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É inegável a centralidade do conceito de “indústria cultural” nos debates de diversas áreas

do saber: da filosofia aos estudos das mídias, passando pelas revistas de sociologia,

educação e tantas outras. Contudo, autores como Rüdiger (1999), alertam que o conceito

é muitas vezes usado de maneira superficial e reducionista, o que retira seu teor crítico.

Tal conceito delineado por Adorno e Horkheimer na “Dialética do esclarecimento”

(1947) é parte integrante de uma crítica que procura compreender as tendências que estão

no interior da razão. Como afirma Cohn (1998), o conceito de indústria cultural não

procura caracterizar um fenômeno social, “mas para fundamentar um exercício crítico:

exatamente aquele voltado para assinalar mudanças onde elas não são registradas pelo

pensamento dominante, e para expor tendências que esse mesmo pensamento está

propenso a ignorar ou ocultar” (p.).

Cohn (1986) pontua que para cumprir tal tarefa, será central uma noção de subjetividade

que esteja operando fundamentalmente a partir do inconsciente, ou seja, a partir de uma

lógica desconhecida pelo consciente, mas que o condiciona, direcionando seu desejo para

certos objetos ao mesmo tempo com que afasta certos conteúdos para que não cheguem

ao nível da consciência. Como afirmam Marin e Nobre (2012), a psicanálise freudiana é

central na articulação dos argumentos da “Dialética do Esclarecimento”, oferecendo um

modelo filogenético que será lido como uma antropologia que servirá de apoio para a

busca da origem do esclarecimento e, também, um modelo de subjetividade que articule

o inconsciente, levando em conta os processos inconscientes da agencia dos indivíduos.

Essa pesquisa tem como objetivo investigar um dos fatores que caracterizam esta

tendência: uma economia pulsional particular, fruto de um momento histórico no qual as

dinâmicas de satisfação passam a serem administradas por uma racionalidade que aparece

por meio de uma somatória de mercadorias chamadas de cultura. Para Freud (1914), a

pulsão é um estímulo constante e de origem somática, a elevação desta provoca uma


sensação de desprazer que impulsiona o organismo a realizar uma ação capaz descarregar

tal excitação; a satisfação nesse modelo é, portanto, o ato de diminuição da tensão através

de uma ação adequada. Tal dinâmica, denominada como princípio do prazer, é um dos

processos mais primitivo do psiquismo, antecipando a formação da consciência.

Um dos pilares da teoria freudiana está nos “Três ensaios para uma teoria da sexualidade”

(1905), no qual Freud elabora sua definição de sexualidade. Diferentemente da forma

como aparece nos demais animais, a sexualidade humana não visa a reprodução, mas a

obtenção de prazer através da satisfação das pulsões. As pulsões são numerosas e

independentes, originando de locais diferentes e procurando formas distintas para se

satisfazer. O processo pelo qual as pulsões são organizadas e unificadas durante o

desenvolvimento psíquico do indivíduo é descrito nestes ensaios, porém, Freud destaca

que esse processo nunca é completado, havendo regressões e fixações em etapas

anteriores.

O social será um fator determinante na maneira de organização das formas de satisfação.

Freud destaca que a condição para a existência da cultura é a renúncia de satisfação plena,

dessa forma, algumas pulsões, em sua maioria ligadas à impulsos agressivos e sexuais,

não poderão ser levadas em ato. Uma das formas que isso ocorre é através da repressão

(ou recalque), um processo no qual certos conteúdos serão afastados da consciência pois

sua aproximação desperta a censura e causa desprazer. A carga afetiva ligada a essa

pulsão terá como destino o inconsciente e procurará outras maneiras de ser descarregada,

porém de maneira indireta, o que leva aos quadros psicopatológicos examinados por

Freud. (isso definirá um tipo de sintoma, podendo aparecer em alguma parte do corpo nos

casos de histeria, em um objeto externo nos casos de fobia e em ideias substitutivas, como

nas neuroses obsessivas, ou então permanecendo indefinida, como nos casos de angustia.)
Outro destino para as pulsões é a sublimação, que é a satisfação por forma substitutiva,

porém ao contrário da repressão, ela ocorre de maneira direta. A pulsão busca outro objeto

para se satisfazer, procurando aquilo que é socialmente valorizado e que tem sua utilidade

para o grupo. Nesse caso está o domínio da cultura, na qual o indivíduo sublima suas

pulsões ao transforma-la em uma obra. A maneira como cada sociedade irá se colocar

diante dos problemas dos destinos das pulsões, ou seja, da economia pulsional é decisiva

na constituição de sujeitos, ambos os conceitos foram apropriados de uma maneira muito

particular na noção de indústria cultural.

É comum na literatura acerca da “Dialética do Esclarecimento” seja mostrado um diálogo

com a psicanálise freudiana, como mostra Rodrigues (2015), debate que é particularmente

estabelecido com os últimos textos de Freud, das décadas de 1920-30. Tenho como

hipótese que a bibliografia se enriquecerá se investigarmos um debate pouco atualizado,

no qual o jovem Freud estabeleceu com a psiquiatria de sua época acerca do tema da

neurastenia e as neurose de angustia. Nesse debate Freud procura compreender o que era

chamado em seu tempo de “nervosismo moderno”, uma soma de sintomas os quais a

medicina os delimitava enquanto causados pela vida moderna. Em tal debate, Freud,

aponta para uma teoria social das psicopatologias, mostrando como elas são um fator

importante da Cultura (Kultur), porém que devem ser lida a partir de um mediador, a

moral sexual, a qual organizará as dinâmicas inconsciente.

Minha hipótese é que ao sobrepor esses dois debates nesses dois pontos: na noção de

sublimação e de repressão, presenste em ambos os textos. Não irei procurar uma

causalidade entre eles, ou mesmo, ver um desdobramento em outro contexto. Mas

oferecer chaves que possibilitem a emergência de possíveis problemas, a saber, as

relações entre determinada administração das pulsões através da indústria cultural e os

entraves subjetivos para o direcionamento pulsional a um objeto. encontrados em


determinadas psicopatologias, nos quais .... Minha hipótese é que o cruzamento de ambos

os debates oferecera uma visão do resto não sublimado, o resto que torna-se sintoma e

passa a condicionar a subjetividade ....

Como dito, o conceito de indústria cultural foi delineado no fragmento “A Indústria

cultural: O esclarecimento como mistificação das massas”, parte integrante da “Dialética

do esclarecimento” (1944) escrita por Adorno e Horkheimer, contudo desde textos da

década de 1930, ambos autores faziam proposições que seriam desenvolvidas no texto de

1944. Horkheimer, no texto “A presente situação da filosofia social e as tarefas de um

Instituto de Pesquisas Sociais” (1931), já delineia o diálogo interdisciplinar que procurar

compreender questões do âmbito objetivo e subjetivos no interior do Instituto de Pesquisa

Sociais, como: “o problema da conexão que subsiste entre a vida econômica da sociedade,

o desevolvimento psíquico dos indíviduos e as transformações que têm lugar nas esferas

culturais” (p.130). Adorno, por sua vez, passa fazer reflexões acerca da música na

sociedade capitalista, vale destacar que em textos como “Sobre a situação social da

música” (1932) e “O fetichismo da música e a regressão na audição” (1938) o autor

procura compreender as transformações nos processos psíquicos que estão relacionadas

a modificações na percepção da própria música decorrente do seu caráter mercantil. Para

tanto, o autor utiliza do modelo freudiano para compreender a economia libidinal

relacionada ao ato de escutar música, ou seja, qual tipo de satisfação entre o sujeito e a

obra. Em ambos artigos, Adorno assinala uma satisfação parcial da pulsão, característica

do Freud coloca de regresso a estados psíquicos anteriores. a música mercantilizada passa

, reconhecendo tantos componentes estáticos quanto socialmente passa a dialogar com a

psicanálise, nas quais a música participaria na economia libidinal de uma maneira a

satisfazer necessidades inconscientes.


Conforme Rodrigues (2015), os problemas tratados no horizonte estético por Adorno são

realocados na Dialética do Esclarecimento em outro teor crítico, fazendo parte do

diagnóstico mais amplo das tendências contraditórias e inerentes a razão. Uma dessas

contradições é uma aproximação entre o pensamento mítico e racional, Adorno e

Horkeheimer apontam para uma aproximação entre o pensamento mítico e o racional, na

medida em que ambos compreendem a situação a partir de um esquema dado a priori,

como se o elemento a ser pensado já estivesse dado de ante mão ao esquema prévio, cito

os autores:

“O princípio da imanência, a explicação de todo acontecimento como

repetição, que o esclarecimento defende contra a imaginação mítica, é

o princípio próprio do mito [...] O que seria diferente é igualado. Esse

veredicto que estabelece criticamente os limites da experiência

possível. O preço que se paga pela identidade de tudo com tudo é o fato

de que nada, ao mesmo tempo, pode ser idêntico consigo mesmo” (p.

23-4)

Aqui temos um pressuposto antropológico que diante de uma experiência com algo

estranho, inicialmente era sentido uma espécie de terror Dominar esse terror e transformar

o estranho em familiar é uma tarefa da razão, fazer com., em meio ao terror inicial, que

pode ser pensado como uma soma de excitação, o homem, durante séculos, procurou

traduzir essa experiência em algo idêntico, fazer do incomensurável o homogêneo através

da abstração.

Nesse horizonte crítico, o conceito de indústria cultural se coloca como uma tendência na

formação de um sistema, que liga não só as revistas, o cinema e o rádio, mas também as

grandes corporações industriais dos mais diversos setores. Esse sistema aparece como um

somatório de mercadorias que visam “ocupar os sentidos dos homens da saída da fábrica,

à noitinha, até a chegada ao relógio do ponto, na manhã seguinte” (p.108). Tais


mercadorias serão consideradas como cultura, porém, não correspondem ao que os

autores colocam como cultura. Esse conceito abarca o conjunto do desenvolvimento

técnico e das produções espirituais, possibilitando uma relação dialética entre o universal

e o particular no qual a cultura não só oferecia as condições para promoverem a

autonomia, levando os homens à condição de senhores, também possibilita uma crítica

que se opõe ao factual, apontando outros mundos possíveis através da produção cultural.

É esse caráter crítico da cultura que tende a desaparecer à medida que a distância

necessária entre a sociedade e o indivíduo para o surgimento da crítica passa a diminuir

com a assimilação do último pela primeira. A indústria cultural tende a concentrar a

produção e distribuição desse tipo de mercadoria, seguindo o padrão de estandardização

de toda indústria: seus produtos seguem um mesmo padrão, o público consumidor passa

a ser considerado como dado estatístico e as poucas diferenças apresentadas nos produtos

é para adequar o produto aos diferentes públicos. Em suma, “a falsa identidade do

universal e do particular. Sob o poder do monopólio, toda a cultura de massas é idêntica”

(100). Essa padronização afetará diretamente a subjetividade, que passará por um

nivelamento . Para compreender os impactos subjetivos, devemos nos voltar à economia

pulsional.

Marx (2013), logo no início de seu capítulo sobre a mercadoria, faz uma primeira

definição a partir do seu valor de uso: “A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo,

uma coisa que, por meio de suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de um tipo

qualquer. A natureza dessas necessidades – se, por um exemplo, elas provem do estomago

ou da imaginação – não altera em nada a questão” (p.113). Uma especificidade da

indústria cultural é que a capacidade de imaginação se transformou em um dado a ser

calculado e administrado por especialistas.

Dentre as características do padrão dessa indústria está o prazer não será a


Ambos os autores ressaltam que o capitalismo é um sistema que é capaz de criar as

necessidades Uma tendência que Adorno e Horkheimer assinala surgir é uma indústria

que

Como afirma Türcke (2010), a célula básica da indústria cultural é o discurso publicitário

na medida que é ela que estabelece os padrões necessários para que o público consumidor

perceba o produto, que mesmo com o “olho cansado do consumidor, nada deve escapar

daquilo que os especialistas excogitaram como estimulo” (114)

O indivíduo acredita estar recebendo cultura quando, na realidade, os bens

culturais como mercadorias não passam de semicultura, que é “a multiplicação

de elementos espirituais sem vinculação viva a sujeitos vivos, nivelados em

opiniões que se adaptam aos interesses dominantes” (Adorno, 1996b).

No texto de 1908, “A moral sexual ‘cultural’ e o nervosismo moderno”, Freud se

posiciona no debate que procura responder em que medida o desenvolvimento técnico e

as práticas civilizadas atreladas à noção de progresso são a causa de um “nervosismo

moderno”. A escolha deste último termo faz referência a M. Beard, médico americano

que inaugurou a discussão do nervosismo moderno, definiu um novo quadro clínico, a

neurastenia. No artigo “Sexual Neurasthenia ( Nervous Exhaustion ), Its Hygiene,

Causes, Symptoms and Treatment” de 1881, Beard agrupa os principais sintomas

incluídos nessa categoria patológica, entre eles estão “um estado de fadiga física e

psicológica permanente,acompanhada de múltiplas indisposições de caráter corporal, tais

como impotência sexual, dispepsias, vertigens, cefaleias, insônia, sensação de plenitude


gástrica e neuralgias". (Trillat 1999 apud Pereira). Vale lembrar, como afirma Pereira

(2002), que tais sintomas já eram descritos e estudados pela medicina desde a antiguidade,

porém foram reunidos pela psiquiatria apenas no século XIX como uma entidade

nosológica específica

No mesmo ano de 1881, Beard publica o artigo “A nervosidade americana”, no qual o

autor lista uma série de fatores responsáveis pela ampliação da neurastenia no final do

século XIX. Uma particularidade desse texto é que o autor aborda a neurastenia através

de causas sócio-culturais, não enfatizando os aspectos tradicionalmente ligados à

psiquiatria, ou seja, os de natureza biológica. Cito o autor:

“As causas da nervosidade americana são complicadas, porém passíveis de análise: a

primeira delas, a civilização moderna. A expressão civilização moderna é usada com ênfase,

uma vez que civilização por si só não causa nervosidade. [...] A moderna civilização difere

das antigas principalmente no que se refere a estes cinco elementos – a máquina a vapor, a

imprensa, o telégrafo, as ciências e a atividade mental das mulheres.”

Neste artigo, Beard irá assinalar as relações entre um excesso de estímulos sensoriais e

intelectuais que afetariam a vida psíquica do citadino da cidade moderna

Como afirma Pereira (2002), Freud foi particularmente influenciado por tal deslocamento

da causa feito por Beard. Em dois momentos de sua obra podemos ver um diálogo entre

ambos, primeiramente no debate acerca da etiologia das neuroses que compreendeu texto

de 1895-981, e mais tarde no já citado artigo de 1908. Nesse primeiro período, Freud

questiona o motivo de somente alguns indivíduos de uma população apresentarem

sintomas de neurastenia enquanto uma maioria que está sujeita às mesmas condições

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Os textos dessa temática que compreendem esse período são: “Sobre os fundamentos para destacar da
neurastenia uma síndrome específica denominada neurose de angústia” (1895a), “Respostas às críticas
sobre a neurose de angústia” (1895b) e “A sexualidade na etiologia das neuroses” (1898).
sócio culturais não os desenvolvem. Freud então aponta que há uma causa anterior ao

fator social que ele localiza na sexualidade. Nestes textos o autor se utiliza da tese

econômica na qual o organismo humano procura descarregar o excesso de energia que é

vivida como desprazer, essa energia pode advir de um estímulo do meio externo, como

também do meio endógeno, sendo está última sexual. Uma causa presente em todos os

pacientes neuróticos seria devido ao escoamento da energia sexual devido a fatores como

a masturbação.

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