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A pessoa é o seu corpo, mas é mais que o seu corpo: tem uma liberdade real,
ainda que condicionada, e, por isso, tem capacidade de afrontar.
A SINGUALRIDADE. O EXCEPCIONAL
Por vezes, pensa-se que a pessoa se realiza verdadeiramente se tem uma
personalidade vincada, ou seja, quando se diferencia ou singulariza relativamente a
uma uniformidade que pareça existir (e.g. no vestuário).
Para Mounier, mesmo que alguém pareça “igual aos outros”, a pessoa é aquilo
que nunca se repete.
Não devemos pensar que a mais alta vida pessoal seja a da excepção e do esforço
em realizar proezas, pois os grandes santos não estavam centrados na diferenciação
ou singularização deles próprios, mas inteiramente focados nos outros.
A pessoa toma consciência de si por meio desta luta de força. Não força bruta,
que implica renúncia da pessoa a si própria mas força espiritual e interior.
“Agir é escolher”, tal como “edificar é sacrificar”. Cada vez que ajo de certo
modo, escolho não agir de outro. Fazer isto com responsabilidade implica renúncias
que, podendo ser difíceis, acontecem por causa de uma exigência que a pessoa tem
para consigo. Mas estas escolhas, diz Mounier, são criadoras e permitem evoluir.
O IRREDUTÍVEL
As renúncias e as recusas que falámos tornam-se, por vezes, irredutíveis. Pode ser
necessário que a pessoa defenda “mais do que a sua vida, a dignidade da sua vida” iv,
ou seja, que prefira uma morte digna a uma vida sem dignidade.
Mounier considera que é rara esta espécie uma vez que “a maioria dos homens
prefere a escravidão na segurança ao risco na independência”v.
i Emmanuel Mounier, O Personalismo, trad. João Benard da Costa (Lisboa: Moraes Editores, 1976), 98.
ii Kierkegaard, citado em Mounier, O Personalismo, 98.
iii Mounier, O Personalismo, 103.
iv Mounier, O Personalismo, 106.
v Mounier, O Personalismo, 107.