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ANAIS DA XXI SEMAD, Maringá, UEM/DAD, p.

468-480, Setembro/2001 (ISSN 1518-5354)

AS FACES CONFLITUOSAS DA RELAÇÃO


CAPITAL/TRABALHO, NA ABORDAGEM
ORGANIZACIONAL

ARACELES FRASSON DE OLIVEIRA (UEM)


EZEQUIEL MENEGUELE (G-UEM)

Resumo

A relação capital/trabalho, dentro do aspecto das organizações sempre foi marcada por
conflitos dos mais variados, sobre os quais já foram realizados estudos, e apresentadas teorias.
Têm origem na evolução histórica do homem e das organizações e em como se relacionaram
ao longo dos séculos. A exploração da mão- de- obra, como o trabalho escravo e os baixos
salários, as doenças do trabalho e a discriminação da mulher foram fatores que determinaram
os conflitos no passado. Hoje, a competitividade, a constante necessidade de especialização, a
globalização, a informatização e o estresse têm sido a razão para o surgimento de uma nova
face desses conflitos. O artigo resgata essas questões, descrevendo o percurso histórico e
abordando o tema nos dias atuais. Demonstra a emergência de novos valores, que exige um
novo modelo organizacional, redefinindo o que é Administrar.

Introdução

A sociedade pós-industrial é gerenciada com critérios industriais, mas talvez seja mais
fácil inventar o progresso do que administrá-lo, o que exige adequamento das leis, da política
e da estrutura social.

De acordo com Masi (1993: 47), em contraponto aos valores da arrancada industrial,
todos centrados no empirismo, racionalismo e consumismo – ... traduzidos no imaginário da
posse, do poder e da riqueza..., emergem valores novos, voltados para a criatividade, estética,
confiança, subjetividade, feminilização, afetividade e qualidade de vida. O que por sua vez,
exige um novo tipo de bem-estar, a ser reinventado, afim de que o desenvolvimento
conquistado pelo homem seja por ele desfrutado e não o seu senhor.

O artigo retrata os conflitos da relação capital/trabalho, ontem e hoje. Partiremos num


primeiro momento da definição dos conceitos apresentados no título: capital, trabalho e
conflito.
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Capital

Segundo Carosi (1962: 595) ... capital é uma parte das riquezas conservada em
reserva em vista de uma produção ulterior”. É ainda “A riqueza não destinada ao consumo,
mas para aumento da produção....

Capital está relacionado com produção, riqueza, patrões, indústrias e propriedades.


Pode ser fixo ou circulante; fixo quando não se gasta totalmente na produção de bens
(máquinas, terra), mas se pode usar muitas outras vezes; circulante quando se gasta no
primeiro uso (matéria prima).

O Capital postula Carosi (1962: 598),

... recebeu o seu maior incremento entre os séculos XVI e XVIII. Os lucros da
indústria e do comércio cresceram com o desenvolvimento das transações; o patrão
podia aceitar um número cada vez maior de operários, para produzir maior massa de
trabalhos....

Trabalho

O trabalho, a que nos referimos, é o que gera transformações; o que está para o capital;
que gera produção para o patrão, para o estado ou nação e como recompensa o trabalhador
tem seu salário.

Segundo Carosi (1962: 588), O trabalho é o emprego das energias humanas físicas ou
intelectuais, para uma utilidade própria ou social. É ainda toda atividade desenvolvida por
um operário, trabalhador ou estudante no ambiente de uma fábrica, comércio, escritório,
banco ou nas cadeiras universitárias, da qual resultam bens e serviços.

Podemos afirmar ainda que o trabalho é um processo entre a natureza e o homem.


Mediante sua ação, realiza, transforma e modifica o que há de forma bruta na natureza para
algo que se proporcione conforto e resultado econômico para determinado grupo de pessoas,
sociedade ou nação.

Conflitos

Segundo Holanda (1988: 169), conflito é o sinônimo de embate, luta, discussão,


combate, colisão. Tratamos aqui dos conflitos mais amplos, gerados na relação
capital/trabalho.

O maior incremento das indústrias ocorreu entre os séculos XVI e XVIII. Objetivando
gastar menos com mão de obra, e produzir mais,

... engajou também mulheres e crianças para poder pagar-lhes salário menor com a
alegação de que era menor o seu rendimento. E para que o dinheiro fosse
inteiramente aplicado em função produtiva, o patrão descuidou-se das medidas
humanas de segurança, higiene, descanso, horário dividido, assistência, que na
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hipótese de serem observadas Ter-lhe-iam reduzidos consideravelmente os lucros.


Surgiram, assim, no horizonte os primeiros sintomas de luta entre o capital e o
trabalho; assim nasceu a famosa questão social que ainda hoje espera uma solução
completa (Carosi. 1962: 598).

Após a Revolução Industrial, acentuou-se a discussão sobre o tema, com o


aparecimento das primeiras doenças originárias do esforço em demasia, do esforço repetitivo
ou da exposição dos operários às atividades insalubres e periculosas. Por conseqüência,
surgiram também os conflitos. Durante muito tempo essas doenças foram ignoradas por
razões econômicas, tanto por parte do patrão quanto do operário e por imaturidade da ciência.
A Psicopatologia do Trabalho demorou a ocupar um lugar de distinção e de credibilidade na
ciência.

As primeiras pesquisas em Psicopatologia do Trabalho nos anos cinqüenta foram


dedicadas ao estudo das perturbações psíquicas ocasionadas pelo trabalho, preocupando-se em
fundamentar a clínica desse sofrimento, mostrando que “as pressões do trabalho que põem
particularmente em causa o equilíbrio psíquico e a saúde mental, derivam da organização do
trabalho”.1 Não podemos dissociar os conflitos dos fatores históricos como as lutas e
movimentos reivindicatórios, o Marxismo, os entraves sociais (o trabalho escravo, a
discriminação da mulher e o trabalho do menor). Não podemos também ignorar seus aspectos
atuais, como o trabalho frente à globalização e a informatização do trabalho.

Afirmamos que os conflitos são gerados por diversos fatores e várias são suas faces.
Ora o conflito é com o patrão, ora com os governantes, ora com a evolução tecnológica, ora
conosco mesmo diante da necessidade de especialização.

Os conflitos no passado

Historicamente alguns fatores afetavam profundamente as relações entre empregados e


patrões no século XIX. A ciência incipiente e os fatores econômicos impediam a evolução
dessas relações. Para o operário, o trabalho consistia na [...] luta pela sobrevivência, onde
viver, significava não morrer.

No século XIX a intensidade das exigências de trabalho era tanta que expunha o
operário ao risco de vida. A sobrecarga de jornada de trabalho era maior que as dos animais.
Os senhores donos das minas possuíam animais que faziam serviços que não eram possíveis
de ser feitos pelos homens. Esses animais começaram a morrer sem uma causa aparente.
Alguns “especialistas” orientaram seus donos a diminuir sua jornada de trabalho e
melhorarem a ração. A sobrecarga de trabalho era o que estava matando os burros de carga,
concluíram. Isso levou os operários a reivindicarem uma jornada reduzida, igual à dos
animais.

As lutas operárias nesse período histórico tinham essencialmente dois objetivos: o


direito à vida e a liberdade de organização. Conhecida como a pré-história da saúde dos

1
“Por organização do trabalho designamos a divisão do trabalho, o conteúdo da tarefa (na medida em que ele
dela deriva), o sistema hierárquico, as modalidades de comando, as relações de poder, as questões de
responsabilidade etc”. (Dejours, 1992: 15) ;
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trabalhadores, a primeira reivindicação feita pelos operários foi à redução da jornada de


trabalho.

Por mais quase 50 anos não houve avanço nas negociações. Em um segundo momento
surge novas pressões sob vários temas: o limite de idade que as crianças tem como direito a
ser postas a trabalhar; a proteção das mulheres, a duração do trabalho; o trabalho noturno; os
trabalhos penosos e; o repouso semanal.

As melhorias das condições de trabalho e de saúde foram raramente oferecidas


graciosamente pelos patrões. Eram conquistadas a duras penas pelos trabalhadores.

Os projetos de leis demoraram a ser aprovados e as leis muitas vezes questionadas.


Alguns exemplos são a da caderneta operária que levou nove anos para ser abolida; a redução
da jornada da mulher e da criança, treze anos para ser votada; da higiene e segurança do
trabalho, onze anos; lei sobre acidentes de trabalho, quinze anos; quarenta anos para se
aprovar a jornada de 10 horas; vinte e sete anos para votação da lei do repouso semanal e;
vinte e cinco anos para a lei da jornada de oito horas.

Após a primeira grande guerra e início do século XX, as reivindicações feitas pelos
operários baseavam-se no direito de viver. A partir daí surgem reivindicações das mais
diversificadas, como a proteção do corpo das doenças profissionais, das intoxicações por
produtos industriais, tratamento conveniente aos trabalhadores. O eixo principal das
campanhas foi o de que esses tratamentos beneficiariam até as classes mais abastadas.

Apesar da votação das leis, os sindicatos ainda não eram capazes de controlar sua
aplicação por toda parte. Esses controlavam apenas onde havia grande número de
trabalhadores, nos grandes centros e nas grandes empresas como a empresa fabricante de
automóveis Renault, que foi uma empresa piloto nas vitórias operárias.

O Marxismo – Campo Ideológico

A análise da cadeia de mudanças ocorridas desde a Revolução Industrial é feita,


predominantemente, com atenção voltada para os aspectos econômicos, sociológicos e
políticos dessa sucessão de mudanças aceleradas.

Nesse contexto se insere a doutrina filosófica, econômica, política e social conhecida


como “Marxismo”, formulado entre 1848 e 1867 pelos filósofos alemães Karl Marx (1818-
1883) e Friedrich Engels (1820-1895).

Para o marxismo, a característica central de qualquer sociedade está no modo de


produção (escravista, feudal ou capitalista), que varia de acordo com a História e determina as
relações sociais. Através do processo produtivo, os homens produzem as próprias condições
de sua existência.

A História seria, então, o resultado das lutas contínuas entre os interesses das
diferentes classes sociais. Esse conflito só desapareceria com a instalação da sociedade
comunista, concebida como igualitária e justa. Nela, o Estado seria abolido, não haveria
divisão social nem exploração do trabalho humano e cada indivíduo receberia recompensas de
acordo com sua capacidade e necessidade.
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Ainda segundo o marxismo, o capitalismo é um sistema no qual a burguesia concentra


o capital e os meios de produção (instalações, máquinas e matérias-primas), e explora o
trabalho do proletariado, mantendo-o numa situação de pobreza e alienação. Por estar baseado
nessa característica contraditória, a de explorar o seu próprio alicerce – a classe trabalhadora –
o sistema prepararia o caminho para a sua própria destruição.

O capitalismo levaria a luta de classes a um ponto crítico, em que o proletariado,


privado de sua liberdade por meio da contínua exploração, acabaria por se unir. A derrota da
burguesia coincidiria, assim, com a instalação do comunismo.

Para Marx, o trabalho era indigno e expunha o trabalhador ao ridículo Afirmava que,
ao trabalhar, o homem se alienava em relação ao seu trabalho e a si mesmo. Ele criticava
ferrenhamente o modo de produção capitalista. Dizia até que, trabalhando, o homem perdia a
dignidade humana, contradizendo a máxima positivista2 de que o trabalho dignifica o homem.

Para a ocasião até que Marx não estava errado, pois os trabalhadores eram submetidos
a jornadas de até quatorze horas de trabalho dentro de fábricas geladas e o que ganhavam era
tão pouco que até as crianças e mulheres grávidas eram obrigadas a trabalhar. Muitas vezes os
salários eram pagos em aguardentes baratas e as mulheres, para completar o salário, tinham
que se prostituir. O trabalhador era um verdadeiro animal. Marx almejava uma sociedade
humanista.3

Como reflexo dos vários movimentos, a Organização Internacional do Trabalho,


(OIT), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), foi criada em 1919 para garantir o
respeito aos direitos do trabalhador no mundo. Em 1944, com a Declaração de Filadélfia,
foram reafirmados os objetivos a alcançar nos países membros: liberdade de associação para
os trabalhadores, estabelecimento de um sistema de previdência social, melhoria das
condições de vida através de salários adequados e proteção contra doenças do trabalho.

2
A sociedade Positivista é “... fundamentada na Ordem e no Progresso e possui todas as características do
capitalismo, hoje dominante em quase todo o mundo. O estilo de autoridade é hierárquica, onde o superior
manda e o subordinado obedece e a elite é mantida através de consenso (concordância. Alguém manda e alguém
– subordinado – aceita obedecer). Essa hierarquia é mantida pelo poder. É necessário que os membros da
sociedade se sintam e pensem mais ou menos de acordo com padrões preestabelecidos pela elite dominante
(governo, empresários e suas entidades de classe). [...] Para sobreviver, o indivíduo precisa trabalhar. Os
melhores e mais produtivos recebem melhores salários, ocasionando competição entre os membros, neste tipo de
sociedade. Não se trabalha apenas para sobreviver, mas também para progredir. Por esta razão, a sociedade
positivista é extremamente competitiva. Essa competição e competitividade podem promover o desenvolvimento
econômico, tecnológico, financeiro e intelectual, o que é benéfico” ( Aguiar, 1991: 24).
3
Na sociedade Humanista, “O poder, é resultante de um intercâmbio de forças sócio-econômicas e políticas. As
relações econômicas resultam [...] de uma negociação permanente em que o capital e trabalho, num jogo
interdependente, buscam novos patamares de relacionamento repensando a sociedade, o acesso aos bens
econômicos e sócio-culturais [...] O povo não tem a necessidade de se escravizar em procura da satisfação das
necessidades básicas como moradia alimentação, educação e saúde. Não há competição entre a população. O
patrão é o governo e o salário é recebido de acordo com as necessidades. O índice de violência nas cidades,
nesse tipo de sociedade, é quase nulo, porque suas necessidades básicas são supridas [...] Até a queda do
comunismo polarizavam-se as discussões em torno do trabalho na sociedade positivista e na humanista. Hoje,
quase liquidada, a sociedade do tipo humanista é um marco histórico para os estudos nos bancos escolares”
(Aguiar, 1991: 24).
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Os conflitos no Brasil – a História da nossa “classe operária” - herança e


contemporaneidade

Obviamente as questões apresentadas a seguir são de ordem sócio-cultural, política e


econômica. Porém exercem influência no âmbito organizacional e devem ser consideradas
pelo saber administrativo, pois a relação díspare entre a precariedade social e a qualificação
exigida do mundo globalizado apresenta-se enquanto um conflito que merece atenção.

O Trabalho Escravo

No Brasil, as questões relativas às lutas trabalhistas não eram tão relevantes, porque o
Brasil Colônia vivia basicamente do extrativismo. A questão maior, no entanto, era a
escravidão.

Escravidão foi um regime social de sujeição e exploração do homem e de sua força de


trabalho – entendida como propriedade privada. No Brasil, a escravatura nasceu com a
colonização, sobreviveu a ela e foi oficialmente extinta apenas em 1888. Atingiu primeiro os
indígenas e, depois, os africanos. A economia colonial precisava ter baixo custo interno para
garantir rentabilidade e bons preços no mercado externo. Por isso, os colonos procuraram
baratear sua produção pelo extrativismo predatório, agricultura extensiva e trabalho escravo.

A escravidão começou a declinar com o fim do tráfico de escravos em 1850.


Progressivamente, os imigrantes europeus assalariados substituíram os escravos no mercado
de trabalho.

O fim da escravatura, porém, não melhorou a condição social e econômica dos ex-
escravos. Sem formação escolar ou uma profissão definida, para a maioria deles a simples
emancipação jurídica não mudou sua condição subalterna nem ajudou a promover sua
cidadania ou ascensão social. Ainda hoje sentimos os reflexos da reintegração do negro na
sociedade. O exemplo mais claro dessa situação é o racismo que ronda o subconsciente de
muitos.

Mulher no Trabalho

A mulher começou a romper as barreiras da discriminação e a ter seu espaço no


mercado de trabalho após a Revolução industrial no século XIX. Até então ela era submissa,
vivia sob regime patriarcal. Suas qualificações não eram reconhecidas e até subestimadas.
Como o salário que os homens recebiam não era suficiente para o suprimento das despesas
básicas da família, as mulheres se prostituíam para obter uma renda familiar adicional. Em
tempos mais remotos ainda, como na era a.C., as mulheres não eram contadas nos censos.

Durante séculos ela confrontou com a supremacia masculina e discriminação a fim


ocupar o espaço que lhe convinha na sociedade.
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... a mulher esteve presente na empresa desde o início da industrialização; seu


trabalho, menos qualificado, mal pago e raramente colocado no nível onde se exercia
o poder, aí ficando sempre em posição secundária e subordinada ao seu papel de mãe
e de esposa que era seu único papel social reconhecido e legítimo [...] este modelo de
mulher no lar, que foi imposto no século XIX, está hoje sendo contestado não somente
pela evolução da relação conjugal e educativa, mas também por uma certa
modificação dos papéis profissionais da mulher, passando de postos subalternos a
postos de responsabilidade (Chanlat, 1993: 196).

Trazendo a discussão para os nossos dias, algumas pesquisas e estudos recentes, no


campo da sociologia, comprovaram que a mulher possui, entre outras qualidades, percepção
apurada, visão global, maior versatilidade, facilidade de se relacionar com as pessoas e
delegar poderes.

No Brasil, segundo a Secretaria da Receita Federal, em estatística publicada no ano


passado, também existe indício dessas evidências: Entre os Professores, 77% já são mulheres;
entre os Advogados, 59%; As Médicas já são 54% da classe. Em outras profissões como
Odontologia, Professor universitário e Arquitetura, elas dividem seu espaço com o homem,
chegando a 50% dos profissionais da área.

Essa mesma estatística divulga que as mulheres que declaram impostos de renda
possuem, individualmente, patrimônio maior que os homens. Também o IBGE acaba de
divulgar o censo sobre o assunto, informando que a mulher detém nível de escolaridade
superior ao homem, em média, todavia, por mesmos cargos exercidos recebe remuneração
inferior.

Segundo o DIEESE, “no segmento de profissionais da categoria bancária onde as


mulheres têm menor participação, houve uma nítida elevação de sua presença no grupo ao
longo dos oito anos estudados. Em 1986, a participação feminina era de apenas 10,0%, sendo
que, em 1994, já atingia praticamente um quarto (24,0%) do total de diretores e gerentes”.

O Menor

Devido ao grande índice de desemprego, vários pais forçam seus filhos a saírem cedo
das escolas para começar a trabalhar, trabalhos que muitas vezes exigem grande esforço
físico.

O trabalho infantil constitui num processo de repetição do ciclo da pobreza, pois a


criança que trabalha prejudica seu desenvolvimento, não estuda, não se qualifica e se torna
ainda mais pobre.

O trabalho infantil não é uma solução. É um problema que tende a se agravar quando a
criança se torna jovem e adulta, pois, quando sobrevive à deterioração física do trabalho
precoce, torna-se um trabalhador desqualificado, engrossando o mundo dos desempregados.

De acordo a OIT, aproximadamente 27,2 milhões de brasileiros possuem idade entre


10 e 17 anos, o que representa 18,1% da população. Destes, cerca de um terço, ou seja,
8.941.113 menores estão trabalhando.
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Além destes, existem 609.589 crianças de 5 a 9 anos de idade que trabalham no país.
O trabalho infantil está concentrado na Região Nordeste: 45% das crianças entre 10 e 14 anos
de idade que estavam trabalhando em 1995 exerciam esta atividade naquela região.

É importante frisar que a lei brasileira proíbe o trabalho antes dos 14 anos de idade. Há
uma exceção para o caso do aprendiz, limitada à idade de 12 e 14 anos.

Com tantas crianças e menores trabalhando, não é de estranhar que o Brasil não seja
signatário da convenção no 138 da OIT, sobre idade mínima para o trabalho. Na verdade, o
Brasil é um dos países que mais faz uso do trabalho infantil, perdendo apenas para Paraguai e
Haiti. E o pior é que quase todas essas crianças ganham, no máximo, um salário mínimo.

O Brasil moderno

Paradoxalmente às realidades apresentadas, nos deparamos com um Brasil que corre


em busca de uma modernidade industrial.

A Informatização e a Globalização: os dois lados da moeda

Sabemos há muito tempo que o desenvolvimento da atividade produtiva origina-se de


uma lógica em que “os jogos da concorrência econômica” ocupam lugar central. De modo
geral, essa atividade traz retornos favoráveis para os homens e a sociedade, como o aumento
do consumo e melhoria material. Mas concomitantemente, a busca por melhores desempenhos
produtivos gera na própria empresa problemas sociais e humanos que têm conseqüências às
vezes menos vantajosas sobre a vida comum e a saúde dos homens e mulheres que ela
emprega.

Dá-se muita ênfase ao trabalho moderno, como conseqüência da revolução científico-


tecnológica e da automação, exigindo cada vez mais o emprego da inteligência e do esforço
mental dos trabalhadores e menos esforço físico. Todavia, apesar de salutar, a informatização
do trabalho vem cada vez mais contra o trabalhador. Isso se justifica em função da capacidade
e velocidade na execução das tarefas e no armazenamento de informações que a máquina
possui em relação ao homem, diminuindo suas tarefas.

Grande exemplo disso vem ocorrendo desde o início da década de 90 com as


instituições financeiras que geravam mais de 800.000 empregos no Brasil, caindo para a
marca de 460.000, em 1997, segundo o DIEESE. Não tem sido diferente em outros setores da
economia nacional, como a indústria automobilística. Isso tem gerado crescentes conflitos e
insatisfação no meio social, com a perda do emprego e da auto-estima (como a alienação
mental, pois a máquina raciocina e calcula pelo trabalhador), levando a miséria à fome, por
conseqüência à possível marginalidade.

A progressiva automação de vários setores substitui a mão-de-obra humana. Caixas


automáticos tomam o lugar dos caixas de bancos, fábricas robotizadas dispensam operários,
escritórios informatizados prescindem de datilógrafos e contadores.
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Funcionários bancários com décimo segundo ano, formação profissional, difíceis


cursos de atualização e salários correspondentemente elevados já só são necessários
em pequeno número. Pouco resta da imagem profissional tradicional do simpático e
bem remunerado funcionário do banco ao lado (Martin e Schumann, 1999: 109).

A rápida evolução e a popularização das tecnologias da informação tem agilizado o


comércio e as transações financeiras entre os países. Em 1960, um cabo de telefone
intercontinental conseguia transmitir 138 conversas ao mesmo tempo. Atualmente, com a
invenção dos cabos de fibra óptica, esse número sobe para 1,5 milhão.

O número de usuários da Internet, rede mundial de computadores, é de cerca de 50


milhões e tende a duplicar a cada ano, o que faz dela o meio de comunicação que mais cresce
no mundo. E o maior uso dos satélites de comunicação permite que alguns canais de televisão
sejam transmitidos instantaneamente para diversos países.

Tudo isso permite uma integração mundial sem precedentes. É o conflito da


informatização.

O fim de milhares de empregos, no entanto, é acompanhado pela criação de outros


postos de trabalho. Novas oportunidades surgem, por exemplo, na área da informática, com o
surgimento de um novo tipo de empresa, as de “inteligência intensiva”, que se diferenciam
das indústrias de capital ou mão-de-obra intensivas. A IBM, por exemplo, empregava 400 mil
pessoas em 1990, mas, desse total, somente 20 mil produziam máquinas. O restante estava
envolvido em áreas de desenvolvimento de novos computadores – tanto em hardware como
em software –, gerenciamento e marketing.

Mas a previsão é que esses novos mercados de trabalho dificilmente absorverão os


excluídos, uma vez que os empregos emergentes exigem um alto grau de qualificação
profissional. Dessa forma, o desemprego tende a se concentrar nas classes menos favorecidas,
com baixa instrução escolar e pouca qualificação.

Esta metamorfose abrange a totalidade do mundo do trabalho. Entre 1979 e 1995, 43


milhões de pessoas perderam os seus postos de trabalho. A maioria delas
encontraram rapidamente um novo. Duas em cada três, porém, tiveram de se
conformar com salários substancialmente menores e condições de trabalho piores
(Martin e Schumann, 1999: 131).

Por sua vez a globalização é um conjunto de transformações na ordem política e


econômica mundial que vem acontecendo nas últimas décadas, como a integração dos
mercados numa “aldeia global” explorada pelas grandes corporações transnacionais. Os
Estados abandonam gradativamente as barreiras tarifárias que existiam para proteger sua
produção da concorrência dos produtos estrangeiros e abrem-se ao comércio e ao capital
internacional.

Esse processo avança, assim, a uma velocidade praticamente inatingível.

O mundo inteiro é um mercado único; o comércio pacífico parece florescer. Não será
isto a realização de um sonho da humanidade? Não deveríamos nós, habitantes dos
estados industrializados até agora prósperos, regozijar-nos ao vermos tantos países
em vias de desenvolvimento subir os degraus da escada? Não estará agora a paz
global ao nosso alcance? A resposta é não (Martin e Schumann, 1999: 29).
Anais da XXI Semana do Administrador/UEM 477

A Globalização tem causado o desemprego estrutural. A crescente concorrência


internacional tem obrigado as empresas a cortar custos, com o objetivo de obter preços
menores e qualidade alta para os seus produtos. Nos países ricos, o desemprego também é
causado pelo deslocamento de fábricas para os países com custos de produção mais baixos.

Opostamente está havendo aumento nas vagas por trabalhos especialistas. O certo é
que cada vez mais, na sociedade, o trabalho exige mais dos trabalhadores. Exige que sejam
cada vez mais polivalentes, flexíveis, tenham maior escolaridade e tenham condições
necessárias para a absorção das inovações tecnológicas.

Estamos na era da informação e do conhecimento. O despreparado está perdendo


vertiginosamente seu espaço na vida profissional. Não está mais havendo promoção de
carreira por tempo de serviço, mas sim em função da competência e do valor que agrega ao
trabalho. Cada vez mais o investimento em treinamento, cursos e seminários se fazem
necessários.

Segundo Druker (2001), O foco é a informação. Pelo simples motivo de que a maior
transformação é a transformação na informação. A mudança não está nos instrumentos: a
mudança é o fato de a informação estar acessível a todos.

Segundo Senna (2001):

Na tradição judaico-cristã, deparamo-nos com duas maneiras distintas de encarar o


trabalho. O trabalho como castigo, como pena. E o trabalho como aquela atividade
que vê no ser humano, enquanto imagem e semelhança de Deus, aquele que foi
chamado a completar uma criação inacabada [....] Quando analisamos o que se passa
à nossa volta, de fato deparamo-nos com pessoas para quem o trabalho é, em si
mesmo, fonte de crescimento e realização e com aquelas para quem ele é o duro preço
a pagar pela remuneração no final de cada mês. Os trabalhos gratificantes são
aqueles em que a recompensa maior por sua execução é encontrada pela pessoa no
próprio ato ou no resultado [...] O trabalho que fazemos todos os dias deve servir
para a consecução de nosso plano de carreira, e nosso plano de carreira deve estar a
serviço de nosso projeto de vida. O trabalho, nessa perspectiva, é caminho de auto-
realização e busca da plenitude humana.

O Capital Humano – considerações finais

Não há estímulos para se buscar novos conhecimentos se o tipo de trabalho não causar
prazer. O trabalhador deve ter a consciência de que a única forma de sobreviver dignamente é
trabalhando. Mas deve haver um equilíbrio entre os interesses do capital e trabalho para que
os conflitos sejam o minimizados. Vemos que existem fortes resistências neste sentido.

Ainda, em pleno ano 2.001, quando se trata da Psicopatologia do Trabalho,


percebemos que é mais fácil se condoer com alguém que está doente e até incentivá-lo a
procurar um médico que reconhecer que está adoecendo quando em plena atividade de
trabalho. Não são raras às vezes que achamos que o funcionário está fazendo “corpo mole”.

Muito se tem falado sobre a qualidade de vida no trabalho, stress e suas


conseqüências.
Anais da XXI Semana do Administrador/UEM 478

Na verdade é um círculo virtuoso: melhor qualidade de vida gera maior


produtividade, que por sua vez melhora a qualidade de vida (Morisot, 1998: 33).

O homem busca adaptar-se as condições oferecidas no seu trabalho, considerando seus


anseios, objetivos e desejos de crescimento, reconhecimento e necessidade de sobrevivência.

Quando a organização do trabalho entra em conflito com o funcionamento psíquico


dos homens [...] quando estão bloqueadas todas as possibilidades de adaptação entre
a organização do trabalho e o desejo dos sujeitos [...] então emerge um sofrimento
patogênico (Dejours, 1992: 10).

Como administrar esse conflito?

Não é possível estabelecer um rol de receitas de “como atuar” mas podemos tentar
entender o ser humano em sua totalidade, e então saberemos sobre suas expectativas. Para que
se estabeleça um equilíbrio, há necessidade de promover a pessoa humana num ambiente
onde o trabalho não é dissociado da vida.

O homem é capaz de aperfeiçoar-se continuamente, de ter autonomia, participação e


desenvolver-se e assim colaborar para o sucesso da organização, desde que esta o veja em sua
singularidade e complexidade, características humanas.

Hoje conferimos as empresas, cada vez mais, novas responsabilidades em relação aos
riscos que ela apresenta para o ambiente (mineral, vegetal e animal). É esperada a noção de
responsabilidade empresarial em relação à saúde física e mental da população que ela
emprega.

Chanlat (1993), afirma que as organizações devem propiciar à criatividade, para que o
indivíduo tenha interesse em fazer de seu trabalho um “teatro de luta” para negociar seu
sofrimento e conquistar sua identidade.

Se o trabalho faz, de fato, ressaltar seu sofrimento, ele lhe promete, em troca, um
prazer que poderia jogar em favor de seu equilíbrio psíquico e de sua saúde mental (Chanlat,
1993: 173).

O autor coloca nas mãos da organização do trabalho, enquanto papel da


Administração, os destinos do sofrimento: utilização ou desperdício. A sublimação do
sofrimento.

Quanto à qualificação necessária e cobrada pelo mundo globalizado, é objetivo atual


da OIT criar maneiras de ampliar o mercado de trabalho, requalificando profissionais através
de cursos de treinamento desenvolvidos em cada Estado membro. Em suma, pretende-se
minimizar as possibilidades de conflitos.

Todavia, qualquer estudo que se faz sobre o trabalho deve ser realizado com
consciência crítica e sem parcialidade. É impróprio afirmar que esta ou aquela teoria, conceito
ou tese está correta ou errada. O correto é afirmar que a história perpetuará a teoria mais
correta (ou a mais aceita). Se assassinarmos um ser humano, dizemos que esta é uma atitude
errada, mas se matarmos numa guerra, afirmamos que isso é justo. São conflitantes os
Anais da XXI Semana do Administrador/UEM 479

conceitos de certo e errado. O correto ou incorreto é relativo se colocada em discussão à causa


e a época. A escravidão foi desumana? Karl Marx estava errado? A Globalização vai destruir
o mundo? Estas respostas teremos daqui a alguns anos quando se verá o que se perpetuou e o
que se modificou.

Longe está, porém, de ser nossa intenção colorir com pessimismo o presente e o
futuro. Ao contrário, vemos como saudável, em muitos aspectos. Acreditamos, no entanto que
é preciso observar os acontecimentos com realismo.

Enquanto existir, o ser humano fará transformações na natureza por meio de seu
trabalho e transformará a si próprio também. Dele, dependerá a forma como se relacionará
com este fato e como administrará os conflitos, assim como nossos antecessores o fizeram. O
processo de seleção natural continuará existindo e o futuro que teremos dependerá do que
fizermos hoje em prol da sociedade.

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Anais da XXI Semana do Administrador/UEM 480

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