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1 Introdução
A Paraíba é atualmente o terceiro maior polo coureiro calçadista do País, perdendo apenas
para as regiões de Franca (SP) e Novo Hamburgo (RS). Para o mercado externo, por exemplo,
o estado exportou 21 milhões de pares, o segundo maior do País. “Hoje, o setor de calçados
da Paraíba é bastante forte, empregando quase 25 mil pessoas de forma direta e indireta, o que
gera produção anual de 250 milhões de pares” (PARAÍBA, 2012).
Este crescimento do mercado Paraibano se deu a partir da década de 1990, quando houve um
deslocamento de fábricas de calçados do Sul e Sudeste para o Nordeste. Sousa et al. (2005)
apontam os principais motivos para essa mudança: (1) A busca por mão de obra barata; (2)
incentivos dos governos estaduais; ou ainda (3) busca pela aproximação do mercado externo,
reduzindo a distância e os custos de transporte, uma vez que há uma maior proximidade do
litoral nordestino de centros importantes de exportação dos produtos brasileiros, como é o
caso dos Estados Unidos – principal importador de calçados oriundos do Brasil.
A partir deste cenário, a Paraíba evoluiu nos últimos anos em número de pares exportados e
receita adquirida na exportação. O estado da Paraíba apresentou-se como o segundo estado do
país em quantidade de pares de calçados exportados e o quarto maior em arrecadação, como
se vê na Tabela 1.
A maioria das empresas da indústria calçadista ainda utiliza a especialização para realização
da tarefa, geralmente realizada em ciclos curtos, com uso de força, com pouca diversificação
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Guimarães (2012) afirma que a ergonomia deve abranger os espaços físicos dos ambientes de
trabalho, as relações interpessoais, a participação nas decisões sobre os fluxos e processos, de
forma a interagir a alta gerência e os usuários dos postos de trabalho:
Observa-se, contudo, que na maioria das indústrias calçadistas as alterações têm sido apenas
de ajuste dos postos, não contemplando as condições psicofisiológicas dos seus usuários.
2 Objetivo
3 Revisão bibliográfica
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Estudos de biomecânica indicam que alguns músculos tornam-se isquêmicos quando forças de
contração alcançam 50% da Máxima Contração Voluntária – MCV (CHAFFIN;
ANDERSON; MARTIN, 2001).
Assim, a relação entre a frequência de ações técnicas e a força média necessária para realizá-
la tem sua importância no fato de que quanto maior a força empregada para realizar uma ação,
menor deve ser a sua frequência para evitar uma lesão.
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Segundo Colombini et al. (2006), os modelos já propostos por outros pesquisadores para a
descrição de posturas e de movimentos confirmam a presença de risco em graus de
articulações que se encontram acima de 50% da amplitude total da articulação, conforme
demonstrado na Tabela 3.
Atenção especial deve ser dada às posturas de ombro, por ser esta parte mais sensível ao risco,
sendo que a postura de abdução entre 45º e 80º já é caracterizada como risco, e a flexão desta
mesma articulação acima de 80º, mesmo que por um tempo curto, entre 10% e 20% de tempo
total do ciclo, já recebe pontuação máxima.
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Outro fator agregado à pontuação de posturas é relacionado com o tipo de “pegada” do objeto
ou ferramenta, pois algumas delas são consideradas mais desfavoráveis em relação às outras,
conforme demonstra a Figura 1.
Os valores para pontuação de pegada estão resumidos na Tabela 4, em que se relaciona o tipo
de pegada da mão com a respectiva pontuação.
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Segundo Couto, Nicoletti e Lecho (2007), o critério mais antigo e aceito sobre repetitividade,
e também o mais seguido pelas empresas norte-americanas, foi proposto por Silverstein
(1985), ao sugerir que qualquer ciclo de trabalho de duração menor que 30 segundos seria
altamente repetitivo. Porém, seguindo os mesmos critérios metodológicos, quaisquer
situações de ciclos maiores de 30 segundos poderiam ser caracterizadas como altamente
repetitivas caso um mesmo elemento de trabalho ocupe mais de 50% do ciclo.
Tal elemento, neste caso específico, se refere ao conceito originado dos estudos de tempos e
movimentos que descrevem as atividades humanas no trabalho como um conjunto de tarefas
ou elementos padrões (CHAFFIN; ANDERSON; MARTIN, 2001).
A tabela acima demonstra a correlação entre um fator multiplicador para cada cenário de
repetitividade encontrado no ambiente de trabalho. Para a escolha deste escore, é necessário
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A partir dessas duas variáveis, pode-se comparar com a Tabela 3 e escolher o escore que
melhor representa a realidade da atividade, sendo considerado risco ausente para movimentos
com gestos do mesmo tipo até 50% do ciclo, independente do tempo de ciclo.
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fator de vibração é atribuído valor “8” para exposição de 1/3 do ciclo, valor “12” para
exposição de 2/3 do ciclo e valor “16” para exposição por todo o ciclo.
Para escolha do escore final, são somadas todas as pontuações atribuídas para todos os fatores
complementares identificados na atividade, e o valor total correlacionado com o multiplicador
correspondente, conforme visto na Tabela 7.
Fonte:
Colombini et al. (2006)
O fator de recuperação difere dos demais em função da sua consideração sobre todo o turno
de trabalho, enquanto os demais fatores são quantificados em cada uma das tarefas repetitivas
que compõem o turno.
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A partir da análise das variáveis descritas nos multiplicadores, a Ferramenta OCRA classifica
o risco, de acordo com os valores encontrados, em três níveis, fazendo uma analogia à lógica
do semáforo (verde, amarelo e vermelho), conforme demonstrado na Tabela 10.
Quando o índice apresenta valores até 2,2, representa uma área verde (aceitável), e que
não há previsão significativa de aparecer casos de distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho no grupo de trabalhadores expostos em relação ao grupo de
controle. Portanto, não requer intervenção no ambiente de trabalho;
Quando o índice apresenta valores entre 2,3 e 3,5, representa uma área amarela
(apresenta nível de risco não relevante), porém, podem aparecer patologias nos grupos
expostos. Neste caso, especialmente para os valores mais altos dessa faixa, é
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4 Método
Para a realização da análise das posturas assumidas e movimentos repetitivos foi utilizada a
ferramenta OCRA (OCCHIPINTI; COLOMBINI, 1996). Para isto, foi feita observação,
filmagens e registros dos postos de trabalho em formulário. O objetivo do uso desta
ferramenta foi identificar os riscos aos quais os funcionários estão submetidos em função das
posturas assumidas e esforço físico utilizado na realização da atividade.
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Produzir uma síntese, avaliação estruturada dos fatores de risco para o trabalho como
um todo.
A Ferramenta OCRA foi adaptada em planilha Excel, conforme apresentado nas Figuras 2 e
3. A Figura 2 demonstra a planilha utilizada para lançar os dados coletados das condições
encontradas na apreciação do posto de trabalho. Já a Figura 3 apresenta os resultados dos
cálculos e o escore final da atividade, demonstrando os resultados dos membros superiores
direito e esquerdo.
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5 Resultados e discussões
A coleta de dados obtida pode ser observada nas Tabelas de 11 a 13, a seguir.
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Supinação (+60°)
e 10% a 20% do
Pega em gancho
Extenção (+20°)
Pronação (+60°)
Extensão (+45°)
Flexão/Extensão
Pega em pinça
Flexão (+45°)
Pega palmar
Número
e 5 cm)
(1,5 cm)
tempo)
(+60°)
da Função
função
1 2ª Demão - Pegar x x x x x x x x x x
3 Calceira x x x x x x x x x x x
4 Conformar x x x x x x x x x x x x
5 Fechar bico x x x x x x x x x x x
6 Lixadeira x x x x x x x x x x x
7 Palmilhar x x x x x x x x x x
9 Retocar a bucha x x x x x x x x x x x x x x
10 2ª Demão - Descartar x x x x x x x x x x
11 1ªDemão -pegar x x x x x x x x x x
12 Ensacar cabedal x x x x x x x x x x x x x x
13 Aplicar adesivo x x x x x x x x x x x
14 Riscar Lateral x x x x x x x x x x x x x
15 2ª demão x x x x x x x x x x
16 3ª demão - 1° Operador x x x x x x x x x x x
17 3ª demão - 2° Operador x x x x x x x x x
18 desenformar automático x x x x x x x x x x x
21 Retoque x x x x x x x x x x x x
22 1ª demão-Efetuar atividade x x x x x x x x x x x x
1ª demãoPedar e descartar
23 x x x x x x x x x x x
calçado
24 Inspeção de calçado x x x x x x x x x x x
25 Inspeção de calçado x x x x x x x x x x x
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MEMBROS E D E D E D E D E D E D E D E D * E D E D E D E D E D
Nº de horas
Temperatur
Movimento
Minutos no
Repetitivid
Repetitivid
Número
Escorregadi
repetitivas
Compressã
51 e 80%
ade maior
ade entre
que 80%
Ausência
Ciclo (s)
Vibração
c/tarefas
Precisão
Impacto
Uso de
Brusco
turno
Luvas
Nat.
sem
da Função
o
a
função
1 2ª Demão - Pegar 2/3 29 x x 3 3 340 340
1ª demãoPedar e descartar
23 1/3 20 x x 3 3 195,67 195,67
calçado
24 Inspeção de calçado 33,36 x x 3 3 320 320
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Tabela 13 – Resultado da classificação dos riscos, por meio da análise OCRA, para cada uma das atividades em
estudo
INFORMAÇÕES
FATORES AÇÕES COM FORÇA ANÁLISE OCRA
COMPLEMENTARES
MEMBROS E D E D E D E D E D E D
Número
ação 1 (s)
ação 2 (s)
Ações por
ação (1)
ação (2)
Escala de
Escala de
Força p/
Força p/
Tempo
Tempo
ciclo
da Função SCORE OCRA
função
1 2ª Demão - Pegar 2,0 25 17 34 6,63 7,30
2 Asperar - retifica com cabine 0,5 0,5 0 27 0,5 0,5 3 0 22 14 7,50 3,94
1ª demãoPedar e descartar
23 1,0 18 8 21 7,62 3,51
calçado
24 Inspeção de calçado 19 23 4,83 3,86
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A Ferramenta OCRA foi utilizada em vinte e nove atividades em uma indústria calçadista do
estado da Paraíba, por meio da Tabela 13, é possível observar que dentre as vinte e nove
atividades em questão, 75,9% delas apresentam risco presente, cor vermelha, em ambos os
membros superiores, sendo necessária uma intervenção rápida. De acordo ainda com a Tabela
13, percebe-se que os postos de trabalho que se apresentam como prioridades, diante de uma
intervenção imediata no ambiente de trabalho, são as funções de número: 6, 7, 8, 9, 12, 14, 17,
19, 27 e 28. Em decorrência do escore OCRA, de pelo menos um dos membros, ser superior a
10. Sendo, no entanto, a função de número 12 a mais crítica dentre essas.
Apenas 10,3% das atividades em estudo tiveram, pelo menos, um dos membros com nível de
risco aceitável (cor verde), sendo a função de número 4 a única a ter os dois membros
superiores com essa qualificação de risco.
Em relação à avaliação de risco muito baixo, cor amarela, somente 13,8% das atividades em
estudo tiveram, pelo menos, um dos membros com nível de risco muito baixo, no entanto,
nenhuma atividade apresentou nível esse nível de risco para os dois membros. As funções de
número 6, 14, 22 e 28 foram as que tiveram ao menos um dos membros com risco muito
baixo, porém o outro membro foi classificado como risco presente. Com destaque para a
atividade de número 14, na qual o membro esquerdo obteve escore OCRA acima de 23
pontos.
6 Conclusões
Diante dos resultados apresentados, é possível perceber que dentre as vinte e nove atividades
analisadas, apenas uma teve risco aceitável (função de número 4). E que 75,6% delas
apresentam risco para os membros superiores direito e esquerdo. Faz-se assim fundamental à
implementação de medidas ergonomicamente corretas, que permitam eliminar as condições
que podem acarretar distúrbios musculoesqueléticos.
O enquadramento normativo por meio do uso da NR-17, também é um ponto essencial para
identificar as causas raízes dos problemas que estão conduzindo a esse resultado da análise
OCRA. Todos os postos de trabalho devem ser adequados a essa norma, a fim de que o
trabalhador não seja submetido a condições inapropriadas em seus postos de trabalho, as quais
irão conduzi-lo a uma possível doença do trabalho.
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REFERÊNCIAS
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GUIMARÃES, L.B.M. Ergonomia. Revista Proteção, Novo Hamburgo – RS, n. 251, p. 4, 47-62, nov. 2012.
(Entrevista concedida)
MÁSCULO, F.S. Biomecânica. In: MÁSCULO, F.S.; VIDAL, M.C.R. (Orgs.). Ergonomia Trabalho
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Tesis (PhD) - University of Michigan, Ann Arbor.
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