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VALDEÓN BARUQUE, JULIO. La valoración Historica de La Edad Media: entre El mito y la realidad. In:
Memoria, Mito y Realidad en la Historia Medieval. XIII Semana de Estudios Medievales Nájera 2002.
Logroño: Instituto de Estudios Riojanos, 2003. P. 311-329 (trad. Livre feita por Adailson José Rui)
filólogos e o mesmo na Itália que em outros países europeus, a onde haviam chegado as
correntes do humanismo. Entre os nomes mais significativos que aludem ao citado
conceito cabe recordar a Joaquim de Wat (1501), Juan de Heerwaguen (1532), Marco
Welser (1575) o Adriano Junius (1575). Essa mesma tônica continuou ao longo do
século XVII: Consius (1601),Goldats (1604), Vosius (1662), etc. De todo modo na
segunda metade desse século foram concluídas algumas interessantes precisões a
propósito do conceito que nos ocupa. Assim, por exemplo, Jorge Horn, em sua obra
intitulada “Arca Noé”, datada de 1665, denomina “médium aevum” ao período
compreendido entre os anos 300 e 1500, o que significava fixar uma cronologia
específica de dita etapa. Apenas uns anos depois Du Cange, em seu célebre “Glosario”,
que data do ano 1678, falava da “mediae et infimae latinitatis”. Porém, sem dúvida a
obra de maior expressão, pelo que a fixação do conceito de Idade Média se trata, foi a
do alemão Cristovão Keller, professor da universidade de Halle, intitulada “Historia
medii aevi a temporibus Constantini Magni ad Constantinopolim a Turcis captam” e
cuja aparição ocorreu no ano de 1688. Keller começava a Idade Média em tempos do
imperador Constantino e a dava por concluída no momento em que os turcos
conquistaram a cidade de Constantinópla, a capital do Império Bizantino.
Existia na Europa de finais do século XVII, portanto, um conceito de Idade
Média, o qual se projetava sobre um amplo período da história, se não do conjunto da
humanidade ao menos do velho continente e de seu entorno imediato. Pois bem, nem o
século XVI nem o XVII despertou o menor interesse por esses tempos situados, como
uma etapa intermediaria, entre a portentosa Antiguidade Clássica e a época do
Renascimento. E mais, existia um certo desprezo por esses séculos, nos quais a
característica dominante, assim se pensava então, havia sido o paulatino esquecimento
da rica e fecunda tradição Greco-latina. Não se produziu nessa larga etapa, conhecida
um tanto depreciativamente como “Idade Média”, primeiro uma adulteração e logo um
lamentável esquecimento da bela língua na qual se haviam expressado autores tão
significativos como Horácio e Cícero? Porém, não só se olhava negativamente aos
tempos medievais desde o ponto de vista filológico. O movimento religioso iniciado na
Alemanha com as pregações de Martinho Lutero anunciavam a imperiosa necessidade
de voltar ao cristianismo primitivo, abandonando, obviamente, a tradição dos séculos
medievais nos quais, segundo a perspectiva, a Igreja exerceu um domínio a tirânico
sobre o conjunto dos fiéis. Em definitiva, havia duas idades gloriosas na história da
humanidade, o mundo antigo, por uma parte, e a fase iniciada com o Renascimento, por
outra. Entre ambas etapas a vida humana transcorreu, lamentavelmente, em meio a uma
tremenda obscuridade. Assim, foi a Idade Média, tempo considerado de simples
transito, as vezes de barbárie e de ignorância, o que explica o profundíssimo desdém
que existia por ela. O medieval equivalia, por tanto, a mediocridade, atraso e arcaísmo,
ou inclusive, como assinalou agudamente o professor Jacques Herrs, a “uma espécie de
injuria”. O Medievo era algo parecido a uma larga noite de mil anos, a qual se
encontrava situada entre duas épocas de esplendor e de luminosidade, a antiguidade e o
Renascimento.
O descrédito de que gozava a Idade Média no transcurso dos séculos XVI e
XVII, todavia, não evitou, nem muito menos, a existência de alguns destacados
estudiosos dos tempos medievais, os quais, justo é destacar, constituem um marco
muito importante no desenvolvimento da historiografia sobre aquele período. Logo
desde final do século XVI se estavam reunindo importantes materiais da época
medieval, entre os que se devem mencionar os “Annales ecclesiatici” de Cesar
Baronius, e obras de autores como Duchesne, Ughelli ou Baluze. Não obstante, a
atividade que ao longo deixou maior proveito foi a que protagonizaram os beneditinos
de Saint-Maur e o grupo jesuíta dos bolandistas. A discussão mantida por ambos grupos
a propósito do valor das fontes relativas a Igreja cristã medieval derivou, nem mais nem
menos, na gestação de um método crítico para a análise dos documentos do passado, ou
o que dá no mesmo no nascimento da disciplina que conhecemos com o nome de
Diplomática. Pelo que se refere a contribuição dos eruditos espanhóis desses séculos
cabe recordar a obra de Moret sobre o reino de Navarra, que data do século XVII e,
sobretudo os importantíssimos “Anales da Coroa de Aragão” de Jerónimo Zurita,
elaborados no transcurso do século XVI.
Não obstante, foi no século XVIII quando a imagem da Idade Média alcançou,
sem dúvida alguma, o nível mais retrógrado que se pode imaginar. O século
denominado das luzes, também chamado de Iluminismo, pregava, com muita ênfase, o
racionalismo, ao tempo que defendia a idéia do progresso imparável da espécie humana.
Essas idéias abriram caminho, ao menos assim pensavam os intelectuais que tomaram a
dianteira naquele século, uma vez enterrada definitivamente a tenebrosa etapa da Idade
Média. O Medievo, para os iluministas, havia sido uma etapa caracterizada antes de
tudo pela barbárie, pelo obscurantismo e pela superstição, porém também pelo
predomínio de características tão negativas como o imobilismo, a paralisia a
irracionalidade. E o que dizer do clero daqueles tempos, caracterizado, segundo a
opinião dos iluministas, pela depravação e a libertinagem? Como escreveu, sem duvida
acertadamente, o professor Santiago Montero Díaz “O Iluminismo foi cego para os
valores especificamente medievais”. Recordemos, a este respeito, o que escreveu o
destacado enciclopedista francês Voltaire a propósito dos séculos medievais: “Quando o
Império romano foi destruído pelos bárbaros, se formaram muitas línguas com os
despojos do latim, como se elevaram muitos reinos sobre as ruínas de Roma. Os
conquistadores levaram por todo o Ocidente sua ignorância e sua barbárie. Todas as
artes pereceram: até oitocentos anos depois não começaram a renascer. O que
desgraçadamente nos resta da arquitetura e da escultura daqueles tempos é um grotesco
conjunto de grosserias e de bugigangas. O pouco que escreviam era do mesmo mal
gosto. Os monges conservaram a língua latina para corromper-la ...”. Dificilmente
podemos fazer uma síntese mais ferozmente negativa do que significou o mundo
medieval. O único que se aceitava, em certo modo, daqueles funestos tempos era a
presença neles de alunos precursores da modernidade, caso, por exemplo, dos escritores
italianos da Baixa Idade Média Dante, Petrarca e Bocaccio.
Sem dúvida alguma contribuiu notavelmente a enegrecer ainda mais a imagem
dos séculos medievais a visão que no século XVIII elaborou a propósito da denominada
sociedade feudal. Cabia imaginar um despotismo mais atroz que o desenvolvimento
pelos grandes senhores (magnates) nobiliários da Idade Média, aos que se
apresentavam, por surpreender que possam parecer os termos, nada menos que como
“senhores de garfo e faca”? No extremo contrário quais perspectivas eram oferecidas
para os pobres e ingênuos camponeses do Medievo, que eram sem dúvida a imensa
maioria da população, convertidos em geral em humildes “servos da gleba”, o que de
fato apenas os diferenciava dos escravos da Antiguidade? Assim pois a Idade Média
alcançou as cotas mais altas da história da humanidade no que se refere ao exercício da
mais brutal tirania por parte daqueles que controlavam o poder econômico e o político,
isto é , dos grandes senhores feudais. Ao menos essa era a opinião prevalente nos
círculos intelectuais dominantes da Europa ocidental daquele tempo. Precisamente a
revolução francesa de finais do século XVIII ia por fim, graças ás medidas tomadas em
seu momento, a pesada e dura herança legada pelos tempos medievais. Assim, as coisas
eram de toda maneira inimagináveis que os grandes pensadores do século das luzes
pudessem espreitar o menor signo positivo na época medieval.
Do apresentado, podemos concluir como pôs de manifesto atinadamente em seu
dia o professor Santiago Montero Díaz, em sua valiosa e sugestiva obra intitulada
“Introdução ao estudo da Idade Média”, que no período compreendido entre os séculos
XVI e XVIII “não havia inteligência histórica na Idade Média”. A etapa intermediária
entre os tempos da Antiguidade Clássica e os da eclosão do Renascimento resultava de
todo ponto incompreendida, o que explica que a considerava algo parecido a uma
lixeira. Na Europa de finais do século XVIII, portanto, poderia dizer, citando o
professor Jacques Herrs, o seguinte: “o medieval dá vergonha, é detestável; e o ‘feudal’,
seu cartão de visita para muitos, é, todavia, mais indignante”.
De qualquer forma o apresentado não foi impedimento, nem muito menos para
que no século chamado das luzes se desenvolverá prosseguindo o trabalho iniciado nos
anteriores séculos,uma interessante atividade de recolhimento de materiais procedentes
daquele supostamente nefasto período, quer dizer, da Idade Média. Certamente esse
trabalho o levaram ao fim alguns eruditos isolados, os quais, de forma geral, eram
desprezados em seu tempo. Mais posteriormente essa atividade resultou, justo é
indicar-lo, de grande proveito, ao menos desde a perspectiva da investigação histórica
daquele período. Quiça o trabalho de maior envergadura de quantos apreciaram naquele
tempo foi o que realizou o italiano Muratori com o título de “Rerum italicarum
scriptores”. Muratori sustentava a idéia de que o Medievo não havia sido um período
de trevas, senão pelo contrário, a época na que se colocaram os cimentos da construção
da Europa. Escusado será dizer que essas opiniões resultaram totalmente
incompreendidas na Europa do Iluminismo. Quase pela mesma época o erudito inglês
Rymer colocava em marcha sua impressionante coleção de documentos medievais, os
famosos “Foedera, conventiones, litteras et cuiscumque generis acta publica”,
publicados em Londres entre os anos de 1739 e 1745. Enquanto na França, aparte da
obra empreendida pelos beneditinos, entre os que sobressaia Dom Toustain, temos que
destacar a atividade implantada pela recentemente constituída “Académie des
Inscriptions et Belles Lettres”, que publicou numerosas fontes da Idade Média. Pelo
que se refere a Espanha é preciso consignar, como obras mais significativas, a
interessante e volumosa obra do padre Florez, “Esapaña Sagrada”, na que se recolhe
um abundante material da época medieval, as “Antiguidades de Espanha”, de Berganza,
ou os Bularios das Ordens Militares.
3. O Romantismo e a mitificação do medievo
7. Medievalismo e futurismo
Após as reflexões que temos feito nas páginas anteriores, realizadas após
conclusão de uma viagem breve e a partir do Renascimento até nossos dias, a que
conclusões podemos chegar? Em verdade, graças ao espetacular progresso
experimentado no transcurso dos séculos XIX e XX pelos distintos ramos da
investigação histórica, hoje, sem dúvida alguma, conhecemos com bastante riqueza de
detalhes, e inclusive com certa profundidade, o que em verdade significou a Idade
Média, muito melhor que na época em que surgiu esse discutível conceito. Porém, quem
sabe nos interesse mais ter em conta a imagem que , a nível popular, existe em nossos
dias daqueles longíncuos séculos que denominamos medievais.
Certamente, antes o dissemos, esses séculos ofereceram uma cara bifronte, o que
significa que em determinadas ocasiões sejam motivos da mais absoluta repulsa, porém
em outros momentos, pelo contrário, resultem sumamente atrativos. Não está na moda,
desde há umas décadas, por mencionar uma atividade que propagada nos meios de
comunicação, as famosas “cenas medievais”? E o que dizer da reprodução da
denominadas feras e mercados medievais, que se organizavam com suma freqüência
pelas mais variadas regiões da pele do toro e com as que se pretende recriar para a
alegria e diversão das pessoas comuns, as formas de vida daqueles tempos? O
Medievo, por outra parte, normalmente surge, por surpreendente que possa parecer, em
atividades encaminhadas a diversão dos jovens de hoje, assim por exemplo em algumas
séries de desenhos animados. Basta com que observamos de vez em quando da
programação da televisão para comprovar como as viagens siderais aparecem as vezes
em um entorno que, ao mesmo tempo, recorda ao mundo dos castelos medievais. Isso
põe de relevo que o mundo medieval, independentemente de que o odiemos ou o
adoremos, está profundamente ancorado na memória coletiva. Tem algum sentido
esquecer esse passado, no que se encontram, nem mais nem menos, nossas próprias
raízes?
Pois bem, se queremos que o sucedido no Medievo, ainda seja só em suas linhas
gerais, esteja presente, por seu significado objetivo e por seu induvidável interesse, na
mente dos cidadãos é preciso que se abandone, como com freqüência ocorre, o
ensinamento da história referida a aqueles séculos. Chegados a este ponto não temos
mais remédio a assinalar que a história medieval ensinada a nossos escolares, nas
últimas décadas se encontra, nestes começos do século XXI, sob mínimos. Esperamos
não obstante, que as últimas reformas educativas, particularmente no que se refere ao
“curriculum” das disciplinas de história, permitam uma melhora. Uma coisa é que na
disciplina da história que hoje, por sorte, cursam todos os jovens espanhóis até os
dezesseis anos, se coloque mais ênfase no acontecido nos últimos tempos, o que se
chama a “história do tempo presente”, e outra coisa muito diferente que apague comum
golpe de caneta o passado. A história da humanidade tem que partir de suas origens, e
efetuar um recorrido, sintético através das distintas fases pelas que passou, seguindo,
logicamente, a ordem temporal. Nesse recorrido é indispensável fixar a atenção nos
marcos mais representativos da evolução no tempo das sociedades humanas. Dessa
maneira é possível chegar a adquirir um sentido global da perspectiva histórica. Uma
parte essencial desse recorrido, ou mesmo para conhecer o que é hoje em dia a Europa
que o que é Espanha, tem que se efetuar através dos séculos medievais, nos quais, antes
colocamos de relevo, se encontram boa parte das origens de nossa realidade atual. E
que conste que não pretendemos com ela, nem muito menos, mitificar o Medievo, nem
menos ainda atuar no plano corporativo como professores da área da História Medieval
que defendem seu campo peculiar de conhecimento. O que pretendemos é,
simplesmente, ser o mais fiel possível a realidade histórica do que esses séculos nos
aportaram.