Writing Culture, a coletânea que fronteira entre eu e outro, permitem-nos
marcou uma nova forma principal de refletir sobre a natureza convencional e crítica às premissas da antropologia efeitos políticos desta distinção, e cultural, exluiu mais ou menos dois fundamentalmente reconsiderar o valor do grupos críticos cujas situações habilmente conceito de cultura do qual ela depende. expõem e desafiam a mais básica destas Eu argumentarei que “cultura” opera no premissas: feministas e “halfies” – pessoas discurso antropológico para reforçar cuja identidade nacional ou cultural é separações que invevitavelmente carregam mista, em virtude de migração, educação um senso de hierarquia. Portanto, os estrangeira, ou ascendência. Em sua antropólogos deveriam agora perseguir, introdução, Clifford desculpa-se pela sem esperanças exageradas sobre o poder ausência de feminismo; nenhuma menção de seus textos para mudar o mundo, uma aos halfies ou aos antropólogos indígenas variedade de estratégias para escrever a quem eles estão relacionados. Talvez contra a cultura. Para aqueles interessados eles não sejam suficientemente numerosos em estratégias textuais, eu exploro as ou auto-denominados como grupo. A vantagens do que chamo “etnografias do importância destes dois grupos jaz não em particular” como instrumentos de um qualquer reivindicação moral e superior, humanismo tático. ou em uma vantagem que eles devem ter Nós e Outros ao fazer antropologia, mas nos dilemas específicos que eles enfrentam, dilemas A noção de cultura que revelam cruamente os problemas com (particularmente porque ela funciona para a presunção da antropologia cultural de distinguir “culturas”), a depeito de uma uma distinção fundamental entre o eu e o longa utilidade, pode agora ter-se tornado outro. algo contra o que os antropólogos gostariam de trabalhar em suas teorias, Neste ensaio eu exploro como suas práticas etnográficas, e suas escritas feministas e halfies, pela forma como suas etnográficas. Um modo útil para começar práticas antropólogicas inquietam a a compreender o porquê, é considerar o 1 Título em parte intraduzível. No original Writing against culture, referência a Writing culture (1986) de Clifford e Marcus. que os elementos compartilhados da (1987, 286), também constituem seus antropologia feminista e halfie esclarece “eus” em relação com um outro, mas não sobre a distinção entre eu e outro, central veem este outro “sob ataque” (1987, 289). ao paradigma da antropologia. Marilyn Para esclarecer a relação entre Strathern (1985, 1987) levanta algumas eu/outro, Strathern leva-nos ao coração do das questões a respeito do feminismo em problema. Ainda que ela recue da ensaios que tanto Clifford como Rabinow problemática do poder (tido como citam em Writing Culture. A tese dela é a formativo no feminismo), em sua de que a relação entre antropologia e descrição estranhamente pouco crítica da feminismo é difícil. Essa tese a conduz a antropologia. Quando ela define a tentar compreender por que a escola antropologia como a disciplina que feminista, no ódio de sua retórica de “continua a conhecer a si mesma como o radicalismo, falhou em fundamentalmente estudo do comportamento social nos alterar a antropologia, e por que o termos de sistemas e representações feminismo ganhou ainda menos que a coletivas” (1987, 281), ela subscreve a antropologia do que o contrário. distinção eu/outro. Ao caracterizar a A dificuldade, ela argumenta, relação entre o eu antropológico e o outro provém do fato de que apesar do interesse como não-antagonística, ela ignora seu comum nas diferenças, as práticas aspecto mais fundamental. O objetivo acadêmicas de feministas e antropólogos confessado da antropologia deve ser “o são “estruturadas diferentemente no modo estudo do homem [sic]”, mas ela é uma como organizam o conhecimento e traçam disciplina ancorada na divisão construída fronteiras” (Strathern, 1987, 289) e historicamente entre o Ocidente e o não- especialmente na “na natureza da relação Ocidente. Tem sido e continua a ser dos investigadores com os sujeitos de suas primariamente o estudo dos outros não- disciplinas” (1987, 284). Acadêmicos Ocidentais pelos eus Ocidentais, mesmo feministas, unidos por sua oposição se em seus novos pretextos ela procure comum aos homens ou ao patriarcado, explicitamente dar voz ao Outro ou a produzem um discurso composto de apresentar um diálogo entre o eu e o outro, muitas vozes; eles “descobrem o eu ora textualmente, ora através da tornando-se consciente da opressão do explicação do encontro realizado no Outro” (1987, 289). Antropólogos, cujo trabalho de campo (como nos trabalhos de objetivo é “dar sentido às diferenças” Crapanzano 1980, Dumont 1978, Dwyer 1982, Rabinow 1977, Riesman 1977, afeta os antropólogos indígenas Tedlock 1983 e Tyler 1986). E o (Ocidentais ou não-Ocidentais). A segunda relacionamento entre o Ocidente e o não- é um entendimento implícito de que os Ocidente, ao menos desde o nascimento antropólogos estudam os não-Ocidentais; da antropologia, tem sido constituída pela halfies que estudam a si mesmos ou dominação do Ocidente. Isto sugere que a comunidades não-Ocidentais são ainda dificuldade que Strathern sente na relação mais facilmente reconhecidos como entre feminismo e antropologia deve antropólogos, que Americanos que melhor ser entendida como o resultado de estudam Americanos. processos diametralmente opostos de Embora a antropologia continue a construção do eu através da oposição a ser praticada como o estudo por um não outros – processos que provêm de problematizado e não destacado eu diferentes lados da repartição de poder. Ocidental para descobrir “outros” lá fora, A força duradoura do que Morsy a teoria feminista, uma prática acadêmica (1988, 70) tem chamado “a hegemonia da que também transita em eus e outros, veio distintiva tradição do outro” na em sua relativamente pequena história a antropologia é traída pela defensividade perceber o perigo de tratar eus e outros de exceções parciais. Antropólogos como dados. É instrutivo para o conduzindo trabalho de campo nos desenvolvimento de uma crítica da Estados Unidos ou na Europa perguntam- antropologia considerar a trajetória que se se eles não embaçaram as fronteiras tem levado, em duas décadas, ao que disciplinares entre a antropologia e outros alguns podem chamar de crise na teoria campos como a sociologia ou história.Um feminista, e outros, de desenvolvimento modo de manter suas identidades como do pós-feminismo. antropólogos é fazer com que as A partir de Simone de Beauvoir, comunidades que eles estudam pareçam tem sido aceito que, ao menos no “outras”. Estudar comunidades étnicas e Ocidente moderno, as mulheres têm sido o os fracos também assegura isso. Assim outro aos eus dos homens. O feminismo como concentrar-se na “cultura”, por tem sido um movimento devotado a ajudar razões que eu discutirei mais tarde. Há as mulheres a tornarem-se eus e sujeitos, duas questões aqui. Uma é a convicção de ao invés de objetos e outros dos egos dos que não se pode ser objetivo sobre a homens. A crise na teoria feminista própria sociedade em particular, algo que (relacionada a uma crise no movimento das mulheres) tenta tornar aquelas que têm um eu através da oposição com um outro sido constituídas como outras em eus – sempre envolve a violência de reprimir ou ou, para usar a metáfora popular, deixar as ignorar outras formas de diferença. As mulheres falarem –, foi o problema da teóricas feministas têm sido forçadas a “diferença”. Por quem as feministas explorar as implicações para a formação falavam? O movimento das mulheres, as de identidade, e as possibilidades para a objeções das lésbicas, mulheres Afro- ação política dos modos em que o gênero Americanas, e outras “mulheres de cor” como sistema de diferença é cruzado por cujas experiências como mulheres foram outros sistemas de diferença, inclusive, no diferentes daquelas das mulheres brancas, mundo capitalista moderno, por raça e de classe média, heterossexuais, e levaram classe. a problematizar a identidade dos seus eus Onde isso deixa a antropóloga como mulheres. Trabalhos sobre mulheres feminista? Strathern (1987, 286) entre culturas também deixou claro que caracteriza-a como experimentando uma masculino e feminino não têm, como nós tensão – “tomada entre estruturas... dizemos, os mesmos significados em confrontada com duas maneiras diferentes outras culturas, nem as vidas das mulheres de se relacionar com as(os) sujeitos de sua do Terceiro Mundo se parecem com as disciplina”. O mais interessante aspecto da vidas das mulheres do Ocidente. Como diz situação das feministas, no entanto, é o Harding (1986, 246), o problema é que que ela compartilha com o halfie: uma “uma vez que 'mulher' é desconstruído em habilidade bloqueada para assumir 'mulheres', e 'gênero' é reconhecido por confortavelmente o eu da antropologia. não ter referentes fixos, o feminismo ele Para ambos, embora de maneiras mesmo dissolve-se como uma teoria que diferentes, o eu está dividido, pego no pode refletir a voz de um interlocutor cruzamento de sistemas de diferença. Eu naturalizado ou essencializado”. estou menos preocupada com as De sua experiência com esta crise consequências existenciais desta divisão com o eu e com o outro, a teoria feminista (isso foi eloquentemente explorado em pode oferecer dois lembretes úteis à eoutro lugar [Joseph 1988, Kondo 1986, antropologia. Primeiro, o eu é sempre uma Narayan 1989]) que com a percepção que construção, nunca uma entidade natural ou esta divisão gera sobre três questões descoberta, mesmo que tenha esta cruciais: posicionalidade, público, e o aparência. Segundo, o processo de criar poder inerente nas distinções de eu e outro. O que acontece quando o “outro” fácil deslize na subjetividade, que o antropólogo está estudando é compartilhado com os antropólogos simultaneamente construído como, ao indígenas. Essas preocupações sugerem menos parcialmente, um eu? que o antropólogo ainda é definido como um ser que deve manter-se afastado do Antropólogos feministas e halfies Outro, mesmo quando ele ou ela procura não podem facilmente evitar a questão da explicitamente superar o intervalo. posicionalidade. Encontrar-se numa base Mesmo Bourdieu (1977, 1-2), que de mudança deixa claro que cada visão é analisou perceptivamente os efeitos que uma visão de algum lugar, e cada ato de esta postura de distanciamento tem nas fala uma fala de algum lugar. (in)compreensões dos antropólogos da Antropólogos culturais nunca foram vida social, falha irremediavelmente em inteiramente convencidos da ideologia da sua opinião. O ponto óbvio que ele perde ciência, e têm há muito questionado o de vista é que o eu distante nunca valor, a possibilidade e definição de meramente mantém-se do lado de fora. objetividade. Mas eles ainda parecem Ele ou ela encontram-se em uma relação relutantes para examinar as implicações da definida com o Outro de seu estudo, não presente situação de seu conhecimento. apenas como um Ocidental, mas como um Duas objeções comuns e francês na Argélia durante a guerra de entrelaçadas ao trabalho dos antropólogos independência, um americano no feministas ou nativos e semi-nativos, Marrocos durante o conflito árabe- ambas relacionadas à parcialidade, traem a israelense em 1967, ou uma mulher persistência dos ideais de objetividade. A inglesa na Índia pós-colonial. O que nós primeira tem a ver com a parcialidade chamamos “lado de fora” é uma posição (como viés ou posição) do observador. A dentro de um complexo político-histórico segunda tem a ver com a parcial maior. Não menos que o halfie, o wholie é (incompleta) natureza da descrição uma posição específica em face à apresentada. Halfies são mais associados comunidade sendo estudada. ao primeiro problema, feministas ao Os debates em torno das segundo. O problema de estudar a própria antropólogas feministas sugerem uma sociedade é alegadamente o problema de segunda fonte de inquietação quanto à tomar suficiente distância. À medida que posicionalidade. Mesmo quando elas se para os halfies, o Outro é de certo modo o apresentam como estudiosas de gênero, eu, este é o dito perigo da identificação, e antropólogas feministas são rejeitadas chamado o efeito Rushdie – os efeitos de visto que apresentam apenas um retrato viver em uma era global quando os parcial das sociedades que estudam, sujeitos de seus estudos começam a ler porque assumidamente estudam apenas seus trabalhos, e os governos dos países mulheres. Antropólogos estudam a trabalham para proibir passaportes e negar sociedade, a forma sem designação. O vistos – antropólogos feministas e halfies estudo das mulheres é a forma com lutam de maneira pungente, com múltipas designação, tão prontamente seccionada, responsabilidades. Em vez de ter um como nota Strathern (1985). Ainda que se público principal, como outros poderia facilmente argumentar que a antropólogos, antropólogos feministas maior parte dos estudos têm sido escrevem para antropólogos e feministas, igualmente parciais. Estudos como os de dois grupos cujas relações com os sujeitos Weiner (1976) sobre os trobriandeses de são singulares e que considera a Malinowski, ou os de Bell (1983) sobre os responsabilidade de etnógrafos de bem estudados aborígenes australianos maneiras diferentes. Além disso, círculos indicam, eles foram estudos sobre feministas incluindo as feministas não- homens. Isso não os torna menos valiosos; ocidentais, geralmente das sociedades em meramente nos lembra que devemos que os antropólogos feministas estudaram, constantemente prestar atenção à que os chamam para responder de novas posicionalidade do eu antropológico e maneiras. suas representações dos outros. James Os dilemas dos halfies são ainda Clifford (1986), entre outros, tem mais extremos. Como antropólogos, eles convincentemente argumentado que as escrevem para outros antropólogos, representações etnográficas são sempre majoritariamente Ocidentais. Também “verdades parciais”. O que é necessário é identificando-se com comunidades de fora um reconhecimento de que elas são do Ocidente, ou subculturas nele, eles são também verdades posicionadas. chamados para responder como membros O eu dividido cria para os dois educados destas comunidades. Mais grupos aqui em questão um segundo importante, não apenas porque eles se problema que é iluminador para a posisiconam eles próprios tendo como antropologia em geral: múltiplos públicos. referência as duas comunidades, mas Embora todos os antropólogos estão porque quando eles apresentam o Outro começando a sentir o que pode ser eles estão apresentando a si próprios, eles falam sobre com uma complexa progresso na academia para expor o modo consciência, investimento e acolhimento. como ser estudado pelos “homens Tanto os antropólogos feministas quanto brancos” (para usar um atalho a uma os halfies são forçados a confrontar posição de sujeito complexa e diretamente a política e a ética de suas historicamente constituída) transforma-se representações. Não há soluções fáceis em ser dito através deles. E se torna um para seus dilemas. signo e instrumento de seu poder.
A terceira questão que os Na antropologia, a despeito de uma
antropólogos feministas e halfies, ao longa história de oposição auto-consciente contrário dos antropólogos que trabalham ao racismo, de um desenvolvimento veloz em sociedades Ocidentais (outro grupo da literatura auto-crítica (por exemplo, para quem eu e outro de certam forma Asad 1973, Clifford, 1983, Fabian 1983, estão enredados), forçam-nos a confrontar Hymes 1969, Kuper 1988), e é a ambiguidade da manutenção da ideia experimentações com técnicas de que as relações entre eu e outro são etnográficas para aliviar o desconforto inocentes de poder. Devido ao sexismo e à com o poder do antropólogo sobre o discriminação étnica e racial, que eles sujeito antropológico, as questões podem ter experimentando – como fundamentais da dominação continuam a indivíduos de ascendência mista, como ser evitadas. Mesmo tentativas para mulheres ou como estrangeiros – ser outro retratar informantes como consultores, e para um eu dominante, seja na vida para “deixar o outro falar” (Tedlock 1987) cotidiana nos Estados Unidos, na em textos dialógicos ou polívocos – Inglaterra, na França, ou na academia descolonizações a nível textual –, deixam Ocidental. Esta não é simplesmente uma intacta a configuração básica do poder experiência de diferença, mas de global na qual a antropologia, estando desigualdade. Meu argumento, no entanto, conectada a outras instituições do mundo, é estrutural, não empírico. Mulheres, baseia-se. Para perceber a estranheza negros, e os inúmeros não-Ocidentais têm desse empreendimento, tudo o que é sido historicamente constituídos como preciso é considerar um caso análogo. outros nos principais sistemas políticos de Qual seria a nossa reação se acadêmicos diferença dos quais o mundo desigual do do sexo masculino declarassem seu desejo capitalismo tem dependido. Estudos de “deixar as mulheres falarem” em seus feministas e negros fizerem suficiente textos, enquanto continuassem a dominar todo o conhecimento sobre eles através do esclarecer, explicar, e compreender a controle da escrita e outras práticas diferença cultural, a antropologia também acadêmicas, sustentado em suas posições ajuda a construí-la, produzi-la e mantê-la. uma organização particular da vida O discurso antropológico confere à política, social e econômica? diferença cultural (e a separação entre grupos e seres humanos que ela implica) o Devido a seus eus divididos, ar de auto-evidente. antropólogos feministas e halfies viajam com dificuldade entre falar “por” e falar A respeito disso, o conceito de “de”. Sua situação permite-nos ver mais cultura opera de modo bastante claramente que a divisão de práticas, seja semelhante ao seu predecessor – raça –, naturalizando as diferenças, como no mesmo que na forma assumida no século gênero ou na raça, ou simplesmente XX tenha algumas vantagens políticas elaborando-as, como irei argumentar sobre importantes. Ao contrário de raça, e ao o que faz o conceito de cultura, são contrário também da noção de cultura do métodos fundamentais para executar a século XIX como sinônimo de civilização desigualdade. (em contraste à barbárie), o conceito atual permite as múltiplas diferenças, ao invés Cultura e Diferença de binárias. Isso imediatamente assinala a O conceito de cultura é o termo fácil propensão à hierarquia: a mudança oculto em tudo o que acabou de ser dito para “cultura” (com “c minúsculo com a sobre a antropologia. A maioria dos possibilidade de um s no final”, como diz antropólogos americanos acredita ou age Clifford [1988]) tem um efeito como se “cultura”, notoriamente resistente relativizante. A mais importante das à definição e ambígua de referente, fosse vantagens da cultura, contudo, é que ela contudo o verdadeiro objeto da remove a diferença do domínio do natural investigação antropológica. Além disso, e do inato. Mesmo que concebida como poderíamos também argumentar que um conjunto de comportamentos, cultura é importante à antropologia porque costumes, tradições, regras, planos, a distinção antropológica entre eu e outro receitas, instruções, ou programas (para jaz sobre ela. Cultura é a ferramenta listar a variação de definições fornecida essencial para fazer o outro. Como um por Geertz [1973: 44]), cultura é discurso profissional que se elabora sobre aprendida e pode mudar. o significado da cultura, a fim de Apesar de suas intenções anti- no sistema formador foi depreciado como essencialistas, no entanto, o conceito de outro. Um apelo gandhiano à maior cultura mantém algumas das tendências espiritualidade da Índia hindu, comparado para congelar a diferença, possuídas por ao materialismo e violência do Ocidente, e conceitos como o de raça. Isso é mais fácil um apelo islâmico à fé maior em Deus, de ver se nós consideramos um campo em comparado à imoralidade e corrupção do que houve uma mudança de um para o Ocidente, ambos aceitam os termos outro. O Orientalismo como discurso essencialistas das construções acadêmico (entre outras coisas) é, de Orientalistas. Enquanto os transformam acordo com Said (1978: 2), “um estilo de em algo completamente errôneo, eles pensamento baseado na distinção preservam o rígido senso de diferença ontológica e epistemológica feita entre 'o baseado na cultura. Oriente' e (na maior parte das vezes) 'o Um paralelo pode ser feito com o Ocidente'”. O que ele mostra é que ao feminismo. É um pressuposto básico do identificar a geografia, raça e cultura de feminismo que “não se nasce mulher, um e outro, o Orientalismo fixa diferenças torna-se mulher”. Tem sido importante entre as pessoas “do Oeste” e as pessoas para a maioria das feministas alocar as “do Leste”, de maneira tão rígida que elas diferenças de sexo na cultura, não na podem até ser consideradas inatas. No biologia ou na natureza. Enquanto isso século XX, a diferença cultural, não a tem inspirado algumas teóricas feministas raça, tem sido o sujeito básico da escola a tratar os efeitos sociais e íntimos do Orientalista, dedicada agora a interpretar o gênero como um sistema de diferenças, fenômeno “cultural” (principalmente para muitas outras tem levado a religião e linguagem), ao qual diferenças explorações sobre e estratégias básicas no desenvolvimento, performance construídas na noção de uma cultura das econômica, governo, caráter, e assim por mulheres. Feminismo cultural (cf. Echols diante, são atribuídas. 1984) assume muitas formas, mas tem Alguns movimentos anti-coloniais muitas das qualidades do Orientalismo e lutas contemporâneas têm trabalhado reverso já discutido. Para feministas para o que poderia ser rotulado como franceses como Irigaray (1985a, 1985b), Orientalismo reverso, em que as Cixous (1983), e Kristeva (1981), tentativas de reverter a relação de poder masculino e feminino, se não na verdade procedem procurando valorizar o eu, que macho e fêmea, respresentam modos de ser essencialmente diferentes. Feministas Essa valorização pelas feministas anglo-americanos tomam um outro rumo. culturais, como Orientalistas reversos, das Alguns tentam “descrever” as diferenças qualidades previamente depreciadas por culturais entre homens e mulheres – eles, pode ser provisoriamente útil para Gilligan (1982) e seus seguidores (e. g., forjar um senso de unidade, e travar lutas Belenky et al. 1986) que elaboram a noção de empoderamento. Ainda porque ela de “uma voz diferente” são exemplos deixa intacto o divisor que estruturou as populares. Outros tentam “explicar” as experiências de criação do eu e opressão diferenças, seja por uma teoria na qual ela se cria, ela perpetua algumas psicanalítica socialmente informada (e.g., tendências perigosas. Primeiro, feministas Chodorow 1978), uma teoria marxista dos culturais deixam passar as conexões entre efeitos da divisão do trabalho e do papel aqueles de cada lado do divisor, e os das mulheres na reprodução social modos nos quais eles definem um ao (Hartsock 1985), uma análise da prática outro. Segundo, eles deixam passar materna (Ruddick 1980), ou mesmo uma diferenças em cada categoria construída teoria da exploração sexual (MacKinnon pelas práticas divisoras, diferenças como 1982). A maior parte da teorização e aquelas de classe, raça, e sexualidade prática feminista procura construir ou (para repetir a litania feminista das reformar a vida social alinhada a essa problematicamente categorias abstratas), “cultura das mulheres”. Houve propostas mas também origem étnica, experiência para uma unversidade das mulheres (Rich pessoal, idade, modo de subsistência, 1979), uma ciência feminista, uma saúde, meio de vida (urbano ou rural), e metodologia feminista na ciência e nas experiência histórica. Terceiro, e talvez ciências sociais (Meis 1983; Reinharz mais importante, eles ignoram os modos 1983; Smith 1987; Stanley e Wise 1983; nos quais as experiências foram ver Harding 1987 para uma crítica construídas historicamente e mudaram sensível), e até mesmo uma com o tempo. Tanto o feminismo cultural espiritualidade e ecologia feministas. como os movimentos revivalistas tendem Essas propostas quase sempre constróem- a confiar nas noções de autenticidade e se sobre valores associados às mulheres retorno aos valores positivos, não no Ocidente – um senso de cuidado e representadas pelo outro dominante. conexão, criação materna, imediatismo da Como se mostra óbvio nos casos mais experiência, envolvimento com o corpóreo extremos, esses lances apagam a história. (versus o abstrato), e por aí em diante. Invocações do deus de Creta em alguns círculos feminista-culturais, de um modo que tanto “a disciplina da antropologia mais sério e complexo, a poderosa baseada no trabalho de campo, ao invocação da comunidade do século XVII constituir sua autoridade, constrói e do Profeta em alguns movimentos reconstrói outros culturais coerentes e islâmicos são bons exemplos. interpreta os eus” (Clifford 1988b: 112), como a etnografia é uma forma de coleção O ponto é que a noção de cultura de cultura (como a coleção de arte) na de que os dois tipos de movimento se qual “diversas experiências e fatos são utilizam não parece garantir uma fuga da selecionados, reunidos, isolados de suas tendência para o essencialismo. Poderia circunstâncias temporais originárias, e ser argumentado que antropólogos usam atribuem-se a eles valor duradouro em um “cultura” de maneira mais sofisticada e novo arranjo” (Clifford 1988: 231). consistente, e que seu compromisso com Metáforas orgânicas sobre inteireza e o ela como uma ferramenta analítica é mais holismo metodológico que caracterizam a sólido. No entanto, mesmo muitos deles antropologia, ambos privilegiam a estão agora preocupados com o modos coerência, que por sua vez contribui para a pelos quais ela tende a congelar as percepção das comunidades como diferenças. Appadurai (1988), por enredadas e discretas. exemplo, em seu argumento persuasivo de que “os nativos” são uma fabricação da Certamente discrição não tem de imaginação antropológica, demonstra a implicar valor; o distintivo da cumplicidade do conceito antropológico antropologia do século XX tem sido a sua de cultura em um contínuo promoção do relativismo cultural sobre a “encarceramento” dos povos não- avaliação e o julgamento. Se a Ocidentais no tempo e no espaço. Negadas antropologia tem sempre, em certa as mesmas capacidades de movimento, medida, sido uma forma de (auto-) crítica viagem e interação geográfica que os cultural (Marcus e Fischer, 1986), isso ocidentais tomam como dadas, as culturas também foi um aspecto da recusa à estudadas pelos antropólogos tenderam a hierarquização da diferença. Ainda que ter a história também negada. nenhuma posição seria possível sem a diferença. Valeria a pena pensar sobre as Outros, incluindo eu mesma implicações dos altos riscos da (1990b), argumentaram que teorias antropologia ao sustentar e perpetuar a culturais também tendem a enfatizar crença na existência de culturas exageradamente a coerência. Clifford nota identificadas como discretas, diferentes, e promissoras. Embora elas de maneira separadas da nosso própria. É a diferença nenhuma esgotem as possibilidades, os sempre contrabandeada em hierarquia? tipos de projeto que irei descrever – teórico, substantivo e textual – faz sentido Em Orientalismo, Said (1978: 28) aos antropólogos sensíveis aos problemas argumenta a favor da eliminação “do de posicionalidade e responsabilidade, e Oriente” e “do Ocidente” completamente. interessados em fazer da prática Ele não quer dizer que devamos apagar antropológica algo que não meramente todas as diferenças, mas o reconhecimento fortaleça as desigualdades globais. Eu de mais delas, e dos modos complexos concluirei, contudo, considerando as pelas quais elas se atravessam. Mais limitações de qualquer reforma importante, a análise dele sobre um campo antropológica. procura mostrar como e quando certas diferenças, neste caso de lugares e pessoas Discurso e prática que lhes são inerentes, tornam-se A discussão teórica, porque é um implicadas na dominação de um pelo dos modos através dos quais antropólogos outro. Deveriam os antropólogos tratar se envolvem uns com os outros, oferece com suspeita similar “cultura” e “culturas” um meio importante para a contestação da como os termos chave em um discurso no “cultura”. Parece-me que as discusssões e qual a alteridade e a diferença vieram a remanejamentos correntes sobre dois ter, como aponta Said (1989: 213), termos cada vez mais populares – discurso “qualidades talismânicas”? e prática – sinalizam um movimento de Três modos de escrever contra a distanciamento da cultura. Embora haja cultura sempre o perigo de que tais termos venham a ser usados simplesmente como Se “cultura”, obscurecida pela sinônimos para cultura, eles foram coerência, perenidade, e discrição, é a destinados a nos permitir analisar a vida principal ferramenta antropológica para social sem presumir a hierarquia lógica fazer o “outro”, e a diferença, como que o conceito de cultura tem de carregar. feministas e halfies revelam, tende a ser uma relação de poder, então talvez A prática é associada, na antropólogos devessem considerar antropologia, com Bourdieu (1977; estratégias para escrever contra a cultura. também ver Ortner 1984), cuja abordagem Eu discutirei três que considero teórica é construída sobre os problemas de contradição, incompreensão, comunidade e o antropólogo trabalhando desconhecimento, estratégias de favor, lá e escrevendo sobre, para não mencionar interesses, e improvisações, sobre os mais o mundo ao qual ele ou ela pertencem e estáticos e homogeneizadores dispositivos que permitem que ele ou ela estejam culturais desgastados de regras, modelos e naquele lugar particular estudando aquele textos. O discurso (cujos usos eu discuto grupo. Isso é mais um projeto político que em L. Abu-Lughod 1989 e Abu-Lughod e existencial, embora os antropólogos Lutz 1990), tem fontes e significados mais reflexivos que nos ensinaram a focar no diversos em antropologia. Em sua encontro do trabalho de campo como um derivação foucaultiana, como se relaciona local para a construção dos “fatos” às noções de formações discursivas, etnográficos têm nos alertado a uma aparatos, e tecnologias, quer recusar a dimensão importante da conexão.Outros distinção entre ideias e práticas ou texto e tipos significativos de conexão têm mundo, que o conceito de cultura muito recebido menos atenção. Pratt (1986: 42) prontamente encoraja. Em seu sentido nota uma mistificação regular na escrita mais sociolinguístico, atrai atenção dos etnográfica sobre “a grande pauta da usos sociais pelos indivíduos das fontes expansão europeia na qual o etnógrafo, verbais. Em qualquer caso, permite a desatento às suas próprias atitudes a ela, é possibilidade de reconhecimento em um apanhado, e isso determina a própria grupo social o jogo das múltiplas, relação potencial do etnógrafo com o mutantes e concorrentes afirmações e seus grupo sob estudo”. Nós precisamos fazer efeitos práticos. Tanto a prática como o perguntas sobre os processos históricos discurso são úteis porque eles trabalham pelos quais veio passar que seres como contra a assunção de enredamento, para nós poderiam se envolver nessa espécie de não mencionar o idealismo (Asad 1983), trabalho, nesse lugar particular, e sobre do conceito de cultura. quem nos precedeu e ainda mesmo está lá hoje conosco (turistas, viajantes, Conexões missionários, consultores de auxílio Outra estratégia para escrever financeiro, trabalhadores do corpo civil de contra a cultura é reorientar os problemas paz). Nós precisamos nos perguntar a que ou temas a que antropólogos se dirigem. esse “desejo de saber” sobre o Outro está Um foco importante deveria ser as conectado no mundo. variadas conexões e interconexões, históricas e contemporâneas, entre uma Essas perguntas não podem ser particulares. Todos esses projetos, que se feitas em geral; elas tem de ser feitas relacionam a uma mudança no olhar para sobre e respondidas através de situações, incluir o fenômeno da conexão, expõem as configurações e histórias específicas. inadequações do conceito de cultura e a Ainda que elas não se dirijam diretamente esquivez das entidades designadas pelo ao lugar do etnógrafo, e ainda que elas se termo culturas. Embora possa haver uma envolvam a uma supersistematização que tendência no novo trabalho em meramente ameaça a apagar as interações locais, ampliar o objeto, mudando de cultura para estudos como os de Wolf (1982) sobre a nação como locus, idealmente dar-se-ia longa história da interação entre atenção para os agrupamentos em sociedades Ocidentais particulares, e mudança, identidades e interações no comunidades do agora chamado Terceiro interior e entre essas fronteiras também. Mundo, representam meios importantes de Se um dia houve um tempo em que os responder a essas questões. Assim como antropólogos poderiam considerar sem os estudos de Mintz (1985) que traçam os muita violência pelo menos algumas processos complexos de transformação e comunidades como unidades isoladas, exploração nos quais, na Europa e outras certamente a natureza das interações partes do mundo, o açúcar estava globais no presente torna isso impossível. envolvido. A virada antropológica para a Etnografias do particular história, traçando conexões entre o presente e o passado de comunidades A terceira estratégia para escrever particulares, é também um contra a cultura depende da aceitação à desenvolvimento importante. compreensão de Geertz sobre a antropologia, que tem sido construída Nem todos os projetos sobre sobre todos que levam a textualidade a conexões precisam ser históricos. sério nesse “momento experimental” Antropólogos estão cada vez mais (Marcus e Fischer 1986). Geertz (1975, preocupados com as conexões nacionais e 1988) argumentou que uma das coisas transnacionais entre seres humanos, principais que os antropólogos fazem é formas culturais, mídia, técnicas e escrever, e o que eles escrevem é ficção (o mercadorias. Eles estudam a articulação que não quer dizer que sejam fictícias). do capitalismo mundial e da política Certamente a prática da escrita etnográfica internacional, com as situações de seres tem recebido uma imoderada quantidade humanos vivendo em comunidades de atenção por aqueles envolvidos em Writing Culture e um número crescente de Eu não me preocuparei com a série outros que não estavam envolvidos. Muita de questões frequentemente levantada da hostilidade direcionada ao projeto deles sobre a generalização. Por exemplo, provém da suspeita de que em suas constantemente tem sido apontado que o inclinações literárias, eles muito modo generalizador do discurso científico prontamente ruíram a política da social facilita a abstração e a reificação. A etnografia em sua poética. Ainda que socióloga feminista Dorothy Smith (1987: tenham trazido uma questão que não possa 130) põe o problema vividamente em sua ser ignorada. Na medida em que os crítica do discurso sociológico por nada antropólogos estão no negócio de menos que: representar os outros através de sua escrita a complexa organização de atividades de etnográfica, então claramente o grau com indivíduos reais e suas relações reais são inseridas que as pessoas nas comunidades em que no discurso através de conceitos como classe, eles estudam aparecem como “outros” modernização, organização formal. Um domínio de objetos constituídos teoricamente é criado, deve também ser parcialmente uma função libertando o domínio discursivo do solo das vidas e de como os antropólogos escrevem sobre trabalho de indivíduos reais e liberando a eles. Há maneiras de escrever sobre vidas investigação sociológica para roçar em um campo de modo a constituir outros menos outros? de entidades conceituais.
Eu argumentaria que uma poderosa Outros críticos fixaram-se em diferentes
ferramenta para perturbar o conceito de falhas. A antropologia interpretativa, por cultura e subverter o processo de exemplo, em sua crítica da busca por leis “outrerização” que ele envolve é escrever gerais em uma ciência social positivista, “etnografias do particular”. Generalização, nota uma inobservância da centralidade do o modo característico do estilo de escrita significado à experiência humana. Ainda das ciências sociais, não pode mais ser que os resultados tenham sido subsituir a considerado como descrição neutra generalização dos significados pela (Foucault 1978; Said 1978; Smith 1987). generalização dos comportamentos. Há dois efeitos infelizes em antropologia Eu também quero deixar claro o dos quais vale a pena se afastar. Eu irei que o argumento da particularidade não é: explorá-los antes de apresentar alguns não deve ser confundido com argumentos exemplos de meu próprio trabalho, o que que privilegiam processos micro sobre os se poderia esperar realizar através das macro. Etnometodólogos […] e outros etnografias do particular. estudantes da vida cotidiana buscam meios de generalizar sobre gerenciais, e é portanto parte do “aparelho microinterações, enquanto diz-se que os dominante desta sociedade”. Essa crítica historiadores traçam as particularidades se aplica também à antropologia com a dos macroprocessos. Uma preocupação sua perspectiva inter ao invés de com as especificidades das vidas dos intrasocial, e sua origem na colonização e indivíduos não implica uma exploração dos não-europeus, em vez da desconsideração a respeito de forças e gestão dos grupos sociais internos como dinâmicas que não se assentam a nível trabalhadores, mulheres, local. Pelo contrário, os efeitos de afrodescendentes, pobres ou prisioneiros. processos extra-locais e a longo prazo Por outro lado, mesmo se apenas se manifestam localmente e negarmos o julgamento sobre quão especificamente, produzidos nas ações de intimamente as ciências sociais podem indivíduos vivendo suas vidas estar associadas aos aparatos de particulares, inscritos em seus corpos e dominação, devemos reconhecer como suas palavras. O que estou defendendo é todos os discursos profissionais por uma forma de escrita que possa melhor natureza impõem hierarquia. O enorme transmitir isso. vão ente os discursos profissionais e Há dois motivos para os autorizados de generalização, e a antropólogos serem cautelosos com a linguagem cotidiana (nossa própria e dos generalização. O primeiro é que, como outros) estabelece uma separação parte de um discurso profissional sobre fundamental entre o antropólogo e as “objetividade” e técnica, é inevitável uma pessoas sobre quem ele escreve, a qual linguagem de poder. Por um lado, é a facilita a construção dos objetos linguagem daqueles que parece antropológicos como simultaneamente permanecer apartada e do lado de fora diferente e inferior. daquilo sobre o que se põem a descrever. Assim, a hierarquia que os Novamente, a crítica de Smith ao discurso antropólogos podem trazer aproximando a sociológico é relevante. Ela tem defendido linguagem da vida cotidiana e a que esse modo, aparentemente apartado, linguagem do texto, é reservada a esse de reflexão sobre a vida social está na modo de fazer o outro. O problema é que, verdade localizado: ele representa a como uma reflexão sobre a situação das perspectiva daqueles envolvidos em antropólogas feministas sugere, pode estruturas profissionais, administrativas, e haver riscos profissionais para etnógrafos que desejam perseguir essa estratégia. Eu útil porque o objetivo era persuadir defendi em outro lugar (1990) que a colegas de que uma antropologia levando observação refrescantemente sensível de em conta o gênero não era apenas uma Rabinow sobre a política da escrita boa antropologia, mas uma antropologia etnográfica – que se encontra mais perto melhor. de casa, na academia, que no mundo A segunda pressão sobre a colonial e neo colonial – ajuda-nos a antropologia feminista é a necessidade de entender algumas coisas sobre a declarar profissionalismo. Ao contrário do antropologia feminista e a sua dificuldade, que escreve Clifford (1986: 21), as que mesmo alguém como Clifford trai em mulheres têm produzido “formas seu ensaio introdutório a Writing Culture. inconvencionais de escrita”. Ele apenas as Sua desculpa para excluir os antropólogos ignora, negligenciando alguns feministas foi que eles não inovaram antropólogos profissionais como Bowen textualmente. Se consentirmos como a (Bohannon) (1954), Briggs (1970), e dúbia distinção que ele presume entre Cesara (Poewe) (1982) que fizeram inovação textual e transformações de experimentações com a forma. Mais conteúdo e teoria, podemos admitir que significativo, há também o que pode ser antropólogos feminsitas contribuíram considerado uma “tradição das mulheres” pouco à nova onda de experimentação da separada na escrita etnográfica. Porque forma. No entanto, um momento de não é profissional, contudo, pode ser que reflexão nos proveria pistas sobre o venha a ser reivindicada e explorada por porquê. Sem mesmo perguntar as questões antropólogos feministas incertas de sua básicas sobre indivíduos, instituições, condição. Estou me referindo às, em sua patrões, e posses, podemos virar-nos à maior parte excelentes e populares, política do próprio projeto feminista. etnografias escritas pelas esposas “não Dedicado a garantir que as vidas das treinadas” de antropólogos, livros como mulheres sejam representadas em Guests of the Sheik (1965) de Elizabeth descrições das sociedades, experiências Fernea, Nisa (1985) de Marjorie Shostak, das mulheres, e o próprio gênero, The spirit of the drum (1987) de Edith teorizaram levando em conta como as Turner, e The house of lim (1968) de sociedades funcionam; acadêmicos Margaret Wolf. Direcionando seus feministas se interessaram pelo velho trabalhos a públicos ligeiramente senso político de representação. O diferentes àqueles a que se dirigem as conservadorismo da forma pode ter sido etnografias padrões, eles também em um momento especial para os seguiram convenções diferentes: eles são antropólogos, porque contribuem para a mais abertos sobre sua posicionalidade, ficção dos essencialmente diferentes e menos assertivos sobre sua autoridade discretos outros, que podem ser separados científica, e mais focados nos indivíduos de algum tipo de eu igualmente essencial. particulares. Na medida em que a diferença é, como argumentei, hierárquica, e afirmações de […] separação uma forma de negar a O segundo problema com a responsabilidade, a generalização ela generalização deriva não de sua mesma deve ser tratada com suspeita. participação nos discursos de autoridade Por essas razões, eu proponho que do profissionalismo, mas dos efeitos de experimentemos com as narrativas homogeneidade, coerência e perenidade etnográficas do particular a longa tradição que ela tende a produzir. Quando se da escrita baseada no trabalho de campo. generaliza a partir de experiências e Ao contar histórias de indivíduos conversas com um número específico de particulares no tempo e espaço, essas pessoas em uma comunidade, tende-se a etnografias compartilhariam elementos achatar as diferenças entre eles e a com a “tradição das mulheres” discutida homogeneizá-los. A aparência de ausência acima. Eu esperaria que elas de diferenciação interna torna mais fácil a complementassem ao invés de recolocar concepção de um grupo de seres humanos uma gama de outros tipos de projetos como discreto, entidade enredada, como antropológicos, de discussões teóricas à “os Núer”, “os Balineses”, os “Awlad 'Ali exploração de novos tópicos na Bedouin'”, que fazem isto e aquilo, e antropologia. acreditam assim e assado. O esforço para produzir descrições etnográficas gerais […] das crenças e ações dos seres humanos Antropólogos comumente tende a suavizar as contradições, conflitos generalizam sobre as comunidades e interesses, e dúvidas e argumentos, para dizendo que elas se caracterizam por não mencionar a mudança de motivações certas instituições, regras, ou maneiras de e circunstâncias. A eliminação de tempo e fazer as coisas. Por exemplo, nós podemos conflitos torna o que está dentro da e, frequentemente dizemos “os Bongo- fronteira criado pela homogeneização em Bongo são polígamos”. Contudo, pode-se algo essencial e fixo. Estes efeitos se dão recusar a generalizar desta maneira, os seres humanos contestam perguntando ao contrário como um interpretações sobre o que está determinado conjunto de indivíduos – por acontecendo, criam estratégias, sofrem, e exemplo, um homem e suas três esposas vivem suas vidas. Em um sentido isso não numa comunidade beduína no Egito – é tão novo. Bourdieu (1977), por exemplo, vive a “instituição” que chamamos de teoriza a prática social de modo similar. poligamia. Enfatizando a particularidade Mas a diferença aqui seria que se está à desse casamento e construindo uma figura procura de meios textuais de representar dele através das discussões dos membros, como isso acontece, ao invés de suas recordações, desentendimentos, e simplesmente fazer afirmações teóricas ações, geraríamos várias questões teóricas. que isso acontece.
Primeiro, recusar a generalizar Através do foco íntimo nos
destacaria a qualidade construída dessa indivíduos particulares e nas suas relações tipicidade tão regularmente produzida em efêmeras, seria necessário subverter as resultados científico-sociais conotações mais problemáticas de cultura: convencionais. Segundo, demonstrar as homogeneidade, coerência e perenidade. circunstâncias reais e, as histórias em detalhe dos indivíduos e suas relações sugeriria que as especificidades, sempre presentes (como sabemos através de nossas experiências íntimas), são também sempre cruciais à constituição da experiência. Terceiro, reconstruir os argumentos das pessoas sobre, justificativas para, e interpretações sobre o que eles e outros estão fazendo explicaria como a vida social procede. Demonstraria que a despeito dos termos de seus discursos poderem estar definidos (e, como em qualquer sociedade, inclusas uma série de discursos às vezes contraditórios e frequentemente em mudança histórica), dentro desses limites,