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A internacionalização dos entes

subnacionais federativos: notas


sobre os casos do Brasil e da
*
Argentina
Cairo Gabriel Borges Junqueira e
Karina Lilia Pasquariello Mariano

Introdução intuito evidenciar semelhanças e


O artigo analisa o atual patamar de divergências entre ambos os países no
internacionalização subnacional brasi- trato das chamadas relações internacio-
leiro e argentino -considerando seus nais federativas.
municípios, estados e províncias- Na literatura especializada de Rela-
através de três variáveis de pesquisa, ções Internacionais essa excursão
quais sejam os sistemas federativos; os externa dos atores subnacionais, desde
aspectos constitucionais e jurídicos; e os já citados municípios, estados e
as iniciativas subnacionais no âmbito províncias até departamentos, regiões,
regional e fronteiriço, tendo como comunidades autônomas, cantões e

CGBJ: Professor Assistente de Relações Internacionais da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP),


Doutorando do PPGRI San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP), Bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Membro da Rede de Pesquisa em Política
Externa e Regionalismo (REPRI) e Membro do Núcleo de Estudos em Políticas Públicas (NEPPs). E-
mail: cairojunqueira@gmail.com
KLPM: Professora Doutora do PPGRI San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP), Professora
Adjunta da Faculdade de Ciências e Letras (FCL-Ar/UNESP), Coordenadora do Grupo de Estudos
Interdisciplinares sobre Cultura e Desenvolvimento (GEICD), Coordenadora da Equipe de Relações
Internacionais do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC) e Membro da Rede de
Pesquisa em Política Externa e Regionalismo (REPRI). E-mail: karinapmariano@gmail.com
*Versões similares do presente artigo foram apresentadas e constam nos anais do 6º Encontro da Associação Brasileira
de Relações Internacionais (ABRI) ocorrido em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, na PUC-MG, entre os dias 25 e 28
de julho de 2017 e do 9º Congresso Latino-americano de Ciência Política, organizado pela Associação Latino-
americana de Ciência Política (ALACIP) ocorrido em Montevidéu, Uruguai, entre os dias 26 e 28 de julho de 2017.

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cidades, ficou notadamente conhecida políticas públicas, capacitações técni-


por “paradiplomacia”. Tal nomencla- cas, dentre outras.
tura adquiriu inúmeros sinônimos e A publicação de David Sarquis
conceitos similares como “diplomacia (2013), fundamentado nas reflexões
constituinte”, “pós-diplomacia”, teóricas em torno da paradiplomacia,
“diplomacia de múltiplas camadas” e evidencia três questionamentos
“microdiplomacia” “diplomacia local”, centrais para o artigo que ora se
“diplomacia regional”, “política externa apresenta:
subnacional”, dentre outros, sendo 1) Como o Estado pode reconhecer
cada neologismo utilizado de acordo as instâncias subnacionais que estão
com o contexto em que é aplicado atuando de maneira autônoma no
(Kuznetsov, 2015 Tavares, 2016). exterior?
Partindo dos exemplos clássicos de 2) Quais desafios legais e jurídicos
atuação internacional subnacional na são criados pela paradiplomacia?
América do Norte e Europa,
destacando-se os casos dos Estados 3) Nessa relação entre Estado
Unidos, Canadá, Bélgica, Suíça, central e atores subnacionais predo-
Áustria, França, Espanha e Alemanha, mina o conflito de interesse ou é
pode-se dizer que o fenômeno da possível trabalhar em base de
paradiplomacia se espalhou ao redor do cooperação?
mundo, chegando a outros países e Para responder satisfatoriamente a
continentes com destaque para África essas três perguntas em relação ao Brasil
do Sul, China, Japão, Índia, México e e à Argentina foram evocadas três
Rússia (Tavares, 2016:14). Especifica- variáveis de pesquisa supramencionadas
mente no trato da América do Sul, no parágrafo inicial da introdução,
Brasil e Argentina despontam como sendo cada uma delas tratada em
evidência de uma dupla perspectiva: de subseções específicas daqui em diante.
um lado, nesses países é frutífero o Em um primeiro momento busca-se
incremento acadêmico sobre o tema e, explanar que a configuração federativa
de outro, é cada vez mais cotidiano o dos países é um ponto de destaque no
estabelecimento de laços de união entre que concerne ao reconhecimento das
suas unidades federativas na busca por ações externas subnacionais, pois as
maior desenvolvimento, algo que pode federações são consideradas formas de
ser enquadrado na ótica de “cooperação Estado em que sobressaem caracterís-
descentralizada pública”, a qual ticas de dupla autonomia territorial, na
representa um conjunto de relações qual coexistem o governo central e os
mútuas realizadas por governos locais e governos membros descentralizados.
regionais (Malé, 2006:3) na busca por Posteriormente o debate focaliza-se na
captação de recursos, dinamização das dimensão jurídica das relações

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internacionais subnacionais tendo em descentralizada e internacionalização


vista um extenso debate acerca da subnacional de modo geral, obrigatoria-
(in)validade de atuação desses atores mente deve levar em conta a questão
considerando que, no Direito Interna- federal:
cional Público e especificamente no “O federalismo permeia e influencia
debate aqui retratado, compete somen- todos os aspectos políticos na Argentina
te aos Estados nacionais na figura do e no Brasil. Assim, qualquer explicação
governo central a condução da política de suas políticas que não incorporar o
externa e das relações internacionais enfoque sobre a influência do federalis-
dos países. Por fim, mas não menos mo na política nacional será provavel-
importante, analisa-se a dimensão mente incompleta (no menor dos casos)
regional sobretudo na consecução de ou até mesmo incorreta (nos piores)”.
iniciativas políticas brasileiras e (Jones; Samuel, 2005:2 Apud Théret,
argentinas no seio do Mercado Comum 2014:150, tradução nossa).
do Sul (Mercosul), bloco que demons-
tra relações de intercâmbio de boas O Federalismo representa um sistema
práticas através da Rede de Cidades do político, no qual estados fazem um
Mercosul (Mercocidades) e de iniciati- pacto por meio da Constituição,
vas de cooperação fronteiriça colocadas criando uma associação ou aliança -a
em prática também no âmbito do Foro Federação- que, ao mesmo tempo,
Consultivo de Municípios, Estados preserva a independência de cada estado
Federados, Províncias e Departamen- membro e promove sua ligação,
tos do Mercosul (FCCR). organizando-o por meio de um governo
central. O governo federal representa
A partir das análises, conclui-se que unidade e centralidade, enquanto os
tanto o Brasil quanto a Argentina governos estaduais caracterizam
apresentam ativismo subnacional diversidade e autonomia. Conforme
crescente e o maior diálogo com o nível apontam Marcello Branco e Eduardo
federal, o qual ainda é escasso e carente Kulgemas (2005), o Federalismo dá
de vínculos, pode servir como pressu- forma a um Estado caracterizado pela
posto de fortalecimento das políticas dupla autonomia territorial do poder,
locais. Compreender as dinâmicas coexistindo o governo federal e os
políticas nos âmbitos local, nacional e governos membros descentralizados,
regional auxilia na consecução da sendo que todos têm poderes para
internacionalização subnacional e é a governar sobre o mesmo território e as
isso que se preza este artigo. mesmas pessoas.
Federalismo a la Brasil e Argentina No caso específico do Brasil, a
Um exame sobre a configuração promulgação da Constituição da
política brasileira e argentina, ainda República de 1988 representa um
mais se tratando de cooperação grande marco no debate aqui proposto

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A internacionalização dos entes subnacionais federativos: notas sobre os casos do Brasil e da Argentina

por duas principais razões. Em primeiro passado colonial e até mesmo do regime
lugar, ela corroborou as bases da ditatorial vivenciado entre 1964 e 1985
“Federação Trina”, conforme é exposto (Papi, 2017; Rosenn, 2005). Nas pala-
em seu artigo 18: “A organização vras de Miguel Barrientos (2009:52):
político-administrativa da República “O processo de descentralização
Federativa do Brasil compreende a aparece não só como um fato reativo à
União, os Estados, o Distrito Federal e os centralização a que o país tinha estado
Municípios, todos autônomos, nos termos submetido durante o governo militar.
desta Constituição” (Brasil, 1988). E, em [...]. Então, à primeira vista, a
segundo, serviu como base legal para Constituição parece prover maiores
dar maior suporte à internacionalização recursos às esferas subnacionais, expan-
dos entes federativos subnacionais, de os controles entre os três níveis de
porque desde a década de 1980 já foi governo (União, Estados, Distrito
possível observar uma elevada atuação Federal e municípios), além de
externa de alguns estados e grandes universalizar alguns serviços sociais, de
municípios no fomento de iniciativas dar reconhecimento ao trabalho
paradiplomáticas, conforme elenca José desenvolvido pelos novos movimentos
Vicente Lessa (2002). sociais e pelas organizações não
Segundo Paula Losada (2014a), a governamentais e de explicitar uma
“Federação Trina” no Brasil represen- ampla série de direitos sociais (Título
tou, além do texto fundamental do II da CF88)”.
artigo 18 supramencionado, o processo De tal sorte, a consecução de um
de democratização que afirmou a sistema político mais aberto pode ser
autonomia do poder local reconhe- considerada como uma das bases de
cendo aos municípios competências sustentação para um maior avanço da
tributárias próprias, auto-organização e paradiplomacia no país. No discurso
capacidade política eletiva; dando oficial existe a preferência pelo termo
resultado a um processo de elevação dos “diplomacia federativa”, entendida
municípios brasileiros à condição de como “[...] tanto a atuação externa das
entidades federativas legítimas pautado unidades federativas quanto a forma de
na relativa descentralização do poder articulação política entre o poder central e
decisório nacional. os poderes infranacionais em matéria de
A questão de descentralização versus ação externa.” (Bogéa Filho, 2002:3).
centralização decisória na política Por outro lado, no debate acadêmico
brasileira norteia o debate aqui propos- formulou-se a ideia da existência de
to. De um lado, o Federalismo brasi- uma “política externa federativa”,
leiro pragmatizou uma técnica de compreendendo “[...] a estratégia
divisão de poderes considerando seu própria de um estado ou município
histórico unitário em virtude do desenvolvida no âmbito de sua

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autonomia, visando à sua inserção do Brasil em Buenos Aires e a nomea-


internacional de forma individual ou ção, em 2004, de um diplomata com
coletiva” (Rodrigues, 2009:36). mandato específico para cuidar de
Como consequência desse processo articulações entre o Brasil a Argenti-
advindo da década de 1980, os governos na.
de Fernando Henrique Cardoso (1995- 7) Iniciativas recentes de
2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003- institucionalização da atuação interna-
2010) empreenderam uma série de cional de unidades subnacionais
iniciativas resumidas em oito pontos brasileiras por parte do poder legislati-
por Manoela Miklos (2011:86): vo: a elaboração, em 2005, da
“1) A construção do conceito diplo- Proposta de Emenda Constitucional
macia federativa e sua implementação 474 /2005, conhecida como PEC da
como política de Estado, a partir de Paradiplomacia (...); e a elaboração
1994. do Projeto de Lei do Senado 98 de
2) A criação, em junho de 1997, da 2006 (...).
Assessoria de Relações Federativas 8) A atuação recente da Agência
(ARF) do ministério das Relações Brasileira de Cooperação (ABC) no
Exteriores (MRE). que diz respeito à cooperação que
3) A abertura, a partir de 1997, dos envolve unidades subnacionais”.
Escritórios de Representação Regio- Se, por um lado, o Estado descentra-
nal do MRE. lizou algumas de suas políticas em
4) A fusão, em junho de 2003, da direção aos entes federativos, por outro
Assessoria de Relações Federativas continuou a demandar todas as
(ARF) e da Assessoria de Assuntos prerrogativas em termos de política
Parlamentares, dando origem à externa, sendo que as reformas em nada
Assessoria Especial de Assuntos inovaram e continuaram a apresentar
Fe d e r a t i v o s e Pa r l a m e n t a r e s limitações à atuação internacional de
(AFEPA). estados e municípios (Morais, 2011). A
5) A atuação, a partir de 2003, da pergunta central, em se tratando das
unidade da Subchefia de Assuntos relações internacionais, é a seguinte: até
Federativos responsável por questões que ponto o estabelecimento do
internacionais junto aos governos Federalismo no Brasil gerou maior
subnacionais, a formulação do conceito autonomia aos seus atores subnacio-
cooperação internacional federal e nais?
sua implementação como política de Conforme apontam Janina Onuki e
Estado. Amâncio Oliveira (2013), os municí-
6) A criação em 2003, do setor de pios brasileiros, por exemplo, não
Relações Federativas da Embaixada foram reconhecidos como sujeitos de
Direito Internacional Público e não

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A internacionalização dos entes subnacionais federativos: notas sobre os casos do Brasil e da Argentina

adquiriram competência para o exercí- O caso argentino parece seguir a


cio das relações externas. No plano mesma linha de raciocínio, pois há
internacional o país continuou a atuar diferentes visões a respeito do quão a
com base no princípio da unicidade do configuração federativa auxilia as
Estado Federal sem deixar espaço, com excursões externas subnacionais.
pequenas exceções, aos governos Retomando Miguel Barrientos
subnacionais. Em 1988 reconheceu-se (2009:18), a Argentina caracteriza-se
aos entes subnacionais o exercício de pelo “federalismo pendular” variando
poderes próprios em relação à sua momentos de elevada centralização
autonomia em termos internos, mas a político-administrativa até altos níveis
prerrogativa de atuar no cenário d e d e s c e n t r a l i z a ç ã o . Aq u e l a é
internacional continuou a ser matéria caracterizada pelo histórico ditatorial
do poder soberano, característica no país, enquanto iniciativas
primordial do Estado Nacional (Rabat, descentralizadoras remetem-se sobre-
2002). Tal dualidade ainda é bastante tudo a partir da redemocratização em
aventada e será retomada na próxima 1983.
seção quando do debate sobre o marco Tal ocasião inaugurou tanto na
jurídico da paradiplomacia. Se, de um Argentina quanto no Brasil e no México
lado, a base normativa não provê mar- o que Bruno Théret (2014) nomina
gem de manobra aos atores subnacio- “federalismo democrático”, período
nais, de outro suas atividades práticas de atual no qual a descentralização está
internacionalização crescem continua- atrelada à democratização,
mente quando vão ao encontro das propriamente dita. No momento em
diretrizes propostas pelo governo que Carlos Menem (1989-1999) estava
central. na presidência, o país passou por uma
Aqui cabe a máxima de que os atores fase de intensa influência das ideias
subnacionais continuarão a empreender liberais de mercado sobremaneira
atividades e políticas internacionais elencadas no Consenso de Washington,
independentemente de não possuírem algo que fundamentou os rumos
o status de atores perante o direito políticos através, por exemplo, do Pacto
internacional. Até porque consideram- de Olivos, o qual estabelecia a
se as subnacionalidades como entidades possibilidade de reeleição presidencial.
internacionais legítimos, pois se inse- Se no Brasil a promulgação de uma
rem como exemplos de atores nova constituição em 1988 demanda
internacionais entendidos como unida- análise, na Argentina destaca-se a
des do Sistema Internacional capazes de Reforma Constitucional de 1994.
mobilizar recursos, exercerem influên- Segundo Domínguez (2015), essa
cia e gozarem de relativa autonomia modificação proveu maior autonomia
(Barbé, 1995). política às províncias, pois elas

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Cairo Gabriel Borges Junqueira e Karina Lilia Pasquariello Mariano

continuaram conservando poderes não buscar diferentes canais de articulação


delegados ao governo central, escolhen- com o governo provincial. [...]. As
do suas instituições locais, ditando suas províncias argentinas conservam muito
constituições e elegendo suas autorida- do enorme poder dos tempos confedera-
des próprias, conforme disposto nos dos e, do mesmo modo, a autoridade
artigos 121, 122 e 123. Em termos de presidencial preserva a investidura e os
autonomia normativa não houve poderes que lhes foram outorgados na
grandes câmbios, enquanto que em segunda metade do século XIX [...]”
relação à autonomia financeira a (Granato, 2015:131 e 133, tradução
reforma incorporou cláusulas afirmati- nossa).
vas de “federalismo autonômico” Com base na citação acima podemos
(Domínguez, 2015:96), mas manteve elencar diversos autores como Gilberto
um sistema financeiro unitário e Domínguez (2015), Juan Carbajales e
centralista. Claudia Gasol (2008) e Bruno Théret
Interessante notar que a Constitución (2014) cujos trabalhos dialogam no
de la Nación Argentina (1994) combina sentido de postularem relativo
um Estado nacional forte e soberano distanciamento em relação ao que é
com a descentralização, permitindo às proposto no texto constitucional
províncias o caráter de autônomas. O argentino em comparação ao que ocorre
texto consagra três ordens distintas: de fato na prática. Assim, noções como
governo federal, governos provinciais “federalismo unitário” (Domínguez,
–incluindo o Governo Autônomo da 2015), “federalismo líquido” (Gasol;
Cidade de Buenos Aires (CABA), Iglesias, 2010) e “federalismo centrali-
possuindo uma natureza de “cidade- zador” (Carbajales; Gasol, 2008) apare-
Estado”– e os governos municipais cem como característicos no debate da
(Granato, 2015). Diferentemente do Argentina. Em termos relativos à
caso brasileiro em que a autonomia local internacionalização subnacional, a
foi consagrada, na Argentina as provín- Reforma de 1994 reconheceu às provín-
cias e a CABA possuem inúmeras cias suas capacidades de celebrarem
prerrogativas constitucionais e os convênios internacionais –lembrando
municípios ficam à mercê dos outros que não está escrito “tratados
níveis governamentais. internacionais”– compatíveis com a
“Em linhas gerais, podemos sustentar política externa central (Dalla Via,
que as províncias participam intensa- 2004) e proveu maior caminho rumo ao
mente e com amplas margens de exterior por parte das grandes cidades.
autonomia nas decisões e implemen- Por outro lado, inúmeros municípios
tações de políticas públicas em seus ficam aquém do esperado em termos de
territórios: não se passando o mesmo internacionalização porque “[...] não
com os municípios, os quais devem em poucas oportunidades, o poder central

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A internacionalização dos entes subnacionais federativos: notas sobre os casos do Brasil e da Argentina

mostra uma irresistível e às vezes costu- autonomia, através do qual se reconhe-


mas vocação excludente dos importantes ce aos entes subnacionais o exercício de
gestores subnacionais” (Gasol; Iglesias, poderes próprios, reservando ao poder
2010:23, tradução nossa). soberano a prerrogativa de atuar, no
Outro aspecto a ser destacado é o fato exterior e interior, como representante
de que em ambos os países há uma do corpo nacional em totalidade
centralização na formulação da política (Rabat, 2002). Essa questão demarca
externa nacional que fica restrita à também a noção dos desafios legais e
Presidência, Ministério das Relações jurídicos da paradiplomacia.
Exteriores e algumas instâncias do É possível estabelecer um marco
Executivo que cuidam de aspectos jurídico da paradiplomacia?
pontuais de assuntos internacionais.
A presente subseção apresenta-se
Até o advento dos processos de
com uma pergunta, porque a contenda
redemocratização em meados dos anos
em torno do marco jurídico da
1980, essa centralização inibiu a
paradiplomacia caminha há anos e
participação de outras esferas estatais,
torna-se de difícil compreensão em
criando uma certa atrofia na capacidade
nossa região, incluindo Brasil e Argen-
dos governos subnacionais de atuarem
tina, em virtude dos seus históricos
internacionalmente.
centralizadores em termos de divisão de
Ao longo dos últimos 30 anos, poderes na seara internacional. No
percebe-se um movimento importante âmbito das relações internacionais a
para alterar essa situação. Como Constituição brasileira de 1988 é muito
apontamos anteriormente tanto no clara ao evidenciar no artigo 21 que é
caso brasileiro como argentino, os competência da União, ou seja, do
governos centrais buscaram estruturar poder central, a manutenção da relação
condições que permitissem essa com Estados estrangeiros e organiza-
atuação, sem abrir mão de seu papel ções internacionais. Ademais, no artigo
central como formuladores da política 49 consta que é de competência exclu-
externa desses países, enquanto os siva do Congresso Nacional resolver
governos subnacionais têm promovido definitivamente sobre tratados, acordos
uma alteração institucional, buscando ou atos internacionais que acarretem
ampliar suas capacidades e consolidar encargos ou compromissos gravosos ao
práticas de atuação no cenário patrimônio nacional, já no artigo 84
internacional. estabelece-se que compete privativa-
Resumidamente, o grande debate que mente ao Presidente da República
gira em torno da questão federal para a manter relações com Estados estran-
compreensão das atividades internacio- geiros e acreditar seus representantes
nais subnacionais está em constante diplomáticos, celebrar tratados,
entrelaçamento com o conceito de convenções e atos internacionais,

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Cairo Gabriel Borges Junqueira e Karina Lilia Pasquariello Mariano

sujeitos a referendo do Congresso Cooperação Internacional Descentrali-


Nacional (Brasil, 1988). Sob o aspecto zada (CID) aqui no país. Como
jurídico não há referência a uma consequência desses encontros,
possível participação internacional de atualmente existe uma proposta em
estados e municípios. tramitação iniciada em 2013 quando
Em 2005, no Brasil, formulou-se a representantes dos entes federativos
Proposta de Emenda Constitucional brasileiros, em comunhão com
(PEC n.º 475/05) conhecida como iniciativas da SAF/PR, propuseram a
“PEC da Paradiplomacia” com o intuito criação de Decreto Presidencial para
de modificar o artigo 23 da Constitui- estabelecer ações de cooperação técnica
ção para permitir aos entes subnacio- internacional descentralizada (Fróio,
nais a celebração de atos, convênios ou 2015). Mesmo assim, o texto final foi
acordos com atores subnacionais encaminhado para a Presidência e o
estrangeiros através de prévia autoriza- MRE e encontra-se, no ano de 2017,
ção da União. Entretanto, tal proposta sem apreciação por parte dessas
foi vetada em virtude de seu caráter de instâncias, sendo de difícil mensuração
inadmissibilidade. Um ano depois, em o prazo para sua continuidade.
2006, apresentou-se Projeto de Lei A CID é entendida como uma forma
Complementar (PLS n.º 98/06) específica de paradiplomacia amparada
dispondo sobre a aplicação de normas e estimulada pelo Estado com base nas
internacionais no Brasil e sugeriu-se relações intergovernamentais do
ajuste textual que permitiria a estados, Estado Democrático seguindo o
municípios e Distrito Federal negociar princípio de que os entes federativos
e fazer acordos com subnacionalidades são co-formuladores e/ou co-
estrangeiras com prévia autorização do executores de determinados projetos
Ministério das Relações Exteriores com viés internacional aprovados
(MRE). Todavia, tal projeto também previamente pelo governo federal
não foi aprovado (Fróio, 2015:59-60). (Rodrigues, 2011). Conforme
Entre os anos de 2011 a 2014 a supramencionado, a normalização da
Subchefia de Assuntos Federativos da CID no Brasil ainda está em aberto e
Presidência da República (SAF/PR), na gera diversas perguntas, enfatizando-se
figura de Paula Losada (2014b), deu a seguinte:
continuidade e estabeleceu reuniões “[...] é condição sine qua non para a
com gestores locais, autoridades CID dispor de um marco jurídico
ministeriais e acadêmicos para nacional? Duas respostas poderiam ser
estabelecer o chamado “Marco Jurídico dadas aqui, ambas com base na
da Cooperação Internacional Descentra- experiência brasileira. A primeira diria
lizada do Brasil”. O intuito era angariar que iniciativas políticas no campo das
um marco legal ou de referência sobre a relações intergovernamentais -como as

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A internacionalização dos entes subnacionais federativos: notas sobre os casos do Brasil e da Argentina

do Itamaraty e da SAF- poderiam política brasileira não parece vislum-


prevenir e solucionar de maneira brar uma acomodação jurídica deste
razoável conflitos e impasses sobre processo ao ordenamento normativo de
competências entre os entes federados, maneira que atenda a todos os envolvi-
incluindo os assuntos da CID. [...]. A dos, ao menos no curto prazo. A
segunda é que os agentes públicos atuam centralização da federação brasileira
-assessorados por suas consultorias em torno da União contribui de
jurídicas- balizados por normas maneira marcante para tanto. O Brasil
positivas, agrupadas em marcos jurídi- é, reconhecidamente, um Estado em
cos, que definem o que pode, o que não que a repartição de competências tende
pode, quando pode e como pode. A falta a ser bastante desequilibrada”.
de um marco jurídico, considerando a Por sua vez, na Argentina as principais
cultura política e jurídica brasileira, novidades da Reforma de 1994 apare-
gera insegurança e impede, principal- cem nos artigos 124, 128 e 129 citados
mente nos municípios, ações mínimas abaixo:
ou uma assertividade maior para
realizar a CID, que seriam plenamente “Art. 124: As províncias podem criar
amparadas pelo sistema, mas que a regiões para o desenvolvimento
inexistência de um marco jurídico econômico e social e estabelecer órgãos
inibe”. (Rodrigues, 2011:31). com faculdades para o cumprimento de
seus fins e podem também celebrar
A proposta do marco jurídico adveio convênios internacionais que não sejam
da SAF/PR, pois ela almejava o mínimo incompatíveis com a política exterior
de segurança jurídica para os municí- da Nação e não afetem as faculdades
pios em virtude do aumento de delegadas ao Governo Federal ou o
parcerias envolvendo a CID com países crédito público da Nação; com
da África, além de Itália e França. conhecimento do Congresso Nacional.
Contudo, não houve aderência por A Cidade de Buenos Aires terá o regime
parte da Casa Civil, da Presidência e que se estabelece com tal efeito.
muito menos do Itamaraty. A modifica- Art. 128: Os governadores de
ção da Constituição de 1988 mostra-se província são agentes naturais do
por vezes impossível e é sabido que a Governo Federal para cumprir a
atuação internacional subnacional Constituição e as leis da Nação.
brasileira é mais ampla que a cooperação
descentralizada. A título de informa- Art. 129: A Cidade de Buenos Aires
ção, as palavras de Marinana Andrade e terá um regime de governo autônomo,
Barros (2009:143) resumem o debate com faculdades próprias de legislação e
ainda em aberto: jurisdição, e seu chefe de governo será
eleito diretamente pela população da
“O fato é que, apesar do desenvolvi- cidade. (Argentina, 1994, tradução
mento nacional da temática, a cena nossa).

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Cairo Gabriel Borges Junqueira e Karina Lilia Pasquariello Mariano

Conforme observado, com a Reforma provinciais no país possuem o legado de


de 1994 os constituintes preferiram sempre barganharem por maior
chamar de “convênios” e não usar o descentralização (Papi, 2017:214).
termo “tratados” para referirem-se aos Consequentemente, com as observa-
acordos das províncias com Estados ções realizadas acima sobre ambos os
estrangeiros e conforme consta no países, vê-se o quão complexo é tratar
artigo 22, continua sendo prerrogativa sobre as bases legais e jurídicas da
do Congresso a aprovação de tratados internacionalização de seus entes
internacionais com outros Estados, federativos. Se por um lado e a priori a
incluindo a Santa Sé, e organizações Argentina demonstra estar mais
internacionais. Salienta-se que essa avançada nesse marco jurídico, tanto
questão da regulamentação (ou não esse país quanto o Brasil situam-se em
regulamentação) da ação internacional um patamar semelhante caracterizado
das províncias argentinas em virtude do por dois pontos: carência de uma
artigo 124 ainda é um debate em aberto. regulamentação legal clara e objetiva e
Alguns postulam que deve haver uma falta de visível articulação entre
regulamentação complementária entre governos central e subnacionais. Em
os poderes executivo e legislativo ambos a política exterior ainda fica à
(Chancelaria e Congresso), outros que cargo das instâncias centrais e, embora
as próprias províncias deveriam se exista insegurança jurídica, as iniciativas
autorregular e outros ainda que não e atividades paradiplomáticas muitas
devesse existir regulamentação, sendo vezes parecem se desenvolver de
cada caso prático levado ao debate maneira mais dinâmica na prática sem
posteriormente (Carbajales; Gasol, depender diretamente de um marco.
2008). Seu estabelecimento é possível sim, mas
Mesmo com interpretações ambíguas, depende de diálogo interinstitucional e
existe uma rica e dinâmica atividade vontade política multilateral que está
internacional realizada pelas províncias além dos avanços estabelecidos até o
argentinas e por Buenos Aires graças ao momento.
seu maior nível de autonomia. Em
A relação dinâmica entre os níveis
estudo comparado com o Brasil, Liliana
regional e subnacional
Fróio e Marcelo Medeiros (2011)
afirmam que a Argentina possuía uma A paradiplomacia é um fenômeno
atividade paradiplomática maior em associado a dois outros processos que
virtude de variáveis como: evolução do ganharam evidência a partir dos anos
federalismo, contexto interno e 1980: globalização e regionalização.
internacional favorável e inclusão da Esses dois processos pressionavam
questão no ordenamento jurídico a tanto o nível federal (por uma maior
partir de 1994. De fato, os poderes descentralização por parte do Estado),
quanto o local que se via premido a

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A internacionalização dos entes subnacionais federativos: notas sobre os casos do Brasil e da Argentina

buscar novas esferas de atuação para dar regional.


respostas às novas demandas e necessi- A Rede Mercocidades surgiu em 1995
dades, que estas já não podiam ser como uma iniciativa de onze cidades
atendidas pelos governos nacionais. -Rosário, La Plata e Córdoba da
Os comportamentos dos governos Argentina; Florianópolis, Porto Alegre,
subnacionais foram distintos nos dois Curitiba, Rio de Janeiro, Brasília e
casos. Em relação à globalização houve Salvador do Brasil; Assunção do
uma maior preocupação em se articular Paraguai; e Montevidéu do Uruguai-
nas cadeias de valor internacional, ou no cujos governos à época mostravam-se
caso das municipalidades em se mais progressistas, se comparado às
transformarem em núcleos dessa políticas liberais da década de 1990, com
globalização, alcançando a categoria de objetivo primordial de favorecer a
cidades globais (Sassen, 1998). A participação dos municípios na
regionalização, por outro lado, estimu- estrutura do Mercosul (Mercocidades,
lava uma necessidade de maior articula- 1995). Ao longo de mais de duas
ção entre governos subnacionais para décadas de funcionamento, as Mercoci-
lidar com as decisões tomadas pelos dades consolidaram-se como a mais
governos centrais ou comunitários (no importante Rede de articulação munici-
caso europeu). Assim, a integração pal na América do Sul (Rodrigues;
regional apareceu como uma perspec- Mattioli, 2017).
tiva analítica importante para se analisar Cumpre enfatizar dois pontos
a participação internacional dos atores fundamentais da Rede: em primeiro
subnacionais, porque aquela proveu um lugar, ela foi estimulada pela integração
impulso fundamental a esses últimos na regional, mas não consta formalmente
busca por maiores vínculos além das no rol institucional do Mercosul e, em
fronteiras estatais. segundo, sua estrutura decisória
Dentre as mais variadas formas de envolvendo Cúpula, Conselho,
atuação subnacional no interior do Secretaria e Colegiado é inteiramente
Mercado Comum do Sul (Mercosul), a composta por representantes de gover-
exemplo de irmanamentos entre cida- nos locais, sejam eles prefeitos, alcaides
des, cooperação transfronteiriças e ou intendentes. Ao longo dos quase
consórcios públicos, o presente artigo vinte e dois anos de trabalho, as
foca-se na análise da Rede Mercoci- Mercocidades possuem uma agenda
dades e do Foro Consultivo de Municí- extensa averiguada através de suas
pios, Estados Federados, Províncias e Unidades Temáticas (UTs) que tratam
Departamentos do Mercosul (FCCR), de questões como ciência, cultura,
haja vista serem as duas principais esporte, educação, tecnologia, turismo,
instâncias no trato das agendas e comunicação, desenvolvimento social,
atuações subnacionais via bloco direitos humanos, gênero, meio

46 densidades nº 22 - diciembre 2017


Cairo Gabriel Borges Junqueira e Karina Lilia Pasquariello Mariano

ambien-te, dentre outros. dades pode ser considerada como uma


Segundo o último Informe da instância ativa na consecução do
Presidência e da Secretaria Técnica desenvolvimento local e da CID no
Pe r m a n e n t e d e M e r c o c i d a d e s Mercosul. Ilustrada na citação abaixo,
(Mercocidades, 2016:132), das vinte e na atual conjuntura ela enfrenta
uma UTs existentes, apenas a de obstáculos, mas representa os intere-
Desenvolvimento Econômico e Local é sses municipais e os poderes públicos
elencada como “paralisada”, ou seja, não mais próximos dos cidadãos, algo que,
está exercendo atividades práticas para em tese, fortalece sua missão para com o
as quais fora designada. Ademais, treze Mercosul.
enquadram-se no rol de “proativa” e “A América Latina vive processos
“ativa”, destacando-se a de Ambiente e políticos e sociais que estão marcando
Desenvolvimento Sustentável e de uma polarização nos posicionamentos e
Segurança Cidadã. Como a Rede demandas de suas forças sociais e políti-
depende de recursos financeiros cas. Poderia se catalogar a situação
provenientes das próprias cidades e no atual de “equilíbrio instável”, ou seja,
período entre 2015 e 2016 apenas trinta que qualquer força ou ação pode gerar
e oito contribuíram com o orçamento, um desenlace de instabilidade social,
um percentual baixo se considerado o política e econômica. [...]. Em um
número aproximado de 300 cidades- cenário mundial de forte urbanização,
membro, deve-se considerar melhora a América Latina é o continente mais
na prestação de afiliação e um balanço urbanizado e desigual do planeta, num
positivo às Mercocidades, algo que mundo que desde 2014 a população
denotou efetivo avanço na consecução urbana ultrapassou a população rural.
de sua agenda temática. Esta situação manifesta a relevância e
De maior relevo, conforme sustenta a importância que têm e terão as
Fabiana Dessotti (2011), as Mercoci- cidades e os governos locais na
dades auxiliaram no questionamento da promoção e desenvolvimento de
agenda do Mercosul e foram capazes de políticas públicas que administrem e
influenciar as políticas dos governos gerem o território, desde uma perspec-
nacionais da região. Tal afirmativa deve tiva do direito à cidade”. (Mercocida-
ser levada em consideração e realçada des, 2016:162, grifo nosso).
tendo em vista que o Mercosul é um Um dos principais triunfos da Rede
bloco intergovernamental com Mercocidades foi ter dado suporte e
características de “interpresidencialis- realizar pressão junto aos governos
mo” (Malamud, 2013) marcado pela centrais para a criação de uma institui-
extrema tomada de decisões nas mãos ção subnacional no quadro do bloco
de governos centrais. regional, o que foi corroborado em
Consequentemente, a Rede Mercoci- 2004 com a instalação do FCCR através

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A internacionalização dos entes subnacionais federativos: notas sobre os casos do Brasil e da Argentina

da Decisão 41/04 do Conselho do know how na área, e este se baseado nas


Mercado Comum (CMC). O Foro tem experiências pioneiras da Comissão
como missão representar não somente Regional de Comércio Exterior do
os governos municipais, mas também Nordeste Argentino (Crecenea Lito-
estaduais, provinciais e departamentais ral) e do Conselho de Desenvolvi-
no rol regional, ampliando o escopo de mento e Integração do Sul (Codesul),
atuação. Antes de sua criação iniciou-se sendo consideradas grandes estimula-
uma tentativa frustrada, por ser um doras da cooperação interregional
mecanismo temático e de baixa envolvendo parcerias entre províncias
potência, estabelecida em 2000 através do nordeste argentino e estados do sul
da Reunião Especializada de Municí- brasileiro (Banzatto, 2017). Por sua vez,
pios e Intendências (REMI), a qual logo o Comitê de Governadores mostrou-se
se extinguiu. um tanto quanto inoperante, não
Acompanhando uma diversidade de conseguindo pautar atividades da
atores e divergências nos sistemas mesma maneira que o Comitê de
políticos, pois enquanto Argentina, Municípios (Comum).
Brasil e Venezuela são federações, Indo ao encontro dessa perspectiva,
Paraguai e Uruguai mostram-se mais um dos maiores avanços no FCCR foi
unitários, o FCCR somente iniciou ter estimulado um maior diálogo
suas atividades em 2007 em decorrência subnacional entre Brasil e Argentina,
de divergências de interesses por parte países cujos entes federativos se
dos países na medida em que foram mostraram bem mais ativos, se
adquirindo a presidência pro-tempore comparado ao restante dos Estados-
do Mercosul. Mesmo assim, é impor- membros, ao longo dos anos. Do lado
tante verificar que há diversas visões a brasileiro a própria Subchefia de
respeito de quem ou o que foi o maior Assuntos Federativos da Presidência da
responsável pelo estímulo à geração de República (SAF/PR) coordenou o
uma instituição subnacional no interior desenvolvimento das atividades,
do bloco, ora sendo de iniciativa e enquanto do lado argentino essa função
interesse do governo brasileiro, ora ficou à cargo da Subsecretaria de
sendo uma atividade majoritariamente Relações Institucionais do Ministerio
voltada às defesas e “lobbies” das de Relaciones Internacionales y Culto
Mercocidades. (SUINS/MRECIC).
De modo propositivo o FCCR Concomitantemente ao processo de
instalou dois comitês, um de municí- inclusão de uma instituição subnacional
pios e outro de regiões/governadores com efetiva capacidade de formalizar
-estados federados, províncias e recomendações às instâncias
departamentos-, tendo aquele ficado intergovernamentais, o que significou à
mais à cargo da Rede, pelo histórico e época um grande avanço, o fato das

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Cairo Gabriel Borges Junqueira e Karina Lilia Pasquariello Mariano

coordenações do FCCR ficarem sob morosidade da instituição. Na primeira


responsabilidade dos poderes executi- reunião os presentes tomaram nota da
vos centrais de ambos os países, por Decisão n.º 48/15 do CMC para
exemplo, quebrou as expectativas aprovação do “Plano de Ação 2016-
vindouras no sentido de não prover 2017 do FCCR”, mas tal documento
maior empoderamento direto aos nunca foi aplicado e suas diretrizes
atores subnacionais da região. Dito de ficaram somente no papel. Já no último
outro modo, se por um lado o Foro foi encontro debateu-se o “Plano de Ação
criado e os países realmente notaram 2017-2018 do FCCR” com os mesmos
sua legitimidade e importância, por eixos de ação. Tem-se a impressão de
outro as subnacionalidades não que as autoridades continuam
conseguiram se desvencilhar de certas debatendo amiúde sem levar em
amarras decisórias, marca registrada do consideração falhas em propostas
já mencionado “interpresidencialismo” anteriores.
no Mercosul (MALAMUD, 2013). Em decorrência da conjuntura do
Durante os primeiros anos de Mercosul nos últimos anos,
funcionamento e até aproximadamente enfatizando-se a suspensão da
2015 o FCCR conseguiu estabelecer Venezuela, a instabilidade política
um debate constante, o qual inclusive interna severa do Brasil, as dificuldades
acompanhou a questão do marco de fundo do Paraguai e do Uruguai em
jurídico da paradiplomacia analisado na caminharem com as políticas do bloco e
subseção anterior, e promover reuniões o câmbio presidencial na Argentina, o
periódicas. Durante o período, FCCR ficou estagnado e encontra-se
inúmeras propostas foram discutidas, sem perspectivas de avanço no curto
mas nenhuma recomendação fora prazo. Estando atrelado formal e
enviada para apreciação do Conselho do institucionalmente ao bloco, é evidente
Mercado Comum (CMC). Ou seja, a que sofrerá as consequencias de
principal função do Foro não foi processos recorrentes em outros níveis
estabelecida na prática, ficando aquém de análise, quais sejam o próprio bloco e
das expectativas iniciais. os âmbitos nacionais. Por outro lado, a
Após esse período o FCCR não Rede Mercocidades continua com seus
conseguiu desenvolver sua agenda. trabalhos e sua agenda mantém-se ativa
Entre a XLVIII Reunião Ordinária de demonstrando que é possível trabalhar
Coordenadores realizada em fevereiro em base de cooperação na medida em
de 2016 em Montevidéu, no Uruguai, e que há inúmeros interesses em comum
a XLIX Reunião Ordinária realizada em entre Estados centrais e atores
junho de 2017 em Buenos Aires, na subnacionais.
Argentina, o Foro ficou praticamente Considerações finais
inerte, demonstrando letargia e
Em definitivo, o quadro abaixo

densidades nº 22 - diciembre 2017 49


A internacionalização dos entes subnacionais federativos: notas sobre os casos do Brasil e da Argentina

procura resumir e comparar o atual mente das vontades dos poderes


patamar de internacionalização centrais governamentais. Em
subnacional brasileiro e argentino contrapartida, maiores divergências são
considerando as três variáveis de apresentadas nas variáveis “Sistemas
pesquisa. Maiores semelhanças são Federativos” e “Marco Jurídico”.
encontradas na variável “Integração Enquanto no Brasil os municípios têm
Regional (Mercosul)”, pois no interior maiores prerrogativas de autonomia e
da Rede Mercocidades e do Foro há tentativas sem sucesso de estabelecer
Consultivo de Municípios, Estados diretrizes legais à paradiplomacia, na
Federados, Províncias e Departamen- Argentina são as províncias que
tos (FCCR) os atores subnacionais de adquiriram maiores poderes graças aos
ambos os países possuem atuação êxitos das reformas constitucionais de
intensa e periódica, mas, no caso 1994.
específico do Foro, dependem direta-

Quadro 1. Variáveis da internacionalização subnacional no Brasil e na Argentina.

Variável Brasil Argentina

Sistemas Federativos “Federalismo Trino” “Federalismo Misto”


Autonomia municipal interna Autonomia provincial internacional
Diplomacia Federativa Paradiplomacia

Marco Jurídico PEC e PLS da Paradiplomacia Reforma Constitucional de 1994


Regulamentação da CID CABA com status próprio

Integração Regional Ímpeto e ação municipal Ímpeto e ação municipal


(Mercosul) nas Mercocidades nas Mercocidades
Centralização de poder no FCCR Estagnação decisória no FCCR

Fonte: Elaboração própria dos autores.

No quesito dos sistemas federativos, Constituição de 1988 assegurou maio-


Brasil e Argentina representam casos res prerrogativas internas aos municí-
emblemáticos de (des)centralização pios e fomentou o desenvolvimento de
política e decisória. Para o primeiro, a um debate conceitual mais robusto. Já

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Cairo Gabriel Borges Junqueira e Karina Lilia Pasquariello Mariano

para o segundo país, as províncias Mesmo com alguns problemas de


aparecem com maior autonomia ordem institucional, o que é caracterís-
internacional. No que tange ao debate tico das organizações, as Mercocidades
conceitual, no Brasil é mais frutífera a conseguiram prover uma certa unidade
produção de sinônimos e termos em termos de planejamento e
correlatos ao da paradiplomacia, implementação de ações que vão ao
enquanto na Argentina o mesmo é mais encontro das necessidades das cidades
escasso. em promover políticas públicas benéfi-
Tratando-se do marco jurídico, o cas e próximas aos cidadãos.
Brasil mostra-se aquém da realidade É importante apontar que neste caso,
argentina. Embora nos últimos anos as o dinamismo das Mercocidades pode
tentativas de estabelecimento das “PEC ser explicado também pelo fato de não
e PLS da Paradiplomacia” ou até mesmo pertencer à estrutura institucional do
da regulamentação da Cooperação Mercosul o que lhe permite, em
Internacional Descentralizada (CID) primeiro lugar, maior autonomia para
demonstrem iniciativas enaltecíveis, implementar ações e projetos. Além
esses casos parecem encerrados e os disso, o FCCR possui caráter apenas
Poderes Executivos centrais nas figuras consultivo, o que significa estar fora do
da Presidência e do Itamaraty não processo decisório, e no caso específico
deram prosseguimento na questão. Por do Mercosul, ter quase nenhuma
outro lado e mesmo com interpretações influência nas decisões tomadas,
díspares, a Reforma Constitucional da causando desgaste e desinteresse pela
Argentina em 1994 trouxe um novo participação nos atores sociais e
aparato jurídico às províncias e a governamentais que participam de seus
Buenos Aires, algo que evidencia órgãos consultivos.
questionáveis, mas efetivas mudanças. De tal sorte, conclui-se que tanto o
Por fim, no âmbito da integração Brasil quanto a Argentina apresentam
mercosulina, tanto os atores subnacio- ativismo subnacional crescente a partir
nais brasileiros quanto argentinos das mudanças ocorridas no final do
apresentam uma vontade política e século XX que encabeçam as três
interesses à internacionalização, algo variáveis de pesquisa eleitas. Mesmo
que é observado nas Mercocidades e no assim, o diálogo entre as partes, seja
FCCR. Contudo, este último, em com relação ao nível federal ou
virtude de diferenças políticas, subnacional, ainda é carente de
conjunturas nacionais conturbadas e pragmatização e representatividade,
centralização decisória, apresenta-se no sendo imprescindível um maior número
ano de 2017 como estagnado e sem de estudos como este para se compreen-
grandes pretensões de avanço, o der as nuances da internacionalização
contrário do que é observado na Rede. subnacional na região. Ratifica-se que

densidades nº 22 - diciembre 2017 51


A internacionalização dos entes subnacionais federativos: notas sobre os casos do Brasil e da Argentina

as ações internacionais realizadas pelos Instituto Rio Branco.


entes federativos continuam a ser Branco, Marcello Simão; Kulgemas,
colocadas em prática, cabendo ao Eduardo (2005). “Os governos subnacio-
debate institucional, normativo e nais e a nova realidade do federalismo”.
jurídico acompanhar tal tendência In: Vigevani, Tullo; Wanderley, Luiz
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