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O REFORMISMO ILUSTI RADO LUSO-BRASILEIRO: ALGUNS ASPECTOS Fernando A. Novais (Departamento de Histéria da USP) Se examinarmos a posigo dos paises ibéricos, e especialmente Portugal, no quadro geral da Iustraco européia, o que desde logo res- salta é o descompasso entre a “teoria” € a “prética”, isto é, entre a ela- boragéo do pensamento e sua aplicacio. Portugal, efetivamente, foi um dos primeiros pafses a iniciar as reformas (1750, marqués de Pombal); ¢ entretanto nfo foi um dos principais centros geradores do pensamento ilustrado, Neste sentido, faz curioso contraponto com a Franca, centro por exceléncia gerador das Luzes, ¢ onde s6 tardiamente (com Luis XVI, 1774) se encetaram as reformas. Por outro lado, outro traco caracteristico da ilustragéo portuguesa € 0 seu carter de importacio; introduzida de fora para dentro, assinala este fendmeno to caracteristico do século XVIII na cultura lusitana: o estrangeirado, isto é, o intelectual que, saindo para © exterior ¢ respirando os ares da moderidade, se propunha de uma ou outra maneira a “arejar” a pétria, Encontravam muita resistencia: um deles (Antonio Nunes Ribeiro Sanches) escreveria um texto cujo titulo 6 toda uma sintese: Dificuldades que tem um reino velho para emendar-se. Para entendermos essas duas caracteristicas (precocidade das refor- mas, importagio das idéias) da Tlustracio portuguesa, torna-se necessirio considerarmos um dos aspectos mais decisivos da histéria de Portugal na época moderna: 0 atraso econdmico e o isolamento cultural; € em funcio dessa situagio que se pode entender os rumos do pensamento critic, a profundidade das reformas, e os desdobramentos posteriores na metrépole e na colénia. Tendo iniciado os tempos modernos em posi¢fo de vanguar- Revista Brasileira de Hist6ria 105 da, os paises ibéricos, a partir do século XVII, iriam sendo cada vez mais ultrapassados pela Franca, pela Holanda e pela Inglaterra. Paralelamente, a reflexio em tomo do problema procurava descobrir as suas causas ¢ indicar as solugGes, No século XVII, Sancho de Moncada, na Espanha, © Duarte Ribeiro de Macedo, em Portugal, analisaram em profundidade ‘© fenémeno da decadéncia, procurando remédios; € essa preocupacio, essa tematica, dos escritores da época barroca, 6 recolhida pelos pensadores ilustrados. No centro das preocupagdes dos iluministas portugueses, por exemplo os memorialistas da Academia das Ciéncias, manter-se-d 0 pro- blema do atraso em relago & Europa “moderna”. Na medida em que o “atraso” era visto em relagdo a Europa de além-Pirineus, € claro que se entendia que, para explicd-lo, impunha-se a mobilizacéo da nova filosofia, dos paises adiantados — dai o cardter de importagao das idéias, de atualizacio; e por outro Indo, as reformas cram vistas ndo'apenas como-a “promogio das Luzes”, mas também como uma maneira de superar o atraso, tirar a diferenca, e portanto mais ur- gentes, donde a precocidade com que silo atacadas, Dadas essas particula- ridades, entende-se também o cardter moderado da Ilustraco portuguesa, Seja no plano das idéias, seja na sua implemenitagdo politica. O meio era resistenie, havia que caminhar com cuidado, ainda que com firmeza. Enca- ada no conjunto da Europa, a Tlustracdo portuguesa parece situar-se naquela faixa que recentémente o historiador francés Bernard Plongeron denominou de “Aufklaerung catolica”, isto é, 0 esforgo por. harmonizar as inoyagées com a tradigao. Assim, no plano econémico, 0 marqués de Pombal havia dé manter-se fiel a um estrito mercantilismo. Maiorés aberturas, nesse campo da politica econdmica, haviam de ocorrer no perfodo que se seguiu imediatamente a0 pombalismo, no rei- nado de D. Maria I e na regéncia do principe D. Jodo. E de fato, 0 estudo mais acurado dessa época tem revelado mais continuidade que ruptura ‘com a’anterior; a.queda do marqués de Pombal, que se seguiu & morte de.“José’.I, sua perseguico, a libertago dos presos politicos, enfim, a'“viradeita®, no passaram de fenémenos conjunturais. A equipe ditigente, de indole ilustrada, continuou basicamente a mesma, com novos acréscimos. Ainda mais, as reformas ensejando os primeiros frutos, as iniciativas foram avante, ampliando 9 raio de aco. O final do século, Jonge de um ,retrocesso, marca um avanco, aparece como um desdobra- mento: 9 ponto mais alto. da Lustragdo em Portugal, Nada.é,mais indicativo dessa caracteriza¢io que a criagdo, em 1779, da Academia Real das Ciéncias de Lisboa. Sob protegio régia, foram seus fundadores dois estrangeirados: o duque de Lafdes e 0 abade Correia 106 Revised Brasleita de Histéria da Serra, Procurou relacionar a Universidade com a investigacio cientifica ¢ econémica; organizou um musen e uma biblioteca (incluindo livros es- trangeiros); entrou em contacto com numerosas instituicGes: congéneres, no Velho ¢ no Novo Mundo. Mas sobretudo estimulou e promoveu a pro- dugio intelectual nos varios campos, publicando as séries das memdrias. No discurso preliminar (1789) das memérias econémicas, de autoria de Correia da Serra, pode ler-se todo 0 idedrio ilustrado: “O desejo da piiblica prosperidade pode ser igual a todos; basta para isso um coracéo leal e bem intencionado, Néo € 0 mesmo porém em quanto ao modo de concorrer para tao nobre fim, porque as circunstincias, e obrigagées de cada individuo, ou corporagao, lho fixio, ¢ limitam. Dar providéncias, remover obstéculos, extirpar abusos, compete somente 20s ministros do poder soberano; influir com grandes exemplos, intentar grandes estabele- cimentos, cabe s6 aos ricos proprietérios; propagar as luzes, que para este fim Ihe subministram a natureza de seus estudos, € o quanto podem, e devem fazer as corporagées literdrias.” Note-se, desde logo, essa integracao entre o saber ¢ o fazer, tdo caracteristica das Luzes; como alguns memo- rialistas eram também ministros, a integraco era perfeita. Aos intelectuais — 08 “filésofos” — cumpria investigar a realidade, com as luzes da Razio; ‘aos agentes do poder (os ministros escudados no poder soberano) implan- tar as reformas: assim se dominaria a natureza e regeneraria a sociedade, voltando a Idade de Ouro. Procedeu-se, entio, a um auténtico survey do reino ¢ das colénias. Das memérias (muitas permaneceram inéditas), varias podem considerar-se “regionais”, isto é dizem respeito a uma provincia, regiéo, capitania, ou um. simples conselho. Exemplo desse iiltimo caso, a famosa Memoria agronomica relativa ao conselho de Chaves (vol. 1 das Memorias eco- nomicas, 1789), de José Inacio da Costa, onde se procede a uma critica contundente das persisténcias feudais, ou senhoriais, a barrar 0 progresso da agricultura, Henrique da Silveira estudou 0 Algarve, Rebelo da Fonseca tratou do Alto Douro, Bacelar Chichorro cuidou da Extremadura, Ribeiro de Castro dissertou sobre Tras-os-Montes, Cust6dio J. G. Vilas Boas des- creveu 0 Minho; Minas Gerais foi objeto de varios estudos, de Vieira Couto, José Joaquim da Rocha, Eloi Otoni; Sdo Paulo atraiu as atencies de Marcelino Pereira Cleto; sobre o Rio Grande do Sul escreveu Gouveia de Almeida; bem assim a Bahia, Mato Grosso, ete. Nesses trabathos, quase sempre se procede a descri¢fio geogrifica (“fisica”) e as condigdes sécio- econémicas (“morais”), indicando-se problemas, fazendo-se sugestdes. ‘Mais especificas, as memérias sobre a agricultura revelam a incidéncia da fisiocracia. O titulo de uma delas é ilustrativo: Memoria sobre a prefe- Revista Brasileira de Hist6ria 107

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