Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
RESUMO:
O estudo das espécies coesivas tem como objetivo buscar e evidenciar as relações semânticas
existentes no processo de sequencialização de idéias para a criação do texto. Partindo da utilização de teorias
clássicas dentro do ramo da Linguística como a de Halliday e Hasan, o trabalho também focará uma visão mais
recente estudada por Koch e outros autores igualmente renomados e no que suas fundamentações assemelham-
se e/ou diferenciam-se. A partir daí, será feita uma análise das relações existentes entre coesão e coerência
quanto à necessidade, ou não, desses recursos textuais, enquanto condição necessária, ou suficiente, para que
um texto seja 'um texto'.
Introdução
constituirem fenômenos distintos, a coerência textual também será tratada nesse estudo no
constituição do texto e, em seguida, dos recursos utilizados para criar esse "elo" existente
entre suas partes. Através da análise desses aspectos linguísticos, será levantado o
Visto como "a unidade básica de manifestação da linguagem" (KOCH, 1993), o texto
passa a ser muito mais do que um conjunto de frases isoladas. Pelo contrário, cria-se um laço
de dependência entre suas partes que possibilita a retomada de elementos já citados que
contribuem para o seu entendimento. Como aponta Mira Mateus et al (2004), os textos "são
produtos coesos internamente e coerentes com o mundo relativamente ao qual devem ser
lembramos que a comunicação entre seres humanos ocorre principalmete através da fala e da
1
graduanda do sexto período do curso de Letras do CES/JF – thaisizidoro@yahoo.com.br
1
Originária do latim texere (construir, tecer), a palavra texto já nos remetia um sentido
de entrelaçamento. A mesma tinha como particípio a palavra textu que também era utilizada
como substantivo, e assim significava maneira de tecer, ou coisa tecida, e mais tarde
"(...) cremos que um texto se estrutura de maneira semelhante à que ocorre com o
tecido: fios que se entrelaçam de maneira não-fortuita, com um propósito definido,
com uma lógica interna, de sorte que, por exemplo, em função da natureza do fio,
seja possível prever a qualidade do tecido. Um tecido típico, enfim, não poderá ser o
mesmo que um fio – com este ele não se poderá confundir – pois um tecido deverá
ter o entrelace de fios e deverá ter comprimento e largura (sem isso não terá razão de
ser, pois um tecido terá outros objetivos: vestir, estofar, etc). Dessa forma, queremos
propor aqui que um texto, assim como um tecido, deverá apresentar entrelace,
densidade e extensão." (2005, p.10)
Entretanto, ao contrário do que defende Paulo Rosa em sua tese, acredita-se ser
possível haver um 'entrelaçamento' de idéias sem que para isso haja um 'entrelaçamento' de
palavras; assunto que será discutido mais adiante. Além disso, vale ressaltar que o uso de
alguns textos integrais e parcias de cunho meramente ilustrativo serão feitos. Tomando
emprestado as palavras de Paulo Rosa mais uma vez, "sendo um trabalho que tem como
2. Fundamentação Teórica
nos critérios de análise de alguns fatores linguísticos. Como Koch relembra, a gramática do
gramáticas de frase – já que um texto não é simplesmente uma sequência de frases isoladas,
mas uma unidade linguística com propriedades estruturais específicas" (1993, p. 11). A
Linguística Textual surgida a partir da década de 1960 considera que o uso da língua se dá em
2
texto não é sua extensão, mas o fato de ele ser 'uma unidade de linguagem em uso'
(HALLIDAY & HASAN apud COSTA VAL, 1999, p. 3). Por esse mesmo motivo, um texto
pode ser constituído por uma única palavra, uma frase ou um conjunto de frases. Entre suas
várias vertentes, diversos autores destacam Beaugrande & Dressler por estabelecerem
padrões de textualidade; Charolles que dedica-se aos problemas de ordem textual; e Van Dijk
cujo trabalho volta-se mais para o estudo das macroestuturas textuais (Koch, 1993; Fávero,
2000; Mira Mateus et al, 2004; Costa Val, 1999; Witzel, 2001).
Beaugrande & Dressler (apud KOCH, 1993) apresentam um grupo de sete fatores que
estabelecem a textualidade. Entre esses elementos, serão destacados aqui a coesão textual e a
Não seria possível fazer um estudo sobre a coesão textual sem começar por Halliday e
Hasan (1976). Nessa obra os autores apresentam o conceito de coesão textual como um
que o definem como tal. Segundo eles, citados por Koch (1993), "a coesão ocorre quando a
sentido de que não pode ser efetivamente decodificado a não ser por recurso ao outro". Koch
denomina a coesão como "o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos
formais que estão na estrutura superficial da seqüência lingüística" (2005). Como parte do
sistema da língua, expressa-se através dos três níveis linguísticos: semântico, lexicogramatical
3
Hasan consideram a existência de cinco mecanismos de coesão, a saber: referência,
substituição, elipse, conjunção e coesão lexical. Essas categorias de coesão podem ser
ser situacional ou exofórica e textual ou endofórica. Para esses autores, a coesão textual ou
endofórica pode ser: anafórica – quando o signo de referência retoma um signo já expresso no
texto; ou catafórica, quando o signo de referência antecipa um signo ainda não expresso no
texto. Ainda, eles propõem três tipos de referência – a substituição, elipse e conjunção ou por
coesão lexical. Apesar de Fávero (2000) citar em sua obra uma outra proposta de classificação
da coesão, apresentada juntamente com Koch em 1985, aqui será adotada aquela em que a
Entre as críticas quanto à tipologia dos renomados autores Halliday e Hasan, a mais divulgada
é a da autora, onde ela trata dos problemas da fluidez dos limites entre referência, substituição
e elipse.
conjunto de recursos coesivos que inclui, por exemplo, a conjunção e a recorrência de tempos
verbais. Koch (1993) denomina coesão referencial como "aquela em que um componente da
superfície do texto faz remissão a outro(s) elemento(s) do universo textual" (p.30). O primeiro
4
fornecem ao leitor/ouvinte qualquer instrução de sentido (ex.: concordância de gênero e
número) e podem ser presas ou livres. As formas não-referenciais presas são as que
numerais cardinais e ordinais, quando acompanhados dos nomes, além dos pronomes de
função pronominal propriamente dita, bem como os advérbios pronominais do tipo lá, aí,
concordância e também instruções de sentido. Para Koch, se poderiam enquadrar nesse grupo
os sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos etc quando fazem remissão a outros referentes
textuais.
compreende "os procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem, entre
textuais), diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas, à medida que se faz o texto
Nesse caso, há uma interdependência entre as partes do texto, de modo que cada uma torna-se
5
lexicais diferentes); de conteúdos semânticos (paráfrase – um mesmo conteúdo semântico
apresentado sob formas estruturais diferentes) geralmente utilizando palavras como isto é, ou
seja, quer dizer etc; de recursos fonológicos (segmentais e/ou supra-segmentais) e de tempo e
progressão temática – linear; com um tema constante; com um tema derivado; por
justaposição ou conexão.
que dão conta da estrutura da sequência superficial do texto numa espécie de semântica da
sintaxe textual" (apud KOCH, 1993), permitindo dessa forma estabelecer relações de sentido,
o autor defende o fato de que a coesão não é condição necessária, nem suficiente para a
criação do texto. Ao contrário disso, existem textos destituídos de recursos coesivos mas em
que "a continuidade se dá ao nível do sentido e não ao nível das relações entre os constituintes
linguísticos". Isso realmente pode ser comprovado em várias obras. A seguir, o exemplo dado
por Irandé Antunes em sua obra Lutar com palavras, citado por Marcuschi em sua resenha
"Seria esse texto incoerente? É possível descobrir nele alguma ponta de sentido?
Melhor dizendo, é possível recuperar alguma unidade de sentido ou de intenção?
Serve para ‘dizer’ alguma coisa? Se serve, como encarar o fato de as palavras
6
estarem numa arrumação linear que resulta sem sentido? A porta sobe? A gente
fecha a escada? A gente tira as orações e recita os sapatos? A gente desliga a cama e
se deita na luz?"
Apesar da autora nos mostrar que o texto tem tudo pra não dizer nada, ela nos remete
ao fato já comentado de nosssas experiências de mundo sociais, culturais e cognitivas
permitirem o entendimento desse poema e, dessa maneira, fazer com que ele se torne
coerente. Como ela mesmo retrata, "esse texto é coerente não porque, simplesmente, é um
texto poético. Ele é coerente porque se pode, por uma via qualquer, recuperar uma unidade de
sentido, uma unidade de intenção" (apud MARCUSCHI, 2006, p.4). Daí a distinção entre
coesão e coerência. Embora seus conceitos possam estar entrelaçados, a coerência diz respeito
ao modo como os componentes do universo textual são mutuamente acessíveis e relevantes
entre si, entrando numa configuração veiculadora de sentidos (BEAUGRANDE &
DRESSLER apud KOCH, 1993). Como a própia autora explica adiante, "a coerência,
responsável pela continuidade de sentidos no texto, não se apresenta, pois, como mero traço
dos textos, mas como o resultado de uma complexa rede de fatores de ordem linguística,
∗
cognitiva e interacional " (p.19) Um outro exemplo que poderia comprovar isso seria o citado
por Costa Val: "Maria teve uma indigestão embora o relógio estivesse estragado" (1999,
p.13). Como ela mesmo explica, uma informação 'aparentemente absurda' faria sentido para
quem soubesse que Maria sofria de problemas gástricos de fundo nervoso e que passava mal
sempre que comia tensa, preocupada como horário.
Sendo assim, pode concluir que o que torna um texto coerente ou incoerente para o
leitor está diretamente ligado à uma situação específica de comunicação, estando aí
incorporadas suas experiências cotidianas e seu conhecimento de mundo. Negar essa
construção de sentidos é ignorar o que diz Baktin sobre cada palavra do texto conduzir para
fora de seus limites, pois toda compreensão representa a confrontação de um texto com outros
textos constituindo o caráter dialógico dessa confrontação (apud MELO, ?)
Embora seja possível haver coerência em textos destituídos de elementos coesivos
como visto acima, deve-se ressaltar que a existência dos mesmos os conferem maior
legibilidade, ao ponto que falhas nos sequenciamentos coesivos possam gerar falhas na
coerência. O emprego de pois num enunciado como "Fui dormir tarde, pois estava muito
cansada" instaura incoerência pois o elo coesivo pois (sob as condições sociais consideradas)
não expressa a relação desejada como em "Fui dormir tarde, apesar de estar muito cansada"
ou ainda "Fui dormir cedo, pois estava muito cansada".
sublinhados próprios, não da autora.
7
3. Conclusão
Após muitas reflexões e leituras feitas para a concretização do presente trabalho, pode-
se afirmar a extrema importância da obra de Halliday & Hasan para o desenvolvimento de
estudos sobre a coesão textual. Essa obra não somente foi citada por todos os autores aqui
estudados, como também serviu de base para suas idéias. São muitos os estudos a respeito
desse tema e o que observou-se foi uma grande variedade de termos e classificações para o
mesmo. Apesar disso, há um consenso quanto ao que pode-se definir como coesão e
coerência, assim como seus papéis na constituição da textualidade.
Através da análise das relações existentes no processo da formação textual, pôde-se
constatar que a coerência se estabelece na dependência de uma série de fatores, sendo ela uma
característica que não está inerente ao texto e sim que pode ser percebida através da interação
do produtor do texto e seu receptor. Além disso, busca-se a coerência através da união da
linguagem verbal com a não-verbal, de modo que os elementos linguísticos utilizados em um
texto muitas vezes dependem de fatores extralinguísticos para que se estabeleça a
compreensão, pois o contexto também dá sentido às palavras. Por esse mesmo motivo, não é
dificil perceber que embora o significado de um vocábulo permaneça estável, é possível fazer
interpretações diferentes dependendo do contexto em que ele é empregado.
Observou-se também que, apesar de sua importância para o estabelecimento de
sentido, a coesão textual não mostra-se indispensável (como defenderam Halliday & Hasan),
nem suficiente para a criação de um texto. A coesão aumenta a legibilidade, pois diz respeito
às articulações existentes entre as palavras, frases, orações, parágrafos e até partes maiores de
um texto que lhe conferem conexão sequencial, mas nem sempre estabelecem coerência.
Além disso, podem gerar falhas de interpretação se usados inadequadamente.
Como diz Irandé Antunes, "escrever é, como falar, uma atividade de interação, de
intercâmbio verbal" e que não há sentido em escrever quando não se está procurando "agir
com o outro", onde o que realmente vale é o desenvolvimento das idéias, a contextualização e
não as regras de concordância verbal ou nominal". Se foi possível passar essa idéia através
desse estudo, a sua proposta foi cumprida.
8
Referências Bibliográficas
ANGOTTI, Mary Lourdes de Oliveira. Coesão referencial nos textos de bulas. Saúde toda
vida. Disponível em: <http://www.saudetodavida.com/arquivos/artigo_travaglia.pdf>.
Acesso em: 21 ago. 2009.
CHAGAS, C.E. Cognição e texto: a coesão e a coerência textuais. Ciências & Cognição,
v.12, ano 4. Disponível em: <http://www.cienciaecognicao.org>. Acesso em: 7 nov. 2009.
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 9 ed. São Paulo: Ática, 2000.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 6 ed. São Paulo: Contexto, 1993.
_________. O texto e a construção dos sentidos. 8 ed. São Paulo: Contexto, 2005.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Tudo o que você queria saber sobre como construir um bom
texto sem se estressar. Resenha do livro "Lutar com palavras: coesão e coerência", de Irandé
Antunes. Revista virtual de estudos de linguagem, v. 4, n. 6, mar. 2006. Disponível em:
<http://www.revel.inf.br>. Acesso em: 10 set. 2009.
MELO, Marise de Cássia Soares de. Há alegria no saber: um estudo sobre a coesão e a
coerência na promoção da comicidade nas histórias em quadrinhos. Disponível em:
<http://www.filologia.org.br/ixfelin/trabalhos/pdf/39.pdf>. Acesso em: 10 set. 2009.
MIRA MATEUS, Maria Helena et al. Gramática da língua portuguesa. 6 ed. Coimbra:
Editorial Caminho, 2004.
ROSA, Paulo Cesar Costa da. Aspectos da progressão e da coesão textual. Tese (Doutorado
em Letras Vernáculas). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, 2005.
Disponível em: <http://www.letras.ufrj.br/posverna/doutorado/RosaPCC.pdf>. Acesso em 21
ago. 2009.