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Unidade II
Aula 6 - Dispensa,
dispensabilidade e inexigibilidade
de licitação
© Copyright 2017
Este curso foi elaborado pela Escola Nacional de Administração Pública – ENAP
E contou com a revisão do Tribunal de Contas da União – TCU
Permite-se a reprodução desta publicação, em parte ou no todo, sem alteração do conteúdo, desde que
citada a fonte e sem fins comerciais.
CONTEUDISTA
Edson Seixas Rodrigues (2005)
REVISÃO
Henrique Savonitti (2008)
Walter Salomão (2011)
Hanna Ferreira (2013)
Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em Junho de 2017.
1. OBJETIVOS DA AULA............................................................................................................................. 4
2. INTRODUÇÃO........................................................................................................................................... 4
3. LICITAÇÃO DISPENSADA..................................................................................................................... 7
4. DISPENSABILIDADE DE LICITAÇÃO............................................................................................... 9
5. INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO................................................................................................. 20
6. PONTO POLÊMICO.............................................................................................................................. 30
Bibliografia.............................................................................................................................................. 31
1. OBJETIVOS DA AULA
Tribunal de Contas da União
• apontar os casos em que a licitação será dispensada, quando se tratar de bens imóveis
ou móveis;
• apontar as situações, quanto aos requisitos legais, em que será inexigível a licitação;
2. INTRODUÇÃO
Vimos que, de acordo com a Constituição Federal de 1988, a Licitação é obrigatória. No
entanto, existem algumas exceções autorizadas tanto pelo próprio diploma constitucional quan-
to pela Lei 8.666/1993.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Art. 37, inciso XXI Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,
compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes (...)
Art. 37, inciso XXI Licitação dispensável Art. 24, incisos I a XXXIII
Inciso I – dispensa nas alienações de bens móveis, quando em dação em pagamento, doação,
nos casos especificados, permuta, investidura, venda a outro órgão público, provenientes de
programas habitacionais, legitimação de posse, decorrentes de regularização fundiárias e de
terras públicas rurais da União na Amazônia Legal, nos termos dos respectivos programas;
Inciso II – dispensa nas alienações de bens móveis, quando doação, atendidos os requisitos,
permuta entre órgãos públicos, venda de ações e títulos, vende de bens produzidos ou co-
mercializados pela própria Administração e venda para outros públicos
Enumera os casos em que a licitação pode ser dispensada. Atualmente o art. contém 33 inci-
sos, em que são relacionadas as situações autorizadas em lei em que se faculta a realização
de prévia licitação à contratação. Desde a sua edição, o art. 24 Lei 8.666/1993 já sofreu 14
intervenções de alteração de redação ou inclusão de dispositivos e hipóteses de dispensa, por
meio de diversas leis e medidas provisórias.
Atribui como inexigível a licitação para contratação de aquisição de bens que só tenha um
fornecedor, contratação de profissionais técnicos de notória especialização e de profissionais
consagrados do setor artístico.
As três hipóteses são espécies do gênero contratação direta, que Coelho Motta assim se
refere:
Fazendo uma sucinta distinção entre licitação dispensada e dispensável, Jacoby Fernandes
assim se refere:
A principal distinção entre licitação dispensada, tratada no art. 17, e as dispensas de licitação,
estabelecidas no art. 24, repousa no sujeito ativo que promove a alienação, figurando no
primeiro caso a Administração, no interesse de ceder parte do se patrimônio, vender bens ou
prestar serviços; e nos casos do art. 24, a situação é oposta, estando a Administração, como
regra, na condição de compradora ou tomadora dos serviços.
Outro aspecto distintivo entre licitação dispensada e dispensável é o fato de que, em prin-
cípio, na primeira não é necessário observar as formalidades do art. 26, da Lei 8.666/1993,
significando, com isso, simplificação. Assim, conquanto esse artigo seja bom orientador para
salvaguardar o gestor, não é obrigatório seu pontual acatamento, exceto em se tratando de
licitação dispensada, regulada pelos §§ 2º e 4º do art. 17. Na dispensa de licitação, ao con-
trário, com a ressalva dos incisos I e II do art. 24, é sempre obrigatório acatar as formalidades
instituídas no art. 26 da Lei de Licitações
Devemos ficar atentos para a possibilidade de leis esparsas, e que tratam primordialmente
de outros assuntos, inserirem dispositivos na Lei de Licitações. Motta, citando o Prof. Fernando
Andrade de Oliveira, mostra, em forma de quadro esquemático, a tendência da legislação brasi-
leira de ampliar o número de hipóteses legais de contratação direta, notadamente as dispensá-
veis e inexigíveis
É o caso, por exemplo, da Lei 12.512/2011 que trata do Programa de Apoio à Conservação
Ambiental e do Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais, no capítulo que se refere
ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), em seu art. 17, autoriza os poderes executivos da
União, estados, municípios e Distrito Federal a adquirirem alimentos produzidos por agricultores
que se enquadram nas disposições da Lei 11.326/2006 (Lei da Política Nacional da Agricultura
Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais), por dispensa de licitação.
Na mesma linha, a Lei 11.947/2009, em seu art. 14, obriga que do total de recursos repas-
sados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a aquisição de alimen-
tação escolar, no mínimo 30% deverão ser para aquisição de gêneros alimentícios diretamente
de produtores enquadrados como de agricultura familiar, sendo dispensado o procedimento
licitatório.
3. LICITAÇÃO DISPENSADA
Saiba mais!
ÂÂ Alienação é sinônimo de transferência de titularidade. Portanto, em todas as hipóteses, a alienação
de bens implica na transferência do domínio (titularidade) ao adquirente.
3. permuta: por outro imóvel que atenda aos requisitos constantes do inciso X do art. 24
da Lei 8.666/1993.
4. investidura: investidura é entendida da seguinte forma, para os fins da Lei (Art.17, § 3º):
1. doação: permitida exclusivamente para fins e uso de interesse social, após avaliação
de sua oportunidade e conveniência sócioeconômica, relativamente à escolha de outra
forma de alienação.
3. venda de ações: que poderão ser negociadas em bolsa, observada a legislação específica.
Vamos observar que os casos de licitações dispensadas, tratadas nesse tópico, não são
meras faculdades do gestor, quanto a realizar ou não processos licitatórios. A lei expressa diz
que não é para licitar.
Licitação dispensada fundamenta-se no art. 17, incisos I e II, da Lei 8.666/1993. É hipótese
que desobriga a Administração do dever de licitar. Nessas situações, diante das peculiarida-
des do contrato a ser celebrado, ao gestor não cabe optar pela licitação, mas proceder à
contratação direta, na forma da lei1.
4. DISPENSABILIDADE DE LICITAÇÃO
Os casos de dispensabilidade de licitação são aqueles que se enquadram em situações
relevantes e, por essa razão, a lei autoriza a exceção ao certame.
Esses casos constam do rol do artigo 24, incisos de I a XXXIII da Lei 8.666/1993.
Como já destacamos um pouco antes, não podemos confundir licitação dispensada (art.
17 da Lei 8.666/1993) com licitação dispensável (art. 24 da Lei 8.666/1993).
1 - BRASIL, Tribunal de Contas da União. Licitações e contratos: orientações e jurisprudência do TCU. 4. ed. Brasília: Senado Federal, 2010,
p. 589.
É dispensável a licitação:
II - Para outros serviços e compras de valor até 10% do limite previsto na alínea “a” do
inciso II do art. 23 da Lei 8.666/1993 (que é de R$ 80.000,00) e para alienações, nos casos
previstos na Lei, desde que não se refiram a parcelas de um mesmo serviço, compra ou
alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez.
• Os dois primeiros incisos do art. 24, da Lei 8.666/1993 trazem, em resumo, o seguinte
comando: se a despesa for para obras e serviços de engenharia, está dispensado de
licitar se a contratação for de até R$ 15.000,00. Para compras ou outros serviços que
não de engenharia, o valor cai para R$ 8.000,00.
Vamos recordar mais uma vez: para o TCU, fracionar a despesa é uma ilegalidade.
Realize planejamento de compras a fim de que possam ser feitas aquisições de produtos de
mesma natureza de uma só vez, pela modalidade de licitação compatível com a estimativa da
totalidade do valor a ser adquirido, abstendo-se de utilizar, nesses casos, o art. 24, inciso II,
da Lei no 8.666/1993 para justificar a dispensa de licitação, por se caracterizar fracionamento
de despesa. (Acórdão 367/2010 Segunda Câmara)
Além desses dois incisos, temos mais outros 31, que tratam de casos específicos em que a
Lei 8.666/1993 autoriza a contratação direta.
Ressalva importante
O pregão é a modalidade de licitação que não tem no critério de escolha o aspecto quan-
titativo e sim o critério qualitativo (lembra que falamos disso na aula passada?). Ou seja, para a
sua escolha, não se verifica valores limites de contratação (quantitativo), mas se o serviço ou bem
é comum (critério qualitativo). Mas isso é assunto para Unidade 5.
Os dois primeiros incisos mencionados acima (incisos I e II do art. 24, da Lei 8.666/1993),
são os casos ‘clássicos’ de dispensa pelo valor. É fácil: está dentro do limite, pode. Acima do limi-
te, não pode. Desses, vamos pontuar alguns, que pela natureza, recorrência e possibilidade de
interpretações erradas, merecem um destaque maior.
IMPORTANTE!!
Quando planejar a contratação de um serviço de natureza continuada em que
há a possibilidade de a vigência do contrato ser prorrogada por sucessivos
períodos (até o máximo de 60 meses), deve-se adotar a modalidade de
licitação correspondente ao valor total do contrato, contando com as
prorrogações.
Ou seja, se contratamos um serviço de vigilância, que se enquadra no
conceito de natureza continuada, pelo prazo de 12 meses, com valor
mensal de R$ 25.000,00, e se pretendêssemos prorrogar esse contrato até
o máximo legal permitido, teríamos que licitar (no caso das modalidades da
Lei 8.666/1993) por meio de concorrência.
Observe que, ainda que a contratação anual importasse em um valor de
R$ 300.000,00 (R$ 25.000,00 x 12 meses), dentro, portanto, do limite da
modalidade tomada de preços, o uso da modalidade na licitação seria
impeditivo de utilização da prerrogativa legal de prorrogações sucessivas
até o limite de 60 meses, pois em assim procedendo, ultrapassaria o valor
de R$ 650.000,00, limite para a tomada de preço.
Para pensar!
Se, por um desses lapsos da vida, que quem trabalha com licitações sabe bem como
é, licitássemos a contratação do exemplo acima pela modalidade tomada de preços,
findo o prazo inicial do contrato de 12 meses, por quantos meses poderíamos firmar
o termo aditivo de prorrogação?
Como não faz parte do curso, não é pergunta pontuada, pensem apenas. Deem uma olha-
da no art. 23, inciso II e art. 57, inciso II, da Lei 8.666/1993 e no Acórdão 1.084/207-TCU-Plenário
É exatamente pela falta de planejamento do gestor que o TCU considera como irregular a
contratação direta com fundamento no art. 24, inciso IV, da Lei 8.666/1993, sem que essa emer-
gência não esteja devidamente caracterizada. Ao gestor, não é defeso alegar situação emergen-
cial para que se considere legal a contratação com dispensa de licitação, quando essa situação
de emergência podia ter sido evitada, por meio da ação tempestiva no sentido de evitar a sua
ocorrência. Vejam:
14. Consoante sólida jurisprudência construída nesta Corte de Contas, a exemplo do que
dispõem os Acórdãos 347/1994, 627/1999, 667/2005, 2.387/2007 e 727/2009, todos do
Plenário, além das formalidades previstas no art. 26 da Lei de Licitações, são requisitos neces-
sários à caracterização dos casos de emergência ou de calamidade pública que:
14.4. a imediata efetivação, por meio de contratação com terceiro, de determinadas obras,
serviços ou compras, segundo as especificações e quantitativos tecnicamente apurados,
seja o meio adequado, efetivo e eficiente para afastar o risco iminente detectado. (Acórdão
3.656/2012 Segunda Câmara - Proposta de deliberação)
O excerto do voto condutor desse acórdão é bastante didático e nos ajuda a compreender
melhor a situação.
Em suma, é claro que se tiver uma situação emergencial, a Administração está autorizada a
contratar diretamente, sem licitação, pois não faz sentido o telhado de uma escola estar prestes a
cair, por exemplo, e ter que se aguardar todo o trâmite de uma licitação. No entanto, ainda que
o gestor tenha autorização legal para contratar sem licitação, ele vai ter que demonstrar que a
situação chegou até aquele ponto não por desídia sua, sob pena de ser sancionado. Nesse sen-
tido, ele deve adotar as medidas para a solução do problema, mas não pode passar disso. Não
pode, por exemplo, aproveitar que vai contratar uma construtora e mandar ampliar a escola. A
medida tem que ser suficiente apenas para afastar o perigo da situação emergencial.
Essa limitação de contratar apenas o necessário para afastar o risco iminente não é abso-
luta, e deve-se cotejar com a situação fática. No nosso exemplo acima, se havia o risco de uma
das peças que sustenta o telhado ruir, e caso o restante do telhado estivesse em péssimo estado,
ainda que não indicasse a iminente queda, poder-se-ia pensar em contratar a reforma de todo
o telhado.
Mas veja bem, cada situação deve ser analisada sob a ótica do interesse público, consi-
derando que uma intervenção em uma situação emergencial de forma precária e restrita pode
ensejar maiores prejuízos para a Administração que se apegue em exagero aos limites temporais
das contratações por emergência.
É que o inciso IV ainda fala em prazo de 180 dias para conclusão das obras ou serviços,
para evitar que, sob o fundamento da emergência, se postergue indefinidamente, contratos
de serviços que não tenham passado por licitação, sendo o prazo dado suficiente, segundo o
legislador, ou para resolver a situação emergencial ou para se fazer uma licitação, enquanto se
resolve parte do problema.
E se, ainda assim, mesmo depois do prazo de 180 dias a situação demandar a con-
tinuidade do contrato emergencial?
O gestor pode ter avaliado mal o prazo para a solução do problema (situação emergen-
cial) e não fez uma licitação enquanto afastava os riscos de danos a bens, à saúde ou à vida de
pessoas, ou se o fez, não o concluiu em tempo. Nesse caso, independente de uma eventual re-
primenda ao gestor descumpridor da lei, deve-se firmar novo contrato emergencial ou prorrogar
o prazo?
Quanto a esse último aspecto (prorrogação do prazo máximo), alguns doutrinadores de-
fendem que a situação emergencial deve preponderar sobre a leitura fria da lei. Se para a con-
tratação emergencial inicial a lei autoriza que seja feita sem licitação, pois a situação emergencial
é quem determina a celeridade do procedimento, em não tendo sido afastada essa situação
emergencial, o princípio ou bens a serem protegidos deve prevalecer.
No entanto, ainda que indesejável, a prorrogação não pode ser proibida. Nesse ponto, a lei
deve ser interpretada em termos. A prorrogação poderá ocorrer, dependendo das circuns-
tâncias supervenientes. Embora improvável, poderiam suceder-se duas calamidades em uma
mesma região, de modo que a segunda impedisse a regular execução do contrato firmado
para atender situação emergencial criada pelo evento anterior. (Marçal Justen Filho2)
Não é permitida prorrogação dos contratos respectivos [decorrentes de dispensa por emer-
gência]. Exemplo: contrato firmado por noventa dias, não pode ser prorrogado por mais no-
venta dias, a fim de completar os 180 dias previstos na norma. Deve ser feito novo contrato,
mas não prorrogação.
Atenção!
As contratações por dispensa não dispensam (perdão pelo trocadilho) algumas
formalidades próprias das contratações públicas, a exemplo de justificativa e
compatibilidade do preço com o mercado, razões da escolha do fornecedor,
publicação do aviso na imprensa oficial e, como vimos acima, a caracterização
da situação emergencial ou calamitosa nos casos específicos do inciso IV do art.
24 da Lei 8.666/1993.
O professor Jacoby Fernandes4 ensina que “essa hipótese de dispensa de licitação, tam-
bém cognominada de “licitação deserta ou fracassada”, (...) exige o atendimento de requisitos
sem os quais não poderá ser legitimada a contratação direta. São eles:
• ausência de interessados;
Vamos observar a parte final do inciso: “mantidas, neste caso, todas as condições
preestabelecidas”
4 - FERNANDES, Jorge Ulisses Jacoby. Contratação direta sem licitação. 9. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2012, p. 327
Ora, não podemos lançar um edital ou convite com exigências desmedidas, sob as quais o
mercado não se disponha a contratar com a Administração, vindo a não comparecer à licitação,
tornando-a deserta, e depois, alegando estar amparado no inciso V do art. 24 da Lei 8.666/1993,
contratar diretamente com um particular sem as mesmas exigências rechaçadas pelo mercado.
Se o motivo identificado para o insucesso do chamamento anterior foi a existência de cláusulas
que afastaram possíveis interessados, e sendo reconhecida nelas a desproporcionalidade com o
objeto pretendido a ponto de excluí-las do novo chamamento, há que se expedir novo ato con-
vocatório sem as tais exigências excessivas.
À semelhança do inciso anterior, aqui temos a interação das condições de mercado com o
procedimento prévio a cargo da Administração para suas contratações.
Mas há uma saída para os licitantes (e para a Administração) não perderem a oportunidade
de contratar com o Poder Público.
Você notou que há um procedimento prévio à contratação direta indicado na norma, e que
tem que ser observado antes de declarar a licitação fracassada?
O § 3º, do art. 48, da Lei 8.666/1993, determina que haja uma espécie de segunda chance
para os licitantes corrigirem a inadequação de suas propostas:
Atenção, a concessão de prazo para o refazimento das propostas de preço não é uma
prerrogativa da Administração caso ela pretenda contratar diretamente, sem licitação. Se for
fundamentar a contratação direta no inciso VII, do art. 24 da Lei 8.666/1993, tem que abrir o
prazo e esperar as novas propostas.
A contratação direta, com fundamento no inciso XI, do art. 24 da Lei 8.666/1993, decorre
da necessidade de a Administração dar continuidade a um contrato rescindido, visando a não
sofrer solução de continuidade.
Em verdade, não há uma contratação direta na acepção pura da palavra, já que esse novo
contratado foi submetido a um processo seletivo e as condições da contratação dar-se-ão da
mesma foram que as daquele que teve o contrato rescindido.
Ressalte-se que o licitante não está obrigado a aceitar a contratação, mas se o fizer, repita-
-se, terá que ser nas condições do primeiro colocado.
Alguns cuidados devem ser adotados para se certificar de que, de fato, trata-se da hipóte-
se de contratação direta.
Veja que, se um veículo adquirido pela Administração tem um pneu danificado e se faz
necessária a sua troca, não há motivo para que a compra se dê junto ao fornecedor original, a
concessionária da marca do veículo que fez a venda.
Primeiro porque o pneu não é essencial para a manutenção da garantia do veículo; segun-
do, porque há uma variedade de fornecedores de pneus (ainda que se deva comprar da mesma
marca e especificações dos demais).
5 - JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 15. ed. São Paulo: Dialética, 2012, p. 345.
6 - BRASIL, op. cit. p. 594.
5. INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO
Tribunal de Contas da União
A inviabilidade de competição, a que se refere a lei, contempla tanto as hipóteses nas quais
o fornecedor é exclusivo (inciso I), quanto aquelas em que o contratado é o único que reúne
as condições necessárias à plena satisfação do objeto do contrato (incisos II e III)7.
Vejamos as hipóteses em que a Lei 8.666/1993, nos três incisos do art. 25, atribui como
inexigível a licitação:
7 - MIRANDA, Henrique Savonitti. Licitações e contratos administrativos. 4. ed. Brasília: Senado Federal, 2007, p.111.
Assim, o critério mais lógico é a própria existência ou não de mais de um fornecedor para
o produto ou serviço desejado, tendo a documentação porventura apresentada um papel aces-
sório (mas não menos importante) nessa caracterização.
Então ficamos assim: deparando-nos com uma situação prática em que tenhamos que de-
cidir se cabe ou não o enquadramento da contratação como inexigibilidade de licitação, temos
que ter em conta as diversas possibilidades de demonstração da exclusividade, considerando
variáveis como dimensão territorial, mercado e padronização de produtos.
Uma observação importante consignada pela AGU em uma de suas orientações normativas:
A contratação direta com fundamento na inexigibilidade prevista no art. 25, inciso I, da lei
8.666, de 1993, é restrita aos casos de compras, não podendo abranger serviços.
Passamos agora para o inciso I, do art. 25 da Lei 8.666/1993, que traz a figura do serviço
técnico de natureza singular.
A compreensão do que dispõe o inciso II, do art. 25, da Lei 8.666/1993 requer que se sai-
bamos quais são os serviços técnicos de natureza singular enumerados no art. 13 da mesma lei:
Inicialmente, observe que ministrar aulas não se encontra no rol de serviços técnicos espe-
cializados do art. 13, da Lei 8.666/1993. O que mais se aproxima disso é o inciso VI do dispositivo
(treinamento e aperfeiçoamento de pessoal), mas que com ele não se confunde. Ministrar aula
difere de ministrar treinamento e aperfeiçoamento.
Ademais, ministrar aulas de português para alfabetização de jovens e adultos não se reves-
te de singularidade, a ponto de demandar um notório conhecedor do assunto, já que professores
de português com habilidades básicas da matéria poderiam dar conta da tarefa. Assim, existindo
pluralidade de possíveis candidatos, não há que se falar em inviabilidade de competição.
Por fim, temos o inciso III, do art. 25 da Lei 8.666/1993, que trata da contratação de
artistas.
Como o dispositivo está lá atrás, vamos repeti-lo para você não precisar voltar para ler o
texto:
Quando se lê essa parte do dispositivo de forma apressada, pode levar o intérprete a ima-
ginar logo grandes nomes das artes, conhecidos do grande público. A lembrança recorrente é a
de um grande cantor, cuja manifestação artística alcança grandes massas, arrebatando fãs pelo
Brasil. Essa é a imagem mais evidente de um profissional consagrado.
No entanto, a Lei não qualifica essa consagração, podendo ter alcance nacional, regional
ou local, abrindo um leque expressivamente largo para interpretações elásticas. Não reside aí
problema algum, desde que a contratação seja compatível com essa consagração.
Por ser esse o ‘elemento’ que mais tem gerado interpretações equivocadas, vamos nos
deter um pouco nele.
Os artistas, via de regra, gostam de exercer a sua arte sem a interferência das questões,
digamos, mais mundanas, menos afeitas àqueles que foram dotados de um dom especial e que
o expressa por meios de manifestações artísticas.
Assim é que cantores, por exemplo, têm pessoas encarregadas de, em nome deles, firmar
contratos, receber cachês, vender a imagem, enfim, assumir a condução da carreira enquanto o
artista se dedica apenas ao seu ofício. São conhecidos como ‘agentes’ ou ‘empresários’. E é essa
denominação que a lei dá a esses prepostos dos artistas, o ‘empresário exclusivo’.
Como não há uma definição na própria lei do que venha a ser ‘empresário exclusivo’, a
jurisprudência do TCU se encarregou de clarear a questão, pois, na prática, o que se observava
era a presença de um intermediário na contratação do artista, que se denomina também ‘em-
presário exclusivo’. Vejam:
9.5.1.1. deve ser apresentada cópia do contrato de exclusividade dos artistas com o empre-
sário contratado, registrado em cartório. Deve ser ressaltado que o contrato de exclusividade
difere da autorização que confere exclusividade apenas para os dias correspondentes à apre-
sentação dos artistas e que é restrita à localidade do evento;
9.5.1.2. o contrato deve ser publicado no Diário Oficial da União, no prazo de cinco dias,
previsto no art. 26 da Lei de Licitações e Contratos Administrativos, sob pena de glosa dos
valores envolvidos; (Acórdão 96/2008-TCU-Plenári)o
Esse acórdão foi um marco por delinear claramente a distinção entre o empresário exclusi-
vo, aquele que tem autorização para falar em nome do artista, assinar contratos e passar recibos,
e o intermediário, que atua basicamente para um contratação determinada, obtendo do empre-
sário do artista a exclusividade de uma data certa para a realização do show.
que o contrato firmado entre o artista e o empresário, ou empresa de agenciamento, seja regis-
trado em cartório.
As autorizações emitidas pelas bandas musicais que atuaram no evento (...) não caracterizam
contratos de exclusividade entre os artistas consagrados e o respectivo agenciador perante
o órgão municipal.
Na verdade, tais autorizações apenas conferem à empresa (...) o direito de representar (...)
nas específicas comemorações alusivas ao objeto do convênio. Não se prestam, portanto,
a garantir ao agenciador ampla e irrestrita representação com direito de exclusividade para
todos os eventos em que os artistas sejam convidados.
De acordo com o art. 25, § 2º, da Lei 8.666/1993, tanto na inexigibilidade quanto na
dispensabilidade de licitação, se for comprovado superfaturamento, respondem solidariamente
pelo dano causado à Fazenda Pública o fornecedor ou o prestador de serviços e o agente público
responsável, sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis.
Os seguintes casos deverão ser comunicados, dentro de 3 dias, à autoridade superior para
ratificação e publicação na imprensa oficial, no prazo de 5 dias, como condição para eficácia dos
atos:
• as dispensas relativas à concessão de direito real de uso de imóvel e doação com encargo
(previstas nos §§ 2º e 4º do art. 17);
Além disso, o parágrafo único do art. 26 prevê que o processo formado para a efetivação
dessas situações deve estar instruído, no que couber, com os seguintes elementos:
• justificativa do preço;
• documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens serão alocados.
Ressalte-se desse dispositivo algumas providências importantes e que não devem ser
negligenciadas.
Como vimos antes, quando tratamos das contratações diretas fundamentadas no inciso IV,
do art. 24, da Lei 8.666/1993, para que a situação de emergência possa se motivadora de uma
contratação direta, há que se caracterizar corretamente tal situação, sob pena de se considerar
a contratação ilegal. Isso vale para as dispensas, pois à situação de emergência se aplica tão so-
mente a licitação dispensável.
Para a inexigibilidade (assim como para as dispensas), os dois elementos seguintes são
fundamentais para a demonstração da conformidade legal da contratação.
Vamos pensar que contratação direta, seja por dispensa ou por inexigibilidade, deve ser
encarada como exceção, já que a regra é licitar.
Lembre-se:
Não é porque não estamos licitando que podemos
dispensar alguns procedimentos essenciais que
demonstram a conformidade da contratação com as
normas de execução da despesa pública.
(...)
§ 2º Na hipótese deste artigo e em qualquer dos casos de dispensa, se comprovado super-
faturamento, respondem solidariamente pelo dano causado à Fazenda Pública o fornecedor
ou o prestador de serviços e o agente público responsável, sem prejuízo de outras sanções
legais cabíveis
E mais:
(...)
Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de ob-
servar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:
Por fim, todas as exigências relativas aos futuros pretensos contratados devem se dar de
mesmo modo que se daria se submetessem ao regular processo licitatório
6. PONTO POLÊMICO
Tribunal de Contas da União
A Advocacia Geral da União, ao analisar as disposições dos incisos V e VII, do art. 24, da Lei
8.666/1993, manifestou-se, por meio da Orientação Normativa 12/2009, acerca das hipóteses
de dispensa de licitação fundamentadas nesses dispositivos:
Não se dispensa licitação, com fundamento nos incisos. V e VII do art. 24 da lei nº
8.666, de 1993, caso a licitação fracassada ou deserta tenha sido realizada na modalida-
de convite
Não se obtendo o número legal mínimo de três propostas aptas à seleção, na li-
citação sob a modalidade Convite, impõe-se a repetição do ato, com a convocação de
outros possíveis interessados ressalvados as hipóteses previstas no parágrafo 7º, do art.
22, da Lei nº 8.666/1993.
Prevê a Lei nº 8.666, de 1993, em seu art. 24, inc. V e VII, que o administrador está auto-
rizado a contratar diretamente quanto o certame restar deserto ou fracassado, in verbis:
(...)
(...)
A celeuma, cuja uniformização se propõe por meio do enunciado acima, diz respeito à pos-
sibilidade ou não de aplicação dos dispositivos quando o certame for realizado mediante
convite. Não existe expressa vedação legal para a utilização de referidos dispositivos nas
licitações na modalidade convite. Não obstante, do conjunto de normas postas sobre os
institutos citados, a melhor interpretação não a recomenda, vez que, como é cediço, em tal
modalidade de licitação é a própria Administração que escolhe a quem endereçará a carta-
-convite. Assim, em homenagem aos princípios da impessoalidade e da isonomia, quando
utilizada a modalidade de convite, não se aplica a contratação direta em questão.
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 15. ed. São
Paulo: Dialética, 2012, p. 345.
FERNANDES, Jorge Ulisses Jacoby. Contratação direta sem licitação. 9. ed. Belo Horizonte:
Fórum, 2012, p. 327.