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ISSN 1413-389X Temas em Psicologia - 2010, Vol.

18, no 2, 491 – 498

Algumas considerações sobre o “pequeno Albert”

Paola Bisaccioni
Universidade de São Paulo – Brasil

Marcus Bentes de Carvalho Neto


Universidade Federal do Pará – Brasil

Resumo
O artigo de Watson e Rayner (1920), conhecido como o caso do “Pequeno Albert”, é considerado um
clássico na história da psicologia. Em tese, seria uma das primeiras e mais vigorosas demonstrações
de como o medo poderia ser aprendido através de condicionamento pavloviano. Dele, teriam sido
derivadas algumas técnicas de contracondicionamento utilizadas até hoje de modo eficaz no
enfrentamento de fobias. Contudo, é possível identificar um descompasso entre o modo como tal
pesquisa é apresentada na literatura (uma referência de rigor experimental e criatividade
interpretativa) e o próprio artigo examinado no original (rico em problemas metodológicos e
inconsistências teóricas). O objetivo do presente ensaio é apresentar e avaliar criticamente o referido
artigo clássico, identificando suas virtudes e limitações. São discutidos alguns problemas de
procedimento e de interpretação como: o uso de punição positiva, além do programado pareamento
entre estímulos, e a ausência de dados consistentes, atestando a aquisição de medo generalizado. As
falhas metodológicas também se confirmaram nas tentativas malsucedidas de replicar o experimento
nas décadas de 1920 e 1930. Discutem-se a possível origem dos problemas, os equívocos potenciados
e cristalizados pela literatura secundária e as contribuições reais do estudo.
Palavras-chave: Watson, Pequeno Albert, Condicionamento, Medo, Behaviorismo.

Some considerations about “little Albert”

Abstract
Watson and Rayner´s 1920 experiment known as “Little Albert” is considered a classic in the history
of psychology. It is frequently cited as the first and strongest demonstration of how fear can be
learned by Pavlovian conditioning. Some counter-conditioning techniques derived from this
experiment are used until now in phobias treatment. However, it is possible to identify differences in
way this research is presented in literature (a reference of experimental rigour and creative
interpretation) and the original article (with many methodological problems and theoretical
inconsistencies). The objective of this paper is to present and to make a critical analysis of the cited
article, identifying its qualities and limitations. Some problems of procedure and interpretation are
discussed, for example: use of positive punishment, in addition to the programmed stimuli pairing,
and the lack of consistent data about the acquisition of generalized fear. Methodological fails are also
confirmed in unsuccessful replications of the experiment made during 1920s and 1930s. Moreover,
this paper discusses the possible origin of the problems, the mistakes solidify by secondary literature
and the real contributions of this study.
Keywords: Watson, Little Albert, Conditioning, Fear, Behaviorism.

Parte I: o contexto da proposta insatisfação com o método introspectivo de


behaviorista de Watson e do Wundt e Titchener, incapaz de identificar as
experimento “pequeno Albert” regularidades buscadas por qualquer ciência e
de resolver seus impasses teóricos por meios
A psicologia norte-americana no início do objetivos que dispensassem o uso da autoridade
século XX foi marcada por uma crescente (Marx & Hillix, 1973; Schultz & Schultz,
_____________________________________
Endereço para correspondência: Marcus Bentes de Carvalho Neto - Rua Municipalidade, 1508, Ap. 1004,
Umarizal, Belém, PA. CEP.: 66.050-350. Fone: (91) 3201-8471 (UFPA). E-mail:
marcus_bentes@yahoo.com.br.
492 Bisaccioni, P., & Carvalho Neto. M. B.

2007). Surge, nesse contexto, uma forte busca “garantir sua posição de líder na aplicação de
por alternativas que colocassem a psicologia no princípios psicológicos para melhoria da
mesmo patamar das ciências naturais, em sociedade” (Goodwin, 2005, p. 354). Somado a
relação à natureza do objeto e aos meios de isso, passava por dificuldade para obter
produzir e validar o conhecimento. Além disso, financiamento para as pesquisas básicas com
a sustentação de uma ciência psicológica pura, animais, assim como outros pesquisadores da
sem qualquer compromisso com a área área.
aplicada, era cada vez mais difícil de sustentar Na busca por uma unidade básica no
no período de guerra, especialmente nos estudo do comportamento e por mecanismos
Estados Unidos (Schultz & Schultz, 2007). A explicativos universais, Watson começou a se
psicologia animal e o funcionalismo já dedicar ao estudo dos reflexos em geral (com
possuíam alguns desses elementos e especial atenção aos aprendidos) e das reações
forneceram as principais bases para a emocionais básicas (incondicionadas) e
formulação do behaviorismo inicial de Watson complexas (condicionadas) dos bebês em
(Goodwin, 2005; Marx & Hillix, 1973; Schultz particular.
& Schultz, 2007). Em um trabalho com a colaboração de J. J.
Durante vários anos, Watson realizou Morgan (Watson & Morgan, 1917), tentou
trabalhos envolvendo a aprendizagem animal, identificar as reações emocionais humanas mais
como, por exemplo, sua tese de doutorado, em básicas e os estímulos que as produziam. Como
que estudou a relação entre o desenvolvimento resultado, identificaram o medo, a raiva e o
cortical e a capacidade de aprendizagem de amor como as emoções primárias e verificaram
ratos, e trabalhos posteriores sobre o papel da que apenas alguns estímulos provocavam essas
cinestesia para a aprendizagem da saída de três reações incondicionadas. Entretanto,
labirintos, também com ratos. Segundo Watson observava que as pessoas adultas
Goodwin (2005), “o interesse de Watson pelo apresentavam reações emocionais complexas a
comportamento animal passou a moldar suas uma faixa muito mais ampla de estímulos e
convicções acerca da psicologia em geral” (p. pressupôs que isso se daria pelo processo de
346). condicionamento pavloviano, mas não havia
Em 1913, Watson fez algumas palestras nenhuma evidência experimental disso (Jones,
sobre sua proposta para a psicologia, que foram 1974). O clássico experimento conhecido como
chamadas de “manifesto behaviorista” “Pequeno Albert” foi proposto por Watson e
(Watson, 1913). Nesse manifesto, ele rejeitava Rayner, em 1920, com o objetivo de testar se as
as abordagens estruturalista e funcionalista e reações emocionais poderiam ser adquiridas
afirmava que a psicologia deveria abandonar o pela experiência, em especial o “medo” 1 ,
método introspeccionista e deixar de estudar dentro de um paradigma de condicionamento
somente a consciência. Em sua nova proposta, pavloviano.
inseria a psicologia entre as ciências naturais,
tendo como objeto de estudo o comportamento.
Adotava inteiramente o modelo evolucionista e
estabelecia metas claras para uma psicologia 1
Watson e Rayner (1920) não definem explícita e
científica. Além disso, argumentava que o
precisamente o “medo”. Falam genericamente de
behaviorismo possibilitaria aplicações práticas um conjunto de estímulos e respostas emocionais,
importantes que melhorariam a qualidade de apontadas parcialmente no próprio estudo
vida das pessoas. (condições de estimulação e respostas observadas).
Nesse sentido, o behaviorismo tornou-se O artigo começa com a menção a alguns achados
uma proposta atraente na época, porque empíricos sobre quais seriam as emoções básicas em
propunha uma alternativa à introspecção e bebês humanos (medo, ódio e amor) e cita o já
estava comprometida com a resolução de mencionado trabalho de Watson e Morgan (1917).
problemas, atendendo à crescente demanda da Nesse trabalho, como em outros de Watson
sociedade por conhecimento prático. (Watson, 1924/1970, por exemplo), há uma lista de
estímulos e respostas “emocionais”, mas não uma
Depois dos trabalhos com animais não única e genérica definição de “medo”. De fato, o
humanos, Watson teve a oportunidade de mesmo ocorre para as outras duas emoções básicas
estudar bebês na universidade onde trabalhava listadas. Para uma análise específica desse ponto,
(Johns Hopkins University) e com isso tentar ver Gil e Martinez (1992) e Gehm e Carvalho Neto
demonstrar a aplicabilidade do behaviorismo e (2010).
Considerações sobre “pequeno Albert” 493

Parte II: descrição do experimento Albert imediatamente pegou os objetos,


manipulando-os, não apresentando respostas de
O experimento (Watson & Rayner, 1920) medo.
foi proposto para responder a quatro questões Nas três apresentações seguintes, o rato foi
principais: 1) verificar se a resposta de medo seguido pelo som intenso. Como consequência,
poderia ser condicionada apresentando um Albert caiu para o lado direito, desviou a
animal e logo em seguida um som forte; 2) cabeça, mas não chorou. Na quinta
testar a transferência dessa resposta emocional apresentação, o rato foi apresentado sem o som.
a outros animais e objetos; 3) verificar o efeito O bebê franziu o rosto, desviou o corpo para a
do tempo sobre a intensidade da resposta; 4) direita e choramingou. Na sequência, mais dois
desenvolver procedimentos para remover a pareamentos rato/som foram realizados. Na
resposta que foi condicionada. última apresentação, Albert sobressaltou
Um bebê saudável de 11 meses, chamado violentamente e começou a chorar. Por fim, o
de Albert B., participou desse estudo. Albert foi animal foi apresentado mais uma vez sozinho.
escolhido devido a sua estabilidade emocional, O bebê começou a chorar imediatamente,
já que antes do experimento ele não desviou e tombou para o lado esquerdo e
demonstrava nenhuma reação de medo diante começou a engatinhar rapidamente. De acordo
de uma série de animais e objetos, como, por com Watson e Rayner (1920), após sete
exemplo, rato branco, coelho, cachorro, pareamentos rato/som, o bebê apresentava uma
algodão, máscara com e sem cabelo e jornais reação emocional completa.
em chamas. Nos testes inicias, o bebê só Depois de cinco dias, foram realizados
mostrava medo diante de ruídos intensos e testes preliminares com três apresentações dos
repentinos. Dessa forma, para que o medo fosse blocos de madeira alternadas com duas
condicionado, os experimentadores apresentações do rato sem o som. Diante dos
apresentavam a Albert um rato branco blocos de madeira, Albert se aproximava
(estímulo que inicialmente era neutro, porque prontamente, brincava com eles e sorria. Diante
não eliciava nenhuma reação desse tipo) e, do rato, na primeira vez o bebê imediatamente
assim que o bebê tocava o animal, era começou a choramingar, afastou sua mão e
produzido um som alto (de um martelo batendo virou a cabeça. Na segunda vez, inclinou para o
em uma barra), atrás de sua cabeça lado esquerdo afastando-se do rato e saiu
(supostamente um estímulo aversivo engatinhando. Conforme os autores, esses
incondicional). Inicialmente foram feitos dois testes indicaram que a resposta condicionada ao
pareamentos entre o rato e o som. Depois do rato continuava plenamente estabelecida
primeiro pareamento, o bebê saltou mesmo depois de cinco dias sem testes (Watson
violentamente, tombou para frente, escondeu o & Rayner, 1920).
rosto, mas não chorou. Na segunda A partir desse momento, os
apresentação dos estímulos, Albert saltou, experimentadores passaram a investigar a
tombou novamente para frente e começou a transferência da reação a outros animais e
choramingar. objetos. Na primeira sequência de
Após uma pausa de uma semana, para não apresentações, nenhum estímulo foi seguido
perturbar muito seriamente o bebê, Albert foi pelo som intenso. Albert foi primeiramente
exposto a uma sequência de oito apresentações. exposto a um coelho. Diante desse novo
Na primeira, o rato foi apresentado animal, Albert teve reações negativas
repentinamente sem o som. No início a criança pronunciadas: inclinou-se para se afastar do
não apresentou nenhuma tendência de se animal e chorou. Quando o animal foi colocado
aproximar do animal; quando o rato foi mais perto, o bebê escondeu seu rosto e
colocado mais próximo dele, o bebê apresentou começou a engatinhar, chorando. Segundo os
alguns movimentos de aproximação do rato. autores, esse foi o teste mais convincente de
Segundo relato dos experimentadores, a não que a função aversiva havia sido transferida
aproximação inicial de Albert indica que as para outros objetos (nesse contexto, o medo).
duas primeiras apresentações dos estímulos na Na sequência, o sujeito foi exposto aos
semana anterior tiveram algum efeito. Logo em blocos de madeira, diante dos quais teve a
seguida, um conjunto familiar de blocos de reação habitual. Os objetos foram então
madeira foi apresentado ao participante para jogados (da altura cabeça do bebê) no chão com
testar a generalização da resposta de medo. força. Em seguida, um cachorro foi
494 Bisaccioni, P., & Carvalho Neto. M. B.

apresentado. Diante desse outro animal, o bebê Todos os testes eram feitos em cima de
não teve uma reação tão pronunciada como ao uma mesa coberta por um colchão em uma sala
coelho. À medida que o cão se aproximava, a pequena e iluminada durante as sessões. Para
criança se afastou e tentou engatinhar. Quando testar se as reações se mantinham em uma
o animal foi colocado mais perto da cabeça de situação diferente, alguns testes foram
Albert, ele caiu para o lado oposto, desviou sua conduzidos no mesmo dia em uma sala grande
cabeça, começou a chorar e tentou engatinhar. e bem iluminada. Antes desses testes, os
Os blocos de madeira foram apresentados experimentadores apresentaram pela primeira
novamente e a criança começou a brincar com vez o coelho e o cachorro seguidos pelo som.
eles prontamente. Primeiramente, o coelho foi apresentado
sozinho e colocado no joelho de Albert, que
A próxima apresentação foi de um casaco
tentou manipulá-lo. Enquanto ele fazia isso, o
de pele de foca. Albert afastou-se
som forte foi apresentado e a criança teve uma
imediatamente para o lado esquerdo, começou
reação intensa. Em seguida, o coelho foi
a chorar e tentou engatinhar. Em seguida, foi
apresentado sozinho duas vezes. Na última vez,
colocado um pacote com lã de algodão no pé da
o bebê começou a choramingar, mas também
criança e ela de imediato o chutou, sem tocá-lo
tinha uma tendência a manipulá-lo. Depois do
com as mãos. Quando sua mão foi colocada
coelho, o cachorro foi apresentado sozinho e o
sobre o pacote, ele imediatamente a retirou,
bebê começou a choramingar, mantendo as
mas não teve a mesma reação intensa que
mãos longe do animal. Na segunda vez em que
demonstrou diante dos animais ou do casaco.
o cão foi apresentado, ele foi seguido pelo som
Um pouco depois, o bebê começou a brincar
assim que Albert encostou-se nele. O bebê
com o pacote, sem entrar em contato com o
começou a chorar, caiu e iniciou a engatinhar.
algodão. Na última apresentação dessa
Por fim, os blocos de madeira foram
sequência, Watson colocou sua cabeça perto da
apresentados e a criança começou a brincar
criança e, segundo o relato original, a resposta
imediatamente.
de Albert foi completamente negativa. Quando
os dois observadores fizeram a mesma coisa, a Iniciando a sequência de apresentações na
criança brincou com os cabelos. No final, sala maior e mais iluminada, primeiro o rato foi
Watson apresentou uma máscara de papai Noel colocado sozinho e nenhuma reação de medo
e a criança teve novamente uma resposta repentina aconteceu. Entretanto, as mãos da
negativa. criança ficaram longe do animal. Na sequência,
o coelho foi apresentado sozinho e houve uma
Cinco dias depois, os experimentadores reação de medo descrita como “bem leve”.
iniciaram uma nova sequência de Depois do coelho, o cachorro foi apresentado
apresentações. Inicialmente introduziram os sem o som. Albert desviou-se dele e chorou.
blocos de madeira e a reação da criança foi a Em seguida, o rato foi apresentado sozinho e a
usual. Na segunda, o rato foi apresentado reação do sujeito foi bem fraca. O rato foi
sozinho e a resposta de Albert foi bem menos reapresentado seguido do som (assim que o
intensa do que a da semana anterior (afastou o animal apareceu) e o bebê pulou violentamente,
corpo, mas não chorou). Em seguida, a mas não chorou. Depois do pareamento, o rato
apresentação do rato foi acompanhada pelo som foi apresentado novamente sozinho e, de início,
intenso e a criança apresentou uma forte não houve nenhuma reação emocional. Quando
resposta emocional. Depois do pareamento, o os experimentadores aproximaram o rato, o
rato foi apresentado sozinho duas vezes. Na bebê afastou o corpo para trás e choramingou.
primeira vez, a resposta do bebê foi bem O teste prosseguiu na seguinte ordem:
intensa, mas ele não chorou. Na segunda vez, apresentação dos blocos de madeira, do rato
ele caiu para um lado e tentou engatinhar, mas sozinho, dos blocos de madeira novamente, do
também não chorou; enquanto se inclinava, coelho e depois do cachorro sozinhos. Diante
também balbuciava. Na sequência, o coelho foi dos blocos de madeira, o bebê começou a
apresentado sozinho e a reação não foi mais tão brincar. Diante do rato, Albert afastou
violenta, mas o bebê inclinou-se e rapidamente o corpo e choramingou. A reação
choramingou. Por fim, os blocos de madeira diante do coelho foi bem mais intensa. Assim
foram novamente introduzidos e a reação da que o cachorro foi apresentado, a criança não
criança foi a mesma que sempre teve diante demonstrou nenhuma reação intensa, mas
deles. depois o cachorro começou a latir perto do
Considerações sobre “pequeno Albert” 495

rosto de Albert, que imediatamente caiu e não ser que ele fosse exposto acidentalmente a
começou a gemer. Sobre os resultados das algum procedimento para removê-la.
manipulações que tentavam responder ao
segundo objetivo do estudo, Watson e Rayner
(1920) apontam que parece ter havido Parte III: análises críticas
transferência da resposta emocional Apesar de ser considerado um clássico na
condicionada. história da psicologia, o experimento também
apresenta algumas inconsistências e falhas
Devido à saída do bebê do hospital, os metodológicas raramente mencionadas nos
experimentadores só puderam testar a manuais e livros de história. Com relação ao
permanência da resposta condicionada por um método, a primeira questão que se coloca é que
mês. Durante esse período, nenhuma o processo que produziu a resposta
manipulação emocional (pareamento) foi condicionada não é claro, pois apesar de ser
realizada. Depois desse período, Albert foi citado como um exemplo clássico de
exposto a seguinte sequência de estímulos: condicionamento respondente em humanos (por
máscara de papai Noel, casaco de pele duas exemplo, Fester, Culbertson & Boren, 1979;
vezes, blocos de madeira, rato, blocos de Flaherty, 1985), o procedimento utilizado
madeira novamente, coelho e cachorro. Diante também envolveu punição positiva (Church,
da máscara, o bebê se afastou, balbuciou e 1980; Pérez-Álvarez, 1996; Catania, 1999),
quando foi forçado a tocá-la, começou a chorar. pois o estímulo aversivo (ruído alto) foi
Na apresentação do casaco, Albert afastou as algumas vezes apresentado contingente à
mãos e começou a choramingar; algumas vezes resposta de Albert de tocar nos animais, e
emitia movimentos de aproximação. Quando reforçamento negativo, já que o afastar-se dos
bateu acidentalmente a mão no casaco, objetos e o chorar levava a retirada dos
começou a chorar. Diante dos blocos de estímulos aversivos.
madeira, começou a brincar imediatamente.
Quanto aos testes de generalização, as
Quando foi exposto ao rato, permitiu que o
reações iniciais do bebê eram muito fracas e
animal andasse próximo a ele sem se afastar.
por isso foram feitos emparelhamentos
Assim que o rato tocou sua mão, ele a retirou,
adicionais entre os animais e o som. Entretanto,
inclinou-se para trás, mas não chorou. Diante
esses pareamentos já produziam diretamente o
do coelho, Albert não mostrou nenhuma
condicionamento e, portanto, o teste de
evitação no início, mas depois começou a
respostas generalizadas não teria muito sentido
balançar a cabeça e olhar para o
(Goodwin, 2005). Ou seja, a partir do momento
experimentador. Quando o animal foi colocado
em que vários estímulos foram pareados no
mais perto, o bebê tocou sua orelha. Quando o
treino, um teste posterior com o mesmo
coelho foi colocado em seu colo, a criança se
estímulo não poderia ser atribuído à
assustou e afastou suas mãos. Em seguida,
generalização, mas simplesmente ao treino.
encostou-se no animal novamente, mas afastou-
Há dúvidas ainda em relação ao
se em seguida. Assim que o experimentador
procedimento ter realmente produzido um bebê
colocou a mão esquerda de Albert sobre o
com medo acentuado de animais. Nas
animal, ele imediatamente a retirou e colocou
filmagens que foram feitas do experimento,
seu polegar na boca. O rato foi então colocado
mesmo depois dos testes, a criança não
novamente em seu colo e ele começou a chorar,
demonstrava medo quando exposta aos
cobrindo o rosto com as mãos. Os resultados
animais. Harris (1979) aponta que os resultados
aqui descritos sugerem que as respostas
do experimento revelam “pouca evidência de
emocionais diretamente condicionadas ou
que Albert tenha desenvolvido uma fobia a
transferidas persistiram ao longo do tempo,
ratos ou mesmo que os animais evoquem seu
apesar de uma certa perda em sua intensidade.
medo consistentemente” (p. 155). Harris (1979)
O último objetivo, que era desenvolver ainda ressalta que, provavelmente devido à
procedimentos para remover a resposta alternância entre tentativas de aquisição e
emocional condicionada (medo), não pôde ser extinção, as respostas de Albert parecem não
testado devido à saída de Albert do hospital ter a força das respostas que são associadas à
onde era realizado o estudo. Os autores fobia.
apontaram que essas reações emocionais Mesmo que se considere que a criança
persistiriam no ambiente natural de Albert, a desenvolveu um medo, o que o provocou não
496 Bisaccioni, P., & Carvalho Neto. M. B.

está completamente claro e, conforme aponta tecnológico raro naquele tempo, garantiu que
Goodwin (2005), há também a possibilidade todos tivessem acesso aos procedimentos que
que o bebê tenha ficado com medo de Watson e foram usados e aos dados obtidos.
não dos animais. De maneira geral, Cornwell et al. (1980)
De acordo com Samelson (1980), a ressaltam que não apenas as interpretações do
inconsistência mais crítica refere-se à experimento variaram ao longo dos anos, mas
observação acidental relatada pelos autores no também os próprios dados relatados. Harris
final do experimento, aspecto que tem sido (1979), em uma análise crítica, aponta que
ignorado em quase todos os relatos muitos dos relatos sobre o experimento do
subsequentes. A observação apontava que “Pequeno Albert” apresentam distorções e
Albert frequentemente colocava o polegar na imprecisões em vários graus, que vão desde
boca quando chorava e que isso parecia atenuar detalhes do experimento (como a idade e o
o efeito aversivo da estimulação apresentada. nome de Albert e o animal que foi inicialmente
Diante dessa possível resposta de esquiva não condicionado) até representações equivocadas
autorizada, os experimentadores precisavam sobre a gama de respostas de medo pós-
remover constantemente o polegar da boca de condicionadas de Albert e sobre seu destino
Albert para que a resposta condicionada fosse após o experimento. Segundo o autor, esses
obtida, introduzindo assim mais um evento equívocos se devem à excessiva confiança em
aversivo não programado e controlado no fontes secundárias e também a uma tentativa de
estudo. melhorar a imagem de Watson e de seu
experimento.
De acordo com Cornwell Hobbs e Prytula Harris (1979) aponta também como razão
(1980), apesar de não ter dados precisos sobre para os frequentes equívocos encontrados nos
essa observação acidental, a descrição dos relatos desse estudo as próprias descrições
experimentadores revela que o bebê algumas posteriores de Watson, que alteram e omitem
vezes não apresentou as respostas emocionais informações importantes do estudo original e,
esperadas e muitas das respostas apresentadas por isso, causam grande confusão quando
foram estimuladas pela remoção do polegar de usados como fonte de consulta. Harris (1979)
sua boca e não pelo estímulo condicionado. conclui que “o estudo de Albert por si só não é
As falhas metodológicas do experimento uma prova muito convincente da adequação da
também se confirmaram nas tentativas visão geral de Watson sobre personalidade de
malsucedidas de replicar o experimento nas emoção” e que devido às suas falhas
décadas de 1920 e 1930, indicando que o metodológicas, seus resultados devem ser
processo não era tão simples como sugere o colocados na categoria “interessante, mas não
relato original (Pérez-Álvarez, 1996; Samelson, interpretáveis” (p. 158).
1980). Samelson (1980) cita que o próprio
Watson, em uma nota de rodapé em um artigo
Com relação às questões éticas envolvidas, que escreveu com Rayner em 1921, descreveu
uma das críticas aponta que a relevância seu trabalho como “incompleto”, “uma
científica do estudo não seria suficiente para exposição preliminar de possibilidade” em que
justificar a produção da resposta de medo em “conclusões definitivas não são possíveis” (p.
um bebê. Além disso, esse experimento 621). No entanto, Samelson aponta que ele
também foi criticado porque os mesmo parece ter se esquecido disso. O autor
experimentadores sabiam que Albert ficaria no concluiu que um olhar cuidadoso e cético
hospital por apenas um mês e optaram por considerará esse estudo como um interessante
investigar a persistência do medo em vez de piloto.
tentar sua reversão.
Jones (1924a, 1924b) e Jones e Jones
Em defesa de Watson, há os seguintes (1928) deram prosseguimento ao trabalho
aspectos: na época do experimento, não era original de Watson, contando inclusive com seu
necessário seguir nenhum protocolo de ética apoio e supervisão informais, e tiveram sucesso
com participantes e Watson estabeleceu um em eliminar respostas de medo, mas para isso
protocolo de cuidado às crianças que tiveram que utilizar um amplo arsenal de
participaram dos seus estudos, incluindo a procedimentos, inclusive não respondentes,
assinatura de um termo de consentimento pelos indicando que a complexidade do fenômeno
pais dos bebês. A filmagem, que era um recurso não era redutível ao condicionamento clássico
Considerações sobre “pequeno Albert” 497

(para uma síntese das contribuições de Jones, Goodwin, J. (2005). História da Psicologia
ver Wier, 2005). Moderna. São Paulo: Cultrix.
Apesar das inconsistências metodológicas
e interpretativas indicadas, o estudo original Harris, B. (1979). Whatever happened to little
contribui de maneira decisiva para o avanço da Albert? American Psychologist, 34(2), 151-
psicologia. Ao apresentar com riqueza de 160.
detalhes, inclusive com o registro em filme, os Jones, H. E., & M. C. Jones (1928).
resultados negativos e os procedimentos Motivation and emotion: fear of snakes.
discutíveis, foi possível evidenciar as falhas e Childhood Education, 5, 136-43.
acionar assim o mecanismo de correção de
erros que seria o principal diferencial das Jones, M. C. (1924a). The elimination of
ciências naturais (Sagan, 1996). Permitir um children’s fears. Journal of Experimental
exame crítico e objetivo das pesquisas Psychology, 7, 382-390.
psicológicas e escapar de uma discussão
Jones, M. C. (1924b). A laboratory study of
recorrente e estéril baseada na mera autoridade,
fear: The case of Peter. Pedagogical
colocou o behaviorismo em um patamar
Seminary, 31, 308-315.
diferente da psicologia introspeccionista.
Portanto, os limites do estudo do Pequeno Jones, M. C. (1974). Albert, Peter, and John B.
Albert só são possíveis de serem identificados Watson. American Psychologist, 29(8),
porque o modo de descrever uma pesquisa 581-583.
científica havia mudado. A contribuição
substancial de Watson e Rayner (1920) foi Marx, M. H., & Hillix, W. A. (1973). Sistemas
indireta e muito mais ampla e relevante: o e teorias em psicologia (16ª ed.). São
conhecimento psicológico era enfim passível de Paulo: Cultrix.
refutação. A promessa behaviorista de Pérez-Álvarez, M. (1996). La psicoterapia
objetividade havia sido cumprida. desde el punto de vista conductista.
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Illustration vs. Evidence. American a critical science. American Psychologist,
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pioneira na terapia comportamental (N. C. Texto reformulado em Dezembro de 2010
de Aguirre, Trad.). ABPMC Contexto, 30, Aceite em Dezembro de 2010
1-7. Publicado em Dezembro de 2010

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