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Resumo
A relação capital/trabalho, dentro do aspecto das organizações sempre foi marcada por
conflitos dos mais variados, sobre os quais já foram realizados estudos, e apresentadas teorias.
Têm origem na evolução histórica do homem e das organizações e em como se relacionaram
ao longo dos séculos. A exploração da mão- de- obra, como o trabalho escravo e os baixos
salários, as doenças do trabalho e a discriminação da mulher foram fatores que determinaram
os conflitos no passado. Hoje, a competitividade, a constante necessidade de especialização, a
globalização, a informatização e o estresse têm sido a razão para o surgimento de uma nova
face desses conflitos. O artigo resgata essas questões, descrevendo o percurso histórico e
abordando o tema nos dias atuais. Demonstra a emergência de novos valores, que exige um
novo modelo organizacional, redefinindo o que é Administrar.
Introdução
A sociedade pós-industrial é gerenciada com critérios industriais, mas talvez seja mais
fácil inventar o progresso do que administrá-lo, o que exige adequamento das leis, da política
e da estrutura social.
De acordo com Masi (1993: 47), em contraponto aos valores da arrancada industrial,
todos centrados no empirismo, racionalismo e consumismo – ... traduzidos no imaginário da
posse, do poder e da riqueza..., emergem valores novos, voltados para a criatividade, estética,
confiança, subjetividade, feminilização, afetividade e qualidade de vida. O que por sua vez,
exige um novo tipo de bem-estar, a ser reinventado, afim de que o desenvolvimento
conquistado pelo homem seja por ele desfrutado e não o seu senhor.
Capital
Segundo Carosi (1962: 595) ... capital é uma parte das riquezas conservada em
reserva em vista de uma produção ulterior”. É ainda “A riqueza não destinada ao consumo,
mas para aumento da produção....
... recebeu o seu maior incremento entre os séculos XVI e XVIII. Os lucros da
indústria e do comércio cresceram com o desenvolvimento das transações; o patrão
podia aceitar um número cada vez maior de operários, para produzir maior massa de
trabalhos....
Trabalho
O trabalho, a que nos referimos, é o que gera transformações; o que está para o capital;
que gera produção para o patrão, para o estado ou nação e como recompensa o trabalhador
tem seu salário.
Segundo Carosi (1962: 588), O trabalho é o emprego das energias humanas físicas ou
intelectuais, para uma utilidade própria ou social. É ainda toda atividade desenvolvida por
um operário, trabalhador ou estudante no ambiente de uma fábrica, comércio, escritório,
banco ou nas cadeiras universitárias, da qual resultam bens e serviços.
Conflitos
O maior incremento das indústrias ocorreu entre os séculos XVI e XVIII. Objetivando
gastar menos com mão de obra, e produzir mais,
... engajou também mulheres e crianças para poder pagar-lhes salário menor com a
alegação de que era menor o seu rendimento. E para que o dinheiro fosse
inteiramente aplicado em função produtiva, o patrão descuidou-se das medidas
humanas de segurança, higiene, descanso, horário dividido, assistência, que na
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Afirmamos que os conflitos são gerados por diversos fatores e várias são suas faces.
Ora o conflito é com o patrão, ora com os governantes, ora com a evolução tecnológica, ora
conosco mesmo diante da necessidade de especialização.
Os conflitos no passado
No século XIX a intensidade das exigências de trabalho era tanta que expunha o
operário ao risco de vida. A sobrecarga de jornada de trabalho era maior que as dos animais.
Os senhores donos das minas possuíam animais que faziam serviços que não eram possíveis
de ser feitos pelos homens. Esses animais começaram a morrer sem uma causa aparente.
Alguns “especialistas” orientaram seus donos a diminuir sua jornada de trabalho e
melhorarem a ração. A sobrecarga de trabalho era o que estava matando os burros de carga,
concluíram. Isso levou os operários a reivindicarem uma jornada reduzida, igual à dos
animais.
1
“Por organização do trabalho designamos a divisão do trabalho, o conteúdo da tarefa (na medida em que ele
dela deriva), o sistema hierárquico, as modalidades de comando, as relações de poder, as questões de
responsabilidade etc”. (Dejours, 1992: 15) ;
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Por mais quase 50 anos não houve avanço nas negociações. Em um segundo momento
surge novas pressões sob vários temas: o limite de idade que as crianças tem como direito a
ser postas a trabalhar; a proteção das mulheres, a duração do trabalho; o trabalho noturno; os
trabalhos penosos e; o repouso semanal.
Após a primeira grande guerra e início do século XX, as reivindicações feitas pelos
operários baseavam-se no direito de viver. A partir daí surgem reivindicações das mais
diversificadas, como a proteção do corpo das doenças profissionais, das intoxicações por
produtos industriais, tratamento conveniente aos trabalhadores. O eixo principal das
campanhas foi o de que esses tratamentos beneficiariam até as classes mais abastadas.
Apesar da votação das leis, os sindicatos ainda não eram capazes de controlar sua
aplicação por toda parte. Esses controlavam apenas onde havia grande número de
trabalhadores, nos grandes centros e nas grandes empresas como a empresa fabricante de
automóveis Renault, que foi uma empresa piloto nas vitórias operárias.
A História seria, então, o resultado das lutas contínuas entre os interesses das
diferentes classes sociais. Esse conflito só desapareceria com a instalação da sociedade
comunista, concebida como igualitária e justa. Nela, o Estado seria abolido, não haveria
divisão social nem exploração do trabalho humano e cada indivíduo receberia recompensas de
acordo com sua capacidade e necessidade.
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Para Marx, o trabalho era indigno e expunha o trabalhador ao ridículo Afirmava que,
ao trabalhar, o homem se alienava em relação ao seu trabalho e a si mesmo. Ele criticava
ferrenhamente o modo de produção capitalista. Dizia até que, trabalhando, o homem perdia a
dignidade humana, contradizendo a máxima positivista2 de que o trabalho dignifica o homem.
Para a ocasião até que Marx não estava errado, pois os trabalhadores eram submetidos
a jornadas de até quatorze horas de trabalho dentro de fábricas geladas e o que ganhavam era
tão pouco que até as crianças e mulheres grávidas eram obrigadas a trabalhar. Muitas vezes os
salários eram pagos em aguardentes baratas e as mulheres, para completar o salário, tinham
que se prostituir. O trabalhador era um verdadeiro animal. Marx almejava uma sociedade
humanista.3
2
A sociedade Positivista é “... fundamentada na Ordem e no Progresso e possui todas as características do
capitalismo, hoje dominante em quase todo o mundo. O estilo de autoridade é hierárquica, onde o superior
manda e o subordinado obedece e a elite é mantida através de consenso (concordância. Alguém manda e alguém
– subordinado – aceita obedecer). Essa hierarquia é mantida pelo poder. É necessário que os membros da
sociedade se sintam e pensem mais ou menos de acordo com padrões preestabelecidos pela elite dominante
(governo, empresários e suas entidades de classe). [...] Para sobreviver, o indivíduo precisa trabalhar. Os
melhores e mais produtivos recebem melhores salários, ocasionando competição entre os membros, neste tipo de
sociedade. Não se trabalha apenas para sobreviver, mas também para progredir. Por esta razão, a sociedade
positivista é extremamente competitiva. Essa competição e competitividade podem promover o desenvolvimento
econômico, tecnológico, financeiro e intelectual, o que é benéfico” ( Aguiar, 1991: 24).
3
Na sociedade Humanista, “O poder, é resultante de um intercâmbio de forças sócio-econômicas e políticas. As
relações econômicas resultam [...] de uma negociação permanente em que o capital e trabalho, num jogo
interdependente, buscam novos patamares de relacionamento repensando a sociedade, o acesso aos bens
econômicos e sócio-culturais [...] O povo não tem a necessidade de se escravizar em procura da satisfação das
necessidades básicas como moradia alimentação, educação e saúde. Não há competição entre a população. O
patrão é o governo e o salário é recebido de acordo com as necessidades. O índice de violência nas cidades,
nesse tipo de sociedade, é quase nulo, porque suas necessidades básicas são supridas [...] Até a queda do
comunismo polarizavam-se as discussões em torno do trabalho na sociedade positivista e na humanista. Hoje,
quase liquidada, a sociedade do tipo humanista é um marco histórico para os estudos nos bancos escolares”
(Aguiar, 1991: 24).
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O Trabalho Escravo
No Brasil, as questões relativas às lutas trabalhistas não eram tão relevantes, porque o
Brasil Colônia vivia basicamente do extrativismo. A questão maior, no entanto, era a
escravidão.
O fim da escravatura, porém, não melhorou a condição social e econômica dos ex-
escravos. Sem formação escolar ou uma profissão definida, para a maioria deles a simples
emancipação jurídica não mudou sua condição subalterna nem ajudou a promover sua
cidadania ou ascensão social. Ainda hoje sentimos os reflexos da reintegração do negro na
sociedade. O exemplo mais claro dessa situação é o racismo que ronda o subconsciente de
muitos.
Mulher no Trabalho
Essa mesma estatística divulga que as mulheres que declaram impostos de renda
possuem, individualmente, patrimônio maior que os homens. Também o IBGE acaba de
divulgar o censo sobre o assunto, informando que a mulher detém nível de escolaridade
superior ao homem, em média, todavia, por mesmos cargos exercidos recebe remuneração
inferior.
O Menor
Devido ao grande índice de desemprego, vários pais forçam seus filhos a saírem cedo
das escolas para começar a trabalhar, trabalhos que muitas vezes exigem grande esforço
físico.
O trabalho infantil não é uma solução. É um problema que tende a se agravar quando a
criança se torna jovem e adulta, pois, quando sobrevive à deterioração física do trabalho
precoce, torna-se um trabalhador desqualificado, engrossando o mundo dos desempregados.
Além destes, existem 609.589 crianças de 5 a 9 anos de idade que trabalham no país.
O trabalho infantil está concentrado na Região Nordeste: 45% das crianças entre 10 e 14 anos
de idade que estavam trabalhando em 1995 exerciam esta atividade naquela região.
É importante frisar que a lei brasileira proíbe o trabalho antes dos 14 anos de idade. Há
uma exceção para o caso do aprendiz, limitada à idade de 12 e 14 anos.
Com tantas crianças e menores trabalhando, não é de estranhar que o Brasil não seja
signatário da convenção no 138 da OIT, sobre idade mínima para o trabalho. Na verdade, o
Brasil é um dos países que mais faz uso do trabalho infantil, perdendo apenas para Paraguai e
Haiti. E o pior é que quase todas essas crianças ganham, no máximo, um salário mínimo.
O Brasil moderno
O mundo inteiro é um mercado único; o comércio pacífico parece florescer. Não será
isto a realização de um sonho da humanidade? Não deveríamos nós, habitantes dos
estados industrializados até agora prósperos, regozijar-nos ao vermos tantos países
em vias de desenvolvimento subir os degraus da escada? Não estará agora a paz
global ao nosso alcance? A resposta é não (Martin e Schumann, 1999: 29).
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Opostamente está havendo aumento nas vagas por trabalhos especialistas. O certo é
que cada vez mais, na sociedade, o trabalho exige mais dos trabalhadores. Exige que sejam
cada vez mais polivalentes, flexíveis, tenham maior escolaridade e tenham condições
necessárias para a absorção das inovações tecnológicas.
Segundo Druker (2001), O foco é a informação. Pelo simples motivo de que a maior
transformação é a transformação na informação. A mudança não está nos instrumentos: a
mudança é o fato de a informação estar acessível a todos.
Não há estímulos para se buscar novos conhecimentos se o tipo de trabalho não causar
prazer. O trabalhador deve ter a consciência de que a única forma de sobreviver dignamente é
trabalhando. Mas deve haver um equilíbrio entre os interesses do capital e trabalho para que
os conflitos sejam o minimizados. Vemos que existem fortes resistências neste sentido.
Não é possível estabelecer um rol de receitas de “como atuar” mas podemos tentar
entender o ser humano em sua totalidade, e então saberemos sobre suas expectativas. Para que
se estabeleça um equilíbrio, há necessidade de promover a pessoa humana num ambiente
onde o trabalho não é dissociado da vida.
Hoje conferimos as empresas, cada vez mais, novas responsabilidades em relação aos
riscos que ela apresenta para o ambiente (mineral, vegetal e animal). É esperada a noção de
responsabilidade empresarial em relação à saúde física e mental da população que ela
emprega.
Chanlat (1993), afirma que as organizações devem propiciar à criatividade, para que o
indivíduo tenha interesse em fazer de seu trabalho um “teatro de luta” para negociar seu
sofrimento e conquistar sua identidade.
Se o trabalho faz, de fato, ressaltar seu sofrimento, ele lhe promete, em troca, um
prazer que poderia jogar em favor de seu equilíbrio psíquico e de sua saúde mental (Chanlat,
1993: 173).
Todavia, qualquer estudo que se faz sobre o trabalho deve ser realizado com
consciência crítica e sem parcialidade. É impróprio afirmar que esta ou aquela teoria, conceito
ou tese está correta ou errada. O correto é afirmar que a história perpetuará a teoria mais
correta (ou a mais aceita). Se assassinarmos um ser humano, dizemos que esta é uma atitude
errada, mas se matarmos numa guerra, afirmamos que isso é justo. São conflitantes os
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Longe está, porém, de ser nossa intenção colorir com pessimismo o presente e o
futuro. Ao contrário, vemos como saudável, em muitos aspectos. Acreditamos, no entanto que
é preciso observar os acontecimentos com realismo.
Enquanto existir, o ser humano fará transformações na natureza por meio de seu
trabalho e transformará a si próprio também. Dele, dependerá a forma como se relacionará
com este fato e como administrará os conflitos, assim como nossos antecessores o fizeram. O
processo de seleção natural continuará existindo e o futuro que teremos dependerá do que
fizermos hoje em prol da sociedade.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CAROSI, Paulo. Curso de Filosofia. III Volume. São Paulo: Paulinas, 1962.
DIEESE. Evolução recente do emprego bancário no Brasil. Texto 02/98, julho de 1998.
DRUKER, Peter. 10 Mandamentos para a Carreira. Folha S. Paulo, Especial. Disponível em:
< http://www.uol.com.br/folha/especial/fj2204200101.htm > Acesso em: 22/ 04/ 2001.
MASI, Domênico. Em busca do Ócio. Veja 25 anos: reflexões para o futuro. Rio de Janeiro:
abril, 1993.