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do debate sobre a
revitalização sindical
para a análise
do sindicalismo
brasileiro
ANDRÉIA GALVÃO *
A contribuição do debate sobre a revitalização sindical para a análise do sindicalismo brasileiro • 103
1 Entre os autores contemporâneos que têm contribuído para desenvolver a teoria marxista do
sindicalismo, cf. Hyman (1975), Anderson (1980), Kelly (1988), Mouriaux (1985, 1998).
2 McIlroy (2001) discorda do uso do termo declínio que, a seu ver, esconde a amplitude da crise.
Este autor considera que a noção de crise alude a uma inflexão mais profunda do que a redução
no número de filiados e indicadores de greve. Ademais, crise sugere não apenas a existência de
desafios, mas também de possibilidades de reversão. Para uma análise do debate bibliográfico
sobre a crise sindical, cf. Boito (2003), Boito e Marcelino (2010).
3 Para uma crítica à tese do conservantismo sindical como traço estrutural da burocracia, cf. Kelly
(1988).
4 A dicotomia entre direção e base baseia-se na conhecida tese da degeneração sindical (Trotsky,
1940), que inspirou muitos trabalhos sobre sindicalismo. Na primeira metade dos anos 1970, Hyman
considerava a organização de base como uma contratendência à acomodação e burocratização
das lideranças. Em seus escritos posteriores, o autor passou a sustentar que tal dicotomia, via de
regra, romantiza a base e a organização no local de trabalho, desconsiderando as várias formas de
mediação entre ambas (Hyman, 1979a). Darlington e Upchurch (2012) consideram que a dicotomia
entre burocracia e base é válida – desde que se introduza nuances e se alerte para os riscos de
reducionismo mencionados por Hyman –, pois ela aponta para uma contradição real. Ao negar
a dicotomia, Hyman esvazia o conceito de burocracia, obscurecendo uma parte dos conflitos
deflagrados no interior dos sindicatos.
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5 Os sindicatos que inspiram essa formulação são o SUD-Rail na França e o National Union of Rail,
Maritime and Transport Workers (RMT) na Inglaterra.
6 Um dos primeiros autores a conceituar o sindicalismo de movimento social, Waterman (1999) passa
a utilizar a expressão “novo sindicalismo social” para caracterizá-lo. Yates e Gapasin (2005), por
sua vez, falam em sindicalismo de justiça social. Voss (2010, p.95) argumenta que o sindicalismo
de movimento social se baseia numa concepção de “cidadania ampliada”, que não implica o
questionamento do capitalismo.
7 Sobre a contribuição do marxismo para a análise dos movimentos sociais e suas diferenças frente
às teorias dos novos movimentos sociais, ver Galvão (2011).
8 “O sindicalismo não exclui absolutamente toda ‘política’, como por vezes se pensa. Os sindicatos
sempre conduziram certo tipo de propaganda e certas lutas políticas (porém, não social-democratas)”
(Lênin, 1988, p.24).
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9 Pois, “A luta sindical visa o imediato e o concreto; ela se libera mais facilmente das proposições
adversárias se possui seu próprio projeto, uma perspectiva de longo prazo. Dissociar os dois polos
da ação sindical leva à confrontação estéril de reformistas sem reforma e de revolucionários sem
transformação” (Mouriaux, 1998, p.8).
10 A Força Sindical, embora se enquadre no que estamos considerando como sindicalismo de par-
ceria e tenha se integrado ao que Boito (2012) denominou frente neodesenvolvimentista, procura
construir uma alternativa partidária ao PT.
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11 Dentre as propostas elencadas, a mais bem-sucedida foi a política de valorização do salário míni-
mo. Outra reivindicação sindical, a Convenção 151 da OIT, que trata da negociação coletiva dos
funcionários públicos, foi promulgada por um decreto presidencial em 2013, mas ainda carece de
regulamentação.
12 Conforme Coutinho (2010), não há propriamente disputa de hegemonia na era da “contrarreforma
neoliberal”, caracterizada pela hegemonia da pequena política,“simples administração do existente”
(Coutinho, 2010, p.32).
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13 A CTB também constitui uma cisão da CUT, mas apresenta mais afinidades com sua central de
origem do que com as demais organizações dissidentes.
14 A Conlutas não possui filiados suficientes para ser oficialmente reconhecida como central sindical
e a Intersindical não busca reconhecimento.
15 Um exemplo dessas tensões diz respeito à proposta de Acordo Coletivo de Trabalho com Propósito
Específico, elaborada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e encampada pela CUT, que autoriza
os sindicatos a negociar com as empresas acordos coletivos cujas cláusulas derrogam a Consolidação
das Leis Trabalhistas (CLT). Esta proposta gerou uma crítica interna por parte da corrente “A CUT
pode mais” e da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), entidade
ligada à CUT, pelos riscos de flexibilização que ela representa, que se somaram à Conlutas e à
Intersindical no Fórum Nacional das Entidades dos Servidores Públicos Federais.
16 Para Fairbrother (2000), a emergência de um novo modelo sindical, contraposto ao oferecimento
de serviços e à parceria social, pode ser observada principalmente no setor público e em empresas
privatizadas. O fato de ser alvo do processo de privatização, da mercantilização de serviços, da
reforma do estatuto do funcionário e de seu sistema de aposentadoria leva esse setor a ampliar suas
preocupações políticas e o torna potencialmente crítico ao neoliberalismo.
17 Nossa hipótese é que mesmo sendo bastante minoritário, esse sindicalismo afeta as centrais majo-
ritárias. Com a retomada dos leilões de petróleo, sobretudo do pré-sal, no governo Dilma, também
os sindicatos ligados à Federação Única dos Petroleiros-CUT passaram a aderir à campanha “O
petróleo tem que ser nosso!”.
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sobre a revitalização sindical
para a análise do sindicalismo
brasileiro
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Resumo: Este artigo recupera algumas dimensões do debate sobre revitalização sindical
com o intuito de analisar o caso brasileiro. Examina os conceitos de sindicalismo de movi-
mento social e sindicalismo radical para refletir sobre as características político-ideológicas
do sindicalismo nos governos petistas. Considera que as centrais majoritárias assumiram
uma perspectiva de parceria social e moderação política que não condizem com a noção
de revitalização. Por outro lado, a construção de um polo sindical radical também não é
suficiente para revitalizar o sindicalismo, dado seu caráter amplamente minoritário e sua
baixa inserção junto às bases.
Palavras-chave: sindicalismo, revitalização, governos petistas, centrais sindicais.
Abstract: This article examines some dimensions of the trade union revitalization debate in
order to analyze the Brazilian case. It examines the concepts of social movement unionism
and radical unionism to deal with the political and ideological characteristics of unionism
during PT administrations. It considers that the main union federation organizations have
assumed a social partnership and political moderation perspective which are inconsistent
with the category of revitalization. On the other hand, the radical union polo building
process is not powerful enough to revitalize unionism, given its widely minority character
and its low shop floor insertion.
Keywords: tradeunionism, revitalization, PT administrations, union confederations.