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Legislação Básica em

Licitações, Pregão e Registro


de Preços

Unidade II
Aula 6 - Dispensa,
dispensabilidade e inexigibilidade
de licitação
© Copyright 2017

Este curso foi elaborado pela Escola Nacional de Administração Pública – ENAP
E contou com a revisão do Tribunal de Contas da União – TCU

Permite-se a reprodução desta publicação, em parte ou no todo, sem alteração do conteúdo, desde que
citada a fonte e sem fins comerciais.

RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO


Tribunal de Contas da União
Secretaria Geral da Presidência
Instituto Serzedello Corrêa
Desenho instrucional realizada no âmbito do acordo de Cooperação TécnicaFUB/CDT/Laboratório Latitude e ENAP

COORDENADORA-GERAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Natália Teles da Mota Teixeira

CONTEUDISTA
Edson Seixas Rodrigues (2005)

REVISÃO
Henrique Savonitti (2008)
Walter Salomão (2011)
Hanna Ferreira (2013)

PROJETO GRÁFICO e DIAGRAMAÇÃO


Vanessa Vieira

Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em Junho de 2017.

As afirmações e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e podem não

expressar a posição oficial do Tribunal de Contas da União.


Unidade II - Aula 6 - Dispensa, dispensabilidade e
inexigibilidade de licitação 3

Unidade II - Aula 6: Dispensa, dispensabilidade e inexigibilidade de licitação


Legislação Básica em Licitações, Pregão e Registro de Preços...................................... 1

Unidade II - Aula 6 - Dispensa, dispensabilidade e inexigibilidade de licitação... 3

1. OBJETIVOS DA AULA............................................................................................................................. 4

2. INTRODUÇÃO........................................................................................................................................... 4

3. LICITAÇÃO DISPENSADA..................................................................................................................... 7

4. DISPENSABILIDADE DE LICITAÇÃO............................................................................................... 9

5. INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO................................................................................................. 20

5.6. VALIDADE JURÍDICA.................................................................................................................. 27

6. PONTO POLÊMICO.............................................................................................................................. 30

Bibliografia.............................................................................................................................................. 31

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1. OBJETIVOS DA AULA
Tribunal de Contas da União

Ao final dessa aula, espera-se que você seja capaz de:

• apontar os casos em que a licitação será dispensada, quando se tratar de bens imóveis
ou móveis;

• citar os casos em que é possível haver dispensabilidade de licitação, conforme a


legislação;

• apontar as situações, quanto aos requisitos legais, em que será inexigível a licitação;

• aplicar os conceitos adquiridos nas situações práticas.

2. INTRODUÇÃO
Vimos que, de acordo com a Constituição Federal de 1988, a Licitação é obrigatória. No
entanto, existem algumas exceções autorizadas tanto pelo próprio diploma constitucional quan-
to pela Lei 8.666/1993.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Art. 37, inciso XXI ­Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,
compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes (...)

As ressalvas a que a Constituição se refere são os casos de licitações dispensadas, dis-


pensáveis e inexigíveis, cujos dispositivos Constitucionais e da Lei 8.666/1993 podem ser assim
esquematizados:

Constituição Federal Lei 8.666/1993 Dispositivo


Licitação dispensada Art. 17, incisos I e II e §§ 2º e 4º

Art. 37, inciso XXI Licitação dispensável Art. 24, incisos I a XXXIII

Licitação Inexigível Art. 25, incisos I a II


Elaborado a partir de Coelho Motta1, p. 208

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Lei 8.666/1993

Art. 17 – Licitação dispensada:

Inciso I – dispensa nas alienações de bens móveis, quando em dação em pagamento, doação,
nos casos especificados, permuta, investidura, venda a outro órgão público, provenientes de
programas habitacionais, legitimação de posse, decorrentes de regularização fundiárias e de
terras públicas rurais da União na Amazônia Legal, nos termos dos respectivos programas;

Inciso II – dispensa nas alienações de bens móveis, quando doação, atendidos os requisitos,
permuta entre órgãos públicos, venda de ações e títulos, vende de bens produzidos ou co-
mercializados pela própria Administração e venda para outros públicos

Art. 24 – Licitação dispensável

Enumera os casos em que a licitação pode ser dispensada. Atualmente o art. contém 33 inci-
sos, em que são relacionadas as situações autorizadas em lei em que se faculta a realização
de prévia licitação à contratação. Desde a sua edição, o art. 24 Lei 8.666/1993 já sofreu 14
intervenções de alteração de redação ou inclusão de dispositivos e hipóteses de dispensa, por
meio de diversas leis e medidas provisórias.

Art. 25 – Licitação inexigível

Atribui como inexigível a licitação para contratação de aquisição de bens que só tenha um
fornecedor, contratação de profissionais técnicos de notória especialização e de profissionais
consagrados do setor artístico.

As três hipóteses são espécies do gênero contratação direta, que Coelho Motta assim se
refere:

A noção global de dispensa do processo licitatório, abrigando todas as possibilidades de con-


tratação direta, não se resume às hipóteses tratadas, sendo bem mais abrangentes do que
o indicado no dispositivo em tela. Essa noção compreende, didaticamente, os conceitos de
“licitação dispensada”, dispensável” e “inexigível”.

Fazendo uma sucinta distinção entre licitação dispensada e dispensável, Jacoby Fernandes
assim se refere:

A principal distinção entre licitação dispensada, tratada no art. 17, e as dispensas de licitação,
estabelecidas no art. 24, repousa no sujeito ativo que promove a alienação, figurando no
primeiro caso a Administração, no interesse de ceder parte do se patrimônio, vender bens ou
prestar serviços; e nos casos do art. 24, a situação é oposta, estando a Administração, como
regra, na condição de compradora ou tomadora dos serviços.

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Tribunal de Contas da União

Outro aspecto distintivo entre licitação dispensada e dispensável é o fato de que, em prin-
cípio, na primeira não é necessário observar as formalidades do art. 26, da Lei 8.666/1993,
significando, com isso, simplificação. Assim, conquanto esse artigo seja bom orientador para
salvaguardar o gestor, não é obrigatório seu pontual acatamento, exceto em se tratando de
licitação dispensada, regulada pelos §§ 2º e 4º do art. 17. Na dispensa de licitação, ao con-
trário, com a ressalva dos incisos I e II do art. 24, é sempre obrigatório acatar as formalidades
instituídas no art. 26 da Lei de Licitações

Devemos ficar atentos para a possibilidade de leis esparsas, e que tratam primordialmente
de outros assuntos, inserirem dispositivos na Lei de Licitações.  Motta, citando o Prof. Fernando
Andrade de Oliveira, mostra, em forma de quadro esquemático, a tendência da legislação brasi-
leira de ampliar o número de hipóteses legais de contratação direta, notadamente as dispensá-
veis e inexigíveis

É o caso, por exemplo, da Lei 12.512/2011 que trata do Programa de Apoio à Conservação
Ambiental e do Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais, no capítulo que se refere
ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), em seu art. 17, autoriza os poderes executivos da
União, estados, municípios e Distrito Federal a adquirirem alimentos produzidos por agricultores
que se enquadram nas disposições da Lei 11.326/2006 (Lei da Política Nacional da Agricultura
Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais), por dispensa de licitação.

Na mesma linha, a Lei 11.947/2009, em seu art. 14, obriga que do total de recursos repas-
sados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a aquisição de alimen-
tação escolar, no mínimo 30% deverão ser para aquisição de gêneros alimentícios diretamente
de produtores enquadrados como de agricultura familiar, sendo dispensado o procedimento
licitatório.

Texto Legal Dispositivo Número de Hipóteses


Código de
Art. 246 4 dispensas
contabilidade/1992
Decreto-lei 200/1967 Art. 126 9 dispensas

Decreto 73.140/1973 Art. 8º 8 dispensas


Art. 22 11 dispensas
Decreto-lei 2.300/1986
Art. 23 4 inexigibilidades
Art. 24 33 dispensas
Lei 8.666/1993
Art. 25 3 inexigibilidades

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3. LICITAÇÃO DISPENSADA

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A alienação de bens da Administração Pública, subordinada a existência de interesse públi-
co devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá a normas específicas para
bens móveis e imóveis.

A alienação de bens imóveis dependerá de autorização legislativa para órgãos da adminis-


tração direta e entidades autárquicas e fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades para-
estatais, dependerá de avaliação prévia e de licitação na modalidade de Concorrência.

Saiba mais!
ÂÂ Alienação é sinônimo de transferência de titularidade. Portanto, em todas as hipóteses, a alienação
de bens implica na transferência do domínio (titularidade) ao adquirente.

Bens Imóveis (inciso I do art. 17 da Lei 8.666/1993;)

A Licitação será dispensada, em se tratando de bens imóveis, nos seguintes casos:

1. dação: dação em pagamento.

2. doação : permitida exclusivamente para outro órgão ou entidade da administração


pública, de qualquer esfera de governo, ressalvado o disposto nas alíneas ‘f’, ‘h’ e ‘i’ do
art. 17 da Lei 8.666/1993;

3. permuta: por outro imóvel que atenda aos requisitos constantes do inciso X do art. 24
da Lei 8.666/1993.

4. investidura: investidura é entendida da seguinte forma, para os fins da Lei (Art.17, § 3º):

1. A alienação aos proprietários de imóveis lindeiros de área remanescente ou re-


sultante de obra pública, área esta que se tornar inaproveitável isoladamente, por
preço nunca inferior ao da avaliação e desde que esse não ultrapasse a 50% do valor
constante da alínea ‘a’, do inciso II, do art. 23 desta Lei 8.666/1993 (ou seja, até R$
80.000,00)

2. A alienação, aos legítimos possuidores diretos ou, na falta destes, ao Poder


Público, de imóveis para fins residenciais construídos em núcleos urbanos anexos a
usinas hidrelétricas, desde que considerados dispensáveis na fase de operação des-
sas unidades e não integrem a categoria de bens reversíveis ao final da concessão.

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5. venda: venda a outro órgão ou entidade da Administração Pública de qualquer esfera


de governo.

6. alienação, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão de uso


de bens imóveis residenciais: alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de
direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis residenciais construídos,
destinados ou efetivamente utilizados no âmbito de programas habitacionais ou de
regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da
administração pública.

7. legitimação de posse: procedimentos de legitimação de posse de que trata o art. 29 da


Lei 6.383/1976, mediante iniciativa e deliberação dos órgãos da Administração Pública
em cuja competência legal inclua­se tal atribuição.

8. alienação, gratuita ou onerosa: alienação, aforamento, concessão de direito real de


uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis de uso comercial de âmbito local
com área de até 250m² e inseridos no âmbito de programas de regularização fundiária
de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da Administração Pública
(incluído pela Lei 11.491/2007);

9. alienação e concessão de uso de terras públicas rurais na Amazônia Legal: alienação e


concessão de direito real de uso, gratuita ou onerosa, de terras públicas rurais da União
na Amazônia Legal onde incidam ocupações até o limite de 15 módulos fiscais ou
1.500ha, para fins de regularização fundiária, atendidos os requisitos legais;

Bens Móveis (inciso II do art. 17 da Lei 8.666/1993;)

A Licitação será dispensada, em se tratando de bens móveis, nos seguintes casos:

1. doação: permitida exclusivamente para fins e uso de interesse social, após avaliação
de sua oportunidade e conveniência sócio­econômica, relativamente à escolha de outra
forma de alienação.

2. permuta: permitida exclusivamente entre órgãos ou entidades da Administração Pública.

3. venda de ações: que poderão ser negociadas em bolsa, observada a legislação específica.

4. venda de títulos: na forma da legislação pertinente.

5. venda de bens: quando produzidos ou comercializados por órgãos ou entidades da


Administração Pública, em virtude de suas finalidades.

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6. venda de materiais e equipamentos: venda para outros órgãos ou entidades da
Administração Pública, sem utilização previsível por quem deles dispõe.

Vamos observar que os casos de licitações dispensadas, tratadas nesse tópico, não são
meras faculdades do gestor, quanto a realizar ou não processos licitatórios. A lei expressa diz
que não é para licitar.

Licitação dispensada fundamenta-se no art. 17, incisos I e II, da Lei 8.666/1993. É hipótese
que desobriga a Administração do dever de licitar. Nessas situações, diante das peculiarida-
des do contrato a ser celebrado, ao gestor não cabe optar pela licitação, mas proceder à
contratação direta, na forma da lei1.

4. DISPENSABILIDADE DE LICITAÇÃO
Os casos de dispensabilidade de licitação são aqueles que se enquadram em situações
relevantes e, por essa razão, a lei autoriza a exceção ao certame.

Esses casos constam do rol do artigo 24, incisos de I a XXXIII da Lei 8.666/1993.

Como já destacamos um pouco antes, não podemos confundir licitação dispensada (art.
17 da Lei 8.666/1993) com licitação dispensável (art. 24 da Lei 8.666/1993).

Vamos recordar um pouco só para firmar bem a distinção:

• Na licitação dispensada, a Administração Pública não necessita tomar qualquer atitude


para se ver desobrigada da realização do certame licitatório. Basta a ocorrência de
uma das hipóteses previstas nos incisos do art. 17 do Estatuto Federal Licitatório para
desencadear um ato administrativo vinculado, de não licitar.

• Nas hipóteses de dispensabilidade de licitação (art. 24 da Lei 8.666/1993), no entanto,


a contratação direta não se opera automaticamente, ainda que os fatos se ajustem a
uma das taxativas hipóteses arroladas nesse artigo. Tal dispositivo apenas prescreve que
a licitação é dispensável. Por conseguinte, à Administração Pública cabe avaliar, caso a
caso, a conveniência e oportunidade da contratação sem licitação.

1 - BRASIL, Tribunal de Contas da União. Licitações e contratos: orientações e jurisprudência do TCU. 4. ed. Brasília: Senado Federal, 2010,
p. 589.

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É dispensável a licitação:

I - Para as obras e serviços de engenharia de valor até 10% do limite


previsto na alínea “a” do inciso I do art. 23 da Lei 8.666/1993 (que é
de R$ 150.000,00), desde que não se refiram a parcelas de uma mesma
obra ou serviço, ou ainda para obras e serviços da mesma natureza e no
mesmo local que possam ser realizadas conjunta e concomitantemente.

II - Para outros serviços e compras de valor até 10% do limite previsto na alínea “a” do
inciso II do art. 23 da Lei 8.666/1993 (que é de R$ 80.000,00) e para alienações, nos casos
previstos na Lei, desde que não se refiram a parcelas de um mesmo serviço, compra ou
alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez.

Vamos a algumas explicações adicionais:

• Os dois primeiros incisos do art. 24, da Lei 8.666/1993 trazem, em resumo, o seguinte
comando: se a despesa for para obras e serviços de engenharia, está dispensado de
licitar se a contratação for de até R$ 15.000,00. Para compras ou outros serviços que
não de engenharia, o valor cai para R$ 8.000,00.

Lembra quando falamos de fracionamento e parcelamento na Aula 5 dessa Unidade?

Vamos recordar mais uma vez: para o TCU, fracionar a despesa é uma ilegalidade.

Realize planejamento de compras a fim de que possam ser feitas aquisições de produtos de
mesma natureza de uma só vez, pela modalidade de licitação compatível com a estimativa da
totalidade do valor a ser adquirido, abstendo-se de utilizar, nesses casos, o art. 24, inciso II,
da Lei no 8.666/1993 para justificar a dispensa de licitação, por se caracterizar fracionamento
de despesa. (Acórdão 367/2010 Segunda Câmara)

Pois é, o irregular fracionamento de despesa não se dá apenas quando usamos a modali-


dade de licitação indevida, ou seja, quando fazemos dois convites ao invés de uma tomada de
preços. Ele se dá também quando usamos o artifício para fugir do processo licitatório, fracionan-
do uma despesa em várias outras de modo que cada uma delas não atinja o valor limite para a
dispensa (8 mil para compras e 15 mil para obras).

Na Aula 2 da Unidade 1 falamos de Planejamento. Lembra?

O planejamento das aquisições permite que a Administração escolha a modalidade ade-


quada, não infringindo a Lei com fracionamentos de despesas indevidos. Ainda que se possam

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realizar várias licitações ao longo do exercício, há que se respeitar a modalidade correspondente
ao valor total licitado no ano.

Além desses dois incisos, temos mais outros 31, que tratam de casos específicos em que a
Lei 8.666/1993 autoriza a contratação direta.

Ressalva importante

O pregão é a modalidade de licitação que não tem no critério de escolha o aspecto quan-
titativo e sim o critério qualitativo (lembra que falamos disso na aula passada?). Ou seja, para a
sua escolha, não se verifica valores limites de contratação (quantitativo), mas se o serviço ou bem
é comum (critério qualitativo). Mas isso é assunto para Unidade 5.

Os dois primeiros incisos mencionados acima (incisos I e II do art. 24, da Lei 8.666/1993),
são os casos ‘clássicos’ de dispensa pelo valor. É fácil: está dentro do limite, pode. Acima do limi-
te, não pode. Desses, vamos pontuar alguns, que pela natureza, recorrência e possibilidade de
interpretações erradas, merecem um destaque maior.

Não vamos esquecer do conceito de fracionamento. Uma aquisição, isoladamente, pode


estar dentro do limite de dispensa, mas temos que verificar o valor total a ser contratado no ano.

IMPORTANTE!!
Quando planejar a contratação de um serviço de natureza continuada em que
há a possibilidade de a vigência do contrato ser prorrogada por sucessivos
períodos (até o máximo de 60 meses), deve-se adotar a modalidade de
licitação correspondente ao valor total do contrato, contando com as
prorrogações.
Ou seja, se contratamos um serviço de vigilância, que se enquadra no
conceito de natureza continuada, pelo prazo de 12 meses, com valor
mensal de R$ 25.000,00, e se pretendêssemos prorrogar esse contrato até
o máximo legal permitido, teríamos que licitar (no caso das modalidades da
Lei 8.666/1993) por meio de concorrência.
Observe que, ainda que a contratação anual importasse em um valor de
R$  300.000,00 (R$ 25.000,00 x 12 meses), dentro, portanto, do limite da
modalidade tomada de preços, o uso da modalidade na licitação seria
impeditivo de utilização da prerrogativa legal de prorrogações sucessivas
até o limite de 60 meses, pois em assim procedendo, ultrapassaria o valor
de R$ 650.000,00, limite para a tomada de preço.

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Tribunal de Contas da União

Para pensar!
Se, por um desses lapsos da vida, que quem trabalha com licitações sabe bem como
é, licitássemos a contratação do exemplo acima pela modalidade tomada de preços,
findo o prazo inicial do contrato de 12 meses, por quantos meses poderíamos firmar
o termo aditivo de prorrogação?

Como não faz parte do curso, não é pergunta pontuada, pensem apenas. Deem uma olha-
da no art. 23, inciso II e art. 57, inciso II, da Lei 8.666/1993 e no Acórdão 1.084/207-TCU-Plenário

Art. 24, inciso IV


Nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando caracterizada
urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou
comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços,equipamentos e
outros bens, públicos ou particulares, e somente para os bens necessários
ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa e para as parcelas
de obras e serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de 180
dias consecutivos e ininteruptos, contados da ocorrência da emergência ou
calamidade, vedada a prorrogação dos respectivos contratos.

Lembra da importância do  planejamento de que falamos antes?

É exatamente pela falta de planejamento do gestor que o TCU considera como irregular a
contratação direta com fundamento no art. 24, inciso IV, da Lei 8.666/1993, sem que essa emer-
gência não esteja devidamente caracterizada. Ao gestor, não é defeso alegar situação emergen-
cial para que se considere legal a contratação com dispensa de licitação, quando essa situação
de emergência podia ter sido evitada, por meio da ação tempestiva no sentido de evitar a sua
ocorrência. Vejam:

14. Consoante sólida jurisprudência construída nesta Corte de Contas, a exemplo do que
dispõem os Acórdãos 347/1994, 627/1999, 667/2005, 2.387/2007 e 727/2009, todos do
Plenário, além das formalidades previstas no art. 26 da Lei de Licitações, são requisitos neces-
sários à caracterização dos casos de emergência ou de calamidade pública que:

14.1. a situação de emergência não tenha se originado, total ou parcialmente, da falta de


planejamento, da desídia administrativa ou da má gestão dos recursos disponíveis, ou seja,
que ela não possa, em alguma medida, ser atribuída à culpa ou dolo do agente publico que
tinha o dever de agir para prevenir a ocorrência de tal situação;

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14.2. exista urgência concreta e efetiva no atendimento à situação decorrente do estado
emergencial ou calamitoso, visando afastar os riscos de danos a bens, à saúde ou à vida de
pessoas;

14.3. o risco, além de concreto e provável, se mostre iminente e especialmente gravoso; e

14.4. a imediata efetivação, por meio de contratação com terceiro, de determinadas obras,
serviços ou compras, segundo as especificações e quantitativos tecnicamente apurados,
seja o meio adequado, efetivo e eficiente para afastar o risco iminente detectado. (Acórdão
3.656/2012 Segunda Câmara - Proposta de deliberação)

O excerto do voto condutor desse acórdão é bastante didático e nos ajuda a compreender
melhor a situação.

Em suma, é claro que se tiver uma situação emergencial, a Administração está autorizada a
contratar diretamente, sem licitação, pois não faz sentido o telhado de uma escola estar prestes a
cair, por exemplo, e ter que se aguardar todo o trâmite de uma licitação. No entanto, ainda que
o gestor tenha autorização legal para contratar sem licitação, ele vai ter que demonstrar que a
situação chegou até aquele ponto não por desídia sua, sob pena de ser sancionado. Nesse sen-
tido, ele deve adotar as medidas para a solução do problema, mas não pode passar disso. Não
pode, por exemplo, aproveitar que vai contratar uma construtora e mandar ampliar a escola. A
medida tem que ser suficiente apenas para afastar o perigo da situação emergencial.

Essa limitação de contratar apenas o necessário para afastar o risco iminente não é abso-
luta, e deve-se cotejar com a situação fática. No nosso exemplo acima, se havia o risco de uma
das peças que sustenta o telhado ruir, e caso o restante do telhado estivesse em péssimo estado,
ainda que não indicasse a iminente queda, poder-se-ia pensar em contratar a reforma de todo
o telhado.

Mas veja bem, cada situação deve ser analisada sob a ótica do interesse público, consi-
derando que uma intervenção em uma situação emergencial de forma precária e restrita pode
ensejar maiores prejuízos para a Administração que se apegue em exagero aos limites temporais
das contratações por emergência.

É que o inciso IV ainda fala em prazo de 180 dias para conclusão das obras ou serviços,
para evitar que, sob o fundamento da emergência, se postergue indefinidamente, contratos
de serviços que não tenham passado por licitação, sendo o prazo dado suficiente, segundo o
legislador, ou para resolver a situação emergencial ou para se fazer uma licitação, enquanto se
resolve parte do problema.

E se, ainda assim, mesmo depois do prazo de 180 dias a situação demandar a con-
tinuidade do contrato emergencial?

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Tribunal de Contas da União

O gestor pode ter avaliado mal o prazo para a solução do problema (situação emergen-
cial) e não fez uma licitação enquanto afastava os riscos de danos a bens, à saúde ou à vida de
pessoas, ou se o fez, não o concluiu em tempo. Nesse caso, independente de uma eventual re-
primenda ao gestor descumpridor da lei, deve-se firmar novo contrato emergencial ou prorrogar
o prazo?

Quanto a esse último aspecto (prorrogação do prazo máximo), alguns doutrinadores de-
fendem que a situação emergencial deve preponderar sobre a leitura fria da lei. Se para a con-
tratação emergencial inicial a lei autoriza que seja feita sem licitação, pois a situação emergencial
é quem determina a celeridade do procedimento, em não tendo sido afastada essa situação
emergencial, o princípio ou bens a serem protegidos deve prevalecer.

No entanto, ainda que indesejável, a prorrogação não pode ser proibida. Nesse ponto, a lei
deve ser interpretada em termos. A prorrogação poderá ocorrer, dependendo das circuns-
tâncias supervenientes. Embora improvável, poderiam suceder-se duas calamidades em uma
mesma região, de modo que a segunda impedisse a regular execução do contrato firmado
para atender situação emergencial criada pelo evento anterior. (Marçal Justen Filho2)

O TCU também admite, em caso excepcionais, a prorrogação, conforme se depreende de


algumas decisões sobre a questão:

9.1.1. comunicar ao Comitê Gestor da Operação de Reconstrução e à Procuradoria Geral do


Estado de Pernambuco que, com fulcro na jurisprudência do TCU, o limite de 180 dias referi-
do no inciso IV do art. 24 da Lei 8.666/93 pode ser ultrapassado quando o objeto contratual
a ser executado além desse prazo preencher as seguintes condições do referido dispositivo
legal: “urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a
segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares”
e “somente para os bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamito-
sa”. (Acórdão 3.238/2010 –Plenário)

Podemos, ainda, pensar em outra possibilidade, a de não promover a prorrogação, consi-


derando a vedação legal, mas sim a pactuação de novo contrato com os mesmos fundamentos
do que finda. É esse o entendimento consignado na obra Licitações e Contratos do TCU3:

Não é permitida prorrogação dos contratos respectivos [decorrentes de dispensa por emer-
gência]. Exemplo: contrato firmado por noventa dias, não pode ser prorrogado por mais no-
venta dias, a fim de completar os 180 dias previstos na norma. Deve ser feito novo contrato,
mas não prorrogação.

2 - JUSTEN FILHO, Marçal. op. cit. p. 380.


3 - PEREIRA JÚNIOR. Jessé Torres. Comentários à Lei de Licitações e Contratos da Administração Pública, 2009. In: JUSTEN FILHO,
Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 15. ed. São Paulo: Dialética, 2012, p. 345

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Unidade II - Aula 6: Dispensa, dispensabilidade e inexigibilidade de licitação


Apesar de não estar expressa a extrapolação do prazo inicial para solução da situação
emergencial, podemos concluir que a situação fática é o fator determinante para que o prazo
limite possa ser extrapolado, ponderando-se a restrição legal com o bem que se pretende prote-
ger, conforme vimos na doutrina mencionada e na jurisprudência do TCU.

Atenção!
As contratações por dispensa não dispensam (perdão pelo trocadilho) algumas
formalidades próprias das contratações públicas, a exemplo de justificativa e
compatibilidade do preço com o mercado, razões da escolha do fornecedor,
publicação do aviso na imprensa oficial e, como vimos acima, a caracterização
da situação emergencial ou calamitosa nos casos específicos do inciso IV do art.
24 da Lei 8.666/1993.

Art. 24, inciso V


Quando não acudirem interessados à licitação anterior e esta,
justificadamente, não puder ser repetida sem prejuízo para a
Administração, mantidas, neste caso, todas as condições preestabelecidas.

O professor Jacoby Fernandes4 ensina que “essa hipótese de dispensa de licitação, tam-
bém cognominada de “licitação deserta ou fracassada”, (...) exige o atendimento de requisitos
sem os quais não poderá ser legitimada a contratação direta. São eles:

• ocorrência de licitação anterior;

• ausência de interessados;

• risco de prejuízo caracterizado ou demasiadamente aumentado pela demora decorrente


de processo licitatório;

• evitabilidade do prejuízo mediante contratação direta; manutenção das condições


ofertadas no ato convocatório anterior.

Vamos observar a parte final do inciso: “mantidas, neste caso, todas as condições
preestabelecidas”

4 - FERNANDES, Jorge Ulisses Jacoby. Contratação direta sem licitação. 9. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2012, p. 327

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E qual a razão disso?

Ora, não podemos lançar um edital ou convite com exigências desmedidas, sob as quais o
mercado não se disponha a contratar com a Administração, vindo a não comparecer à licitação,
tornando-a deserta, e depois, alegando estar amparado no inciso V do art. 24 da Lei 8.666/1993,
contratar diretamente com um particular sem as mesmas exigências rechaçadas pelo mercado.
Se o motivo identificado para o insucesso do chamamento anterior foi a existência de cláusulas
que afastaram possíveis interessados, e sendo reconhecida nelas a desproporcionalidade com o
objeto pretendido a ponto de excluí-las do novo chamamento, há que se expedir novo ato con-
vocatório sem as tais exigências excessivas.

Por exemplo: para a contratação de um serviço de consultoria contábil, coloco no ins-


trumento convocatório, como requisito de qualificação técnica, que o licitante tenha em seus
quadros profissional com formação em ciências contábeis com doutorado no exterior e com
certificação internacional. Devido à exigência, a licitação é deserta, não acorrendo interessado
algum. O procedimento correto é de repetir a licitação, desta feita adequando as exigências de
qualificação técnica ao possível mercado concorrente e compatível com o objeto. Se for aplicar o
disposto no inciso V, do art. 24 da Lei 8.666/1993, as mesmas exigências têm que ser feitas para
a contratação direta.

Art. 24, inciso VII


Quando as propostas apresentadas consignarem preços manifestadamente
superiores aos praticados no mercado nacional, ou forem incompatíveis
com os fixados pelos órgãos oficiais competentes, casos em que ,
observado o § 3º, do art. 48, da Lei 8.666/1993 e, persistindo a situação,
será admitida a adjudicação direta dos bens ou serviços, por valor não
superior ao constante do registro de preços, ou dos serviços.

À semelhança do inciso anterior, aqui temos a interação das condições de mercado com o
procedimento prévio a cargo da Administração para suas contratações.

Chamados a participarem do certame, os licitantes ofertam seus preços, mas estes se


mostram incompatíveis com os preços de referência de que a Administração dispõe, sejam aque-
les constantes de bancos de preços, ou mesmo os preços de mercado apurados pela própria
Administração.

Temos então um impasse. A administração regularmente realizou o processo seletivo da


melhor proposta, mas essa, ainda assim, mostra-se contrária aos interesses da Administração
conquanto os preços estão acima do que seria esperado.

Legislação Básica em Licitações, Pregão e Registro de Preços


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Prevendo isso, o legislador admitiu a possibilidade de se contratar diretamente, sem o pro-
cesso licitatório, pois este não pode ser usado como chancela para contratações indevidamente
onerosas, beneficiando o particular em detrimento do erário. Naturalmente, os preços que foram
usados para constatar a abusividade das propostas têm que ser mantidos na contratação direta.

Mas há uma saída para os licitantes (e para a Administração) não perderem a oportunidade
de contratar com o Poder Público.

Você notou que há um procedimento prévio à contratação direta indicado na norma, e que
tem que ser observado antes de declarar a licitação fracassada?

O § 3º, do art. 48, da Lei 8.666/1993, determina que haja uma espécie de segunda chance
para os licitantes corrigirem a inadequação de suas propostas:

§ 3º Quando todos os licitantes forem inabilitados ou todas as propostas forem desclassifica-


das, a administração poderá fixar aos licitantes o prazo de oito dias úteis para a apresentação
de nova documentação ou de outras propostas escoimadas das causas referidas neste artigo,
facultada, no caso de convite, a redução deste prazo para três dias úteis. 

Classificação das propostas e habilitação de licitantes é matéria da Unidade 4, mas vamos


falar um pouco sobre o procedimento aqui, pois impacta a decisão do gestor quanto à contrata-
ção direta em licitação fracassada.

O dispositivo do § 3º acima transcrito abre a possibilidade de a Administração, constatada


que os preços estão excessivamente altos, pode fixar novo prazo para que os licitantes refaçam
suas propostas na mesma licitação. Apresentadas novas propostas, e se ainda assim se mantibrt
a mesma impropriedade quanto aos preços, estaria autorizada a contratação direta.

Atenção, a concessão de prazo para o refazimento das propostas de preço não é uma
prerrogativa da Administração caso ela pretenda contratar diretamente, sem licitação. Se for
fundamentar a contratação direta no inciso VII, do art. 24 da Lei 8.666/1993, tem que abrir o
prazo e esperar as novas propostas.

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PARA NÃO ESQUECER 


Os incisos V e VII do art. 24, da Lei 8.666/1993 tratam de licitação que
não tiveram sucesso, comumente chamadas de licitação deserta e licitação
fracassada.
Vamos ver quem é quem:
Licitação deserta é aquela em que não acorrem interessados, daí o termo
‘deserta’. A causa mais comum é a existência de condições e exigências
excessivas e desproporcionais em relação ao objeto ou valor da contratação.
Pode se dar também por limitação de mercado, de acordo com o tipo de
objeto pretendido, daí muita atenção para a divulgação da licitação. Ela está
capitulada no inciso V, do art. 24, da Lei 8.666/1993.
Já a Licitação fracassada é aquela que quase que se concluiu, mas, por
alguma razão, não chegou ao seu intento final, que era a contratação do
objeto pretendido. O disposto legal que trata da licitação fracassada é o
inciso VII, do art. 24, da Lei 8.666/1993.
Em resumo, na primeira, ninguém comparece. Na segunda, comparece,
mas não atende aos requisitos do instrumento convocatório.

Art. 24, inciso XI


Na contratação de remanescente de obra, serviço ou fornecimento, em
consequência de rescisão contratual, desde que atendida a ordem de
classificação da licitação anterior e aceitas as mesmas condições oferecidas
pelo licitante vencedor, inclusive quanto ao preço, devidamente corrigido.

A contratação direta, com fundamento no inciso XI, do art. 24 da Lei 8.666/1993, decorre
da necessidade de a Administração dar continuidade a um contrato rescindido, visando a não
sofrer solução de continuidade.

A Administração chamará os licitantes na ordem de classificação da licitação e o novo con-


tratado, se aceitar a convocação, deverá honrar as mesmas condições da proposta vencedora.

Em verdade, não há uma contratação direta na acepção pura da palavra, já que esse novo
contratado foi submetido a um processo seletivo e as condições da contratação dar-se-ão da
mesma foram que as daquele que teve o contrato rescindido.

Ressalte-se que o licitante não está obrigado a aceitar a contratação, mas se o fizer, repita-
-se, terá que ser nas condições do primeiro colocado.

Legislação Básica em Licitações, Pregão e Registro de Preços


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E se nenhum dos licitantes aceitarem a contratação para execução do remanescente da
obra, pode a Administração buscar no mercado, via contratação direta, uma empresa que con-
clua a obra?

A resposta é não, exceto se o valor da parte remanescente se enquadrar no limite de dis-


pensa do inciso I, do art. 24, da Lei 8.666/1993.

Art. 24, inciso XVII


Para a aquisição de componentes ou peças de origem nacional ou
estrangeira, necessários à manutenção de equipamentos durante o período
de garantia técnica, junto ao fornecedor original desses equipamentos,
quando tal condição de exclusividade for indispensável para a vigência da
garantia.

Há quem defenda que, na verdade, trata-se de hipótese de inexigibilidade de licitação,


capitulada no inciso I, do art. 25 da Lei 8.666/1993, pois a inexistência de outros fornecedores
inviabilizaria a competição, não restando à Administração outra opção senão contratar com esse
fornecedor exclusivo, lembrando que nas licitações dispensáveis o gestor tem a faculdade de
licitar ou contratar direta como a lei lhe autoriza. Nessa linha estão, por exemplo, Marçal Justen
Filho5 e Jessé Torres6.

Alguns cuidados devem ser adotados para se certificar de que, de fato, trata-se da hipóte-
se de contratação direta.

Para a contratação se enquadrar no dispositivo é preciso que a peça ou componente seja


elemento essencial para a manutenção das condições de garantia estabelecidas quando da ven-
da do equipamento e que não haja mais de um possível vendedor.

Veja que, se um veículo adquirido pela Administração tem um pneu danificado e se faz
necessária a sua troca, não há motivo para que a compra se dê junto ao fornecedor original, a
concessionária da marca do veículo que fez a venda.

Primeiro porque o pneu não é essencial para a manutenção da garantia do veículo; segun-
do, porque há uma variedade de fornecedores de pneus (ainda que se deva comprar da mesma
marca e especificações dos demais).

5 - JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 15. ed. São Paulo: Dialética, 2012, p. 345.
6 - BRASIL, op. cit. p. 594.

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5. INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO
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A Licitação é inexigível quando houver inviabilidade de competição.

A inexigibilidade de licitação se justifica nas hipóteses em que se verifica a impossibilidade


jurídica da realização do certame, quer pela natureza do negócio envolvido, quer pelos obje-
tivos sociais almejados pelo Poder Público.

A inviabilidade de competição, a que se refere a lei, contempla tanto as hipóteses nas quais
o fornecedor é exclusivo (inciso I), quanto aquelas em que o contratado é o único que reúne
as condições necessárias à plena satisfação do objeto do contrato (incisos II e III)7.

Vejamos as hipóteses em que a Lei 8.666/1993, nos três incisos do art. 25, atribui como
inexigível a licitação:

I. para a aquisição de materiais, equipamentos ou gêneros que só possam ser fornecidos


por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo, vedada a preferência de
marca, devendo a comprovação de exclusividade ser feita através de atestado fornecido
pelo órgão de registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra
ou o serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas
entidades equivalentes;

II. para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de


natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a
inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação.

III. para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de


empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião
pública.

Vamos primeiro ver a hipótese de inexigibilidade do inciso I, do art. 25 da Lei 8.666/1993,


em razão de fornecedor exclusivo.

A primeira questão a ser analisada é o conceito de fornecedor exclusivo. Em um ambiente


comercial altamente competitivo, e com as facilidades de comunicação e de logística existentes,
a figura do fornecedor exclusivo de uma região é matéria rara, daí o motivo da cautela necessária
para que não se incorra em uma contratação direta indevida.

O texto do dispositivo é bastante precário ao se atribuir a entidades, muitas vezes despro-


vidas de condições materiais para prestar a informação que a lei exige, sem incorrer em declara-
ções e atestados apoiados em pretenso conhecimento do mercado ou com base metodológica
própria para garantir a integridade da informação.

7 - MIRANDA, Henrique Savonitti. Licitações e contratos administrativos. 4. ed. Brasília: Senado Federal, 2007, p.111.

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Não é difícil imaginar que o órgão de registro de comércio do local da licitação não se de-
bruçará sobre os seus dados para verificar a concomitância de representação de um determinado
produto para a região, muito menos os sindicatos e entidades afins.

E ainda que o façam, a limitação geográfica da região não é impeditivo de participação de


empresas de outras regiões.

Assim, o critério mais lógico é a própria existência ou não de mais de um fornecedor para
o produto ou serviço desejado, tendo a documentação porventura apresentada um papel aces-
sório (mas não menos importante) nessa caracterização.

Súmula TCU  255


“Nas contratações em que o objeto só possa ser fornecido por produtor,
empresa ou representante comercial exclusivo, é dever do agente público
responsável pela contratação a adoção das providências necessárias para
confirmar a veracidade da documentação comprobatória da condição de
exclusividade.”

Então ficamos assim: deparando-nos com uma situação prática em que tenhamos que de-
cidir se cabe ou não o enquadramento da contratação como inexigibilidade de licitação, temos
que ter em conta as diversas possibilidades de demonstração da exclusividade, considerando
variáveis como dimensão territorial, mercado e padronização de produtos.

Uma observação importante consignada pela AGU em uma de suas orientações normativas:

Orientação Normativa 15, de 1º de abril de 2009

A contratação direta com fundamento na inexigibilidade prevista no art. 25, inciso I, da lei
8.666, de 1993, é restrita aos casos de compras, não podendo abranger serviços.

Passamos agora para o inciso I, do art. 25 da Lei 8.666/1993, que traz a figura do serviço
técnico de natureza singular.

Conforme se depreende do dispositivo, poderão ser contratados por inexigibilidade so-


mente os serviços técnicos especializados de natureza singular referenciados no art. 13, da Lei
8.666/1993, sendo vedada a inexigibilidade para contratação de serviços de publicidade e di-
vulgação. E mais, para executar tais serviços, tem de ser profissional ou empresa com notória
especialização.

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A singularidade é característica do objeto, que o diferencia dos demais. É o serviço preten-


dido pela Administração que é singular e não aquele que o executa. A caracterização da singu-
laridade deve visar ao atendimento do interesse público.

A compreensão do que dispõe o inciso II, do art. 25, da Lei 8.666/1993 requer que se sai-
bamos quais são os serviços técnicos de natureza singular enumerados no art. 13 da mesma lei:

I. estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou executivos;

II. pareceres, perícias e avaliações em geral;

III. assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias;

IV. fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;

V. patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;

VI. treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;

VII. restauração de obras de arte e bens de valor histórico.

Esquematicamente, podemos representar a inexigibilidade do inciso II, do art. 25 da Lei


8.666/1993 da seguinte forma:

Inexigibilidade – notória especialização

Objeto Condição Vedação


Inexigibilidade de
licitação a) Natureza singular do
Serviços técnicos especializados serviço
Art. 25, inciso I, da Serviços de publicidade e
enumerados no art. 13 da Lei
Lei 8.666/1993 b) Notória especialização de divulgação
8.666/1993
quem vai executar

A inviabilidade de competição para a contratação de serviços técnicos, a que alude o inciso


II do art. 25 da Lei 8.666/1993, decorre da presença simultânea de três requisitos: serviço
técnico especializado, entre os mencionados no art. 13 da referida lei, natureza singular do
serviço e notória especialização do contratado. (SÚMULA  252/2010)

Comumente, observamos contratações por inexigibilidade calçada apenas na suposta no-


tória especialização do contratado, esquecendo das demais condições necessárias para sua con-
formidade com a norma, principalmente relegando a “natureza do serviço” a um indevido plano
secundário.

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Para pensar!
A Administração poderia contratar o Prof. Pasquale (famoso professor de português
colunista de jornais e idealizador do programa “Nossa língua portuguesa” da TV
Cultura), com fundamento no inciso II do art. 25 da Lei 8.666/1993, para ministrar
aulas no Programa de Educação de Jovens e Adultos (Proeja) do FNDE?

Como resposta, temos um sonoro não.

Inicialmente, observe que ministrar aulas não se encontra no rol de serviços técnicos espe-
cializados do art. 13, da Lei 8.666/1993. O que mais se aproxima disso é o inciso VI do dispositivo
(treinamento e aperfeiçoamento de pessoal), mas que com ele não se confunde. Ministrar aula
difere de ministrar treinamento e aperfeiçoamento.

Ademais, ministrar aulas de português para alfabetização de jovens e adultos não se reves-
te de singularidade, a ponto de demandar um notório conhecedor do assunto, já que professores
de português com habilidades básicas da matéria poderiam dar conta da tarefa. Assim, existindo
pluralidade de possíveis candidatos, não há que se falar em inviabilidade de competição.

No que concerne à contratação de advogado por notória especialização, sem a realização de


prévio procedimento licitatório, muito embora fosse “louvável a preocupação do gestor no
sentido de evitar prejuízos advindos de ação trabalhista movida pelo Sindicato da Categoria­
SINDSCOCE”, concluiu o relator inexistir “razoabilidade na contratação com base no inciso II
do art. 25 da Lei 8.666/1993”, defendendo, por isso, a manutenção do acórdão recorrido em
seus exatos termos. Ponderou que uma cidade do porte de Fortaleza teria, certamente, gran-
des causídicos habilitados na área trabalhista interessados em participar da competição, caso
esta tivesse sido aberta pela administração do CREA/CE. Como o valor da contratação foi de
R$ 60.000,00, enfatizou o relator que a modalidade de licitação adotada poderia ter sido o
convite, à luz do art. 23, II, da Lei n.º 8.666/1993, permitindo-­se assim ampliar o universo
de candidatos e, por conseguinte, obter maior economicidade na contratação. Precedentes
citados: Acórdãos nºs 116/2002­Plenário, 740/2004­Plenário e 457/2002­1ª Câmara. Acórdão
85/1997-TCU-Plenário

Já vimos quais são os serviços especializados e já falamos da singularidade do objeto a ser


licitado. Resta saber o que é a notória especialização.

Art. 25 da Lei 8.666/1993:

§ 1º Considera-­se de notória especialização o profissional ou empresa cujo conceito no cam-


po de sua especialidade decorrente de desempenho anterior, estudos, experiências, publi-
cações, organização, aparelhamento, equipe técnica, ou de outros requisitos relacionados
com suas atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais
adequado à plena satisfação do objeto do contrato.

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Por fim, temos o inciso III, do art. 25 da Lei 8.666/1993, que trata da contratação de
artistas.

Como o dispositivo está lá atrás, vamos repeti-lo para você não precisar voltar para ler o
texto:

III - para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através


de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião
pública.

Temos três elementos importantes para a caracterização da situação, cuja contratação


prescinde de licitação:

• O primeiro deles é a atividade do profissional que se pretende contratar, por óbvio,


tem que ser artista, nas mais diversas formas de expressão. Não há imposição do que
venha a ser arte para fins de caracterização do profissional como tal. Imagina-se que
somente em situações excepcionais haveria questionamentos nesse sentido.

• O segundo, e menos óbvio, é a consagração pela crítica especializada ou pela opinião


pública.

Quando se lê essa parte do dispositivo de forma apressada, pode levar o intérprete a ima-
ginar logo grandes nomes das artes, conhecidos do grande público. A lembrança recorrente é a
de um grande cantor, cuja manifestação artística alcança grandes massas, arrebatando fãs pelo
Brasil. Essa é a imagem mais evidente de um profissional consagrado.

No entanto, a Lei não qualifica essa consagração, podendo ter alcance nacional, regional
ou local, abrindo um leque expressivamente largo para interpretações elásticas. Não reside aí
problema algum, desde que a contratação seja compatível com essa consagração.

Um tocador de sanfona (ou um cantor de Guarânia ou um


grupo de Carimbó) pode ser consagrado pelo público de
uma localidade, e como tal, estaria apto a ser contratado por
inexigibilidade, já que, em uma determinada festividade local,
a sua presença atrairia uma quantidade de pessoas muito maior
se fosse contratado um sanfoneiro ‘qualquer’, desconhecido do
público, ou, se conhecido, não consagrado.

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Por fim, o terceiro e último elemento é o empresário exclusivo, responsável por represen-
tar o artista na comercialização de sua arte.

Por ser esse o ‘elemento’ que mais tem gerado interpretações equivocadas, vamos nos
deter um pouco nele.

Os artistas, via de regra, gostam de exercer a sua arte sem a interferência das questões,
digamos, mais mundanas, menos afeitas àqueles que foram dotados de um dom especial e que
o expressa por meios de manifestações artísticas.

Assim é que cantores, por exemplo, têm pessoas encarregadas de, em nome deles, firmar
contratos, receber cachês, vender a imagem, enfim, assumir a condução da carreira enquanto o
artista se dedica apenas ao seu ofício. São conhecidos como ‘agentes’ ou ‘empresários’. E é essa
denominação que a lei dá a esses prepostos dos artistas, o ‘empresário exclusivo’.

Como não há uma definição na própria lei do que venha a ser ‘empresário exclusivo’, a
jurisprudência do TCU se encarregou de clarear a questão, pois, na prática, o que se observava
era a presença de um intermediário na contratação do artista, que se denomina também ‘em-
presário exclusivo’. Vejam:

9.5.  determinar ao Ministério do Turismo que, em seus manuais de prestação de contas de


convênios e nos termos dessas avenças, informe que:

9.5.1.  quando da contratação de artistas consagrados, enquadrados na hipótese de inexigi-


bilidade prevista no inciso III do art. 25 da Lei nº 8.666/1992, por meio de intermediários ou
representantes:

9.5.1.1. deve ser apresentada cópia do contrato de exclusividade dos artistas com o empre-
sário contratado, registrado em cartório. Deve ser ressaltado que o contrato de exclusividade
difere da autorização que confere exclusividade apenas para os dias correspondentes à apre-
sentação dos artistas e que é restrita à localidade do evento;

9.5.1.2.  o contrato deve ser publicado no Diário Oficial da União, no prazo de cinco dias,
previsto no art. 26 da Lei de Licitações e Contratos Administrativos, sob pena de glosa dos
valores envolvidos;  (Acórdão 96/2008-TCU-Plenári)o

Esse acórdão foi um marco por delinear claramente a distinção entre o empresário exclusi-
vo, aquele que tem autorização para falar em nome do artista, assinar contratos e passar recibos,
e o intermediário, que atua basicamente para um contratação determinada, obtendo do empre-
sário do artista a exclusividade de uma data certa para a realização do show.

Outros acórdãos do Tribunal se sucederem nessa linha, reiterando a conceituação de em-


presário exclusivo, e as providências necessárias para a sua caracterização, dentre elas a exigência

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que o contrato firmado entre o artista e o empresário, ou empresa de agenciamento, seja regis-
trado em cartório.

9.2.2. instaure processo de Tomada de Contas Especial, quando no exame da prestação de


contas forem constatadas as mesmas irregularidades aqui referidas, especialmente a seguin-
te, sujeita a glosa: contratação de bandas de música, por meio de inexigibilidade de licitação,
sob o fundamento da exclusividade de representação, com base na apresentação de “car-
tas” e de “declarações” que supostamente atestariam a dita exclusividade, mas na verdade
não se prestam para tanto, o que só pode ser feito por meio de contrato firmado entre
artistas e empresários, devendo ainda constar registro em cartório, além de regular pu-
blicação, conforme as disposições contidas no termo de convênio, no item 9.5 do Acórdão
n. 96/2008-TCU-Plenário e nos arts. 25, inciso III, e 26, todos da Lei 8.666/93; (Acórdão
3.826/2013-TCU-1ª Câmara)

As autorizações emitidas pelas bandas musicais que atuaram no evento (...) não caracterizam
contratos de exclusividade entre os artistas consagrados e o respectivo agenciador perante
o órgão municipal.

Na verdade, tais autorizações apenas conferem à empresa (...) o direito de representar (...)
nas específicas comemorações alusivas ao objeto do convênio. Não se prestam, portanto,
a garantir ao agenciador ampla e irrestrita representação com direito de exclusividade para
todos os eventos em que os artistas sejam convidados.

Além de ferir expressa disposição do acordo administrativo, a ausência de contratos de ex-


clusividade contraria requisitos essenciais à realização de contratação direta por inexigibili-
dade de licitação, estampados nos artigos 25, inciso III, e 26, da Lei 8.666/1993. Acórdão
8.244/2013-TCU-1ª Câmara (voto condutor)

Em conclusão, se for contratar profissional do setor artístico, e for se utilizar da inexigibili-


dade de licitação, tem que contratar diretamente com o artista que seja consagrado pela crítica
ou pela opinião pública, ou com o seu empresário exclusivo, comprovada a exclusividade por
meio de contrato registrado em cartório.

Legislação Básica em Licitações, Pregão e Registro de Preços


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Como é na prática?
No meio artístico e cultural, prepondera a máxima de que um cantor,
contratado pelo poder público, só sobe ao palco se já tiver recebido o
cachê, tantas foram as vezes que se apresentaram e não receberam. Nesse
cenário, criou-se a figura do intermediário, normalmente uma empresa
de eventos que obtém do artista uma declaração se comprometendo a
reservar uma determinada data para a realização de um show. com essa
declaração, de exclusividade de data e não exclusividade de representação,
a empresa de eventos ‘vende’ o show para o poder público, que se utiliza
da inexibilidade de licitação para a contratação. Como a contratação é feita
com uma empresa de eventos, não há o vínculo do contratado (empresa
de eventos) com o objeto (apresentação musical), já que a declaração de
exclusividade de data não é documento hábil para representar o artista
que vai se apresentar, assinar compromissos e firmar quitações. Além disso,
há o custo de intermediação, não declarado nos documentos de quitação
de despesa.

5.6. VALIDADE JURÍDICA

De acordo com o art. 25, § 2º, da Lei 8.666/1993, tanto na inexigibilidade quanto na
dispensabilidade de licitação, se for comprovado superfaturamento, respondem solidariamente
pelo dano causado à Fazenda Pública o fornecedor ou o prestador de serviços e o agente público
responsável, sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis.

Conforme disposto na Lei, a validade jurídica da dispensa, da inexigibilidade e do retarda-


mento só se efetiva com a ratificação pela autoridade competente, devidamente publicada no
Diário Oficial e dentro do prazo previsto no art. 26, da Lei 8.666/1993.

Os seguintes casos deverão ser comunicados, dentro de 3 dias, à autoridade superior para
ratificação e publicação na imprensa oficial, no prazo de 5 dias, como condição para eficácia dos
atos:

• as dispensas relativas à concessão de direito real de uso de imóvel e doação com encargo
(previstas nos §§ 2º e 4º do art. 17);

• as dispensas previstas nos incisos III e seguintes do art. 24;

• as situações de inexigibilidade referidas no art. 25, necessariamente justificadas;

• o retardamento imotivado da execução de obra ou serviço (parágrafo único do art. 8º).

ENAP / Tribunal de Contas da União


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Tribunal de Contas da União

Além disso, o parágrafo único do art. 26  prevê que o processo formado para a efetivação
dessas situações deve estar instruído, no que couber, com os seguintes elementos:

• caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a dispensa quando


for o caso;

• razão da escolha do fornecedor ou executante;

• justificativa do preço;

• documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens serão alocados.

Ressalte-se desse dispositivo algumas providências importantes e que não devem ser
negligenciadas.

Como vimos antes, quando tratamos das contratações diretas fundamentadas no inciso IV,
do art. 24, da Lei 8.666/1993, para que a situação de emergência possa se motivadora de uma
contratação direta, há que se caracterizar corretamente tal situação, sob pena de se considerar
a contratação ilegal. Isso vale para as dispensas, pois à situação de emergência se aplica tão so-
mente a licitação dispensável.

Para a inexigibilidade (assim como para as dispensas), os dois elementos seguintes são
fundamentais para a demonstração da conformidade legal da contratação.

Vamos pensar que contratação direta, seja por dispensa ou por inexigibilidade, deve ser
encarada como exceção, já que a regra é licitar. 

Nesse sentido, a demonstração das razões da escolha do fornecedor e a justificativa do


preço contratado devem constar dos autos de forma expressa, de modo que não deixe dúvidas
acerca do atendimento aos princípios da transparência, economicidade e impessoalidade.

Lembre-se:
Não é porque não estamos licitando que podemos
dispensar alguns procedimentos essenciais que
demonstram a conformidade da contratação com as
normas de execução da despesa pública.

Legislação Básica em Licitações, Pregão e Registro de Preços


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Unidade II - Aula 6: Dispensa, dispensabilidade e inexigibilidade de licitação


A propósito:

Art. 25, da Lei 8.666/1993

(...)

§ 2º  Na hipótese deste artigo e em qualquer dos casos de dispensa, se comprovado super-
faturamento, respondem solidariamente pelo dano causado à Fazenda Pública o fornecedor
ou o prestador de serviços e o agente público responsável, sem prejuízo de outras sanções
legais cabíveis

E mais:

Seção III. Dos Crimes e das Penas, do Capítulo IV da Lei 8.666/1993

(...)

Art. 89.  Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de ob-
servar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:

Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.

Parágrafo único.  Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente concorrido


para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para
celebrar contrato com o Poder Público.

Por fim, todas as exigências relativas aos futuros pretensos contratados devem se dar de
mesmo modo que se daria se submetessem ao regular processo licitatório

É obrigatória a justificativa de preço na inexigibilidade de licitação, que deverá ser realizada


mediante a comparação da proposta apresentada com preços praticados pela futura contra-
tada junto a outros órgãos públicos ou pessoas privadas. (Orientação Normativa AGU 17, de
1º de abril de 2009)

É obrigatória a comprovação da regularidade fiscal das empresas contratadas pela adminis-


tração pública, seja em virtude de regular processo licitatório, seja em razão de dispensa ou
inexigibilidade de licitação, na forma da lei. (Acórdão 943/2010-TCU-Plenário -Sumário)

ENAP / Tribunal de Contas da União


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6. PONTO POLÊMICO
Tribunal de Contas da União

A Advocacia Geral da União, ao analisar as disposições dos incisos V e VII, do art. 24, da Lei
8.666/1993, manifestou-se, por meio da Orientação Normativa 12/2009, acerca das hipóteses
de dispensa de licitação fundamentadas nesses dispositivos:

ORIENTAÇÃO NORMATIVA AGU 12/2009

Não se dispensa licitação, com fundamento nos incisos. V e VII do art. 24 da lei nº
8.666, de 1993, caso a licitação fracassada ou deserta tenha sido realizada na modalida-
de convite

Fundamentou a Orientação em decisões do Tribunal e na Súmula TCU 248:

Não se obtendo o número legal mínimo de três propostas aptas à seleção, na li-
citação sob a modalidade Convite, impõe-se a repetição do ato, com a convocação de
outros possíveis interessados ressalvados as hipóteses previstas no parágrafo 7º, do art.
22, da Lei nº 8.666/1993.

Na exposição de motivos, o então Advogado Geral da União assim se manifestou:

Prevê a Lei nº 8.666, de 1993, em seu art. 24, inc. V e VII, que o administrador está auto-
rizado a contratar diretamente quanto o certame restar deserto ou fracassado, in verbis:

(...)

Nestas condições, considera o legislador ordinário que, diante da inexistência de interessados


ou na hipótese em que todos sejam inabilitados ou desclassificados, está a autoridade admi-
nistrativa autorizada a contratar diretamente. Contudo, doutrina e jurisprudência destacam
algumas cautelas que devem ser tomadas pela Administração Pública a fim de que restem
plenamente caracterizados os requisitos legais.

(...)

A celeuma, cuja uniformização se propõe por meio do enunciado acima, diz respeito à pos-
sibilidade ou não de aplicação dos dispositivos quando o certame for realizado mediante
convite. Não existe expressa vedação legal para a utilização de referidos dispositivos nas
licitações na modalidade convite. Não obstante, do conjunto de normas postas sobre os
institutos citados, a melhor interpretação não a recomenda, vez que, como é cediço, em tal
modalidade de licitação é a própria Administração que escolhe a quem endereçará a carta-
-convite. Assim, em homenagem aos princípios da impessoalidade e da isonomia, quando
utilizada a modalidade de convite, não se aplica a contratação direta em questão.

Legislação Básica em Licitações, Pregão e Registro de Preços


Bibliografia 31

Unidade II - Aula 6: Dispensa, dispensabilidade e inexigibilidade de licitação


BRASIL, Tribunal de Contas da União. Licitações e contratos: orientações e jurisprudência do
TCU. 4. ed. Brasília: Senado Federal, 2010, p. 589.

JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 15. ed. São
Paulo: Dialética, 2012, p. 345.

BRASIL, op. cit. p. 594.

  FERNANDES, Jorge Ulisses Jacoby. Contratação direta sem licitação. 9. ed. Belo Horizonte:
Fórum, 2012, p. 327.

JUSTEN FILHO, Marçal. op. cit. p. 380.

PEREIRA JÚNIOR. Jessé Torres. Comentários à Lei de Licitações e Contratos da Administração


Pública, 2009. In: JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administra-
tivos. 15. ed. São Paulo: Dialética, 2012, p. 345

MIRANDA, Henrique Savonitti. Licitações e contratos administrativos. 4. ed. Brasília: Senado


Federal, 2007, p.111.

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