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JUNHO DE 2018
IPT - INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR
CURITIBA
2018
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 4
3. DISCUSSÃO ................................................................................................................ 10
FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO DA ESTRADA TRÊS BARRAS. FONTE: GOULARTI FILHO, 2014. ..... 7
FIGURA 2 - TRECHOS DA ESTRADA QUE AINDA APRESENTAM CALÇAMENTO. FONTE: KATH,
2015 ............................................................................................................................... 9
FIGURA 3 - EXEMPLO DE ARTE RUPESTRE (E) E RUÍNAS DA CAPELA DE SANTO INÁCIO (D).
FONTE: KATH, 2015 ....................................................................................................... 9
FIGURA 4 - VISTA DO ALTO DA SERRA EM DIREÇÃO À BAÍA DA BABITONGA (INDICADA).
FONTE: KATH, 2015 ..................................................................................................... 11
INTRODUÇÃO
O trabalho apresentado tem por finalidade um breve estudo sobre a intangibilidade como
paisagem, apresentando como exemplo o caso da Estrada Três Barras entre Santa Catarina
e o Paraná, no Brasil, sem qualquer pretensão de ser exaustiva. O uso do conceito de
paisagem cultural, de modo a englobar os fatores intangíveis ligados à paisagem é recente
no Brasil em termos de proteção. As discussões se iniciaram neste século e culminaram coma
edição de uma portaria governamental regulando o tema.
Dessa definição a decorre a preocupação de preservar os bens culturais que se mantêm vivos
enquanto seu contexto sociocultural e paisagístico se conserva. O chancelamento busca
reconhecer e legitimar a sobrevivência da paisagem (suporte físico) e da cultura (as relações
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Além destes, vários outros projetos de paisagem cultural estão com pedidos de
reconhecimento em análise, que representam manifestações culturais de diversos outros
estados brasileiros.
2. A ESTRADA TRÊS BARRAS
A Estrada Três Barras (Figura 1) foi, por muito tempo, a única ligação terrestre entre o
planalto de Curitiba, no Paraná e o litoral norte de Santa Catarina (GOULARTI FILHO,
2014).
Mesmo antes da chegada dos europeus acredita-se antes que os indígenas do litoral se
conectavam com povos do interior até os Andes por meio de uma rede de rotas e caminhos
que foram sendo abertos. Eram os conhecidos Caminhos do Peabiru (entre as diversas
origens/traduções do nome seria do Tupi, "pe" - caminho; "abiru" - gramado amassado), cuja
rota principal partia do litoral paulista. Havia vários ramais ligados a essa rota, como o que
partia do litoral norte catarinense em direção à Serra do Mar até o planalto de Curitiba,
seguindo para Assunção. Sobre um desses ramais foi traçado o percurso do Caminho dos
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Ambrósios (PR) e da Estrada Três Barras (SC) (BORGES, 2006; CORREA, 2010; KATH,
2015).
Apesar do nome, Igor Chmiz, arqueólogo da Universidade Federal do Paraná, acredita que
os responsáveis por essas rotas tenham sido oriundos da etnia Jê, que habitavam a região
antes da chegada dos Tupi-Guarani, devido à sua associação com casas subterrâneas e
artefatos da tradição Itararé encontrados durante prospecções feitas por ele na década de
1970 (Cadernos da Ilha, 2004).
Por isso a estrada era mantida pelas câmaras municipais das vilas como um importante elo,
não só entre o litoral e o planalto, mas também com o Rio Grande do Sul. Na década de 1850
foi feito o calçamento em pedra de parte da estrada, que permanece até a atualidade (Figura
2).
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Figura 2 - Trechos da estrada que ainda apresentam calçamento. Fonte: Kath, 2015
Dos principais caminhos catarinenses do século XIX, a Estrada Três Barras foi a única que
aos poucos foi sendo abandonada e não se transformou numa rodovia no século XX. Na
primeira metade do século XIX, o governo catarinense e a população de São Francisco viam
na Estrada Três Barras o principal e melhor caminho para manter em contato o litoral norte
com os Campos de Curitiba.
Depois da Estrada Três Barras ser substituída pela Estrada Imperial Dona Francisca, a partir
da década de 1870, ela foi abandonada, mas ainda continua sendo utilizada por
excursionistas que buscam a aventura de percorrer esse antigo caminho. O caminho que
ainda possui traços das sucessivas utilizações, desde sinais de arte rupestre às margens do
caminho, até as ruínas da Capela de Santo Inácio, que seriam do Século XVII, já nas
proximidades da Baía da Babitonga (Figura 3) (KATH, 2015).
Figura 3 - Exemplo de arte rupestre (e) e ruínas da Capela de Santo Inácio (d). Fonte: Kath, 2015
3. DISCUSSÃO
Nór (2013) compreende o lugar como a espacialização das relações sociais, que interage
com sua história acumulada. Essa relação constrói um sentido e um significado que se não
baseia somente na experiência direta e na prática funcional, mas também no valor simbólico
que é conferido ao ambiente.
A manutenção do valor social da estrada é atestada pela sua utilização até os dias atuais,
apesar de não ter sofrido quaisquer trabalhos de restauração ou readaptação nos últimos 150
anos. O que houve ao longo de sua história, foi a transformação de seu significado junto às
sociedades que se apropriavam de sua estrutura material.
Também seu uso na esfera econômico pragmática sofreu alterações de acordo com as
necessidades de seu tempo. De caminho de comunicação e comércio para via de exploração
e conversão religiosa e de volta ao comércio com gado e couro curtido subindo a serra para
o retorno de erva-mate, fumo e carne seca. Com a perda dessa função, continuou a ser
procurada por sua paisagem e como trilha de aventura (Figura 4) (COOLAVITE, 2006;
CORREA, 2010).
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Figura 4 - Vista do alto da serra em direção à Baía da Babitonga (indicada). Fonte: Kath, 2015
Ainda assim sua valorização e necessidade de preservação não são considerados pelos
poderes públicos locais como prioridade. Ainda que em o movimento tanto na trilha quanto
no entorno do topo da serra recebam grandes quantidades de pessoas quando o clima está
favorável, chegando a cerca de mil pessoas por final de semana. Contingente que supera a
capacidade da área por falta de qualquer infraestrutura, pondo em risco a sustentabilidade da
paisagem (CORREA, 2010; KATH, 2015).
No caso da Estrada Três Barras, a chancela de paisagem cultural surge como uma alternativa
viável, por prever uma gestão compartilhada da paisagem. Ela, por um lado, não é tão
restritiva como o tombamento e, por outro, reduz o risco de que apenas uma voz seja ouvida
em sua gestão. Também evita, ao não entregar o controle total da área ao poder público, o
risco de que restrições orçamentárias impliquem em um novo abandono, ou engessamento,
desse permitindo que a paisagem continue acompanhando a evolução da sociedade, mas,
agora, sem que o risco de se perder o patrimônio que ela abriga.
CONSIDERAÇÕES FINAIS