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Rosivânia carvalho
Objetivos específicos:
Fenômeno Wind up
Wind up é o aumento da resposta de certos neurônios nociceptivos de maneira súbita e marcante, tanto em
intensidade quando em duração da atividade.
Estimulo repetido de fibras C de intensidade constante causa Wind up em neurônio medular. Esse evento
depende da frequência de estímulos; estímulos repetidos produzem aumento cumulativo da
despolarização. Possivelmente, estimulo intenso de fibras A- delta também causa Wind up
Para que ocorra esse fenômeno, são necessárias a ativação de receptores NMDA por glutamato, a remoção
de íons magnésio que bloqueiam o canal e a ação moduladora de taquicininas. A despolarização provocada
por taquicininas causa deslocamento de magnésio dos receptores MNDA, com passagem de cálcio para o
interior dos neurônios desencadeando uma cascata de eventos. Esse fenômeno explica como um estimulo
persistente de nervo periférico pode causar alodínia, hiperalgesia e dor persistente.
Uma vez instalado, as respostas de todos os neurônios estarão aumentadas. Esse aumento da resposta a
estimulo constante repetido é um evento importante na hipersensibilidade.
Os estímulos intensos ativam também receptores AMPA que participam da transmissão espinal para
eventos nóxicos e não-nóxicos e são ativados por estimulo de fibras a-delta e c, mas somente a estimulação
das fibras C causa a liberação das péptides. Os péptides podem provocar a despolarização necessária para
remover o bloqueio e permitir a ativação de receptores NMDA. Já esses receptores têm função no aumento
do processamento espinal de informação dolorosa.
O início de Wind up depende da somação de despolarização prolongada, como a mediada por pépides como
SP, que com frequência apropriada de estimulação é capaz e produzir despolarização cumulativa suficiente
para remover o bloqueio de íon magnésio e receptores NMDA. Para ocorrer o fenômeno é necessária a
despolarização lenta e duradoura
É uma lesão primária do sistema nervoso periférico e central. A definição inicial de dor
neuropática proposta pela IASP a considerava como “dor iniciada ou causada por lesão primária ou
disfunção ou perturbação transitória no sistema nervoso periférico ou central”. Subsequentemente aos
questionamentos a essa definição por trazer ambiguidades, foi sugerida a definição de dor neuropática
como “devida à lesão primária do sistema nervoso periférico ou central”.
Essa definição é mais específica e baseia-se, como veremos mais adiante, nos diferentes
mecanismos neurofisiopatológicos, deixando o termo disfunção para definir o mecanismo relacionado com
condições em que o componente neuropático é associado a uma disfunção e não a uma lesão estabelecida.
Nesse contexto, estariam condições como síndrome complexa de dor regional, fibromialgia, dor facial
atípica, entre outras. O conceito mais amplo de dor neuropática deve também incluir outras características,
como:
• Dor e sintomas sensitivos que persistam além do período de cura
• Presença de fenômenos sensitivos negativos e positivos.
• Presença também de fenômenos motores positivos e negativos e de fenômenos autonômicos
Classificação
A dor neuropática é, geralmente e de forma mais simples, classificada pela etiologia e anatomia.
Como se pode observar na Tabela, do ponto de vista etiológico periférico, a dor neuropática pode ser
devido a neuropatias de diferentes causas, radiculopatias, plexopatias, sendo de origem primária ou
secundária. As neuralgias são condições, na maior parte das vezes, de natureza idiopática ou disfuncionais.
A dor neuropática de origem central tem etiologia vascular, desmielinizante, traumática,
tumoral, compressiva, degenerativa, malformativa e imunológica. Além dessa classificação mais simples, há
uma tendência atual de se classificar a dor neuropática baseada em mecanismos.
Na medicina, a dor neuropática é comum na rotina clínica e causa prejuízos na qualidade de
vida dos pacientes. As maiorias dos casos se enquadram em quatro grandes classes:
ETIOLOGIAS
As condições etiológicas associadas à dor neuropática dizem respeito a entidades clínicas
decorrentes de fenômenos patológicos que comprometem o sistema nervoso periférico e central, e são
assim classificadas:
Etiologias periféricas
• Dor pós-amputação
• Neuropatias periféricas dolorosas
• Neuralgia trigeminal e glossofaríngea
• Síndrome complexa de dor regional
• Radiculopatias e aracnoidite
Etiologias centrais
DOR CENTRAL ENCEFÁLICA:
• Doença vascular cerebral
• Esclerose múltipla
• Abscesso, tumores, doenças inflamatórias, epilepsia, doença de
Parkinson
DOR CENTRAL MEDULAR:
• Traumática
- Acima da lesão
- Na lesão
- Abaixo da lesão
• Siringomielia
• Sífilis
PERIFÉRICAS
A dor por amputação, ou dor do membro-fantasma, pode surgir na primeira semana de
amputação ou mais tarde (meses ou anos). E possível que aqueles que têm dor desde o início possam ter
pior prognóstico, assim com o tem sido relatado o desaparecimento da condição posteriormente. A dor tem
como característica ser intermitente ou constante em alguns pacientes, estar situada predominantemente
na parte distal e ser descrita com o penetrante, pruriginosa e em queimação. Fatores predisponentes a
essa síndrome incluem dor pré-operatória, fatores genéticos e condições psicológicas, assim como o
impacto sobre a vida econômica e social trazido pela amputação.
Os mecanismos que a ela conduzem centram -se em alterações neurais que levam a
hiperexcitabilidade e neuroplasticidade, razão pela qual o tratamento se baseia em uso local (lidocaína
tópica), anticonvulsivantes (gabapentina ou oxcarbazepina, carbamazepina e lamotrigina em dor
lancinante ou paroxística), antidepressivos tricíclicos, opióides ou tramadol.
As neuropatias periféricas dolorosas são classificadas com o mononeuropatias traumáticas,
mononeuropatias de outras etiologias, mononeuropatias múltiplas e polineuropatias. Clinicamente, as
neuropatias periféricas se acompanham de fraqueza e atrofia muscular, hipoestesia, diminuição ou
ausência de reflexos e distúrbios autonômicos.
No grupo das mononeuropatias dolorosas, além das traumáticas, há todo um grupo envolvendo
mononeuropatias de outras etiologias e mononeuropatias múltiplas, tais com o neuralgia pós-herpética
mononeuropatias e amiotrofia diabética, neuropatias compressivas, isquêmicas e vasculíticas, amiotrofia
neurálgica, plexopatia carcinomatosa e por irradiação, e tumores de nervos periféricos. A neuralgia pós-
herpética é um a condição muito comum, ocorrendo cerca d e três meses após a fase aguda do herpes,
quando pode também se acompanhar de dor.
As neuropatias compressivas ocorrem em locais estreitados por hérnia discal, e os mecanismos
da dor são difíceis. Uns dos exemplos mais comuns é a síndrome do túnel do carpo. As neuropatias
vasculíticas podem ser devidas a microangiopatias ou serem neuropatias de pequenas fibras. Essas
mononeuropatias podem ser múltiplas e características da angiopatia necrotizante associada a artrite
reumatóide, poliarterite nodosa, granulomatose de Wegener. A amiotrofia neurálgica é um a condição
criptogênica do plexo braquial, podendo ser idiopática ou hereditária.
As plexopatias dolorosas carcinomatosas são conseqüentes a metástases, principalmente de
câncer de pulmão e de mama. As radiculopatias se caracterizam por apresentarem dor nos dermátomos
correspondentes e são associadas a distúrbios sensitivos e/ou motores. A dor por radiculopatia piora com
o esforço ou postura. A s causas mais comuns são decorrentes de afecçôes degenerativas vertebrais,
iatrogenia, aracnoidite, processos inflamatórios (síndrome de Guillain-Barré).
Dentre as mononeuropatias, destacam -se, isoladas por características clínicas d e episódios
paroxísticos d e dor de curta duração e grande intensidade, as disfunções dos nervos trigêmeo e
glossofaríngeo na forma de neuralgias que podem ser idiopáticas (primárias) ou sintomáticas
(secundárias).
A neuralgia do trigêmeo é um a doença rara, uma das etiologias mais com uns para a forma
idiopática é a compressão neurovascular, enquanto para a forma sintomática as causas mais com uns são
esclerose múltipla, tumores e malform ações vasculares. A s características clínicas são dor em fisgada, em
choques, de intensidade moderada a grave, unilateral, com crises durando segundos, com periodicidade
variada, atingindo principalmente as regiões de inervação maxilar e mandibular. A dor é desencadeada por
estimulação da zona-gatilho por toque leve, mastigação, fala e lavar o rosto, tendo com o aliviantes o sono e
anticonvulsivantes. A neuralgia do glossofaríngeo é semelhante a do trigêmeo, desencadeada pela
deglutição, bocejo, fala, água fria e movimentos da cabeça.
CENTRAIS
A dor central é causada por lesão ou disfunção do SNC. As causas mais comuns são doença
cerebrovascular, principalmente esclerose múltipla, podendo também ocorrer ao nível encefálico na
doença de Parkinson, epilepsia, tumores, abscessos e doenças inflamatórias. Outras importantes causas de
dor central são lesão medular, siringomielia e siringobulbia.
A dor central pós-ictal de origem hemorrágica ou isquemica caracteriza-se por ser na metade
do corpo, podendo também acometer apenas partes do corpo (hemiface ou uma extremidade), expressar-
se com o dor em queimação (60%), dolorida, pruriginosa, dilacerante, acompanha-se de alterações
sensitivo-motoras como expressão do comprometimento cerebral.
Na esclerose múltipla, a dor pode alcançar prevalência d e 42 a 65% , acometendo
principalmente os membros inferiores. A dor é do tipo em queimação ou dolorida e constitui a forma
central da neuralgia do trigêmeo.
A dor central por lesão medular tem um a prevalência de 65%, e, dentre os vários tipos, as de
origem neuropática podem ocorrer acima do nível, no nível ou abaixo do nível da lesão. A dor acima do
nível da lesão engloba etiologias com o mononeuropatias compressivas e síndrome complexa de dor
regional. A dor ao nível da lesão é do tipo aguda, elétrica, queimante e metamérica. A dor do tipo abaixo do
nível da lesão caracteriza-se por ser em queimação, dolorida e em choques
DOR FANTASMA
Grande parte de nossas informações sensoriais está relacionada com áreas específicas do
córtex pós-central, de modo que permitem a construção de mapas sensorial, destacando-se aqui o
mapa somato-sensorial presente no giro pós-central. Como resultado, cada indivíduo tem uma
imagem interna que é representativa do próprio ser físico, sendo esta conhecida como "imagem
corporal".
A imagem corporal é construída de acordo com as percepções, idéias e emoções sobre o
corpo e suas experiências, podendo ser, constantemente, mudada. Sendo assim, o fantasma de uma
pessoa amputada seria a reativação de um padrão perceptivo dado pelas forças emocionais. Está
claro que o quadro final de um fantasma depende grandemente de fatores emocionais e da situação
de vida do indivíduo. Depois da amputação, o indivíduo sofre um grande impacto psicológico e vários
distúrbios emocionais surgem na adaptação física e social, o que lhe faz enfrentar uma nova situação,
mas como reluta em aceitá-la, acaba tentando, inconscientemente, manter a integridade de seu corpo.
Desse modo, o membro-fantasma pode ser entendido como a interação entre o que se
detecta ao nível periférico (corpo) e o que se integra ao nível central (mente), sendo criada então, a
aparência final do corpo no sistema nervoso. Como o ser humano está acostumado a ter um corpo por
completo, o fantasma acaba sendo a expressão de uma dificuldade de adaptação a um defeito súbito
de uma parte periférica importante do corpo. Além desse fator, o córtex cerebral, que possui um mapa
sensorial das partes do corpo, ainda possui uma área de representação da região amputada, o que
dificulta o cessar das sensações corporais. Assim, as sensações de membro fantasma são
caracterizadas por fatores psíquicos e fisiológicos, que agem, conjuntamente para expressar tal fator.
Melzack apresentou uma nova teoria na qual afirma que o cérebro apresenta uma rede de neurônios
denominada de neuromatrix, e esta rede continuamente gera um padrão característico.
O cérebro é formado por uma rede difundida de neurônios consistido de voltas para o
tálamo e o córtex, assim como o córtex e o sistema límbico, inicialmente determinada geneticamente e
mais tarde alterada pelos estímulos sensoriais. Estas redes de neurônios permite um processamento
paralelo em diferentes componentes da neuromatrix e convergem repetidamente para permitir a
interação entre os produtos da produção de processamento. A repetição deste processamento entre
todas as áreas de ligação e a origem de impulsos específicos nesta rede ou neuromatrix, determina o
aparecimento de uma característica única e individual denominada de neuroassinatura.
Embasados na neuromatrix, afirmam que três circuitos são as fontes da dor fantasma: as
áreas somatosensorais e o córtex parietal adjacente o qual processam informações do corpo; o
sistema límbico que se ocupa da emoção e motivação; e a rede cortical que envolve as atividades
cognitivas, associadas às memórias das experiências passadas e a evolução dos estímulos sensorials.
Wall e Heyneman também sugerem que a interrupção dos caminhos sensoriais causado pela
amputação dispara um estado de dor que é reverberado através de voltas centrais entre o hipotálamo
e o córtex.
A Neuromatrix apresenta uma nova visão ao entendimento da dor fantasma, pois descreve
um cérebro ativo, que responde através de alterações em suas representações neurais, quando
estimulados durante um determinado período de tempo. Em uma amputação, a desaferentação altera
de alguma forma os estímulos enviados para o córtex e conseqüentemente exigem um novo padrão de
neuromatrix, ou seja, uma nova neuroassinatura.
Os aspectos psicológicos, como ansiedade e estresse, antes da amputação podem ser
preditivos da dor fantasma posteriores, bem como os casos de pacientes que recebem pouco suporte
emocional antes da cirurgia que, por sua vez, referem mais dores fantasmas.
A dor fantasma pode ser prevenida se os pacientes forem encorajados a expressar os
sentimentos de perda e sofrimento, visto que esta dor pode ser entendida pelo valor fisiopatológico e,
também, como uma tentativa de reintegração corporal. A dor fantasma e a dor no coto podem tornar-
se dores crônicas, encadeadas por um ciclo vicioso de estresse e sofrimento psicológicos, falta de
condição física, restrição de atividades, comportamentos disfuncionais, dependência de medicações e
serviços de saúde.
FISIOPATOLOGIA
Mecanismo da dor neuropática
A gênese da dor neuropática envolve inúmeros fenômenos, sendo os mais importantes:
sensibilização de receptores, ocorrência de focos ectópicos de potenciais de ação nas fibras periféricas e
tratos centrais, correntes efáticas, reorganização sináptica em neurônios centrais, atividade anormal das
estruturas supressoras e de processamento central da aferência sensitiva, liberação de substâncias
algiogênicas teciduais, liberação de neurotransmissores excitatórios, inflamação neurogênica e fenômenos
de adaptação física, psíquica e neurovegetativa
04) Os gânglios sensitivos respondem às lesões dos nervos periféricos com modificações anatômicas e
fisiológicas; há aumento da síntese das proteínas que constituem os canais iônicos e receptores, sendo,
pois, uma fonte adicional de potenciais anormais; podem-se desenvolver contatos anormais entre
estruturas do sistema nervoso simpático e neurônios sensitivos somáticos, fazendo com que a ativação dos
primeiros seja capaz de provocar dor intensa pela inervação aberrante, como ocorre na síndrome de dor
complexa regional (SDCR); estas sinapses aberrantes, pelo brotamento de fibras do sistema nervoso
vegetativo, formam-se em vários níveis, inclusive nos gânglios sensitivos;
05) A estrutura do corno posterior da medula (CPME) é muito afetada pela lesão dos aferentes periféricos;
ocorrem modificações anatômicas e fisiológicas, tais como desorganização sináptica, ampliação da
distribuição espacial das terminações aferentes intactas nos locais deaferentados (devido ao brotamento
de novas terminações, principalmente do tipo A-β) com conseqüente aumento dos campos receptivos e
veiculação de estímulos discriminativos inócuos nos neurônios do CPME (do que resulta alodinia); a
projeção aferente nas lâminas do corno posterior é alterada, pervertendo a informação sensitiva; unidades
que normalmente só reagiriam a estímulos nociceptivos passam a reagir a estímulos de baixa intensidade;
também ocorre redução da expressão de receptores opióides nos axônios e de receptores µ no gânglio
sensitivo; há aumento de receptores de CGRP e substância P nos gânglios sensitivos e no CPME, aumento
da atividade do glutamato nos receptores NMDA, redução do GABA, que é o neurotransmissor inibitório no
corno dorsal, downregulation dos receptores GABA, elevação da Ca++ intracelular promovendo ativação de
mecanismos sensibilizadores.
06) A sensibilização central é primariamente induzida pelo disparo de fibras amielínicas nociceptivas C que
se projetam nas camadas superficiais do corno posterior, produzindo potenciais excitatórios pós-sinápticos
lentos que duram por 20 segundos ou mais; o input aferente repetitivo destas fibras causa somação
temporal destes potenciais lentos, que induz o fenômeno wind-up nos neurônios centrais. Neste estado,
subseqüente input de fibras C produz progressivo aumento do output dos neurônios T e o ganho desta
resposta neuronal é controlado pela atividade do receptor NMDA;
07) Também participam dos mecanismos de hiperatividade neuronal no CPME a hipoatividade das
unidades inibitórias segmentares e do sistema supressor suprasegmentar dependente de monoaminas.
Estas vias originam-se no tronco cerebral, principalmente na substância cinzenta periaquedutal do
mesencéfalo, que contém alta concentração de receptores opióides e péptides. A região periaquedutal
constitui um dos maiores centros de integração da nocicepção e recebe aferências do córtex pré-frontal e
insular, hipotálamo, amídala, núcleo cuneiforme, formação reticular e locus coeruleus. As vias
descendentes daí originadas se projetam na formação reticular bulbar ventral rostromedial que, por sua
vez, se projeta largamente no corno posterior da medula espinal, onde exerce atividade inibitória dos
aferentes do trato espinotalâmico e ativa os sistemas inibitórios intrínsecos gabaérgicos e glicinérgicos.
Esta atividade modulatória da transmissão dolorosa, quando comprometida, logicamente terá grande
influência na gênese da dor neuropática, seja periférica ou central;
08) Um componente genético provavelmente contribui para os diversos fenótipos de indivíduos com lesões
aparentemente similares e pode explicar, por exemplo, as diferentes suscetibilidades em desenvolver
neuralgia pós-herpética após uma crise de herpes zoster.
DOR POR LESÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL:
No lesado medular a dor neuropática desenvolve-se em 60% a 70 % dos indivíduos afetados,
sendo que em um terço é intensa. É atribuída à hiperatividade neuronal segmentar e à modificação do
padrão de chegada de estímulos sensitivos ao tálamo. Na lesão transversal da medula, ocorre expansão dos
camposreceptivos e hiperatividade dos neurônios justapostos aos segmentos lesados do CPME. Como a
estimulação de centros superiores reduz a hiperatividade dos neurônios do CPME, a lesão das vias
inibitórias descendentes é uma das causas principais da expansão do campo receptivo destes neurônios.
Além disso, sugere-se que ocorram alterações ao nível talâmico, com incremento da atividade
neuronal que representa as áreas deaferentadas no núcleo ventral posterior, envolvendo ação excitatória
mediada pelo aspartato e glutamato nos receptores NMDA.
As lesões encefálicas relacionadas à dor central, incluindo a síndrome talâmica clássica de
Dejerine-Roussy, variam muito conforme a localização e as dimensões, mas o comprometimento da via
espino-tálamo-cortical é uma condição quase necessária para seu aparecimento. A causa mais comum é a
dor central, que surge após acidente vascular cerebral (AVC) e se desenvolve em cerca de 8% dos pacientes
(11% nos acima de 80 anos de idade), sendo moderada a intensa em 5%. Os sintomas geralmente
aparecem um a dois meses após a lesão, mas, ocasionalmente, podem demorar anos após o ictus.
Clinicamente, a dor central pós-AVC pode ter grande variabilidade e até características bizarras.
As disestesias são o sintoma mais comum, geralmente em queimação contínua ou não,
constricção, aperto e caracterizadas por um retardo de aparecimento após o estímulo ser aplicado,
diferentemente das lesões periféricas quando a resposta é imediata. Também, o paciente pode referir dores
musculares semelhantes a cãibras ou constricção/aperto, hiperpatia (que é a resposta aumentada a um
estímulo doloroso), alodinia mecânica e/ou térmica (presente em mais de 50% nos casos de dor pós-AVC),
dores lancinantes intermitentes e, às vezes, dores, semelhantes a dor visceral e peristaltismo nos intestinos
e na bexiga.
Do ponto de vista fisiopatológico, a região ventral posterior do tálamo, centro integrador
principal somatossensitivo, constitui a estrutura com disfunção mais importante mesmo quando a lesão é
extratalâmica. Alguns sugerem que até a expressão dos canais de sódio se modifique no tálamo, após lesões
centrais e periféricas que o deaferentem (isto é sugerido pela capacidade da infusão de lidocaína
endovenosa em suprimir a dor talâmica).
Nos quadros de dor pós-AVC, estudos com neuroimagem evidenciam lesões talâmicas em mais
da metade dos casos!oi!A deaferentação parece exercer o papel mais importante da gênese da dor central
encefálica. Assim, a lesão da via neoespinotalâmica resultaria em liberação das vias
reticuloespinotalâmicas, não-discriminativas, relacionadas às reações de alerta, despertar e aspectos
psicocomportamentais da experiência dolorosa. De qualquer modo, a despeito da importância do tálamo na
gênese da dor central, o processamento cortical deve ter algum papel significante.
Um outro fato é que as lesões no SNC podem alterar mecanismos excitatórios e inibitórios à
distância da lesão original. O glutamato participa ativamente na transmissão de informação nociceptiva no
SNC, havendo evidências de que os receptores NMDA estejam relacionados ao mecanismo de sensibilização
dos neurônios talâmicos em casos de dor central. A melhora da dor central com agentes
antiglutamatérgicos, como a ketamina e a lamotrigina, reforça o conceito da hiperatividade glutamatérgica
nestes pacientes. Também, ocorreria hipoatividade gabaérgica, particularmente nos núcleos reticulares,
cujos neurônios são quase exclusivamente gabaérgicos e constituem a principal aferência inibitória dos
núcleos ventrais posteriores!oi!A dor central encefálica seria, pois, um produto do desequilíbrio entre a
atividade glutamatérgica no núcleo ventral posterior, para onde convergem as aferências
somatossensitivas, e as unidades gabaérgicas intratalâmicas e corticotalâmicas.
Acupunctura
A acupunctura tem sido usada de forma empírica no tratamento da DFa. Especula-se que a sua
acção se efectua a nível espinhal e/ou encefálico (córtex somato-sensorial e motor, e sistema límbico),
regulando as vias responsáveis pela dor. Os dois estudos mais divulgados apresentam pouca qualidade
metodológica, envolvendo amostras pequenas (3 e 9 pacientes, respetivamente), como tal os resultados
deverão ser interpretados com alguma prudência.
Realidade Virtual
A realidade virtual é uma ferramenta terapêutica com bastante potencial e em crescimento em
várias áreas da medicina. A sua aplicação no tratamento da DFa e fenómeno de telescopagem tem vindo a
ser explorada com resultados promissores. Os princípios teóricos que justificam a sua utilização são
semelhantes aos evocados na terapia em espelho. Comparativamente com a terapia em espelho apresenta a
vantagem de oferecer uma dimensão espacial mais alargada, com maior liberdade de movimentos e uma
grande variedade de ambientes interativos.
Mental imagery
A imaginação mental do movimento ou sensação da região amputada, poderá, se praticado
regularmente, conduzir à activação do córtex motor e sensitivo, e assim modular o processo de
reorganização cortical após amputação, promovendo um alívio a dor. Maclver et al, demonstraram a
reversibilidade das alterações neuroplasticas após amputação. Verificaram num grupo de 13 amputados do
membro superior, com recurso a fRMN, que o treino de imaginação diminuía significativamente a
intensidade da dor e que esta diminuição se encontrava relacionada com a redução da reorganização
cortical. A capacidade imaginativa de cada individuo pode contribuir para justificar as diferenças
individuais encontradas nos estudos.
Uso de prótese
A presença de DFa parece ser um dos fatores limitantes da utilização da próteses. Foi
demonstrado que aqueles que usam a prótese mais do que 9h por dia apresentam menos DFa. No entanto
ainda faltam estudos que concluam se o uso de prótese diminui a intensidade de DFa. Uma possível
justificação para que o uso de prótese diminuísse a DFa seria a activação de fibras sensitivas de grande
diâmetro, que modulariam a transmissão do impulsos nociceptivos a nível medular (gate control) e
enviariam estímulos exteroceptivos e proprioceptivos para a neuromatrix que iriam repor o silêncio
sensitivo gerado pelo membro amputado.
Uma prótese funcional, que permite a realização de múltiplos movimentos e atividades, pode
ser benéfica na medida em que limita a reorganização cortical, e desta forma diminui a dor e sensação
fantasma. Foi demonstrado através de RMN que uso de prótese mioelectrica do membro superior reduz a
reorganização cortical e diminui a DFa.
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