais. Toda Várias prefeituras também investiram na
uma geração de arquitetos se formou (e instalação de Usinas de pré fabricação de
continua se formando) com essa prática, peças de argamassa armada visando a ur-
buscando garantir a implementação do banização de novas áreas ou complemen-
“direito à arquitetura” e do “direito à ci- tação de áreas precariamente urbaniza-
dade”27. das. As peças eram utilizadas também na
construção de equipamentos públicos29.
A construção por mutirão foi motivo de
muitos debates entre arquitetos e depois Na área de drenagem engenheiros, ge-
entre arquitetos e a população organiza- ólogos e ambientalistas que passaram a
da que, inicialmente, preferia construir ocupar cargos nas prefeituras utilizaram
por mutirões para dominar o processo de novas técnicas para urbanização de cór-
33
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
34
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
A inexperiência inicial daqueles que ali- Essa dinâmica política que incluía três
mentavam a utopia de construir uma ci- frentes- produção acadêmica, movimen-
dade mais democrática obrigou muitos tos sociais e prefeituras democráticas
ativistas a refletir sobre as limitações e a - avançaram conquistando importantes
consequente adaptação que deveria ser marcos institucionais além da eleição do
feita nas propostas.30 Os conflitos diários Presidente da República em 2002. Dentre
vinham dos movimentos sociais que co- eles destacam-se a) um conjunto de leis
bravam mais agilidade da parte do gover- que, a partir da Constituição Federal de
no e também de adversários que podiam 1988, aporta instrumentos jurídicos vol-
fazer parte da Câmara Municipal, do Ju- tados para a justiça urbana, sendo o Esta-
diciário quase sempre conservador, mas, tuto da Cidade a mais importante delas31
em especial e de modo generalizado, da b) um conjunto de entidades, como o
mídia do main stream, que atuou como Ministério das Cidades (2003) e as secre-
partido político representando a elite do tarias nacionais de habitação, mobilidade
país. urbana, saneamento ambiental e progra-
mas urbanos, que retomava a questão
Com o passar do tempo, durante as déca- urbana agora de forma democrática e c)
das de 80 e 90, pesquisadores, professores consolidação de espaços dirigidos à par-
universitários e profissionais de diversas ticipação direta das lideranças sindicais,
áreas, socialmente engajados, criaram o profissionais, acadêmicas e populares
que podemos chamar de Nova Escola de como as Conferências Nacionais das Ci-
35
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
dades (2003, 2005, 2007) e Conselho Na- Para garantir a posse, caso fosse eleito,
cional das Cidades (2004)32. Lula firmou, em 2002, um compromisso
com as forças do mercado financeiro que
A RETOMADA DO impuseram uma limitação ao seu gover-
INVESTIMENTO PÚBLICO: NEO- no. O começo do governo foi marcado
DESENVOLVIMENTISMO? pela afirmação do ideário neoliberal que
por outro lado estava presente nas rotinas
da máquina pública. As poucas brechas
se deram na forma de gastos focados na
“Não há dúvida de que as extrema pobreza, como, aliás, era orien-
políticas sociais fizeram di- tação do BIRD - Banco Mundial. Já em
2003 decidiu-se aplicar recursos onero-
ferença na vida de milhões sos no saneamento básico, seguindo ou-
tra regra do receituário do BIRD, ou seja,
de brasileiros. Os principais a de retorno dos recursos investidos (cost
recovery) apesar dos protestos da equipe
programas sociais do gover- de profissionais ativistas que ocupavam o
no Lula que tiveram conti- Ministério das Cidades.
36
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
da Fazenda, Antonio Palocci por Guido O Ministério das Cidades começou por
Mantega. seguir a orientação do Projeto Moradia
elaborado com a coordenação de Lula
Não há dúvida de que as políticas sociais em 2001. A tese central do Projeto era a
fizeram diferença na vida de milhões de seguinte: ampliar o mercado residencial
brasileiros. Os principais programas so- privado para abranger a classe média
ciais do governo Lula que tiveram con- (considerando as mudanças necessárias
tinuidade na gestão de Dilma Rousseff para isso) para que o Estado se ocupe das
foram: Bolsa Família, Crédito Consigna- camadas de baixa renda com alocação de
do, Programa Universidade para todos subsídios.33 Uma proposta relativa aos
– ProUni (bolsa de estudo em universi- recursos financeiros necessários para im-
dades privadas trocadas por impostos), pactar o déficit habitacional e outra que
Programa de Fortalecimento da Agri- tratava da reforma fundiária permitiram
cultura Familiar- Pronaf e Programa Luz elaborar um projeto acompanhado de or-
para Todos. Garantiu-se um aumento çamento e cronograma. Políticas setoriais
real do salário mínimo (de cerca 55%, de transporte e saneamento complemen-
entre 2003 e 2011, conforme DIEESE). tavam o quadro de propostas. Como qua-
Além desses programas o crescimento da se 1/3 do déficit habitacional brasileiro
economia e do emprego, propiciado por está nas metrópoles estas foram conside-
condições de troca internacional, trou- radas prioridade para o Projeto Moradia.
xeram alguma perspectiva de esperança
de dias melhores. Para viabilizar a ampliação do mercado re-
sidencial em direção à classe média foram
Ao invés de reforçar explicações que propostos ao Congresso Nacional alguns
veem, no aumento da renda de uma gran- projetos de lei sobre a atividade empresa-
de camada, a emergência de uma nova rial e tomadas algumas medidas regulado-
classe média, Marcio Pochmann classifica ras do financiamento cujos fundos prin-
como um reforço das camadas que se en- cipais foram os mesmos utilizados pela
contram na base da pirâmide social. Es- significativa atividade de construção re-
tes aumentaram sua participação relativa sidencial havida durante os governos mi-
na renda que estava abaixo de 27% para litares (especialmente entre 1970 e 1980):
46,3% entre 1995 e 2009. Os classificados SBPE- Sistema Brasileiro de Poupança e
em “condição de pobreza” diminuíram Empréstimo (um sistema de poupança
sua representação de 37,2% para 7,2% privada) e o FGTS – Fundo de Garantia
nesse mesmo período. Parte dessa popu- por Tempo de Serviço, gerido pelo Estado
lação que migrou da condição de pobreza em parceria com entidades de trabalhado-
para a base da pirâmide empregou-se na res (um sistema de poupança compulsória
construção civil (POCHMANN, 2012). que servia também como fundo desem-
prego para trabalhadores formais).
37
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
38
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
espaço urbano em seu conjunto, e muito do o fim do sistema que foi realizado
menos a cidade já comprometida pela durante a ditadura com as instituições
baixa qualidade.34 centrais- Banco Nacional de Habitação,
Plano Nacional de Saneamento e Agen-
Com a finalidade explícita de enfrentar cia Nacional de Transporte Urbano.
a crise econômica de 2008 o MCMV
apresenta pela primeira vez uma po- Uma das principais finalidades do Pro-
lítica habitacional com subsídios do grama MCMV foi a reversão do impacto
governo federal. Desenhado pela Casa da crise de 2008 no Brasil e para tanto o
Civil do Governo Federal (com Dilma Programa foi bem sucedido.
Rousseff à frente) em parceria com os
maiores empresários do setor, o pro-
grama inclui regras para a securitiza-
ção do empréstimo. Buscava-se evitar o
saldo desastroso que havia caracteriza-
39
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
Figura: FGTS – Valor dos subsídios concedidos entre 2003 e 2011 (valores em R$ mil)
Planos, estratégias e critérios de aplica- gação se deu pela agressividade com que
ção dos investimentos desenvolvidos no os capitais imobiliários reassumiram o
Ministério das Cidades não contaram mercado de terras expulsando literal-
muito para a elaboração do MCMV.35 mente, até mesmo com despejos vio-
Apesar da ampliação do mercado que, lentos ou incêndios cujas origens nun-
nesse período passou a incluir a classe ca foram bem explicadas, as favelas ou
média (5 a 10 salários mínimos) do es- ocupações ilegais situadas em áreas com
forço do governo federal para a produ- algum potencial de valorização.36
ção de moradias para a baixa renda, a
reprodução da desigualdade e da segre-
40
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
41
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
42
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
Reintegração de posse Pinheirinho – São José dos Campos/SP - Foto: Roosevelt Cassio/Reuters
43
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
Reintegração de posse Pinheirinho – São José dos Campos/SP - Foto: Roosevelt Cassio/Reuters
para aplicação dos recursos. O que mais pela esfera institucional. Atualmente, a
se vê atualmente são planos sem obras e maior parte deles está em cargos públicos
obras sem planos. ou ao redor deles. (MARICATO, 2011a).
O pragmatismo tomou conta dos prin-
Os motivos do enfraquecimento das for- cipais partidos de esquerda que abando-
ças que lutaram pela Reforma Urbana naram os princípios éticos. Foram sendo
ou que puseram de pé e implementaram abandonados os processos de ampliação
uma política urbana que contrariou, ain- da consciência social sobre a manipula-
da que por um período limitado, a cidade ção dos orçamentos públicos e o desres-
selvagem, ainda estão a espera de melho- peito aos direitos legais.
res análises mas sem dúvida muitos dos
participantes dessa luta foram engolidos
44
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
Muitos exemplos poderiam ser dados O tempo médio das viagens em São Pau-
sobre a truculência com que as grandes lo era de 2:42 h.44 Para 1/3 da população
obras expulsam moradores das redonde- esse tempo é de mais de 3 hs. Para 1/5 são
zas para viabilizar um processo de expan- mais de 4 horas, ou seja, uma parte da
são imobiliária e de construção de um vida é vivida nos transportes, seja ele um
pedaço do cenário urbano global.41 Boa carro de luxo ou então o que é mais co-
parte dessas grandes obras resta subuti- mum e atinge os moradores da periferia
lizadas após abocanhar um significativo metropolitana, num ônibus ou trem su-
naco dos cofres públicos em sua constru- perlotado.45 Estresse, transtornos de an-
ção.42 A dinâmica que acompanha os me- siedade, depressão, são doenças que aco-
gaeventos articula, de um modo geral, os metem 29,6% da população de São Paulo
arquitetos do star system, como nomeia segundo pesquisa do Núcleo de Epide-
Otília Arantes, legisladores que acertam miologia Psiquiátrica da USP.46 Dentre
um conjunto de regras de exceção para cidades de 24 países pesquisados, São
satisfazer as exigências das agencias in- Paulo é a cidade que apresenta o maior
ternacionais esportivas ou culturais, go- comprometimento da população e parte
vernos de diversos níveis que investem importante dessas mazelas é atribuída ao
em obras visando a visibilidade e o re- tráfego de veículos.
torno financeiro sob a forma de apoio
45
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
46
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
Públicos traz dados sobre o modo das raramente há bons equipamentos de saú-
viagens nas 438 cidades brasileiras com de, abastecimento, educação, cultura, es-
mais de 60.000 habitantes. O dado que porte, etc. E como o transporte é ruim e
mais chama atenção é o número de via- caro os moradores, em especial os jovens,
gens a pé, ou seja, pelo menos em um ter- vivem o destino do “exílio na periferia”,
ço dos moradores das cidades com mais como cunhou Milton Santos (SANTOS,
de 1 milhão de habitantes. Esse dado não 1990). Nunca é demais lembrar que po-
indica que as cidades atingiram o equilí- breza e imobilidade é receita para a vio-
brio de aproximar casa, trabalho, estudo lência.
e demais equipamentos e serviços urba-
nos que demandam viagens diárias. Ao
contrário, nas periferias metropolitanas
47
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
Em que pese a ainda baixa participação móvel acarreta para a qualidade de vida
dos automóveis no número de viagens em qualquer cidade como impermeabi-
e o estímulo dado ao seu consumo, fal- lização do solo, espraiamento da urbani-
ta lembrar que as obras viárias ganham zação ou outras mazelas que ocuparam
prioridade sobre, por exemplo, as obras longas horas em seminários acadêmicos
de saneamento, nos orçamentos munici- ou profissionais. Muito papel com análi-
pais. De fato elas têm mais visibilidade e ses críticas e muitas propostas foram ela-
prestígio acabando por influenciar os vo- boradas para melhorar esse quadro, mas
tos nas eleições. essa prioridade indiscutível que é dada
ao automóvel na matriz urbana não está
O impacto da poluição do ar promovida afirmada em nenhum documento, dis-
por tal condição de mobilidade sobre a curso ou plano, no Brasil. Ao contrário,
saúde vem sendo estudado pelo profes- todos os anos as autoridades comemo-
sor da USP, Paulo Saldiva e sua equipe. ram o Dia Mundial sem Carro (22 de se-
Vamos reproduzir suas próprias palavras: tembro) com a repetidas ênfases sobre a
importância da bicicleta e da caminhada
De acordo com a OMS, os elevados níveis para a saúde.
de poluição na cidade de São Paulo são
responsáveis pela redução da expectativa CONCLUSÃO: RUMO À TRAGÉDIA
de vida em cerca de um ano e meio. Os três URBANA. CRESCIMENTO
motivos que encabeçam a lista são: câncer INSUSTENTÁVEL
de pulmão e vias aéreas superiores; infarto
agudo do miocárdio e arritmias; e bron- Numa das vezes que retornou ao Brasil
quite crônica e asma. Estima-se que a cada vindo do exílio imposto pela ditadura
10 microgramas de poluição retiradas do militar, Celso Furtado encontrou, no iní-
ar há um aumento de oito meses na expec- cio dos anos 80, um país que estava sob o
tativa de vida (...). impacto da crise fiscal. A desigualdade se
Aproximadamente 12% das internações aprofundara apesar do alto crescimento
respiratórias em São Paulo são atribuíveis econômico das décadas anteriores agra-
à poluição do ar. Um em cada dez infartos vando a pesada herança histórica. Com a
do miocárdio são o produto da associação lucidez de um brilhante analista e a gene-
entre tráfego e poluição. Os níveis atuais de rosidade de quem se comprometia com
poluição do ar respondem por 4 mil mor- a ação, julgou necessária uma atitude de
tes prematuras ao ano na cidade de São prevenção em relação ao cenário que via
Paulo. Trata-se, portanto, de um tema de se desenrolar à sua frente. Destacou que
saúde pública.53 a subordinação aos bancos e ao FMI nos
conduziria à recessão e ao desemprego
Poderíamos citar outros impactos nega- especialmente no que se referia ao trata-
tivos que a mobilidade baseada no auto- mento da Dívida Externa (FURTADO,
48
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
49
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
50
Notas de 8. ONU/Habitat, 2012.
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
Rodapé 9. A baixa escolaridade e o baixo nível de infor-
mação combinam-se a uma forte indústria cultural
(especialmente a TV) que se comporta como um partido
classista (FONSECA, 2010).
51
18. ANDERSON, Perry. Spectrum: From Right to tos, nos materiais, na produtividade, exigia, para serem
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
Left in the World of Ideas.London: Verso, 2005. incorporados à produção de moradias, mudanças na
sociedade brasileira, a começar pela aplicação da função
19. Sobre as experiências em Diadema, ver: HERE- social da propriedade. Como as mudanças não vieram
DA, Jorge Fontes; ALONSO, Emílio. “Política urbana e essas experiências continuam a existir como casos de
melhoria da qualidade de vida em Diadema”. In BON- exceção. A respeito da experiência de mutirões, ver BIS-
DUKI, Nabil (org.), Habitat: As práticas bem-sucedi- ILLIAT-GARDET, 1990.
das em habitação, meio ambiente e gestão urbana nas
cidades brasileiras, Studio Nobel, São Paulo, 1996. 29. A Prefeitura de São Paulo criou em 1990, uma
Usina para produção de placas de argamassa armada
20. GENRO, T.; DUTRA, O. O desafio de adminis- para canalização de córregos a céu aberto e produção de
trar Porto Alegre. Porto Alegre, 1989. equipamentos coletivos. A linha de produção e os desen-
hos foram inspirados no trabalho do notável arquiteto
21. Os programas da prefeitura de São Paulo du- brasileiro Lelé (João Filgueiras Lima).
rante as gestões de Luiza Erundina (1989/1992) e Marta
Suplicy (2001-2004) foram objeto de um grande número 30. Embora a governabilidade buscada nas alianças
de teses e dissertações acadêmicas. As que se referem à que incluem conservadores seja explicada como uma
política urbana, à política de habitação e ao direito social necessidade para governar nesse contexto muitos dos
à arquitetura podem ser encontradas especialmente nas governos municipais bem sucedidos não ampliaram
bibliotecas dos cursos de pós-graduação em arquitetura e demais o arco de alianças.
urbanismo da USP - Universidade de São Paulo.
31. Um conjunto de novas leis constituiu um novo
22. A autora deste texto foi Secretária de Habitação quadro jurídico após a Constituição Federal de 1988:
e Desenvolvimento Urbano do Município de São Paulo Estatuto da Cidade 2001, Lei dos Consórcios Públicos
entre 1989/1992. 2005, Marco legal do Saneamento, 2007, Lei dos resíduos
sólidos 2011, Lei federal da Mobilidade Urbana 2012
23. Sobre o “modo petista de governar” ver: (CARVALHO & ROSSBACH, 2010.).
MAGALHÃES, I.; BARRETO, L.; TREVAS, V. (org.)
Governo e Cidadania: Balanço e reflexões sobre o modo 32. O Instituto Cidadania, que tinha Lula como
petista de governar. São Paulo, Ed. Fundação Perseu presidente, uma ONG destinada a formular propos-
Abramo, 1999. tas de políticas públicas, formulou em 2001 o Projeto
Moradia visando enfrentar o problema da habitação no
24. Cf. BUENO, 2000; CARDOSO, 2009; DENAL- Brasil. A proposta de criar um Ministério voltado para
DI, 2003; LABHAB, 1999, MINISTÉRIO DAS CI- as cidades fez parte desse projeto, mas já estava presente
DADES, 2010. nos programas de Governo do PT durante as campanhas
eleitorais dos anos 90.
25. Essas ações nada tiveram a ver com as teses do
peruano Hernando de Sotto ou do Banco Mundial. Elas 33. Praticamente 90% do déficit habitacional bra-
foram resultado de mobilização dos moradores que que- sileiro estava concentrado nas famílias que ganhavam de
riam a segurança contra despejos. 3 salários mínimos para baixo. Nesse período (2001) o
mercado privado atendia quase que somente as famílias
26. Os CEUs foram criados na gestão da prefeita que ganhavam de 10 salários mínimos para cima.
Marta Suplicy em São Paulo a partir de 2001. Projetos (MARICATO, 2001)
elaborados por arquitetos funcionários públicos.
34. O Ministério das Cidades exige um plano
27. A Federação Nacional de Sindicato de Arquite- habitacional e de saneamento para liberar recursos oner-
tos conseguiu fazer aprovar uma lei federal que institui osos ou de subsídios.
a assistência técnica pública ligada a essa experiência.
Trata-se de mais uma lei que espera aplicação. 35. Em 2006, foi contratado o Plano Nacional de
Habitação – PLANHAB pela Secretaria Nacional de
28. A generalização dos avanços incluídos nos proje- Habitação do Ministério das Cidades. Ele usou uma
52
forma inovadora de diagnóstico – a tipologia de cidades Metro de São Paulo, em 2007.
[ revista política social e desenvolvimento
– para definir prioridades orçamentárias.
45.
#01 ]
Dados da Rede Nossa São Paulo, http://www,re-
36. Ver a respeito a significativa e suspeita relação denossasaopaulo.org.br mai/2012 de pesquisa contratada
entre incêndio em favelas e a proximidade de grandes ao IBGE.
obras de infraestrutura ou áreas valorizadas. Entre ja-
neiro e agosto de 2012, 46 favelas vivenciaram incêndios 46. Mental Disorders in Megacities: Findings from
em São Paulo. (Para remoções forçadas ver Observatório the São Paulo Megacity Mental Health Survey, Brazil,
de Remoções de São Paulo - http://observatoriodere- de Laura Andrade e outros, pode ser lido em www.
mocoes.blogspot.com.br/ - e sobre Incêndios nas favelas plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.
da cidade ver Fogo no Barraco - http://fogonobarraco. pone.0031879.
laboratorio.us/)
47. Essa marca recorde foi atingida no dia 1 de jun-
37. “Imóveis a maior alta do mundo”. In: Revista ho de 2012.
Exame 18/05/2011. Disponível em http://exame.abril.
com.br/revista-exame/edicoes/0992/noticias/a-maior-al- 48. Os dados são da CET- Companhia de Engenha-
ta-do-mundo. ria de Tráfego e foram divulgados pelo Jornal O Estado
de São Paulo, 23/09/2012
38. Disponível em: http://www.zap.com.br/imoveis/
fipe-zap. 49. Quando não constar fonte específica, os dados
que se seguem estão na matéria Especial Trânsito do
39. Ver a respeito os estudos de Ana Fernandes e informativo digital Carta Maior de setembro de 2012.
Jurema Rugani que se referem a Salvador e Belo Hori- (disponível em: http://www.cartamaior.com.br/tem-
zonte. Em São Paulo as ZEIS- Zonas Especiais de Inter- plates/index.cfm?home_id=144&alterarHomeAtual=1)
esse Social foram modificadas por decreto do prefeito.
50. Artigo de Nazareno Stanislau Afonso na revista
40. Os capitais financeiros não se comportam no do IPEA
Brasil de forma semelhante à da bolha americana.
Apesar dos esforços de “copiar” as incríveis criações de 51. Relatório Geral de Mobilidade Urbana 2010.
que o capital fictício foi capaz nos EUA os empresários e ANTP (disponível em: http://portal1.antp.net/site/simob/
representantes de bancos não lograram avançar muito no Downloads/Relat%C3%B3rio%20Geral%202010.pdf)
Brasil, nessa direção (FIX, 2011; ROYER, 2009)
52. O filme brasileiro “Os 12 trabalhos de Hércules”
41. Ao todo 170.000 moradores estão sendo re- (dirigido por Ricardo Elias) mostra um dia na vida de
movidos diretamente pelas obras da Copa do Mundo, um motoboy, morador da periferia de São Paulo, com
no Brasil, e das Olimpíadas, especificamente no Rio de riqueza de detalhes.
Janeiro. Muitos deles estão organizados em torno de
comitês populares (ver Comitê Popular da Copa http:// 53. Professor da Faculdade de Medicina da Uni-
portalpopulardacopa.org.br) versidade de São Paulo. Ver entrevista: http://www.
cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?mate-
42. Ver a respeito ARANTES, 2000, 2011, 2012, ria_id=20651
VAINER, 2000, ROLNIK, 2012. Na cidade de Natal, um
estádio de futebol que raramente ficava lotado foi posto 54. O papel específico do mercado imobiliário em
abaixo para dar lugar à construção de outro maior para países da América Latina foi desenvolvido no trabalho
atender às exigências do evento. Na África do Sul e na de LESSA e DAIN, 1980.
China, a ociosidade de algumas grandes obras tem dado
motivos para a discussão sobre o que fazer com elas.
43. Idem.
53
Bibliografia Press, 2002
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
DAVIS, Mike. Planeta Favela. São Paulo: Boitempo
Editorial, 2006
54
LESSA, Carlos e DAIN, Sulamis. (1980). Capitalismo ___________. Autoconstrução: a arquitetura possível.
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
Associado: algumas referências para o tema Estado e
desenvolvimento. In: BELLUZZO, L. e COUTINHO, R.
São Paulo: FAUUSP. Trabalho apresentado na 28a. Re-
união da SBPC, Brasília, 1976.
(Orgs.). Desenvolvimento Capitalista no Brasil: ensaios
sobre a crise, vol. 1, 4ª ed. Campinas: IE/Unicamp, 1998 MARQUES, E.; SARAIVA, C. Favelas e periferias nos
(Coleção 30 Anos de Economia - Unicamp, nº 9), pp. anos 2000. In: KOWARICK, L.; MARQUES< E. (orgs).
247-65. São Paulo: novos percursos e atores. Sociedade, cultura e
política. São Paulo: Editora 34, 2011.
LUDD. N.(org.) Apocalipse motorizado. São Paulo:
Conrad, 2004. MINISTÉRIO DAS CIDADES. Ações integradas de ur-
banização de favelas. 2ª edição. Brasília, 2010.
MAGALHÃES, I.; BARRETO, L.; TREVAS, V. (org.)
Governo e Cidadania: Balanço e reflexões sobre o modo MOURA, R. Os riscos da cidade-modelo. In: ACSER-
petista de governar. São Paulo: Ed. Fundação Perseu ALD, H.(org). A duração das cidades. Rio de Janeiro:
Abramo, 1999. DP&a, 2001.
MARCUSE, P.; CONNOLLY, J.; POTTER, C. e outros. OLIVEIRA, D. Curitiba e o mito da cidade modelo.
(Org.). Searching for the Just City. 1 ed. London e New Curitiba: UFPR, 2000.
York: Routledge, 2009.
OLIVEIRA, F. “A Economia Brasileira: Crítica à Razão
MARICATO, E. O impasse da política urbana no Brasil. Dualista”. In: Estudos CEBRAP 2, Edições CEBRAP,
Petrópolis: Vozes, 2011a. 1972
_______________. “The statute of the Peripheral City”. ONU - HABITAT. Estado de las Ciudades de América
In: Carvalho, Celso Santos e Rossbach, Anaclaudia. Latina y el Caribe 2012: rumbo a uma nueva transicion
(Org.). The city satatute of Brazil: a commentary. 1 ed. São urbana. PNUD, 2012.
Paulo: Ministério das Cidades e Aliança de Cidades, 2010.
PILOTTO, A. Área metropolotana de Curitiba: um
_____________. Fighting for Just Cities in capitalism’s estudo a partir do espaço intra-urbano. São Paulo, 2010
periphery. In: MARCUSE, P.; CONNOLLY, J.; POTTER, (Dissertação de Mestrado apresentada à FAU USP)
C. e outros. (Org.). Searching for the Just City. 1 ed. Lon-
don e New York: Routledge, 2009. POCHMANN, M. Nova classe média? Trabalho na
pirâmide social brasileira. São Paulo: Boitempo, 2012.
___________. Brasil, cidades: alternativas para a crise
urbana. Petrópolis: Vozes, 2001. PRADO JR. C. História econômica do Brasil. São Paulo:
Brasiliense, 1972.
_____________. “As idéias fora do lugar e o lugar fora
das idéias: planejamento urbano no Brasil”. In: AR- ROLNIK, R. Copa e Olimpíadas vão deixar gente sem
ANTES, O.; MARICATO, E. e VAINER, C. A Cidade do teto. Galileu, p. 82 - 82, 01 jun. 2012
pensamento único: desmanchando consensos. Petrópolis,
Ed. Vozes, 2000. ROYER, L. Financeirização da Política Habitacional.
São Paulo, 2009. (Tese de Doutoramento apresentada à
___________. Metrópole na periferia do capitalismo: FAU USP).
desigualdade, ilegalidade e violência. São Paulo: Hucitec,
1996. SANTOS, M.. Metrópole corporativa fragmentada. São
Paulo: Nobel, 1990
___________. A produção da casa (e da cidade) no
Brasil industrial. São Paulo: Alfa Omega, 1979.
55
SILVA, H. M. B.; CASTRO, C.M.P. A legislação, o mer-
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
cado e o acesso à habitação em São Paulo. In: Workshop
Habitação: Como Ampliar o mercado? São Paulo, 1997.
56
[ revista política social e desenvolvimento #01 ]
Você n u n c a v
i u uma
e v i s t a a s s i m a n tes...
r
Acesse: www.revista
e acompanhe a Vaidapé di
vaidape.com.br
ariamente...
gra-
tuita
57