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Seis argumentos diferentes para provar que Deus salva os pecadores pela fé em
Cristo, não pelas obras da Lei.
(1) Argumento pessoal (Gl 3:1-5), Paulo pede aos gálatas que se recordem de sua
experiência pessoal com Cristo, quando foram salvos.
(2) argumento escriturístico (Gl 3:6-14), Paulo cita como prova seis passagens do Antigo
Testamento.
(3) argumento lógico (Gl 3:15-29), Seu raciocínio aqui baseia-se no caráter e no
funcionamento de uma aliança.
1 – A lei não pode anular a promessa (15-18)
1.1 – Um exemplo extraído das leis romanas
15 Irmãos, falo como homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez
ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa.
15 Caros irmãos, mesmo na vida diária, uma promessa feita por um homem a outro, se
estiver escrita e assinada, não pode ser mudada. Depois disso, ele não pode acrescentar
coisa alguma.
Com essa declaração, ele antecipa aos leitores que apresentará uma ilustração do cotidiano
para esclarecer o valor imutável da promessa de Deus a Abraão: “Embora feito por um
homem, ninguém anula um testamento já validado, nem lhe acrescenta coisa alguma”. Era
o que ditava o direito romano da época. Se um acordo estivesse feito e selado, ele não
poderia ser revogado, a não ser que ambas as partes concordassem.
Qual é a dedução que se faz disso? Ora, se o testamento de um homem não pode ser
ignorado nem mudado, muito menos as promessas de Deus, pois são imutáveis.
1.2 – Deus fez uma aliança com Abraão e seu descendente (Cristo)
16 Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos
descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente,
que é Cristo.
16 Assim Deus fez algumas promessas a Abraão e ao seu descendente. E notem que não
diz que as promessas eram aos seus filhos, como diria se estivesse falando de muitos, mas
ao seu descendente, a saber, Cristo.
Gn 12.1 Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu
pai e vai para a terra que te mostrarei; 2 de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te
engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! 3 Abençoarei os que te abençoarem e
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.
7 Apareceu o SENHOR a Abrão e lhe disse: Darei à tua descendência esta terra. Ali
edificou Abrão um altar ao SENHOR, que lhe aparecera.
Gn 13.15 Porque toda essa terra que você está vendo, eu a darei a você e à sua
descendência, para sempre. (Depois que Abraão se separou de Ló)
Paulo está querendo dizer que as promessas feitas por Deus não se cumprem nos
descendentes carnais de Abraão, mas, sim, em sua descendência espiritual, os que têm fé
em Cristo, o descendente. Creio que precisamos fazer uma releitura do Velho Testamento.
Fica claro que Abraão sabia que as promessas de Deus para a sua descendência não diziam
respeito só aos descendentes físicos dele, mas essencialmente à sua descendência
espiritual. Se não tentarmos compreender estas promessas à luz do que é ensinado
aqui e em Romanos 4, elas não farão sentido. (Gn 12.3b - em ti serão benditas todas as
famílias da terra; Gn 15.5b - Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe
disse: Será assim a tua posteridade)
1.3 – Se Deus fez uma aliança com Abraão, como pode uma lei que foi dada 430 anos
depois dessa aliança, anular a aliança?
17 E digo isto: uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio
quatrocentos e trinta anos depois, não a pode ab-rogar (anular, desfazer, invalidar), de
forma que venha a desfazer a promessa.
A Lei não foi dada como um novo sistema de salvação, como se Deus tivesse mudado de
ideia no monte Sinai e mudado a maneira como o ser humano deveria ser salvo.
Deus não introduziu uma nova aliança, uma nova dispensação, em que a obediência à Lei
é que faria que as pessoas fossem salvas. A Lei veio depois, portanto, não anula a
promessa, nem muda o sistema que Deus já havia estabelecido com Abraão, baseado na
promessa e na fé.
A lei não tinha a finalidade de substituir a aliança feita com Abraão... No versículo 19, o
apóstolo explicará o propósito da lei.
1.4 – Se a salvação pode ser obtida através da obediência à lei, qual a utilidade da
promessa feita a Abraão?
18 Porque, se a herança [as bênçãos que Deus prometeu aos herdeiros espirituais de
Abraão] provém de lei, já não decorre de promessa; mas foi pela promessa que Deus a
concedeu gratuitamente a Abraão.
Se para receber a herança que Deus prometeu a Abraão, ou seja, para ser salvo, fosse
preciso guardar a Lei, então a promessa estaria anulada, e tudo que Deus prometeu a
Abraão não teria mais valor algum.
Deus a concedeu gratuitamente a Abraão - A palavra grega para “concedeu” é
keckaristai e ela enfatiza as duas coisas: (1) um presente de graça (um dom de charis,
“graça”) (2) e que foi concedido para sempre (o tempo perfeito). O Perfeito grego
corresponde ao Perfeito na língua portuguesa, e descreve uma ação que é vista como tendo
sido completada no passado, uma vez por todas, não necessitando ser repetida.
2 – Para que serve a lei? Qual o propósito dela?
Se a lei não foi dada para substituir a promessa, para que ela serve? Por que os
judeus eram tão obcecados pela lei?
O relato da entrega da Lei é impressionante (Êx 19). Houve trovões e raios, e o povo
estremeceu de medo. Comparada com a aliança feita com Abraão (Gn 15), a entrega da
Lei foi um acontecimento dramático, e é claro que os judaizantes se impressionavam com
esses elementos emocionais exteriores.
Hb 12.18 Vocês não tiveram de ficar face a face com terror, o fogo ardente, a escuridão,
as trevas e uma terrível tempestade, como os Israelitas no Monte Sinai, quando Deus lhes
deu as suas leis. 19 Pois houve um apavorante toque de trombeta, e uma voz com uma
mensagem tão terrível que o povo rogou a Deus que parasse de falar. 20 Eles recuaram
atordoados diante da ordem de Deus, de que até mesmo um animal que tocasse na
montanha devia morrer. 21 O próprio Moisés estava tão amedrontado com aquela visão
que tremia de tanto medo.
2.1 – A lei foi dada revelar o pecado
19 Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das transgressões, até que
viesse o descendente a quem se fez a promessa, e foi promulgada por meio de anjos, pela
mão de um mediador.
19 Qual era, então, o propósito da lei? Ela foi acrescentada à promessa para mostrar às
pessoas seus pecados. Mas a lei deveria durar apenas até a vinda do descendente
prometido. Por meio de anjos, a lei foi entregue a um mediador.
Rm 3.19 Ora, sabemos que tudo o que a lei (V.T) diz é dito aos que vivem sob a lei, para
que toda boca se cale, e todo o mundo seja culpável diante de Deus. 20 Porque ninguém será
justificado diante de Deus por obras da lei, pois pela lei vem o pleno conhecimento do
pecado.
Vejam, nestes dois versículos, o apóstolo revela, como em nenhum outro lugar nas
Escrituras Sagradas, a real finalidade da lei.
2.1.1 – A primeira finalidade da lei é calar a boca de todos, gentios e judeus.
19 Ora, sabemos que tudo o que a lei (V.T) diz é dito aos que vivem sob a lei, para que toda
boca se cale
2.1.2 – A segunda finalidade da lei é tornar todo mundo culpável diante de Deus
e todo o mundo seja culpável diante de Deus.
Culpável significa ser responsável perante Deus; significa estar em débito para com Deus e
estar exposto à punição imposta por Deus, por causa do pecado.
2.1.3 – A terceira finalidade da lei é remover qualquer pretensão de justificação
mediante obras.
20 Porque ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei
2.1.4 – A quarta finalidade da lei é dar ao ser humano o pleno conhecimento do seu
pecado.
pois pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.
Qual é o propósito da lei? A resposta de Paulo é: a lei revela a completa pecaminosidade
da humanidade, a incapacidade de salvar a si mesma e a necessidade desesperada de um
Salvador — ela nunca pretendeu ser o meio de salvação.
A Lei foi dada, portanto, para evidenciar e caracterizar ainda mais o pecado, a fim de que
as pessoas vissem mais claramente por que elas precisam do descendente de Abraão que
viria. Ela veio para diagnosticar a doença do pecado, não para servir de remédio.
(Augustus Nicodemus)
Paulo destaca duas coisas nestes versículos que servem para enfatizar a grandeza da
promessa:
(1) A lei é temporária, porém a promessa é definitiva - Foi adicionada por causa das
transgressões, até que viesse o descendente a quem se fez a promessa
Rm 10:4 Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê.
(2) A lei foi dada por meio de anjos, sendo Moisés o mediador - e foi promulgada por meio
de anjos, pela mão de um mediador. 20 Ora, o mediador não é de um, mas Deus é um.
Isso significa que os judeus, no Monte Sinai receberam a Lei de terceira mão: foi passada
de Deus para os anjos, destes para Moisés e, por fim, de Moisés para o povo. Porém, quanto
à promessa, foi dada diretamente pelo próprio Deus a Abraão.
Há algo curioso aqui. Quando lemos a descrição do que aconteceu no Sinai, não dá para
perceber que a lei foi dada por meio de anjos. Que o Senhor Deus falou através de Moisés
não há dúvida, pois, o povo ficou com medo de Deus e pediu a Moisés que mediasse a
conversa. Porém, que foram os anjos que comunicaram a lei a Moisés, isso não fica claro
no texto bíblico.
At 7:53 Sim, e vocês de propósito desobedeceram às Leis de Deus, embora fossem recebidas
das mãos de anjos”.
Hb 2.1 Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas,
para que delas jamais nos desviemos. 2 Porque, se a palavra falada por meio de anjos se
tornou firme, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, 3 como
escaparemos nós, se não levarmos a sério tão grande salvação? Esta, tendo sido anunciada
inicialmente pelo Senhor, depois nos foi confirmada pelos que a ouviram.
22 Mas a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo, a
promessa fosse concedida aos que creem.
A Escritura aqui, provavelmente é uma referência à lei, mas também pode ser interpretada
como uma referência a todo o Antigo Testamento.
10 Como está escrito: “Não há justo, nem um sequer, 11 não há quem entenda, não há
quem busque a Deus. 12 Todos se desviaram e juntamente se tornaram inúteis; não há
quem faça o bem, não há nem um sequer.
Assim como em Romanos, Paulo nos mostra que a função da lei é apontar para a
necessidade de um Salvador. Observe que a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, ou
seja, todos foram feitos prisioneiros dele. Mas com que propósito? “Para que, mediante a
fé em Jesus Cristo, a promessa fosse concedida aos que creem”.
21 Pois bem, então as leis de Deus e as promessas de Deus estão umas contra as outras?
Naturalmente que não! Se nós pudéssemos ser salvos por suas leis, então Deus não
precisaria ternos dado um meio diferente de nos libertarmos das garras do pecado
22 - porque a Escrituras sustentam que todos nós somos prisioneiros dele. A única saída é
pela fé em Jesus Cristo; a porta de escape está aberta para todos os que crerem nele.
De acordo com John Stott, esta seção (15–22) pode ser resumida da seguinte maneira: “os
judaizantes defendiam falsamente que a lei anula e suplanta a promessa. Paulo ensina que
a verdadeira função da lei é confirmar a promessa e torná-la indispensável”.