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Artigo de Revisão

“Crack Babies”: Uma Revisão Sistemática


dos Efeitos Em Recém-Nascidos e em
Crianças do Uso do Crack Durante a
Gestação.
Crack Babies: Systematic Review of Effects
In Newborns and Children In The Use of
Crack During Pregnancy
Júlio César Garcia de Alencar1
Resumo Carlos Augusto Alencar Junior2
Aline de Moura Brasil Matos3
Objetivo: Esse estudo tem como objetivo realizar uma revisão sistemática sobre as prin- 1 Acadêmico de Medicina (Acadêmico
cipais consequenciais neonatais e em crianças do uso do crack durante gestação. Fontes de Medicina)
dos dados: Foi realizada uma revisão sistemática utilizando banco de dados eletrônicos 2 Doutor em Medicina (Obstetrícia) pela
(MEDLINE). Critérios de inclusão foram estudos com análise dos efeitos neonatais e em Universidade Federal de São Paulo
(Professor da Universidade Federal do
crianças do uso do crack e de outros derivados da cocaína durante a gestação. Síntese
Ceará)
dos dados: Nascem anualmente cerca de 375.000 recém-nascidos de mães viciadas em 3 Acadêmica de Medicina (Acadêmica
cocaína nos Estados Unidos. No Brasil, um estudo sobre o perfil dos usuários de crack, em de Medicina da Universidade Federal
2008, mostrou um aumento do número de crianças intoxicadas pela droga durante a gravi- do Ceará)
dez. Os problemas neonatais relacionados ao crack são: asfixia, prematuridade, baixo peso
e alterações do comportamento. O vínculo mãe-filho costuma ser afetado. A síndrome de Endereço para corespondência
Universidade Federal do Ceará
abstinência à droga pode ocorrer. Os recém-nascidos podem apresentar manifestações em
Mozart Pinheiro de Lucena 2464. Antônio
vários sistemas do organismo, como choro estridente característico e convulsões. Dificuldade Bezerra - Fortaleza - CE CEP: 60353-020.
de sucção, diarréia, vômitos, febre, tremores, sudorese excessiva e palidez são frequentemente
encontrados. Conclusões: Suspeição e detecção dos sintomas relacionados a drogas no
período neonatal podem ser difíceis, mas, com aumento da incidência de usuárias de crack
durante a gestação, observação rigorosa é importante para o diagnóstico de alterações
neonatais, bem como dos sintomas de abstinência à droga. Os problemas não devem ser
desprezados pela possibilidade de acarretar prejuízos irreparáveis na qualidade de vida da
criança, como dificuldade de aprendizagem por problemas na linguagem, no raciocínio, na
compreensão verbal e na memória.

Palavras-chave: Cocaína Crack, Gestação, Neonatos, Crianças

Objective: This review aims to conduct a meta-analysis on the consequences in neonatal


and children about use of crack during pregnancy. Sources: We conducted a systematic
review using electronic databases (MEDLINE). Inclusion criteria were studies with analysis
of effects on neonatal and children›s use of crack and other derivatives of cocaine during

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pregnancy. Summary: About 375000 children are born each year of mothers addicted to
cocaine in the United States. In Brazil, a study on the profile of crack users in 2008 showed
an increase in the number of children poisoned by drugs during pregnancy. The neonatal
problems related to crack or cocaine are fetal distress, asphyxia, prematurity, low birth weight,
and changes in behavior.The mother-child bond is often affected.The withdrawal syndrome
can occur to the drug. Newborns may present manifestations in various organ systems, as
the shrill cry characteristic and seizures. Poor sucking, diarrhea, vomiting, fever, chills, exces-
sive sweating and pallor are often found. Conclusions: The suspicion and detection of
drug-related symptoms in the neonatal period may always difficult, but with the increased
incidence of crack smokers in the same period of pregnancy, careful observation is important
for the diagnosis of neonatal changes, as well as drug withdrawal symptoms. The problems
should not be discarded, the possibility of cause irreparable harm as a child›s life, including
trouble learning by problems in language, reasoning, verbal comprehension and memory.

Keywords: Crack Cocaine, Pregnancy, Newborn, Children

1. INTRODUÇÃO absorvido pela mucosa do nariz e dos dos cerca de 24% dos casos e a dosa-
As folhas do arbusto da Erythoxilum pulmões. É metabolizado no fígado pela gem urinária só revela cerca de 40% dos
coca já eram mascadas pelos índios dos enzima colinesterase e é eliminado na usuários, pois só indica uso recente. O
altos vales dos Andes, na América pré- urina. O uso da droga produz depen- teste do mecônio, que indica uso desde
colonial, para reduzir a fome e aumentar dência psíquica5. a 20ª semana de gestação, e a pesquisa
a capacidade de trabalho1. Em 1844, a O uso da cocaína tem alta prevalência nos cabelos da criança, que revelam uso
cocaína foi sintetizada na Alemanha sob na população geral e está em ritmo cres- desde a 7ª semana, são mais confiáveis,
a forma de pó branco solúvel, a Benzoil cente, especialmente após introdução porém mais caros5.
metilecgonina (C17H2NO4), base amino- do crack5. Nos Estados Unidos, cerca de A história do crack no Brasil seguiu
-alcoólica semelhante à atropina2. Em dez milhões de pessoas já usaram o crack trajetória semelhante à americana, po-
1914, foi colocada fora da lei nos Esta- ou outros derivados da cocaína, cinco rém com atraso de aproximadamente
dos Unidos, porém, até 1970, a literatu- milhões estão em uso regular e há dois 10 anos em relação ao hemisfério nor-
ra médica a considerava não produtora milhões de dependentes químicos6. Pes- te12. Depois da virada do milênio, vários
de efeitos nocivos3. Até 1980, não era quisas mostram que 7% da população relatos sobre o tema foram produzidos,
reconhecida como capaz de prejudicar geral5; 6,1% dos estudantes universi- denotando preocupação cada vez maior
os recém-nascidos4. Em 1984, surgiu no tários7; oito milhões de mulheres entre dos profissionais da saúde e pesquisado-
Bronx, Estados Unidos (EUA), um de- 15 a 44 anos8; 10% da população geral res com o uso do crack pela população
rivado químico álcali extraído da pasta de gestantes9 e até 40% das gestantes brasileira e suas consequências12. Em
de coca, uma espécie de sabão branco, atendidas em hospitais universitários 2008, foi publicada uma revisão sobre
sob a forma de pedra insolúvel, mas ina- já usaram o crack e outros derivados da o perfil do usuário de crack brasileiro,
lável quando aquecido, ocasião em que cocaína9. Nos Estados Unidos nascem que constatou que 2% dos estudantes
crepita e estala: o “crack”2. Esta droga é anualmente entre 100.0006 a 375.00010 de até 18 anos usaram cocaína pelo me-
mais barata que a cocaína e seis vezes neonatos de mães viciadas em cocaína, nos uma vez e 0,7% já usaram crack13. A
mais forte, produzindo rapidamente aonde também se constatou exame maior parte é jovem, de baixa renda e
sensação de euforia, seguida de de- de urina positivo em 5% das crianças do sexo masculino. Independentemen-
pressão e desejo de repetição do uso2. de um a seis meses de idade em áreas te dos números, o que sensibiliza na ex-
O uso do crack geralmente não é diário urbanas e suburbanas11 . A prevalên- pansão do uso do crack é a velocidade
e costumeiramente é associado a outras cia correta pode ser quatro a seis vezes do deterioro da vida mental, orgânica e
drogas. É mal absorvido no estômago, maior do que as estatísticas apresenta- social do indivíduo. O estudo mostrou
por isso costuma ser fumado, sendo das6, porque nas entrevistas são perdi- ainda um fenômeno importante: o au-

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mento do numero de crianças (crack ba- Nas crianças, a exposição ao cra- tudos caso-controle da exposição à co-
bies) intoxicadas por essa droga durante ck parece estar associada com o que caína foram incluídos. Policonsumo de
a gravidez13. tem sido descrito como decréscimos drogas é comum nesse grupo de pacien-
Os efeitos sobre o feto e recém-nasci- estatisticamente significativos, mas tes e não foi critério de exclusão. Foram
do do uso do crack e da cocaína durante sutis, no comportamento neurológico, excluídos os estudos que relataram po-
a gestação constituem importante tópi- cognitivo e na função da linguagem17. pulações duplicadas e aqueles que não
co de saúde pública, devido à incidência Visando avaliar as consequências do relataram os resultados de interesse. Os
relativamente alta do uso dessa droga uso da cocaína e do crack no feto, no 20 estudos elegíveis foram submetidos
no mundo14. Durante a gravidez, essas recém-nascido e na criança realizamos para análise detalhada pelos autores e
drogas atravessam facilmente a placen- uma revisão sistemática dos artigos pu- compõe essa revisão sistemática.
ta7,15. Além disso, a colinesterase está blicados na literatura nos últimos anos.
fisiologicamente diminuída na gestante 3. REPERCUSSÕES FETAIS DO USO DO
e no feto, aumentando seu período de 2. METODOLOGIA CRACK E DE OUTROS DERIVADOS DA
metabolização16. O crack age no sistema Os critérios de meta-análise do Ob- COCAÍNA NA GESTAÇÃO
nervoso central materno e fetal, inibin- servational Studies in Epidemiology O uso materno da cocaína pode acar-
do a recaptação dos neurotransmissores (MOOSE) foram seguidos para reali- retar, além de abortamento, várias in-
noradrenalina, dopamina e serotonina zação desta revisão sistemática. Foram tercorrências no evolver da gestação,
nos terminais pré-sinápticos7. Esses pesquisados artigos que estudaram a destacando-se hipertensão, taquicardia,
neurotransmissores se acumulam e associação entre o uso de crack e outros hipertermia e descolamento prematuro
persistem por maior tempo junto aos derivados da cocaína durante a gestação de placenta. No feto, a ativação adrenér-
receptadores dos órgãos efetores, le- e as repercussões neonatais, na base de gica causa redução do fluxo placentário
vando a respostas exageradas7,10. Pos- dados MEDLINE. As pesquisas incluí- e acarreta repercussões no crescimento
teriormente, poderá haver depleção dos ram todos os artigos indexados na base e oxigenação fetais. Em virtude disso,
neurotransmissores, principalmente da de 1990 a novembro de 2010. A com- a prematuridade e a restrição do cres-
dopamina16. binação dos seguintes termos foi utili- cimento fetal tornam-se mais frequen-
Volpe, em 1992, já relatava que o uso zada na busca de artigos: crack, cocaine, tes8. A isquemia e a anóxia podem levar
do crack durante a gestação pode desen- pregnancy, children, newborn e small-for- a teratogenia por involução de estrutu-
cadear abortos espontâneos, prematu- -gestational age. ras, geralmente no 3º trimestre, quando
ridade, restrição do crescimento fetal e Inicialmente foram selecionados 59 os vasos fetais estão mais capacitados a
outras alterações perinatais. São relata- artigos. Os estudos tiveram que satis- se contrair, podendo ocasionar redução
dos efeitos teratogênicos causados pela fazer os seguintes critérios para serem de membros, enterocolite necrotisante,
cocaína no cérebro em desenvolvimen- incluídos nesta revisão: 1) ser publicado atresia intestinal, enfartes intestinais,
to, afetando a formação e a anatomia, em livro ou jornal com fator de impacto anomalias genitais e urinárias (criptor-
atuando sobre os neurotransmissores, superior a 1,000, 2) ser escrito em por- quidia, hidronefrose, prune belly)8.
simulando ser um neurotransmissor ou tuguês ou em inglês, 3) apresentar os Os efeitos da exposição pré-natal a
modificando a atividade destes, ocasio- dados originais, 4) utilizar pelo menos drogas no desenvolvimento do sistema
nando alterações no crescimento cere- um grupo controle adequado. nervoso central (SNC) são complexos
bral e na sua arquitetura14. Recente- A busca resultou em 35 estudos. Os e modulados pelo ritmo, dose e via de
mente descobriu-se que o papel da pla- artigos selecionados deveriam estudar exposição da droga10. O SNC, sob influ-
centa nesse processo vai além do trans- a exposição humana a qualquer quan- ência do crack e de outros derivados da
porte da droga para o feto. A placenta tidade de crack ou cocaína durante al- cocaína, diretamente ou pela alteração
expressa transportadores de serotonina gum ou todos os trimestres de gravidez, da função dos neurotransmissores, sofre
e noradrenalina no lado materno. Es- como evidenciado pela história de dro- em sua estrutura e funcionamento1. As
ses transportadores são expostos à ação gas, teste de urina materna e neonatal alterações neurológicas mais comu-
inibitória da cocaína e podem elevar a ou teste do mecônio recém-nascido, e mente observadas na exposição intra-
concentração de serotonina e noradre- do relatório de resultados da gravidez -uterina à cocaína são microcefalia,
nalina no espaço interviloso, causando de seu interesse; estudos de coorte pros- agenesia de corpo caloso, agenesia de
contração uterina e vasoconstrição15. pectivos e retrospectivos, bem como es- septo pelúcido, displasia de septo ópti-

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co, esquizencefalia, lisencefalia, paqui- intra-uterino 8,9, têm menos gordura de mães não viciadas, devido à desregu-
giria, heterotipias neuronais e mielo- e menor massa corpórea - em média lação dos centros respiratórios7.
meningocele. Até o momento, não se menos 93g de massa, menos 0,7cm de
sabe exatamente os mecanismos básicos comprimento e perímetro cefálico com 5. REPERCUSSÕES NA CRIANÇA DO USO
destes efeitos teratogênicos, mas pensa- menos 0,43cm16. Há aumento da fre- DO CRACK E DE OUTROS DERIVADOS DA
-se que a hipoxemia, as alterações na quência cardíaca e da pressão arterial. COCAÍNA NA GESTAÇÃO
síntese do ácido desoxirribonucléico e O ecocardiograma pode revelar hiper- A epidemia do uso da cocaína e do
as alterações das monoaminas centrais trofia de ventrículo esquerdo e de septo crack é relativamente recente, por
devam estar envolvidas14. Estudos em intraventricular devido à hipertensão5. conseguinte, os estudos são escassos e os
ratos verificaram que a cocaína leva à Os efeitos no SNC podem persistir testes aplicados para avaliação merecem
diminuição da taxa de ácido homova- além do período fetal, como alteração aperfeiçoamento. É necessário avaliar-
línico no líquor16, principal metabólito dos potenciais evocados e redução na se melhor, e por tempo maior, o estado
da dopamina, havendo redução de fi- atenção e na interação com o ambien- de alerta, de atenção, de controle emo-
bras dopaminérgicas no SNC. Também te7. Alterações no eletroencefalograma cional, as funções neuro-endócrinas, e
em ratos, a cocaína por meio da alte- surgem em 14% dos recém-nascidos8. dos sistemas límbicos, hipotalâmicos e
ração nos neurotransmissores quando As alterações da dopamina e serotonina extrapiramidais dessas crianças14.
associada à anóxia e isquemia, leva à resultam em prejuízos neurocomporta- A exposição pré-natal à cocaína e seus
diminuição da taxa da ornitina descar- mentais no RN, acarretando depressão derivados parece estar associada nas
boxilase em vários setores do cérebro, na capacidade interativa e de resposta crianças com o que tem sido descrito
que é atuante na cadeia de síntese de organizada a estímulos ambientais7,12. como decréscimo estatisticamente sig-
proteínas e da replicação celular, com Febre, redução do sono, irritabilidade, nificativo, mas sutil, no comportamen-
parada de mitoses em neurônios em fase excitação, sudorese, tremores, convul- to neurológico, cognitivo e da lingua-
de rápida dendritização, especialmente sões, vômitos, diarréia, hiperfagia, es- gem17.
no primeiro trimestre da gestação18. coriações na pele e alteração no tempo Com a utilização do método de ava-
Na análise das alterações fetais, en- de emissão e no timbre do choro são liação de Bayley, Soepatmi et al. verifi-
tretanto, deve-se levar em consideração devidos à ação central dos metabolitos caram retardo no desenvolvimento cog-
vários fatores confundidores: os resul- do crack, dopamina e serotonina, consti- nitivo até o 2º ano de vida e dificuldade
tados de modelos animais nem sempre tuindo-se em síndrome de abstinência, na verbalização19. Em pré-escolares o
podem ser aplicados em humanos; as que se inicia no 2º dia. Não é grave nem estudo verificou redução nas notas do
gestantes em estudo podem estar usan- duradoura, e não merece tratamento8. escore de Bayley em testes cognitivos
do mais de uma droga; a pureza da dro- Volpe, 1992, relatou sete crianças com verbais e não verbais, com diminuição
ga varia, assim como a época e frequên- achados neurológicos e oculares anor- da vocalização e da iniciativa19. Con-
cia da tomada; existem, mais frequen- mais, agenesia de corpo caloso, ausên- cluiu-se que essas crianças fazem me-
temente, desnutrição materna e fetal, cia de septo pelúcido, displasia do sep- nos perguntas, são mais agressivas, mais
infecções (como doenças sexualmente to óptico, esquizencefalia, heterotopias deprimidas, tem capacidade de intera-
transmissíveis: AIDS, sífilis, hepatite, neuronais, hipoplasia de nervo ótico gir diminuída e perdem o autocontrole
etc.) e falta de pré-natal. É importan- com cegueira, lesões destrutivas cere- com mais facilidade19.
te a influência de fatores ambientais e brais, prejuízo de migração neuronal, O teste memorial visual de Fanagan,
da medicação obstétrica13. Além disso, disgenesia retiniana, coloboma, destrui- entre 67 e 72 semanas de vida, mos-
a prematuridade, por si própria, é res- ções neuronais em cérebro, diencéfalo e trou baixo desempenho nessas crianças.
ponsável por inúmeros problemas9. pedúnculo. Lesões tais podem ser mais Observou-se diminuição da capacidade
comuns do que se suspeita, porque téc- de fixação visual, que pode resultar em
4. REPERCUSSÕES NEONATAIS DO USO nicas atuais são ainda incompletas e não prejuízos cognitivos1. Não parece haver
DO CRACK E DE OUTROS DERIVADOS DA se examina com frequência os fundo de déficit auditivo importante.
COCAÍNA NA GESTAÇÃO olho dos recém-nascidos14. Em estudo de Richardson et al.16, atre-
Recém-nascidos de usuárias de crack Em 15% dos recém-nascidos de mães lado ao Maternal Health Practices and Chil-
são geralmente prematuros, de baixo viciadas em cocaína houve a morte sú- dren Development Project, realizado em
peso, com restrição de crescimento bita no leito, contra 0,9% em crianças Pittsburg, EUA, foram acompanhadas

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desde a gestação e por um período de a mudanças comportamentais. obter droga, relacionando-se mal com o
10 anos, 228 mães e filhos divididos Accornero4, também em estudo lon- filho, deprimida, paranóide, ansiosa, po-
em um grupo de mães usuárias de cra- gitudinal, parte do Miami Prenatal Cocai- lidrogada, abusada física e sexualmente,
ck ou derivados e um grupo controle. ne Study, com amostra de mais de 400 com moléstias sexualmente transmiti-
As crianças foram avaliadas ao nascer crianças, identificou déficit de aten- das, sem dinheiro para dar alimentação
e com um ano de idade, três, sete e dez ção sustentada em testes realizados ao e cuidados adequados à criança, passan-
anos, e anotado peso, altura, perímetro nascimento, aos cinco anos e aos sete do cocaína ao filho através de seu leite,
cefálico e indagações mais comuns das anos em crianças de Miami, EUA. Os etc14. Em crianças adotadas, cerca de
consultas pediátricas. Não foi observa- indivíduos deste estudo tinham baixa 30% apresentaram déficits, o que vem
da, para estas medidas, qualquer dife- renda e viviam em áreas mais pobres mostrar que o valor do meio ambiente
rença significativa até que as crianças da cidade. Esta amostra foi analisada desfavorável é relativo14.
atingissem sete anos, quando se verifi- ainda quanto à função intelectual 20, A mãe deve ser tratada, aconselha-
cou que as três medidas eram maiores observando-se que não havia dife- da e financiada, e a criança abordada
para crianças não expostas comparadas rença significativa no funcionamento precocemente mediante fisioterapia,
aos “crack babies”. intelectual global de crianças expostas fonoaudiologia, psicologia, educação,
A mesma amostra de Pittsburgh foi e não expostas à cocaína no período com o que, aos três anos de idade, na
investigada em novo estudo quanto à gestacional. Aos sete anos, no entanto, maioria dos casos, tudo poderá estar
relação entre perímetro cefálico, me- foi verificado que as crianças expostas normalizado19.
mória, comportamento e temperamen- tinham três vezes mais chances de se-
to de crianças expostas ao crack e crian- rem identificadas com algum déficit de 6. CONCLUSÃO.
ças não expostas. Identificou-se que o aprendizado quando comparadas às Pode-se concluir que a prevalência do
consumo de crack no primeiro trimestre crianças não expostas. Aos sete anos5, uso de crack é elevada e que poderá ser
da gestação é um fator preditivo positi- ao entrar na pré-escola, também não se causa de prematuridade, de retardo de
vo para mudanças neuropsicológicas e constatou que as crianças tivessem al- crescimento intra-uterino, de alterações
neurocomportamentais ao nascimen- terações de comportamento social rela- de comportamento nos primeiros dias
to, para mudanças temperamentais cionadas aos níveis de exposição prévia de vida, de microcefalia, de morte súbita
com um ano de idade e para mudanças à cocaína, levantando-se a hipótese que no leito, de possíveis malformações e de
quanto à memória, ao temperamento esta variável estaria mais relacionada ao formas sutis de morbidade neurológica,
e ao comportamento aos três anos de ambiente em que vive a criança. cognitiva e comportamental na infân-
idade. Quanto à conexão destes dados Deve-se valorizar também a influência cia, de difícil avaliação e quantificação.
com diferenças entre perímetro cefálico de fatores genéticos, da prematuridade Crack e gravidez representam, portan-
nos dois grupos, observou-se que este e do ambiente desfavorável ao cresci- to, combinação indesejável que deve ser
se relacionava mais significativamente mento da criança: mãe preocupada em evitada e combatida.

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Avaliação

1. Característica sócio-demografica que 3. O efeito a exposição do crack no desen-


não faz parte do perfil do usuário de volvimento intra-uterino do feto está
crack brasileiro: freqüentemente associado à:

a) Jovem a) Macrossomia
b) Baixa renda b) Aumento do fluxo sanguíneo placentário
c) Sexo masculino c) Prematuridade
d) Nível superior completo d) Hiperóxia
2. O bloqueio da recaptação de neuro- 4. Soepatmi em 1994, concluiu que As
transmissores, gerando acúmulo, res- crianças expostas ao crack durante a
postas exageradas e posterior depleção vida intra-uterina podem apresentar,
dos mesmos no sistema nervoso central com mais freqüência, as seguintes alte-
dos fetos é bem estudado.  Entre esses rações, exceto:
neurotransmissores, exclui-se:
a) Mais agressividade
a) Acetilcolina
b) Mais depressão
b) Noradrenalina
c) Maior capacidade de interagir
c) Dopamina
d) Perda do autocontrole com mais facilidade.
d) Serotonina

Quadro de resposta na página 24

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Ficha de Avaliação–Respostas-ANO 10-Nº1-AGO 2011
1) Manifestações Radiológicas Torácicas 3) O Sistema Imune do Recém-Nascido:
da Dengue em Crianças e Adolescentes: Destacando Aspectos Fetais e Maternos
Casos Clínicos 1. a) M b) M c) M d) M e) M
1. a) M b) M c) M d) M e) M 2. a) M b) M c) M d) M e) M
2. a) M b) M c) M d) M e) M 3. a) M b) M c) M d) M e) M

2) Metahemoglobinemia: Etipatogenia e 4) “Crack Babies”: Uma Revisão Sistemática


Quadro Clínico dos Efeitos Em Recém-Nascidos e em Cri-
1. a) M b) M c) M d) M e) M anças do Uso do Crack Durante a Gesta-
2. a) M b) M c) M d) M e) M ção
3. a) M b) M c) M d) M e) M 1. a) M b) M c) M d) M e) M
2. a) M b) M c) M d) M e) M
3. a) M b) M c) M d) M e) M

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Não sócios: enviar à SOPERJ (R da Assembléia, 10, g 1812 - Centro - Rio de Janeiro, 20011-901 - RJ, junto com
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